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Gestão Estratégica com Foco em Resultados MÓDULO 2 2 Sumário Unidade 3 | Sistemas de Gestão da Estratégia: Balanced Scorecard 4 1 Contextualização 5 2 Definição de Estratégia e de Gestão Estratégica 6 3 Conceito do Balanced Scorecard (BSC) 8 3.1 O Funcionamento um BSC 9 4 Mapas Estratégicos 12 5 Perspectivas 15 5.1 Perspectiva Financeira 17 5.2 Perspectiva do Cliente 18 5.3 Perspectiva de Processos Internos 19 5.4 Perspectiva de Aprendizado e Crescimento 21 6 Objetivos Estratégicos 23 7 Relações de Causa e Efeito 23 8 Temas Estratégicos 24 9 Indicadores 24 10 Metas 26 11 Inciativas Estratégicas 27 12 Projetos Estratégicos 28 13 Monitoramento e Revisão da Estratégia 31 14 Fatores Críticos de Implementação 32 Glossário 34 Atividades 35 Referências 36 Unidade 4 | Gestão Voltada para Resultados: Características e Ferramentas 38 3 1 Gestão por Resultados 39 2 Determinação de Resultados 42 3 Pressupostos da Gestão por Resultados 43 4 Características da Gestão por Resultados 45 5 Ferramentas da Gestão por Resultados 46 6 Conclusão 49 Glossário 49 Atividades 50 Referências 51 Gabarito 53 4 UNIDADE 3 | SISTEMAS DE GESTÃO DA ESTRATÉGIA: BALANCED SCORECARD 5 Unidade 3 | Sistemas de Gestão da Estratégia: Balanced Scorecard 1 Contextualização No início da década de 1990, foi realizado amplo estudo em várias empresas norte-americanas com a finalidade de encontrar novas maneiras de medir o desempenho da organização. Naquela época, os principais sistemas de avaliação baseavam-se em dados financeiros e contábeis, que tratavam como despesa todo investimento nos ativos intangíveis, isto é, tecnologia da informação, capacitação dos funcionários, relacionamento com clientes, qualidade e inovação, entre outros. Todavia, tais sistemas de avaliação não forneciam dados para a mensuração e gestão do valor criado por esses investimentos. As bases para o sucesso financeiro de qualquer organização estão na sua capacidade de gerar valor para os clientes. e Como se dá a geração de valor? A resposta é muito simples: com investimentos em novas tecnologias, em capacitação de funcionários, qualidade, inovação, relacionamento com clientes; ou seja, com investimentos nos ativos intangíveis. A incapacidade de se mensurar o desempenho desses ativos pode comprometer significativamente o futuro da organização. O Balanced Scorecard (BSC) surgiu nesse contexto, primeiro como sistema de medição, um conjunto de indicadores que avaliava o desempenho baseado tanto em indicadores financeiros como em direcionadores futuros relacionados a ativos intangíveis. Seu 6 uso mostrou um potencial que ainda não havia sido identificado inicialmente: a possibilidade de gerar ativos tangíveis a partir de ativos intangíveis por intermédio da implantação e gerenciamento da estratégia. Assim, o BSC passou a ser utilizado como sistema gerencial capaz de possibilitar a implementação da estratégia, mantendo-a como referência central no gerenciamento das organizações. 2 Definição de Estratégia e de Gestão Estratégica A estratégia pode ser conceituada como o caminho predefinido a ser seguido para garantir a legitimidade e sobrevivência da organização no longo prazo, mostrando como se pretende criar valor para acionistas, clientes e cidadãos. É o conjunto de ações necessárias para o cumprimento da missão institucional e alcance da visão de futuro da organização. Pode-se afirmar que a visão de futuro cria a imagem de destino e a estratégia define a lógica de concretização dessa visão. Se a estratégia se refere ao caminho para o alcance da visão de futuro, é necessário gerenciá-la, surgindo daí o conceito de gestão da estratégia, ou seja, o processo de implantação, avaliação e controle da estratégia organizacional formulada no âmbito de um planejamento. e O planejamento estratégico é o processo utilizado na formulação da estratégia organizacional de médio e longo prazos, que será gerenciada por um sistema de gestão estratégica. Para tanto, visa ao desenvolvimento de técnicas e ações administrativas que vão avaliar as implicações futuras de decisões presentes, de modo a reduzir a incerteza envolvida no processo decisório e, consequentemente, aumentar a probabilidade de alcance dos objetivos e desafios estabelecidos para a organização, maximizando resultados e minimizando deficiências. 7 Enfim, o processo de planejamento define a estratégia a ser seguida para o alcance da visão de futuro e para o cumprimento da missão institucional da organização; o sistema de gestão estratégica é responsável pela implantação, avaliação e controle dessa estratégia. Normalmente, as organizações descrevem a estratégia como planos financeiros para aumento da receita e do lucro; outras, com base em seus produtos e serviços; ou em função de clientes almejados; outras, sob o ponto de vista de qualidade e processos; e ainda sob a perspectiva de recursos humanos. Percebe-se, então, que não há uma visão holística de toda a organização, pois nenhuma delas fornece uma perspectiva abrangente e integrada da descrição da estratégia. Sem descrição abrangente, não é possível a divulgação e o compartilhamento da estratégia. Sem o entendimento comum, não é possível a promoção do alinhamento em torno dessa estratégia. E, sem alinhamento, não é possível implementar a estratégia de forma satisfatória. Um sistema de gestão estratégica deve apresentar alguns requisitos básicos: possibilitar a clara compreensão da estratégia por toda a organização, promover o alinhamento da organização em torno dessa estratégia, e possibilitar a implementação efetiva da estratégia. O BSC é um sistema de gestão da estratégia que cumpre todos esses requisitos, como será visto a seguir. 8 3 Conceito do Balanced Scorecard (BSC) O BSC é o sistema de gestão que auxilia as organizações a traduzir sua estratégia em objetivos operacionais, direcionando o comportamento dos colaboradores e o desempenho global. Em linhas gerais, oferece uma visão de futuro e o caminho para o alcance dessa visão, focando o ponto que a organização deseja chegar e expondo que ações devem ser tomadas e priorizadas para o alcance dessa visão. O principal diferencial do BSC em relação a outros sistemas de gestão da estratégia é reconhecer que os indicadores financeiros apenas não são suficientes para avaliar a organização, uma vez que só demonstram os resultados dos investimentos e atividades do passado e não contemplam os impulsionadores da rentabilidade a longo prazo, isto é, os ativos intangíveis. Com o aumento da complexidade e da competitividade dos mercados, a criação de valor proporcionada por esse tipo de ativo tornou-se relevante para o futuro de qualquer organização. Todavia, os ativos intangíveis não exercem impacto direto sobre o resultado financeiro da organização, como aumento da receita ou do lucro ou, mesmo, redução do custo. Na verdade, afetam o resultado financeiro futuro por meio das relações de causa e efeito. Por exemplo, o treinamento dos funcionários em gestão da qualidade total pode melhorar diretamente a qualidade dos processos de trabalho. Espera-se que tais melhorias resultem em aumento de satisfação dos clientes, o que deve reforçar a fidelidade destes. Por fim, a fidelidade dos clientes acarreta o aumento das vendas e das margens de lucro, em consequência de relacionamentos mais duradouros com os clientes. 9 O BSC possibilita o equilíbrio entre as medidas de resultado (financeiras), as quais se referem ao desempenho passado, e as medidas (não financeiras) que determinam o desempenho futuro. O BSC complementa as medições financeiras com avaliações sobre os clientes, identifica os processos internos que devem ser aprimorados e analisa as possibilidades de aprendizado e crescimento, bem como os investimentos em recursos humanos, sistemas e capacitação,que poderão modificar substancialmente os processos de trabalho da organização e o desempenho futuro. 3.1 O Funcionamento um BSC O BSC é o sistema de gestão que descreve a estratégia da seguinte forma: • O desempenho financeiro é o critério definitivo do sucesso da organização. A estratégia descreve como a organização pretende gerar valor de forma sustentável aos acionistas. • O sucesso com os clientes é o principal componente do desempenho financeiro. Então, é necessário criar valor para os clientes, sendo a proposição de valor o elemento central da estratégia. • Os processos internos criam e cumprem a proposição de valor para os clientes, pois seu desempenho é um indicador de tendência de melhorias que terão impacto junto aos clientes e ao resultado financeiro. • Os ativos intangíveis são a fonte definitiva de criação de valor sustentável, pois a conjugação de pessoas, tecnologia e clima organizacional afeta os processos internos, a relação com clientes e o resultado financeiro. • Clientes, processos internos, pessoas, tecnologias e clima organizacional interligam-se uns aos os outros em uma relação de causa e efeito. • O desenvolvimento e o alinhamento dos ativos intangíveis induzem a melhorias no desempenho dos processos, que, por sua vez, impulsionam o sucesso para clientes e acionistas. 10 Entre alguns dos objetivos do BSC, destacam-se: • Traduzir a estratégia em termos operacionais. • Analisar o foco de atuação. • Garantir que os componentes da estratégia (objetivos, indicadores, metas e iniciativas) estejam alinhados e vinculados. • Comunicar a estratégia de forma clara a toda organização. • Formar a base de um processo de gestão estratégica eficaz e integrada. Não existe uma única forma de se utilizar o BSC. Na realidade, as organizações aplicam- no de maneiras distintas e com propósitos diversos, desde um simples sistema de medição de desempenho, que aborde medidas financeiras e não financeiras, até como parte de um sistema de gestão voltado para a estratégia, com foco no alinhamento da organização para a efetiva execução da estratégia. As organizações bem-sucedidas no processo de inserção da estratégia revelam um padrão consistente na consecução do foco e do alinhamento estratégico. Essas organizações adotaram os seguintes princípios gerenciais para se tornarem organizações orientadas para a estratégia: • Traduzir a estratégia em termos operacionais: desdobramento em objetivos, indicadores, metas e iniciativas tangíveis e de fácil compreensão para todos, tornando possível o estabelecimento de metas locais. • Alinhar a organização à estratégia: sinergia entre lideranças, unidades operacionais e unidades de apoio, de forma que os assuntos estratégicos sejam estruturados segundo grandes temas e não mais por funções (como finanças, marketing, produção, comercial), propiciando a adoção de um conjunto de prioridades corporativas integradas por toda a organização. • Transformar a estratégia em tarefa de todos: comunicação de forma lógica e sucinta, deixando de ser algo presente apenas na cabeça dos executivos principais e traduzindo-a de forma clara para toda a organização. 11 • Converter a estratégia em processo contínuo: monitoramento e constante aperfeiçoamento do que foi traçado. Na realidade, a estratégia não é um processo gerencial isolado, e sim um processo contínuo lógico que movimenta toda a organização, desde a declaração da missão institucional até a execução dos trabalhos pelos funcionários da linha de frente e de suporte. • Mobilizar a mudança por meio da liderança executiva: compromisso e envolvimento ativo dos líderes com o processo, para garantir que a estratégia seja efetivamente estabelecida. Observe a figura que apresenta os cinco princípios da organização orientada à estratégia. Figura 1: Os cinco princípios da organização orientada à estratégia Estratégia Balanced Scorecard Tarefa de todos Processo contínuo Alinhar a organização Liderança executiva Traduzir a estratégia Visão; Formulação da estratégia; Tradução da estratégia: objetivos, indicadores, metas e iniciativas. Mobilização; Governança; Pensamento Estratégico; “Nova forma de gerenciamento”. Alinhando os papéis e identificando sinergias: Corporativo; Unidades de Negócio; Unidades de Serviços; Parceiros Externos. Consciência estrategica; Alinhamento de objetos das equipes e pessoas; Alinhamento do sistema de incentivos. BSC como parte do processo de planejamento estratégico; Estratégia orientando gestão operacional e processo orçamentário; Gestão estratégica; Aprendizado estratégico formalizado; Sistemas analíticos e de informação. 12 h Entre os conceitos utilizados pelo BSC, destacam-se: mapa estratégico, perspectivas, temas estratégicos, objetivos estratégicos, relações de causa e efeito, indicadores, metas e iniciativas estratégicas. 4 Mapas Estratégicos O BSC, por meio do mapa estratégico, aponta a forma pela qual ativos intangíveis da organização produzem resultados tangíveis. f A implementação da estratégia exige que empresa e funcionários estejam alinhados e compromissados com o referencial estratégico da organização. Para assegurar tal conexão, é necessário dispor de um processo de comunicação eficaz que demonstre a forma pela qual as ações da organização se convertem em resultados que maximizam o cumprimento da missão. Para tanto, constrói-se um mapa estratégico. Ele é uma representação visual das relações de causa e efeito entre os componentes da estratégia de uma organização; é uma ferramenta que apresenta, de forma lógica e estruturada, a estratégia da organização. O mapa expõe o conjunto de objetivos estratégicos da organização, com indicadores de desempenho vinculados, balanceados em diferentes perspectivas e ligados por relações de causa e efeito. Aos objetivos traçados estão vinculadas iniciativas estratégicas que abordam as ações prioritárias da organização para determinado período, as quais se referem a processos de trabalho rotineiros ou a projetos de inovação. 13 Como consequência, o BSC facilita o processo de comunicação da estratégia para todos os colaboradores (uma vez que o mapa estratégico é a sua representação gráfica) e o estabelecimento de metas anuais setoriais, pois cada unidade organizacional ou funcionário percebe, de forma clara, sua contribuição para a consecução da estratégia traçada no processo de planejamento. h O mapa estratégico mostra a missão, a visão e a estratégia da organização por meio de um conjunto abrangente de objetivos que direcionam o comportamento e o desempenho organizacionais. A tradução da estratégia por meio do mapa cria um referencial comum de fácil compreensão para executivos, unidades organizacionais e funcionários, proporcionando a clara percepção de como as atividades de cada um estão ligadas aos objetivos gerais da organização, possibilitando o trabalho coordenado e colaborativo em prol das metas traçadas. Os propósitos do mapa estratégico são: definir e comunicar, de modo claro e transparente a todos os níveis da organização, o foco e a estratégia de atuação escolhidos; comunicar a forma como as ações impactam no alcance dos resultados desejados; subsidiar a alocação de esforços; e evitar a dispersão de ações e recursos. Enfim, o mapa estratégico é capaz de transformar declarações de estratégias genéricas em hipóteses, objetivos, indicadores e metas específicas, possibilitando que a organização perceba sua estratégia de maneira coesa, integrada e sistemática. 14 Analise o mapa estratégico e suas perspectivas, objetivos, indicadores, metas e iniciativas. Figura 2: Exemplo de painel de desempenho do Setor Privado O mapa estratégico da organização deve ser construído por meio de processo sistemático que busque consenso e clareza para transformar a missão e a estratégia da organização em objetivos e iniciativas operacionais.Sua construção requer o comprometimento e a liderança da cúpula da organização, pois com a falta de engajamento, é improvável um resultado bem-sucedido. O mapa não deve ser visto apenas como uma forma de aperfeiçoar o sistema de medição, e sim como um meio de se realizar mudanças profundas na forma como a organização se gerencia. Para se construir um mapa estratégico deve-se ter em mente, pelo menos, os seguintes requisitos: • Apontar o foco, a essência e o negócio da organização. Rentabilidade Financeira Cliente Interno Aprendizado Mapa estratégico Mais clientes Menos aviões Vôo pontual Rápido preparação em solo Alinhamento do pessoal de terra Preços mais baixos Objetivos Rápida preparação em solo O que é crítico para alcance da estratégia? como será medido? Planos e projetos. O nível de desempenho ou a taxa de melhoria necessários. Programa de otimização da duração do ciclo Tempo em solo Partida pontual 30 Minutos 90 % Meta IniciativaIndicadores 15 • Contar a história da estratégia por meio de uma sequência lógica de causa e efeito. • Ter objetivos balanceados entre todas as perspectivas que o compõem. • Os objetivos devem ser expressos de forma clara e compreensível para toda a organização. 5 Perspectivas O BSC traduz a missão e a estratégia em objetivos e iniciativas, organizados segundo diferentes perspectivas ou dimensões. Tais perspectivas são “pontos de vista” referentes ao negócio e representam os fatores-chave para uma visão ampliada da organização. Cada perspectiva engloba um conjunto de objetivos estratégicos que retrata o que a organização pretende alcançar mediante o “olhar” de cada público de interesse (clientes, acionistas, etc.) bem como os principais desafios a serem enfrentados para o alcance da visão e o cumprimento da missão institucional. As perspectivas, quando observadas em conjunto, permitem a visão completa da estratégia, contando sua história de forma clara e de fácil compreensão. Segundo o modelo puro de BSC proposto por seus criadores, Robert S. Kaplan e David P. Norton (1997), existem quatro perspectivas num mapa estratégico: financeira, do cliente, dos processos internos e de aprendizado e crescimento. A perspectiva financeira descreve os resultados tangíveis da estratégia em termos financeiros tradicionais. A perspectiva do cliente define a proposição de valor para os clientes-alvo, a qual fornece o contexto para que os ativos intangíveis criem valor. Essas duas perspectivas descrevem os resultados esperados da execução da estratégia. A perspectiva de processos internos identifica os processos de trabalho 16 críticos que exercem maior impacto sobre a estratégia. A perspectiva de aprendizado e crescimento define os ativos intangíveis mais importantes para a estratégia, que devem ser coerentemente conectados uns aos outros e alinhados aos processos de trabalho críticos. Os objetivos dispostos nas quatro perspectivas citadas são interligados por relações de causa e efeito. Parte-se da hipótese de que os resultados financeiros somente serão alcançados se os clientes-alvo estiverem satisfeitos. Os processos internos criam e cumprem a proposição de valor para os clientes. Os ativos intangíveis que respaldam os processos internos sustentam os pilares da estratégia. O alinhamento dos objetivos nessas quatro perspectivas é a chave para a criação de valor e, portanto, para uma estratégia focada e dotada de consistência interna. A arquitetura de causa e efeito, interligando as quatro perspectivas, é a estrutura em torno da qual se desenha o mapa estratégico, o qual fornece um modelo que mostra como a estratégia liga os ativos intangíveis a processos que criam valor. Assim, a construção do mapa estratégico força a organização a esclarecer a lógica de como e para quem criará valor. Um fato importante é que as perspectivas previstas no modelo puro do BSC não são exaustivas. Na realidade, cada organização deve adaptar a metodologia de maneira que espelhe da melhor forma sua estratégia. Essa observação é válida principalmente para instituições públicas e entidades sem fins lucrativos que, em regra, não utilizam a perspectiva financeira. Estas organizações abrangem um conjunto muito amplo e diversificado de missões, devendo definir seu impacto social e seus objetivos maiores de maneira diferente. Segue uma breve explicação das quatro perspectivas previstas no modelo básico do BSC proposto por Kaplan e Norton (1997). 17 5.1 Perspectiva Financeira e A perspectiva financeira apresenta os objetivos a serem alcançados pela organização, conforme a estratégia adotada, em termos de redução de custos e de aumento de receitas e lucros. Em outras palavras, esses objetivos precisam definir o desempenho financeiro esperado da estratégia. Para tanto, devem servir de meta principal para os objetivos e medidas de todas as outras perspectivas do mapa estratégico. Basicamente, as estratégias financeiras são simples: as organizações obtêm melhor resultado vendendo mais ou gastando menos. As ações para acelerar o crescimento da receita demoram mais para criar valor do que as ações voltadas para o aumento da produtividade. Desse modo, a estratégia equilibra forças contraditórias – longo prazo versus curto prazo. Com a pressão para apresentar resultados financeiros aos acionistas, a tendência é favorecer o curto prazo em detrimento do longo prazo. Todavia, os fatores que realmente sustentam o crescimento são de longo prazo. Assim, na perspectiva financeira, a conexão com a estratégia ocorre quando a organização decide como se dá esse equilíbrio de forças, prioriza-se uma estratégia de crescimento ou uma de produtividade. O desenvolvimento da perspectiva financeira do mapa estratégico força a organização a manejar essa constante tensão. Figura 3. A perspectiva financeira fornece a definição tangível Perspectiva financeira Reduzir saídas de caixa; Eliminar defeitos; Melhorar rendimentos. Gerenciar a capacidade dos ativos existentes; Efetuar investimentos; Incrementais para eliminar gargalos operacionais. Novas fontes de receita (novos produtos, mercados, parceiros). Valor a longo prazo para os acionistas Estratégia de produtividade Estratégia de crescimento Expandir oportunidades de receitas Aumentar o valor para os clientes Aumentar a utilização dos ativos Melhorar a estrutura de custos Melhorar rentabilidade dos clientes existente. 18 5.2 Perspectiva do Cliente Na perspectiva do cliente são identificados os clientes-alvo, o segmento de mercado que a organização deseja competir, os objetivos do negócio e os respectivos indicadores de desempenho. Depois de definidos os clientes-alvo e o segmento de mercado, a organização está em condições de identificar os objetivos e os indicadores de sua proposição de valor, a qual define a estratégia descrevendo a combinação singular de produto, preço, serviço, relacionamento e imagem que a organização oferece. A proposição de valor deve transmitir o que a organização se propõe a fazer por seus clientes de maneira melhor ou diferente que os concorrentes. Para tanto, a proposição de valor pode focar, por exemplo, em preço total mais baixo ou inovação e liderança de produto ou mesmo em soluções completas para os clientes. Figura 4: Perspectiva do cliente: criar uma proposta de valor diferenciada e sustentável é a essência da estratégia Perspectiva financeira Perspectiva do cliente Valor a longo prazo para os acionistas Estratégia de produtividade Estratégia de crescimento Expandir oportunidades de receitas Aumentar o valor para os clientes Aumentar a utilização dos ativos Melhorar a estrutura de custos Preço Seleção Serviços Parcerias Marca ImagemRelacionamentoAtributos do produto / serviço Satisfação dos clientes FuncionalidadeQualidade Rentabilidade dos clientes Participação de mercado Participação nas compras dos clientes DisponibilidadeConquista de clientes Retenção dos clientes 19 5.3 Perspectiva de Processos Internos Os objetivos da perspectiva do cliente descrevem a estratégia (clientes-alvo e proposição de valor) e os objetivos da perspectiva financeira descrevem as consequências econômicas (receita, lucro e produtividade) dessa estratégia. Depois que a organização forma uma imagem clara dos objetivos financeiros e para os clientes, as perspectivas de processos internos e de aprendizado e crescimento descrevem como executar a estratégia. Na perspectiva de processos internos são identificados os pontos críticos nos quais deve- se alcançar a excelência e concentrar esforços a fim de obter os resultados desejados, pois tais processos produzem e fornecem a proposição de valor para os clientes, o aumento de produtividade para os acionistas e o desempenho socioambiental para a sociedade. Os processos internos podem ser agrupados da seguinte forma: • Processos de gestão operacional: são aqueles de rotina onde se produz os atuais serviços. • Processos de gestão de clientes: são os que ampliam e aprofundam as relações com os clientes-alvo. • Processos de inovação: os que desenvolvem produtos e serviços, criando condições para que a organização conquiste novos clientes e penetre em novos segmentos de mercado. • Processos regulatórios e sociais: justificam a atuação da organização para a sociedade. Ressalta-se que mesmo com ênfase em um dos quatro grupamentos de processos internos, a organização deve seguir uma estratégia balanceada, investindo na melhoria de todos os grupamentos, pois a geração de valor de cada grupo se dá em diferentes horizontes de tempo. 20 Figura 5: Os processos internos criam valor para os clientes e sociedade Figura 6: Os processos internos fornecem valor em diferentes horizontes de tempo Perspectiva financeira Perspectiva do cliente Perspectiva interna Valor a longo prazo para os acionistas Estratégia de produtividade Estratégia de crescimento Expandir oportunidades de receitas Aumentar o valor para os clientes Aumentar a utilização dos ativos Melhorar a estrutura de custos Processos de gestão operacional Processos de gestão clientes Processos regulatórios e sociais Processos de inovação Processos que produzem e fornecem produtos e serviços Processos que aumentam o valor para os clientes Processos que melhoram as comunidades e o meio ambiente Processos que criam novos produtos e serviços Abastecimento Produção Distribuição Gerenciamento de riscos Seleção Conquista Retenção Crescimento Meio ambiente Segurança e saúde Emprego Comunidade Identificação de oportunidades Portfólio de P&D Projeto / desenvolvimento Lançamento Preço Seleção Serviços Parcerias Marca ImagemRelacionamentoAtributos do produto / serviço Proposição de valor para o cliente FuncionalidadeQualidade Disponibilidade 1 2 3 Tempo (anos) Empresa cidadã 24 a 48 meses12 a 24 meses6 a 12 meses Onde intermediária Onda longa inovação do produto Valor para os acionistas ($) Processos de gestão operacional Processos de gestão de clientes Crescimento a longo prazo do valor para os acionistas Processos regulatórios e sociais Processos de inovação Gestão de clientes Eficácia operacional 4 5 21 5.4 Perspectiva de Aprendizado e Crescimento A perspectiva de aprendizado e crescimento identifica ações e inovações necessárias ao crescimento e ao aprimoramento contínuo da organização. Define os ativos intangíveis essenciais ao desempenho das atividades organizacionais em níveis de qualidade cada vez mais elevados. Descreve como capital humano, de informação e organizacional se conjugam para dar suporte à estratégia. É o ponto de partida para qualquer mudança sustentável a longo prazo. Em última instância, pode-se dizer que os objetivos de aprendizado e crescimento descrevem como os ativos intangíveis da organização devem ser aprimorados para executar e melhorar continuamente os processos internos críticos, os quais criam e entregam a proposição de valor aos clientes-alvo, contribuindo para o alcance do resultado financeiro traçado. 22 Figura 7: Os ativos intangíveis têm de estar alinhados com a estratégia Perspectiva financeira Perspectiva do cliente Perspectiva interna Criar alinhamento Perspectiva de aprendizado e crescimento funções estratégicas Criar prontidão Portfólio estratégico de TI Agenda de mundanças organizacionais Valor a longo prazo para os acionistas Estratégia de produtividade Estratégia de crescimento Expandir oportunidades de receitas Aumentar o valor para os clientes Aumentar a utilização dos ativos Melhorar a estrutura de custos Processos de gestão operacional Processos de gestão clientes Processos regulatórios e sociaisProcessos de inovação Processos que produzem e fornecem produtos e serviços Processos que aumentam o valor para os clientes Processos que melhoram as comunidades e o meio ambiente Processos que criam novos produtos e serviços Preço Seleção Serviços Parcerias Marca ImagemRelacionamentoAtributos do produto / serviço Proposição de valor para o cliente FuncionalidadeQualidade Disponibilidade Capital humano + + Habilidades Treinamento Conhecimento Sistemas Banco de dados Redes Cultura Alinhamento Liderança Trabalho em equipe Capital da informação Capital organizacional 23 6 Objetivos Estratégicos Os objetivos estratégicos são os fins a serem perseguidos pela organização para o cumprimento de sua missão institucional e o alcance de sua visão de futuro. Constituem o elo entre as diretrizes de uma instituição e seu referencial estratégico. Traduzem, consideradas as demandas e expectativas dos clientes, os desafios a serem enfrentados pela organização num determinado período. Segundo a metodologia do BSC, os objetivos estratégicos encontram-se distribuídos pelas perspectivas definidas no mapa estratégico da organização. 7 Relações de Causa e Efeito As relações de causa e efeito representam a correlação causal existente entre os objetivos listados no mapa estratégico da organização e demonstram como um objetivo é impactado por outro. Assim, todo objetivo selecionado para um scorecard deve ser o elemento de uma cadeia de relações de causa e efeito que comunique o significado da estratégia da organização. A estratégia pode ser definida também como o conjunto de hipóteses sobre causas e efeitos, ou como um objetivo impacta no alcance de outro. Segundo esse prisma, o sistema de medição deve tornar explícitas as relações (hipóteses) entre os objetivos nas várias perspectivas, para que elas possam ser gerenciadas e validadas. Desse modo, a cadeia de causa e efeito deve permear todas as perspectivas do mapa estratégico. Um painel de desempenho bem elaborado deverá contar a história da estratégia da organização, identificando e tornando explícita a sequência de hipóteses sobre as relações de causa e efeito entre os elementos do mapa estratégico. Todo objetivo, indicador, iniciativa e ação deve ser um elemento integrante da cadeia de relações de causa e efeito que comunica o significado da estratégia da organização. 24 8 Temas Estratégicos Os temas estratégicos são agrupamentos de objetivos relacionados a um mesmo assunto ou com relações de causa e efeito muito fortes. São os pilares da estratégia, pois contemplam uma série de objetivos com suas relações de causa e efeito, formando uma hipótese estratégica. Enfim, os temas estratégicos refletem a visão da alta administração sobre o que deve ser feito internamente para se alcançar a visão de futuro. 9 Indicadores O BSC cria uma estrutura, uma linguagem própria, para comunicar a missão e a estratégia, e utiliza indicadores para informar aos colaboradores sobre os pontos do sucesso atual e futuro. Tais indicadores são padrões utilizados para avaliar e comunicar um desempenho alcançado frente a um resultado esperado. Mostram a situação relativa de um determinado itemconsiderado relevante em função do que lhe é possível estabelecer, orientando a tomada de decisão, as ações e as atividades. Possuem, sempre, unidades de medidas associadas, a exemplo de quantidade, percentual etc. h Os indicadores podem ser de resultado ou de tendência. Os indicadores de resultado medem se os objetivos foram alcançados após um período de tempo suficiente para confirmar seus efeitos. São medidores do desempenho da organização no que se refere a um determinado objetivo estratégico ao final de um período ou atividade, refletindo sucessos ou insucessos do passado, e não atividades e decisões atuais. São indicadores objetivos, facilmente coletados, e se trata de um padrão utilizado por organizações de um mesmo setor de atuação. Já os indicadores de tendência medem os meios, as ações e as causas antes do efeito se confirmar. Medem os processos e as atividades que compõem o caminho estratégico escolhido pela organização para atingir o resultado esperado. Permitem que as 25 organizações ajustem os comportamentos ao desempenho e são mais preditivos por natureza. Estes indicadores direcionam para uma conclusão, mas não são conclusivos por si só e, geralmente, são de difícil coleta. São atribuídos a objetivos estratégicos das perspectivas de processos internos ou de aprendizado e crescimento. Os indicadores de resultado sem os indicadores de tendência não comunicam a maneira como os resultados devem ser alcançados, além de não indicarem, antecipadamente, se a implementação da estratégia está sendo bem-sucedida. Por outro lado, indicadores de tendência sem indicadores complementares de resultado podem permitir que a organização obtenha melhorias operacionais em curto prazo, mas não revelarão se essas melhorias foram traduzidas em expansão dos benefícios ofertados pela organização aos seus principais clientes. É necessário que cada objetivo estratégico tenha ao menos um indicador vinculado; o objetivo sem indicador associado deve ser revisto ou descartado, pois o que não pode ser medido também não pode ser gerenciado. É importante que os indicadores de desempenho sejam: • Representativos: devem expressar a realidade que representam e medem. • Relevantes: devem retratar um aspecto importante, essencial ou crítico de determinado processo. • Econômicos: o custo para mensurar um indicador deve ser inferior ao benefício que seu cálculo proporcionará. • De fácil compreensão por todos: a facilidade para o entendimento de um indicador é fundamental para sua utilidade. • Tempestivos: devem estar disponíveis a tempo, pois dados intempestivos não representam a situação atual vivenciada pela organização. 26 10 Metas As metas representam os níveis de desempenho ou de melhoria requeridos para o alcance de um objetivo estratégico, servindo como vínculo entre este e os colaboradores da organização. Elas são estabelecidas em unidades específicas (moeda, número, percentual), estão vinculadas aos indicadores e devem incluir periodicidade (anual, semestral, mensal). As metas devem orientar o comportamento esperado do negócio. Em essência, são valores atribuídos a indicadores que representam padrão de sucesso e indicam resultados a serem alcançados. Existem vários tipos de metas, entre as quais destacam-se as incrementais, as audaciosas e as de manutenção. As metas incrementais dizem respeito à melhoria contínua na atuação da organização. Por exemplo, em um determinado processo de trabalho, a organização continua fazendo as coisas como sempre fez, porém com pequenas melhorias nos processos. As metas audaciosas referem-se a saltos quânticos de desempenho, os quais representam novas formas de se fazer as coisas, proporcionando grandes ganhos no desempenho de um determinado processo ou mesmo da organização como um todo. O BSC tem o objetivo de estabelecer metas audaciosas que levam a organização a identificar novas formas de se fazer as mesmas coisas. Por fim, as metas de manutenção são aquelas que, após alcançado um nível ótimo de desempenho, a organização busca a continuidade. Em outras palavras, significa que a partir do momento que uma meta alcança o desempenho esperado deixa de ser estratégica e passa a estar vinculada à gestão da rotina e não mais à gestão estratégica, deixando de fazer parte do painel de desempenho. 27 O modo de operacionalizar a utilização de metas de desempenho é o seguinte: a partir dos indicadores de desempenho previamente definidos e coletados, deve- se realizar análise da situação atual da organização e da situação futura desejada. Para cada indicador, deverão ser definidas metas de superação de longo prazo que representem o salto de qualidade que a organização deseja dar em relação à situação atual identificada. A partir das metas de longo prazo, são estabelecidas as metas ano a ano até o fim do período desejado. Assim, se o período for de cinco anos, estabelece-se a meta para o último ano, depois se estabelece o progresso desejado da situação atual (primeiro ano) até alcançar a meta do último ano. Ao final dessa etapa, têm-se as metas no horizonte de planejamento de longo prazo para cada indicador, sendo que o progresso ano a ano para se alcançar as metas auxiliará a organização a escolher as prioridades no planejamento anual e a gerenciar o desempenho geral da organização. 11 Inciativas Estratégicas O mapa estratégico descreve a lógica da estratégia, mostrando com clareza os objetivos dos processos internos críticos que criam valor e os ativos intangíveis necessários para respaldá-los. O BSC traduz os objetivos do mapa estratégico em indicadores e metas. Todavia, os objetivos e metas não serão alcançados apenas porque foram identificados. Na realidade, a organização deve lançar um conjunto de programas que criarão condições para que se realizem as metas de todos os indicadores. Tais programas são chamados de iniciativas estratégicas. As iniciativas estratégicas podem ser definidas como o conjunto de ações necessárias ao alcance dos objetivos estratégicos e ao preenchimento das lacunas de desempenho existentes entre a performance atual e as metas futuras. Frequentemente são projetos e programas, enfim, ações de caráter estratégico. Elas se diferenciam dos objetivos estratégicos e da rotina organizacional por serem mais 28 específicas, por terem começo e fim predeterminados e por terem pessoas ou equipes alocadas para a sua execução, bem como verba preestabelecida, se necessário. Muitas iniciativas, quando executadas em conjunto, podem contribuir para o alcance de um ou mais objetivos estratégicos. Em última instância, as iniciativas estratégicas permitem que a organização se desloque do estado atual em direção ao alcance de suas metas. Toda iniciativa estratégica possui um conjunto de ações a ela associadas, as quais podem ser executadas, por exemplo, em termos de projetos estratégicos. Para cada período do planejamento anual devem ser selecionadas apenas algumas ações por iniciativa, de forma a conferir foco às ações da organização, evitando a dispersão de esforços e de recursos. Ao final do processo, tem-se o mapa estratégico composto por diversas diretrizes (objetivos + indicador + meta + iniciativas) distribuídas em perspectivas e organizadas segundo uma relação lógica de causa e efeito. 12 Projetos Estratégicos O processo de planejamento estratégico define a estratégia de médio e longo prazos da organização. Essa estratégia pode ser representada por um conjunto de objetivos, indicadores e metas, em está descrito como se pretende cumprir a missão institucional e alcançar a visão de futuro. Para que essa estratégia tenha sucesso, é necessário que seja acompanhada por um sistema de gestão como o BSC. A estratégia é colocada em ação por intermédio de processos de rotina e de inovação. Eles podem referir-se à melhoria dos atuais processos, àcriação de novos processos, a treinamento e capacitação, a desenvolvimento de metodologias e criação de novos produtos e serviços, entre outros. Percebe-se, então, que tais projetos normalmente impactam as perspectivas de processos internos e de aprendizado e crescimento. Essas perspectivas, de acordo com a própria lógica do mapa estratégico, impactarão as demais. O importante aqui é compreender que, de uma forma ou de outra, o resultado desses projetos atinge diretamente os processos de trabalho e, em decorrência, a proposição de valor para os clientes e o resultado global da organização. Assim, faz- se necessário discutir como esses elementos – processos e projetos – relacionam-se no ambiente de atuação da organização e como os projetos devem ser priorizados no âmbito do BSC. 29 No contexto considerado, projeto pode ser definido como o empreendimento planejado, com começo e término previamente definidos, visando à solução de problemas específicos, ao aproveitamento de oportunidade ou à oferta de produtos ou serviços. Já processo é um conjunto de atividades executadas de forma sequencial e contínua, necessário e suficiente à obtenção de produtos e serviços capazes de satisfazer as necessidades dos clientes de uma organização. Normalmente, projetos são planejados para que resultem em inovação ou em melhoria substancial dos processos permanentes da organização ou criação de novos processos que gerem valor para os clientes. Assim, fica claro que os processos de trabalho são diretamente impactados pelos projetos, pois estes agem sobre aqueles. Em outras palavras, a organização internaliza e pereniza os ganhos obtidos com a implementação dos projetos por intermédio dos processos, de modo que projetos e processos estão intimamente ligados entre si e com a estratégia da organização. Toda organização possui vários projetos em andamento e outros tantos a se realizar. Quando da implementação do BSC, devem ser feitas perguntas como: “os objetivos serão alcançados com essas iniciativas?”; “essas iniciativas são suficientes para o alcance das metas traçadas?”; ”novas iniciativas serão necessárias?”. Ora, se as iniciativas normalmente dizem respeito a projetos, tais perguntas servem também para os projetos. Então, deve-se fazer uma triagem para descobrir quais os projetos que realmente vão impulsionar a organização rumo à sua visão de futuro, isto é, quais deles contribuirão para o alcance das metas traçadas. Assim, devemos descobrir como os projetos devem ser priorizados, descobrir quais são os projetos estratégicos da organização. Existem várias formas de se priorizar projetos. A mais popular refere-se à matriz de correlação entre iniciativas e objetivos estratégicos. A matriz permite identificar o grau de impacto das iniciativas sobre os objetivos, tornando possível o estabelecimento de vínculo entre o desdobramento das iniciativas (projetos e diretrizes institucionais) e os objetivos estratégicos, de forma a assegurar melhor coerência entre os planos estratégico, tático e operacional. 30 A matriz de correlação é construída da seguinte forma: lista-se os objetivos estratégicos na vertical e as iniciativas estratégicas na horizontal, de modo a correlacionar todas as iniciativas com todos os objetivos. Depois disso, pontua-se segundo o grau de impacto de cada iniciativa nos objetivos. Aquelas iniciativas que tiverem maior pontuação serão as priorizadas. Figura 8: Exemplo de matriz de correlação de uma instituição de pesquisa Objetivos Estratégicos Garantir a qualidade do processo educacional Intensificar parcerias Intensificar troca de conhecimento entre centros de excelência em ensino Total Iniciativa estratégicas Programa de expansão de cursos técnicos existentes 1 3 2 6 Programa de implantação de novos cursos técnicos 1 2 2 5 Revitalização da aprendizagem 3 - 1 4 Desenvolvimento de novas metodologias 2 1 - 3 Relações com o mercado - 2 1 3 Programa de educação à distância 1 - - 1 Pontuação Alto impacto: 3 Médio impacto: 2 Baixo impacto: 1 Sem correlação: - 31 13 Monitoramento e Revisão da Estratégia A gestão da estratégia compreende os processos de formulação, tradução da estratégia em termos operacionais, execução, monitoramento e controle. É na fase de formulação da estratégia que o BSC é desenhado. Após a conclusão desse desenho, isto é, do mapa estratégico, perspectivas, objetivos, relações de causa e efeito, indicadores, metas e iniciativas, é necessário assegurar a implementação bem-sucedida da estratégia. Para assegurar que a implementação da estratégia está de acordo com o planejado, os indicadores vinculados aos objetivos estratégicos devem ser continuamente monitorados, pois tais objetivos, definidos no âmbito do processo de planejamento estratégico, produzem efeitos desde a fase de formulação estratégica até as fases de execução e controle. Kaplan e Norton (1997) propuseram um modelo para a gestão da estratégia no qual a organização realiza dois tipos de reuniões estratégicas: monitoramento e controle e aprendizado. As reuniões devem ser realizadas mensalmente, com revezamento de temas, ou trimestralmente, onde se trata da estratégia como um todo. h No ciclo de monitoramento, verifica-se o desempenho da organização comparando o desempenho atual com a estratégia traçada, de modo a entender seu comportamento e enfatizar sua relação com os projetos estratégicos associados. O evento mais representativo desse ciclo é a reunião de monitoramento. A finalidade do encontro é verificar o desempenho estratégico da organização; o desempenho em relação às metas; o desempenho das iniciativas; verificar em quais objetivos a organização apresenta um desempenho aquém do esperado; identificar os motivos para tal desempenho; e analisar os projetos estratégicos que dão suporte ao alcance dos objetivos. Na realidade, analisa-se como os projetos estão sendo implementados, se estão dentro do prazo e do custo estimados 32 e se são suficientes e consistentes com o objetivo estratégico proposto. Com base nos resultados verificados, poder-se-á revisar iniciativas estratégicas, indicadores e metas. Desse modo, é feita a conexão entre a estratégia traçada e sua execução. Já o ciclo de aprendizado questiona a validade da estratégia escolhida e a consistência das relações de causa e efeito, isto é, questiona se ainda são válidas as premissas sobre as quais se fundamenta a estratégia. Para tanto, é criado um grupo de trabalho que estimule esse questionamento e consolide a aprendizagem estratégica. Os encontros desse grupo ocorrem na reunião de aprendizado. É importante ressaltar que o aprendizado ocorre durante todo o processo de gestão estratégica, desde sua formulação até o controle. O intuito dessa reunião é dar maior ênfase ao questionamento. Apesar da diferença conceitual entre o ciclo de aprendizado e o ciclo de monitoramento e controle, em qualquer momento é possível surgir questionamentos que levem à redefinição das premissas básicas pelas quais a hipótese estratégica esteja embasada, pois podem surgir novas informações ou fatos que venham romper com as bases pela qual os problemas da organização são tratados. Além disso, podem surgir questões que não consigam ser respondidas imediatamente. Tais questões poderão disparar a revisão do processo de formulação da estratégia, da proposta de valor aos clientes e, até mesmo, da missão institucional e visão de futuro da organização. 14 Fatores Críticos de Implementação O BSC é um sistema de gestão que auxilia as organizações a traduzir sua estratégia em objetivos operacionais, direcionando o comportamento dos colaboradores e o desempenho global. Todavia, não basta apenas desenhá-lo. Após a elaboração do painel de desempenho, deve ocorrer sua implementação. E aqui reside um dos principais problemas das organizações de modogeral. Numerosas pesquisas afirmam que é corrente um processo de planejamento estratégico bem feito e, consequentemente, uma estratégia bem formulada. Entretanto, os resultados alcançados quando da execução ficam aquém do esperado. A causa mais provável é a má implementação da estratégia. Para que a estratégia e o sistema de gestão (BSC) sejam bem-sucedidos, não basta que seu processo de construção tenha sido bem feito. Na realidade, deve-se observar alguns preceitos ou fatores críticos, dentre os quais se destaca: 33 • Rapidez no processo de construção do painel de desempenho: o modelo completo do BSC (mapa, perspectivas, objetivos, relações de causa e efeito, iniciativas, metas e indicadores) deve ser construído logo após o processo de planejamento estratégico para facilitar seu desdobramento imediato em planos de ação alinhados com as metas estratégicas definidas e para não ocorrer perda de foco. • Limitação do número de indicadores por objetivos: um dos preceitos fundamentais do BSC é que “só pode ser gerenciado aquilo que pode ser medido”. Dessa forma, deve haver indicadores vinculados a todos os objetivos estratégicos. Todavia, é prudente que o número de indicadores não ultrapasse 1,5 (um e meio) por objetivo, pois um número maior do que esse dificulta o gerenciamento. É necessário ter os indicadores essenciais, nem mais nem menos, sob pena de prejudicar sua utilização como ferramenta gerencial. • Existência de objetivos claros no plano estratégico: os objetivos estratégicos devem ser definidos de forma clara, lógica e precisa, pois o mapa estratégico é elaborado segundo tais objetivos durante o processo de planejamento estratégico, após criteriosa análise de ambiente. Se tais objetivos não estiverem claros para toda a organização, o mapa estratégico perderá uma de suas principais características, que é a comunicação clara da estratégia. • Mobilização da mudança por intermédio da liderança executiva: a condição isolada mais importante para uma implementação bem-sucedida do BSC é o senso de propriedade e o envolvimento ativo da equipe executiva. A liderança executiva deve estar à frente do processo, para garantir que a estratégia seja resguardada e implementada, não cedendo às pressões imediatistas que levam a ações divergentes que vão prejudicar a competitividade da organização no longo prazo. Além disso, as lideranças serão os principais usuários do painel de desempenho quando das fases de monitoramento e controle da estratégia. • Ampla divulgação: a melhor forma de se estabelecer mudanças na organização é com a mobilização de todos os colaboradores, do principal executivo aos funcionários da linha de frente. Nesse aspecto, o mapa estratégico é ferramenta fundamental para a divulgação e comunicação, pois expõe de forma clara e lógica qual a estratégia da organização, além de possibilitar que cada funcionário visualize como sua atuação contribui para a execução dessa estratégia. 34 • Planos de ação vinculados aos objetivos estratégicos: para facilitar o monitoramento das metas, os planos de ação devem ser vinculados aos objetivos definidos no mapa estratégico. • Disponibilidade de recursos financeiros: o estabelecimento das metas deve estar alinhado com a disponibilidade de recursos financeiros, sob pena de não se conseguir cumpri-las. Glossário Dimensionar: Detalhar algum processo, dimensionar um espaço, ou uma ação, definir com detalhes um acontecimento ou uma obra. 35 a 1) Julgue verdadeiro ou falso. O processo de planejamento define a estratégia a ser seguida para o alcance da visão de futuro e para o cumprimento da missão institucional da organização Verdadeiro ( ) Falso ( ) 2) Julgue verdadeiro ou falso. O mapa estratégico expõe o conjunto de objetivos estratégicos da organização, com indicadores de desempenho vinculados, balanceados em diferentes perspectivas porém, não estão ligados por relações de causa e efeito. Verdadeiro ( ) Falso ( ) Atividades 36 Referências ALBRECHT, Karl. Serviços com Qualidade: a vantagem competitiva. São Paulo: Makron Books, 1992. BRASIL. Secretaria de Planejamento e Gestão do Tribunal de Contas da União. Guia de referência do sistema de planejamento e gestão do Tribunal de Contas da União. Brasília: TCU, 2006. CASSOL, L. P. et al. Cenários Prospectivos para Telefonia Celular no Brasil: 2008-2016. Gestão & Regionalidade, São Paulo, v. 24, n. 72, set.-dez. 2008. CHIAVENATO, Idalberto. Administração – Teoria, Processo e Prática. 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Organização orientada para a estratégia: como as empresas que adotam o Balanced Scorecard prosperam no novo ambiente de negócios. Rio de Janeiro: Campus, 2004. 37 _____. A estratégia em ação: Balanced Scorecard. Rio de Janeiro: Campus, 1997. LÉVY, Pierre. O que é o Virtual? São Paulo: 34, 1996. LOCKE, E. A.; BRYAN, J. F. The Effects of Goal Setting, Rule LEarning, and Knowledge of Score on Performance. American Journal of Psychology, n. 79, p. 451-457, 1966. MCCLELLAND, D. C. The achieving society. Princeton, New Jersey: Van Nostrand, 1961. MOLLER, Claus. O lado humano da qualidade: maximizando a qualidade de produtos e serviços através do desenvolvimento das pessoas. 12ª Ed. São Paulo: Pioneira, 1999. NOBREGA, Clemente. Em busca da empresa quântica. Rio de Janeiro: Objetiva, 1996. PORTER, Michael E. Competitive Strategy – Techniques for Analysing Industries and Competitor. EUA: The Free Press, 1990. Vantagem Competitiva. Tradução: BRAGA, de Pinho. Rio de Janeiro: Campus, 1992. 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Florianópolis, 1995. 38 UNIDADE 4 | GESTÃO VOLTADA PARA RESULTADOS: CARACTERÍSTICAS E FERRAMENTAS 39 Unidade 4 | Gestão Voltada para Resultados: Características e Ferramentas 1 Gestão por Resultados A competência de uma organização é determinada pela sua capacidade de atingir seus resultados. Mais do que nunca, construir estratégias, formular objetivos e metas visando o futuro dentro das organizações, significa algo mais do que administrar organizações e realizar tarefasrotineiras. Implica em ampliarmos nossa capacidade de sonhar e de construir o futuro que almejamos e compartilhamos. Em geral as organizações possuem seus objetivos fixados em estatutos, regimentos e outros documentos. Eles fazem parte dos fundamentos jurídicos que qualificam, formalmente, a organização e, em todos os contratos sociais ou nos regimentos dos órgãos públicos, está assentado o propósito ou a competência da entidade. Mas os objetivos que mobilizam os esforços da organização em direção ao futuro, à concretização da visão, devem ser construídos e expressos em termos de resultados. A gestão por resultados desloca a maneira tradicional de administração fixada nas “atividades-meio”, para a efetiva obtenção de resultados expressos, quantificáveis, construídos democraticamente e perseguidos por todos – colaboradores e parceiros. Os objetivos expressos em termos de resultados esperados são desdobrados em cada área da organização e vinculam-se uns aos outros, dentro do conceito de sistema, levando-se em conta os recursos disponíveis ou necessários. 40 O conceito de Gestão por Resultados está, no entanto, muito longe da fórmula simplista de compreender eficácia apenas por meio do lucro ou de aspectos financeiros, ou da otimização de padrões internos de eficiência. A gestão por resultados é mais ampla, integrada e resolutiva, quando comparada a outros modelos administrativos utilizados atualmente, pois pressupõe a necessidade de se estabelecer resultados de crescimento, de ampliação e de desenvolvimento da organização. Podemos definir a Gestão por Resultados como: um sistema de gestão em que os trabalhadores/colaboradores e os gestores de topo definem, em conjunto, qual é o objetivo final do seu trabalho, em termos de resultados a serem obtidos, de que forma os resultados serão aferidos e avaliados e qual o tempo necessário à sua concretização. Baseia-se na eficácia da organização. A gestão por resultados rompe com o paradigma do “trabalho pelo trabalho”, ou seja, com as preocupações das pessoas em trabalhar e desenvolver suas tarefas sem a produção de resultados significativos para a organização e transformando o trabalho em um fim em si mesmo. Portanto, a otimização por meio da melhoria da produtividade e de eficiência operacionais é pouco – as atividades, tarefas e rotinas e a busca da eficiência são apenas atividades-meio, sendo os resultados o verdadeiro fruto significativo do trabalho individual e coletivo. Assim, a Gestão por Resultados busca a direção dos esforços por meio de planejamento e controle administrativo, fundamentada no princípio de que para atingir resultados a organização precisa, antes, definir em que negócio está atuando e aonde pretende chegar. A Gestão por Resultados (GPR) pressupõe o estabelecimento dos objetivos a longo prazo, desdobrados em resultados anuais da organização (expressos quantitativamente) e desdobrados em cada área de atuação (ou departamentos), também em termos de resultados esperados, em dados quantitativos (mas não obrigatoriamente financeiros). 41 A GPR é um processo pelo qual gerentes e subordinados identificam objetivos comuns, definem as áreas de responsabilidade de cada um (em termos de resultados a serem alcançados possíveis de serem mensurados ou verificados) e utilizam esse norte como guia para suas atividades, em uma abordagem dinâmica, democrática e participativa. Se você achou alguma coisa familiar com a determinação da Missão, dos Objetivos e Planejamento Estratégico, Tático e Operacional está de parabéns! A GPR utiliza todo esse ferramental gerencial como suporte para a obtenção de resultados. Portanto, esses são os meios que dão consistência ao sistema, e a obtenção dos resultados são o propósito de todo esse planejamento. O planejamento não é uma etapa da administração, mas um processo dinâmico e flexível que pressupõe a mensuração e a avaliação dos resultados obtidos, a correção de desvios do processo, as modificações de planejamento, a redefinição de indicadores e, se for o caso, a adequação do planejamento. Segundo Peter Drucker (2002): Toda empresa deve criar uma verdadeira equipe e reunir esforços individuais num esforço comum. Cada membro da empresa contribui com uma parcela diferente, mas todos devem contribuir para a meta comum. Seus esforços devem ser exercidos numa só direção e suas contribuições devem combinar-se para produzir um resultado ótimo – sem lacunas, sem atritos, sem a desnecessária duplicação de esforços. O modelo de gerenciamento que temos agora é o da ópera. O maestro conta com um grande número de grupos diferentes que ele precisa reunir. Os artistas, o coral, o corpo de baile, a orquestra – todos têm de atuar juntos, a partir de uma partitura estabelecida de forma comum. A Gestão por Resultados exige grande esforço e instrumentos especiais, pois, numa organização, os gerentes e executivos não são automaticamente dirigidos para o objetivo comum – esse compartilhamento deve ser construído. 42 2 Determinação de Resultados Mas qual a diferença entre estabelecer objetivos e resultados? Podemos dizer que o objetivo é um sonho, uma pretensão, um desejo, enquanto o resultado é sua concretização. Assim, administrar por resultados é mais do que estabelecer objetivos e metas. Administrar por resultados é efetivamente alcançar os objetivos e metas propostos. É claro que os resultados são expressos em termos de objetivos tangíveis, ou seja, mensuráveis. Esses objetivos podem ser organizacionais ou globais (estratégicos), setoriais ou por área (táticos) e específicos por atividade (operacionais). A consecução dos objetivos operacionais deve garantir o alcance dos objetivos táticos que, por sua vez, devem concretizar os objetivos estratégicos ou organizacionais – e, todos eles, expressos em termos de resultados. Dessa forma, as organizações buscam atingir um conjunto de objetivos (resultados estabelecidos). Esses objetivos não são estáticos, pois estão em contínua evolução, modificando as relações da organização com seu meio. É necessária uma constante reavaliação dos objetivos em face das alterações do meio ambiente e da organização (CHIAVENATO, 1987, p. 338). Portanto, os objetivos não são rígidos e cristalizados, mas podem ser alterados, inclusive no processo de ajustamento a problemas emergentes e situações imprevistas. A simplicidade e o realismo norteiam a construção desses objetivos, que são os elementos fundamentais da Gestão por Resultados. Os critérios para a determinação de objetivos devem considerar a sua contribuição para o alcance dos resultados da organização. A seguir, são listadas algumas sugestões que podem contribuir para a determinação de objetivos com foco em resultados: • Procure determinar objetivos para todas as áreas de atuação da sua organização, promovendo a participação de todos; • Determine objetivos que realmente promovam um impacto positivo na sua organização. 43 • Os objetivos devem indicar os resultados a serem atingidos; formule-os por meio de um verbo no infinitivo e acrescente metas ou parâmetros numéricos (percentuais, por exemplo); • Os objetivos devem ser desafiadores, ou seja, devem implicar em esforços que devem ser atingidos – portando, evite objetivos simples demais (que não mobilizam) ou difíceis demais (que correm o risco de não serem atingidos); • Os objetivos devem indicar os resultados, não os métodos. Mantenha o foco. • Utilize linguagem clara e direcionada ao negócio; os objetivos devem ser específicos, claros e basear-se em dados concretos. Objetivos como “promover felicidade”, apesar de nobres, são subjetivos e difíceis de serem quantificados ou aferidos. Prefira frases do tipo “ampliar em 30% a participação/frequência dos nossos clientes nos cursos atualmente oferecidos até dezembro de 2004”. Este é um objetivo que pode ser aferido. • Os objetivos devem enfocaro trabalho, e não as pessoas; • Objetivos são resultados futuros que se pretende atingir. • Hierarquize os objetivos. Os objetivos podem ser hierarquizados com relação à sua posição competitiva, à produtividade e à índices de referência, à responsabilidade social da organização, por exemplo. E devem ser hierarquizados quanto à abrangência: estratégicos, táticos e operacionais. Assim, cada objetivo estratégico ou geral (sempre descrito em termos de resultados esperados) é desdobrado em objetivos subsequentes e parciais (também descritos em termos de resultados). 3 Pressupostos da Gestão por Resultados O processo de GPR, como método democrático de compartilhamento e de responsabilidades para a obtenção de resultados efetivos, apresenta alguns pressupostos básicos: 44 a) Análise das Mudanças Ambientais A compreensão das repercussões das mudanças na sua área de atuação é fundamental para a determinação de objetivos que possam levar a bons resultados. A miopia institucional, onde cada um tem olhos apenas para o seu pequeno universo, pode levar a escolha de resultados que não sejam benéficos para a organização em um futuro próximo. b) Determinação de objetivos com foco em resultados Parece óbvio, mas a principal qualidade de um objetivo é sua objetividade, ou seja, ele deve ser claro e compreensível, sem dar margem a interpretações múltiplas ou subjetivas. c) Criação de Oportunidades A gestão por resultados deve ser criativa, flexível e adaptável, aproveitando tanto as oportunidades de crescimento que já possuímos como as oferecidas pelo ambiente. d) Foco no Desenvolvimento das Pessoas O aproveitamento de valores, competências e talentos da organização é o resultado sinérgico dos valores, competências e talentos das pessoas que nela trabalham. Não há como uma organização ser criativa sem colaboradores criativos. e) Descentralização Administrativa A descentralização administrativa é ponto chave no processo de gestão por resultados. Cada equipe ou área é responsável por uma parcela de resultados e deve ter autonomia para decidir como alcançá-los. 45 4 Características da Gestão por Resultados A gestão por resultados procura dirigir esforços para atingir os objetivos gerais da organização, em termos de resultados. Por isso, somos exigidos a refletir sobre nossa missão e a determinarmos nossa visão de futuro, pois não adianta definirmos metas, etapas ou caminhos se não sabemos aonde queremos chegar. Mas a determinação de visão e de objetivos expressos em resultados não pode ser uma tarefa solitária. Ao contrário, deve ser compartilhada e negociada entre todos os envolvidos. A organização propõe resultados a serem atingidos que, após aprovados, são desdobrados entre cada área, que também contribui para a determinação de seus próprios resultados. O que exige compartilhamento, comprometimento, negociação, decisão construção de padrões e índices de desempenho e atribuição de responsabilidades. A seguir estão listadas as principais características do processo de gestão por resultados. a. Estabelecimento conjunto de objetivos (expressos em termos de resultados esperados) entre o executivo (o responsável) e seu superior. Trata-se de um processo de negociação e comprometimento compartilhado. b. Desdobramento dos objetivos/ resultados gerais em objetivos/resultados por área. Principalmente nesta fase, devemos quantificar os resultados (estabelecer metas numéricas) para que possamos aferi-los. c. Integração do Sistema. Os objetivos de cada área devem ser obrigatoriamente interligados com os objetivos gerais e, preferencialmente, integrados e consoantes entre si. Cuidado com objetivos conflitantes, ou seja, que a consecução de um obrigue em prejuízos a outro. d. Estabelecimento de indicadores de resultados. Os objetivos devem ser medidos e aferidos em termos de resultados mensuráveis. e. Contínua avaliação, revisão e reciclagem do planejamento. A gestão por resultados é um processo dinâmico que exige constante avaliação e atualização do planejamento inicial. O planejamento é flexível porque as contingências são inúmeras e o foco principal do nosso trabalho são os resultados. Portanto, mais importante do que planejar estrategicamente é pensar estrategicamente! 46 5 Ferramentas da Gestão por Resultados f A ferramenta mais utilizada para apoiar e dinamizar o processo de gestão por resultados é o ciclo PDCA (Plan, Do, Check, Act). Utilizado também nos processos de gestão da qualidade total, o PDCA integra as atividades de planejamento, execução, controle e aferição de resultados, tanto no nível macro (organizacional) como em seus desdobramentos (áreas/atividades). O ciclo PDCA contextualiza cada uma das funções do administrador (planejamento, organização, direção e controle) que, vistas separadamente, não passam de funções administrativas de rotina, mas, vistas como um todo, formam um sistema administrativo dinâmico e integrado. Action Check Plan ou Standard Do Ciclo PDCA Comparação resultados obtidos X esperados Atuar corretivamente em função dos resultados Verificar os resultados do processo (indicadores de processo) Executar Educar / Treinar Definir métodos Definir metas 47 Dinâmica do sistema – ciclo do PDCA: Planejamento (estratégico e tático), execução (do), controle e avaliação dos resultados 1. Planejamento: o planejamento é a função administrativa que serve de base para as demais. Estabelece o conjunto objetivos (resultados) entre a organização e sua instância superior (planejamento estratégico) ou entre os gestores da organização e cada uma de suas áreas (planejamentos táticos). A Gross Rating Points (GPR) está fundamentada no estabelecimento de objetivos por posições de gerência, estes interligados e direcionados para a visão e missão da organização, em conformidade com a missão da organização. 2. Execução: do ponto de vista operacional, a GPR se diferencia das demais teorias por buscar eficácia a partir da valorização e participação de todos os envolvidos (colaboradores de todas as camadas da organização), que podem decidir sobre o “como fazer”. 3. Controle: a GPR trabalha com objetivos quantificados, e o monitoramento dos resultados atingidos nos níveis operacional e tático permite avaliar o progresso do sistema. O controle é a ferramenta que assegura que a execução vai ao encontro do que foi estabelecido no planejamento. O feedback é uma referência importante que permite a execução de ações corretivas e alterações em todo o processo, visando a obtenção dos resultados propostos. 4. Avaliação: permite uma forma de revisão global por meio da avaliação dos objetivos/resultados gerais alcançados, proporcionando informações valiosas para o estabelecimento de novas metas a serem atingidas no planejamento do ano seguinte. É o momento de reavaliar o ambiente e a validade das premissas iniciais, e também deve contar com todos os envolvidos no processo. e O PDCA também é uma ferramenta utilizada para controlar processos importantes. Quando controlamos um processo em busca de melhoria contínua (aumento da eficiência), estamos promovendo o que os japoneses chamam de filosofia Kaisen (processo padronizado ou “S”, ou seja, Standard, em fase de aumento de sua eficiência). Quando a melhoria é consequência da substituição de um processo por outro (por inclusão de tecnologia, alteração de know-how etc.) os japoneses chamam de Kaikaku – ou seja, houve melhoria por alteração radical dos padrões anteriores. É claro que esse novo processo também será padronizado para melhoria contínua, até que seja substituído por outro e assim por diante. 48 Observe o esquema que demonstra o gerenciamento da evolução e mudança contínua propiciada pelo ciclo PDCA, demonstrando a melhoria e evolução dos processos. Os ciclos SDCA (S de Standart, padrão) são os processos já estruturados e mantidos (Kaisen), enquanto os ciclos PDCA envolvem,obrigatoriamente, evolução ou inovação nos processos e atividades desenvolvidas (Kaikaku). A matriz produto/mercado, a seguir demonstra a dinâmica entre serviços/produtos standard e a busca da inovação: Tempo Resultado Novo processo Ciclo PDCA: Melhoramento Contínuo KAISEN: Melhoria Contínua KAIKAKU: Inovação Produto Mercado Atual (Standard) Novo Atual (Standard) Penetração do atual mercado Desenvolvimento de novos produtos / Serviços Novo Desenvolvimento de novos mercados Diversificação: Novos produtos / serviços Novos mercados 49 6 Conclusão Atualmente, a gestão por resultados é bastante difundida e plenamente compatível com o espírito pragmático e democrático presente na moderna administração. O conceito de missão da organização e a construção da visão de futuro é uma das grandes inovações da GPR, exigindo análise da realidade, foco na eficácia, evolução constante da organização e das pessoas e participação democrática de todos. Desse modo, indicadores de resultados estão relacionados com os objetivos específicos de determinada ação no desenvolvimento de um programa ou atividade. Para o uso adequado dos indicadores de resultados é importante que o objetivo do processo seja claramente explicitado e que seja mensurável. Medem a qualidade final do processo (ou do serviço). Em um curso, o projeto final é um exemplo de indicador de resultado, pois avalia a aprendizagem global (avaliação somativa). No processo “serviço de lavanderia”, os exemplos de indicadores de resultados estão sempre relacionados com os resultados do processo na ótica do cliente, por exemplo, o número de peças danificadas, o tempo gasto entre o recebimento da roupa suja e a entrega da roupa limpa etc. Os indicadores de resultados medem eficácia. Por sua vez, indicadores de controle ou processo medem o grau de cumprimento das atividades realizadas através dos meios disponibilizados, durante a implementação da atividade, permitindo controle e correção de problemas. Por exemplo em um curso, um teste parcial é um indicador de processo, pois dá informações se a aprendizagem está ocorrendo ainda durante o desenrolar do curso. No serviço de lavanderia, alguns indicadores de processo podem ser o consumo de sabão e de energia, o número de funcionários e máquinas empregados, o tempo médio de lavagem e de secagem etc. Os indicadores de processo medem eficiência. Glossário Pressuposto: Alguma hipótese ou suposição lançada antes de ser provada. 50 a 1) Julgue verdadeiro ou falso. A Gestão por Resultados é definida como um sistema de gestão em que os trabalhadores/ colaboradores e os gestores de topo definem, em conjunto, qual é o objetivo final do seu trabalho, em termos de resultados a serem obtidos. Verdadeiro ( ) Falso ( ) 2) Julgue verdadeiro ou falso. O ciclo PDCA contextualiza as funções do administrador (planejamento e organização) que são vistas apenas como um todo e formam um sistema administrativo dinâmico e integrado. Verdadeiro ( ) Falso ( ) Atividades 51 Referências ALBRECHT, Karl. Serviços com Qualidade: a vantagem competitiva. São Paulo: Makron Books, 1992. BRASIL. Secretaria de Planejamento e Gestão do Tribunal de Contas da União. Guia de referência do sistema de planejamento e gestão do Tribunal de Contas da União. Brasília: TCU, 2006. CASSOL, L. P. et al. Cenários Prospectivos para Telefonia Celular no Brasil: 2008-2016. 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