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TRAUMATOLOGIA FORENSE Prof. Naura Aded A Traumatologia Forense trata das chamadas lesões corporais, físicas ou mentais. O estudo e a classificação das lesões corporais são enfocados quando se estuda o artigo 129 do Código Penal (CP). Diversos são os tipos de energia (físicas, químicas, físico-químicas, biológicas, bioquímicas, biodinâmicas e mistas) capazes de causar lesões; ofensa à integridade física ou à saúde, tanto do ponto de vista anatômico quanto do funcional e/ou mental, caracterizando as lesões corporais que podem evoluir para a morte. Energias físicas: mecânica, elétrica, térmica, pressão atmosférica, som, luz e radiação. São exemplos típicos de energia mecânica as ações: contundente, perfurante, perfucortante, perfurocontundente, cortante, cortocontundente. Abordaremos, preferencialmente, as lesões produzidas por energia mecânica, por serem as mais frequentes. AÇÃO CONTUNDENTE Instrumento é todo objeto que tem uma função própria. Instrumento contundente é todo agente mecânico, sólido, gasoso ou liquido que atuando com violência, seja por pressão, explosão, compressão, descompressão, percussão, torção, sucção, deslizamento, distensão, “arrasto”, contragolpe ou de forma mista. E capaz de causar danos ao organismo. São exemplos de instrumentos contundentes os órgãos de defesa e ataque de homens e animais (dentes, unhas, garras, presas e etc) e quaisquer outros objetos de uso comum (barra de ferro, bengala, pedra, peso de papel, por exemplo), além de superfícies rígidas, como portas, paredes, muros e o próprio chão. Os instrumentos contundentes têm uma superfície mais ou menos plana, sendo habitualmente rombos. As lesões produzidas por instrumentos contundentes têm características próprias que as diferem das produzidas por outros tipos de instrumentos. Numa perícia médico-legal, nem sempre é possível determinar o instrumento que causou uma lesão; exceto nos casos em que a lesão reproduza o formato do objeto utilizado, as chamadas “lesões com assinatura”. Na maioria dos casos o perito-legista consegue somente determinar a ação que a causou; daí, ao invés de falar em instrumento contundente, usa-se a expressão AÇÃO CONTUNDENTE. A ação contundente pode ocorrer de maneira ativa – quando o objeto vai de encontro ao corpo - e passiva qdo o corpo vai de encontro ao objeto. Pode ainda ocorrer uma combinação dessas formas. Vale lembrar que um instrumento com a finalidade X pode determinar uma lesão com as características Y, de acordo com seu manuseio. Por exemplo, uma faca pode ter ação cortante, perfurocortante ou contundente; um projetil de arma de fogo, instrumento perfurocontundente, pode apenas contundir (raspão). O importante, na perícia médico-legal é determinar o tipo de ação que causou a lesão. O resultado da atuação dos instrumentos contundentes é conhecido, genericamente, como contusão. LESÕES PRODUZIDAS POR AÇÃO CONTUNDENTE 1. Rubefação – congestão repentina e fugaz de uma determinada região do corpo, por vasodilatação local. É considerada uma emergência médico-legal, devido sua breve duração. O exemplo mais comum desse tipo de lesão é o tapa. Costuma ser lesão de caráter leve. 2. Tumefação ou edema – extravasamento de plasma no local do traumatismo, levando a um aumento das partes moles da região. Costuma ser lesão de caráter leve. 3. Equimose - é o derramamento de sangue no interior dos tecidos, consequente à rotura de vasos, geralmente capilares. E considerada superficial se localizada nos tegumentos (tecido celular subcutâneo) e profunda, quando ocorre nos planos musculares e viscerais. As equimoses, na maioria dos casos surgem, no local do trauma (compressão, tração ou sucção), mas em alguns casos podem aparecer a distancia, como por exemplo, nos traumatismos cranianos com fratura de base de crânio, onde surgem equimoses palpebrais. Quando um perito está frente a uma equimose, cabe descrevê-la quanto à forma, tonalidade, tamanho e localização. A descrição da forma possibilita caracterização, muitas vezes, de objetos conhecidos (lembrar lesões com assinatura). A equimose que adquire a forma de um ponto é chamada PETÉQUIA; numerosas lesões puntiformes agrupadas e que confluem para uma área delimitada recebe o nome de SUGILAÇÃO (vulgarmente conhecido como “chupão”); a que tem formato de pequenas estrias, VIBICE e SUFUSÃO representa uma hemorragia mais extensa, de tamanho variado. A sede da lesão interessa sobremaneira, porque pode indicar um crime da esfera sexual, ou lesão de defesa; ou seja, pode orientar quanto à intenção do autor. A tonalidade permite ao perito formular o nexo temporal entre o alegado e o apurado no exame. Para tal, vale-se o examinador do ESPECTRO EQUIMÓTICO DE LEGRAND DU SAULLE que mostra a variação de coloração das equimoses, com o passar dos dias, devido às transformações decorrentes da reabsorção do sangue derramado nos tecidos (há liberação de hemoglobina que sofre redução). Desse modo, temos no 1º dia a cor vermelha; 2º/3º dias: violeta; 4º/6° dias: azul; 7º/12° dias: verde; 13º ao 20º dia: amarelada. Na prática, faz-se o cálculo de um intervalo de aproximadamente três dias para a mudança na cor das equimoses. Pessoas hígidas, entre elas as crianças, podem ''resolver'' uma equimose em menos de dez dias, e o perito tem que estar atento a essa possibilidade. É interessante lembrar que a conjuntiva ocular, por ser extremamente porosa e permitir oxigenação fácil, não acompanha o espectro equimótico, pois a oxihemoglobina não se transforma, não se decompondo até sua absorção completa e a equimose segue vermelha até o desaparecimento. O mesmo ocorre no caso de equimose na bolsa escrotal. A ''cura” de uma equimose se faz da periferia para o centro. No cadáver, a cor se mantém até que surja a putrefação. As equimoses profundas mantêm o colorido anegrado desde o início, podendo surgir somente alguns dias após o traumatismo. Equimoses fazem diagnostico diferencial com o livor cadavérico, além de outras entidades, tais como púrpuras, equimoses de origem emotiva, equimoses espontâneas pós- mortem, além de alguns tipos de envenenamento. Equimose Livor sangue coagulado sangue não coagulado sangue fora dos vasos sangue dentro dos vasos rotura dos vasos integridade dos vasos qualquer localização área de decúbito Se há dúvida à necropsia, faz-se teste jogando um filete de água, sobre a região; se for equimose, a lesão permanece, pois o sangue está entranhado na malha do tecido. Equimoses são, em geral, lesões de caráter leve e na maioria dos casos, indicam ter sido a lesão produzida em vida. 4. Escoriação - é o arrancamento da epiderme com exposição da derme (córion), geralmente por ação tangencial dos meios contundentes. Se houver lesão da derme, teremos, então, uma ferida. De acordo com a maior ou menor ''profundidade� da escoriação, há formação de crosta serosa, sero-hemática ou hemática, a partir do comprometimento das papilas dérmicas, onde estão os vasos. As escoriações evoluem entre 04 a 15 dias, com destacamento das crostas, da periferia para o centro. As escoriações post-mortem não formam crostas, não têm sangue ou serosidade e devido à evaporação tissular adquirem aspecto apergaminhado ou coriáceo (por se assemelharem a um pergaminho, que é uma espécie de couro utilizado para escrita) de tonalidade amarelo- acastanhado. Podemos, também, encontrar escoriações de aspecto apergaminhado quando a lesão ocorre pouco antes da morte (pouca reação vital). Assim como as equimoses, as escoriações têm interesse médico-legal no que diz respeito à forma, sede e evolução. Lesões no pescoço e no rosto, principalmente em torno das narinas e boca, podem configurar as asfixias por constrição do pescoço ou por obstrução dos orifícios respiratórios, respectivamente. Encontradas em áreas erógenas, sugerem crimes sexuais.A forma das escoriações também merece atenção especial. Convém lembrar que os estigmas ungueais (marcas de unhas), dependendo de sua localização, dirigirão a perícia de maneira valorosa São extremamente importantes, também, as caudas de escoriação numa ferida incisa, que ajudam a caracterizar a direção do golpe. As escoriações se classificam como lesões de caráter leve. 5. Hematoma - é o extravasamento de sangue de vasos mais calibrosos sem que ocorra infiltração na malha dos tecidos, formando urna neo-cavidade. Forma relevo à ectoscopia e flutua à palpação. Considerado lesão leve, quando não acompanhado de fraturas ou lesões viscerais. 6. Bossa sanguínea ou linfática - extravasamento de sangue ou linfa, apresentando-se sempre sobre um plano ósseo. Comum nos traumatismos de couro cabeludo (“galo”) e nos tocotraumatismos (traumatismos decorrentes do parto). Lesão de caráter leve, quase sempre resultante de uma ação tangencial. 7. Ferida contusa - lesão aberta, de bordas irregulares, escoriadas e equimosadas, com fundo e vertentes irregulares e com pontes de tecido íntegro unindo uma vertente a outra. Sangram pouco (hemostasia traumática) e seus ângulos tendem à obtusidade. Há facilidade de virem a infectar, pela dificuldade de limpeza. Podem constituir uma lesão leve, grave ou gravíssima, dependendo da localização e/ou evolução. 8. Fraturas - são soluções de continuidade óssea. Podem ser: a) Diretas (no local) ou indiretas (exemplo: queda de pé levando a fratura da base do crânio por contragolpe); b) Lineares (apenas um traço de fratura), cominutivas (vários traços de fratura), esquirolosas (fratura cominutiva com destacamento de fragmentos); c) Fechadas ou abertas; d) Completas ou incompletas. Geralmente são classificadas como lesões graves, pois necessitam mais de 30 dias para se consolidarem. 9. Luxação - perda da relação de contato entre as superfícies articulares. Pode ser acompanhada ou não, de rotura da cápsula articular ou de ligamentos. Constitui lesão leve quando não complicada, evoluindo para a cura em menos de 30 dias. 10. Entorse - lesão articular por movimento exagerado das superfícies ósseas. Perda de contato, momentânea, entre as superfícies articulares. Quando complicadas podem ser acompanhadas de roturas ligamentares ou de cápsula, desinserções, roturas tendinosas. Geralmente são lesões leves, podendo passar a grave nos casos complicados. 11. Roturas viscerais - em geral, são consequentes a ação contundente ocasionada por energia cinética de grande porte, nem sempre acompanhadas de lesões externas de gravidade compatível com a lesão visceral. Podem ser graves, gravíssimas ou fatais. 12. Esmagamentos – desorganização total das estruturas anatômicas. Resultam também de ação contundente gerada por energia cinética de grande porte; constituem lesões graves, gravíssimas ou fatais. Leituras Recomendadas: . ALMEIDA JR., A; COSTA JR., J.B.de O. Lições de Medicina Legal; 20ª edição revista e ampliada, Companhia Editora Nacional, São Paulo, SP, 1991; . CROCE, D; CROCE JR. D. Manual de Medicina Legal, 8ª edição; Editora Saraiva, São Paulo, SP, 2012; . . FÁVERO, F. Medicina Legal (1º vol); 11 ª edição, Livraria Martins Editora S/A, (São Paulo); Editora Itatiaia Limitada (Belo Horizonte), 1980; . HERCULES, HYGINO DE CARVALHO. Medicina Legal: Texto e Atlas; 2ª edição, São Paulo: Editora Atheneu, 2014; . SIMONIN, C. Medicina Legal Judicial; Editorial JIMS S/A, Barcelona, Espanha, 1982. . SIMPSON, K. Medicina Forense: Espaxs S. A, Barcelona, Espanha, 1981. Referências online http://www.malthus.com.br/mg_total.asp http://lelivros.love/book/download-manual-de-medicina-legal-delton-croce-junior-em-epub- mobi-e-pdf/ - Manual de Medicina Legal Delton Croce e Delton Croce Jr. http://www.malthus.com.br/mg_total.asp http://lelivros.love/book/download-manual-de-medicina-legal-delton-croce-junior-em-epub-mobi-e-pdf/ http://lelivros.love/book/download-manual-de-medicina-legal-delton-croce-junior-em-epub-mobi-e-pdf/