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TECITURAS DE UMA EXPERIÊNCIA COMO PROFESSORA DA EDUCAÇÃO INFANTIL E COMO PROFESSORA ARTICULADORA NO TRABALHO REMOTO EM TEMPOS DE PANDEMIA NO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO

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PRÁTICASPRÁTICASPRÁTICASPRÁTICAS 
Revista Práticas em Educação Infantil – vol. 5; nº 6 120 
ISSN 2447-620X 
 
 
 
TECITURAS	DE	UMA	EXPERIÊNCIA	COMO	PROFESSORA	DA	EDUCAÇÃO	INFANTIL	E	
COMO	PROFESSORA	ARTICULADORA	NO	TRABALHO	REMOTO	EM	TEMPOS	DE	
PANDEMIA	NO	MUNICÍPIO	DO	RIO	DE	JANEIRO 
	
 Ana Paula Lima da Silva 
anaufrrj@hotmail.com 
Professora de Educação Infantil do municı́pio do Rio de Janeiro/RJ 
 
 
Resumo 
Este artigo apresenta um relato de experiência a partir da relação vivenciada por uma 
professora de Educação Infantil, também professora articuladora, no exercı́cio de sua 
dupla função no trabalho remoto em tempos de pandemia, no contexto da Covid-19, em 
uma unidade de Educação Infantil do municı́pio do Rio de Janeiro. Este trabalho tem como 
objetivo refletir sobre as estratégias encontradas para a manutenção dos vı́nculos afetivos 
com as crianças e com as suas famı́lias, no necessário perı́odo de distanciamento social. 
Por meio de um diálogo entre documentos oficiais sobre a Educação infantil (BRASIL, 
1996; 2010), Paulo Freire (1996; 2014) e Friedmann (2020), L`Ecuyer (2019), Martins 
Filho (2020) e Rinaldi (2014), apresentamos os caminhos encontrados para dar suporte 
à equipe pedagógica e discutirmos como as professoras têm estabelecido relação com as 
crianças e com as famı́lias por meio das redes sociais para contar histórias, cantar músicas, 
propor brincadeiras e orientar as famı́lias, respeitando o espaço doméstico. Consideramos 
que essas ações não têm a pretensão de substituir o papel da Educação Infantil, que se faz 
no coletivo. 
 
Palavras-chave: Educação Infantil; Trabalho Remoto; Pandemia. 
 
 
Introdução: 
	
	
Iniciamos o calendário letivo de 2020 com um perı́odo de acolhimento. Recebemos 
crianças que já faziam parte da nossa instituição e outras que chegaram neste ano. 
Também, recebemos novos profissionais para compor o nosso quadro funcional. 
Passamos pelo perı́odo do recesso de carnaval, retornamos com o perı́odo de acolhimento 
da equipe, das nossas crianças e de suas famı́lias. Tudo transcorria conforme fora 
planejado, no entanto fomos surpreendidos pela pandemia do novo Coronavı́rus. Vários 
PRÁTICASPRÁTICASPRÁTICASPRÁTICAS 
Revista Práticas em Educação Infantil – vol. 5; nº 6 121 
ISSN 2447-620X 
 
 
paı́ses tiveram que tomar medidas de isolamento social para conter a proliferação do vı́rus 
e assim evitar um colapso nos sistemas de saúde. Essa crise chegou à cidade do Rio de 
Janeiro e no dia 13 de março (sexta-feira), no final da tarde, o prefeito Marcelo Crivella 
decretou a suspensão das aulas em todas as unidades escolares. 
Diante desse cenário, apresentamos um relato de experiência a partir da relação 
vivenciada por uma professora de Educação Infantil, também professora articuladora, no 
exercı́cio de sua dupla função no trabalho remoto em tal realidade. O objetivo é refletir 
sobre as estratégias encontradas para manutenção dos vı́nculos afetivos com as crianças 
e com as suas famı́lias, no necessário perı́odo de distanciamento social. Apresentamos 
também, os caminhos encontrados para dar suporte à equipe pedagógica. 
De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil 
(2010), as propostas pedagógicas das instituições voltadas para essa etapa de formação 
deverão prever condições para o trabalho coletivo e para a organização de materiais, 
espaços e tempos, preconizando os eixos norteadores do trabalho com a Educação Infantil 
que são as interações e a brincadeira. Considerando o atual cenário de pandemia, é 
possıv́el dar continuidade ao trabalho pedagógico como se nada estivesse acontecendo? 
Vamos nos abster de reflexões sobre a possibilidade da manutenção dos vı́nculos afetivos 
com as famı́lias, com as crianças e com os profissionais? Além disso, como manter os 
vı́nculos afetivos com as famı́lias respeitando o espaço doméstico? Como manter uma 
relação com as crianças compreendendo que elas são o centro do planejamento 
curricular? 
 
 
Manutenção	dos	vínculos	afetivos	com	as	crianças	e	com	as	suas	famílias 
	
Buscamos, inicialmente, apresentar as relações estabelecidas com uma turma de 
Maternal I atendida em horário parcial por uma professora de Educação Infantil e duas 
Agentes de Educação Infantil. A turma é composta por 25 crianças na faixa etária de 2 e 3 
anos que ingressaram na instituição de Educação Infantil no ano anterior, no Berçário 
parcial. 
Conforme relatamos, desde o inı́cio do perı́odo letivo de 2020 tivemos menos de 
um mês de convıv́io com as crianças e com suas famı́lias. Vale ressaltar que quando houve 
PRÁTICASPRÁTICASPRÁTICASPRÁTICAS 
Revista Práticas em Educação Infantil – vol. 5; nº 6 122 
ISSN 2447-620X 
 
 
a suspensão dos nossos encontros diante da notıćia oficial de que as unidades de Educação 
Infantil do municı́pio do Rio de Janeiro estariam fechadas a partir do dia 16 de março de 
2020, a instituição ainda realizava o perı́odo de acolhimento. As profissionais não eram 
mais as mesmas do ano anterior, voltávamos de férias e de um recesso de carnaval. Na 
oportunidade, havı́amos criado o grupo de WhatsApp	da	turma,	contato	favorecido	nesse	
momento	de	pandemia	para	o	nosso	diálogo	remoto. 
No	inı́cio	desse	distanciamento	social,	entramos	em	contato	com	as	famı́lias	por	
meio	do	grupo	de	WhatsApp	para	explicar	quais	medidas	estavam	sendo	tomadas	pela	
Secretaria	 Municipal	 de	 Educação	 do	 Rio	 de	 Janeiro	 –	 SME/RJ.	 Além	 de	 divulgar	 as	
informações	 oficiais	 na	 página	 do	 Facebook	 da	 nossa	 instituição,	 produzimos	 e	
compartilhamos	 com	 a	 nossa	 comunidade	 escolar	 um	 vı́deo	 sobre	 a	 importância	 de	
higienizar	as	mãos	para	evitar	a	proliferação	e	o	contágio	pelo	novo	Coronavı́rus.	Tivemos	
um	excelente	retorno	da	nossa	comunidade	escolar,	o	vı́deo	foi	bastante	compartilhado	e	
as	famı́lias	gravaram	vı́deos	das	crianças	lavando	as	mãos	de	acordo	com	as	orientações	
das	autoridades	de	saúde. 
Neste	compasso,	ainda	sem	termos	a	dimensão	de	quanto	tempo	tudo	isso	duraria,	
iniciamos	o	movimento	de	estabelecer	contato	semanalmente	com	as	crianças	através	de	
contação	 de	 histórias,	 proposições	 de	 experiências	 e	 brincadeiras	 que	 poderiam	 ser	
realizadas	em	casa	com	as	famı́lias.	Recebemos	o	retorno	das	propostas	através	do	grupo	
onde	os	pais	postam	as	 fotos	e	os	vı́deos	das	 crianças	brincando,	 cantando,	dançando,	
brincando	 de	 faz	 de	 conta,	 se	 alimentando,	 cuidando	 dos	 seus	 bichos	 de	 estimação	 e	
interagindo	 com	 os	 seus	 familiares.	 Produzimos	 vários	 vı́deos	 com	 registros	
fotográficos/vı́deos	das	crianças	feitos	pelos	pais	e	com	memórias	dos	nossos	encontros	
presenciais.	Depois,	 com	a	devida	autorização	dos	 responsáveis,	publicamos	na	página	
oficial	da	instituição	no	Facebook,	na	qual	recebemos	muitos	comentários	das	famı́lias	que	
também	compartilham	as	nossas	publicações. 
Outra	 estratégia	 encontrada	 para	 a	 manutenção	 dos	 vı́nculos	 afetivos	 foi	 a	
produção	 de	 vı́deos	 com	 fotos	 em	 homenagem	 às	 crianças	 aniversariantes.	 Fizemos	
também	gravações	de	áudios	que	foram	enviados	para	a	turma	e	também	individualmente.	
Sempre	 pensando	 no	 coletivo	 e	 também	 nas	 singularidades	 de	 cada	 criança.	 Um	 dos	
retornos	 dessas	 ações	 foi	 o	 fato	 de	 que	 as	 crianças	 demonstraram	 muita	 alegria	 e	
PRÁTICASPRÁTICASPRÁTICASPRÁTICAS 
Revista Práticas em Educação Infantil – vol. 5; nº 6 123 
ISSN 2447-620X 
 
 
retornaram	com	áudios	e	emojis.	Além	dos	áudios,	combinamos	com	os	responsáveis	um	
dia	e	um	horário	para	fazermos	chamadas	de	vı́deos	no	WhatsApp	com	a	duração	de	vinte	
minutos,	para	que	as	crianças	pudessem	se	ver,	conversar	e	interagir	umas	com	as	outras.	
Cada	chamada	foi	organizada	com	cinco	crianças	por	vez,	pois	o	limite	era	de	oitopessoas	
por	 chamada,	 incluindo	 as	 três	 profissionais	 que	 atuam	 com	 as	 crianças,	 sendo	 uma	
professora	de	Educação	Infantil	e	duas	Agentes	de	Educação	Infantil.	Esse	momento	foi	
bastante	significativo	e	emocionante	para	nós	profissionais	da	turma	e	para	as	crianças	
que	 demonstraram	 alegria	 e	 satisfação	 por	 verem	 os	 colegas	 novamente,	 ainda	 que	
virtualmente.	 
No	inı́cio,	algumas	crianças	ficaram	surpresas,	envergonhadas,	não	queriam	falar,	
mas	 depois	 começaram	 a	 interagir	 apresentando	 brinquedos	 e	 mostrando	 os	 seus	
bichinhos	de	estimação.	Após	o	primeiro	encontro,	ficaram	solicitando	outros.	AF 	medida	
que	 essas	 atividades	 aconteciam,	 as	 mães	 começaram	 a	 pedir	 para	 fazermos	 mais	
chamadas	de	vı́deo,	algo	que	nos	deixou	muito	satisfeitas	por	percebermos	que	estávamos	
trilhando	 um	 bom	 caminho,	 buscando	 estratégias	 e	 possibilidades	 para	 manter	 o	
acolhimento,	o	afeto,	o	cuidado	e	a	atenção	que	as	nossas	crianças	precisam	e	merecem.	 
A	 fim	 de	manter	 uma	 relação	 de	 confiança,	 respeito,	 empatia	 e	 diálogo	 com	 as	
famı́lias,	 orientamos	para	que	 conversassem	com	as	 crianças	para	que	 estivessem	por	
inteiro	 nessa	 relação,	 permitissem	 que	 as	 crianças	 pudessem	 expressar	 os	 seus	
sentimentos,	medos,	anseios.	Orientamos	também	sobre	o	calendário	de	vacinação	contra	
a	H1N1.	Essa	mensagem	também	teve	retorno	das	famı́lias.	As	mães	informaram	no	grupo	
que	 levaram	as	crianças	para	a	vacinação	com	as	devidas	medidas	de	proteção.	Nesses	
diálogos,	conversamos	também	sobre	o	processo	de	desfralde,	porque	algumas	crianças	
da	 turma	 ainda	 usam	 fraldas.	 As	 mães	 que	 já	 passaram	 por	 esse	 processo,	 trocaram	
experiências	com	as	outras	mães.	A	predominância	de	referência	às	mães	nesses	relatos	
reflete	a	realidade	encontrada:	no	grupo	de	WhatsApp	da	turma	apenas	as	mães	e	as	avós	
se	manifestam,	embora	seja	composto	por	pais	também.	 
Além	de	todas	as	orientações,	a	da	importância	de	se	ter	paciência	com	as	crianças,	
dando-lhes	 atenção,	 contando	 histórias	 sobre	 a	 sua	 infância	 (brincadeiras,	 músicas	
favoritas),	oportunizando	momentos	livres,	em	contato	com	a	natureza,	evitando	que	as	
crianças	fiquem	por	longos	perı́odos	diante	de	aparelhos	eletrônicos.	Segundo	L`Ecuyer	
PRÁTICASPRÁTICASPRÁTICASPRÁTICAS 
Revista Práticas em Educação Infantil – vol. 5; nº 6 124 
ISSN 2447-620X 
 
 
(2019),	estudos	apontam	que	o	acesso	 às	 telas	durante	os	 três	primeiros	anos	de	vida	
revela	problemas	posteriores	de	atenção.	Ela	destaca,	ainda,	que	a	criança	necessita	de	
uma	educação	mais	humana	 e,	 sobretudo,	 de	 ter	 contato	 com	a	 realidade	que	 a	 cerca.	
Nessa	perspectiva,	precisamos	orientar	as	famıĺias	sobre	os	riscos	do	acesso	às	telas	na	
primeira	infância.	“Para	crianças	acima	dos	2	anos,	a	Academia	Americana	de	Pediatria	
recomenda	limitar	o	tempo	de	exposição	às	telas	a	menos	de	duas	horas	por	dia,	tendo	o	
máximo	de	cuidado	com	o	que	as	crianças	veem”	(L`ECUYER,	2019,	p.	45).	Ademais,	a	
autora	argumenta	que	“o	principal	cuidador	da	criança	é	o	intermediário	entre	a	realidade	
e	ela.	Dá	sentido	às	aprendizagens.	Uma	tela	não	pode	assumir	esse	papel,	porque	não	faz	
a	calibragem	da	informação	à	criança.	A	criança	recebe	tal	como	é,	sem	filtro,	o	que	a	tela	
emite”	(Ibidem,	p.	47). 
Enfatizamos,	portanto,	que	as	crianças	precisam	manter	relações	interpessoais	e	
que	a	nossa	interação	facilitada	por	meio	do	grupo	de	WhatsApp	e	dos	vı́deos	publicados	
na	 página	 do	Facebook	 da	 instituição	 não	 tem	 a	 pretensão	 de	 substituir	 o	 contato	 e	 a	
interação	 presencial,	 primordial	 para	 o	 desenvolvimento	 da	 criança.	 As	 propostas	
organizadas	 diante	 do	 cenário	 de	 isolamento	 social	 pretendem	 estreitar	 os	 vı́nculos	
familiares,	 proporcionar	 encontros	 virtuais	 com	os	 colegas	 e	 com	 as	 profissionais	 que	
atuam	 com	 a	 turma,	 e,	 ainda,	 orientar	 e	 acompanhar	 esse	 processo	 respeitando	 a	
privacidade	das	famı́lias,	considerando	a	diversidade	de	seus	arranjos.	 
De	acordo	com	Friedmann	(2020,	p.	106),	“As	famı́lias	formam	pequenos	núcleos	
de	cultura:	lugares	de	experiências	e	modelos	de	valores	que	cada	um	leva	para	o	mundo,	
para	a	convivência	em	grupo”.	Nessa	esteira,	o	papel	da	educação	escolar,	assim	destacado	
pela	autora: 
	
Educadores	têm	também	a	responsabilidade	com	relação	às	famı́lias,	 já	
que	 algumas	 delas	 precisam	 de	 informação	 e	 orientação	 que	 não	
conseguem	obter	por	outros	meios.	EL 	necessário	que	creches	e	Centros	de	
Educação	 Infantil	 criem	 esses	 espaços,	 acolham	 e	 partilhem	 as	
inquietações	(Ibidem,	p.	108). 
	
O	 grupo	 no	WhatsApp	 também	 foi	 utilizado	 como	 um	 meio	 para	 combater	 a	
desinformação	sobre	a	Covid-19.	Dialogamos	sobre	o	uso	correto	de	máscaras,	sobre	a	
PRÁTICASPRÁTICASPRÁTICASPRÁTICAS 
Revista Práticas em Educação Infantil – vol. 5; nº 6 125 
ISSN 2447-620X 
 
 
importância	da	higienização	das	mãos,	de	evitar	locais	aglomerados	e	sobre	o	cuidado	com	
a	disseminação	das	Fake	News. 
Quanto	ao	retorno	ao	chamado	“novo	normal”,	algumas	mães	relataram,	também	
por	meio	do	grupo	do	WhatsApp,	que	temem	pela	reabertura	das	instituições	de	Educação	
Infantil,	 afirmando	que	 se	 fosse	para	 retornar	naquele	momento	não	 levariam	os	 seus	
filhos,	pois	as	crianças	são	vetores	da	doença	e	poderiam	passar	para	os	avós.	A	fim	de	
diminuir	 a	 apreensão	 das	 famı́lias,	 aponto	 que	 é	 preciso	 estabelecer	 articulações	
intersetoriais	 para	 tomada	 de	 decisões	 responsáveis	 na	 elaboração	 dos	 protocolos	 de	
segurança	e	que	temos	acompanhado	várias	discussões	a	respeito	do	retorno	às	escolas	e	
que	 as	 manteremos	 informadas.	 Em	 diferente	 posicionamento,	 outras	 mães	 já	
demonstram	em	seus	relatos	que	gostariam	que	tudo	voltasse	logo	à	normalidade,	pois	
não	sabem	mais	o	que	fazer	com	as	crianças	em	casa. 
Esse	 movimento	 de	 diálogo,	 interação	 e	 manutenção	 dos	 vı́nculos	 afetivos	 é	
imprescindıv́el	 para	 diminuir	 a	 possıv́el	 violência	 doméstica,	 a	 falta	 de	 informação,	 a	
ociosidade	das	crianças	que	estão	confinadas	em	espaços	pequenos	e	que	diante	de	uma	
pandemia	não	podem	ir	à	praça,	brincar	na	rua,	visitar	os	avós,	ou	seja,	um	estar	em	casa	
que	não	significa	 férias.	Está	em	questão	uma	outra	configuração,	um	momento	para	o	
qual	ninguém	estava	preparado,	portanto	não	podemos	fechar	os	nossos	olhos,	cruzar	os	
nossos	braços,	silenciar.	EL 	preciso	buscar	caminhos	para	escutar,	acolher,	afetar,	favorecer	
encontros	consigo	e	com	o	outro.	Precisamos	ainda	ter	esperança!	A	esperança	do	verbo	
esperançar,	 poeticamente	 apresentada	 pelo	 nosso	 grande	mestre	 Paulo	 Freire	 (2014),	
pois	“Ensinar	exige	esperança	e	alegria”: 
	
EL 	preciso	ter	esperança,	mas	ter	esperança	do	verbo	esperançar;	porque	
tem	 gente	 que	 tem	esperança	 do	verbo	 esperar.	 E	 esperança	 do	 verbo	
esperar	não	é	esperança,	é	espera. 
Esperançar	é	se	levantar, 
Esperançar	é	ir	atrás, 
Esperançar	é	construir, 
Esperançar	é	não	desistir! 
Esperançar	é	levar	adiante, 
Esperançar	é	juntar-se	com	outros	para	fazer	de	outro	modo	(p.	110-111).	
	
Em	algumas	ocasiões	desafiadoras	de	minha	trajetória	profissional,	rememoro	este	
excerto	 do	 texto	 de	 Paulo	 Freire,	 trazendo	 assim	 somente	 aquilo	 que	 possa	 me	 dar	
PRÁTICASPRÁTICASPRÁTICASPRÁTICAS 
Revista Práticas em Educação Infantil – vol. 5; nº 6 126 
ISSN 2447-620X 
 
 
esperança.	Ao	olhar	para	a	realidade	relatada,	senti	a	necessidade	de	me	juntar	às	famı́lias,	
de	me	 juntar	 às	profissionais	que	também	trabalham	com	a	turma	para	 fazer	de	outro	
modo,	para	fazer	do	modo	possıv́el.	Ser	um	instrumento	de	transformação	num	momento	
de	 dor,	 de	 perdas,	 de	medo,	 angústia,	 incertezas,	 levar	 alegria	 e	 esperança	 atravésda	
música,	da	arte,	da	contação	de	histórias,	ou	até	mesmo	através	dos	simples	gestos	de	
ouvir,	orientar	e	acolher. 
Freire	(1996,	p.	42),	ao	abordar	os	saberes	necessários	à	prática	educativa,	aponta	
que	“às	vezes,	mal	se	imagina	o	que	pode	passar	a	representar	na	vida	de	um	educando	
um	simples	gesto	do	professor.	O	que	pode	um	gesto	aparentemente	insignificante	valer	
como	 força	 formadora	 ou	 como	 contribuição	 à	 do	 educando	 por	 si	 mesmo”.	 Nessa	
perspectiva,	 percebo	 que	 o	 gesto	 do	 professor	 de	 Educação	 Infantil,	 no	 sentido	 de	
aproximação	e	de	acolhimento	das	crianças	e	das	famı́lias	pode	romper	com	o	silêncio,	
com	 a	 ausência,	 com	 o	 vazio,	 fazer	 pontes,	 reconectar,	 estabelecer	 uma	 relação	 de	
confiança	e	de	afeto	nesse	momento	de	pandemia.	 
Nessa	 esteira,	 informamos	 por	 meios	 oficiais,	 orientamos	 as	 famı́lias	 sobre	 o	
recebimento	do	cartão	com	um	auxı́lio	no	valor	de	R$	100,00	fornecido	pela	Prefeitura	do	
Rio	de	 Janeiro	apenas	para	as	mães	que	 tinham	filhos	matriculados	em	nossa	unidade	
beneficiárias	do	cartão	Bolsa	Famı́lia,	entrega	feita	com	dia	e	horário	marcado	pela	direção	
da	 instituição	 com	 todas	 as	 medidas	 para	 evitar	 a	 aglomeração.	 Como	 o	 auxı́lio	 da	
prefeitura	 estava	 vinculado	 ao	 do	 Governo	 Federal,	 nem	 todas	 as	 famı́lias	 foram	
contempladas	e	isso	gerou	bastante	insatisfação,	reclamação	e	comentários	no	grupo	da	
turma.	 Considerando	 ser	 um	 direito	 de	 todas	 as	 crianças,	 sempre	 respondemos	
prontamente	todas	as	dúvidas	dos	responsáveis	sobre	o	recebimento/recarga	do	cartão	e	
demonstramos	 preocupação	 e	 interesse	 diante	 da	 dificuldade	 financeira	 que	 muitas	
famı́lias	 estão	 vivenciando,	 tendo	 em	 vista	 que	 muitas	 são	 autônomas,	 estão	
desempregadas	ou	fazem	trabalhos	informais	e,	com	o	necessário	perıódo	de	isolamento	
social,	ficaram	sem	renda.	Como	professora	da	turma	sempre	me	disponibilizei	a	informar,	
tirar	dúvidas	através	de	fontes	fidedignas,	ouvir	as	reclamações	com	respeito	e	atenção	
PRÁTICASPRÁTICASPRÁTICASPRÁTICAS 
Revista Práticas em Educação Infantil – vol. 5; nº 6 127 
ISSN 2447-620X 
 
 
considerando	o	papel	social	da	educação	nesse	momento	de	pandemia	nunca	vivido	por	
esta	geração1. 
Como	professora	da	turma,	acompanhei	todo	esse	processo	que	não	foi	imediato,	
mas	 composto	 gradativamente	por	 expectativas,	 dúvidas,	 preenchimento	de	 links	para	
inscrição	e	muita	espera.	Finalmente,	recebemos	a	informação	oficial	através	da	diretora	
da	 unidade	 de	 que	 as	 famı́lias	 iriam	 receber	mensagens	 através	 de	 e-mail	 ou	 SMS,	 de	
acordo	com	o	que	colocaram	no	link	da	inscrição,	contendo	a	informação	sobre	o	local,	
data	e	horário	para	a	retirada	de	cestas	básicas	em	pontos	distintos	de	distribuição,	e	não	
mais	 nas	 unidades	 escolares.	 Após	 o	 recebimento	 da	 cesta	 básica	 percebemos	 um	
contentamento	por	parte	das	famı́lias.	Algumas	mães	relataram	que	em	casa	as	crianças	
estão	comendo	muito,	estão	com	bastante	apetite,	que	sempre	solicitam	algo	para	comer	
e	que	a	cesta	básica	já	iria	ajudar	bastante	para	suprir,	minimamente,	essas	necessidades. 
Considerando	que	uma	parte	das	famı́lias	são	autônomas,	Microempreendedores	
Individuais	(MEI)	ou	trabalhadores	de	serviços	informais,	em	diálogo	com	a	minha	equipe	
propus	que	utilizássemos	o	grupo	da	turma	para	divulgação	dos	trabalhos	de	vendas	de	
produtos,	artesanatos	que	as	mães	produzem,	dentre	outras	coisas,	para	que	uma	pudesse	
ajudar	a	outra.	A	partir	disso,	em	sintonia	e	diálogo	com	a	diretora,	ampliamos	a	proposta	
e	criamos	o	projeto	“Rede	do	Bem”,	com	o	objetivo	de	divulgar	o	trabalho	das	famı́lias	de	
todas	as	turmas	da	instituição	na	página	do	Facebook.	Dessa	forma,	todas	as	famı́lias	foram	
contempladas. 
Solicitamos	o	envio	de	uma	imagem	com	a	descrição	do	serviço	que	elas	gostariam	
de	 divulgar.	 Ao	 receber	 ficamos	 surpresas	 com	 a	 diversidade	 de	 trabalhos	 que	 elas	
produzem	 e	 o	 quanto	 essa	 simples	 ação	 repercutiu	 na	 comunidade,	 favorecendo	 uma	
relação	de	parceria,	contribuindo	para	conhecermos	ainda	mais	o	perfil	da	comunidade	e,	
sobretudo,	 possibilitou	 o	 estreitamento	 dos	 vı́nculos	 afetivos	 entre	 a	 instituição	 e	 as	
famı́lias. 
 
1
 	Esse	 cenário	 deu	 origem	 a	 um	 segundo	 movimento.	 A	 Secretaria	 Municipal	 de	 Educação	 -	 RJ	
informou	que	todas	as	crianças	matriculadas	na	rede	iriam	receber	uma	cesta	básica	e	que	os	cartões	não	
seriam	mais	recarregados.	Diante	disso,	mais	um	movimento	de	insatisfação	manifestada	por	algumas	mães	
que	não	teriam	mais	o	cartão	recarregado.	Ao	mesmo	tempo,	outras	mães	ficaram	esperançosas	e	aliviadas	
por	 saberem	que	agora	 seriam	contempladas	com	a	 cesta	básica	mesmo	sem	receber	o	 cartão	do	Bolsa	
Famı́lia. 
PRÁTICASPRÁTICASPRÁTICASPRÁTICAS 
Revista Práticas em Educação Infantil – vol. 5; nº 6 128 
ISSN 2447-620X 
 
 
A	interação	com	as	famıĺias	e	com	as	crianças	da	turma	é	um	movimento	ainda	em	
processo,	sendo	ressignificado	e	reconstruı́do	a	cada	manhã	até	o	dia	em	que	poderemos	
nos	 reencontrar	 pessoalmente.	 Provavelmente,	 neste	 dia	 não	 poderemos	 nos	 abraçar,	
beijar,	 estar	 bem	 perto.	 Como	 será?	 Nos	 perguntamos,	 mas	 ainda	 não	 sabemos.	 Nem	
mesmo	sabemos	quais	serão	os	protocolos	utilizados,	mas	de	uma	coisa	eu	tenho	certeza:	
não	seremos	mais	os	mesmos.	Nem	as	crianças,	nem	as	famı́lias	e	nem	os	profissionais.	EL 	
importante	reconhecer	isso. 
	
	
Acolhimento,	cuidado	e	apoio	à	equipe	pedagógica	em	tempos	de	trabalho	remoto 
	
Neste	segundo	momento,	abordamos	o	papel	da	professora	articuladora	na	relação	
com	a	equipe	pedagógica	num	perı́odo	de	trabalho	remoto.	Todas	as	ações	relatadas	foram	
realizadas	em	conjunto	e	em	constante	diálogo	com	a	diretora	da	unidade	que	contribui,	
apoia	e	estabelece	uma	relação	de	parceria	para	a	realização	do	trabalho	pedagógico. 
Sou	professora	de	Educação	Infantil	no	municı́pio	do	Rio	de	Janeiro	desde	2011.	
Durante	esses	nove	anos	já	tive	o	privilégio	de	trabalhar	com	turmas	do	Berçário	a	Pré-
escola.	 Há	 cinco	 anos,	 além	 de	 atender	 uma	 turma	 no	 horário	 da	 manhã,	 faço	 dupla	
regência	no	turno	da	tarde	como	professora	articuladora	nessa	mesma	unidade.	Por	isso,	
é	possıv́el	contemplar	neste	artigo	a	dupla	posição	na	relação	com	os	meus	pares,	com	as	
famı́lias	e	com	as	crianças	que	aconteceram	de	forma	simultânea. 
Ao	receber	o	convite	da	diretora	da	unidade	para	assumir	a	função	de	professora	
articuladora,	confesso	que	fiquei	temerosa	diante	da	responsabilidade,	mas	decidi	aceitar	
tendo	em	vista	uma	relação	de	parceria	e	profissionalismo	 tanto	por	parte	da	direção,	
quanto	por	parte	da	equipe	pedagógica.	Ao	longo	de	todos	esses	anos	construı́mos	pontes,	
atamos	laços,	choramos,	sorrimos	juntos,	comemoramos	aniversários,	casamentos,	bodas,	
nascimento	 dos	 filhos...	 criamos	 vı́nculos	 afetivos!	 Vivenciamos	 muitas	 experiências	
enriquecedoras,	formações	em	pequenos	e	grandes	grupos,	Centros	de	Estudos	parciais	e	
integrais,	 eventos	 internos	 e	 externos,	 jornadas	 pedagógicas,	 momentos	 de	 trocas,	 de	
compartilhamentos,	de	debates,	de	muita	aprendizagem,	construção	e	desconstrução	de	
PRÁTICASPRÁTICASPRÁTICASPRÁTICAS 
Revista Práticas em Educação Infantil – vol. 5; nº 6 129 
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conhecimentos.	Foram	muitos	desafios,	mas	nada	 semelhante	ao	que	estamos	vivendo	
nesse	perı́odo	de	trabalho	remoto,	lidando	com	todas	as	questões	apresentadas. 
O	 medo	 do	 desconhecido.	 E,	 novamente,	 o	 que	 fazer	 diante	 deste	 cenário	 de	
distanciamento	social	e	do	necessário	fechamento	das	instituições	de	Educação	Infantil?	
Será	que	nos	veremos	novamente?	Quando	será	o	retorno?	Como	será	o	retorno?	Quais	
serão	os	protocolos	de	segurança?	Muitas	perguntas	ainda	estão	semrespostas,	mesmo	já	
tendo	passado	mais	de	três	meses	de	isolamento	social.	 
Logo	no	primeiro	dia	de	fechamento	das	unidades	escolares	no	municı́pio	do	Rio	
de	 Janeiro,	 numa	 linda	 segunda-feira,	 celebrando	mais	 um	 ano	 de	 vida,	 parei	 no	meu	
quintal,	olhei	para	as	árvores,	para	as	minhas	plantas,	ouvi	o	canto	dos	pássaros,	respirei	
fundo	 e	 pensei	 que	 terı́amos	 duas	 possibilidades:	 esperançar	 ou	 esperar?	 Trouxe	 à	
memória	 o	 verbo	 esperançar	 (FREIRE,	 2014)	 e	 então	 decidi	 entrar	 em	 contato	 com	 a	
equipe	 pedagógica	 para	 pensarmos	 em	 propostas	 e	 possibilidades	 de	 contato	 com	 as	
crianças	e	com	as	suas	famı́lias.	 
Seguindo	 a	 deliberação	 do	 Conselho	 Municipal	 de	 Educação	 do	 Rio	 de	 Janeiro	
(CME/RJ)	 nº	 39	 de	 02/04/2020	 	 que	 orienta	 as	 instituições	 do	 Sistema	Municipal	 de	
Ensino	do	Rio	de	Janeiro	sobre	a	realização	de	atividades	escolares	em	regime	especial	
domiciliar,	 em	 caráter	 excepcional,	 no	 perı́odo	 em	 que	 permanecerem	 em	 isolamento	
social	fixado	pelas	autoridades	municipais	e	pela	comunidade	médico-cientı́fica,	em	razão	
da	necessidade	de	prevenção	e	combate	a	COVID-19	–	Coronavı́rus,	destacamos	o	8º	artigo	
e	o	parágrafo	único	que	trata	especificamente	da	Educação	Infantil: 
	
8º	Ficam	as	unidades	da	rede	pública	do	Sistema	Municipal	de	Ensino	do	
Rio	 de	 Janeiro	 encarregadas	 de	 manter	 contato	 com	 a	 comunidade	
escolar,	por	meio	digital,	com	a	finalidade	de	promover	a	divulgação	das	
ações	recomendadas	pelos	órgãos	de	saúde	para	controle	da	pandemia. 
	
Parágrafo	 único.	As	atividades	escolares	 realizadas	em	regime	especial	
domiciliar	dirigidas	 à	 Educação	 Infantil,	 deverão	 ter	 como	 finalidade	 a	
manutenção	dos	vı́nculos	afetivos,	sociais	e	culturais,	não	sendo	admitida	
a	 antecipação	 de	 conteúdos	 relacionados	 ao	 Ensino	 Fundamental,	
conforme	 estabelecem	 as	 Diretrizes	 Nacionais	 Curriculares	 para	 a	
Educação	Infantil	e	os	atos	normativos	deste	Conselho.	(BRASIL,	2010). 
	
PRÁTICASPRÁTICASPRÁTICASPRÁTICAS 
Revista Práticas em Educação Infantil – vol. 5; nº 6 130 
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Também	por	meio	 de	 um	grupo	de	WhatsApp,	 o	 da	nossa	unidade,	 iniciamos	o	
contato	com	os	profissionais	para	mobilizar	e	incentivar	o	vı́nculo	afetivo	com	as	crianças	
e	 com	 as	 famı́lias	 através	 dos	 grupos	 das	 turmas	 e	 da	 página	 oficial	 da	 instituição	 no	
Facebook.	A	criação	de	grupos	de	WhatsApp	por	turma	já	era	uma	prática	comum	em	nossa	
unidade,	mas	seu	uso,	pelos	motivos	em	questão,	foi	intensificado	para	além	de	um	meio	
de	informação.	Algumas	turmas	optam	por	ter	uma	mãe	representante	para	repassar	os	
informes,	na	maioria	dos	casos,	a	própria	professora	administra	o	grupo	juntamente	com	
os	demais	profissionais	que	atuam	com	a	turma.	 
A	equipe	pedagógica	foi	orientada	a	buscar	esse	contato	com	as	crianças	e	com	as	
famı́lias	partilhando	questões	como	cuidado	e	a	educação,	diferenciando	as	vivências	do	
espaço	institucional	do	contexto	familiar	e,	pelo	atual	cenário,	sem	ter	a	preocupação	com	
o	 cumprimento	 dos	 dias	 letivos.	 Sem,	 também,	 a	 pretensão	 de	 substituir	 o	 papel	 da	
Educação	Infantil,	que	se	faz	no	coletivo,	na	interação	com	o	outro	“nas	minúcias	da	vida	
cotidiana,	no	fazer-	fazendo	da	docência	na	Educação	Infantil”,	como	afirma	Martins	Filho	
(2020),	 considerando,	 sempre,	 as	 especificidades	 da	 Educação	 Infantil	 e	 a	 busca	 pela	
garantia	dos	direitos	das	crianças. 
	
O	fazer-fazendo	da	docência	faz	parte	da	vida	cotidiana	na	instituição	e	é	
impregnado	 de	 diferentes	 minúcias,	 como	 a	 própria	 vida	 em	 seu	
acontecimento	no	coletivo	da	instituição	educativa.	Na	Educação	Infantil	
as	minúcias	da	vida	cotidiana	estão	relacionadas	ao	princı́pio	de	cuidado	
e	 educação,	 dimensão	 norteadora	 da	 especificidade	 desse	 segmento	
educacional	 e	 pedagógico.	 Reveladoras,	 portanto,	 da	 complexidade,	
heterogeneidade	e	multiplicidade	da	docência	nessa	etapa	da	educação,	
ainda	 que	 não	 lhes	 atribuı́mos	 a	 importância	 de	 que	 se	 revestem	
(MARTINS	FILHO,	2020,	p.	40-41). 
	
A	 complexidade	 da	 docência	 na	 Educação	 Infantil	 estava	 à	 prova.	 Sabı́amos	 do	
desafio	que	estava	posto	diante	de	nós.	Mas,	 como	manter	os	vı́nculos	afetivos	com	as	
crianças?	 Buscamos	 caminhos	 no	 diálogo	 com	 a	 equipe	 e	 enfatizamos	 que	 não	 era	
obrigatória	 a	 gravação	 de	 vı́deos,	 mas	 que	 seria	 uma	 possibilidade	 para	 mantermos	
alguma	relação	com	as	crianças. 
A	 equipe	 aceitou	 bem	 a	 proposta,	 mas	 algumas	 profissionais	 declaram	 não	 se	
sentirem	 à	 vontade	para	gravarem	vı́deos,	 afirmando	não	 ter	habilidade	 com	as	novas	
tecnologias,	 mas	 se	 comprometendo	 a	 manter	 contato	 com	 a	 turma	 via	 grupo	 no	
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Revista Práticas em Educação Infantil – vol. 5; nº 6 131 
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WhatsApp.	As	professoras	que	se	sentiam	mais	à	vontade	para	gravar	e	editar	os	vı́deos	
iniciaram	as	produções	com	contação	de	histórias,	músicas	e	propostas	de	brincadeiras.	
Os	 responsáveis	 começaram	 a	 dar	 o	 retorno	 através	 dos	 grupos	 das	 turmas	 e	 de	
comentários	nas	publicações	da	página	oficial	da	instituição	no	Facebook,	que	sempre	foi	
bastante	ativa,	mas	nesse	perı́odo	de	distanciamento	social	ganhou	uma	visibilidade	bem	
maior	e	atingiu	um	número	bastante	significativo	de	compartilhamentos	e	comentários. 
No	dia	20/03/2020,	recebemos	a	primeira	carta	da	Coordenadoria	da	Infância,	via	
e-mail,	 abordando	 a	 situação	 de	 pandemia	 que	 estamos	 vivendo,	 solicitando	 o	
compartilhamento	de	sugestões	e	práticas	para	serem	realizadas	com	as	crianças	em	casa	
com	 as	 suas	 famı́lias,	 propondo	 também	 o	 estudo	 do	 texto	 “Planejamento	 e	 a	 prática	
pedagógica	 na	 Educação	 Infantil”,	 de	 Luciana	 Ostetto.	 Compartilhamos	 a	 carta	 com	 a	
equipe	e,	como	estratégia	de	estudo,	disponibilizamos	um	tempo	para	leitura	e	agendamos	
para	o	dia	31/03/2020	o	nosso	primeiro	encontro	virtual	pela	plataforma	Zoom	para	nos	
vermos	e	debatermos	o	texto.	 
Ah,	que	emoção!	Como	foi	bom	ver	cada	um	que	conseguiu	entrar	pela	plataforma,	
agora	 não	 ouvı́amos	 apenas	 a	 voz,	 podı́amos	 nos	 ver,	 saber	 que	 estávamos	 todos,	 na	
medida	do	possıv́el,	bem.	Cada	pessoa	da	equipe	que	aparecia	nas	“janelinhas	virtuais”	da	
plataforma	era	motivo	de	muita	alegria.	Ficamos	algum	tempo	nos	saudando,	explorando	
a	 plataforma	 para	 conhecer	 esse	 novo	 espaço	 de	 formação	 e	 logo	 após,	 iniciamos	 a	
reflexão	sobre	o	texto	proposto	pela	Coordenadoria	da	infância.		O	diálogo	com	o	grupo	
foi	 bastante	 proveitoso,	 a	 equipe	 se	 colocou	 de	 forma	 crı́tica,	 fizemos	 uma	 análise	
comparativa	entre	a	proposta	do	texto	e	a	nossa	prática	pedagógica.	 
Nesse	perı́odo	de	trabalho	remoto,	além	da	proposta	de	estudo	e	dos	cursos	on-line	
disponibilizados	 pela	 Secretaria	 Municipal	 de	 Educação	 através	 da	 Plataforma	 Paulo	
Freire,	divulgamos	lives	com	temáticas	referentes	à	educação,	sugerimos	cursos	gratuitos	
on-line	de	outras	plataformas,	leituras	de	livros	e	mantivemos	contato	semanal	com	todos	
os	profissionais	através	do	grupo	de	WhatsApp,	também	com	mensagens	no	privado	para	
saberem	 se	 estavam	 bem,	 se	 precisavam	 de	 alguma	 ajuda,	 se	 gostariam	 de	 conversar.	
Sempre	demonstrando	respeito,	afeto	e	cuidado,	orientamos	a	equipe	para	que	cada	um	
respeitasse	o	seu	próprio	tempo,	buscasse	o	encontro	consigo	mesmo	e	que	em	alguns	
dias	estarı́amos	bem,	mas	em	outros,	não	tão	bem	assim.	Mas	que	seguirı́amos	juntos. 
PRÁTICASPRÁTICASPRÁTICASPRÁTICAS 
Revista Práticas em Educação Infantil – vol. 5; nº 6 132 
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Nessa	perspectiva,	além	das	postagens	com	orientações	e	propostas	de	vivências	
para	 serem	realizadas	em	casa	 com	as	 crianças,	 aequipe	pedagógica	 fez	 cartazes	 com	
mensagens	de	afeto/cuidado	para	a	nossa	comunidade	escolar	e	produziu	um	vı́deo	com	
fundo	musical	na	esperança	de	que,	como	diz	a	canção,	dias	melhores	virão.	A	maioria	das	
professoras	também	fez	um	vı́deo	com	mensagens	de	afeto	para	homenagear	as	nossas	
crianças,	com	apresentação	dos	nomes/	fotos	das	crianças	individuais	e	coletivas	para	que	
elas	se	sentissem	pertencentes	a	este	grupo.	Incentivamos	também	envio	de	mensagens	e	
homenagem	para	os	aniversariantes.	Cada	grupamento	tem	buscado	a	sua	estratégia	para	
tornar	 este	 dia	 especial	 para	 as	 crianças	 aniversariantes,	 mesmo	 nesse	 perı́odo	 de	
pandemia. 
Um	movimento	singular	foi	feito	por	duas	professoras	da	unidade,	elas	gravaram	
vı́deos	com	músicas	e	histórias	como	intérpretes	de	Libras,	pois	temos	uma	criança	com	
deficiência	auditiva.	Consideramos	essa	iniciativa	de	suma	importância,	pois	lutamos	para	
acolher	 as	 diferenças	 e	 trabalhamos	 para	 ter	 uma	 Educação	 Infantil	 cada	 vez	 mais	
inclusiva	 e	 nesse	 perı́odo	 tão	 delicado	 não	 poderia	 ser	 diferente.	 A	 partir	 disso,	
percebemos	que	essa	criança	tem	participado	ativamente	das	experiências	propostas. 
Incentivamos	 as	 professoras	 que	 têm	 crianças	 com	deficiência	 a	 se	 articularem	
com	a	Agente	de	Apoio	à	Educação	Especial	para	que	juntas	entrassem	em	contato	com	as	
famı́lias	 para	 a	 manutenção	 dos	 vı́nculos	 afetivos	 com	 as	 crianças	 com	 necessidades	
educacionais	especializadas.	Propusemos	também	a	gravação	de	vı́deos	com	mensagens	
de	 afeto,	 cuidado	 e	 carinho	 e/ou	 envio	 de	 fotos	 da	 criança	 realizando	 experiências	 na	
instituição,	a	fim	de	relembrarem	e	reviverem	momentos	juntos	com	o	grupo. 
Compartilhamos	uma	ação	do	Instituto	Municipal	Helena	Antipoff	sobre	uma	das	
medidas	de	atendimento	aos	alunos	público-alvo	da	Educação	Especial	durante	o	perı́odo	
de	 fechamento	 das	 escolas.	 Aqueles	 que	 são	 acompanhados	 por	 Agentes	 de	 Apoio	 à	
Educação	Especial	e	estagiários	puderam	contar	com	um	acompanhamento	prestado	por	
contato	telefônico,	o	serviço	“Tele-Especial	Carioca”.	Para	isso,	os	responsáveis	deveriam	
autorizar	que	profissionais	da	unidade	escolar	e	estagiários	pudessem	contactá-los.	Para	
tanto,	a	diretora	disponibilizou	o	link	e	solicitou	o	envio	para	os	responsáveis. 
No	decorrer	do	 tempo,	 a	Coordenadoria	da	 infância	SME/RJ	enviou	o	 texto:	 “As	
especificidades	 da	 ação	 pedagógica	 com	 os	 bebês”,	 de	Maria	 Carmem	 Barbosa.	 Assim	
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Revista Práticas em Educação Infantil – vol. 5; nº 6 133 
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como	fizemos	com	o	primeiro	texto	enviado,	disponibilizamos	um	tempo	para	leitura	e,	
no	dia	13/04/2020,	realizamos	mais	um	encontro	pela	plataforma	Zoom.	Percebemos	que	
o	grupo	estava	bastante	sensibilizado,	novamente	 foi	um	encontro	muito	emocionante,	
pois	 as	 profissionais	 que	 já	 atuaram	 e	 que	 ainda	 atuam	 com	 turmas	 de	 Berçário	
expuseram	as	suas	vivências	e	experiências	e	demonstraram	o	quanto	foram	impactadas	
pela	 leitura.	 Associando	 ao	 texto	 proposto,	 destaquei	 a	 importância	 de	 ouvirmos	
atentamente	as	crianças	não	só	com	os	ouvidos,	mas	com	todos	os	sentidos,	como	afirma	
Rinaldi	(2014). 
Refletimos	 sobre	o	momento	das	 refeições,	do	 sono,	do	banho	e	destacamos	os	
aspectos	que	ainda	precisamos	avançar	quanto	à	organização	do	tempo,	do	espaço	e	das	
materialidades.	 A	 equipe	 chegou	 à	 conclusão	 de	 que	 precisamos	 buscar	 estratégias	
através	do	diálogo	com	os	nossos	pares,	replanejar	as	nossas	ações,	avaliar	a	cada	dia	a	
nossa	 rotina	 para	 que	 não	 se	 torne	 rotina	 rotineira,	 para	 que	 não	 se	 automatize.	
Considerando	que	o	cuidar	e	o	educar	são	“mais	que	atos,	são	atitudes	que,	além	de	seleção	
de	prioridades,	exigem	dedicação,	atenção	e	responsabilidade,	especialmente	afetiva	com	
o	outro	ser	humano	criança”	(MARTINS	FILHO,	2020,	p.	158).	Ainda	de	acordo	com	o	autor,	
 
Atribuo	 ao	 cuidado	 um	 significado	 para	 além	 de	 cumprir	 tarefas	
rotineiras	que	se	repetem	cotidianamente	e	se	tornam,	com	isto,	pouco	
prestigiosas	e	preciosas.	Esta	pode	ser	entendida	como	uma	tentativa	de	
ultrapassar	 a	 visão	 de	 cuidado	 associada	 unicamente	 à	 assistência,	 à	
guarda	e	à	noção	de	tutela	em	que	o	termo	historicamente	está	envolvido,	
e,	ainda,	está	fortemente	presente	nas	instituições	educativas	(MARTINS	
FILHO,	2020,	p.	160).	
	
Esse	tempo	de	trabalho	remoto	oportunizou	espaço	para	estudos	e	reflexão	sobre	
o	nosso	cotidiano,	considerado	de	suma	importância,	pois	no	calendário	letivo	para	o	ano	
de	2020	não	terı́amos	mais	os	Centros	de	Estudos	parciais,	que	era	o	espaço	para	a	nossa	
formação	continuada	em	serviço.	Podemos	afirmar	que	foi	um	encontro	formativo	virtual	
bastante	 significativo,	 diferente	 de	 tudo	 que	 já	 havı́amos	 vivenciado.	 Faltou	 o	 contato	
fı́sico,	o	olho	no	olho,	o	abraço,	o	lanche	coletivo	antes	de	iniciar	a	reunião,	mas	não	faltou	
o	olhar	sobre	as	nossas	crianças,	a	responsividade,	a	alteridade	e	o	afeto	na	condução	de	
nossos	objetivos. 
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Revista Práticas em Educação Infantil – vol. 5; nº 6 134 
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No	dia	29/03/2020	recebemos	um	e-mail	enviado	pela	Gerência	de	Educação	da	
9ª	 Coordenadoria	 Regional	 de	 Educação	 (9ª	 CRE)	 tratando	 sobre	 a	 organização	 do	
trabalho	na	modalidade	home	office.	Neste	e-mail	também	foi	feita	a	solicitação	para	que	
a	 professora	 articuladora	 fizesse	 um	 registro	 sobre	 as	 orientações	 que	 estavam	 sendo	
dadas	aos	professores	e	 sobre	as	atividades	propostas	por	eles,	por	meio	de	portfólio,	
diário	de	bordo	ou	outras	formas	de	registros.	Essas	narrativas	estão	sendo	redigidas	de	
acordo	com	os	fatos	ocorridos,	como	uma	colcha	de	retalhos.	Pois,	não	sabemos	quando,	
nem	como	retornaremos	as	nossas	atividades	pedagógicas	presenciais.	 
Compartilhamos	 com	 a	 equipe	 uma	 carta	 de	 agradecimento	 que	 recebemos	 da	
Coordenadoria	 da	 Infância	 pelo	 trabalho	 que	 temos	 realizado	 com	 palavras	 de	 fé,	
esperança	e	de	ânimo,	no	dia	16/04/2020.	Esse	contato	da	Coordenadoria	da	Infância,	via	
cartas,	contribuiu	para	dar	um	suporte	as	nossas	ações	como	Rede	Pública	de	Ensino,	e	
não	como	uma	unidade	de	Educação	Infantil	que	está	fazendo	ações	isoladas.	Assim,	como	
a	 carta	 que	 recebemos	 no	 dia	 04/05/2020,	 com	 orientações	 sobre	 a	 importância	 de	
termos	 um	 discurso	 coeso	 considerando	 as	 especificidades	 da	 Educação	 Infantil,	
mantendo	o	compromisso	com	a	qualidade	das	nossas	práticas	pedagógicas.	Dessa	carta,	
um	trecho	em	especial	é	importante	às	nossas	reflexões:	“Não	temos	a	intenção	de	reforço,	
complementação	pedagógica	ou	quaisquer	outros	conceitos	que	não	atendem	as	nossas	
dinâmicas	e	realidades.”	 
O	 texto	 ainda	 reforça	 o	 que	 já	 temos	 defendido,	 que	 a	 “EAD”	 não	 se	 adequa	 às	
especificidades	da	Educação	Infantil.	A	internet,	constitui-se	como	mais	uma	linguagem	
por	 meio	 da	 qual	 as	 nossas	 crianças	 formam	 e	 estabelecem	 relações.	 Nesse	 sentido,	
podemos	 verificar	 que	 o	 nosso	 trabalho	 está	 em	 consonância	 com	 as	 orientações	
encaminhadas	pela	Coordenadoria	da	infância,	da	Gerência	de	Educação	(9ª	CRE)	e	com	a	
LDBEN	9.394/1996,	art.	80,	que	não	prevê	essa	modalidade	de	ensino	para	a	Educação	
Infantil. 
A	preocupação	com	a	saúde	emocional	dos	profissionais	e	de	suas	famı́lias	também	
pautou	nossas	ações.	A	diretora	da	unidade	apresentou	algo	de	muito	valor,	num	contexto	
de	distanciamento	social:	a	equipe	diretiva	composta	pela	diretora	geral,	diretora	adjunta	
e	professora	 articuladora	 faria	 chamadas	de	 vı́deo	 individual	 com	cada	 funcionário	da	
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Revista Práticas em Educação Infantil – vol. 5; nº 6135 
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unidade	com	o	objetivo	de	ouvir	como	cada	um	estava	enfrentando	esse	perı́odo,	o	intuito	
não	era	falar	sobre	trabalho,	mas	demonstrar	afeto,	cuidado	e	atenção. 
Muitas	pessoas	ficaram	surpresas	ao	receberem	a	vı́deo	chamada	composta	pela	
equipe	diretiva.	Pensavam	que	era	uma	ligação	relacionada	ao	trabalho	e	começavam	a	
falar	sobre	projetos,	mas	logo	falávamos	qual	era	o	objetivo	da	nossa	chamada	surpresa.	
Alguns	funcionários	ficaram	muito	emocionados,	relataram	como	estavam	lidando	com	a	
pandemia,	falaram	sobre	os	seus	medos	e	conversamos	sobre	a	importância	do	cuidado	
com	 o	 nosso	 corpo	 e	 com	 a	 nossa	mente.	 Foi	 uma	 experiência	 singular!	 Dessa	 forma,	
seguimos	juntos	como	uma	rede	de	apoio. 
 
Considerações finais 
 
Concluı́mos	 este	 trabalho	 enfatizando	 que	 as	 ações	 aqui	 apresentadas	 não	 são	
compreendidas	na	perspectiva	de	“EAD	na	Educação	Infantil”.	Esse	relato	de	experiência	
não	tem	como	finalidade	romantizar	o	trabalho	remoto,	mas	compartilhar	os	caminhos,	
estratégias	e	possibilidades	encontrados	para	a	manutenção	dos	vı́nculos	afetivos	com	as	
famı́lias,	com	as	crianças	e	com	a	equipe	pedagógica	durante	o	perı́odo	de	pandemia.	 
Ao	 chegar	 nas	 considerações	 finais	 deste	 registro,	 alguns	 questionamentos	
surgiram:	e	se	tivéssemos	seguido	outro	caminho,	se	não	tivéssemos	buscado	o	possıv́el	
encontro	através	dos	grupos	de	WhatsApp/Facebook?		Sobre	esses	percursos	trilhados	até	
aqui,	aciono	um	trecho	de	nossa	 literatura	brasileira:	 “o	real	não	está	na	saı́da	nem	na	
chegada:	ele	se	dispõe	para	a	gente	é	no	meio	da	travessia”	(ROSA,	2001,	p.	80). 
Nos	encontramos	nessa	travessia.	Por	trás	das	câmeras,	os	desafios	enfrentados	
para	a	realização	do	trabalho	remoto	sem	infraestrutura	adequada,	entre	o	preparo	do	
almoço,	o	carro	do	ovo	que	passa,	o	cachorro	que	late,	a	internet	que	falha,	estamos	nessa	
travessia	 em	 uma	 linha	 tênue	 que	 compreende	 manter	 o	 contato	 com	 as	 famı́lias,	 o	
respeito	ao	espaço	familiar	e	aos	nossos	próprios	limites	fı́sicos	e	emocionais.	 
Embora	as	tecnologias	estejam	presentes	em	nosso	cotidiano,	confesso	que	ainda	
não	me	adaptei	a	trabalhar	através	de	uma	tela,	sinto	falta	do	contato	fı́sico,	do	olho	no	
olho,	 dos	 abraços	 mais	 apertados,	 de	 todos	 quererem	 falar	 ao	 mesmo	 tempo,	 de	 ser	
interrompida	 com	uma	pergunta	 intrigante	 diante	 de	 uma	história.	 Sinto	 saudades	 do	
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Revista Práticas em Educação Infantil – vol. 5; nº 6 136 
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nosso	cotidiano	de	antes	da	pandemia,	das	relações	que	são	estabelecidas	no	coletivo.	Ao	
entrar	em	contato	com	as	crianças,	mesmo	virtualmente,	sinto	a	alegria	delas	através	dos	
vı́deos/áudios	e,	assim,	as	minhas	esperanças	são	renovadas. 
Nesse	tempo	de	pandemia	vieram	à	tona	nas	redes	sociais	práticas	equivocadas,	
discussões	e	reflexões	a	respeito	das	especificidades	da	Educação	Infantil.	Nesse	sentido,	
ficou	evidente	algo	anunciado	por	Martins	Filho	(2020,	p.	119),	que	“as	experiências	das	
crianças	 não	 cabem	 em	 uma	 folha	 de	 papel,	 com	 crianças	 pequenas	 as	 experiências	
transcendem	o	momento	da	‘atividade	pedagógica’	tradicional,	convencional,	canônica	e	
cartesiana”.	Da	mesma	forma,	considero	que	o	cotidiano	da	Educação	Infantil	 é	vida	no	
sentido	mais	pleno	da	palavra,	por	isso,	também	não	cabe	em	uma	tela.	A	questão	que	se	
antepõe	 a	 todas	 essas	 e	 a	 que	 fundamentou	 todas	 as	 ações	 relatadas	 ao	 longo	 deste	
trabalho	é	a	suma	importância	que	reside	na	manutenção	dos	vı́nculos	afetivos,	adaptados	
para	esses	tempos	de	pandemia. 
	
	
Referências 
 
BRASIL.	Ministério	da	Educação.	Secretaria	de	Educação	Básica.	Diretrizes 
Curriculares Nacionais para a Educação Infantil.	Brası́lia:	MEC/SEB,	2010. 
	
BRASIL.	Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394/1996.	Disponıv́el	
em:	http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/lei9394_ldbn1.pdf.		Acesso	em	13	jul.	
2020. 
	
CONSELHO	MUNICIPAL	DE	EDUCAÇAYO	(Rio	de	Janeiro).	Deliberação nº 39 de 
02/04/2020.	Orienta	as	instituições	do	Sistema	Municipal	de	Ensino	do	Rio	de	Janeiro	
sobre	a	realização	de	atividades	escolares	em	regime	especial	domiciliar,	em	caráter	
excepcional,	no	perı́odo	em	que	permanecerem	em	isolamento	social	fixado	pelas	
autoridades	municipais	e	pela	comunidade	médico-cientı́fica,	em	razão	da	necessidade	
de	prevenção	e	combate	ao	COVID-19	-	Coronavı́rus.	Disponıv́el	em:	
https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=392540.	Acesso	em	13	ago.	2020. 
	
FREIRE,	Paulo.	Pedagogia da autonomia:	saberes	necessários	à	prática	educativa.	São	
Paulo:	Paz	e	Terra,	1996. 
	
PRÁTICASPRÁTICASPRÁTICASPRÁTICAS 
Revista Práticas em Educação Infantil – vol. 5; nº 6 137 
ISSN 2447-620X 
 
 
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L`ECUYER,	Catherine.	Educar na realidade.	São	Paulo:	Edições	Loyola,	2019. 
	
MARTINS	FILHO,	Altino	José.	Minúcias da vida cotidiana no fazer-fazendo da 
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RINALDI,	Carla.	Diálogos com Reggio Emilia:	escutar,	investigar	e	aprender.	São	Paulo:	
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ROSA,	João	Guimarães.	Grande Sertão:	Veredas.	19.	ed.	Rio	de	Janeiro:	Nova	Fronteira,	
2001.

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