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Autismo História: As bases do Transtorno do Espectro Autista começaram lá em 1907, quando Theodor Heller descreveu uma espécie de demência em crianças que tinha características semelhantes ao que chamamos hoje de autismo. Em 1923, a Dra. Grunya Sukhareva descreveu um transtorno esquizoide da infância e, assim como Heller, priorizou a pedagogia e a escola para reabilitar as crianças que tinham esse problema de desenvolvimento. Outro médico muito importante para os estudos desse transtorno e muito presente na história da psiquiatria infantil foi Leo Kanner, o primeiro médico a transcrever uma doença caracterizada pelo retraimento emocional intenso com o nome de “Autismo”, em 1944. Além disso, ele se destacou muito nos EUA por lutar pela defesa das crianças e dos médicos judeus na época do Nazismo. Nesse mesmo ano, Asperger também descreveu um quadro muito parecido com o descrito por Kanner, dando origem à chamada Síndrome de Asperger: um tipo de autismo leve, com preservação intelectiva. Porém, o nome dessa síndrome é muito criticado, pois existem indícios que Asperger contribuiu com o nazismo. Quadro clínico: O autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento que começa na infância e se caracteriza pela presença de 3 sintomas: 1) Déficit de interação social A criança costuma evitar o contato ocular, demonstrando pouco interesse na voz humana, com indiferença afetiva, e raramente emite uma resposta facial, sendo muito comum a suspeita de surdez pelos familiares. Ela não se antecipa quando é carregada, como se não se interessasse. Muitas vezes, a criança autista trata qualquer adulto de forma similar, então não sorri para a mãe, não segue os pais pela casa e não demonstram ansiedade de separação. Também evita o contato com outras crianças, possui dificuldade em brincar de faz de conta ou imitação e prefere atividades solitárias. Possuem ligação forte com objetos estranhos, como por exemplo, pequenos baldes, utensílios da casa, e fazem protestos e demonstram irritação quando separados desses objetos. O que se pode avançar com o tratamento: Desenvolver uma maior ligação com os pais, ficar mais amigável com os irmãos e pode se envolver passivamente em jogos com outras crianças. O que não consegue avançar com o tratamento: Continuam sem iniciar o contato (apesar de aceitá-lo), continuam com falta de interesse pelas outras pessoas e, na adolescência, faz ou diz coisas inapropriadas. 2) Déficit na linguagem como meio de comunicação Comunicação não-verbal: crianças autistas comumente mostram suas necessidades gritando ou chorando e puxam o adulto pela mão em direção ao objeto que desejam. Não copiam as atividades dos pais (não calçam o sapato do pai, não usam a maquiagem da mãe...). Usam muito poucos gestos, apesar de entenderem, e possuem pouca ou nenhuma expressão facial comunicativa. Comunicação verbal: É muito comum o mutismo até os 5 anos, com ecolalia (repetição do que é dito), muitas vezes utilizando frases copiadas dos outros, utilizando respostas na terceira pessoa (já que é assim que ela escuta). Apresentam, muitas vezes, uma fala monótona (como se fosse uma frase de robô) ou uma voz cantada, com prolongamento estranho de sons, sílabas ou palavras. Podem também fazer afirmativas com a entonação de perguntas. Às vezes, repetem sons sem sentido social, fazem o uso idiossincrático de palavras ou frases, falam sem imaginação, ou com abstração, e a impressão que temos é que ele está falando para alguém, e não com alguém. Até onde se pode avançar com o tratamento: Em relação à comunicação verbal, as crianças com um retardo severo podem nunca chegar a ter um avanço na compreensão da linguagem verbal. Se o retardo for moderado ou leve, conseguem avançar ao ponto de seguir instruções simples. Se o retardo for muito leve, os problemas são comuns na compreensão abstrata. E se a criança tem uma inteligência normal ou elevada, provavelmente vai ter dificuldade com jogos de humor e podem se confundir com expressões idiomáticas. 3) Foco de interesse restrito e rígido Na criança autista existe uma grande resistência à mudança. Ela gosta de alinhar brinquedos e objetos, e se estressam caso os mudem de posição, e possuem resistência em aprender novas atividades. Mudanças do ambiente familiar podem gerar explosões. Dessa maneira, muitas vezes as crianças possuem rotinas rígidas, comendo a mesma comida e fazendo os mesmos percursos durante o dia. Também podem apresentar movimentos repetitivos, batendo as mãos ou apresentando maneirismos nos dedos, ou apresentando preocupações persistentes, como memorizar informações meteorológicas, capitais, datas de nascimento de familiares, entre outros. Diagnóstico: Critério A: Quando existe um déficit persistente na comunicação social e na interação social identificado através pela presença dos seguintes 3 itens: 1- Déficit na reciprocidade socio-emocional (que pode ir desde uma aproximação social anormal, até total falta de iniciativa de interação social). 2- Déficit em comportamentos comunicativos não verbais usados para a interação social (que pode ir desde uma integração pobre entre comunicação verbal e não verbal, ou de um contato visual anormal, até total falta de expressão facial ou gestos). 3- Déficit em desenvolver ou manter relacionamentos apropriados para o grau de desenvolvimento (para além daqueles com os cuidadores), que pode ir desde dificuldades em ajustar o comportamento para determinados contextos sociais, até a dificuldade de compartilhar jogos de imaginação, fazer amigos ou até uma ausência de interesse nas pessoas. Critério B: Quando existe um déficit persistente na comunicação social e na interação social identificado através pela presença dos seguintes 3 itens: 1- Fala repetitiva ou estereotipada (podendo apresentar ecolalia e frases idiossincráticas), movimentos inadequados e uso repetitivo de objetos. 2- Adesão excessiva a rotinas, com padrões ritualizados de comportamento, com resistência excessiva à mudança. 3- Interesses fixos, altamente restritos que são anormais em intensidade ou foco, tais como ligação forte com algum objeto, preocupação excessiva com objetos não usuais ou interesses excessivamente circunscritos ou perseverativos. 4- Hiper ou hiporreatividade sensorial, ou interesse não usual em aspectos sensoriais do ambiente, exemplo: crianças com respostas adversa a sons específicos ou textura, fascinação por luz ou objetos que giram, ou indiferença aparente à dor, calor ou frio. Especificadores: Observar se a criança possui ou não retardo, problemas de linguagem, condição médica ou genética associada, se existe outro transtorno do neuro- desenvolvimento associado ou catatonia. Tratamento: Tem como objetivo maximizar a aquisição da linguagem e dos conteúdos cognitivos, melhorar sua interação social e expandir os seus interesses, reduzindo as repetições. Isso forma um ciclo, em que a melhora de um desses aspectos “alavanca” a melhora dos demais aspectos. A base do tratamento do autismo se dá através da intervenção educacional, juntamente com uma intervenção psicossocial. Isso se dá através de uma equipe multidisciplinar, composta por psicólogos, terapeutas, professores, pedagogos, fonoaudiólogos e também nutricionistas. Em relação à intervenção médica, podemos fazer uso também do tratamento farmacológico, que é composto por drogas que atuam nos sintomas centrais do autismo e por drogas que atuam em distúrbios do comportamento associados ao autismo. 1) Drogas que atuam nos sintomas centrais (distúrbio de linguagem, comportamento repetitivo e déficit na interação social recíproca): • Bumetanida: Anti-hipertensivo que vem sendo estudado como uma droga que pode ajudar a melhorar os sintomas centrais, reduzindo a gravidade deles. Ele tem efeito de estabilização de descargas cerebrais. • Ocitocina: Apenasum estudou mostrou melhora mantida após 6 semanas, melhorando a empatia, o reconhecimento de emoções faciais e habilidades sociais. Possui aplicação intra-nasal, tem como efeitos colaterais inquietação, irritabilidade e aumento de energia e, em geral, seu impacto é moderado. • Sulforofano: Alguns estudos preliminares mostraram melhora na interação social, no comportamento anormal e na comunicação verbal. Isso se dá através do seu efeito anti-oxidante (já que metabólitos urinários envolvidos no estresse oxidativo se correlacionaram com mudanças nos sintomas). • Atividade física: Estudos já mostraram que promove melhora o perfil metabólico, a qualidade de vida, e sintomas do autismo (já que promovem a interação entre as crianças). • Oxigênio hiperbárico: Não existe indicação para uso em autismo, nem uma literatura contundente em relação a isso. Existem poucos estudos sobre eles e as evidências são muito fracas e pequenas. • Oxigenoterapia: Não faz parte do tratamento do autismo, não havendo evidências nem estudos a favor dele. 2) Drogas que atuam nos distúrbios do comportamento associados ao autismo: • Irritabilidade/Agressividade: Os anti-psicóticos são as drogas mais utilizadas. Podemos citar a Risperidona e a Aripirazol, que são drogas que melhoram sintomas de estereotipias, hiperatividade, irritabilidade e agressividade, e os principais efeitos colaterais são ganho de peso. A N-Acetilcisteína também pode ser utilizada para potencializar o efeito do anti-psicótico. • Sono: É muito utilizada a Melatonina, que melhora a duração do sono e a latência para iniciá-lo. Os principais efeitos colaterais são dores de cabeça, tontura, diarreia e agitação, mas são efeitos colaterais muito raros. • Repetição e comportamento compulsivo: Muitas pessoas fazem uso de anti- depressivos, porém esses medicamentos não se mostraram efetivos em melhorar comportamento repetitivo. A Revisão Cochrane, inclusive, sugeriu que eles poderiam ser mais prejudiciais do que benéficos, com relatos de agitação. • Hiperatividade: O Metilfenidato (Ritalina) é bastante eficaz com crianças com TDAH, porém ele não se mostrou muito eficaz em estudos feitos em crianças com autismo. Ele pode levar ao medo, a sintomas depressivos, piora da agitação e efeitos de irritabilidade. Dessa maneira, em resumo: • Os sintomas alvo devem ser ordenados por prioridade, em função do prejuízo que causa ao paciente. • A farmacoterapia deve ser feita em colaboração com os pais, cuidadores e também na escola. • O uso da farmacoterapia deve levar em conta as expectativas da família, as evidências científicas e a prática clínica.
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