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Propedêutica do Sistema Cardiocirculatório na Crianças Aula 15 13.04.2021 Dra.Débora Morais Propedêutica Pediátrica Doenças Cardíaca na Infância Cardiopatias: congênitas ou adquiridas Doença cardíaca adquirida 📌 Miocardites virais 📌 Doença reumática Doença cardíaca congênita (DCC) 📌 Frequência 6-20: 1000 nascimentos 📌 25% são consideradas críticas – necessidade de intervenção cirúrgica no primeiro ano de vida 📌 30% das DCC críticas são diagnosticadas após alta no berçário A manifestação clínica da cardiopatia congênita ocorre principalmente nos primeiros meses de idade; no entanto, o reconhecimento da doença pode ser feito em qualquer fase da vida, inclusive no período fetal. É frequente, p.ex., o diagnóstico de comunicação interatrial (CIA) no paciente adulto. Cerca de 35%dos pacientes que nascem com cardiopatia congênita apresentam-se com profunda hipoxemia e/ou insuficiência cardíaca. Considerando os pacientes que são internados por cardiopatia congênita no 1° ano de vida, evidencia-se que a maioria dos casos ocorre nos primeiros 6 meses de idade, sendo a metade no 1° mês. Ao considerar somente o 1° mês, a maior proporção de internamento ocorre na 1ª semana de vida. As doenças mais prevalentes nesse período são dependentes do canal arterial, cujo fechamento exacerba o quadro clínico, como hipoplasia de VE, coarctação da aorta, transposição das grandes artérias, tetralogia de Fallot extrema e atresia pulmonar. Quando essas patologias têm diagnóstico no período fetal, podem evitar complicações graves e desfechos fatais. A programação do nascimento é fundamental, como local, Assistencia neonatal e equipe especializada. Os pacientes internados em período maior que 1 mês e inferior a 6 meses apresentam enfermidades cujas manifestações clínicas dependem da queda da resistência vascular pulmonar, como a comunicação interventricular (CIV), a persistência do canal arterial (PCA) e o defeito do septo atrioventricular (DSAV). Na evolução natural da cardiopatia congênita, a mortalidade é extremamente alta. Cerca de 20% das crianças morrem nos primeiros 12 meses de vida, e a sobrevida em 15 anos é de 77,11%. Doenças como hipoplasia do ventrículo esquerdo e transposição das grandes artérias (TGA) são fatais no 1° ano de vida, quando não são tratadas. Características da Ciruclacso Fetal 📌 Circulação pulmonar fetal: alta resistência, baixo fluxo, ausência de troca gasosa; 📌 Circulação sistêmica fetal (placenta): baixa resistência, local de troca gasosa; 📌 Débito cardíaco Dir > esquerdo; 📌 Mistura (shunt) de sangue oxigenado e pouco oxigenado. Sat O2 média 70% O sistema circulatório de um feto começa a se formar muito cedo, pelo fim da 5 semana o feto já é capaz de bombear sangue pelo seu corpo, contudo como os pulmões não vão funcionar até o nascimento, quando o RN inspira pela primeira vez, a mãe tem que fornecer ao feto sangue rico em oxigênio. Tal como em um coração adulto, o coração pré-natal desenvolve 4 cavidades e 4 válvulas, mas como os pulmões ainda não serão usados o sangue precisa ultrapassar os pulmões desenvolvendo-se duas estruturas no coração pré- natal que permitem que o sangue seja encaminhado a percorrer os pulmões, o forame oval e canal arterial. O forame oval é uma passagem interatrial, por onde o sangue oxigenado se direciona do AD para AE e sai pela aorta. O canal arterial é um orifício que comunica a aorta com a artéria pulmonar, logo o sangue que iria para a circulação sistêmica, uma pequena porcentagem se direciona a artéria pulmonar perfundindo os pulmões. Na circulação pré-natal normal, o sangue rico em oxigênio é fornecido ao feito a partir do corpo da mãe através da placenta e do cordão umbilical para a véia cava inferior do feto. A véia cava também recebe oxigênio e sangue pobre em oxigênio vindo do corpo do feto, ambos vão pela véia cava até a aurícula direita. A maior parte do sangue misturado na aurícula direita é empurrado através do forame oval para a aurícula esquerda, deste ponto, vai para o VE que bombeia o sangue para a aorta. A aorta então, distribui o sangue pelo corpo do feto. O sangue restante da aurícula direta entra para o VD que o envia para a artéria pulmonar direcionando o sangue para os pulmões. Mas como os funções ainda não estão funcionando o sangue é dirigido da artéria pulmonar atreve do canal arterial para a aorta. De novo, a aorta leva o sangue para todo o corpo do feto. Após o nascimento, o forame oval e o Canadá retrial fecham quando o bebê começa a respirar. O sangue pobre em oxigênio do lado direito do coração é então enviado através da artéria pulmonar para os pulmões, o sangue rico em oxigênio sai do lado esquerdo do coração e passa através da aorta para o resto do corpo do RN. https://blausen.com/pt-br/video/circulacao-cardiaca-pre-natal/ Após o nascimento 📌 Fechamento do ducto venoso 📌 Expansão pulmonar: queda da pressão da circulação pulmonar 📌 Fechamento do forame oval 📌 Colabamento e posterior fechamento do canal arterial Doença Cardíaca Congênita Canal Dependente 📌 Manifestam-se com cianose e baixo débito cardíaco horas ou dias após o nascimento, com o fechamento do canal arterial 📌 Necessitam correção cirúrgica imediata 📌 Se não diagnosticadas ao nascimento: mortalidade 50% 📌 Cardiopatias canal-dependentes Atresia ou estenose pulmonar Tetralogia de Fallot Hipoplasia do VE Atresia de v. aórtica Outras 📌 Necessidade de avaliação criteriosa do RN Eventualmente, os orifícios podem não fechar ou até mesmo haver a existência de malformações que dependem que esses forames não fechem (cardiopatias complexas) onde a perfusão dos tecidos, principalmente, dos tecidos nobres dependerá da manutenção do canal arterial. São doenças extremamente graves, e caso não haja um diagnóstico precoce, pode levar ao óbito da criança. Podem apresentar baixo DC e cianose. IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO ANTI- NATAL Os neonatos e os lactentes são encaminhados, geralmente, por quatro alterações clínicas: cianose, insuficiência cardíaca, sopro e arritmia. Em crianças maiores e adolescentes, outros sintomas podem estar associados às anomalias congênitas, como dor precordial, tontura e síncope. Os sintomas dos pacientes são manifestações de distúrbios hemodinâmicos e estão relacionados fundamentalmente às alterações no fluxo pulmonar; por isso, as cardiopatias congênitas são classificadas funcionalmente em: 1) cardiopatia de hipofluxo pulmonar; 2) cardiopatia de hiperfluxo pulmonar; e 3) cardiopatia de normofluxo pulmonar. O ecocardiograma bidimensional com Doppler é o exame mais importante no diagnóstico e na avaliação funcional. A radiografia de tórax e o eletrocardiograma são exames mais acessíveis e contribuem na formulação de uma hipótese de iagnóstico, porém em raras ocasiões indicam uma doença. Há, ainda, outros exames que podem ser fundamentais no diagnóstico, como estudo hemodinâmico, tomografia computadorizada, angiotomografia, ressonância magnética e estudo eletrofisiológico (nas arritmias). Anamnese: antecedentes antenatais 📌 Infecções durante a gestação Infecções virais no primeiro trimestre: associadas a malformações cardíacas Infecções virais no final da gestação: associadas a miocardites Rubéola congênita: estenose pulmonar e PCA 📌 Medicações durante a gestação Anfetaminas, anticonvulsivantes, estrogênio, progesterona: associados a malformações cardíacas Síndrome alcoólica fetal: associada a múltiplas cardiopatias – PCA, CIA, CIV, tetralogia de Fallot 📌 Doenças maternas não infecciosas Cardiopatia congênitamaterna: risco aumentado de malformação cardíaca fetal (15%) Diabetes mellito: risco aumentado de malformações (PCA, CIV, transposição de grandes artérias) e cardiomiopatia hipertrófica Lupus eritematoso sistêmico: risco de bloqueio AV congênito Anamnese: manifestações clínicas das cardiopatias CIANOSE BAIXO DÉBITO SISTÊMICO INSUFICIÊNCIA CARDÍACA SOPRO CARDÍACO Manifestações clínicas: cianose A cianose da criança com cardiopatia congênita é do tipo central, quase empresa generalizada; entretanto, em alguns casos, ela pode ser evidente no MMII e ausente MMSS e mucosas ou vice-versa - a qual é denominada cianose diferencial. São três tipos de cianose: 1) presença de lesões obstrutivas direta como shunt da direita para esquerda (p.ex., tetralogia de Fallot); 2) conexão ventrículo-arterial discordante (TGA); e 3) presença de uma mistura de comum (p.ex., ventrículo único). O aparecimento da cianose ocorre quando a concentração da hemoglobina reduzida no sangue circulante é maior que 5 g/hL, por isso ela pode estar ausente em crianças com anemia. A cianose também pode ser leve ou mesmo ausente nos casos com fluxo pulmonar aumentado e grande mistura arteriovenosa. Após reconhecer a cianose como de origem cardíaca, é imperativa a definição morfológica da anomalia. A cianose jamais deve ser menosprezada ou apenas observada, particularmente se o paciente não estiver com insuficiência respiratória. Em algumas doenças, a criança aparenta estar normal nos primeiros dias, mas pode piorar subitamente e evoluir para óbito em poucas horas. Por isso, recomenda-se que, quando houver suspeita de cardiopatia congênita cianótica, a investigação seja feita em caráter de urgência. O RN com cardiopatia congênita complexa pode ter como única manifestação clínica a cianose, por isso é imprescindível afastar o diagnóstico de doença cardíaca nesses pacientes. A diferença entre a cianose de causa cardíaca e a não cardíaca (pulmonar, hematológica e neurológica) pode ser feita de maneira simples e rápida com o auxílio do ECG, embora a utilização do método ainda seja muito importante. O aumento de pO2 do teste de hiperóxia é muito importante. O aumento de pO2 acima de 160 mmHg após a administração de oxigênio a 100%, por 5 a 10 minutos, sugere ausência de cardiopatia congestiva cianótico, mas pO2> 250 mmHg efetivamente a exclui. O não aumento do pO2 acima dos níveis citados está fortemente associado a alteração cardiológica. Crises hipoxêmicas Crises súbitas de cianose com instabilidade hemodinâmica e respiratória, associada a fator desencadeante (dor, choro intenso, febre, esforço evacuatório). Manifestações clínicas: insuficiência cardíaca (IC) Uma variedade de cardiopatias congênitas pode evoluir com insuficiência cardíaca, porém as principais são as cardiopatias congênitas de hiperfluxo pulmonar com hipertensão venocapilar pulmonar e as doenças obstrutivas, nas quais predominam as obstruções esquerdas. O quadro clínico, em geral, é de IC, com taquipneia, cansaço e interrupções às mamadas. É rara a descompensação isolada do lado esquerdo ou do lado direito do coração. Dois fatores são fundamentais para o desencadeamento da IC: o primeiro é o fechamento do canal arterial, que ocorre funcionalmente durante as primeiras horas ou dias iniciais de vida; e o segundo, a diminuição da resistência vascular pulmonar, que ocorre ao longo dos primeiros meses de idade. O quadro clínico é mais tardio em doenças com shunt da esquerda para a direita, como a CIV, a PCA e o DSAV. A passagem de sangue da circulação sistêmica para a circulação pulmonar depende de uma diminuição significativa da resistência vascular pulmonar, o que ocorre a partir do final do 1o mês de vida. O aparecimento da anemia fisiológica contribui para essa diminuição. A doença de Ebstein, anomalia da valva tricúspide, pode descompensar mais precocemente. Diferentemente dos mecanismos anteriores, a sua descompensação depende do grau do comprometimento da valva tricúspide e da resistência vascular pulmonar aumentada, que dificultam a progressão do sangue para o sistema pulmonar e desencadeiam uma IC predominante direita. Como observado, as manifestações clínicas decorrem das al- terações fisiológicas. Assim, a idade do aparecimento da IC pode ser um fator de diferenciação diagnóstica da doença. Manifestações clínicas Taquidispneia Cansaço às mamadas - diminuição de contratibilidade miocárdica Infecções respiratórias de repetição - há congestão pulmonar, exsudato no pulmão que muitas vezes é confundido com pneumonia Sudorese Baixo ganho ponderal - taxa metabólica maior, quanto maior a criança, mais oxigênio ela precisa Manifestações clínicas: Sopro Cardíaco Manifestações Clínicas: baixo débito sistêmico Manifestações Clínicas: Arritmias É a maior causa de encaminhamento para a investigação de cardiopatia congênita. Aproximadamente metade dos pacientes apresenta sopro inocente. Quando o sopro cardíaco é detectado em consulta de rotina, sem outros sintomas cardíacos associados, a cardiopatia normalmente é leve e de bom prognóstico. Nessa categoria, estão as cardiopatias com shunt da esquerda para direita e as cardiopatias obstrutivas isoladas. Como já visto, quando essas doenças apresentam repercussão hemodinâmica, a causa de encaminhamento, em geral, é por IC. As principais doenças desse grupo são: CIV, CIA, PCA, estenose pulmonar (EP) e estenose aórtica. O débito sistêmico em doenças obstrutivas, como hipoplasia de ventrículo esquerdo, estenose aórtica crítica e coartação da aorta pré-ductal, depende do fluxo da artéria pulmonar para a aorta através do canal arterial. Com o fechamento do canal, o fluxo sistêmico diminui abruptamente, ocorrendo IC e choque cardiogênico. 📌 Manifestações clínicas Intolerância aos esforços Palidez Sudorese Pré-síncope ou síncope aos esforços É uma manifestação rara de cardiopatia congênita. O bloqueio atrioventricular total é a arritmia congênita isolada ou associada mais frequente. Em outras doenças, como a transposição corrigida das grandes artérias (TCGA) e a doença de Ebstein, a arritmia pode ser a primeira manifestação clínica. Exame Físico Geral: sinais dismórficos Síndrome de Down: defeitos cardíacos em 40% dos pacientes 📌 Defeitos do septo AV total (DSAVT):mais frequente 📌 CIV 📌 CIA 📌 PCA 📌 Putros Síndrome de di George: malformações cardíacas em 40% Interrupção de arco aórtico Deleção do cromossomo 22 Características: malformações faciais (insuficiência velofaríngeoa, fenda palatina), hipoplasia de timo com deficiência de resposta imune das células T, malformações cardíacas, hipoparatireoidismo, RDNPM. Também podem ocorrer malformações renais e hipotireoidismo. 📌 PCA - persistência do canal atrial 📌 CIV 📌 Tetralogia de Fallot Síndrome de Willians: defeitos cardíacos em 75% 📌 Estenose aórtica supravalvar (mais comum) 📌 Estenose pulmonar 📌 Defeitos de septo Deleção do braço longo do cromossomo 7 Facies de gnomo ou de fada: fronte proeminente, hipoplasia do queixo, nariz arrebitado, lábios cheios Retardo cognitivo leve, alto desenvolvimento verbal e social, socialização e gosto por música, malformações dentárias, cardíacas e renais, baixa estatura, hipercalcemia Exame físico geral: sinais vitais Exame Físico Geral: Pressão Arterial 📌 Peso e estatura 📌 FC, ritmo cardíaco, FR 📌 Obrigatória a partir dos 3 anos 📌 Medida no braço direito 📌 Lactentes: decúbito dorsal horizontal 📌 > 2 anos: sentado, após repouso de 2 min; braço ao nível do precórdio 📌 Estetoscópio sobre a fossa cubital (a. braquial) 📌 Palpação do pulso radial; insuflação do manguito até 20 mmHg após desaparecimento do pulso 📌 Três medidas, intervalo 1 min Pressão arterial:técnica de mensuração Medir distância acrômio- olecrano e determinar o ponto médio No ponto médio, determinar a circunferência muscular do braço Comprimento: 80-100% da CMB Largura: 40% da CMB Pressão arterial: interpretação Classificação da PA 📌 Normal - até p90 📌 PA elevada - p90 - p95 📌 Hipertensão grau 1 - p>95 📌 Hipertensão grau 2 - p>95 + 12mmHg Exame físico geral: sinais vitais 📌 Sat O2 85-95%: hipoxemia sem cianose, detectada apenas por oximetria 📌 Triagem cardiológica neonatal: Teste da oximetria de pulso (ou “do coraçãozinho”) RN com IG >34 semanas, entre 24-48h de vida. Medida da saturação em 2 pontos: MSD e um dos MMII Normal: ambos > 95% e diferença < 3% Anormal: repetir em 1h. Se mantida, solicitar Eco Teste de Oximetria de Pulso (Teste do coraçãozinho) Realizar a aferição da oximetria de pulso em todo o RN aparentemente saudável com idade gestacional > 34 semanas, antes da alaga da unidade neonatal . 1. Local de aferição: membro superior direito e em um dos MMII, com as extremidades aquecidas, e que o monitor evidencie uma onda de traçado homogêneo. 2. Momento da aferição: entre 24 e 48 horas de vida, antes da alta hospitalar; 3. Resultado normal: saturação periférica ≥95% em ambas as medidas (membro superior direito e membro inferior) e diferença < 3% entre as medidas do membro superior direito e membro inferior. 4. Resultado anormal: caso qualquer medida da SpO2 seja menor que 95% ou haja uma diferença ≥ 3% entre as medidas do membro superior direito e membro inferior p, uma nova aferição deve ser realizada após 1 hora. Se o resultado se confirmar, um ECG deve ser realizado dentro das 24 horas seguintes; 5. Limitações: esse teste apresenta sensibilidade de 75% e especificidade de 99%. Sendo assim, algumas cardiopatias críticas podem não ser detectadas por ele, principalmente aquelas do tipo coartação de aorta. A realização desse teste não descarta a necessidade de realização do exame físico minucioso e detalhado em todo RN, antes da alta hospitalar. Exame físico: palpação de pulsos centrais Carotídeo, braquial e femural Exame físico: palpação de pulsos periféricos Radial, pedioso, tibial posterior Palpar pulsos nos 4 membros Observar se há diferenças entre membros superiores e inferiores Exame físico: inspeção e palpação precordial 📌 Abaulamento precordial ou precórdio hiperdinâmico: sugestivo de cardiomegalia 📌 Palpação de íctus: 5 EIC, linha hemiclavicular Desvio para E: sugestivo de hipertrofia VE 📌 Palpação de frêmitos nos focos de ausculta e precórdio; altamente sugestivos de cadiopatias O exame físico deve ser completo e realizado de forma sistematizada. A técnica e a sequência dependem da idade do paciente, sendo que o exame físico realizado em um lactente pode não ser realizado na mesma sequência que em um adolescente, mas ambos devem ser completos. Sugere-se iniciar com a aferição dos sinais vitais. Esses dados devem ser analisados e interpretados levando-se em consideração a idade da criança por meio de tabelas específicas. Exame físico: ausculta cardíaca 📌 Ambiente silencioso 📌 Criança calma 📌 Esteto de tamanho adequado, aquecido, com diagragma (ruídos de alta frequência) e campânula (ruídos de baixa frequência) 📌 Os focos de ausculta são os mesmos 📌 Podem ser descritos de acordo com reparos anatômicos 📌 Auscultar região axilar, supraesternal e dorso 📌 Identificar 1 e 2 bulha primeiro, demais ruídos após Inspeção Geral Deve-se observar o aspecto da criança, procurando alterações que possam estar relacionadas a alguma síndrome genética (p.ex., síndrome de down, Williams, turner, noonan). Estado nutricional, padrão respiratório e cianose devem ser observados. Nos casos de cianose, deve-se observar se há presença de baqueteamento digital, o que significa estado de hipoxemia crônica, geralmente maior que 6 meses de evolução. Quando ao padrão respiratório, deve-se observar se há retrações subsistais e/ou intercostal, além de deformidades torácicas, o que costuma ocorrer nos casos de insuficiência cardíaca em que há aumento do fluxo pulmonar e do trabalho respiratório. A ausculta deve ser sistematizada de forma a percorrer toda a região precordial, a região axilar bilateral, o dorso e a região supraesternal. A rotina natural é começar pela região apical (área mitral), depois borda esternal esquerda baixa (área tricúspide), borda esternal esquerda média, borda esternal esquerda alta (área pulmonar) e finalizar na borda esternal direita alta (área aórtica). Em cada foco de ausculta, deve-se procurar analisar inicialmente a B1 (sístole), a B2 (diástole) e, somente após isso, os demais ruídos. Quando um sopro está presente, geralmente ele tira a concentração e impede de fazer a avaliação inicial das bulhas. É necessário ter disciplina para não permitir que isso ocorra, pois é preciso definir o ciclo cardíaco (B1 e B2) antes de analisar qualquer sopro. Muitos erros ocorrem quando não se segue essa sistematização. Ruídos Cardíacos 📌 B2: está relacionada ao fechamento das valvas aórtica e pulmonar, sendo mais audível nos focos pulmonar (borda esternal esquerda alta) e aórtico (borda esternal direita alta). O melhor local para se analisar a B2 é no foco pulmonar. Tem dois componentes, o aórtico (A2) e o pulmonar (P2), sendo que o P2 ocorre um pouco após o A2. A intensidade da B2 nessa região e a presença de desdobramentos devem ser bem analisadas. 📌 B1: está relacionada ao fechamento das valvas mitral e tricúspide, sendo mais audível nos focos mitral (apical) e tricúspide (borda esternal esquerda baixa). Tem dois componentes, o mitral e tricúspide, sendo que a distância entre esses componentes é pequena, e não é comum observar desdobramentos da B1 na criança. Em condições normais, a B1 tem maior intensidade no foco mitral, porém, em algumas situações de hipertensão no ventrículo direito, ela passa a ser mais intensa no foco tricúspide (p.ex., transposição das grandes artérias); - Desdobramento normal de B2: a B2 normalmente apresenta um desdobramento variável com o ciclo respiratório, sendo maior na inspiração e diminuição na expiração. - Alterações patológicas de B2: as principais alterações estão relacionada ao desdobramento e à intensidade da B2 no foco pulmonar; - Desdobramento amplo e fixo de B2 ocorre em situações em que a sístole do ventrículo direito é prolongada, como na comunicação intertrial e no bloqueio de ramo direito; - B2 única (ausência completa de desdobramento) pode significar hipertensão pulmonar (P2 aproxima-se de A2), presença de apenas uma valva arterial (atresia pulmonar, tronco arterial comum), ou quando se ouve apenas o componente A2 por conta de uma má posição da valva pulmonar (p.ex., transposição das grandes artérias, tetralogia de Fallot); - Quando à intensidade, B2 hiperfonética pode indicar hipertensão pulmonar, enquanto B2 hipofonética ocorre na estenose pulmonar; 📌 B3: ocorre na fase inicial da diástole, quando o fluxo de sangue atrial chega ao ventrículo. Pode ser um achado normal em crianças de 2 a 8 anos, mas está presente em cardiopatias com grande dilatação e redução da complacência do ventrículo esquerdo (p.ex., miocardiopatias, cardiopatias com grande shunt esquerda-direita). É um ruído audível, porém de menor intensidade que B1 e B2. Geralmente audível nos focos mitral e tricúspide (borda esternal esquerda baixa); A interrupção súbita do fluxo sanguíneo ocasionado pelo fe- chamento das valvas cardíacas é responsável pelo surgimento da 1a e da B2. Esses ruídos não são gerados pela coaptação das cúspides valvares, mas, sim, pela interrup- ção súbita do fluxo de sangue nas valvas fechadas. Isso gera um ruído audível de alta frequência e alta intensidade. O fluxo de sangue que passa normalmente pelo coração tem baixa fre-quência e não é audível. 📌 B4: ocorre na fase final de sangue final da diástole, após a contração atrial, quando esse fluxo de sangue se choca com um ventrículo dilatado e com alteração de complacência (p.ex., miocardiopatias). É um ruído sempre patológico). Sopro Cardíaca São produzidos em decorrência de um fluxo sanguíneo turbulento que causa uma vibrações nas estruturas intracardíacas e vascular de intensidade suficiente para ser transmitida e ser audível na parede torácica. O sopro deve ser identificado e analisado de forma sistematizado, devendo-se observar principalmente os seguintes aspectos: intensidade, localização em relação ao ciclo cardíaco (sistólico, diastólico, contínuo), localização principal e irradiação no tórax e intensidade. 1. Intensidade do sopro: a intensidade de um sopro é determinada pelo volume de sangue que se movimenta no local de turbulência de fluxo e o gradiente de pressão existente entre as câmaras cardíacas. Quanto maior o volume de fluxo e o gradiente de pressão, maior a intensidade do sopro. Utiliza-se a seguinte classificação para graduar a intensidade de um sopro: 📌 Grau 1 - audível apenas com ausculta cuidadosa; 📌 Graus 2 - sopro discreto, porém facilmente audível; 📌 Grau 3 - sopro moderado, porém sem frêmito; 📌 Grau 4 - sopro intenso, acompanhado de frêmito 📌 Grau 5 - sopro intenso, detectado com o estetoscópio tocando levemente o tórax; 📌 Grau 6 - sopro intenso, detectado mesmo sem o estetoscópio estar tocando totalmente o tórax. 3. Classificação quanto à localização no ciclo cardíaco: de acordo com a localização do sopro em relação à B1 e B2, o sopro é classificado em sistólico, diastólico ou contínuo: 📌 Sopro Sistolico: ocorre entre a B1 e B2 e é classificado em sopro de ejeção e de regurgitação, de acordo com o início de sopro em relação à B1: – sopro sistólico em ejeção: inicia-se após a B1 e tem caráter crescendo-decrescendo, geralmente terminando antes da B2. É geralmente causado pela obstrução ao fluxo sanguíneo nas vias de saída direita ou esquerda (estenótica pulmonar ou aórtica); – sopro sistólico em regurgitação: inicia-se junto à B1 (não há intervalo algum entre a B1 e o início do sopro) e geralmente tem duração mais longa, podendo ocorrer em toda a sístole (holossistólico). Esse tipo de sopro é sempre patológico e está presente nas seguintes situações: comunicação interventricular, insuficiência tricúspide e insuficiência mitral; 📌 Sopro diastólico: ocorre entre a B2 e B1 e é classificado em 3 tipos, de acordo com o mecanismo hemodinâmico causador do sopro: – comunicação aortopulmonar ou arteriovenosa: nestas pa- tologias, o fluxo turbulento mantém-se ao longo da sístole e da diástole na direção do território de maior pressão para o de menor pressão. O exemplo mais conhecido é a PCA, cujo sopro continuo é mais audível no foco pulmonar e na borda esternal esquerda alta, não havendo nenhuma modificação com o decúbito. Nos casos de fístulas arteriovenosas extracardía, como cerebrais ou hepáticas, o sopro continuo será audível nessas regiões (cenas, abdome). – sopro diastólico em regurgitação: inicia-se junto com a B2 (protodiastólico) e tem caráter em decrescendo, diminuindo sua intensidade ao longo da diástole até o início da B1. É o sopro característico da insuficiência das valvas arteriais. É mais audível na borda esternal esquerda média e geralmente tem irradiação para o foco mitral ou tricúspide. Na insuficiência aórtica, o sopro tem alta intensidade em virtude de um elevado gradiente entre a pressão da aorta e a pressão do ventrículo esquerdo, enquanto na insuficiência pulmonar, a intensidade do sopro será menor, exceto nos casos de hipertensão arterial pulmonar; – sopro diastólico de enchimento ventricular: decorre de uma estenose relativa das valvas mitral ou tricúspide em situações de alto fluxo através delas, como ocorre em cardiopatias com grande shunt esquerda-direita (p.ex., comunicação interventricular, comunicação interatrial). É mais audível no foco mitral ou tricúspide e geralmente é de pequena intensidade; – sopro diastólico pré-sistólico (contração atrial): ocorre no final da diástole, após a contração atrial. É característico da estenose mitral ou tricúspide. Como os gradientes de pressão são pequenos (5 a 10 mmHg), a intensidade desse sopro é pequena, mas tem uma característica típica que lembra um “ruflar”; 📌 sopro contínuo: ocorre durante todo o ciclo cardíaco, ou seja, sístole e diástole, sem ocorrer interrupção na B2. Os tipos principais são: - Estenose de artérias: como na coartação de aorta (sopro continuo no dorso); - sopro sistodiastólico: decorre de dupla lesão mas valvas nas valvas arteriais, como na estenose aortica associada a insuficiência aortica, ou na estenose pulmonar associada a insuficiência pulmonar. Nessas situações, o sopro será sistólica e diastólica, porém a direção do fluxo sanguíneo não será a mesma ao longo do ciclo cardíaco, o que o deferência do sopro continuo da PCA; - sopro venoso: decorre de uma discreta turbulência de fluxo na chegada das veias inominadas junto à véia cava superior direita. É um sopro benigno e faz parte do grupo de sopros inocentes. É mais audível na borda esternal direita, estando a criança em posição sentada, e geralmente desaparece na posição supina; Pulsos com amplitude diminuída em todas as extremidades demonstram redução do fluxo aórtico, o que ocorre nas le- sões obstrutivas do lado esquerdo (estenose aórtica grave, síndrome de hipoplasia do coração esquerdo), taquiarritmias graves e choque de qualquer etiologia. 📌 sopro inocente: a maioria das crianças (70 a 80%) apresenta algum tipo de sopro cardíaco inocente ao longo da infância, sendo mais frequente entre 3 e 5 anos de idade. Esse sopro não é patológico e não está associado à presença de cardiopatia. Eles geralmente são detectados ou se acentuam em situa- ções de elevação do débito cardíaco, como febre ou anemia. Os três principais tipos de sopro inocente são: - sopro de Still: é o tipo mais comum de sopro inocente. Trata-se de um sopro sistólico de ejeção de pequena intensidade (grau 1 a 2) localizado na borda esternal esquerda média, com timbre vibratório, cuja explicação fisiopatológica é o aumento da velocidade de fluxo na via de saída do ventrículo esquerdo ou a presença de uma pequena corda tendínea no ventrículo esquerdo; - sopro inocente pulmonar: é o segundo tipo mais comum; também um sopro de ejeção de pequena intensidade (grau 1 a 3) localizado na borda esternal esquerda alta. Também decorre de um aumento da velocidade de fluxo sanguíneo na via de saída do ventrículo direito, sendo mais comumente audível em crianças magras com tórax “fino” ou com pectus excavatum; - sopro venoso contínuo: é o terceiro tipo mais comum, já descrito anteriormente. Como o sopro é um sinal clínico muito comum em crianças, torna-se muito importante fazer o diagnóstico diferencial entre um sopro inocente e um sopro patológico. Na presença de um dos seguintes achados, o sopro deve ser considerado patológico e necessita de avaliação cardiológica especializada: 📌 Sintomas de insuficiência cardíaca ou cianose; 📌 Sopro sistólico com intensidade grau 3 ou mais, ou com frêmito; 📌 Sopro distólico; 📌 Alteração das bulhas cardíacas; 📌 Alteração nos pulsos arteriais (amplos ou diminuídas)n 📌 Alteração no ECG; 📌 Alteração na radiografia de tórax: cardiomegalia, silhueta cardíaca alterada ou alteração da trama vascular pulmonar. Avaliação do pulso arterial Os pulsos arteriais centrais e periféricos devem ser palpados nos membros superiores e inferiores (nas 4 extremidades). Deve-se avaliar tanto a presença quanto a intensidade do pulsoarterial, procurando-se fazer uma comparação entre o achado nos membros superiores e membros inferiores. Em uma criança que apresenta pulsos cheios e amplos nos membros superiores e pulsos finos ou ausentes nos membros inferiores, o diagnóstico de coarctação de aorta é praticamente certo. Pulsos com amplitude aumentada em todas as extremidades demonstram redução da pressão diastólica na aorta, o que ocorre na insuficiência aórtica e na persistência do canal arterial. Comunicação interventricular (CIV) Fluxo E --> D durante toda a sístole Sopro holossistólico Geralmente mais rude que na Insuf Mitral Depende do tamanho da CIV Irradiação para região paramediastinal direita Sopro contínuo: PCA Persistência do Canal Arterial Sopro contínuo, em “maquinário” Melhor auscultado em Foco Pulmonar e Ao Acessório Audível em dorso Referências
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