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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO Processo nº: 00359898-2018 Comarca – Vitória/ES EDITORA CONSTELAÇÃO, pessoa jurídica de direito privado, devidamente inscrita no CNPJ/MF sob o nº …, estabelecida na rua ..., nº ..., bairro ..., CEP ..., na cidade de ..., Estado do Espírito Santo, no qual contende com HOMERO FALCÃO, já qualificado nos autos retrocitados, vêm, respeitosamente, perante esse Tribunal, por meio de seu advogado infra-assinado (procuração em anexo), interpor o apropriado e tempestivo AGRAVO DE INSTRUMENTO, com fulcro no artigo 1.015, inciso I, do Código de Processo Civil, visando impugnar decisão proferida em sede de cognição sumária nos autos da ação de indenização por danos morais cumulada com obrigação de fazer e, ainda, pautadas nas razões de fato e de direito a seguir aduzidas. EGRÉGIA CÂMARA, EMINENTES DESEMBARGADORES DOS PRESSUPOSTOS RECURSAIS: JUÍZO DE ADMISSÃO I – DOS PATRONOS DAS PARTES Nos temos do artigo 1.016, inciso V, do CPC, a Agravante informa que sua defesa está a cargo do advogado …, OAB …, com escritório profissional estabelecido no endereço …, onde recebe as intimações. Por sua vez, conforme procuração anexada aos autos, informa que o patrono da Agravada é o advogado NANINHO ESPERTEZA, OAB/ES …, com escritório profissional estabelecido na Avenida Califórnia, nº 09, sala 234, bairro centro, na cidade de Vitória-ES. 1 II – DO CABIMENTO O CPC dispõe, em seu artigo 1.015, inciso I, que: “caberá agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre tutelas provisórias”. Verifica-se que a decisão proferida é interlocutória e concessiva de tutela provisória, sendo, portanto, perfeitamente cabível a busca pela sua reforma por meio do presente recurso de Agravo de Instrumento. III – DA TEMPESTIVIDADE O CPC dispõe, em seu artigo 1.003, § 5º, ser de 15 (quinze) dias úteis (artigo 219, CPC) o prazo para interpor recurso de Agravo, começando a contar da intimação das partes. Ocorre que, conforme consta nos autos, a intimação da decisão proferida deu-se em 24/03/2021, mas o mandado somente foi juntado aos autos no dia 29/03/2021. Portanto, em conformidade com o disposto no artigo 231, inciso II, do CPC, resta provado a tempestividade deste Recurso. IV – PEÇAS ESSENCIAIS Conforme disposto no artigo 1.017, do CPC, acompanha o presente recurso as peças essenciais à instrução do recurso, além da r. decisão guerreada e a competente certidão de intimação da Sentença, atestando não somente a tempestividade, mas também as procurações outorgadas aos patronos de ambas partes. V – DO PREPARO As respectivas guias de custas, devidamente recolhidas, atinentes ao preparo e ao porte de remessa e de retorno, encontram-se anexas aos autos, nos termos do artigo 1.007, do CPC. RAZÕES DE AGRAVO 2 Agravante: EDITORA CONSTELAÇÃO Agravado: HOMERO FALCÃO Processo nº 00359898-2018 Juízo a quo: 14ª Vara Cível da Comarca da Capital do Estado do Espirito Santo 1 – SÍNTESE FÁTICA Trata-se de ação de indenização por danos morais cumulada com obrigação de fazer, proposta pelo agravado HOMERO FALCÃO em face desta agravante EDITORA CONSTELAÇÃO, onde o agravado alega que a obra revela fatos de sua vida privada, sem que tenha havido autorização prévia, o que lesionaria sua personalidade, causando-lhe dano moral, e que, sem a imediata interrupção da divulgação da biografia, essa lesão se ampliaria e se consumaria de forma definitiva, aduzindo então o perigo de dano irreparável e o risco ao resultado útil do processo. Importante frisar, Excelências, que o Agravado foi um cantor de grande sucesso na década de 1990, sendo que, por conta do consumo exagerado de drogas ilícitas, dentre outros excessos, acabou afastando-se da vida artística e pública, vivendo recluso em uma chácara no interior do Estado do Espírito Santo, fatos estes constantes na Biografia lançada pela Agravante, sendo o motivo do litígio. Ocorre que o Juízo “a quo” acatou a argumentação do Agravado e concedeu-lhe a antecipação de tutela para condenar a Agravante a não mais vender exemplares da Biografia, bem como recolher todos aqueles que já tiverem sido remetidos aos pontos de venda e que ainda não tivessem sido vendidos, no prazo de cinco dias, sob pena de multa diária de cinquenta mil reais. 2 – DAS RAZÕES PARA REFORMA DA DECISÃO 2.1 – Da ausência da probabilidade do direito À luz do Ordenamento Jurídico Pátrio, é nula a probabilidade do êxito do Agravado em conseguir obstar definitivamente a venda de sua biografia, sob a alegação de que não autorizou sua publicação. Ocorre que a Suprema Corte Federal, em controle concentrado de constitucionalidade no julgamento da ADI nº 4815, impôs a interpretação conforme a constituição dos artigos 20 e 21, do Código Civil brasileiro, declarando ser inexigível a autorização prévia para a publicação de biografias, em consonância com os direitos fundamentais à liberdade de expressão da atividade 3 intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença de pessoa biografada, relativamente a obras biográficas literárias ou audiovisuais. Assim sendo, temos que a Agravante agiu no regular exercício do direito à liberdade de expressão, nos exatos termos de entendimento da Suprema Corte, que invocou o artigo 5º, inciso IX, da CF/88, para decretar a inexigibilidade de autorização da pessoa biografada, ainda mais considerando que se tratam de fatos verdadeiros e que o Agravado é pessoa pública, já que é considerado artista de grande expressão no cenário artístico nacional. Portanto, é medida de rigor a reforma da decisão proferida pela primeira instância, para permitir a venda do material produzido. 2.2 – Da atribuição de efeito suspensivo É de inegável obviedade que a manutenção da decisão acarretará graves danos de difícil reparação à Agravante, dada a dimensão da sanção econômica e logística que impôs à Editora Constelação. Por ter fundamento constitucional reconhecida pelo STF, o presente recurso tem indiscutível probabilidade de provimento, a ensejar para este Agravo de Instrumento a imediata concessão do efeito suspensivo, na forma do artigo 995, parágrafo único, do CPC. 3 – DOS PEDIDOS Ante aos fatos acima expostos, requer a Agravante que Vossas Excelências se dignem a atribuir efeito suspensivo imediato ao presente recurso, provendo-o, ao final, de modo a revogar a tutela concedida em primeiro grau, autorizando a livre venda das biografias, por ser medida de Justiça. Nestes termos, pede deferimento. Local, 20 de abril de 2021. Advogado OAB/ES xxx 4