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FACULDADE CIÊNCIAS MÉDICAS DE MINAS GERAIS SAÚDE DA MULHER II GABRIELA PICCHIONI BAÊTA - 68A AMENORRÉIAS Definição: ausência de fluxo menstrual espontâneo. Pode ser classificada em primária ou secundária para descrever, respectivamente, a ausência de menstruação sem a ocorrência de menarca ou após a menarca. AMENORREIA PRIMÁRIA: A ausência da primeira menstruação espontânea caracteriza a amenorreia primária, que deve ser investigada quando: - > 13 anos em mulheres sem desenvolvimento puberal (caracteres sexuais secundários) - > 15 anos, independentemente da presença de caracteres sexuais secundários, ou após 5 anos de telarca • Anamnese e EF - Avaliar presença e sequência de caracteres sexuais secundários. Quando observamos a presença dos caracteres sexuais secundários estamos avaliando se a paciente foi exposta ou não ao estrogênio, o que mostra que ela possui gônadas funcionantes. Já a ausência desses caracteres mostra uma hipofunção das gônadas. Para avaliar os caracteres sexuais secundários utilizamos o estadiamento de Tanner (IMAGEM 1). • HF, antecedentes de trauma, cirurgia e radioterapia ou quimioterapia, estigmas específicos (podem sugerir síndromes) • Exame ginecológico: buscar avaliar a presença de anomalias genitais, hímen imperfurado e vaginometria • Diagnóstico: Amenorreia em si não é um diagnóstico etiológico, mas sim um sintoma. Para melhor abordagem da paciente precisamos definir a etiologia da amenorreia. Para isso, na maioria das vezes fazemos: - Dosagens hormonais (FSH, prolactina principalmente), em alguns casos TSH e testosterona. - Exames de imagem: US, TC, RNM (avaliação de sela túrcica e hipófise) - Cariótipo Seguimos o raciocínio com base na presença ou não dos caracteres sexuais secundários. Temos 3 situações diferentes: - Pacientes com caracteres sexuais femininos e amenorreia (mostra que elas tiveram ação do estrogênio) - 30% - Agenesia Mulleriana, Insensibilidade Androgênica, Septo Vaginal, Hímen imperfurado, constitucional/idiopática - Faz-se a avaliação morfológica dos órgãos - Pacientes sem caracteres sexuais e amenorreia (não tiveram ação do estrogênio) - Pacientes com caracteres sexuais discordantes e amenorreia (mostra hiperandrogenismo, ex: hirsutismo) próxima e se distanciando nas demais Então: 1. Pacientes COM caracteres sexuais secundários femininos e amenorreia Etiologia se relaciona principalmente a alterações estruturais. A primeira coisa será determinar a presença ou ausência de útero (pelo EF e US). - OBS: Embriogênese da genitália feminina O período inicial do desenvolvimento genital é um estágio indiferenciado do desenvolvimento sexual. Antes da 7ª semana as gônadas dos 2 sexos são idênticas em aparência e são chamadas de gônadas indiferenciadas. O desenvolvimento de um fenótipo masculino requer um cromossomo Y funcional, que possui o gene SRY, que determina a diferenciação testicular. A testosterona produzida pelos testículos fetais, dihidrotestosterona e o hormônio antimulleriano (HAM) determinam a diferenciação sexual masculina normal. A diferenciação sexual feminina primária independe de hormônios e ocorre mesmo se os ovários estiverem ausentes. O HAM ou SIM (substância anti-Mulleriana) suprime o desenvolvimento dos ductos paramesonéfricos (de Muller), os quais formam os 2/3 superiores da vagina, o útero e as tubas uterinas. Os ductos mesonéfricos (de Wolf) desempenham uma parte importante no desenvolvimento do sistema reprodutor masculino. A testosterona estimula esses ductos a formar ductos genitais masculinos. Assim, nos embriões femininos os ductos de Wolf regridem devido a ausência de testosterona e os ductos de Muller persistem devido à ausência de SIM/HAM. O desenvolvimento sexual feminino durante o período fetal independe da presença de ovários ou hormônios. Mais tarde, os estrogênios produzidos pelos ovários maternos e pela placenta estimulam o desenvolvimento das tubas uterinas, do útero e da FACULDADE CIÊNCIAS MÉDICAS DE MINAS GERAIS SAÚDE DA MULHER II GABRIELA PICCHIONI BAÊTA - 68A parte superior da vagina (2/3) a partir dos ductos de Muller. O 1/3 inferior da vagina e genitália externa tem origem embriológica diferente das outras estruturas citadas, o seio urogenital. Anomalias Mullerianas: uma das principais anomalias estruturais e que pode ser responsável pelas amenorréias. Geralmente em hipoplasias e agenesias de útero, colo e terço superior da vagina.. Útero Funcionante: alterações estruturais isoladas em um útero anatomicamente funcionante, como os septos ou a agenesia de colo. Como as partes da vagina tem origem embriológica diferentes, pode haver não junção das 2 partes da vagina. Síndrome Mayer-Rokitansky-Kuster-Hauser: nessa síndrome ocorre a alteração ginecológica em que há ausência total do corpo do útero. OBS: os ovários têm origem embriológica diferente e assim estão presentes em todas essas patologias, por isso são pacientes em amenorreia mas com presença dos caracteres sexuais secundários femininos. Ausência de vagina: não há cavidade vaginal - Técnica de Frank: quando temos uma mulher com canal vaginal presente, porém menor do que o normal, podemos tentar fazer a dilatação do canal, caso a paciente deseje, utilizando moldes rígidos de PVC, para tentar evitar a intervenção cirúrgica. Para essa técnica o terço inferior da vagina precisa ser >2 cm. - Indicações de neovagina cirúrgica - Impossibilidade de realizar a técnica não invasiva - Unir a cavidade vaginal neoformada a um útero existente (para fertilidade) - Malformação do seio urogenital associada a agenesia vaginal - Estenose vaginal por radioterapia Hímen imperfurado: alteração frequente na prática clínica e uma causa de amenorréia primária. Se não diagnosticada antes da menarca, normalmente a paciente cursa com dor cíclica, associada a demora para absorção desse sangue pelo organismo. – hematocolpo (acúmulo de sangue) Síndrome da Insensibilidade Completa aos Androgênios: o principal diagnóstico diferencial das anomalias mullerianas. São mulheres de aparência normal, apesar da presença de testículos (geralmente no abdome, canais inguinais ou grandes lábios) e uma constituição cromossômica 46, XY. Os genitais externos são femininos, mas a vagina geralmente termina em bolsa cega e o útero e tubas uterinas são ausentes ou rudimentares. Na puberdade há o desenvolvimento normal de mamas e outros caracteres, entretanto a menstruação não ocorre e geralmente ela tem pilificação diminuída, só na região dos grandes lábios, sem atingir todo o períneo e pelve. A falha de ocorrência de masculinização resulta de uma resistência à ação da testosterona ao nível celular no tubérculo genital e pregas labioescrotais e uretrais. Geralmente se associa a mutações pontuais em genes que codificam o receptor de androgênio, obedece herança recessiva ligada ao X. OBS: durante o período embrionário temos nos 2 sexos produção de estrogênio pelas gônadas maternas e existe conversão periférica de testosterona em estrogênio, contribuindo para o fenótipo feminino da paciente. Além disso, a genitália externa feminina e o 1/3 inferior da vagina tem desenvolvimento passivo nesse período. Suspeitar quando: pilificação reduzida, palpação de massas abdominais (testículos) e dosagens altas de testosterona. Em aproximadamente 1/3 ou 25% desses indivíduos tumores malignos se desenvolvem em torno dos 50 anos de idade, mas raramente antes dos 20 anos, assim geralmente se espera a interrupção do crescimento estatural e fechamento das epífises/fim do desenvolvimento puberal para exérese dos testículos e reposição hormonal. FACULDADE CIÊNCIAS MÉDICAS DE MINAS GERAIS SAÚDE DA MULHER II GABRIELA PICCHIONI BAÊTA - 68A 2. Pacientes SEM caracteres sexuais secundários femininos e amenorreia São pacientes em que há evidência de hipogonadismo (ausência de exposição ao estrogênio), que pode ser hipergonadotrófico (FSH alto, geralmente associado a causas genéticas e cromossômicas) ou hipogonadotrófico (FSH baixo, geralmente associada a alterações centrais de hipotálamo e hipófise). 2.1.FSH elevado - Estigmas de Turner (45 X): hipergonadismo hipergonadotrófico. - Alterações mais comuns: linfedema congênito, baixa estatura, alterações dermatográficas, pescoço de esfinge (alado), implantação posterior de cabelo em tridente, cúbito valgo, unhas hiperconvexas, palato em ogiva... - Risco CV: já se observou que essas pacientes tem outras malformações conjuntivas que podem se associar a desfechos cardiovasculares como por exemplo dissecção aórtica (100x + chance), aorta bicúspide, coarctação ou dilatações aórticas, subclávia aberrante, conexões anômalas… - Diagnóstico: exame físico geral, avaliação do FSH (↑) e TSH (10% tem alterações) e então o cariótipo de células periféricas - Ao cariótipo: Se houver presença de fragmentos do cromossomo Y deve ser feita a exérese da gônada → risco aumentado de tumor - Terapia hormonal exógena para evitar osteoporose precoce (proporcionar também dieta rica em cálcio) → deve ser precoce e iniciado com doses baixas para mimetizar o processo puberal fisiológico. A dose pode ser aumentada a cada 6 meses ou rapidamente nos diagnósticos tardios. Associar progesterona após menstruação ou após 2-3 anos para proteção endometrial - Pura 46 XX - Mistas XY 2.1. FSH baixo: alterações no SNC e no eixo hipotalamo-hipófise-ovários - Atraso fisiológico - Tumores de SNC - Síndrome de Kallmann - insuficiência pulsátil de GnRH causando deficiência de FSH e LH. Associa-se a anosmia. São consequência da migração neuronal durante o desenvolvimento fetal 3. Pacientes com caracteres sexuais secundários discordantes e amenorreia Nesses pacientes é necessário realizar o cariótipo, US e dosar T, DHEA-S, 17-OHP - Avaliar: SOP, Hiperplasia congênita da suprarrenal → cursam com produção aumentada de androgênios e ausencia de ciclo por inibição do eixo
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