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Isabelle Marques - 142 Oftalmo Glaucomas INTRODUÇÃO DINÂMICA DO HUMOR AQUOSO E PRESSÃO INTRAOCULAR O globo ocular pode ser separado anatomicamente em 3 espaços fluidos intercomunicantes: · Câmara anterior → entre a córnea e a íris · Câmara posterior → entre a íris e o plano equatorial do cristalino e corpo ciliar · Corpo vítreo → entre o cristalino e a retina O segmento anterior do olho contém as câmaras anterior e posterior, que se comunicam através da pupila e são preenchidas pelo humor aquoso. O humor aquoso está em constante renovação, existindo um perfeito equilíbrio entre a sua produção e drenagem. · Produção de Humor Aquoso: · Produzido pelas células do epitélio duplo do corpo ciliar → secretam sódio, cloreto e bicarbonato, que carreiam água por mecanismo osmótico (70% do sódio acompanha a secreção de bicarbonato, que depende da anidrase carbônica, responsável por converter CO2 + H2O em HCO3, dissociando-se em H+ e HCO3- · Por isso a Acetazolamida (inibidor da anidrase carbônica) é usada no tratamento do glaucoma, pois inibe a secreção de bicarbonato pelo corpo ciliar, diminuindo a produção de humor aquoso e, assim, diminuindo a pressão intraocular · Lançado na câmara posterior do olho (entre íris e cristalino) · Drenagem do Humor Aquoso: · Via convencional → ângulo de filtração iridocorneano (80-95% da drenagem) O fluxo do humor aquoso é direcionado da câmara posterior para a câmara anterior através da pupila. Uma vez na câmara anterior, esse líquido é drenado por tecidos do ângulo de filtração iridocorneano (via convencional). Neste local, existe uma estrutura denominada rede trabecular (trabeculado córneo-escleral), que acompanha toda a circunferência da junção iridocorneana em conjunto com mais duas estruturas: o esporão escleral, interpondo-se entre a rede trabecular e a raiz da íris, e o canal de Schlemm, um microvaso de drenagem. O humor aquoso é filtrado na rede trabecular, ganhando o canal de Schlemm, de onde flui para o plexo venoso episcleral. · Glaucoma primário de ângulo aberto → a via convencional está disfuncionante, mas estruturalmente preservada · Glaucoma primário de ângulo fechado e glaucoma secundário → a via convencional possui alterações estruturais ou anatômicas que obstruem o ângulo de filtração e/ou provocam bloqueio pupilar (PIO assume valores extremos) · Agentes colinérgicos (mióticos), como o colírio Pilocarpina → aumentam a drenagem do humor aquoso por essa via por aumentar a contração do músculo ciliar e do esfíncter da pupila, o que provoca tensão do esporão escleral e, consequentemente, a “abertura” das trabéculas da rede trabecular, reduzindo a PIO · Agentes midriáticos, como os colírios cicloplégicos (usados em exames de refração e fundoscopia) → podem desencadear uma crise aguda de glaucoma em pacientes que apresentam o ângulo de filtração anatomicamente pequeno (ângulo fechado), provocando grande aumento da PIO · Não ocorre no glaucoma de ângulo aberto · Via alternativa → fluxo úveo-escleral (5-20% da drenagem) · Não passa pela rede trabecular, difundindo-se pelos canais que correm pela raiz da íris e pelo músculo ciliar até alcançar os vasos da esclera · Colírio de Latanoprost (análogo de prostaglandina) → aumenta o fluxo do humor aquoso por essa via e, atualmente, é a droga mais usada no tratamento do glaucoma de ângulo aberto · Pressão intraocular (PIO) → pressão normal de 12-21 mmHg · Tem uma variação circadiana → níveis maiores pela manhã (8-11 horas) e menores de madrugada (00-02 horas) · Como o globo ocular não pode aumentar o seu volume, o aumento da quantidade de humor aquoso eleva automaticamente a PIO · Causas para PIO aumentada → aumento da produção de humor aquoso ou comprometimento da drenagem · Exame para medição → tonometria de aplanação · Efeitos: · Efeito beta adrenérgico → aumenta a produção de humor aquoso · Efeito alfa 2 adrenérgico → reduz a produção de humor aquoso e aumenta sua drenagem · Fármacos → devido a seus efeitos, usa-se colírios de beta bloqueadores ou de agonistas alfa 2 para reduzir a produção de humor aquoso, diminuindo a PIO DEFINIÇÃO DE GLAUCOMA Glaucoma é uma doença de causa desconhecida caracterizada pela degeneração dos axônios da papila do nervo óptico (neuropatia da papila óptica), podendo levar esses neurônios à morte. No glaucoma, a papila assume uma forma escavada e afilada, deformando a lâmina cribiforme e podendo gerar uma cegueira irreversível. Na maioria das vezes, o glaucoma associado ao aumento da pressão intraocular, mas existe uma minoria de casos de glaucoma (em torno de 15%) com PIO normal. Papila Óptica Estrutura em forma de disco Diâmetro → 1,5 mm Visualizada na fundoscopia É a origem do nervo óptico Formada pela convergência de todos os axônios (fibras desmielinizadas) das células ganglionares da retina TIPOS DE GLAUCOMA · Glaucoma primário de ângulo aberto (mais comum → 90% dos glaucomas) · Glaucoma agudo de ângulo fechado · Glaucoma secundário · Glaucoma congênito GLAUCOMA PRIMÁRIO DE ÂNGULO ABERTO (GPAA) É uma doença crônica de causa desconhecida, definida pela presença de 4 elementos em conjunto: · Neuropatia glaucomatosa → confirmada pro alterações clássicas na fundoscopia e estudo do campo visual · "Ângulo aberto" = ausência de alterações estruturais obstrutivas no ângulo de filtração do humor aquoso · Ausência de causas secundárias · Início na fase adulta EPIDEMIOLOGIA · 2ª causa de cegueira entre adultos no mundo (1ª é a catarata) · Diferente da catarata, que é curável, o glaucoma é irreversível (é a causa mais comum de cegueira irreversível no mundo) · Prevalência → 1-3% · Principais fatores de risco → aumento da PIO leve/moderado, idade avançada, raça negra e história familiar positiva · Outros fatores → corticóides (principalmente os oculares tópicos presentes nos colírios), diabetes mellitus, hipertensão arterial, baixa pressão de perfusão ocular diastólica, miopia de alto grau e pseudo-exfoliação OBS: Glaucoma suspeito → ocorre em indivíduos com PIO elevada sem lesão glaucomatosa (possuem risco elevado de glaucoma). PATOGÊNESE · Desconhecida, mas sabe-se que tem causa multifatorial · Efeito importante → efeito mecânico da PIO sobre as fibras axonais da papila óptica (maior susceptibilidade no glaucoma) · Ocorre degeneração da rede trabecular junto com uma proliferação endotelial e edema, com consequente redução da drenagem do humor aquoso · Deposição de fatores da matriz extracelular na rede trabecular · Principal hipótese → comprometimento microvascular, que leva à isquemia crônica da papila (relacionado à idade) MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS · Assintomática nas fases iniciais → o ideal é que todos os indivíduos realizem consultas preventivas no oftalmologista, especialmente aqueles que possuam fatores de risco (diagnóstico precoce) · Causas para a ausência de queixas visuais nas fases iniciais: · Não há sintomas oculares do tipo dor ou desconforto · O comprometimento ocular é quase sempre bilateral, mas geralmente assimétrico → como um olho enxerga bem, o paciente não percebe o déficit visual no outro olho · Comprometimento principal da visão periférica (menos usada) · Evolução insidiosa · Surgimento dos primeiros sintomas pode significar perda irreversível de grande parte da visão TONOMETRIA (MEDIDA DA PIO) · Deve ser um exame rotineiro em toda consulta oftalmológica, mas não pode ser o único exame de triagem para o GPAA (porque PIO é variável e existem glaucomas de pressão normal) · PIO > 21 mmHg → importante fator de risco para glaucoma · Método mais usado e confiável → tonometria de aplanação · Cálculo direto da PIO · Método mais antigo → tonometria de indentação · Cálculo indireto da PIO pelo grau de indentação da córnea · Paciente precisa estar em decúbito dorsal · Menos confiável que a tonometria de aplanação, mas é mais disponível nas emergências INDICAÇÃO DE TRIAGEM (basta preencher 1 critério) · Indivíduos com PIO > 21 mmHg · Brancos > 65 anos · Negros > 40 anos · História familiar positiva (parente de 1º grau) · DM · Miopia de alto grau DIAGNÓSTICO ·Fundoscopia ou oftalmoscopia (estudo da morfologia da papila óptica) · Exame inicial obrigatório na avaliação do glaucoma → as alterações aparecem antes de ocorrerem déficits no campo visual detectáveis na perimetria · Pode ser direto ou indireto · Achado clássico → escavação no centro da papila óptica · Deve ser comparada com o diâmetro total da papila (relação escavação-papila · Perimetria (estudo do campo visual) · Demonstra alterações apenas nos pacientes com mais de 40% das fibras do nervo óptico afetadas · Defeitos característicos → degrau nasal, escotoma paracentral, escotoma de Siedel, escotoma arqueado · 2 métodos: · Perimetria manual de Goldmann · Perimetria computadorizada de Humphrey (preferência para o diagnóstico de glaucoma) OBS: Gonioscopia → importante para avaliar o ângulo iridocorneano e verificar se o glaucoma é de ângulo aberto. TRATAMENTO · Redução da PIO → a cada diminuição de 1 mmHg na PIO, reduz-se o risco de progressão do glaucoma em 9% PIO alvo = redução de 20-40% Objetivo final → estabilizar a lesão glaucomatosa · Farmacológico → terapia inicial, com colírios redutores da PIO · Beta bloqueadores (1ª escolha para início do tratamento) → reduzem a produção de humor aquoso · Timolol, Levobunolol e Betaxolol · Possui diversos efeitos adversos · Contraindicações → asma, bradiarritmia e ICC descompensada · Análogos de prostaglandinas (2ª escolha) → aumentam a drenagem do humor aquoso pela via alternativa · Latanoprosta, Travoprosta, Bimatoprost e Unoprostone · Efeitos adversos são raros · Alto custo · Agonistas alfa 2 adrenérgicos → reduzem a produção de humor aquoso e aumentam a drenagem de humor aquoso pela via convencional · Apraclonidina, Brimonidina · Poucos efeitos colaterais (boca seca, reações alérgicas) · Inibidores da anidrase carbônica → reduzem a produção de humor aquoso ao inibir a secreção de bicarbonato · Dorzolamida e Brinzolamida · Colinérgicos/mióticos → aumentam a drenagem do humor aquoso pela via convencional · Pilocarpina, Isoptocarpine · São as mais baratas e mais antigas · Efeito adverso → induz a miopia · Intervencionista → indicada quando a PIO alvo não foi atingida com a farmacoterapia otimizada ou quando a lesão glaucomatosa continua a progredir mesmo quando a PIO alvo foi atingida com a farmacoterapia ou quando há intolerância à terapia farmacológica · Trabeculoplastia a laser de argônio → o laser, focado no ângulo iridocorneano, "abre" anatomicamente a rede trabecular, facilitando a drenagem do humor aquoso (são necessárias várias aplicações) · Efeito dura apenas 3-5 anos · Trabeculectomia cirúrgica → indicada nos casos refratários a todas as demais terapias ou em pacientes que já irão operar catarata · Criação de um canal alternativo de drenagem do humor aquoso · Acompanhamento (a cada 3-4 meses) → tonometria, fundoscopia e perimetria OBS: A visão perdida não pode ser restaurada, mesmo com o tratamento, pois é irreversível. OBS 2: Nos casos de glaucoma suspeito, as indicações para fazer um tratamento com redução da PIO são: · Pelo menos 1 fator de risco importante para GPAA (raça negra, história familiar positiva, idade avançada, uso prévio de corticoide) · Oftalmopatias de alta predisposição ao glaucoma (miopia de alto grau, pseudo-esfoliação, trauma ou cirurgia ocular prévios, uveíte prévia, síndrome da dispersão pigmentar...) · PIO > 30 mmHg GLAUCOMA PRIMÁRIO DE ÂNGULO FECHADO (GPAF) O glaucoma primário de ângulo fechado é definido pela presença de um ângulo iridocorneano (ângulo de filtração) estreito na vigência da lesão neuropática glaucomatosa. O ângulo estreito é decorrente de alterações anatômicas que aproximam a raiz da íris da córnea, o que pode comprometer estruturalmente a drenagem do humor aquoso pela rede trabecular. Pode se manifestar de forma aguda, subaguda ou crônica. Por via de regra, a PIO encontra-se significamente elevada, sendo este o grande deflagrador da lesão glaucomatosa. EPIDEMIOLOGIA · Predomínio na faixa etária entre 55-70 anos · Prevalência → 0,1% em adultos da raça branca acima de 40 anos e de 2-5% nos asiáticos e esquimós · Principais fatores de risco: · Ângulo iridocorneano estreito · Idade > 40 anos · Sexo feminino (3:1) · Asiáticos e esquimós · História familiar positiva (parente de 1° grau) · Hipermetropia · Diabetes mellitus · Síndrome da íris plateau · Pseudo-esfoliação PATOGÊNESE · Bloqueio pupilar → mecanismo mais comum do GPAF, que ocorre após os 50 anos de idade em indivíduos que nasceram com uma câmara anterior estreita · Como a espessura do cristalino aumenta com a idade, essa estrutura pode encostar demais na íris, dificultando a passagem do humor aquoso pela pupila e gerando um acúmulo de líquido na câmara posterior, que irá formar um gradiente de pressão e empurrar a íris para frente, estreitando ainda mais o ângulo iridocorneano · PIO frequentemente normal · Maior propensão à crise de fechamento total do ângulo de filtração (bloqueio pupilar total), desencadeando a crise aguda de glaucoma (glaucoma agudo de ângulo fechado) · Precipitada por estresse emocional, meia-luz (ex: cinema, teatro…) e aplicação de colírios midriáticos em exames de fundoscopia ou refração · PIO costuma atingir 40-80 mmHg (lesiona a papila óptica em questão de horas, provocando amaurose irreversível) · No glaucoma subagudo de ângulo fechado, o bloqueio não chega a ser total, mas a patogênese é semelhante (crises brandas autolimitadas pela elevação da PIO) · Formação de sinéquias periféricas (aderências entre a raiz da íris e a rede trabecular) → acontece no glaucoma crônico de ângulo fechado devido a um bloqueio pupilar parcial crônico · Causam obstrução total permanente de parte da circunferência do ângulo iridocorneano · Íris plateau → defeito constitucional da íris, que se apresenta achatada no centro e angulada demais na periferia devido à proeminência do corpo ciliar empurrando a sua raiz · O ângulo iridocorneano torna-se bastante estreitado e o paciente pode evoluir com qualquer um dos 3 tipos de glaucoma de ângulo fechado (agudo, subagudo ou crônico), sendo a forma crônica a mais comum · Mais comum em mulheres jovens (30-40 anos) · Geralmente, vem associada à um bloqueio pupilar AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA · Exame oftalmológico rotineiro → avaliação do ângulo iridocorneano (triagem dos pacientes com ângulo estreito, especialmente se > 40 anos) · Teste da iluminação oblíqua · Teste de van Herick na lâmpada de fenda (teste de triagem mais usado) → permite classificar o ângulo da câmera anterior em graus · Apenas grau 3 e 4 podem receber colírios midriáticos · Gonioscopia → indicado quando o teste de van Herick for positivo · Padrão ouro para determinação do ângulo iridocorneano · Permite diagnosticar íris plateau e outras doenças associadas ao glaucoma de ângulo fechado · Biomicroscopia com ultrassom → muito preciso, porém caro (reservado para quando houve dúvida mesmo após a gonioscopia) · Testes provocativos (simulam situações de meia midríase) · Teste do quarto escuro · Teste do decúbito prona · Teste do decúbito prona em quarto escuro · Teste midriático · Outros exames indicados para determinar a PIO e a existência de glaucoma · Tonometria de aplanação · Fundoscopia (oftalmoscopia) → para avaliação da papila óptica · Perimetria do campo visual GLAUCOMA AGUDO DE ÂNGULO FECHADO (CRISE AGUDA DE GLAUCOMA) Trata-se de uma emergência médica que, se não reconhecida e prontamente tratada, acarreta em perda completa e irreversível da visão do olho afetado, o que pode ocorrer ao longo de poucas horas. · Características: · Geralmente, após 50 anos em pacientes do grupo de risco · Precipitada por qualquer situação indutora da meia midríase (estresse emocional, meia luz ou iatrogenias) · Pode ser desencadeada pelo próprio médico após aplicar um colírio midriático-cicloplégico antes de fazer uma fundoscopia → para que isso não ocorra, é importante a realização, pelo menos, do teste de iluminação oblíqua (e idealmente o teste de van Herick) antes de aplicar esses colírios · Reversão → colírio alfa adrenérgico(Dapiprazol) · Início abrupto, acometendo, quase sempre, apenas um olho · Muito provável (até 50%) uma crise no outro olho nos 2 próximos anos · Pode simular uma crise grave de enxaqueca · Diferença → PIO extremamente elevada · É uma das múltiplas causas de Síndrome do Olho Vermelho · Sintomas: · Dor ocular e retroorbitária · Cefaleia frontal · Fotofobia · Lacrimejamento · Náuseas e vômitos · Sudorese fria · Borramento visual · Visão de halos em volta de luzes · Sinais: · “Olho vermelho”, com injeção conjuntival perilímbica (em volta da córnea) · Haze corneano (certa opalescência da córnea decorrente do edema corneano) · Pupilas em meia-midríase, não fotorreagentes/pouco fotorreagentes devido à isquemia iriana · PIO extremamente elevada, entre 40-90 mmHg · Tratamento: · Objetivo → diminuir a PIO o mais rápido possível, controlando a crise e a prevenindo dano glaucomatoso imediato · Terapia farmacológica (para controle da crise) · Agentes osmóticos sistêmicos → Manitol venoso 2,5-10 ml/kg de uma solução a 20% · Cuidado com o uso em cardiopatas e nefropatas (risco de EAP) · Inibidores da anidrase carbônica sistêmicos → Acetazolamida 500 mg VO , seguido de 250 mg VO a cada 6 horas · Contraindicação → história de alergia à sulfa · Pacientes com hipersensibilidade à Acetazolamida podem desenvolver graves reações idiossincrásicas, · Colírio de beta bloqueador → Timolol 0,5% 1 gota a cada 12 horas até a realização da iridotomia a laser · Em pacientes com contraindicação, pode-se optar pelo colírio de Betaxolol 0,25% · Colírio de alfa 2 adrenérgico → colírio de Apraclonidina 1% 1-2 gotas, repetindo-se após 1 hora, se necessário · Efeito aditivo aos beta bloqueadores · Colírio de colinérgico → colírio de Pilocarpina 2 ou 4% a cada 15-30 minutos (total de 2-4 doses) · Superdosagem → crise colinérgica · Indentação corneana → um swab ou uma lente de gonioscopia é forçada gentilmente no centro da córnea · Facilita a drenagem do humor aquoso e pode desfazer o bloqueio pupilar · Terapia adjuvante → colírio de esteroide (alívio da inflamação ocular), analgésicos sistêmicos (em casos de dor refratária) e antieméticos (controle de náuseas e vômitos) · Laserterapia (após controle da crise, como medida definitiva para o tratamento do glaucoma) · Iridotomia periférica a YAG laser (método de escolha) → feita 2-7 dias após o controle da crise, desfazendo o bloqueio pupilar · Complicações mais comuns → borramento visual transitório, uveíte anterior transitória e pequenas hemorragias · Complicações mais graves → descolamento de retina (raríssimo) e ocorrência de novas crises de glaucoma agudo · Iridoplastia periférica a laser de argônio ou gonioplastia → não é tratamento definitivo, pois não desfaz o bloqueio pupilar · Indicado em situações de emergência não resolvida com medicamentos · Complicações menos frequentes · Cirurgia (iridectomia periférica) → menos indicado para o glaucoma de ângulo fechado (preferência pela laserterapia) · Sua indicação será mandatória nos casos refratários à laserterapia (raro) OBS: Durante a crise aguda, a tonometria deve ser aferida a cada 30 minutos. Se a PIO não diminuir de 21 mmHg após 2 horas de tratamento farmacológico, deve ser feita a iridoplastia a laser de argônio, em caráter de urgência. Se, ainda assim, a PIO continuar acima de 21 mmHg após 4-6 horas de tratamento, o paciente deve ser encaminhado para uma cirurgia de urgência (iridectomia periférica). GLAUCOMA SUB AGUDO DE ÂNGULO FECHADO · Patogênese → igual ao glaucoma agudo, mas com uma elevação da PIO de menor gravidade · Surtos repetidos oligossintomáticos · Tratamento → iridotomia a laser GLAUCOMA CRÔNICO DE ÂNGULO FECHADO · Ocorre em indivíduos com ângulo iridocorneano estreito e discreto bloqueio pupilar, que apresentam a formação progressiva de sinéquias na periferia da íris, que preenchem uma porção da circunferência iridocorneana (geralmente a metade superior) · Outros mecanismos: · Íris plateau · Uso crônico de colírios colinérgicos mióticos · Síndrome de glaucoma combinado (ângulo fechado e aberto) · Tratamento: · Iridotomia periférica YAG laser → desfaz e previne qualquer grau de bloqueio pupilar · Iridoplastia periférica a laser de argônio → realizada após a iridotomia periférica caso o ângulo permaneça estreito e “fechável” (graus 1, 2 ou 3 de van Herick) · Goniosinesquiálise → retirada das sinéquias OBS: Se após a abertura do ângulo (confirmado pela gonioscopia), a PIO continuar elevada, provavelmente o paciente apresenta a síndrome do glaucoma combinado, devendo ser tratado de forma igual ao GPAA. GLAUCOMA SECUNDÁRIO SÍNDROME DA PSEUDO-EXFOLIAÇÃO · Glaucoma de ângulo aberto · Doença idiopática na qual a cápsula anterior do cristalino “descama” um material que, através da pupila, alcança a câmara anterior e obstrui lentamente a rede trabecular · Diagnóstico → exame da lâmpada de fenda · Tratamento → igual ao GPAA · Resposta excelente à trabeculoplastia a laser de argônio SÍNDROME DA DISPERSÃO PIGMENTAR · Glaucoma de ângulo aberto · Desordem idiopática caracterizada pela liberação de pigmento da face posterior da íris ao ser atritada contra as fibras zonulares do cristalino → o pigmento se dispersa, passando pela pupila e atingindo a câmara anterior, obstruindo insidiosamente a rede trabecular · Antes do glaucoma se instalar, o paciente pode referir sintomas da síndrome, como: episódios de borramento visual e dor ocular induzida pelo exercício físico · Epidemiologia → homens jovens (entre 20-50 anos), negros e míopes · Diagnóstico → transiluminação da íris · Tratamento → uso crônico de colírios colinérgicos mióticos (Pilocarpina) · Boa resposta à trabeculoplastia a laser de argônio GLAUCOMA TRAUMÁTICO COM RECESSÃO ANGULAR · Glaucoma de ângulo aberto · Ocorre muitos anos após um trauma ocular fechado, associado à formação de um hifema (sangue na câmara anterior) não adequadamente tratado · O sangue se acumula no ângulo iridocorneano traumatizado, levando à formação de aderências e obstrução da drenagem pela rede trabecular · Tratamento → semelhante ao do GPAA, com algumas diferenças como evitar usar os colírios mióticos e acrescentar um colírio midriático ciclopégico ao esquema · Nos casos refratários, indica-se a trabeculectomia cirúrgica GLAUCOMA PÓS-UVEÍTE · Pode ser de ângulo aberto ou fechado · Uveíte anterior → 20% dos pacientes desenvolvem glaucoma · Ângulo aberto → tipo mais comum, decorrente do acúmulo de debris leucocitários e de proteínas inflamatórias na rede trabecular · Ângulo fechado → formação de sinéquias posteriores (tornam a íris aderida ao cristalino e, com isso, induz o bloqueio pupilar) ou de sinéquias anteriores (provocam a aderência da raiz da íris ao ângulo iridocorneano, tornando-o mais estreito) · Síndrome da uveíte heterocrômica de Fuchs → uveíte leve unilateral que provoca alterações da pigmentação da íris, deixando um olho mais claro que o outro (aumenta o risco de glaucoma e catarata) · Síndrome de Posner-Schlossman ou crise glaucomatociclítica → crises agudas de elevação da PIO, com pouca ou nenhuma inflamação ocular pela liberação aguda de prostaglandinas · Tratamento: · Prevenir ou desfazer as sinéquias posteriores da íris → aplicação regular de colírios de corticóide e colírios midriáticos-cicloplégicos para · Glaucoma instalado → colírios beta bloqueadores associados · Casos refratários → trabeculectomia cirúrgica FACOGLAUCOMA (SECUNDÁRIO À CATARATA) · Pode ser de ângulo aberto ou fechado · Complicações raras das cataratas · 3 tipos: · Facolítico → ângulo aberto · Facoanafilático → ângulo aberto · Facomórfico → ângulo fechado GLAUCOMA NEOVASCULAR (RETINOPATIA DIABÉTICA PROLIFERATIVA) · Glaucoma de ângulo fechado · Associado à retinopatia diabética proliferativa e à oclusão da veia central da retina e, menos frequentemente, a causas como oclusão da artéria central da retina, doença carotídea aterosclerótica e arterite temporal · Patogênese → isquemia crônica dos tecidos oculares, provocando a liberação de fatores angiogênicos que são responsáveispela formação de neovasos na retina, papila óptica, corpo ciliar, íris e ângulo iridocorneano · A raiz da íris torna-se espessada e produz o estreitamento do ângulo · Tratamento → fotocoagulação panretiniana a laser GLAUCOMA CONGÊNITO · Menos comum que a catarata congênita GLAUCOMA CONGÊNITO PRIMÁRIO · Glaucoma de ângulo aberto · Criança nasce com uma disgenesia angular (defeito na formação do ângulo de filtração iridocorneano) · Não hereditária · Epidemiologia → acomete 1 a cada 10.000 NV · Características: · Bilateral → ⅔ dos casos · Unilateral → ⅓ dos casos · Geralmente assimétrico · Tríade clássica: · Epífora (lacrimejamento excessivo crônico) · Fotofobia · Blefaroespasmo · Outros sinais e sintomas: · Aumento da córnea (nos casos unilaterais ou bilaterais muito assimétricos, há uma diferença notável no tamanho da córnea entre um olho e o outro) · Córnea opalescente (translúcida) · Aumento do globo ocular (buftalmo) → causa miopia secundária · Injeção conjuntival O aumento da córnea se dá tanto no seu diâmetro quanto na sua espessura. Por vezes, o alargamento da córnea é assimétrico, provocando astigmatismo. Este aumento estica o tecido corneano e costuma lesar o endotélio e a membrana de Descemet, formando as estrias de Haab, pequenas cicatrizes de aspecto linear ou arqueado, em posição horizontal. Por estas “quebras” de membrana, o humor aquoso invade o estroma corneano causando edema de córnea (especialmente em crianças menores de 6 meses de vida). A maioria dos sinais e sintomas do glaucoma congênito são provenientes deste edema. · · Diagnóstico: · Tonometria · Fundoscopia · Tratamento → deve ser realizado o mais rápido possível (até 1 ano de vida), pois a lesão na criança progride mais rápido que no adulto · Cirúrgico · Goniotomia → corte sobre a rede trabecular (indicada quando não há opalescência significativa da córnea) · Trabeculotomia (abertura do canal de Schlemm (preferido quando há opalescência significativa da córnea) · Pós operatório → beta bloqueadores e colinérgicos mióticos (para evitar uma 2ª cirurgia) OBS: Os sinais e sintomas podem aparecer ao nascimento (glaucoma congênito verdadeiro) ou durante os primeiros 2-3 anos de vida (glaucoma infantil). GLAUCOMA CONGÊNITO SECUNDÁRIO · Causado por diversas doenças, como síndrome de Sturge-Weber, aniridia, disgenesia do segmento anterior e retinopatia da prematuridade GLAUCOMA AFÁCICO · Glaucoma desenvolvido 4-6 anos após cirurgia em crianças < 6 meses com catarata congênita · Único tratamento para catarata congênita é a retirada do cristalino e, abaixo dos 6 meses de idade, não há uma boa adaptação à colocação de lente intraocular artificial, logo, essas ficam sem cristalino (afácicas) · Risco de ocorrência → 12%
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