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ALFABETIZAÇÃO E LITERATURA INFANTIL Profa. Ma. Stefani Edvirgem da Si lva Borges profstefanisi lva@gmail .com OBJETIVOS DA AULA: ➢Buscar encaminhamentos pedagógicos que possam contribuir para o desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita e de valores para a formação cidadã da criança; ➢ Explanar as especificidades e a relação dialética entre os conceitos de alfabetização e letramento; ➢ Apresentar a unidade entre a faceta fonética e semântica da palavra e a importância de ter o texto como unidade de trabalho no ensino da língua escrita; ALFABETIZAÇÃO E LITERATURA INFANTIL EXPERIÊNCIAS DE LEITURA ➢Conte rapidamente uma história que marcou você. ➢Você costuma contar histórias? ➢Se estivesse na sala de aula, como seria o momento de leitura? A IMPORTÂNCIA DA LEITURA A escola pode e precisa ser este ambiente de leitura. Você pode e precisa ser este leitor maduro. Lendo com e para seus alunos, você vai fazer com que eles aprendam a ler com desenvoltura. Você vai possibilitar que se familiarizem com diferentes modos de ler: eles vão aprender a se envolver nas emoções e sentimentos que a leitura de uma boa história libera; vão posicionar-se em relação aos valores éticos que os textos apresentam. E eles vão gostar de ler, porque vão conseguir entender os diferentes textos, que lhes fornecem as informações necessárias para que aprendam o que quiserem aprender e entendam melhor o mundo em que vivem. Seus alunos vão aprender a ler bem. E vão saber usar a leitura para várias coisas. O professor é peça chave na “aquisição de leitura” da criança. Ele precisa ser um contador de histórias; fará a leitura do texto para os alunos (que não sabem ainda ler); fará roda de leitura; fará momentos de leitura diários e curtos; ensinará a cuidar dos livros. Escolherá obras de ficção narrativa e poesia para a infância. PARA REFLETIR: O QUE É INFÂNCIA? NARRATIVAS INFANTIS Incentivar a leitura para as crianças é uma decisão fundamental e que estimulará o raciocínio, a criatividade e o senso crítico dos pequenos, desde cedo. Na literatura infantil existem alguns tipos de narrativas ou gêneros para lidar com esse tipo de público leitor. É uma área rica de criação e transporta-os para mundos inimagináveis, onde as histórias podem se tornar grandes aliadas em seu dia a dia. Popularmente chamado de “faz de conta”, o jogo simbólico, surge durante o 2º ano de vida. A criança ultrapassa uma barreira do seu desenvolvimento, e apenas manipular os objetos não lhe traz mais tanta satisfação. Nesta fase, as crianças conquistam a capacidade de imaginar um objeto e criar situações, sem haver necessidade do concreto, ou seja, adquirem uma forma particular de pensamento que é a IMAGINAÇÃO. Enquanto brinca de faz de conta, entende a realidade em que está inserida, supera pressões, enfrenta medos e angústias, socializa-se, exercita diferentes papéis sociais (médico, pintor, policial, princesa, príncipe etc.), expressa a si própria, desenvolve a linguagem, trabalha em equipe, apropria-se de sua cultura, das regras e dos limites da nossa sociedade. A criança assimila de uma forma mais prazerosa o seu eu e tudo que vivenciou até então. Neste universo mágico, não faltam oportunidades para o desenvolvimento das habilidades cognitivas, emocionais e sociais. Uma proposta de educação que se quer de fato transformadora, competente, democrática, emancipatória, construtivista só será possível se a escola tiver sucesso no empreendimento de formar leitores. A literatura infantil, por seu caráter lúdico- mágico é o caminho natural, a chave mágica que abre a porta de entrada principal que dá acesso ao mundo da leitura e a tudo o que ela pode proporcionar (FRANTZ, 2001, p. 14). A literatura infantil, como seu adjetivo determina, é a literatura destinada à criança, que tem como objetivo principal oferecendo- lhe, através do fictício e da fantasia, padrões para interpretar o mundo e desenvolver seus próprios conceitos (CADEMARTORI, 1986). Através da literatura, a criança também tem acesso à herança cultural, de uma maneira adequada à sua idade, enriquecendo seu conhecimento e construindo sua personalidade. Por meio dela, a criança estabelece uma relação de harmonia entre fantasia e realidade, facilitando a compreensão das coisas do mundo adulto e a resolução de conflitos internos. “A literatura infantil é também ludismo, é fantasia, é questionamento, e dessa forma consegue ajudar a encontrar respostas para as inúmeras indagações do mundo infantil, enriquecendo no leitor a capacidade de percepção das coisas” (FRANTZ, 2001, p. 16). A literatura infantil nasce a partir de algumas transformações sociais e tem suas origens na Europa. Apesar de já existir manuscritos destinados às crianças, como tratados de pedagogia, escritos pelos protestantes com fins religiosos, a literatura pedagógica, na cultura erudita e a literatura oral, de vertente popular, o francês Charles Perrault é considerado o pioneiro da literatura infantil. No século XVII, Perrault coleta narrativas populares e lendas da Idade Média e adapta-as, atribuindo-lhes valores comportamentais da classe burguesa, constituindo os chamados contos de fadas (CADEMARTORI, 1986). No Brasil, apenas se pode falar em literatura infantil, após a implantação da Imprensa Régia, em 1808, com a chegada de D. João VI ao país. As obras publicadas nessa época eram traduções e adaptações das obras portuguesas. Até esse momento nossas crianças liam textos não literários escritos por pedagogos com intenções didáticas e/ou moralizantes. Considerando que as obras adaptadas eram de origem europeia, o primeiro registro de literatura infantil brasileira dá-se pelas mãos de Monteiro Lobato, em 1920, com a obra A menina do narizinho arrebitado (CADEMARTORI,1986). Por não gostar muito das traduções dos livros europeus e por ser um nacionalista ardoroso, Lobato desenvolveu aventuras para nossas crianças com características típicas brasileiras, integrando costumes do campo e lendas do nosso folclore. O sítio do Picapau Amarelo é um exemplo disso, pois destaca bem características da vida rural e da cultura brasileira. As obras infantis de Lobato antecipam uma realidade que supera os preconceitos históricos e ignora o moralismo tão presente nas obras destinadas à criança, na época, tais como a moral oficial, os preceitos religiosos e as normas estatais. “(...) Tia Nastácia, esquecida dos seus numerosos reumatismos, trepou que nem uma macaca de carvão pelo mastro de São Pedro acima, com tal agilidade que parecia nunca ter feito outra coisa na vida senão trepar em mastros.(...)” PARA REFLETIR: Depois de Lobato, a produção de literatura infantil no Brasil ficou reprimida por um longo período e só a partir da década de 70 é retomado esse gênero no país. Considerando que o analfabetismo é um problema constante no Brasil, nesse período, houve a tentativa de erradicar com esse problema investindo na alfabetização de adultos, com o Mobral (Movimento Brasileiro de Alfabetização), que não obteve resultados positivos. A continuidade da situação de subdesenvolvimento no Brasil mostrou que os problemas não se resolviam com o letramento dos adultos, nem com a facilidade de ingressar no ensino superior. Diante dessa situação, buscou-se uma nova alternativa: investir no ensino básico, valorizando o livro como instrumento indispensável para o desenvolvimento intelectual das crianças. Pode-se dizer que a alfabetização insere o indivíduo no mundo da escrita e da leitura textual, mas não garante sua plena atuação em virtude de outros fatores: recursos financeiros para adquirir o livro, tempo para frequentar bibliotecas e a falta de um projeto social que desperte a consciência crítica por meio da leitura. ALFABETIZAÇÃO: LETRA E FONEMA LETRA UNIDADE ESCRITA/GRAFADA FONEMA UNIDADE SONORA/O QUE SE OUVE SIGNIFICADO E SIGNIFICANTE O significado é o próprio conceito do signo, ou seja, a ideia que se tem de determinada palavra em todas as línguas. Exemplo: “casa”, comouma moradia ou; “cachorro”, como um animal mamífero que late. SIGNIFICADO E SIGNIFICANTE Significante é a forma gráfica e fonética (como se escreve e como se fala) do signo que forma a palavra que é atribuída para determinado significado. Exemplos: Cachorro: português Dog: Inglês Cane: Italiano Perro: Espanhol Chien: Francês Hund: Alemão Um aspecto fundamental para a aprendizagem da escrita é o desenvolvimento da consciência fonológica, que está intimamente relacionado à apropriação do sistema convencional de escrita. Piccoli e Camini (2012, p. 103) definem consciência fonológica como “[...] um conjunto de habilidades que permite à criança compreender e manipular unidades sonoras da língua, conseguindo segmentar unidades maiores em menores”. Consciência fonológica é a capacidade de segmentar de modo consciente as palavras em suas menores unidades, em sílabas e em fonemas. Considerada habilidade metalinguística de tomada de consciência das características formais da linguagem, é compreendida em dois níveis, sendo eles: a consciência de que a língua falada pode ser segmentada em unidades distintas, ou seja, a frase pode ser segmentada em palavras, as palavras em sílabas e as sílabas em fonemas e que palavras são constituídas por sequências de sons e fonemas representados por grafemas. ALFABETIZAÇÃO: CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA BOLA SENTIDO/ CONCEITO SONS DA PALAVRA ESCRITA DA PALAVRA ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO A alfabetização é o processo pelo qual a criança aprende a decodificar os elementos que compõem a escrita. Esta decodificação passa pela memorização do alfabeto, reconhecimento das letras e ligação entre sílabas. Mas o que muitas pessoas não sabem é que esta alfabetização por si só, não prepara o indivíduo para o mundo letrado. O letramento é um pouco mais profundo do que a alfabetização. Ele corresponde à interpretação e o domínio da língua e, não apenas à decodificação dela. Quando o aluno é capaz de entender um texto, interpretar uma história, falar com clareza e se expressar de forma eficaz por meio das palavras empregadas por ele, torna-se então indivíduo letrado. ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Uma pessoa que sabe ler e escrever, é alfabetizada. Já uma pessoa letrada sabe usar a leitura e a escrita de acordo com as demandas sociais. O letramento torna o indivíduo apto a organizar discursos, interpretar e compreender textos e a refletir sobre eles. Já a alfabetização deixa o indivíduo apto a desenvolver os mais diversos métodos de aprendizado da língua. ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO POSSIBILIDADES DE EXPLORAÇÃO DO TEXTO: É necessário inserir a criança no meio letrado de diversas formas, antes que ela aprenda efetivamente a ler e a escrever. O intuito disso é tornar a leitura e a escrita uma consequência de atividades que são promovidas pelos pais e pela pré-escola. Assim, a criança terá um relacionamento e uma afinidade maior com o mundo da escrita e da leitura e, assim, reconhecerá as palavras por meio destas ações lúdicas do dia a dia. Por isso, não adianta alfabetizar e fazer com que a criança aprenda sem que este hábito faça parte de seu cotidiano. Decorar algumas palavras não é saber ler e escrever, assim como, não adianta que a criança conheça a letra apenas como um desenho. Ela precisa conhecê-la como um som que, consequentemente, forma uma palavra, uma frase e um texto. ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO CHAPEUZINHO AMARELO ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO • Lobo – Bolo; • Pata – Tapa; • Paca – Capa; • Pato – Topa; • Mato – Toma • Moto – Tomo • Lata – Tala • Lego – Gole • Caju – Juca • Cama – Maca ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO A MENINA E O LÁPIS DE COR Estava ainda aprendendo as minhas primeiras letras. A professora nos disse que iríamos fazer um trabalho muito importante. Iríamos fazer um cartaz sobre as pessoas de nossa família. Aprenderíamos a escrever seus nomes e os desenharia. Desenhei por ordem de altura, meu pai, meu irmão, minha irmã, minha mãe e eu. - Professora, que cor eu uso para pintar minha família? A professora se aproximou com cuidado, parecia que as palavras ficaram dentro dela. Ela pensou muito e me disse: - “Use o cor de pele para pintar sua mãe e você e o marrom ou preto para pintar os outros”. - Mas professora, esse cor de pele é rosado, e o preto é muito escuro, eu nunca vi gente dessas cores. A senhora já viu? A professora balançou a cabeça e sorriu. Disse docemente: - Eu nunca vi. Eu tinha agora um grande problema, minha mãe saberia a resposta. Mamãe, mamãe, tenho um problema... - Qual, querida? - Como faço para pintar minha família, se cada um aqui em casa tem uma cor? Minha mãe sorriu e disse: - Teremos que comprar uma caixa de lápis com mais cores, que tenha vários tons de marrom. No caminho para casa eu lhe perguntei por que cada pessoa tem uma cor, e minha mãe me explicou, do jeito dela, que papai do céu fez as pessoas assim para que elas pudessem entender que são as diferenças que tornam cada ser especial. - Pronto, professora, agora como eu escrevo os nomes? Ela pegou meu cartaz e sorriu. - Sua família é colorida assim? - Sim, temos negros de todos os tons lá em casa. - E você, de que cor você é? -Eu sou negra, professora, como todos os outros lá de casa. MARTINS, Silvana. (In: Cadernos Negros – Contos afro-brasileiros. Vol. 38. São Paulo: Quilombhoje, 2015.) REFERÊNCIAS BUARQUE DE HOLANDA, Chico. Chapeuzinho Amarelo. 36p. Ilustrações de Ziraldo. José Olympio Editora, RJ, 2011. CADEMARTORI, Lígia. O que é literatura infantil. São Paulo: Brasiliense, 1986. Coleção Primeiros Passos. FRANTZ, Maria Helena Zancan. O ensino da literatura nas séries iniciais. 3 ed. Ijuí: UNIJUÍ, 2001. Coleção Educação. GODINHO, Marilene. Cada letra uma aventura. Ilust. Alberto Pinto. Juiz de Fora, Minas Gerais: Franco Editora, 2008 FURNARI, Eva. Não confunda. São Paulo : Moderna, 1991. LAGARTA, Marta. Rima ou Combina. São Paulo: Ática, 2009 MACHADO, Ana Maria. Menina Bonita do laço de fita.Rio de Janeiro: Ática, 2000. SOARES, Magda. (2016). Alfabetização: a questão dos métodos. São Paulo: Contexto. _____________. (2017). Alfabetização e letramento. 7. ed. São Paulo: Contexto.
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