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FARMACOLOGIA A FARMACODINÂMICA A Farmacodinâmica estuda os mecanismos pelos quais um fármaco atua sobre as funções bioquímicas ou fisiológicas de um organismo vivo. Este ramo da Farmacologia realiza o estudo quantitativo, isto é, a relação dose-resposta dos efeitos biológicos e terapêuticos dos fármacos. Local de Ação dos Fármacos Para que se desenvolva uma ação farmacológica, o fármaco deve alcançar o local do organismo onde deve atuar numa concentração determinada e esta parte do organismo deve ter a capacidade de responder ao fármaco. Assim os fármacos podem ter ação local ou tópica que corresponde à produzida no local de aplicação, sem penetrar na circulação. Esta ação ocorre sobre a pele e mucosas, especialmente a respiratória e a digestiva. É evidente que a natureza química do fármaco é que determina sua não absorção. O subnitrato de bismuto exerce seu efeito localmente no trato digestivo protegendo a mucosa. A ação geral ou sistêmica é aquela produzida após a penetração do fármaco na circulação (absorção) e seu efeito manifesta-se nos diferentes órgãos, segundo a afinidade dos mesmos pelo fármaco. A ação indireta ou remota é exercida sobre um órgão que não está em contato com o fármaco ou não tem afinidade pelo fármaco, mas como conseqüência da ação do fármaco sobre outras estruturas, o mesmo age indiretamente sobre o órgão com o qual estas estruturas mantém ligações nervosas ou hormonais. A cânfora, por exemplo, irrita a pele quando aplicada localmente e pode provocar alterações da freqüência cardíaca por via reflexa. Ação Farmacológica É a modificação das funções do organismo no sentido de aumentá-las ou diminuí-las. Deve-se ter em conta que os fármacos não criam funções novas, apenas as modificam, sem tão pouco alterar as características das mesmas. O aumento ou diminuição de uma função pode, portanto, ser controlado através do uso de fármacos. Assim, os antiácidos não curam a úlcera, mas provocam a neutralização da acidez estomacal, favorecendo então a cicatrização da mucosa lesada. As manifestações da ação farmacológica que pode ser observada ou medida é chamada de efeito farmacológico, por exemplo a morfina age deprimindo o centro respiratório bulbar (CRB), sendo o efeito observado a diminuição da amplitude e freqüência respiratória. Logo o efeito será sempre uma conseqüência da ação farmacológica do fármaco. Alterações pelos Fármacos na Função Celular Conforme a ação farmacológica produzida pelos fármacos eles podem produzir alterações na função celular, tanto do homem como dos animais, modificando estas funções num grau controlado, conforme a quantidade administrada e a intensidade dos efeitos produzidos. Na maioria das vezes não restauram a integridade de células lesadas, mas sim proporcionam condições para a recuperação pelo organismo. Estimulação – é o aumento da atividade funcional das células de um órgão ou sistema, podendo pela estimulação prolongada, levar a uma depressão pelo esgotamento celular. A intoxicação por anestésicos locais na 1ª fase estimula e depois deprime; a cafeína aumenta as funções do córtex cerebral, a niketamida ou doxapram aumenta a função do centro respiratório e a estricnina aumenta a atividade reflexa da medula. Depressão - é a diminuição da atividade funcional das células de um órgão ou sistema, podendo abolir parcialmente as funções e levar à paralisia ou a morte se paralisar totalmente. Os barbitúricos deprimem a atividade do sistema nervoso central na sua totalidade. Tanto a depressão como a estimulação são processos reversíveis, dependendo do grau atingido, e uma vez metabolizado o fármaco, a função normal se normaliza. Irritação – é uma estimulação violenta que produz alterações na nutrição, crescimento e morfologia celular. Pode ser leve, produzida por purgantes e anti-sépticos; forte, pela ação do ácido salicílico e desinfetantes ou ainda corrosiva, pela ação do nitrato de prata, sulfato de cobre e o iodo. Substituição - é a administração de um fármaco com a finalidade de substituir secreções ausentes ou insuficientes por alguma causa patológica. É o caso da utilização da insulina no diabetes e do extrato de tireóide no hipotireoidismo. Antiinfecciosa ou Quimioterápica – é o uso de fármacos que são capazes de atenuar o crescimento ou destruir os microorganismos e parasitas causadores de enfermidades, sem, no entanto, produzirem efeitos nocivos sobre o hospedeiro. O uso, por exemplo, de antibióticos como a penicilina contra bactérias gram positivas ou antihelmínticos como o mebendazole no combate da ascaridiose. Seletividade - é a capacidade do fármaco de ter uma maior ação predominante sobre determinadas estruturas ou tecidos em comparação com uma menor ação em outros tecidos, embora possam estar igualmente expostos ao fármaco na mesma concentração. A seletividade é de grande importância terapêutica, porque permite atuar sobre uma função orgânica alterada pela doença, sem modificar as outras funções do organismo, embora em grandes quantidades administradas, o fármaco pode agir também em outras estruturas. Os glicosídeos têm ação seletiva sobre o miocárdio, com reações adversas no trato gastrointestinal e sistema nervoso central em altas doses, assim como as penicilinas têm alta seletividade por bactérias gram positivas, ou ainda os venenos protoplasmáticos como os fenóis e metais pesados que destroem microorganismos. COMO AGEM OS FÁRMACOS: PRINCÍPIOS GERAIS Fármacos são moléculas que interagem com componentes moleculares específicos de um organismo, produzindo alterações bioquímicas e fisiológicas dentro desse organismo. Os fármacos precisam interagir com constituintes específicos de células ou tecidos para produzirem efeito. Alvos Farmacológicos/Alvos moleculares PROTEÍNAS o Receptores. o Enzimas. o Canais Iônicos. o Transportadores. Há exceções: hidróxido de magnésio/alumínio – reação química com ácido clorídrico. Os receptores são os elementos sensores no sistema de comunicações químicas que coordenam a função de todas as células. Os canais iônicos permitem a passagem de determinados íons. Canais de sódio voltagem dependentes: encontrados em todas as fibras nervosas. Fibras aferentes primárias (C e delta) conduzem informação dolorosa da periferia para o corno dorsal – SNC – tálamo e córtex. Essa informação vai através da despolarização que ocorre pela entrada de sódio dentro da fibra nervosa. Antes o interior é negativo e o exterior é positivo e vai invertendo essas cargas. Anestésicos locais atravessam por difusão a fibra nervosa na sua forma não ionizada, fica a forma ionizada e bloqueia os canais de sódio Enzimas: envolvidas em processos fisiológicos. Fármaco se liga na enzima e impede que ela atue. Os transportadores permitem a movimentação de íons e pequenas moléculas orgânicas. Noradrenalina administrada irá agir em seus receptores alfa e beta. Depois que ela se liga em seus receptores e promove a resposta, ela sofre recaptação feita pela terminação pré-sináptica mas também um pouco pode ser recaptada pela pós-sináptica. Determinada quantidade volta para a terminação nervosa. A maioria dos Antidepressivos agem sobre esse transportador, inibindo a recaptação de noradrenalina, serotonina, adrenalina e de dopamina. Antidepressivos tricíclicos – noradrenalina. Inibidores seletivos de serotonina – fluoxetina, sertralina. Os mais modernos interferem também na recaptação de dopamina e adrenalina. Consequentemente, Essa noradrenalina não volta para a terminação nervosa, acumulando na fenda sináptica e assim, podendo reverter os sintomas da depressão. Essa se não for para dentro de vesículas é degradada, metabolizadaou biotransformada pela MAO. Exceção que não age nesse receptor: antidepressivos inibidores da MAO – mono amino oxidases, aumentando a biodisponibilidade de noradrenalina (não muito usada) - a-metil-tirosina inibe a enzima que converte tirosina em noradrenalina Fármacos tem ações distintas, pois agem em locais diferentes: analgésicos opioides, antiinflamatórios esteroidais, anti-histamínicos, bronquiodilatadores (exceção das teofilinas que agem em enzimas) , agem em receptores, antiinflamatórios não esteroidas como aspirina e paracetamol agem em enzimas, anestésicos locais, agentes dilatadores agem em canais iônicos, antidepressivos agem em transportadores. RECEPTORES São sensores. Muitos fármacos terapeuticamente úteis agem, ou como agonistas ou como antagonistas, sobre os receptores de mediadores endógenos. FAMÍLIAS DE RECEPTORES Com base na estrutura molecular e nos mecanismos de transdução: Agonista: Dependendo do receptor, pode se ter uma resposta imediata, ou pode ter um mecanismo de transdução ao ativar o receptor. RECEPTORES ACOPLADOS A CANAIS IÔNICOS o Receptores Nicotínicos: se liga a acetilcolina geralmente, a nicotina do cigarro. o Receptor GABA A: acoplado a canal de cloreto. Ligante natural é o GABA – principal neurotransmissor inibitório. Cloreto dentro, hiperpolariza o neurônio, ficando menos ativo. Anticonvulsivantes, benzodiazepínicos. Alcool. Barbitúricos, propofol, alfaloxona. o Receptor de Glicina. o Receptor 5-HT3. o Receptores para o Glutamato. Receptor acoplado ao canal iônico na superfície celular – chega um agonista fármaco ou ligante natural, se liga nesse receptor e a conseqüência é a abertura desse canal iônico. Se o canal for de sódio ou cálcio, a resposta vai ser a despolarização. Se for um canal de cloreto, leva uma hiperpolarização. Para se abrir: ligar 2 moléculas de acetilcolina. Entra sódio para dentro da célula e gera uma resposta excitatória. RECEPTORES ACOPLADOS A PROTEÍNA G o Receptores Muscarínicos o Receptores Adrenérgicos o Receptores de Dopamina o Receptores 5-HT o Receptores Opióides o Receptores Purinérgicos o Receptores Canabinóides o Receptores de Eicosanóides Compreende sete alfa-hélices transmembrana. Classe mais comum de alvos para fármacos. A família dos receptores ligados à proteína G representa a maioria dos receptores conhecidos na atualidade. Todos os receptores ligados à proteína G possuem sete hélices transmembranas; Uma das alças intracelular é maior que as outras e interage com a proteína G. As proteínas G são os mensageiros entre os receptores e as enzimas responsáveis pelas mudanças no interior das células. A proteína G, é uma proteína de membrana constituída de 3 subunidades denominadas, e (complexo), sendo que a subunidade se dissocia e possui atividade GTPase. Todas as 3 subunidades estão ancoradas na membrana citoplasmática, porém podem se deslocar livremente no plano da membrana. Quando o receptor é ocupado por uma molécula do agonista ocorre alteração conformacional no receptor fazendo com que este adquira alta afinidade pelo complexo. A ligação do complexo com o receptor provoca dissociação do GDP ligado a fração, sendo este substituído por GTP. A porção -GTP ativada se desloca na membrana e pode agir sobre várias enzimas e canais iônicos (proteína efetora), causando o conseqüente efeito celular. O processo é concluído quando o GTP é hidrolisado a GDP, pela GTPase da subunidade. O -GDP resultante dissocia-se da proteína efetora e une-se novamente às subunidades , completando o ciclo. Exemplos de receptores ligados a proteína G: receptores muscarínicos (mAChR), adrenoceptores ( e ), receptores NK1 e NK2 para taquicininas, receptor metabotrópicos para glutamato (mGLU). - Ela pode andar na membrana e ativar a enzima ou se dirigir a um canal iônico, favorecendo a sua abertura, gerando alterações na excitabilidade. Se abrir um canal de K, o K que está dentro da célula sai e hiperpolariza. Se abrir um canal de cloreto, hiperpolariza. Se abrir um canal de cálcio, entra Ca ou Na e despolariza. Existem vários tipos de proteína G: Gs – estimulante da enzima adenilil ciclase e ativa os canais de Ca2+ + Gi – inibidora da enzima adenilil ciclase e ativa os canais de K 2+ Go – relacionada com canais iônicos, inibe as correntes de Ca Gq – ativadora da enzima fosfolipase C: DAG (proteínas quinases) e IP3 (cálcio – RE) Gt – estimula a adenilil ciclase ocular Gdf - estimula a adenilil ciclase nasal PRINCIPAIS SUBTIPOS DA PROTEÍNA G Alvos da proteína G o Adenilil ciclase o Guanilil ciclase o Fosfolipase C o Fosfolipase A2/ácido araquidônico o Canais Iônicos (principalmente canais de Ca2+ e K). Sistema adenilil ciclase AMPc (3´ ,5´-adenosina-monofosfato cíclico). Hidrolisados pelas PDEs. A ativação da proteína Gs irá ativar a enzima adenilil ciclase que catalisa a formação intracelular de AMPc, a partir do ATP. O AMPc é um segundo mensageiro que ativa várias proteínas quinases que controlam a função celular em diferentes vias. A ativação da proteína Gi irá inibir a enzima adenilil ciclase, reduzindo os níveis de AMPc. Sistema guanilil ciclase/GMPc: Ativação da enzima guanilil ciclase pela proteína G, catalisa a formação de GMPc. GPMc é um segundo mensageiro envolvido na ativação de proteínas quinases, fosfodiesterases, canais iônicos. SISTEMA FOSFOLIPASE C A ativação da fosfolipase C pela proteína Gq, catalisa a formação de 2 mensageiros intracelulares, o inositol 1,4,5-trifosfato (IP3) e o diacilglicerol (DAG). O IP3 promove a liberação de ions Ca de compartimentos intracelulares. O aumento de cálcio livre inicia muitos eventos, incluindo contração, secreção, ativação de enzimas e hiperpolarização de membrana. O DAG ativa proteína quinase C que causa a fosforilação de diferentes proteínas intracelulares, levando aos efeitos fisiológicos ou farmacológicos. DAG – alta mente lipossolúvel, IP3 - hidrossolúvel Sistema fosfolipase A2 / Ácido araquidônico/eicosanóides: A ativação de receptores ligados à proteína G podem ativar a fosfolipase A2, que leva a produção de eicosanóides, a partir do ácido araquidônico. A função do ácido araquidônico e de seus metabólitos nos eventos intracelulares é complexa, incluindo alteração da abertura de canais iônicos ligados ao potássio, estabelecendo comunicação entre as células e também funcionando como hormônios locais. RECEPTORES LIGADOS A QUINASES o Fatores de crescimento. o Citocinas. o Leptina. o Insulina. Receptores ligados a tirosina-quinase: Receptores para vários hormônios (insulina) e fatores de crescimento incorporam tirosina-quinase no seu domínio intracelular. Estes receptores têm uma arquitetura em comum, com um grande domínio ligante extracelular conectado via uma única hélice a região catalítica. A transdução do sinal geralmente envolve dimerização do receptor, seguido pela autofosforilação dos resíduos tirosina. Os resíduos fosfotirosina atuam c para do domínio SH2 de uma variedade de proteínas intracelulares, permitindo, portanto, o controle de muitas funções celulares. Eles estão envolvidos principalmente em eventos que controlam o crescimento e diferenciação celular, e atuam pela regulação da transcrição gênica. RECEPTORES NUCLEARES o Hormônios Esteróides. o T3. o Vitamina D e A. Receptores que regulam a transcrição de DNA: Ligantes para estes receptores incluem os hormônios esteroidais, h. da tireóide, vitamina D e ácido retinóico. Estes receptores são proteínas que se encontram no interior da célula comoum constituinte solúvel do citosol ou do núcleo. Assim os ligantes devem primeiro entra na célula para depois se ligarem a estes receptores. Após a ligação, estes receptores sofrem uma alteração constitucional que expõe um sítio de ligação com alta afinidade a determinadas regiões do DNA nuclear, conhecidas como regiões hormônio-responsiva. Logo após essa ligação verifica-se aumento na atividade da RNA polimerase da produção de RNA mensageiro, como resposta que varia de horas a dias. Exemplos: receptores para glicocorticóides. A união fármaco-receptor envolve todos os tipos de interação- química conhecida: iônicas polares, pontes de H, forças de Van der Walls, e ligações covalentes. As ligações covalentes em geral correspondem à ações irreversíveis. Ex. ligação de organofosforados com a enzima acetilcolinesterase. Ocupação dos receptores O efeito de um fármaco nem sempre é diretamente proporcional ao número de receptores ocupados, embora na maioria das vezes seja assim, portanto a resposta depende do número de receptores ocupados. Há casos em que a ocupação de um número relativamente pequeno de receptores determina o aparecimento de um efeito máximo, neste caso o fármaco apresenta uma potência relativamente alta, pois pequenas doses são suficientes para obter-se o efeito. Especificidade dos fármacos Para que um fármaco seja de algum modo útil como instrumento terapêutico ou científico, ele deve atuar seletivamente sobre determinadas células ou tecidos. Deve exibir elevado grau de especificidade relativa ao sítio de ligação. Por outro lado, as proteínas que funcionam como alvos para fármacos geralmente demonstram alto grau de especificidade de ligante; reconhecem apenas ligantes de um tipo preciso e ignoram moléculas estreitamente relacionadas. Nenhuma substância atua com total especificidade. Em muitos casos, o aumento na sua dose afeta alvos diferentes do alvo principal, podendo resultar em efeitos colaterais. Interação fármaco-receptor A ocupação de um receptor por uma molécula de um fármaco pode ou não resultar em ativação do receptor. A ativação se refere à capacidade da molécula ligada de afetar o receptor de modo a desencadear uma resposta tecidual. A ligação e a ativação constituem duas etapas distintas na geração da resposta desencadeada por um agonista e mediada por um receptor. A tendência de um fármaco se ligar ao receptor é determinada por sua afinidade, enquanto que a tendência, uma vez ligada, de ativar o receptor é indicada pela atividade intrínseca ou eficácia. Afinidade: é a capacidade de ligação a um receptor. Atividade intrínseca ou eficácia: é a propriedade de gerar estímulos ao unir-se aos receptores produzindo uma resposta ou efeito. O estudo da farmacodinâmica baseia-se no conceito da ligação fármaco-receptor. Quando um fármaco ou ligante endógeno liga-se a seu receptor, pode ocorrer uma resposta como consequência. Quando existir um número suficiente de receptores ligados/ocupados haverá uma resposta na célula. Resposta máxima tem 100% receptores ocupados (* exceção receptores de reserva) Relações de dose-resposta Relação entre dose (concentração) do fármaco e a resposta do organismo a este fármaco- intimamente relacionado com a concentração de receptores que estão ocupados pelo fármaco. Aumentando a concentração do fármaco – esse fármaco vai se ligando aos receptores, ativando cada vez mais, até que chegue em uma resposta máxima (ocupando 100% dos receptores) Graduada: várias doses de um fármaco sobre o indivíduo. À medida que vai dando várias doses, vai observando a resposta. Quantal: várias doses de um fármaco sobre uma população de indivíduos. Usada para construir o índice terapêutico. Relações de dose-resposta GRADUADAS Potência (EC50): concentração em que o fármaco produz 50% de sua resposta máxima Eficácia (Emáx.): resposta máxima produzida pelo fármaco À medida que ia se adicionando mais doses, chega um ponto em que não há mais resposta – dose máxima – 100% receptores. Tanto o fármaco A, quanto o B são eficazes, pois atingiram a resposta máxima. No entanto, o A é mais potente que o B, pois foi usada uma concentração menor, para atingir os mesmos 50% do efeito. *Fármaco A na imagem tem mais afinidade pelos receptores – tempo mais curto e concentração menor para atingir os mesmos 50%. Curvas de ligação fármaco-receptor A kd é a constante de dissociação em equilíbrio para determinada interação fármaco-receptor. Um valor mais baixo de Kd, indica uma interação fármaco-receptor mais firme ( maior afinidade). A Kd pode ser definida como a concentração de ligante em que 50% dos receptores disponíveis estão ocupados. Quanto maior a afinidade, mais potente e menor a Kd (e gráfico mais para esquerda). Relações de dose-resposta QUANTAIS Dose efetiva mediana (DE50): efetividade. Dose tóxica mediana (DT50): efeitos adversos. Dose letal mediana (DL50): efeito letal. IT: DL50/DE50 Conceitos relacionados à interação fármaco receptor • Afinidade: Capacidade de se ligar ao receptor • Atividade intrínseca: Capacidade de ativar o receptor (α) • Os valores de α variam de 0-1 Interação FÁRMACO-RECEPTOR Agonista: fármaco que tem afinidade pelo receptor, se liga e ativa o receptor pois tem atividade intrínseca. Agonista total: α =1 Agonista parcial: α › 0 ‹ 1 Agonista parcial: molécula que liga ao receptor, mas que só produz uma resposta parcial. Antagonista: fármaco que tem afinidade, se liga ao receptor, mas não ativa o mesmo, pois não tem atividade intrínseca ( α = 0) Receptores reserva: possibilidade de obter uma resposta máxima com uma ocupação de menos de 100% dos receptores. Antagonista se liga no receptor do agonista. Tem afinidade, mas não tem atividade intrínseca. Se aumentar a concentração do agonista, este vai conseguir deslocar o antagonista. Depressão respiratória por morfina (agonista) – injetar analoxona que reverte os sintomas (antagonista que se liga no receptor); se aumentar a morfina, esta deslocará o analoxona. Antagonismo competitivo: representado em um gráfico em que a curva do antagonista é deslocada para direita, sendo que aquele tecido volta a ter a resposta máxima à medida que aumenta a concentração do agonista. Antagonismo Competitivo reversível: O antagonista compete com o agonista pelos mesmos sítios receptores, formando com ele um complexo inativo. Aumentando-se a quantidade do agonista, na presença do antagonista, o primeiro desloca o segundo do receptor. Antagonismo competitivo irreversível Este antagonismo ocorre quando o antagonista se dissocia muito lentamente ou não se dissocia dos receptores. Portanto, mesmo aumentando a concentração do agonista na presença do antagonista, não é possível alcançar o efeito máximo. Nunca consegue atingir a resposta máxima, por mais que aumente a concentração do fármaco. O agonista não consegue deslocar o antagonista do receptor, pois ele tem muita afinidade. Antagonista se dissocia muito lentamente. Antagonismo farmacológico não-competitivo: Esse sítio de ligação alostérico do antagonista, é onde alguns fármacos antagonistas não competitivos se ligam. Como ele está em um sítio que não atrapalha a ligação do agonista, o aumento da concentração do agonista nunca irá chegar no efeito máximo. Esse fármaco antagonista acaba impedindo a resposta de uma outra forma, é como se estivesse agindo em outra etapa. O antagonista bloqueia em algum ponto a cadeia de eventos que levaria a resposta desencadeada pelo agonista. Portanto, não é possível desfazer o bloqueio quando se aumenta a concentração do agonista. Antagonismo farmacológicoparcial reversível: Agonista parcial: ele só alivia. Ele tem uma ligação muito forte com o receptor, impedindo que a morfina se ligue, por exemplo. Assim, não ocorrendo o efeito dela. Antagonismo entre dois agonistas. Neste antagonismo os dois medicamentos utilizados são agonistas, porém com capacidade diferente de desencadear efeitos farmacológicos, isto é, com diferentes atividades intrínseca. Portanto, o agonista menos eficaz nesta situação experimental atua como antagonista parcial do agonista principal. Antagonismo fisiológico ou funcional: Reação alérgica – grande liberação de histamina (agonista) que se liga em seus receptores (H1) causando vasodilatação. A intensa vasodilatação faz a queda da pressão arterial. Injetar adrenalina (também agonista), mas vai promover a vasoconstrição, agindo em receptores alfa1. Dois agonistas atuando em receptores distintos com respostas opostas. A vasoconstrição anula a vasodilatação. Antagonismo químico ou antidotismo: Neutralizar com antagonista químico; cessar o efeito do fármaco com uma substancia que reage promovendo uma reação química que impede o efeito da substância. Reação entre 2 substancias, uma neutralizando o efeito do outro. Ex.: antiácido local com ácido clorídrico do estômago. D Dessensibilização e taquifilaxia - Só acontece em fármacos que se ligam a receptores. Freqüentemente o efeito dos fármacos/drogas diminui gradualmente quando ela é dada continuamente ou repetidamente. Dessensibilização e taquifilaxia são termos sinônimos para descrever este fenômeno que freqüentemente se desenvolve no curso de pouco minutos. O termo tolerância é usado para descrever uma diminuição mais gradual na responsividade da droga, levando dias ou semanas para se desenvolver. O termo refratariedade é algumas vezes usado, principalmente em relação à perda de eficácia terapêutica. Resistência às drogas é um termo usado para descrever a perda de efetividade de drogas antimicrobianas. Diferentes mecanismos podem dar origem a estes fenômenos e eles são poucos entendidos. Eles incluem: Alteração nos receptores: Entre os receptores ligados a canais iônicos, a dessensibilização geralmente é rápida e pronunciada. Na junção neuromuscular há evidências que o estado dessensibilizado é causado por uma alteração lenta na configuração do receptor, resultando em estreita ligação da molécula do agonista sem a abertura do canal iônico. A fosforilação de regiões intracelulares da proteína receptora constitui um segundo mecanismo mais lento pelo qual ocorre dessensibilização dos canais de íons. Os receptores ligados a segundos mensageiros também exibem dessensibilização, como os -adrenoceptores, que dessensibilizados, são incapazes de ativar a adenilil ciclase, embora ele possa se ligar ao agonista. Perda de receptores: Em alguns casos, a exposição prolongada de agonistas resulta na redução gradual no número de receptores. Isto ocorre com os - adrenoceptores. Acredita-se que o desaparecimento dos receptores para dentro da membrana celular é feito por endocitose de partes da membrana, um processo que também depende da fosforilação do receptor. Este tipo de mecanismo regulatório parece ser comum para receptores hormonais e tem relevância quando drogas são administradas por longos períodos. Exaustão de mediadores: Em alguns casos, a dessensibilização está associada com a depleção de substâncias intermediárias essenciais. Drogas como as anfetaminas, as quais atuam liberando noradrenalina e outras aminas do terminal nervoso, mostram marcada taquifilaxia porque os estoques de noradrenalina são depletados. Aumento degradação metabólica: Pode causar tolerância para algumas drogas como os barbitúricos. Onde a administração repetida da mesma dose da droga causa concentração plasmática mais baixa da mesma. Fenobarbital Aumenta CYP – degradação mais rápida – aumenta formação de metabólitos, diminui meia vida e resposta farmacológica. Adaptação fisiológica: Pode ocorrer diminuição do efeito de um fármaco, devido à sua anulação por uma resposta homeostática. Por exemplo, o efeito de redução da pressão arterial dos diuréticos tiazídicos é limitado devido uma ativação gradual do sistema renina- angiotensina. Estes mecanismos homestáticos são muito comuns, e, quando ocorrem lentamente, os resultados consistem no desenvolvimento gradual de tolerância. É comum verificar que muitos efeitos colaterais dos fármacos tendem a diminuir, apesar de sua administração contínua. Podemos supor que deve estar ocorrendo uma adaptação fisiológica, presumivelmente associada a uma alteração da expressão gênica, resultando em alterações nos níveis de várias moléculas reguladoras, embora pouco se saiba a respeito dos mecanismos envolvidos. Receptor de membrana tem determinada meia vida, eles são reciclados. Na imagem, um receptor é seqüestrado por um endossomo e depois ele volta à membrana. Com isso, não houve ativação desse receptor e conseqüente resposta farmacológica. Outra situação que pode acontecer em que o fármaco chegou ao seu receptor, se ligou, mas não ativou e não gerou uma resposta: Receptor inativado. Acontece mais com os do tipo adrenérgico (alfa e beta) e nicotínicos (gânglio – neurônios aferentes, medula adrenal, m. esquelético – placa motora). Um dos motivos é quando eles são estimulados por um longo período. Receptores acoplados a canais iônicos. Receptores acoplados a proteína G: o agonista se liga, mas não consegue ativar a proteína G, impedindo a resposta. Outra situação: fármaco se liga a receptor de proteína G, mas essa proteína G acaba gerando uma proteína inibitória que interfere no funcionamento normal desse receptor. Imagem 2ª situação: perda de receptores: diminuição de receptores na superfície celular – Down regulation – Ativação muito intensa por agonistas desses receptores na membrana. Para diminuição AMPc, internaliza os receptores, menor ativação n° receptores, menos AMPc, diminui resposta farmacológica. *Excesso de acetilcolina – não ta sendo metabolizada (enzima que metaboliza está inibida): fica estimulando excessivamente o receptor nicotínico. Efeitos adversos dos fármacos Todos os fármacos possuem efeitos adversos. • Reações adversas - Inclui todos os efeitos indesejados de um fármaco. • Efeitos colaterais - Indica os efeitos indesejáveis que ocorrem em tecidos diferentes do sítio-alvo, mesmo com doses terapêuticas. • Toxicidade - Implica em efeitos de superdosagem. • Efeitos Tóxicos: - Superdosagem absoluta, - Superdosagem relativa Efeitos secundários: São conseqüência da ação primária dos fármacos, ou seja, dependem do mesmo mecanismo de ação geradora da resposta terapêutica. Efeitos teratogênicos: Compreendem as manifestações anormais do desenvolvimento fetal, geradas por fármacos administrados à gestante. O maior risco ocorre no primeiro trimestre de gestação. Efeitos de hipersensibilidade: São ocasionadas por respostas anormais do sistema imunitário. São independentes da dose, podendo ser desencadeados por ínfimas quantidades de alergênicos, após uma sensibilização prévia. Exteriorizam-se de várias formas, classificando-se em localizadas ou sistêmicas e em imediatas ou tardias. São exemplos de reações alérgicas o choque anafilático, urticária, exantema, dermatite de contato, dentre outros. Efeitos idiossincrásicos: Consiste numa resposta qualitativamente diferente da esperada na população em geral. São reações raras, independente da dose, geralmente associadas a variações individuais geneticamente induzidas. Hipertermia maligna – d. genética anestesia halotano – contrações musculares intensas e hipertemia.Suínos. Tolerância: A tolerância corresponde à necessidade de aumentar progressivamente as doses de certos fármacos para manter a intensidade de seus efeitos iniciais. Quando isto acontece o organismo precisa adaptar-se à quantidade exagerada da substância administrada. Síndrome de retirada e efeito rebote: A síndrome de retirada caracteriza-se pelo aparecimento de manifestações clínicas em decorrência da suspensão abrupta de um fármaco usado em doses terapêuticas por tempo prolongado, quando a interrupção do uso da droga leva ao recrudescimento dos sintomas iniciais da doença. Efeito paradoxal: Caracteriza-se pelo aparecimento de manifestações opostas às esperadas após o uso de fármaco. Tranquilizante – estimula. FATORES QUE MODIFICAM OS EFEITOS DOS FÁRMACOS E POSOLOGIA Fase de pré-administração Dose prescrita: Adesão do cliente ao tratamento Erros medicamentosos Interações pré-tratamento Qualidade do produto Fase farmacocinética Dose administrada: Via e local administração Características da formulação Propriedade Físico-químicas fármaco Composição e tamanho corporal Regime de alimentação Biodisponibilidade Estado fisiológico/patológico Ligação protéica e tecidual Genótipo Interações medicamentosas e não medicametosas Depuração Fase farmacodinâmica Concentração no local de ação: Interações fármaco-receptor Resistência Dessensibilização/Taquifilaxia Potencial real da resposta Perfil tempo-concentração Efeito Efeito quantitativo Efeito qualitativo Impacto dos fenômenos placebo e Nocebo Fatores que Dependem dos Fármacos: Qualidade: medicamentos de baixo custo e qualidade inferior merecem um cuidado especial do clínico. Embora a terapêutica veterinária seja essencialmente econômica, devemos procurar receitar medicamentos de boa qualidade e recorrer a laboratórios idôneos, a fim de obtermos resultados seguros. Ex: fenotiazina purificada ou comum, ivermectinas, penicilinas, benzimidazóis. Veículo: o veículo ao qual se incorpora o medicamento também pode fazer variar a sua ação. Ex: o sulfato de cobre em solução de 1% é adstringente, pulverizado com açúcar a 1:5 é vomitivo, puro é cáustico. Formas Farmacêuticas: dependendo da forma farmacêutica, o medicamento pode variar sua velocidade de absorção. Os líquidos agem mais rapidamente que os sólidos quando administrados oralmente e estes conforme a consistência (comprimidos, drágeas, cápsulas), varia a ação. Medicamentos em cápsulas gelatinosas passam pelo estômago sem sofrer alteração. Dose: dependendo da dose, um medicamento pode se tornar veneno. Há vários medicamentos num só, dependendo da dose em que é administrado. Via de Administração: os fármacos podem agir diferentemente conforme a via de administração. Ex: sulfato de magnésio por via oral é purgante, por via endovenosa é hipnótico. A digital por via oral é ineficaz em bovinos. Fármacos e Posologia Tamanho da partícula - A biodisponibilidade tende e a ser aumentada com partículas reduzidas. Formas salinas - Apresentam maior taxa dissolução e a absorção, é limitada pela dissolução. Sais = melhor biodisponibilidade Anestésicos locais têm dificuldade de dissolução Estrutura química de caráter básico – para se dissolverem, precisam ser colocados em uma solução ácida para fazer com que fiquem como solução aquosa. Fica na sua forma ionizada. Excipientes – Componentes farmacologicamente inativos, mas que determinam a forma física, liberação e estabilidade das formulações. Diferenças nos mesmos podem influenciar a biodisponibilidade forma positiva ou negativa. Efeitos fisiológicos - Dependendo dos constituintes ativos quanto da formulação pode ocorrer dor, danos tecidual, vômitos, irritação mucosa oral. Efeitos podem prejudicar a biodisponibilidade fármaco. Adesão ao tratamento Os erros na adesão incluem: Omissão de tratamento Administração incorreta Dosagem Horário ou sequência Adição de medicamentos Fatores que influenciam o rigor na adesão ao tratamento: A doença que está sendo tratada Cliente Paciente Veterinário Medicação (forma física e facilidade administração, frequência, propensão para efeitos colaterais, Influência sobre a doença, rapidez efeito) Adesão ao tratamento pode ser influenciada por: Comunicação clínico/paciente Instruções escritas Medicação Posologia Acompanhamento Erros médicos e medicamentos Falhas ativas: Erros Deslizes Lapsos Condições latentes que provocam erros por: Pressão do tempo Negligência Fadiga Equipamentos inadequados Inexperiência Alimentação A interação de alimentos com fármacos é manifestada por efeitos na: Absorção do fármaco (diminuído/retardado) Metabolismo do fármaco Diminuição da irritação tecidual Os alimentos podem interferir com um fármaco por atuar: Esvaziamento gástrico Dissolução da forma farmacêutica Atividade dos ácidos biliares Atividade enzimática pancreática e das mucosas intestinais Fluxo sanguíneo esplâncnico Barreira às superfícies de absorção Constituintes alimentares farmacologicamente ativos - suco laranja Sevilha, limão galego ou toranja inibem CYP3A, aumentando a biodisponibilidade fármacos A magnitude da interação alimento-fármaco depende: Propriedade físico-químicas do fármaco Formulação - saída estômago mais rápida para soluções, suspenções, pastas, comprimidos e cápsulas. Tipo e tamanho da refeição - Líquidas e baixa viscosidade rápido esvaziamento gástrico – pode levar a um aumento ou diminuição biodisponibilidade. Refeições ricas em gorduras aumentam os níveis de ácidos graxos livres circulantes que se ligam na albumina- aumento forma livre de fármacos ácidos. Intervalo de tempo e a sequência entre comer e administração dos fármacos. 1-2 hs antes ou depois. Interações medicamentosas Ocorre quando o efeito de um fármaco é alterado pela presença do outro. Os efeitos podem ser: positivos negativos Podem ser: Fisicoquímicas ou farmacêuticas Farmacocinéticas Farmacodinâmicas Resultado final pode ser: Aumento dos efeitos de um ou outro fármaco Efeitos totalmente novos ou Inibição de um fármaco por outro Nenhuma mudança no resultado final Mecanismos de Interação Interações químicas ou físicas diretas: Ex.: inativação e precipitação da penicilina com fenitoína ou vit. Complexo B. Interação na absorção: Interações físicas - tetraciclina + leite Motilidade alterada - metoclopramida Alteração da flora bacteriana - disbiose Ligação protéica- competição entre fármacos pelo sítio ligação. Interações nos sítios receptores Agonistas e antagonistas podem inibir o efeito Múltiplos agonistas ou antagonistas podem levar efeito maior Interação devido ao metabolismo acelerado Fármacos indutores enzimáticos – fenobarbital, carbamazepina, fenitoína. Inibição do metabolismo Fármacos inibidores enzimáticos - cloranfenicol, fenilbutazona, antifúngicos azóis, cimetidina, verapamil. Alteração da excreção renal Alteração do pH urinário Espécie: Mesmo que o mecanismo básico de ação de um fármaco seja o mesmo, a intensidade e a duração do efeito produzido nas várias espécies de animais pode variar consideravelmente. As variações de acordo com a espécie nas respostas obtidas por uma dose fixa de uma droga podem ser atribuídas a diferenças nos processos farmacocinéticos (absorção, distribuição, biotransformação e excreção) ou na sensibilidade farmacodinâmica dos receptores tissulares específicos. Existemdiferenças anatômicas e funcionais entre os aparelhos digestivos das diversas espécies de animais selvagens e domésticos que podem influenciar na disposição de fármacos administrados por via oral. Carnívoros - se alimentam periodicamente; aparelho gastrointestinal curto; paredes grossas; trânsito intestinal do bolo digestivo aproximadamente 6 h; pH do suco gástrico varia de 1 a 3. Podem vomitar facilmente. A absorção de fármacos no cão e no gato é sem complicações, ocorrendo principalmente no trato gastrointestinal superior. Herbívoros monogástricos (eqüinos, cobaios e coelhos) - Possuem ceco e cólon retal volumosos nos quais ocorre degradação microbiana ativa da celulose e outros carboidratos insolúveis. Estes processos de fermentação são sensíveis a agentes antimicrobianos de amplo espectro, as vezes com conseqüência fatal. O metabolismo de fármacos pela microflora pode dar origem a metabólitos diferentes daqueles observados nas espécies monogástricas simples. Eqüinos - tem trânsito intestinal de mais de 30 horas. Não possuem vesícula biliar e excretam bile constantemente com eliminação biliar ativa de fármaco. Realiza ciclo êntero-hepático. Não são capazes de vomitar. Ruminantes - A absorção de fármacos a partir do rúmem e retículo é retardada devido à diluição no líquido ruminal. Com estase ruminal a taxa de absorção diminui. O pH do líquido ruminal varia de 6,0 - 8,0, porém depende da dieta. Dieta rica em grãos o pH intra-ruminal varia 5,5 a 6,0, embora a ingestão excessiva de proteínas pode elevar o pH até 8,0. A biodisponibilidade de fármacos administrados por via oral é variável, devido a complexidade da atividade dos estômagos anteriores. A microflora anaeróbia é capaz de inativar várias drogas no rúmen como o cloranfenicol e glicosídeos cardíacos. O contrário também é possível, quando antimicrobianos de amplo espectro destroem a microflora ruminal com atonia ruminal resultante. Suínos, cordeiros e novilhos gordos - o tecido adiposo pode representar um grande compartimento de distribuição para os agentes solúveis em lipídios que se metabolizam lentamente. A passagem de fármacos através da placenta nas fêmeas prenhas varia também entre as espécies. Parece que espécies com placentas menos íntimas (epiteliocorais) tendem a excluir drogas do feto mais que outros animais com placenta mais íntima (endoteliocorial, hemocorial ou hemoendotelial). Diferenças entre espécies: Diferenças farmacocinéticas - Principalmente no metabolismo. Gatos metabolizam mais lentamente que cães. Aspirina em cães- 12/12h, em gatos 48/48h Diferenças farmacodinâmicas - Xilazina induz vômito mais fácil em gatos que em cães Diferenças comportamentais - Hábito lamber do gatos aumenta risco de ingerir medicamento aplicado topicamente. Diferenças intraespécies • Idade • Sexo • Doenças • Estado físico • Mobilidade • Dieta • Genética • Ritmos circadianos Fatores Ambientais e Nutricionais: podem influir nas reações da fase 1 e 2 em diferentes espécies de animais. Carnívoros tendem a conjugar as drogas e seus metabólitos lentamente, enquanto que estas reações são bastante rápidas em herbívoros. Gatos metabolizam o fenol muito lentamente em comparação com outros animais e por isso se intoxicam mais facilmente. Gatos têm deficiência de glicuroniltransferase hepática, que retarda a biotransformação de certos compostos, com aumentos freqüentes na duração de ação e toxicidade potencial destes agentes. Suínos são deficientes em realizar reações de conjugação com sulfato. Fármacos cuja excreção renal pode ser influenciada pelo pH da urina tem taxas de eliminação diferentes em: 9 Ruminante - pH da urina de 7.0 a 8.0 9 Cavalo e suíno - pH da urina 7.0 9 Carnívoros - pH da urina de 5.0 a 6.5. Raça: Certas características genéticas ou da raça também podem alterar a sensibilidade de um agente farmacológico. Os poucos exemplos de respostas características conhecidas de uma raça incluem: Cavalos puro sangue - resposta imprevisível aos depressores do SNC; Gado bovino Brahman é mais sensível ao efeito da xilazina que outras raças européias; Cães galgos e lebreiros mostram sono prolongado depois da administração de tiopental sódico; Raças braquicefálicas como Boxer, Pequinês e Bulldog podem ter síncope depois da administração de acepromazina. → Raças collie e shepdog são muito sensíveis a ivermectinas. Idade: O recém nascido (até aproximadamente um mês de vida) se diferencia dos mais velhos da mesma espécie em várias áreas significativas: A barreira hematoencefálica está pouco desenvolvida no feto e recém nascido de várias espécies; A hemoglobina fetal é diferente da hemoglobina do adulto. Vários fármacos podem produzir metahemoglobinemia no recém-nascido, como as sulfonamidas, nitrofuranos, azul de metileno, ácido salicílico e as fenotiazinas; Há um aumento da permeabilidade do intestino delgado logo após o nascimento e a absorção de drogas retidas no intestino pode ser maior; É comum a hipoproteinemia em recém-nascidos, o que pode aumentar a quantidade de fármaco disponível para se difundir nos tecidos; Recém-nascido é deficiente na função enzimática de microssomas hepáticos durante as primeiras 4 semanas e especialmente os primeiros 7 dias. Os fármacos que tem meias-vidas mais prolongadas no recém-nascido, especialmente na primeira semana, são a fenitoína, fenobarbital, cloranfenicol, salicilatos e teofilina; A função renal é deficiente ao nascer e seu desenvolvimento se completa nos primeiros um ou dois meses; para tanto as taxas de eliminação de fármacos são lentas e o neonato ou animal jovem pode ser mais sensível ao efeito tóxico de drogas nos rins; Em pacientes geriátricos há indicações de que a atividade das enzimas microssomais hepáticas está reduzida. A meia-vida de alguns fármacos pode aumentar em até 50% nos pacientes geriátricos, o que normalmente se acompanha de uma redução na depuração plasmática total; A eficácia de agentes bacteriostáticos depende do sistema imune competente. Animais neonatos e velhos geralmente não são imunocompetentes, é preferível usar drogas bactericidas para controlar infecções bacterianas. Sexo: A influência do sexo sobre o efeito dos fármacos e as reações farmacológicas adversas se relaciona principalmente com a função reprodutiva. As preocupações farmacoterapêuticas principais, associadas com o tratamento das fêmeas são as seguintes: Efeito potencial dos fármacos usados sobre os órgãos reprodutivos e sua função; Possível atividade teratogênica, embriocida e abortificante dos fármacos usados em fêmeas prenhes; Influência potencial do fármaco administrado sobre o processo de parição - indução ou atraso do parto; Possível efeito do fármaco sobre a lactação; Presença do fármaco administrado como resíduo no leite de um animal lactente. Peso e Superfície Corporal: As doses dos fármacos são determinadas em função do peso do animal. Mas o uso do peso corporal tem várias limitações que devem ser reconhecidas quando se administram agentes terapêuticos de grande potência nas seguintes situações: obesidade, inanição, ascite ou edema generalizado, desidratação severa, falta de maturidade, idade avançada e presença de grandes tumores. Dieta e estado de nutrição: Animais bem nutridos normalmente podem eliminar os fármacos com pouca dificuldade. Animais que apresentam desnutrição protéica-calórica, a absorção, distribuição, biotransformação e excreção podem estar afetadas em maior ou menor grau. Temperamento: Pode influenciar sobre a resposta de um fármaco, especialmente no caso de agentes com ação no SNC. Atividade relativa e ritmos circadianos: Foram identificadose caracterizados muitos “ritmos” biológicos nos animais domésticos. Os ciclos circadianos podem apresentar máximas diurnas ou noturnas. Sua importância cronofarmacológica se relaciona com a possibilidade de que seja mais desejável indicar regimes terapêuticos para seguir certos ciclos específicos ao invés de modificá-los ou inibir os mecanismos de controle que funcionam através de círculos de informação recíproca. Condições do Meio Ambiente: Extremos de calor e de frio causam vasodilatação ou vasoconstrição periférica respectivamente, com possíveis efeitos sobre a disposição dos agentes. Temperaturas elevadas aumentam a taxa de volatilização dos anestésicos inalatórios e aumentam também a taxa respiratória, facilitando assim a anestesia inalatória quando são usados métodos abertos de administração. Temperaturas extremas também podem influir sobre as concentrações sanguínea de vários hormônios como a adrenalina, tiroxina, triiodotironina e os glicocorticóides. ______________________________________________ Posologia e Administração: Na maioria dos casos a administração de uma fórmula farmacêutica na taxa e freqüência adequadas, pela via indicada, produz um padrão cinético e uma resposta terapêutica satisfatória quando se usa para a afecção indicada. Mas há vários fatores relacionados com as formas posológicas dos fármacos e sua administração que poderiam causar inesperadamente uma alteração na resposta ao fármaco. A absorção de um agente desde o sítio de administração parenteral (menos intravenoso), é determinado pela fórmula do agente, vascularização do tecido em que se depositou a preparação, grau de ionização e solubilidade em lipídios da preparação. A forma química utilizada do fármaco, assim como os veículos, solubilizantes, estabilizantes, tampões e agentes emulsificantes incluídos, são capazes de modificar a taxa de absorção do fármaco desde o sítio da injeção. Todas as formas posológicas sólidas necessitam passar por desintegração e dissolução antes de ocorrer a absorção. A dissolução a princípio controla a taxa de absorção do fármaco e para tanto pode haver diferenças entre a biodisponibilidade de várias formas farmacêuticas do mesmo agente. Tanto na administração parenteral quanto oral, quanto maior a concentração do fármaco na preparação, mais rápida será sua taxa de absorção na circulação sistêmica e mais cedo se terá em evidência seus efeitos farmacológicos. Relações diretas entre um fármaco e outro: Quando as preparações farmacêuticas se misturam indiscriminadamente antes de sua administração por qualquer rota, podem ocorrer reações entre os ingredientes ativos das mesmas ou entre os ingredientes ativos e os coadjuvantes da fórmula. As incompatibilidades que ocorrem podem resultar em precipitação, inativação química ou mudanças na cor, sabor ou forma física das preparações. A temperatura, umidade, agitação e luz ultra-violeta podem iniciar reações lesivas em fórmulas misturadas de modo inapropriado. A regra geral para evitar interações farmacológicas diretas consiste em não misturar preparações farmacêuticas antes ou durante sua administração, a menos que se tenha segurança que as fórmulas são compatíveis. Relações entre um fármaco e a dieta: Um componente dietético ou a simples presença de alimentos pode influir na absorção de fármacos e estes por sua vez, podem reduzir a absorção de elementos nutritivos. Exemplos: - A absorção de tetraciclinas é diminuída pelo leite e produtos lácteos; - A presença de alimentos pode reduzir a absorção do sulfisoxazol, ampicilina e algumas penicilinas semi-sintéticas, cefalexina, tetraciclinas, lincomicina e rifampicina. Alguns fármacos administrados por via oral podem interferir com a absorção de certos agentes nutritivos. Exemplos: - Tratamento crônico com fenitoína suprime a absorção de ácido fólico dietético. - Administração diária de óleo mineral impede a absorção de vitaminas lipossolúveis; - Administração oral de antibióticos como tetraciclinas e aminoglicosídeos podem causar depressão da síntese microbiana de vitamina K e do complexo vitamínico B. Reações Farmacológicas que Afetam a Absorção Gastrointestinal: Existem muitos mecanismos que podem modificar a taxa de absorção de drogas desde o TGI pela ação de um segundo fármaco: - Os antiácidos e a cimetidina elevam o pH intragástrico e podem mudar a taxa de desintegração e dissolução das formas farmacêuticas orais sólidas e retardar a absorção de fármacos levemente ácidos. - A taxa de esvaziamento gástrico e o grau de motilidade intestinal podem influenciar sobre a taxa de absorção do fármaco. - Agentes anticolinérgicos, adrenérgicos, neurolépticos, anti-histamínicos e opióides diminuem a motilidade gastrointestinal e os agentes colinérgicos, metoclopramida, antiácidos e alguns purgantes aumentam a motilidade gastrointestinal. - O caulim, carvão ativado reduzem a absorção gastrointestinal de fármacos concomitantemente por via oral - promovem adsorção. - Certos fármacos como cloranfenicol, neomicina e tetraciclina podem lesar as células da mucosa intestinal em terneiros e causar síndrome da má absorção. Reações Farmacológicas que Afetam a Distribuição: A administração concomitantemente de dois ou mais fármacos pode alterar o padrão de distribuição intracorpórea para cada um deles. A competição pelos sítios de ligação às proteínas plasmáticas é comum e o fármaco deslocado pode causar resposta exagerada ou tóxica. Exemplos: - Fenilbutazona desloca warfarin; - AINE desloca sulfonamidas; - Ácido valpróico desloca fenitoína. Reações Farmacológicas que Afetam a Biotransformação: Interações que causam mudança na taxa do metabolismo do fármaco podem ter grande significado clínico. Um fármaco pode alterar o metabolismo de outro estimulando ou inibindo os sistemas enzimáticos microssômicos. Reações Farmacológicas que Afetam a Excreção: Reações farmacológicas podem afetar a eficiência dos órgãos que promovem a excreção dos fármacos e seus metabólitos. Qualquer fármaco que modifique o fluxo sanguíneo renal pode alterar a depuração renal de outros fármacos. - Aumento do fluxo sanguíneo Aumento da excreção renal; - Diminuição do fluxo sanguíneo Diminuição da excreção renal. - Alteração do pH da urina modifica a taxa de excreção pelos rins, especialmente quando os valores de pKa dos fármacos se encontram dentro dos limites do pH urinário. Reações Farmacodinâmicas Ocorrem quando duas ou mais drogas são administradas simultaneamente, os efeitos resultantes podem ser: Benéficos: Exemplos: - Pré-medicação com neurolépticos antes de anestesia geral; - Reversão da narcose por opióides com naloxona. Maléficos: Exemplos: - Efeitos ototóxicos e nefrotóxicos dos antibióticos aminoglicosídeos são potencializados por diuréticos como a furosemida. Fatores Patológicos que Modificam a Ação dos Fármacos Lesões patológicas em sistemas orgânicos importantes, ou mudanças patofisiológicas dentro dos líquidos corporais, podem alterar substancialmente tanto a farmacocinética como a ação farmacológica de muitos fármacos. Enfermidade gastrointestinal: Várias afecções podem alterar as taxas de absorção dos fármacos administrados por via oral. Afecções tais como: Vômito Acidose ruminal Úlcera duodenal Gastrite Enterite Peritonite Úlcera gástrica Estase ruminorreticular Ruminite Diarréia Transtornos pancreáticos Enfermidade hepática: Aguda ou crônica pode alterar a disposição e eliminação de muitos fármacos. Pode causar: a) Diminuição da atividade de sistemas enzimáticos metabolizadores de fármacos; b) Limitação da eficiênciado sistema secretório hepatobiliar; c) Mudanças no fluxo sanguíneo hepático; d) Síntese reduzida de proteínas plasmáticas, especialmente albumina e alteração da capacidade de conjugar fármacos; e) Desenvolvimento de ascite e edema periférico com aumento conseqüente do volume de distribuição para muitos fármacos e prolongamento de suas meias-vidas de eliminação. Muitos estados patológicos podem ter impacto sobre o papel do fígado na depuração hepática. Ex.: hepatite viral, bacteriana e tóxica, hepatopatias, cirrose, abscessos hepáticos e transtornos na circulação do sangue através do fígado. Enfermidade renal: A insuficiência renal causa uma diminuição na depuração do fármaco e, portanto, uma eliminação mais lenta. Um regime posológico usual em tais casos causa acumulação e finalmente toxicidade. Podem ocorrer vários transtornos dentro do rim afetado, todos os quais podem influir de uma maneira ou outra sobre a excreção e depuração renal de fármacos. Mudanças no pH do filtrado alteram a taxa de excreção do fármaco. Isquemia renal, lesões glomerulares, lesão tubular, redução da perfusão intrarrenal, transtornos funcionais das células tubulares e lesões obstrutivas dos túbulos, ductos coletores e ureteres podem influir na depuração renal eficaz de fármacos e seus metabólitos. - Enfermidades e Conjugação Protéica dos Fármacos - Enfermidade Pulmonar - Enfermidade Cardiovascular - Transtornos Neurológicos
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