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TDE - PEÇA - LIBERDADE PROVISÓRIA

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Universidade Luterana do Brasil – Ulbra Torres
 Aluna: Renata de O. Nabinger, Camila Hainzereder e Mariana Cipriano.
 Disciplina: Prática Penal
TDE – AULA 29/03/21
EXECELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DELEGADO DE POLÍCIA FEDERAL DA DELEGACIA DE POLÍCIA FEDERAL DE PORTO ALEGRE.
PEDIDO DE LIBERDADE PROVISÓRIA ou APLICAÇÃO DE MEDIDAS CAUTELARES ALTERNATIVAS (art.319, CPP)
Inquérito nº 0690/2017
ADEMIR PEREIRA AJALA, já qualificado, vem, perante Vossa Excelência, por seu procurador, conforme procuração anexa, apresentar 
PEDIDO DE LIBERDADE PROVISÓRIA,
nos termos dos arts. 310, inciso III e 321 ambos do CPP, em face da prisão em flagrante realizada pela autoridade policial identificada no APF. 
1. DOS FATOS:
No dia 29 de junho de 2017, o investigado foi abordado na Rua Padre Maxilimiliano, bairro Humaitá, na carona do caminhão Volvo VM23 240, 2005, de placa IMP 3156.
Ao ser abordado por analistas tributários da Receita Federal, foi constatado que a mercadoria transportada era de origem estrangeira, tais como mídias, videogames, lâmpadas de alta potência e equipamentos eletrônicos em geral.
A quantidade de mercadoria é superior a permitida, e, portanto, foi dado voz de prisão em flagrante pelo crime de descaminho.
O motorista e o passageiro foram conduzidos para a Receita Federal, onde foi Lavrado o Termo de Apreensão de Mercadorias Estrangeiras e Veículo transportador. 
Os presos foram encaminhados a Superintendência Regional da Polícia Federal de Porto Alegre para formalização criminal dos fatos. 
Os autos foram encaminhados ao juízo para decisão de homologação ou não.	
É o breve relato dos fatos. 
2. DO MÉRITO. 
Cumpre referir que o flagrado foi preso no dia 29/06/17, pela prática, em tese, do delito de descaminho, sendo mantido pela autoridade policial sob custódia e à disposição da justiça. 
Contudo, verifica-se que não há motivos para a manutenção da segregação do flagrado, pois os requisitos e hipóteses autorizadoras da prisão cautelar, previstos no art. 312[footnoteRef:1] do Código de Processo Penal, não estão presentes no caso em análise. [1: Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado.] 
Não havendo fundamento de risco à ordem pública, à aplicação da lei penal ou a instrução criminal, não pode o suspeito permanecer segregado.
Importante ressaltar que a presunção de inocência é uma das principais garantias do cidadão frente ao poder soberano do Estado. Tal princípio, junto ao da ampla defesa, do contraditório e do devido processo penal, formam a base das garantias constitucionais e processuais que asseguram ao indivíduo o exercício de sua liberdade individual.
Conforme leciona Aury Lopes Jr:
‘’sempre, qualquer que seja o fundamento da prisão, é imprescindível a existência de prova razoável do alegado periculum libertis, ou seja, não bastam presunções ou ilações para a decretação da prisão preventiva. O perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado deve ser real, com um suporte fático e probatório suficiente para legitimar tão gravosa medida. (...) como bem explicou o Min. EROS BGRAU, ‘a custódia cautelar voltada à garantia da ordem pública não pode, igualmente, ser decretada com esteio em mera suposição – vocábulo abundantemente usado na decisão que a decretou – de que o paciente obstruirá as investigações ou continuará delinquindo.[footnoteRef:2] [2: Lopes Jr., Aury. Direito processual penal/ Aury Lopes Jr. – 10. Ed. – São Paulo: Saraiva, 2013,pag. 839.] 
Assim, não deve ser decretada a segregação provisória do suspeito sem fundamento em prova de que este pretendem perturbar a instrução criminal ou dificultar a aplicação da lei penal, em afronta as condições para a decretação da prisão preventiva, sob pena de caracterizar constrangimento ilegal.
 Sendo assim, diante das peculiaridades do caso em comento e à luz dos princípios da proporcionalidade e razoabilidade, necessária a concessão de liberdade provisória, definida no art. 321 do Código de Processo Penal[footnoteRef:3], permitindo que o suspeito responda ao processo em liberdade, ciente da necessidade de comparecer a todos os atos do processo do qual for devidamente intimado. [3:   Art. 321.  Ausentes os requisitos que autorizam a decretação da prisão preventiva, o juiz deverá conceder liberdade provisória, impondo, se for o caso, as medidas cautelares previstas no art. 319 deste Código e observados os critérios constantes do art. 282 deste Código.] 
Neste mesmo sentido tem decidido o TRF4/RS, conforme ementas em destaque:
EMENTA: HABEAS CORPUS. DESCAMINHO. PRISÃO PREVENTIVA. RISCO DE CONTÁGIO DO CORONAVÍRUS - COVID 19. SUBSTITUIÇÃO POR MEDIDAS CAUTELARES. ORDEM CONCEDIDA EM PARTE. 1. A paciente foi presa em flagrante, após empreende fuga em alta velocidade, por estar transportando mercadorias estrangeiras sem comprovação do pagamentos dos impostos de importação. 2. O crime não foi praticado mediante violência ou grave ameaça à pessoa. Diante da excepcionalidade do momento atual, em que a pandemia de coronavírus - Covid 19 não recomenda que mantenhamos pessoas presas por crimes afiançáveis, se mostra razoável substituir a prisão preventiva por algumas medida cautelares do art. 319 do CPP.  3. Esta Corte tem se manifestado no sentido de condicionar o deferimento do benefício da liberdade provisória ao pagamento de fiança, como forma de fixação de vínculo entre o flagrado e o Juízo. Quanto ao valor arbitrado, no caso em tela, não se pode extrair dos dados constantes dos autos a hipossuficiência econômica. Mostra-se razoável estabelecer a caução em R$ 3.000,00 (três mil reais). 4. Tendo em vista as circunstâncias da prática delitiva, em que empreendeu fuga em alta velocidade, colocando a vida de terceiros em perigo, e que a paciente faz do descaminho seu meio de vida, deve-se impor o monitoramento eletrônico, às suas expensas, competindo ao Juízo de origem estabelecer o seu perímetro. Trata-se de medida eficaz, que desestimula reiteração delitiva e reforça o vínculo da investigada com o Juízo. Deve, ainda, a paciente informar ao Juízo qualquer mudança de endereço e comparecer a todos os atos da instrução a que for intimada. 5. Após comunicação da decisão liminar à Vara de origem, a paciente recolheu a contracautela e foi instalada a tornozeleira eletrônica. 6. Ordem concedida em parte, confirmando-se a decisão que substituiu a prisão preventiva por medidas cautelares. (TRF4, HC 5035387-41.2020.4.04.0000, SÉTIMA TURMA, Relatora CLÁUDIA CRISTINA CRISTOFANI, juntado aos autos em 21/08/2020)
EMENTA: HABEAS CORPUS. DESCAMINHO. PRISÃO EM FLAGRANTE. LIBERDADE PROVISÓRIA CONCEDIDA MEDIANTE FIANÇA. REDUÇÃO DO VALOR. POSSIBILIDADE. 1. O valor da fiança deve guardar relação com a potencialidade lesiva da empreitada criminosa e com a situação econômica do flagrado. É certo que características especiais da empreitada criminosa e eventuais antecedentes do flagrado, justificam o estabelecimento de fiança em montante mais elevado que o usual. 2. Considerando as circunstâncias do caso concreto, especialmente as condições pessoais do paciente, o fato de o delito não ter sido praticado com violência ou grave ameaça e o tempo decorrido desde a concessão da liberdade provisória sem o recolhimento da fiança, possível a redução do valor originalmente fixado. 3. Ordem de habeas corpus parcialmente concedida. (TRF4, HC 5014741-44.2019.4.04.0000, SÉTIMA TURMA, Relator LUIZ CARLOS CANALLI, juntado aos autos em 23/04/2019)
Verifica-se das ementas, que o Tribunal Regional Federal da 4º Região costuma determinar a liberdade provisória, aplicando medicas cautelares diversas da prisão para crimes de descaminho arbitrando valor de fiança, conforme o caso em tela em que a autoridade policial arbitrou a fiança no valor de 15 salários mínimos, a qual será analisada pelo advogado quantoao seu recolhimento. 
3. DOS PEDIDOS. 
Ante ao exposto, requer:
A CONCESSÃO DE LIBERDADE PROVISÓRIA AO FLAGRADO, mediante o compromisso de comparecer a todos os atos do processo do qual seja intimado, com a expedição de ALVARÁ DE SOLTURA.
subsidiariamente, requer a aplicação de medidas cautelares diversas da prisão, na forma do artigo 319 do CPP.
Termos em que, pede deferimento.
Porto alegre, 29 de junho de 2017.
Advogado xxx
OAB xxx

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