Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
RESENHA: A EDUCAÇÃO FÍSICA ADAPTADA IMPLICAÇÕES CURRICULARES E FORMAÇÃO PROFISSIONAL O livro “Educação Física Adaptada Implicações curriculares e formação profissional” tem como objetivo investigar a disciplina de Educação Física Adaptada (EFA) nos cursos de licenciatura e bacharelado em Educação Física. Desde a década de 1980 surgem planos no âmbito sociopolítico para a inclusão de pessoas com deficiência, aumentando a acessibilidade em locais públicos e garantindo o seu direito de ir e vir. Além disso, houveram muitos avanços na Medicina, principalmente no período do pós-guerra, na área de reabilitação de pessoas com deficiência dando maior qualidade de vida para esses indivíduos. O início da EFA se deu mais tarde, quando se buscou a participação de pessoas com deficiência em atividades esportivas e nas aulas de Educação Física. No Brasil, na década de 1980, já haviam cursos de especialização e programas de formação profissional e de pesquisa na área de EFA, porém não havia uma disciplina no currículo dos cursos de graduação em Educação Física. Dessa forma, com a iniciativa dos profissionais de Educação Física de propor a garantia da presença de profissionais habilitados para atuar junto às pessoas com deficiência, assim, em 1987, o Parecer 215/87 foi publicado tendo em sua composição a sugestão da disciplina Educação Física e Esporte Especial para pessoas com deficiência. Dessa forma, o estudo buscou verificar como a disciplina tem se apresentado nos currículos dos cursos de Educação Física. Primeiramente o livro discute sobre as designações terminológicas acerca das deficiências e mostra que a maioria dos termos utilizados, incorretamente, remetem apenas aos limites e dificuldades que a deficiência impõe às pessoas fazendo da terminologia uma representação que a caracteriza, esquecendo-se das capacidades que essas pessoas possuem. As palavras para designar as pessoas com deficiência podem variar de acordo com valores culturais, sociais e os conhecimentos adquiridos, ou a falta deles. Ou seja, em cada momento histórico da sociedade utilizou-se um termo de acordo com os valores sociais vigentes. Durante as décadas de 1970 e 1980 buscou-se definições ou conceitos para a deficiência, porém estes não expressavam a realidade das pessoas com deficiência, pois sempre as definiam como “incapazes”, além disso, tentavam amenizar o termo “deficiente” sendo que este faz oposição ao termo “eficiente”, rotulando novamente as pessoas com deficiência de “incapaz”. As terminologias foram evoluindo e se adequando inclusive com as opiniões dadas pelas próprias pessoas com deficiência, evitando termos pejorativos e preconceituosos. Dessa forma, termos como “pessoa portadora de deficiência” foram sendo excluídos pois a deficiência não se porta como se fosse um objeto. Além disso, associar a deficiência com palavras como, por exemplo, “normal”, “anormal” e “diferente”, tem sido preocupação de alguns autores da área para evitar rotulações e estigmatização de pessoas. Portanto, a Convenção Internacional para Proteção e Promoção dos Direitos e Dignidade das Pessoas com Deficiência preconiza que a terminologia adequada neste momento é “pessoa com deficiência”. Sem dúvidas, no decorrer dos tempos, ocorreram mudanças positivas em relação ao modo que a sociedade trata as pessoas com deficiência. Na Antiguidade as questões místicas e religiosas tinham forte influência sobre as causas da deficiência, ora sendo tratada como um “mal” a ser eliminado, ora sendo tratada como um sinal divino que se aproximava com aceitação. Nessa época, apesar de existir uma Medicina empírica e incipiente, as pessoas acreditavam que doenças graves e deficiências tinham relação com demônios e pecados de vidas anteriores, provocando rejeição e exclusão das pessoas com deficiência. Porém, em meio aos valores religiosos da época, a Medicina dava os primeiros passos rumo a soluções terapêuticas e reabilitação de pessoas com deficiência. Posteriormente, durante o período medieval a religião ainda possuía forte influência e a Medicina pouco se desenvolveu. O crescimento populacional ocasionou na decadência dos cuidados higiênicos provocando doenças graves, más-formações congênitas e epidemias. Sendo a causa de todos esses problemas explicadas como um “castigo de Deus”. Mais tarde, no período renascentista, o cenário para as pessoas com deficiência teve um avanço com o reconhecimento dos valores humanos, propiciando uma melhoria de atendimento e o início do uso de novas técnicas de reabilitação. Ademais, o desenvolvimento do conhecimento científico mudou o modo de pensar a deficiência e contribuiu para a diminuição do misticismo religioso que discriminavam as pessoas com deficiência em outras épocas. Nessa época, ainda, ocorreu o surgimento da educação especial e avanços na Medicina Reabilitativa, bastante utilizada no tratamento das sequelas ou doenças provocadas durante guerras. Nesse contexto, como forma de retratação do Estado com os ex-combatentes de guerras, tendo a preocupação em ajustar a vida social de seus feridos em combate e de minimizar os efeitos provocados pela guerra, houve o surgimento dos esportes adaptados. Isso legitimou o valor da atividade física como recurso terapêutico e dos esportes adaptados para as pessoas com deficiência. Com o tempo o esporte adaptado foi ganhando mais adeptos e se popularizando surgindo, assim, os Jogos Paraolímpicos em Roma no ano de 1960. Com a crescente inclusão das pessoas com deficiência nos esportes, ocorreu a necessidade de profissionais qualificados para atuarem na área de Educação Física Adapta. Dessa forma, com a mobilização de profissionais de Educação Física, houve a criação de cursos de especialização e capacitação em EFA além da inclusão da disciplina nos cursos de graduação em Educação Física. Isso trouxe uma mudança de paradigma na área que antes se preocupava com a formação de corpos fortes e saudáveis, possibilitando o surgimento de novas abordagens que discutiam as relações curriculares em Educação Física com vistas a intervenção profissional na área. Em relação a teorias curriculares, o livro relata algumas que foram surgindo do decorrer do tempo, sendo a teoria tradicional a mais antiga. Essa teoria traz em sua concepção a ideia de que os fins educacionais devem preparar tecnicamente as pessoas para as exigências profissionais da vida adulta. Além disso, o livro argumenta que muitas vezes o critério para a escolha de conteúdo de um currículo é moldado por interesses e decisões pessoais, poder da influência e modismos. Dessa forma surgem outras teorias curriculares: a teoria crítica e a pós- crítica do currículo. Essas teorias defendem que o importante não é saber como fazer o currículo, mas compreender o que o currículo faz. Em 1987, a EFA foi incluída nos currículos de graduação em Educação Física e isso significou um avanço curricular, pois é na graduação que deve haver uma boa fundamentação teórica e prática. Dessa forma, espera-se que o futuro profissional se conscientize de que sua atuação deverá ocorrer sem discriminações de qualquer natureza. A EFA rompe com o tradicional currículo esportivo da Educação Física, pois se baseia em no modelo médico, por meio de conteúdos que abordam a caracterização das deficiências. Dessa forma, retornando às questões curriculares da EFA, o livro considera uma proximidade da disciplina com a concepção tradicional de currículo, pois esta possui um viés biológico que propõe procedimentos especializados a uma determinada população. O livro, ainda, relata sobre a EFA nos cursos de licenciatura e destaca dois aspectos importantes: 1) tratar os alunos com deficiências sob um viés biológico e médico reforça o preconceito com eles. 2) Sendo a escola um lugar democrático, não se pode separar os “diferentes”. No entanto, passada mais de duas décadas da sugestão à gradativa inserçãonos currículos, a EFA, enquanto uma disciplina, foi se configurando em importância, tendo na mobilização política de grupos interessados um dos pilares para seu reconhecimento e sua legitimação.
Compartilhar