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Teoria e Prática de Supervisão Escolar 02 1. Emergência e Visões do Conceito 4 2. Historicidade 11 3. O Papel da Supervisão Escolar 17 4. Princípios da Supervisão Escolar 24 A Supervisão Escolar como Coordenação Pedagógica 27 5. Referências Bibliográficas 33 03 4 TEORIA E PRÁTICA DE SUPERVISÃO ESCOLAR 1. Emergência e Visões do Conceito Fonte: Rasticentre1 ote que o termo supervisão aparece na era da industrializa- ção sob uma perspectiva do aprimo- ramento qualitativo e quantitativo da produção com uma conotação es- pecialmente fiscalizadora. Por outro lado, considerando uma perspectiva organizacional pode ser analisada como uma aptidão/habilidade de análise do passado, análise do pre- sente e logo uma previsão do futuro. Já considerando uma ótica ad- ministrativa. Segundo Caupers (1996, p. 95): “A supervisão con- substancia-se numa quase-hierar- quia: é uma forma de relacionamen- 1 Retirado em http://www.rasticentr.ru/ to interorgânico em que o órgão su- pervisionante não pode dar ordens ao órgão supervisionado, mas pode agir sobre os atos deste, designada- mente revogando-os”. Poderá, em uma análise imediata, ser ainda perspectivada como ter uma visão muito melhor que a normal (super visão). Stones (1984, cit. Vieira, 1993) diz mesmo que” a supervisão não é mais do que possuir uma visão apu- rada, pois o supervisor terá de ver mais longe que o supervisionado. Tem, assim, vários vislumbres, mas todos eles apontam para a mesma N 5 TEORIA E PRÁTICA DE SUPERVISÃO ESCOLAR direção, ou seja, para uma melhoria do desempenho profissional.” Segundo Vieira (1993) e Vas- concelos (2007) o conceito de supervisão pedagógica foi in- troduzido na educação em Por- tugal por Alarcão e Tavares (1987) numa perspectiva clí- nica, ou seja, direcionada para a sala de aulas, e debruçava-se sobretudo para o desenvolvi- mento humano e profissional. Alarcão (2008) confirma esse início nos anos 70 acrescen- tando que se necessitava, nesse contexto, de uma fiscalização, controlo e avaliação. Como Vi- eira e Moreira (2011, p. 8) expli- cam: “As reformas educacio- nais e os problemas da educa- ção estão frequentemente pre- dicados no pressuposto de que os professores são a razão e o problema das escolas medío- cres, logo necessitam de ser cui- dadosamente controlados e monitorizados”. E continuan- do, Vieira (1993) refere que de- pois surgiu Cortesão (1991), apoiada em Smith (1988), exal- tando a necessidade da partilha de experiências e reflexões en- tre os professores, mudando as- sim, de certa forma, o entendi- mento da supervisão pedagógi- ca aplicada às escolas portugue- sas. Surge, entretanto, Sá-Cha- ves (2000) reforçando a impor- tância de uma supervisão cola- borativa e não se resignando à simples ideia da transmissão dos conhecimentos entre o su- pervisor e supervisionado. Alarcão e Tavares (2003) apa- recem de novo com uma revisão da sua primeira obra (Alarcão & Tavares, 1987) estendendo mais o conceito a toda a dinâ- mica da escola criando-se no- vos termos como “escola refle- xiva” e “instituição aprenden- te”. Mas, tudo leva a crer que a ideia da supervisão pedagógica partiu muito provavelmente da necessidade de um melhor acompanhamento de estágio aos novos professores ou aos candidatos a professores evolu- indo depois também para um acompanhamento a professo- res já em carreira numa pers- pectiva de melhorarem os seus desempenhos (RICARDO, HENRIQUES E SEABRA, 2012). Desse jeito, procurava-se de- senvolver condições para promover o lado profissional dos professores e organizacional das escolas. Bem co- mo a maior parte dos conceitos que estão envoltos da Educação, a super- visão não possui uma só explicação, assim como não tem tido uma está- tica (Harris, 2002, cit. Prates, Ara- nha & Loureiro, 2010). Vieira (2009, p. 199) demonstra uma definição onde não deixa equívocos sobre o seu principal papel nas instituições: “teoria e prática de regulação de pro- cesso de ensino e de aprendizagem em contexto educativo formal, insti- tuindo a pedagogia como o seu ob- jeto”. Assim de sobremaneira esse conceito mencionado com o foco da supervisão necessita ser ampliado de forma a incluir problemas e ques- 6 TEORIA E PRÁTICA DE SUPERVISÃO ESCOLAR tões concernentes aos conteúdos ca- racterísticos tais como problemas e questões de ordem geral. Soares (2009) acrescenta ain- da, baseada na evolução da le- gislação e do estudo de diversos autores, como função da super- visão, uma orientação no sen- tido de ajudar o professor su- pervisionado a desenvolver a sua carreira, estimulando o seu desempenho também através de uma forma reflexiva, exer- cendo, deste modo, uma in- fluência indireta na aprendiza- gem dos alunos e consequente- mente na qualidade da educa- ção - parece-nos que deverá ser este o cerne principal de toda a dinâmica das inovações criadas nos sistemas educativos. Neste seguimento, Vasconcelos (2007) acentua esta relação en- tre o supervisor e supervisio- nado e cria a metáfora do scaf- folding que reflete muito bem a necessidade de se irem colo- cando suportes aos supervisio- nados. Este conceito (scaffol- ding) aponta no sentido de aju- dar o supervisionado na cons- trução de andaimes para, numa atitude construtivista, ir per- correndo o seu próprio cami- nho retirando-se posteriormen- te e gradualmente esses susten- táculos (RICARDO, HENRI- QUES E SEABRA, 2012). Logo, o plano da supervisão busca assim induzir os professores a auto supervisionarem-se por meio da procura do conhecimento e por conseguinte de uma melhor atuação. Dessa maneira, a supervisão pode ser praticada sob “quatro alternati- vas disponíveis”: Clínica; Desenvolvimento pessoal coo- perativo; Desenvolvimento auto direci- onado; e Monitorização administrativa. Ainda, especialistas definem três direções basilares da supervi- são, a saber, “pedagógica, gestora e de inspeção”, contestando um pouco a evolução da definição que retira o caráter inspeto à prática supervisio- nada. Possivelmente esses especia- listas conhecedores da realidade brasileira quererá equiparar-se o significado de vistoria à monitoriza- ção. Ou a vistoria aqui não apresen- tará a carga conetiva de avaliação/ repressão como geralmente se pode supor. Mas os termos confundem-se e os conceitos diferem consoante o país. Nos EUA, por exemplo, a supervisão pedagógica aplica- se mais dirigida ao professor já no desenvolvimento da sua car- reira do que ao candidato a pro- fessor e tem um caráter mais fiscalizador ao nível adminis- trativo e de aplicações das ino- vações do que propriamente pe- dagógico (RICARDO, HENRI- QUES E SEABRA, 2012). Ponderando as definições apresentadas por estes especialistas 7 TEORIA E PRÁTICA DE SUPERVISÃO ESCOLAR até o presente momento, parece que poderemos afiançar, como se resu- me no quadro consequente, que a supervisão pedagógica possui a ca- raterística de monitorização nos se- guintes campos: Pedagógica; Científica; Administrativa/organizativa; Humana/social/participativa. Tarefas da Supervisão Pedagógica e suas Áreas de Monitorização Tarefas da Supervisão Pedagógica Áreas de Monitorização 1º - Ajudar e Orientar Pedagógica 2º - Observar e Interpretar Dados Científica 3º - Avaliar numa Perspetiva Formativa Administrativa/Organizativa 4º - Reorientar Humana/Social/Participativa Fonte: (Alarcão e Tavares, 1987; Rangel, 2001; Oliveira-Formosinho, 2002) Ressalta desta apreciação as complexidades em se conseguir de- senvolver um supervisor que seja co- nhecedor (expert) nestes domínios e nos quais as competências particula- res não se encontrem enfraquecidas em relação às dos supervisionados. Dá a entender queé este o pro- blema, levando em consideração o atual estado dos recursos humanos e a realidade das escolas atuais, como pode ser evidenciado abaixo, um dos problemas no que se refere à imple- mentação da supervisão pedagógica nas escolas brasileiras dado a uma relutância no que tange à aceitação do supervisor por parte dos alunos. Ainda, o reconhecimento e adapta- ção a diversas condições fundamen- tais são os complicadores para um harmonioso desenvolvimento das atividades. Escola Pública, com salas lotadas em alguns estados. Fonte: Mec.gov 8 TEORIA E PRÁTICA DE SUPERVISÃO ESCOLAR Escola públicas: Salas vazias e pre- cárias. Fonte: Mec.gov E acrescenta na conclusão do seu estudo (idem, p. 120): “a falta de formação dos coorde- nadores especificamente nesta área, evidencia dificuldades, pois, por um lado, os coordena- dores não se sentem prepara- dos ou motivados e, por outro, os professores não lhes reco- nhecem competências”. Canas (2011) também conclui que os coordenadores dos departa- mentos não têm formação para exercer o cargo apesar de al- guns destes se considerarem lí- deres e supervisores, mas su- portados apenas num trabalho colaborativo e relacional. Aliás, já Serrão (1981, cit. Benavente, 1999, p. 56) dizia que “a condi- ção de professor entre nós sem- pre se definiu pela humildade dos seus estipêndios e pela pre- cariedade da sua preparação cultural e profissional” (RI- CARDO, HENRIQUES E SEA- BRA, 2012). Do mesmo modo, sem a apro- priada formação de professores muito arduamente se promoverá uma adequada reforma e, por conse- guinte uma qualidade no ensino. Então, a falta de formação para se desempenhar um cargo pode resul- tar em um autoritarismo que nada terá a ver com a autoridade (indis- pensável) fundamentada na compe- tência e na confiança. Também Esteve (1984, cit. Tei- xeira, 1995, p. 155) dizia que “Muitos dos esquemas autoritá- rios que existem na escola não são mais do que uma forma de autodefesa para encobrir a in- segurança gerada pela consci- ência de uma deficiente prepa- ração”. Leal e Henning (2009) enfatizam constantemente a necessidade de um “poder dis- ciplinar” para se conseguir le- var avante todo o processo su- pervisivo (RICARDO, HENRI- QUES E SEABRA, 2012). Entretanto este poder, não for- çosamente autoritário, não se alcan- çará, muito possivelmente, sem um perfil acadêmico e profissional do supervisor bem definido e aceito pe- los alunos. Tentaremos em seguida resumir os diversos momentos e as atuações correspondentes da super- visão pedagógica que são mais im- portantes de forma a poder-se com- plementar o que pese, apesar de constatarmos que não existe “unani- midade entre as propostas teóricas sobre as etapas da supervisão”. Logo, “não é desejável enun- ciar de forma esquemática as tarefas a realizar no âmbito do processo de supervisão” apesar de exibir um es- 9 TEORIA E PRÁTICA DE SUPERVISÃO ESCOLAR quema de Goldhammer et al. (1980) para se desenvolver uma supervisão clínica apontada pelo aspirante a professor em seu estágio com cinco etapas: Encontro pré-observação, on- de o supervisor explica ao su- pervisionado quais as ações da supervisão; Observação, onde o supervisor pode usar as mais variadas fer- ramentas de registo; Análise dos dados e planifica- ção da estratégia da discussão, onde a equipe supervisor/su- pervisionado analisa as ações; Encontro pós-observação, on- de poderão ser alteradas as es- tratégias; Análise do ciclo de supervisão, onde se faz um balanço de to- das as atividades (RICARDO, HENRIQUES E SEABRA, 2012). Observe que “No âmbito do processo de supervisão, a avaliação será perspectivada como atividade ao serviço da construção do conheci- mento, com uma função formativa” (OLIVEIRA, 2019). Temos a mesma apreciação e também perspectiva- mos a avaliação da supervisão como formadora, devendo-se conservar a sumativa e a avaliadora externa co- mo uma postura de prestação de contas (accountability) uma vez que sempre existe alterações na carreira e em seus afazeres. Aliás, esta direção começa a ser bem patente no novo modelo de avaliação do desempenho do- cente (DR nº 26/2012) ao atri- buir 60% do peso final da avali- ação sumativa ao avaliador ex- terno e 40% ao avaliador in- terno (supervisor pedagógico). Como nos alerta Moreira (2009) baseada em vários auto- res, as atividades do supervisor (formativo) e do avaliador (su- mativo) devem ter dimensões distintas uma vez que possuem “funções (quase) irreconciliá- veis” (idem, p. 253) reforçando que a “supervisão visa promo- ver o desenvolvimento profis- sional do professor, enquanto que a avaliação [sumativa] pro- cura formular juízos sobre a sua competência” (RICARDO, HENRIQUES E SEABRA, 2012). 11 TEORIA E PRÁTICA DE SUPERVISÃO ESCOLAR 2. Historicidade Fonte: Prova fácil web2 ote que repensar na atuação supervisora nas instituições escolares solicita uma breve apreci- ação na linha do tempo, percorrendo aspectos e conceitos da história da supervisão educacional, para com- preendê-la em suas estirpes e em seus avanços. Considerando logica- mente o contexto brasileiro, a super- visão é uma profissão relativamente recente. A partir do pressuposto do que vem a ser supervisão começou com a indústria, pertinente à linha de produção. 2 Retirado em http://provafacilnaweb.com Antes de ser levada para o campo educacional, a supervisão era utilizada na indústria como uma maneira de aperfeiçoar a qualidade e a quantidade. Pode-se articular que foi em meados de 1900 que a su- pervisão se unifica à educação, com o desígnio de melhorar o desempe- nho da escola diante da atuação edu- cativa, a fim de procurar atender as precisões do educando. Posteriormente, ao ano de 1920, a supervisão dirigiu-se para a eficiência do professor, N 12 TEORIA E PRÁTICA DE SUPERVISÃO ESCOLAR buscando orientá-lo para mu- danças didáticas às quais per- mitissem um maior rendimento escolar. Em torno da década de 30, a supervisão sofreu influên- cias de grandes estudiosos soci- ais e passou a priorizar mais a cooperação e a coordenação dos professores em suas ações pe- dagógicas. Em meados dos anos 70, com a Reforma Francisco Campos, foi decretada a Lei 19. 890 de 18/4/1931, a qual veio diferenciar a orientação escolar da mera concepção de fiscaliza- ção. Com base nos dizeres de Nérici (1978), no intervalo do ano de 1940 a 1960 a supervisão teve preocupação em sensibili- zar o professor para a pesquisa, na qual visava que o educador tinha que tomar consciência de suas dificuldades e, posterior- mente, ir em busca de orienta- ção necessária para que pu- desse melhorar sua atuação e a superação das dificuldades. No ano de 1942, pelo Decreto-Lei 4.244 de 9/4/1942 foi promul- gada a Lei Orgânica do Ensino Secundário, na qual concebia no artigo 75, parágrafo 1º que dizia que “a inspeção far-se-á, não somente sob o ponto de vista administrativo, mas ainda com o caráter de orientação pe- dagógica, aplicando-se, dessa forma, às atividades da inspe- ção” (CARLOS E LODI, 2012). Em 1953, através do Decreto- Lei 34.638 de 14/11/1953, foi publi- cada a Campanha de Aperfeiçoa- mento e Difusão do Ensino Secun- dário conhecido como Cades, cujo ti- nha como basilar objetivo “melhorar a qualidade do ensino por meio do treinamento de recursos humanos, oferecendo aos inspetores da época subsídios para a formação e a funda- mentação de seu trabalho nas esco- las, enfatizando, sempre, o caráter pedagógico” (OLIVEIRA, 2019). Fonte: https://slidepla- yer.com.br/slide/11180588/ Do mesmo modo, na década de 50, através de “uma política de alianças” entre Brasil e Estados Uni- dos, a supervisãonasceu no campo educacional brasileiro de forma di- ferenciada, ou ainda, de forma mais contemporânea. Também, teve a garantia e a concretização de uma política de- senvolvimentista que originava o conceito de uma educação voltada para a transformação social. Desde então a supervisão escolar foi consi- derada e nominada legitimamente, por meio de um protótipo américa- no, em que prevaleciam as metodo- logias e técnicas de ensino. 13 TEORIA E PRÁTICA DE SUPERVISÃO ESCOLAR Assim, a supervisão escolar teve início aqui nas terras brasilei- ras, por meio de cursos promo- vidos pelo Programa America- no-Brasileiro de Assistência ao Ensino Elementar (PABAEE), o qual foi o primeiro a formar su- pervisores escolares para atua- rem no ensino elementar (pri- mário) brasileiro. A finalidade era modernizar e melhorar a qualidade do ensino e a forma- ção dos professores. De acordo com Medina, uma das ideias contidas nos objetivos do PA- BAEE era: Introduzir e de- monstrar aos educadores brasi- leiros os métodos e técnicas uti- lizados na educação primária, promovendo a análise, aplica- ção e adaptação dos mesmos, a fim de atender às necessidades comunitárias em relação à edu- cação, por meio do estímulo à iniciativa do professor, no sen- tido de contínuo crescimento e aperfeiçoamento (CARLOS E LODI, 2012). O PABAEE conseguiu, criar, comprovar e adequar o material di- dático e os aparelhos tecnológicos da época, com base na apreciação nos recursos disponíveis no Brasil e em outros países, na educação primária. Logo, foi um programa apre- sentado como uma grande novidade educacional brasileira, sendo falado desde o ano de 1957 à 1963, confe- rido a um “caráter inovador na área pedagógica e preocupando-se, prin- cipalmente, com os meios que possi- bilitariam o reformismo educacio- nal” (OLIVEIRA, 2019). No ano de 1961, com a criação da LDB (Lei de Diretrizes e Ba- ses da Educação Nacional) - Lei 4.024 de 20/12/1961 nota-se que as transformações ocorri- das no campo da supervisão fo- ram retomadas para o “Ensino Primário”. Em seu artigo 52 (LDB, 1961 apud LIMA, 2008, p. 71) diz que “o ensino normal- mente tem de pôr fim a forma- ção de professores, orientado- res, supervisores e administra- dores escolares destinados ao ensino primário e o desenvolvi- mento dos conhecimentos téc- nicos relacionados à educação da infância”. A partir de então, ficou determinado que os go- vernos, tanto estadual quanto municipal, tinham que assumir e administrar os encargos de organização e execução de todo o sistema educacional (CAR- LOS E LODI, 2012). Note que o Governo Federal competia o desígnio de definir as metas a serem obtidas em todo o país e uma atuação supletiva às defi- ciências regionais, através de auxílio financeiro e de assistência técnica. Assim, diante deste princípio de des- centralização administrativa em ní- vel de implemento, além disso foi descentralizado pela LDB a inspe- ção, delegando aos Estados a com- petência de organizar esses serviços, referente ao ensino primário e mé- dio. Uma vez que o PABAEE possui uma grande influência no sistema educacional brasileiro no começo 14 TEORIA E PRÁTICA DE SUPERVISÃO ESCOLAR dos anos 60, o Brasil sofre amplas mudanças, estes acarretaram altera- ções significativas no âmbito da edu- cação. A partir da política do gover- no depois de 64, a educação tornou- se o principal contexto de interesse econômico e claro de segurança na- cional. Nos diversos sistemas educaci- onais das unidades federativas, a supervisão escolar passou a exercer a função de controlar a qualidade do ensino, e também, a de criar condições necessárias para que se promovessem a me- lhoria da qualidade do ensino. No entanto, exigia-se do super- visor uma formação em nível superior. Segundo Saviani: (...) como as demais habilitações educacionais criadas e oficial- mente institucionalizadas na educação brasileira, a partir da regulamentação da lei 5540/ 68, a supervisão escolar passa a ter sua formação em cursos de graduação, sendo processada a partir da linha em que se davam os cursos promovidos pelo Pa- baee e Pamp. Isto é, fundamen- tada nos pressupostos da peda- gogia tecnicista - que se apoia na neutralidade científica e se inspira nos princípios da racio- nalidade, eficácia e produtivi- dade do sistema. (CARLOS E LODI, 2012). Nada obstante, a presença dos conhecedores da supervisão no inte- rior do sistema educacional, confir- ma a contribuição à divisão do tra- balho na escola. Pode-se proferir que desde o ano de 1960 até presen- temente a supervisão tem sido utili- zada pela eficiência, auxílio e pes- quisa, com alvo no desenvolvimento profissional do educador. A supervisão escolar solicita meios que transformem o professor em um profissional mais consciente, competente e (co)responsável no processo de ensino e aprendizagem. Desde então, a supervisão educacio- nal adveio sobre três etapas distin- tas, exibidas a seguir. Etapa Fiscalizadora: Note que neste período da supervisão era con- siderado a primeira etapa em que existe confusões com a inspeção es- colar como já mencionamos. A etapa fiscalizadora é delimitada pelo pre- dicado do supervisor direcionando os seus afazeres em grande parte para a função técnica e gestora. Tal ação era voltada para o cumprimento das leis de en- sino, das condições do prédio, das situações legais dos docen- tes, do cumprimento das datas e prazos de atos escolares (pro- vas, transferências, matrículas, férias, documentação dos edu- candos, dentre outros). Pode-se dizer que esta etapa da supervi- são prioriza o seguimento de padrões rígidos e inflexíveis e esses segmentos eram os mes- mos adotados por todo o país. Não havia respeito com as dife- renças e individualidades de cada região, de cada instituição e de cada aluno (CARLOS E LODI, 2012). 15 TEORIA E PRÁTICA DE SUPERVISÃO ESCOLAR Etapa Construtiva: Esta modali- dade da supervisão ficou conhecida por ser a etapa construtiva e/ou su- pervisão orientadora. A performan- ce do supervisor nesta etapa sofre uma alteração significativa se com- parada com a etapa anterior. A supervisão orientadora é ca- racterizada por passar a ter re- conhecimento de que é necessá- ria uma melhoria na atuação dos professores. A partir de en- tão, os especialistas em supervi- são começaram a promover cursos de aperfeiçoamento e atualização dos professores. Portanto, através destes cursos, como menciona Nérici (1978), era possível identificar os “er- ros” praticados na atuação do professor em sala de aula e, posteriormente, realizar traba- lhos acerca dos próprios “erros” para tentar saná-los, buscando novos conceitos e metodologias (CARLOS E LODI, 2012). Etapa Criativa: Passa ser quando a supervisão passa a ser individuali- zada e separada da inspeção escolar. A partir desta etapa, a supervisão es- colar advém como a principal finali- dade, o aperfeiçoamento de todo o processo ensino-aprendizagem. Deve-se ressaltar que o papel do supervisor nessa fase é o de permitir que todos os envolvi- dos no âmbito educacional (professores, pais, alunos, fun- cionários em geral), participem ativamente de todas as deci- sões, no sentido de um trabalho cooperativo e democrático (CARLOS E LODI, 2012). 17 TEORIA E PRÁTICA DE SUPERVISÃO ESCOLAR 3. O Papel da Supervisão Escolar Fonte: Veja Abril3 or meio do apanhado histórico mencionado anteriormente é plausível entender que a escola, a sua organização e o seu funciona- mento sempre responderam aos in- teresses da sociedade. O papel do su- pervisor escolar ao longo de muito tempo foi o de reprodutor do modelo industrial dentro do espaço pedagó- gico, significando que tinha uma “super visão” do “inspetor” dos afa- zeres desenvolvidos pelos professo-res, procurando detectar erros, fa- lhas e gerenciar aqui que não estava 3 Retirado em http://veja.abril.com.br saindo de acordo com o esperado, isto é, buscava-se a “produtividade do ensino e a constante fiscalização da eficiência da tarefa educativa, re- sumindo-se a tarefas burocráticas” (LOURENÇO, 2009. p. 262). Conforme Andrade (1976), a supervisão pode ser definida como um processo que orienta a escola como um todo, objeti- vando alcançar suas intenções. Salientando como principal ca- racterística a orientação, coor- denação e ajuda. Nesta mesma P 18 TEORIA E PRÁTICA DE SUPERVISÃO ESCOLAR perspectiva de orientação peda- gógica, Rangel (1980), concei- tua a supervisão escolar tendo em vista que o processo de en- sino aprendizagem é o foco da atividade. Coloca de maneira ampla que a supervisão se trata de uma atividade de assistência ao professor através do planeja- mento, coordenação, controle, avaliação e atualização do de- senvolvimento do processo de ensino-aprendizagem. A cons- trução do conhecimento por parte de todos os envolvidos é, portanto, o seu objetivo. Alar- cão (2001, p. 35), destaca o su- pervisor como um líder, defi- nindo o objeto da supervisão como “o desenvolvimento qua- litativo da organização escolar e dos que nela realizam seu tra- balho de estudar, ensinar ou apoiar a função educativa por meio de aprendizagens indivi- duais e coletivas, incluindo a formação de novos agentes” (QUEIROGA, 2013). Dessa forma, dada a complexi- dade da metodologia de supervisão escolar, podem ser listados alguns dos inúmeros fatores que necessi- tam e podem ser adotados: Assistência (suprindo as defi- ciências técnico-docentes ob- servadas na atuação do profes- sor); Recurso (possibilitando a in- terpretação dos anseios e ne- cessidade do ambiente); Estímulo (permitindo a me- lhoria das relações entre todos os elementos humanos envol- vidos no processo educativo); Aconselhamento (utilizando maior conhecimento de méto- dos e recursos didáticos bási- cos à eficiência da ação esco- lar); Apoio (analisando e solucio- nando cooperativamente pos- síveis dificuldades oriundas de cada situação específica); Assessoramento (relacionan- do as cúpulas técnico-admi- nistrativas com as bases ope- racionais); Co-participação (vivenciando a consciência de uma ação úni- ca, visando a um objetivo co- mum). (QUEIROGA, 2013). De acordo com Przybylski (1985), a ideia do que se ima- gina ser a supervisão vem a par- tir das respostas das seguintes indagações: “o que é supervisão escolar?” “o que pretendo com meu trabalho como supervi- sor?”. As respostas podem ser múltiplas e enfatizar mais de- terminadas questões em detri- mento de outras, portanto, o autor sugere como definição: Supervisão escolar é o processo que tem por objetivo prestar ajuda técnica no planejamento, desenvolvimento e avaliação das atividades educacionais em nível de sistema ou unidade es- colar, tendo em vista o resul- tado das ações pedagógicas, o melhor desempenho e o apri- moramento permanente do pessoal envolvido na situação ensino-aprendizagem”. (QUEI- ROGA, 2013). Entende-se que nesse concei- to, os supervisores escolares surgem 19 TEORIA E PRÁTICA DE SUPERVISÃO ESCOLAR para orientar e seguir o ensino, in- formando desde o começo das ativi- dades de planejamento, desenvolvi- mento e ajuizamento das atividades educacionais, conjeturando sempre atuações pedagógicas que procurem um melhor desempenho e o aperfei- çoamento constante dos envolvidos no processo de ensino-aprendiza- gem. Competências na Prática Educativa Fonte: scielo.br Desse jeito, a supervisão esco- lar é ainda responsável por simplifi- car o desenvolvimento de concep- ções coletivas na escola, a gestão de- mocrática além disso se realiza por meio de sua atividade, porquanto envolve docentes, estudantes, co- munidade e Secretaria de Educação, cooperando com o processo de ensi- no aprendizagem, auxiliando políti- co-administrativamente todas as re- lações viventes dentro da escola. Outro aspecto importante na prática da Supervisão Educa- cional no trabalho pedagógico é promover a integração e articu- lação de todo o processo políti- co pedagógico onde agirá de acordo com suas competências política, humana, técnica e pe- dagógica, em consonância com a legislação vigente no país [...] Em sua gestão, a supervisão educacional deverá orientar na seleção de procedimentos, re- cursos, instrumentos metodo- lógicos e avaliativos para a ação educacional, na elaboração do diagnóstico da realidade e na articulação entre teoria e a prá- tica. A ideia é buscar a coerên- cia necessária entre teoria e práxis no processo educacional mais amplo. (CORRÊA, 2010, p. 14-15) De acordo com Olivei- Conhecimento Processo de Ensino Situações Problema Recursos Cognitivos Mobilizáveis Competências Alcance dos Objetivos 20 TEORIA E PRÁTICA DE SUPERVISÃO ESCOLAR ra (2011), o perfil de um bom supervisor contempla as se- guintes qualidades: auxiliador, orientador, dinâmico, acessível, eficiente, capaz, produtivo, apoiador, inovador, integrador, cooperativo, facilitador, cria- tivo, interessado, colaborador, seguro, incentivador, atencioso, atualizado com conhecimento e amigo. Faz-se importante des- vencilhar-se do modelo organi- zacional, onde as relações de poder e autoridade são vertica- lizadas, onde mandar e obede- cer são os pré-requisitos. “… o supervisor faz a transposição da teoria para a prática escolar, re- flete sobre o trabalho em sala de aula, estuda e usa as teorias pa- ra fundamentar o fazer e o pen- sar dos docentes” (QUEIROGA, 2013). Percebe-se, deste modo, que o supervisor para aperfeiçoar seu tra- balho e por ele ser reconhecido co- mo tal necessita criar uma atmosfera favorável ao diálogo, tanto nas rela- ções com os docentes, assim como os estudantes, além de considerar os pais e os outros membros da gestão escolar. Mas, qual seria o real papel da supervisão, uma vez que têm-se inú- meras queixas nascidas no dia a dia destes profissionais sobre a precisão de sua ação em diversas frentes, por vezes sozinhos, resolvendo dificul- dades de urgência, sentido até mes- mo o distanciamento dos educado- res, lidando com a suspeita, compe- tição, influência e poder? Ainda conforme Vasconcellos (2007, p. 2), o autor define o papel do supervisor escolar sob duas perspectivas, uma nega- tiva e outra positiva. A definição negativa apresenta tudo aquilo que o supervisor não é: não é fiscal de professor, não é dedo- duro (que entrega os professo- res para a direção ou mantene- dora), não é pombo correio (que leva recado da direção pa- ra os professores e dos profes- sores para a direção), não é co- ringa/tarefeiro/quebra galho/ salva-vidas (ajudante de dire- ção, auxiliar de secretaria, en- fermeiro, assistente social, etc.), não é tapa buraco (que fica "toureando" os alunos em sala de aula no caso de falta de professor), não é burocrata (que fica as voltas com relató- rios e mais relatórios, gráficos, estatísticas sem sentido, man- dando um monte de papeis pa- ra os professores preencherem - escola de "papel"), não é de ga- binete (que está longe da prá- tica e dos desafios efetivos dos educadores), não é dicário (que tem dicas e soluções para todos os problemas, uma espécie de fonte inesgotável de técnicas, receitas), não é generalista (que entende quase nada de quase tudo) (QUEIROGA, 2013). No que se refere à definição positiva, um dos basilares papéis de- senvolvidos pelo profissional é com- preender que a escola é um ambi- ente plural, na qual irá pronunciar a prática pedagógica e todas as preci- sões da escola, sempre em concor- dância com o Projeto Político Peda- gógico da Escola. Ao mesmo tempo, 21 TEORIA E PRÁTICA DE SUPERVISÃOESCOLAR compete ao supervisor ter o cuidado em sistematizar os dados do dia-a- dia da escola, oportunizar períodos de estudo de ordem sociológica, filo- sófica, elevar e organizar informa- ções sobre os fenômenos que advêm sobre a escola, articular e coordenar reuniões sistemáticas para discutir e trocar experiências. Em resumo, rompe-se com o conceito clássico de que a supervisão é meramente uma prática distancia- da do ensino, regressada para o con- trole. Entende-se, deste modo, que a função supervisora, presentemente configura-se por meio da ação de profissionais conscientes e certifica- dos para resolver problemas, orga- nizar propostas e enfrentar desafios na escola da melhor forma possível, demandando desse modo, um olhar investigativo por parte do supervisor escolar como um administrador da articulação das políticas internas e externas da escola. Mesmo existindo visões negati- vas e atitudes desacreditadas por parte da equipe escolar, e até mesmo a banalização do seu trabalho, este profissional é im- prescindível na realidade esco- lar e não pode desistir de sua atividade, pois é transformador o resultado de sua ação, extra- polando inclusive as questões pedagógicas, pois é um articu- lador político ao buscar estrei- tar os relacionamentos com to- dos os elementos da comuni- dade escolar (QUEIROGA, 2013). Logo, a prática do supervisor escolar como trabalho de organiza- ção e “controle” da prática educado- ra que procura afiançar os princípios e os desígnios da educação possui como conteúdo dos seus afazeres da política, o planejamento, a gestão e a avaliação: À política - coordenação da in- terpretação/implementação e da “coleta” de subsídios para o desenvolvimento de novas polí- ticas mais comprometidas com as realidades educacionais; Ao planejamento - coordena- ção, construção e elaboração coletiva do projeto acadêmico/ educacional, implementação coletiva, coordenação da “vigi- lância” sobre seu desenvolvi- mento e necessárias reconstru- ções; À gestão - coordenação, propri- amente dita, de todo o desen- volvimento das políticas, do planejamento e da avaliação - projeto acadêmico/educacio- nal, construído e desenvolvido coletivamente; À avaliação - análise e julga- mento das práticas educacio- nais em desenvolvimento com base em uma construção coleti- va de padrões que se alicercem em três princípios/posturas in- timamente relacionados: a ava- liação democrática, a crítica institucional, a criação coletiva a investigação contínua (QUEI- ROGA, 2013). Então de acordo com o expos- to acima, é admissível perceber que outras vindicações e obrigações são 22 TEORIA E PRÁTICA DE SUPERVISÃO ESCOLAR atribuídas à supervisão que passa a construir um novo desígnio de ação com outras aptidões, isto é, um tra- balho de organização, organização e administração de práticas profissio- nais desenvolvidas no âmbito da es- cola, afastando-se do modelo “in- dustrial” que o suscitou. A supervisão como prática edu- cativa estabelece um exercício profissional que garanta os princípios de liberdade e soli- dariedade humana, no desen- volvimento pleno do aluno, contribuindo para a formação de sua cidadania e qualificação para o mundo do trabalho. “Seu compromisso, em última ins- tância, é a garantia de qualida- de da formação humana que se processa nas instituições esco- lares, no sistema educacional brasileiro, na atual conjuntura mundial” (FERREIRA, 2001, p. 93). (QUEIROGA, 2013). 23 24 TEORIA E PRÁTICA DE SUPERVISÃO ESCOLAR 4. Princípios da Supervisão Escolar Fonte: Netshow4 om o debate sobre a organiza- ção de um sistema nacional de educação, o conceito de supervisão, hoje em dia passou a chamar Coor- denação Pedagógica, aos poucos vai granjeando contornos mais límpi- dos, do mesmo modo, as discussões objetivam abrir aspectos para aferir a essa ideia o estatuto da verdade e prática. A organização administrativa e pedagógica do sistema e a organi- zação das escolas formam grupos es- colares. No começo do período Re- publicano, sob a autoridade do posi- 4 Retirado em http://netrshow.me tivismo, a reforma de Benjamim Constant foi convencionada susci- tando supressão do ensino religioso nas escolas públicas, logo, o estado passou assumir a educação. A visão burguesa é disseminada pela escola, visando garantir da burguesia industrial como clas- se dominante. Com extensão cafeeira o modelo econômico passa de agrário exportador para o modelo urbano comer- cial exportador (FERREIRA, 2008). A pedagogia tradicional se articula no Brasil com desen- volvimento das capacidades C 25 TEORIA E PRÁTICA DE SUPERVISÃO ESCOLAR mentais, no treino do raciocí- nio, e da pedagogia renovada nos processos mentais de aprender, deixa marginalizados os alunos que não dispõem dos pré-requisitos culturais do sa- ber (LIBÂNEO, 2002, p. 67). A pedagogia tradicional deu aber- tura e trouxe novos horizontes para reformas políticas e peda- gógicas, para alterações as fun- ções e as inter-relações entre supervisor, orientador, diretor e professor. A busca de solução conjunta dentro do contexto es- colar deu aos supervisores uma autonomia, para implantar ino- vações em gestão de formação continuada. No entanto, faz-se necessário que a escola demo- crática, juntamente com o su- pervisor escolar busque meca- nismo que contemplam as par- ticularidades de seus professo- res em formação continuada, levando-os a reflexão de uma pedagógica de conteúdos críti- cos valorizando o multicultura- lismo da sala de aula (RODRI- GUES, 2018). Dentre suas principais atribui- ções podemos mencionar: Orientar; Controlar; Supervisionar; Fiscalizar; e Inspecionar. Todo o processo educacional por meio de conferências, palestras visitas, seguirem o desenvolvimento do currículo nas instituições, com os desígnios de auxiliar pedagogica- mente os professores mais jovens, procurando eficácia, introduzindo inovações, atualizando as metodolo- gias de ensino e promovendo um acompanhamento mais cuidadoso do currículo pleno nas escolas. Embora, consista em ser uma das atribuições do supervisor esco- lar, é necessário admitir atuações voltadas ao trabalho do professor, preocupando-se pelo aperfeiçoa- mento do processo ensino aprendi- zagem dos estudantes. Do mesmo modo, Lück (2011, p. 21) cita que “A eficácia da ação do supervisor esco- lar torna-se, pois diretamente ligada à sua habilidade em promover mu- danças de comportamento no pro- fessor”. No entanto, a falta de uma as- sistência ao professor quanto ao seu desempenho em sala de aula é considerada como uma das importantes causas de em- baraço do processo educativo. Portanto, o desempenho do professor em termos de seus co- nhecimentos, atitudes e habili- dades com relação ao ensino aprendizagem são cernes da melhoria da qualidade da edu- cação e também pelo apoio e su- porte que o supervisor lhe dá, auxiliando e mediando suas di- ficuldades encontradas no de- correr do trabalho pedagógico (LÜCK, 2011). Compreende-se que para chegar ao apoio incon- dicional da supervisão escolar aos professores que atuam em sala de aula, foi preciso muitos gargalos e conquistas, pois no início da sociedade primitiva a 26 TEORIA E PRÁTICA DE SUPERVISÃO ESCOLAR educação coincidia com a pró- pria vida sendo, pois, uma ação desenvolvida pelos homens. No entanto, Ferreira (2003, p. 15) escreveu que “Com efeito, a ação educativa era exercida pelo ambiente, pelo meio, pelas relações e ações vitais desenvol- vidas pela comunidade com a participação direta das novas gerações, as quais, por essa for- ma o educavam”. Neste período a função do supervisor não era apenas na escola, mas em pro- priedades públicas ou privadas e também no trabalho escravo (RODRIGUES,2018). As ideias liberais foram disse- minadas quando, no final do século XVIII, a burguesia contrastava e re- sistia em arrancar o poder da nobre- za feudal, junto ao clero. Para tanto difundiu a mão de ideais humanis- tas, isto é, a libertação, a igualdade, a fraternidade, ao longo dessa luta pelo poder político e econômico, lo- go, a imagem de poder fundamenta- se na posição social que por sua vez, cai por terra. Porquanto todo cida- dão possui o direito de contrair pres- tígio e enricar por mérito próprio, admite dessa forma uma visão de homem e de mundo. [...] à medida que a burguesia, inicialmente, pretendeu aplicar o princípio da educação como direito de todos e dever do esta- do, contribuiu para fazer avan- çar o processo da emancipação humana e, por isso cumpriu um papel revolucionário, histórico (LIBÂNEO, 2002, p. 63). Ao longo dos avanços históri- cos e políticos, o método educacio- nal ainda foi progredindo, permi- tindo assim, mais cargos ao supervi- sor escolar quanto a sua colaboração no método de ensino aprendizagem através do trabalho em parceria com o docente. Porquanto a superação das no- vas pertinências ao supervisor esco- lar é um constante desafio, já que em uma escola democrática cabe ao su- pervisor indicar condições para que os docentes possam rever suas prá- ticas pedagógicas. Na década de 80, a crise socioe- conômica e a nova república, dão início a uma nova fase e a luta operária ganha força e os professores lutam pela recon- quista do direito de participar da definição da política educa- cional e da luta pela recupera- ção da escola pública (FERREI- RA, 2003, p. 78). Após a década de 80, depois de muita luta, passando do regime militar, ocorreu a recuperação da escola pública, e em contrapartida a promulgação da Lei de Diretri- zes e Bases da Educação (LBD, 1996) do respaldo ao trabalho do profissional em supervisão escolar. Onde a escola como um sistema social, compõe-se de um conjunto de funções, mas todas inter-relacionadas e Inter influentes umas com as outras. A escola, na perspectiva de construção de cidadania, pre- cisa assumir a valorização da cultura de sua própria comuni- 27 TEORIA E PRÁTICA DE SUPERVISÃO ESCOLAR dade e, ao mesmo tempo, bus- car ultrapassar seus limites, propiciando às crianças perten- centes aos diferentes grupos so- ciais o acesso ao saber, tanto no que diz respeito aos conheci- mentos socialmente relevantes da cultura brasileira no âmbito nacional e regional como no que faz parte do patrimônio universal da humanidade (BRASIL, 1997, p. 46). O mun- do contemporâneo é marcado pela hegemonia do neolibera- lismo acentuando-se e ampli- ando-se as formas de exclusão social e cultural, a globalização reflete no âmbito educacional no que se refere a organização do trabalho pedagógico, dele- gando uma série de atribuições as escolas e aos coordenadores educacional e professores (RO- DRIGUES, 2018). Logo, o papel da coordenação pedagógica está focado na formação do tecnólogo do ensino, favoreci- mento e no aprofundamento do as- pecto crítico, regressada a educação e desenvolvimento de coordenado- res pedagógicos. A Supervisão Escolar como Co- ordenação Pedagógica Logo, o papel da supervisão escolar trabalhando como coordena- ção pedagógica na escola, ganha no- vas extensões, como afirma Ferreira (2003, p. 179) “passando de contro- lador e direcionador para estimula- dor do trabalho docente”. Fonte: slideplayer.com.br 28 TEORIA E PRÁTICA DE SUPERVISÃO ESCOLAR Igualmente compreendida, a supervisão, torna-se aberta às trans- formações de paradigmas, quando antes prescritivas e normativas, para se transformar em uma atuação crí- tica e reflexiva unido ao professor. Fonte: slideplayer.com.br A organização pedagógica pre- cisa ser indicada como um produto simples da nova pedagogia, por onde se formalizou sua definição de mentora na escola, com o enfoque psicológico estrito da educação. Não é necessário muito esforço para al- cançar a uma definição-padrão de suas pertinências; um serviço que passa a ser da coordenação pedagó- gica escolar regressada à orientação dos docentes e estudantes, apon- tando para o desenvolvimento de suas potencialidades. No entanto para que o trabalho do coordenador pedagógico se- ja de sucesso, visando o desen- volvimento de suas potenciali- dades, pois é imprescindível al- gumas considerações onde se faz necessário como, escreveu Ferreira (2003, p. 179) “Manter um clima de abertura, cordiali- dade, encorajamento, fortale- 29 TEORIA E PRÁTICA DE SUPERVISÃO ESCOLAR cer o sentimento grupal; traba- lhar com professores, partilhar ideias, estimulando e fortale- cendo as lideranças”. Os quais, proporcionando trabalho em equipe, promovendo a troca de experiências, a reflexão sobre a prática, sugerindo e trazendo contribuições para novas estra- tégias de trabalhos. Ainda Fer- reira (2003, p. 54) afirma que o Coordenador Pedagógico pre- cisa “Trabalhar sobre a ideia de processo de transformação, buscar caminhos alternativos, acompanhar a caminhada cole- tiva”. Compreende-se que a ação da coordenação pedagó- gica está fundamentada em di- mensões básicas: atitudinal e procedimental (RODRIGUES, 2018). Dessa maneira, também se torna papel do coordenador pedagó- gico escolar: Conhecer a legislação, seus li- mites e brechas, otimizando seu uso em proveito da escola e dos objetivos educacionais, preocupando-se sempre com a renovação da escola e das prá- ticas pedagógicas, criando la- ços com a comunidade; esti- mular o desenvolvimento de experiências e seu comparti- lhamento com o grupo; Atentar para as dificuldades apresentadas pelos professo- res, criando mecanismos que permitam a consulta e a dis- cussão do assunto; subsidiar os docentes com informações e conhecimentos atuais sobre temas complexos, de forma di- reta ou indireta, orientando leitura, dando referências ou propiciando encontros com especialistas na área (RODRI- GUES, 2018) Destaca Ferreira (2003) que para desenvolver um bom tra- balho, o coordenador escolar precisa ser um constante pes- quisador, é necessário que ele antecipe conhecimento para os professores, para que estes fi- quem motivados a participarem da formação continuada. Pois é de fundamental importância fa- zer intervenções, sustentabili- zando estratégias de trabalho, transformando ideias em ações concretas, para transformar a própria consciência, envolven- do reflexão e emoção, com de- terminadas condições objeti- vas. Visando estabelecer na es- cola a dinâmica constante de ação e reflexão em reciprocida- de, para ter uma apropriação crítica da prática e da teoria fa- zendo-as avançar, o método; essencial para construção de uma prática que visa a qualifi- cação Profissional, com ação mediadora da coordenação pe- dagógica junto ao professor, tendo compreensão da realida- de, clareza de objetivos, estabe- lecendo-se um plano de ação, agindo de acordo com o plane- jamento e avaliando sua prática a continuidade (RODRIGUES, 2018). Dessa forma, dentro dos fato- res que sustentam o diálogo franco e aberto usando como referência o 30 TEORIA E PRÁTICA DE SUPERVISÃO ESCOLAR Projeto Político Pedagógico da Es- cola (PPP), a coordenação pedagó- gica necessita se preocupar em legi- timar os discursos, as dúvidas e in- centivar os professores. Logo, a coordenação possui um papel muito importante na dire- ção da instituição que é o de resgatar o valor e o sentido do ensino como ambiente de transformação. Ao mesmo tempo, o papel do coordena- dor pedagógico escolar estabelece uma somatória de esforços e atua- ções desencadeadas com o sentido de cooperar na edificação e cumpri- mento do projeto político pedagó- gico da instituição, assim como pro- mover o aperfeiçoamento do pro- cesso ensinoaprendizagem trazer os valores no desempenho do docente como transformador das práticas pedagógicas. Fonte: slideplayer.com.br Ainda Lück (2011, p. 43) enfati- za o papel do coordenador co- mo “facilitador de ações, isto é, de assistir os atuantes no pro- cesso educativo na organização e análise de sua tarefa; na de- terminação de procedimentos; na divisão e tomada de respon- sabilidade [...]”. Compreende- se que o papel do supervisor é fundamental para aprimorar o ensino aprendizagem, onde sua atenção esteja voltada ao de- senvolvimento de atitudes, ha- bilidades e conhecimento do professor para que possa pro- mover um processo educativo de qualidade (RODRIGUES, 2018). 31 TEORIA E PRÁTICA DE SUPERVISÃO ESCOLAR Materiais Complementares Links “gratuitos” a serem con- sultados para um acrescentamento no estudo do aluno de assuntos que não poderão ser abordados na apos- tila em questão: A SUPERVISÃO ESCOLAR NO ÂM- BITO DO Princípios e funções da supervisão escolar - Sumário 11 * O Supervisor como articulador O-papel-do-pedagogo-na-supervi- sao-escolar.pdf Princípios da supervisão http://www.avm.edu.br/docpdf/monografias_publicadas/posdistancia/35340.pdf http://www.avm.edu.br/docpdf/monografias_publicadas/posdistancia/35340.pdf https://www.google.com/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=&cad=rja&uact=8&ved=2ahUKEwif5fGclOTuAhVGILkGHSIlC4EQFjABegQIBBAC&url=http%3A%2F%2Fbibliotecadigital.fgv.br%2Fojs%2Findex.php%2Fcurriculum%2Farticle%2Fdownload%2F62369%2F60499%23%3A~%3Atext%3DSendo%2520a%2520fun%25C3%25A7%25C3%25A3o%2520principal%2520da%2Caju%252D%2520dando%2520em%2520sua%2520realiza%25C3%25A7%25C3%25A3o.&usg=AOvVaw1oC_e-eqXbn4hXTZAHnysn https://www.google.com/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=&cad=rja&uact=8&ved=2ahUKEwif5fGclOTuAhVGILkGHSIlC4EQFjABegQIBBAC&url=http%3A%2F%2Fbibliotecadigital.fgv.br%2Fojs%2Findex.php%2Fcurriculum%2Farticle%2Fdownload%2F62369%2F60499%23%3A~%3Atext%3DSendo%2520a%2520fun%25C3%25A7%25C3%25A3o%2520principal%2520da%2Caju%252D%2520dando%2520em%2520sua%2520realiza%25C3%25A7%25C3%25A3o.&usg=AOvVaw1oC_e-eqXbn4hXTZAHnysn https://repositorio.ufsm.br/bitstream/handle/1/12529/TCCE_GE_EaD_2015_WENDLER_ROSIMERI.pdf?sequence=1&isAllowed=y https://multivix.edu.br/wp-content/uploads/2018/06/o-papel-do-pedagogo-na-supervisao-escolar.pdf https://multivix.edu.br/wp-content/uploads/2018/06/o-papel-do-pedagogo-na-supervisao-escolar.pdf https://www.google.com/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=&cad=rja&uact=8&ved=2ahUKEwiF65evlOTuAhUGJrkGHeA7BZ0QFjANegQICBAC&url=http%3A%2F%2Fbibliotecadigital.fgv.br%2Fojs%2Findex.php%2Fcurriculum%2Farticle%2Fdownload%2F62369%2F60499&usg=AOvVaw1oC_e-eqXbn4hXTZAHnysn 32 32 33 TEORIA E PRÁTICA DE SUPERVISÃO ESCOLAR 33 5. 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