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Doença renal e urináriaDoença renal e urinária - Os rins e o sistema urinário apresentam inúmeras alterações funcionais e anatômicas durante a gestação Fisiologia renal na gestação NA GESTAÇÃO - A filtração glomerular e o tamanho dos rins aumentam de forma significativa > Aumento da TFG -> Redução da ureia e creatinina plasmáticas - Fluxo sanguíneo renal aumenta em 50 - 85%, especialmente na primeira metade da gestação - Em poucas semanas após o parto, os parâmetros retornam aos níveis pré-gestacionais - Dilatação da pelve renal e dos ureteres -> A partir do primeiro trimestre, mas se torna mais evidente no terceiro trimestre - Redução significativa da peristalse dos ureteres -> Progesterona - Aumento da capacidade vesical - Aumento da frequência miccional -> Alterações hormonais no início da gestação e ao final decorrente de fatores mecânicos - Aumento médio do peso de 10 - 14 kg, sendo 7 - 9 L de água (4 a 6 L no espaço extracelular) -> Aumento do volume circulante leva a: aumento do volume plasmático e do líquido extracelular; aumento do DC - Redução na absorção da glicose aliado ao aumento de sua filtração glomerular pode levar à glicosúria - Gestação se caracteriza por redução da osmolalidade Infecção urinária na gravidez - ITU é comum durante a gestação -> Até 10% das gestantes são acometidas por algum episódio de infecção urinária ou bacteriúria assintomática (BA) - ITU pode ser classificada em > Baixa: cistite e BA -> Representa risco importante de desenvolvimento de pielonefrite aguda > Alta: pielonefrite - Gestantes são mais suscetíveis à infecção urinária > Estase urinária -> Ação miorrelaxante da progesterona e compressão mecânica do útero sobre os ureteres > Alterações físico-químicas da urina -> Aumento da glicose, aminoácidos e vitaminas na urina favorecem um meio propício para o crescimento bacteriano > Redução da imunidade celular na gestação - A virulência das bactérias também é um fator importante na instalação de um quadro de ITU > Algumas cepas possuem fímbrias que facilitam a aderência BACTERIÚRIA ASSINTOMÁTICA - Presença significativa de bactérias (>= 100.000/ uL) no trato urinário na ausência de sintomas em duas amostras consecutivas de urina - Prevalência de 2 - 10% em gestantes -> Rastreamento no pré-natal - Fatores de risco: > Baixo nível socioeconômico, multiparidade, atividade sexual, diabetes, hemoglobinopatias, anormalidade do trato urinário, ITU prévia à gestação e tabagismo - Gestantes com BA não tratadas -> 20 - 40% desenvolverão ITU sintomática, 25 - 50% poderão apresentar pielonefrite - Tratamento de BA reduz a incidência de pielonefrite - Bacteriúria assintomática é fator de risco independente para parto pré-termo - Rastreamento no PN: > Exame comum de urina e pesquisa de substâncias sugestivas de infecção (nitritos urinários, esterase urinária) apresentam baixa sensibilidade e não devem ser utilizados > Realização de urocultura na primeira consulta do PN - Seguimento: > Urocultura de controle uma semana após o término do tratamento, se for negativa, a urocultura deve ser repetida mensalmente até o término da gestação - Profilaxia deve ser prescrita na presença de dois ou mais episódios de ITU na gestação independente da presença ou não de fatores predisponentes > Nitrofurantoína 100 mg, ampicilina 500 mg ou cefalexina 500 mg VO uma dose à noite até duas semanas após o parto CISTITE - Presença de bactérias associadas a sintomas urinários baixos -> 1 - 2% das gestantes > Sintomas: disúria, urgência miccional, polaciúria, dor suprapúbica, hematúria e urina fétida - Diagnóstico de certeza só é feito com urocultura positiva, mas a presença de esterase leucocitária, nitritos ou leucocitúria associada a sintomas urinários sugere fortemente cistite - A escolha do ATB no tratamento da cistite deverá ocorrer de acordo com a bactéria isolada, a segurança gestacional do fármaco e o antibiograma > Evitar fármacos novos -> Falta de estudos com gestantes > Paciente muito sintomática -> Pode-se iniciar nitrofurantoína > Fluoroquinolonas não devem ser prescritas de rotina -> Alto custo e EA raro de artropatia > Sulfas devem ser evitadas após a 32ª semana de gestação > Trimetoprima pode estar associada a defeitos do tubo neural e cardiovasculares quando utilizada no primeiro trimestre - Seguimento: > Deve ser realizada pelo menos uma urocultura de controle uma semana após o tratamento e, depois, a cada dois meses, ou mais frequentemente, na presença de fatores de risco - Na suspeita diagnóstica, deve ser iniciado tratamento com antimicrobiano EV em regime de internação hospitalar > Hidratação com solução fisiológica > Ampicilina 1-2 g 6/6 h é uma boa alternativa para iniciar o tratamento > Cefuroxima 750 mg 8/8 h tem sido a primeira escolha > Aminoglicosídeos são fármacos de segunda linha -> Possível ação ototóxica no feto > Cefalosporinas de primeira geração não devem ser usadas no pré-natal -> Profilaxia da infecção pós-cesariana - Na ausência de resposta, deve-se investigar outros fatores (cálculo renal e abscesso renal ou perinéfrico) - Complicações sistêmicas têm maior probabilidade de ocorrer durante a gestação - Em pacientes portadoras de HIV e/ou usuárias de drogas injetáveis, deve-se pensar também na possibilidade de pielonefrite tuberculosa > Caracteriza-se por: febre, disúria, polaciúria, piúria e hematúria com urina estéril - Profilaxia > Indicada após a ocorrência de um episódio de PNA associada ou não a fatores de risco > Nitrofurantoína é o fármaco mais prescrito > Orientação quanto a medidas de higiene, hidratação e micção adequadas TRATAMENTO DE ITU BAIXA NA GESTAÇÃO - Ampicilina 500 mg 6/6 h por 3 - 7 dias - Amoxicilina 3 g dose única ou 500 mg 8/8 h por 3 - 7 dias - Cefalexina 2-3 g dose única ou 500 mg 6/6 h por 3 - 7 dias - Clindamicina 300 mg 6/6 h por 7 dias > SGB em pacientes alérgicas à penicilina - Nitrofurantoína 100 mg 12/12 h ou 50 mg 6/6 h por 3 -7 dias - Sulfametoxazol/trimetoprima 800/160 mg 12/12 h por 3 -7 dias > Usar em caso de E. coli resistente > Evitar no primeiro trimestre e após 32ª semana - Fosfomicina 3 g dose única - Ácido nalidíxico 500 mg 6/6 h 7 dias > Evitar o uso - Norfloxacino 400 mg 12/12 h 5 -7 dias PIELONEFRITE AGUDA - Infecção urinária que acomete o sistema coletor e a medula renal - Ocorre em 1 -2 % das gestações -> Riscos maternos e fetais - Uma das principais causas de hospitalização durante a gestação - PNA é mais prevalente na gestação do que fora dela -> Alterações anatômicas e funcionais - 2/3 das pacientes com PNA apresentam BA previamente - Fatores de risco para PNA grave e sua recorrência -> Malformações do trato urinário e cálculos renais - Agente etiológico: > E. coli é o mais comum, mas também podem estar envolvidos outros gram - (Klebsiella e Enterobacter), bem como gram + (Enterococcus faecalis e S. aureus) - Diagnóstico: > Suspeita clínica deve ser confirmada por meio da urocultura > Sintomas -> Hipertermia, calafrios, náuseas/vômitos, dor lombar, dor à percussão lombar (Giordano +), disúria, polaciúria, urgência miccional e urina turva/fétida > Leucocitúria, bacteriúria, leucocitose com desvio para a esquerda, hemocultura + e aumento da creatinina sérica TRATAMENTO DE PNA NA GESTAÇÃO - Ampicilina 1 -2 g 4/4 h ou 6/6 h IV - Gentamicina 3 -5 mg/kg/dia IV > Atentar para a função renal - Ampicilina/sulbactam 3 g/ 500-200 mg/kg/dia 6/6 h IV > Uso reservado; opção para Acetinobacter; ajustar para função renal - Cefuroxima 750 mg 8/8 h IV - NÃO UTILIZAR CEFAZOLINA - Ceftriaxona 1 - 2 g/dia IV ou IM - Cefepima 1 g 12/12 h; Mezlocilina 3 g 6/6 h; Meropeném, 1 g 8/8 h; Piperacilina 4 g 8/8 h; Imipeném 500 mg 6/6 h > Reservados para casos graves LITÍASE URINÁRIA - Importante causa de internação durante a gestação - Fatores associados: > ITU crônica, hiperparatireoidismo, uropatia obstrutiva e HF de litíase - Litíase sintomática ocorre em apenas 25% dos casos, manifestando-se mais comumente no segundo ou terceiro trimestres - Necrose cortical bilateral é uma causa rarade IRA; geralmente ocorre no início do 3º trimestre (entre 26-30 sem de IG) > Caracteriza-se por -> Anúria ou oligúria graves, estando associada a CID em casos de aborto séptico, descolamento prematuro de placenta, embolia do líquido amniótico, PE grave e feto morto retido - Parâmetros para indicação de diálise: > Potássio sérico > 6,5 - 7,0 mEq/L > Bicarbonato sérico < 13 mEq/L > Ureia > 120 mEq/L ou seu incremento em 30 mEq/L/dia em pacientes sépticas DOENÇA RENAL CRÔNICA - Presença de lesão renal ou diminuição da função renal por um período maior do que 3 meses - Critérios para o diagnóstico de lesão renal na DRC > Presença de proteinúria, hematúria, anormalidades histológicas renais identificadas por biópsia ou anormalidades em exames de imagem independentes da TFG - Em geral, apresenta caráter progressivo - Causas > DM, HAS, glomerulopatias, doenças genéticas e obstrução urinária; causa idiopática é bastante comum - Classificada de acordo com a TFG e a albuminúria > Importante para a avaliação da gravidade e estratificação de risco de progressão da doença renal e de risco cardiovascular > Quanto menor a TFG e maior a proteinúria, maior será o risco de progressão da DRC para estágios mais avançados - Na gestante, é heterogênea, em geral, associada à proteinúria e hipertensão > Maior risco de complicações quanto maior for a perda da função renal > Se houver hipertensão arterial grave ou creatinina elevada, haverá risco de prematuridade, aumentando a taxa de mortalidade perinatal > A gestação com DRC aumenta o risco de PE, parto prematuro, feto PIG e cesariana - Manejo precisa envolver supervisão periódica, pronto tratamento de qualquer processo infeccioso e rigoroso controle da PA > Anemia é frequente e deve ser evitada -> Maior necessidade de eritropoietina > Hemodiálise - Complicações incluem abortamento espontâneo, prematuridade, RCF, polidrâmnio e defeitos cardíacos do feto - Contracepção em mulheres não grávidas - Sintomas > Dor abdominal aguda em cólica no flanco é o sintoma mais comum > A dor costuma ser menos típica do que nas pacientes não grávidas > Grande parte das pacientes apresenta algum grau de hematúria (macro ou microscópica) - A principal localização dos cálculos é no ureter - Mais de 90% dos cálculos possui cálcio na formação - 40% das gestantes com litíase têm trabalho de parto pré-termo - Diagnóstico: > O exame de escolha é a USG de vias urinárias (baixa sensibilidade, mas boa especificidade) > RNM pode ser realizada com segurança e possui sensibilidade de quase 100% no diagnóstico -> Uso restrito pelo alto custo - Conduta > Entre as pacientes sintomáticas, 70 - 80% têm cura espontânea com manejo conservador (repouso, hidratação e analgesia) > Intervenções cirúrgicas estão indicadas em casos sem melhora da dor, com sepse ou obstrução unilateral > Procedimentos cirúrgicos abertos são raramente indicados na gestação, sendo usados apenas em casos de sepse grave em que os demais procedimentos foram falhos INSUFICIÊNCIA RENAL AGUDA - Uma das doenças mais graves que acometem a gestante - A maior parte dos casos acontecem no início ou no término da gestação -> Altas taxas de mortalidade - Fatores relacionados -> Hemorragias, sepse, PE grave, púrpura, síndrome hemolítico-urêmica - Classificação > Pré-renal: forma mais frequente; resulta da hipoperfusão renal leve ou moderada > Renal > Pós-renal: principal causa são os cálculos obstrutivos - As principais patologias responsáveis pela IRA se devem a doenças intrínsecas do rim (glomerulonefrite, PNA e amiloidose) > Hipertensão arterial na gravidez pode ser complicada por IRA, especialmente quando há síndrome HELLP ou descolamento de placenta > Fígado gorduroso agudo da gestação também é associado à IRA - IRA idiopática pós-parto é pouco comum; pode ocorrer até 10 semanas após o parto e o quadro se caracteriza por hipertensão, aumento da creatinina e ureia, oligúria/anúria TRANSPLANTE RENAL - Mulheres em idade fértil após transplante renal -> Ciclos se regularizam em cerca de 6 meses e o retorno a fertilidade pode ocorrer em 30 dias após isso - Anticoncepção > Pílulas combinadas de baixa dosagem devem ser evitadas nas mulheres com mais de 35 anos, hipertensas, cardiopatas, diabéticas ou com lupus > Minipílulas podem ser uma boa opção nas transplantadas com CI para uso de estrogênio > DIUs não devem ser usados em mulheres imunossuprimidas - Idealmente, deve-se aguardar dois anos após o transplante para permitir a gestação - Não é recomendada uma segunda gestação após o transplante, pois pode estar associada a uma taxa maior de complicações - Pré-natal deve ser realizado por equipe multidisciplinar > Consultas a cada duas semanas até as 32 semanas e, após, semanalmente até o nascimento - Complicações na gestação: > As taxas variam de acordo com a população > Taxa de aborto varia de 11 - 24%; fetos mortos 1 -3%; RCF, prematuridade, baixo peso ao nascimento, peso fetal inferior a 1500 g, PE, hipertensão crônica e cesariana - Os principais cuidados com a gestante transplantada referem-se à rejeição, à terapia imunossupressora e ao surgimento de PE e/ou diabetes - Gestantes transplantadas são predispostas a infecções virais devido à imunossupressão
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