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Módulo 16 GT 2 HOMEOSTASE Homeostase do sódio Marina Albuquerque - @m.de.med OBJETIVOS Entender o papel do sódio na homeostaseOG Conhecer a composição dos diversos soros02 Compreender o que compõe e o que afeta a osmolaridade01 Entender como tratar um paciente com hiponatremia e hipernatremia03 Descrever a função do sódio nos diversos sistemas do corpo04 Elucidar a composição do LIC e do LEC05 LIC E LEC -água presente no interior das células em que todos os solutos intracelulares estão dissolvidos -⅔ da água corporal -40% do peso corporal -principais cátions: potássio e magnésio; principais ânions: proteínas e fosfatos orgânicos (ATP, ADP, AMP, etc) -água presente por fora das células -⅓ da água corporal -20% do peso corporal -Dividido em líquido intersticial (¾) e plasma (¼); há também o compartimento transcelular (quantitativamente menor, inclui os líquidos cerebroespinal, pleural, peritoneal e digestório) -principal cátion: sódio; principais ânions: cloreto e bicarbonato LIC LEC Obs: efeito de Gibs-Donnan das proteínas plasmáticas afirma que, por as proteínas serem carregadas negativamente, causam uma redistribuição de cátions e ânions pequenos; assim, o plasma tem uma concentração um pouco maior de cátions pequenos (ex.: Na+) do que o líquido intersticial e uma concentração um pouco menor de ânions pequenos (ex.: Cl-) OSMOLARIDADE - Tabela 25-2 Substâncias Osmolares nos Líquidos Intra e Extracelulares Plasma (mOsm/L H2O) Intersticial (mOsm/L H2O) Intracelular (mOsm/L H2O) Na+ 142 139 14 K+ 4,2 4,0 140 Ca++ 1,3 1,2 0 Mg++ 0,8 0,7 20 Cl− 106 108 4 HCO3− 24 28,3 10 HPO4−, H2PO4− 2 2 11 SO4− 0,5 0,5 1 Fosfocreatina 45 Carnosina 14 Aminoácidos 2 2 8 Creatina 0,2 0,2 9 Lactato 1,2 1,2 1,5 Adenosina trifosfato 5 Glicose 5,6 5,6 Proteína 1,2 0,2 4 Ureia 4 4 4 Outras 4,8 3,9 10 Total mOsm/L 299,8 300,8 301,2 Atividade osmolar corrigida (mOsm/L) 282,0 281,0 281,0 Pressão osmótica total a 37°C (mmHg) 5.441 5.423 5.423 OSMOLARIDADE -Concentração de partículas osmoticamente ativas, expressas em miliosmoles por litro (mOsm/L) -Na prática, osmolaridade é o mesmo que osmolalidade (mOsm/kg H2O), pois 1 kg H2O = 1 L H2O -O valor normal para a osmolaridade dos líquidos corporais é de 290 mOsm/L (usa-se 300 mOsm/L) -No estado estacionário, a osmolaridade intracelular é igual à osmolaridade extracelular. Em outras palavras, a osmolaridade é a mesma em todos os líquidos corporais (garantida pela livre osmose) -Fórmula da osmolaridade plasmática, onde: Osmolaridade plasmática = Osmolaridade do plasma (concentração osmolar total) em mOsm/L; Na+ = Concentração de Na+ no plasma em mEq/L; Glicose = Concentração de glicose no plasma em mg/dL; BUN = Concentração de nitrogênio ureico sanguíneo em mg/dL Osmolaridade plasmática = 2 x [Na+ plasmático] + [glicose / 18] + [BUN / 2,8] Tipo Exemplo Volume do LEC Volume do LIC Osmolaridade Hematócrito Plasma [Proteína] Contração isosmótica de volume Diarreia, queimadura ↓ N.A. N.A. ↑ ↑ Contração hiperosmótica de volume Sudorese, febre, diabetes insípido ↓ ↓ ↑ N.A. ↑ Contração hiposmótica de volume Insuficiência suprarrenal ↓ ↑ ↓ ↑ ↑ Expansão isosmótica de volume Infusão de NaCl isotônico ↑ N.A. N.A. ↓ ↓ Expansão hiperosmótica de volume Ingestão alta de NaCl ↑ ↓ ↑ ↓ ↓ Expansão hiposmótica de volume SIADH ↑ ↑ ↓ N.A. ↓ LEC, líquido extracelular; LIC, líquido intracelular; NaCl, cloreto de sódio, SIADH, Síndrome da secreção inadequada do hormônio antidiurético; N.A., nenhuma alteração. OSMOLARIDADE -Reguladores da osmolaridade: *Sistema Renina-Angiotensina-Aldosterona *Hormônio anti-diurético (aquaporinas) *Barorreceptores e osmorreceptores *Peptídeos natriuréticos (PNAtrial e PNCerebral) *Sistema nervoso simpático + centro da sede -Sistema Renina-Angiotensina-Aldosterona: potente mecanismo de controle da pressão arterial; ativado por condições que diminuem a pressão arterial, entre eles a diminuição do volume plasmático e da concentração plasmática de sódio -> secreção de renina pelas células justaglomerulares dos rins; na circulação, a renina promove a conversão de angiotensinogênio em angiotensina I ->nos pulmões, ANG I é convertida pela ECA em ANG II (poderoso vasoconstritor)-> ANG II age nos vasos sanguíneos (vasoconstrição e aumento da pressão arterial), no túbulo proximal renal (aumento da reabsorção de sódio), no córtex suprarrenal (liberação de aldosterona, que age no túbulo distal do néfron, promovendo a reabsorção de Na+), na hipófise (estimula a liberação de ADH, que promove a reabsorção de água nos ductos coletores dos néfrons, com consequente redução do volume da urina) -> todas essas ações têm como objetivo a retenção de água e Na+, de forma que a pressão arterial retorne ao seu valor normal -Sistema nervoso simpático: os mecanismos reguladores de sódio envolvem modificações no fluxo sanguíneo medular renal, liberação de renina e efeito direto nos túbulos renais; na depleção de sódio, o Sistema Nervoso Simpático é ativado e, em situação de excesso de sódio, ele é suprimido BALANÇO DO SÓDIO -Peptídeo natriurético atrial (ANP): liberado em resposta a um volume de sangue elevado; serve como um regulador do sistema Renina-Angiotensina-Aldosterona: o ANP diminui a liberação de renina, inibindo a formação de ANG II e aldosterona, e aumenta a taxa de filtração glomerular (ações que contribuem para diminuir a pressão e o volume sanguíneo) -Centros de sede e hipófise: os centros de sede atuam em situações em que a concentração de sódio aumenta demasiadamente; na hipófise, há um aumento da secreção de ADH (age nos túbulos renais aumentando a reabsorção de água e contribuindo para a normalização da concentração plasmática de sódio); em condições de excesso de água corporal, a sede é inibida e a hipófise diminui bastante a síntese de ADH, permitindo que os rins excretem o excesso de água na urina -Sistema calicreína-renina: uma relação importante ocorre entre esse sistema e o SRAA, pois a cininase II, enzima conversora de angiotensina (ECA), atua na síntese de angiotensina II (produto final do sistema renina). Quando ocorre maior concentração de ECA, tem-se então mais angiotensina e menos cinina. Isso potencializa a ação desses sistemas: o sistema renina atua na reabsorção de sódio, elevando a pressão arterial; o sistema calicreína-cinina atua na regulação da água e do sódio, diminuindo a pressão arterial. BALANÇO DO SÓDIO -Mecanismos intrarrenais: os rins têm uma capacidade incrível de reabsorver 99% da quantidade de sódio filtrada. Assim, torna-se claro que há um sistema de conservação de sódio altamente desenvolvido. A autorregulação renal é caracterizada pela capacidade do rim de manter a taxa de filtração glomerular constante, mesmo que haja amplas variações da pressão de perfusão renal. Isso é devido ao fato de a musculatura lisa presente nas arteríolas conseguirem mudar de acordo com a pressão de perfusão renal, mantendo estáveis o fluxo sanguíneo renal, a TFG e o sódio filtrado. Entretanto, não apenas mudanças na taxa de filtração glomerular são suficientes para explicar os ajustes na excreção de sódio -Prostaglandinas: possuem efeitos sobre o fluxo sanguíneo renal e sobre o manejo tubular de água e sal; os resultados finais da estimulação da síntese de prostaglandinas pelo rim são: vasodilatação da arteríola aferente, aumento da perfusão renal, natriurese e facilitação da excreção de água; quando se bloqueia a ciclo-oxigenase (COX) com anti-inflamatórios não hormonais, ocorrem diminuição da excreção de sódio, aumento da resposta vasoconstritora renal à angiotensina II e queda da TFG BALANÇO DO SÓDIO Segmento/Tipo Celular Principais Funções Mecanismos Celulares Ações Hormonais Ações dos Diuréticos Segmento Inicial do Túbulo Proximal Reabsorção isosmótica de solutos e água Na+-glicose, Na+aminoácidos, Na+-fosfato cotransporte; Troca Na+-H+ PTH inibe Na+- fosfato; AngiotensinaII estimula o trocador Na+-H+ Diuréticos osmóticos; Inibidores da anidrase carbônica Segmento Final do Túbulo Proximal Reabsorção isosmótica de solutos e água Reabsorção de NaCl direcionada pelo gradiente de Cl- — Diuréticos osmóticos Segmento Ascendente Espesso da Alça de Henle Reabsorção de NaCl sem água; Diluição do líquido tubular; Efeito unitário da multiplicação por contracorrente; Reabsorção de Ca2+ e Mg2+ movido pelo potencial positivo no lúmen Cotransporte de Na+-K+-2Cl- ADH estimula o cotransporte de Na+-K+-2Cl- Diuréticos de alça Túbulo Distal Inicial Reabsorção de NaCl sem água Diluição do líquido tubular Cotransporte de Na+-Cl- PTH estimula a reabsorção de Ca2+ Diuréticos tiazídicos Túbulo Distal Final e Ductos Coletores (células principais) Reabsorção de NaCl Secreção de K+ Reabsorção variável de água Canais para Na+ (CNaE) Canais para K+ Canais de AQP2 Aldosterona estimula a reabsorção de Na+ ADH estimula a reabsorção de água Diuréticos poupadores de K+ Túbulo Distal Final e Ductos Coletores (células intercaladas α) Reabsorção de K+ ; Secreção de H+ H+- K+ATPase; H+ ATPase Aldosterona estimula a secreção de H+ Diuréticos poupadores de K+ -Equilíbrio hidroeletrolítico: papel na manutenção do volume extracelular; se o sódio é perdido, a água é excretada na tentativa de restabelecer a osmolaridade; se o sódio é retido, a água também deve ser retida para diluí-lo -Absorção de nutrientes: a glicose e os aminoácidos são transportados ativamente para dentro da maioria das células contra um grande gradiente de concentração; assim, o mecanismo de cotransporte transporta conjuntamente sódio e glicose (ou galactose) e sódio e aminoácidos na mesma direção, ao mesmo tempo, para o interior da célula; a existência do gradiente de concentração do sódio, mantido pela bomba Na+/K+ATPase, que tende a mover este íon para dentro da célula, fornece energia que permite o transporte de glicose e aminoácidos contra o gradiente -Equilíbrio ácido-básico: os rins são responsáveis pela eliminação dos resíduos ácidos provenientes da alimentação e do metabolismo -> ácidos são eliminados e o bicarbonato e o cloro são reabsorvidos juntamente com o sódio, mantendo a composição corporal e o pH constantes FUNÇÕES DO SÓDIO FUNÇÕES DO SÓDIO -Transmissão nervosa e contrações musculares: *O impulso nervoso (potencial de ação) é um movimento coordenado por íons de Na+ e K+ ao longo da membrana celular do neurônio; repouso: membrana nervosa é praticamente impermeável ao Na+ e o interior da célula é carregado negativamente -> estímulo -> uma pequena região da membrana se torna permeável ao sódio -> carga transmitida pelo Na+ faz com que a célula fique um pouco menos negativa -> inversão vai sendo transmitida ao longo do axônio (despolarização) -> despolarização chega a um determinado valor limite -> muitos mais canais de Na+ naquela área se abrem -> mais íons de Na+ entram e ativam um potencial de ação -> imediatamente após a onda de despolarização ter se propagado ao longo da fibra nervosa, o interior da fibra se torna carregado positivamente (um grande número de íons Na+ se difundiu para o interior) -> essa positividade determina a parada do fluxo de íons Na+ para o interior da fibra -> membrana se torna novamente impermeável ao Na+; por outro lado, a membrana se torna muito mais permeável ao K+, que migra para o meio interno -> alta concentração de K+ no interior -> saída de K+ da célula -> célula se torna novamente negativa por dentro e positiva por fora (repolarização) -> restabelecimento da polaridade normal da membrana *Contração muscular: saída de um impulso elétrico do SNC -> nervo motor -> terminações nervosas nas fibras musculares (placa neuromotora) -> secreção de acetilcolina -> atua na membrana da fibra muscular -> abre canais acetilcolina-dependentes -> grande quantidade de íons Na+ se move para dentro da fibra muscular -> geração de potencial de ação na fibra muscular HIPER E HIPONATREMIA Tabela 25-4 Anormalidades na Regulação do Volume dos Líquidos Corporais: Hipo e Hipernatremia Anormalidade Causa Concentração Plasmática de Na+ Volume de Líquido Extracelular Volume de Líquido intracelular Desidratação- hiponatremia Insuficiência adrenal; uso abusivo de diuréticos ↓ ↓ ↑ Hiperidratação- hiponatremia Excesso de ADH (SIADH); tumor broncogênico ↓ ↑ ↑ Desidratação- hipernatremia Diabetes insípido; sudorese excessiva ↑ ↓ ↓ Hiperidratação- hipernatremia Síndrome de Cushing; aldosteronismo primário ↑ ↑ ↓ ADH, hormônio antidiurético; SIADH, síndrome da secreção inapropriada de ADH. -Concentração de sódio, no soro, inferior a 136 mEq/L -Pode estar associada a tonicidades baixa, normal ou aumentada -Na maioria das vezes é assintomática, só ocorrendo sinais e sintomas nos casos graves (geralmente, até a concentração de 125 mEq/L, não há sintomas) -Sintomas: letargia, apatia, desorientação, cãimbras musculares, anorexia, náusea e agitação -Sinais: sensório anormal, reflexos profundos deprimidos, respiração de Cheyne Stokes, hipotermmia, reflexos patológicos, paralisia pseudobulbar e convulsões HIPONATREMIA DEFINIÇÃO E QUADRO CLÍNICO -A redução da concentração plasmática de sódio pode resultar da perda de NaCl do líquido extracelular ou de adição excessiva de água ao líquido extracelular -Perda primária de NaCl geralmente resulta em hiponatremia-desidratação e é associada à redução do volume do líquido extracelular; ex.: diarreia e vômito -Uso excessivo de diuréticos que inibem a reabsorção de sódio nos túbulos renais e certos tipos de doenças renais em que ocorre excreção excessiva de sódio podem causar graus moderados de hiponatremia -Doença de Addison: causa a diminuição da secreção de aldosterona -> diminui a reabsorção tubular renal de sódio -> grau moderado de hiponatremia -Retenção excessiva de água -> dilui o sódio extracelular -> hiponatremia-hiperhidratação (ex.:excreção excessiva de ADH, em que os túbulos renais absorvem mais água) HIPONATREMIA CAUSAS -Hiponatremia aguda: Variação rápida no volume celular como resultado da hiponatremia -> edema das células cerebrais -> dor de cabeça, náusea, letargia e desorientação; se a concentração plasmática de sódio cair rapidamente para abaixo de 115 a 120 mmol/L, o inchaço pode gerar convulsões, coma, dano cerebral permanente e morte; devido à rigidez do crânio, o cérebro não pode aumentar seu volume por mais de 10% sem que haja herniação, o que pode levar à lesão cerebral permanente e morte -Hiponatremia crônica: Quando a hiponatremia se desenvolve lentamente por diversos dias, o cérebro e outros tecidos respondem transportando sódio, cloreto, potássio e solutos orgânicos, tais como glutamato, das células para o compartimento extracelular. Essa resposta atenua o fluxo osmótico de água para a célula e o inchaço dos tecidos; nessa situação, se soluções hipertônicas são adicionadas muito rapidamente para corrigir a hiponatremia, essa intervenção pode ultrapassar a capacidade do cérebro de recuperar a perda de solutos das células -> lesão osmótica dos neurônios, associada à desmielinização; logo, essa situação pode ser evitada pela limitação da correção da hiponatremia crônica, para menos de 10 a 12 mmol/L em 24 horas e para menos de 18 mmol/L em 48 horas -Hiponatremia é a causa mais comum de distúrbios eletrolíticos encontrados na prática clínica e pode acontecer acima de 15% a 25% dos pacientes hospitalizados HIPONATREMIA CONSEQUÊNCIAS HIPONATREMIA CONSEQUÊNCIAS H IP O N AT RE M IA -Hiponatremia hipotônica: forma mais comum, cursa com osmolalidade < 275 mOsm/L; causas: IC, SIADH, depleção do espaço extracelular -Hiponatremia isotônica: Cursa com osmolalidade plasmática normal, 275 a 290 mOsm/L; Causada por hiperproteinemia ou hiperdislipidemia grave -Hiponatremia hipertônica: cursa com osmolalidadeplasmática > 290 mOsm/l; ocorre na hiperglicemia e infusão de manitol; há a presença de grande quantidade de soluto que não se difunde livremente no plasma pelas membranas celulares HIPONATREMIA CLASSIFICAÇÃO -As causas mais comuns de hiponatremia grave, em adultos, são a terapia com tiazídicos, pós-operatórios, SIHAD, polidipsia em pacientes psiquiátricos e prostatectomia por ressecção transuretral. O tratamento pode variar desde restrição hídrica até reposição de salina isotônica ou hipertônica. Porém, em casos de hiponatremia sintomática, o que, geralmente, pode ocorrer com sódio entre 120 mEq/l e 125 mEq/l, deve-se fazer a reposição salina, independente da causa, especialmente se a hiponatremia ocorreu de maneira muito rápida -O aumento da concentração de sódio não deve exceder de 8 a 10 mEq/l nas 24 h até atingir os níveis entre 125 mEq/l a 130 mEq/l. Se a concentração inicial estiver abaixo de 100 mEq/l, por exemplo, a correção poderá aumentar sua velocidade para 1 a 2 mEq/l por hora até atingir níveis satisfatórios ou melhora da sintomatologia HIPONATREMIA TRATAMENTO Mudança no sódio sérico (mEq/L) = (Na infundido - Na sérico) / (água corporal + 1) Água corporal = calculada como fração do peso. O índice para adultos e crianças é 0,6, para mulheres e idosos, 0,45 a 0,5. A fórmula estima o efeito de um litro de qualquer solução infundida no sódio sérico -Concentração de sódio plasmático maior que 145 mEq/l -Invariavelmente evolui com hiperosmolaridade hipertônica e sempre provoca desidratação celular -Disfunções do SNC: consequente à desidratação celular, com contração das células cerebrais, o que pode levar à laceração, hemorragia subaracnoide e subcortical, e trombose dos seios venosos -Sinais e sintomas: agitação, letargia, irritação, espasmos musculares, hiperreflexia, tremores, ataxia -A hipernatremia aguda é mais grave que a crônica (o corpo não tem tempo de ativar os mecanismos de defesa) HIPERNATREMIA DEFINIÇÃO E QUADRO CLÍNICO -A hipernatremia, que causa também elevação da osmolaridade, pode ser devida tanto à perda de água do líquido extracelular, concentrando íons Na+, ou a excesso de Na+ no líquido extracelular -Perda primária de água do líquido extracelular: resulta em hipernatremia-desidratação (ex.: deficiência de secreção de ADH -necessário para que os rins conservem a água do corpo; perdas insensíveis, diabetes insipidus e diabetes insipidus nefrogênico) -Desidratação: causa mais comum de hipernatremia, gerada pelo menor ganho que a perda de água pelo corpo, o que pode ocorrer com o suor durante exercícios pesados e prolongados -Adição excessiva de NaCl ao líquido extracelular: gera hipernatremia-hiperhidratação, pois o excesso de sódio costuma estar associado ao aumento de retenção de água pelos rins (ex.: secreção excessiva de aldosterona, que retém sódio, pode causar discreto grau de hipernatremia-hiperidratação; não é tão grave porque a retenção de sódio causada pelo aumento da secreção de aldosterona estimula também a secreção de ADH e faz com que os rins reabsorvam grandes quantidades de água; infusão de bicarbonato de sódio, ingestão de NaCl, ingestão de água do mar, diálise hipertônica, síndrome de Cushing - absorção intensa de sódio pelos túbulos) HIPERNATREMIA CAUSAS -Muito menos comum do que a hiponatremia; sintomas graves ocorrem apenas com o aumento rápido e muito alto da concentração plasmática de sódio para valores acima de 158 a 160 mmol/L; a razão para isso é que a hipernatremia promove sede intensa e estimula a secreção de hormônio antidiurético, que protege contra grande aumento de sódio no plasma e no líquido extracelular -A hipernatremia grave pode se dar em pacientes com lesões hipotalâmicas que comprometem seu sentido de sede, em crianças que podem não ter acesso imediato a água, em pacientes idosos com estado mental alterado, ou em pessoas com diabetes insípido -Correção da hipernatremia pode ser alcançada pela administração de cloreto de sódio hiposmótico ou soluções de dextrose. No entanto, é prudente corrigir a hipernatremia lentamente em pacientes que já tiveram aumentos crônicos da concentração plasmática de sódio, pois a hipernatremia também ativa mecanismos de defesa que protegem a célula de alterações do volume. Esses mecanismos de defesa são opostos aos que ocorrem na hipo natremia e consistem em mecanismos que aumentem a concentração intracelular de sódio e de outros solutos HIPERNATREMIA CONSEQUÊNCIAS H IP ER N AT RE M IA -O tratamento se inicia com o diagnóstico da causa do processo e corrigindo a hipertonicidade. O tratamento das causas pode, por exemplo, controlar a perda de líquidos gastrointestinais, controlar o aumento de temperatura, hiperglicemia, corrigir a poliúria pelo lítio, etc. -Nos pacientes com hipernatremia aguda (que se desenvolve após algumas horas), a correção rápida melhora o prognóstico, sem risco de provocar edema cerebral. Nesses pacientes, a redução de 1 mEqL/l/h é adequada. Uma correção mais prudente torna-se necessária nos pacientes com hipernatremia crônica (de longa duração ou de duração desconhecida), devido ao fato que a dissipação do acúmulo dos solutos cerebrais pode levar vários dias. Nesses casos, deve-se reduzir a diminuição da concentração de sódio sérico a 0,5 mEq/h, o que evita o aparecimento de edema e convulsões. -Recomenda-se que a queda do sódio plasmático não exceda a 10 mEq/l nas 24 h. O objetivo do tratamento é levar os níveis do sódio sérico a 145 mEq/l. HIPERNATREMIA TRATAMENTO Mudança no sódio sérico (mEq/L) = (Na infundido - Na sérico) / (água corporal + 1) Água corporal = calculada como fração do peso. O índice para adultos e crianças é 0,6, para mulheres e idosos, 0,45 a 0,5. A fórmula estima o efeito de um litro de qualquer solução infundida no sódio sérico SOROS -Não balanceados (soluções de cristaloides que não possuem uma diferença de íons fortes) a) Soro Fisiológico: tem como vantagens o baixo risco de eventos adversos, o baixo custo e é indicado para pacientes com comprometimento da barreira hemato-encefálica (BHE). Ex: TCE – alcalose metabólica hiperclorêmica e hiponatremia. De modo diferente, tem como desvantagens a acidose metabólica hiperclorêmica, a hipernatremia, edema periférico e edema pulmonar. "Solução salina a 0,9%": é uma solução isotônica, sua composição é de 154 mEq/L de sódio e 154 mEq/L de cloro, osmolaridade 308 mOsm/L. É indicado na reposição de água e eletrólitos, para tratar desidratação, pequena perda de sangue e correção de hiponatremia. b) Soro Glicosado: "glicose 5%", com composição de glicose 50 g/L e 278 de mOsm/L (osmolaridade), ou seja, é hipotônica. A solução de dextrose é indicada imediatamente no pós-operatório e é uma alternativa para a desidratação hipertônica. Está contraindicado na doença de Addison, bem como em pacientes que sofreram lesões cerebrais. Tem 0mEq/L de sódio. Fornece 17kcal para cada 100ml, ou seja, aproximadamente 20% das necessidades calóricas normais do paciente. Isto é suficiente para impedir que ocorra cetose relacionada à cetoacidose do jejum e para diminuir a degradação proteica que ocorre quando o paciente não recebe calorias. A glicose também provê a adição de osmóis, evitando assim a administração de líquidos hipotônicos que possam causar hemólise. SOROS -Balanceados (soluções de cristaloides que possuem uma diferença de íons fortes): Vantagens: composição balanceada de eletrólitos, capacidade tampão, baixo risco de eventos adversos, sem distúrbios de coagulação, efeito diurético, baixo custo; Desvantagens: amplas quantidades necessárias, redução de pressão coloidosmótica, risco de super-hidratação, edema e hiponatremia a) Ringer simples b) Ringer com Lactato: A composição é de Sódio 130 mEq/l e junto com os outros componentes totaliza 276 mOsm/L de osmolaridade, sendo isotônica. A solução de Ringer lactato é indicado para a substituição de água e eletrólitos, é a primeira escolha quando se precisa substituirgrandes quantidades de líquidos, por exemplo, em grandes cirurgias, fraturas, hemorragias e queimados. É contra-indicado em insuficiência hepática e insuficiência renal, pois se o excesso de lactato não é metabolizado nem excretado causa dano cerebral. Precauções: choque e trauma → capacidade de metabolização do lactato pelos rins e fígado pode estar diminuída → piora da acidose. c) Plasma Lyte: similar ao Ringer lactato, mas também contém magnésio, acetato e gluconato. Seu pH é 7,4 (o mesmo do sangue normal). É indicado para grande reposição de fluidos (queimados, grandes hemorragias ou desidratação avançada), inclusive no intraoperatório e na acidose. É contraindicado no caso de hipercloremia, hiponatremia, hipercalemia, insuficiência renal, bloqueio cardíaco, alcalose, hipocalcemia ou hipocloremia. Solução a ser infundida Quantidade de Na (mEq/L) Distribuição p/ líquido extracelular (%) Salina a 5% 855 100 Salina a 3% 513 100 Salina a 0,9% 154 100 Solução de Ringer Lactato 130 97 Salina a 0,45% 77 73 Salina a 0,2% em glicose a 5% 34 55 Glicose a 5% 0 40 SOLUÇÕES PARA REPOSIÇÃO EM HIPO E HIPERNATREMIA HIPER E HIPONATREMIA Quantidade apropriada de Na+ no plasma: 142 mEq/L Mudança no sódio sérico (mEq/L) = (Na infundido - Na sérico) / (água corporal + 1) -A Síndrome da Secreção Inapropriada de ADH (SIADH) é uma condição caracterizada pela secreção não controlada de ADH pela hipófise ou por outras fontes junto com uma ação contínua nos receptores do hormônio. A SIADH é, frequentemente, secundária a outro processo patológico no corpo, entretanto é possível adquirir uma SIADH hereditária, conhecida como SIADH nefrogênica, que é causada por uma mutação nos receptores de vasopressina nos rins. É um diagnóstico de exclusão. -Fisiopatologia :A vasopressina é formada no hipotálamo e armazenada na hipófise posterior, com funções de osmorregulação. Assim, quando a osmolalidade do organismo aumenta, ocorre o estímulo para a liberação de ADH, que vai agir nos receptores V2 presentes nos rins, estimulando a formação de canais aquaporinos, ocasionando uma retenção de água. Quando os níveis de osmolalidade voltam ao normal, o estímulo para liberação do hormônio cessa. Em pacientes com SIADH, os níveis de ADH são altos mesmo com uma osmolalidade plasmática baixa ou com uma hiponatremia. Nesses casos, o indivíduo pode estar em um estado hipervolêmico ou euvolêmico, por conta do excesso de absorção aquosa. Essa condição é uma importante causa de hiponatremia. -Causas de SIADH: Distúrbios do SNC – Qualquer anormalidade no SNC pode causar uma liberação inadequada de ADH pela hipófise. Exemplos são AVC, hemorragias, infecções, trauma, psicoses, etc./ Câncer – Carcinoma de pulmão de pequenas células é o tipo de câncer mais comum que pode influenciar na produção inadequada de ADH./ Drogas – Algumas drogas podem tanto estimular a secreção de ADH quanto aumentar o efeito do hormônio. Entre elas, destacam-se a carbamazepina./ Cirurgia – Processos neurocirúrgicos podem estimular a hipersecreção de ADH. SD. DA SECREÇÃO INADEQUADA DE ADH -Quadro clínico: Hiponatremia, hipotonicidade, urina inapropriadamente concentrada, sódio urinário elevado e, frequentemente, ácido úrico plasmático em níveis baixos. O sódio urinário é muito útil nesses casos. Geralmente, o sódio urinário numa amostra de urina é > 30 mEq/l. O diagnóstico de SIHAD continua sendo um diagnóstico de exclusão e a ausência de outras causas potenciais de hipo-osmolalidade devem sempre ser verificadas. -Diagnóstico: Os critérios para diagnóstico de SIHAD continuam os mesmos, com as seguintes considerações: 1. Verdadeira hipo-osmolalidade do líquido extracelular deve estar presente e deve ser excluída a hiponatremia secundária a pseudo-hiponatremia ou hiperglicemia. 2. A osmolalidade urinária deve ser inapropriada para a hipo-osmolalidade plasmática. Isso não requer que a osmolalidade urinária seja maior do que a sua diluição máxima (i.e., > 100 mOsm/kg de água em adultos). 3. Euvolemia clínica precisa estar presente, e esse diagnóstico não pode ser feito em pacientes com hipovolemia ou edema. 4. Excreção urinária de sódio. Uma excreção urinária de sódio elevada geralmente ocorre em pacientes com SIHAD, mas a sua presença não confirma o diagnóstico, nem tampouco a sua ausência exclui o diagnóstico. SD. DA SECREÇÃO INADEQUADA DE ADH -GUYTON, A.C.; HALL, J.E.. Tratado de Fisiologia Médica. 13 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017 (Capítulo 25 - Os compartimentos dos líquidos corporais: líquidos extra e intracelulares; e edema) -COSTANZO, L. S. Fisiologia. 6 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018 (Capítulo 6 - Fisiologia renal) -VIEIRA NETO, O.M.; MOYSÉS NETO, M. Distúrbios do Equilíbrio Eletrolítico. Simpósio: Urgências e Emergências Nefrológicas, capítulo II. Medicina USP, Ribeirão Preto. 36: 325-337, abr/dez. 2003 -ELLISON, D.H.; BERL, T. The Syndrome of Inappropriate Antidiuresis, Clinical Practice. The New England Journal of Medicine 2007;356:2064-72. -KASPER, DL et al. Medicina Interna de Harrison. 19ª edição. Porto Alegre: AMGH, 2020. (Seção Algoritmos para manejo dos pacientes - hiponatremia e hipernatremia) REFERÊNCIAS
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