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i UNIVERSIDADE PAULISTA EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA Curso Pedagogia LITERATURA INFANTIL Nereide Aparecida de Carvalho R.A.: 1767259 ITAPEVI – SP 2020 2 Nereide Aparecida de Carvalho LITERATURA INFANTIL Trabalho Monográfico – Curso de Graduação – Licenciatura em Pedagogia, apresentada à comissão julgadora da UNIP EaD sob a orientação do professor Adenízio José Ferreira ITAPEVI – SP 2020 3 Dedicatória Dedico este trabalho a Deus primeiramente. Dedico ao meu marido Arlan Carlos, que além de cuidar da manutenção do lar enquanto eu permanecia ocupada com este projeto, foi capaz de me incentivar todos os dias. Grata por ajudar a realizar esse sonho. Dedico também aos meus filhos Lucas e Eduardo, é por vocês que estudo e trabalho. 4 Agradecimentos Agradeço a Deus pelos dons que me deu nesta existência que serviram na realização deste trabalho. Agradeço ao meu professor orientador Sr. Adenílzio José Ferreira, que apesar da distância, sempre sanou minhas dúvidas. As suas valiosas orientações fizeram toda a diferença. 5 “Professor não é o que ensina, mas o que desperta no aluno a vontade de aprender”. (Jean Piaget) 6 Sumário Introdução .................................................................................................9 Capítulo I: Interações entre a criança e o livro.....................................11 1.1: A criança e a literatura infantil............................................................11 1.2: Literatura como atividade humana.....................................................13 1.3: A contação de história e leitura de livros infantis...............................15 Capítulo II: Os livros e as ilustrações....................................................18 2.1: A biblioteca.........................................................................................18 2.2: Os cantinhos.......................................................................................19 Capítulo III: O trabalho de mediação do professor..............................21 3.1: O papel do professor da educação infantil no processo de formação de sujeito leitores................................................................24 3.2:A escolha do material..........................................................................26 Capítulo IV: A formação do professor mediador..................................28 4.1: Antes de serem mediadores...são professores................................. 30 Considerações finais ...........................................................................34 Referências bibliográficas: ...................................................................36 7 Resumo O presente trabalho parte do princípio de que a ludicidade se constitui do princípio inquestionável no âmbito da educação infantil, visão esta que se opõe a qualquer prática escolarizante ou adultocêntrica. Nesses termos, compreende-se a literatura infantil como uma das práticas de leitura, que se encontra presente quando um professor conta ou lê uma história e quando os livros de literatura infantil fazem parte do cotidiano das crianças. Além do caráter lúdico presente nos livros infantis e nas possibilidades que eles trazem (como atividade fim e meio); neles apresentam-se diversa possibilidades de expressão, como o contar, o ler, o dramatizar e o brincar. Dentro desta reação destaca o estudo acerca do trabalho de mediação do professor de educação infantil, por considerá-lo como um dos profissionais responsáveis por despertar o interesse das crianças pelos livros e pelas práticas de leitura mais amplas. Destaca, também para a importância da reflexão da formação de professores, a formação continuada no formato atual e suas limitadas contribuições ao processo formativo do professor; remete à importância do espaço escolar como local privilegiado de formação no sentido de resgatar a verdadeira função da escola e do conhecimento. Palavras-chave: Literatura Infantil. Aprendizagem da Criança. Mediação. Trabalho Docente. Formação Docente. 8 Abstract The present work is based on the principle that playfulness is an unquestionable principle in the field of early childhood education, a view that is opposed to any schooling or adult-centered practice. In these terms, children's literature is understood as one of the reading practices, which is present when a teacher tells or reads a story and when children's literature books are part of children's daily lives. In addition to the playful character present in children's books and the possibilities they bring (as an end and a half activity); in them there are different possibilities of expression, such as telling, reading, dramatizing and playing. Within this reaction, the study about the mediation work of the teacher of early childhood education is highlighted, for considering him as one of the professionals responsible for arousing children's interest in books and in wider reading practices. Emphasizes, also for the importance of reflecting on teacher training, continuing education in the current format and its limited contributions to the teacher training process; refers to the importance of the school space as a privileged place of training in order to rescue the true function of school and knowledge Keywords: Children's Literature. Child Learning. Mediation. Teaching Work. Teacher Training. 9 Literatura Infantil Introdução A literatura infantil se faz presente no cotidiano escolar, inclusive nas instituições de educação infantil. Ela surgiu de forma sistematizada em livros de histórias destinados as crianças no fim do século XVII e início de século XVIII, sendo que antes disso havia contos tradicionais que eram dissipados através da oralidade, mas não discriminavam faixa etária, portanto, as narrativas eram compartilhadas por adultos e crianças. (ESCARPIT apud AZEVEDO,1999). Atualmente, a literatura infantil “se configura não só como instrumento de formação conceitual, mas também de emancipação da manutenção da sociedade”. (CADEMARTORI,1986, p.23). Para Faria e Mello orgs.(2009, p.11) “(...) o livro é um instrumento de conhecimento, mas também é um veículo para fomentar o relacionamento”; “(...) é um objeto a ser explorado e ajuda a criança a inventar e construir histórias(...)” “(...) também é uma ocasião para a criança viver aventuras emocionantes queconstituem a chave de acesso ao mundo da imaginação”. A literatura infantil contemporânea tem revelado uma tendência de atualizar discursos do passado por meio da criação de enredos que revelam conflitos localizados num tempo distante do leitor contemporâneo. Além dessa característica da literatura ela tem sido enriquecida pelo investimento na visualidade de modo que os livros se constituem como objeto híbridos e a leitura destas obras deve considerar, pois aspectos postos tanto pela linguagem verbal e pela linguagem visual. Contudo, algumas questões surgem: Como se dá a interação das crianças com os livros nesta etapa da educação? Que atividades correlacionadas ao acesso a literatura infantil são propostas, vivenciadas, oportunizadas pelos profissionais da educação infantil? Para compreender como a criança se relaciona com o livro na educação infantil foi realizado um levantamento bibliográfico sobre o tema, descrito no capítulo um. Em seguida trouxe autores que me auxiliaram a pensar no professor como mediador, formando uma tríade entre livro, professor e criança, descrito no capítulo dois. Dando continuidade no levantamento bibliográfico, estudando como o professor pode ser mediador da aprendizagem por meio dos livros; como despertar o interesse das crianças pela literatura e qual sua função social, estão descritas no capítulo três. No capítulo quatro são descritas e analisadas a formação dos professores, se estão sendo professores mediadores, como se dá essa formação e os recursos que têm para a educação continuada. 10 Nas considerações finais reiterei meu objetivo de obter contribuições para o estudo e para o trabalho docente no que tange a mediação do professor em relação às práticas sociais e leitura na qual se insere a apreciação da literatura infantil: a sua vivência como parte imprescindível da/na vivência sócio- educativa. Alguns autores que pesquisei foram: FARIA, Ana Lúcia Goulart; MELLO, Suely Amaral; MEIRELES, Cecília; JOUVE, Vicent. 11 CAPÍTULO I: Interações entre a criança e o livro Ao considerarmos como ponto de partida que a interação estabelecida entre criança e livro constitui-se essencial para seu processo de aprendizagem e desenvolvimento humano, seja no ambiente escolar ou fora dele ponderamos que compreensão de como ocorre está relação poderá auxiliar os professores a pensarem possíveis práticas que garantam o fortalecimento da relação entre a criança(sujeito) e o livro(objeto). As crianças aprendem e apreendem o mundo circundante de diversos e diferentes formas e em diversos e diferentes ambientes e interações, constitui- se importante refletir a respeito do que a respectiva criança aprende nas instituições de educação infantil, no tocante as práticas de literatura infantil ou contação de histórias. Essas práticas são orientadas a partir de que critérios? Que concepção ou concepções de aprendizagem – desenvolvimento humano estão presentes nas práticas de leitura e incentivo à leitura na educação infantil? 1.1. A criança e a literatura infantil Entendemos que a literatura infantil se encontra presente quando um professor conta ou lê uma história e quando os livros de literatura infantil fazem parte do cotidiano das crianças; quando estes estão presentes na sala de aula e fazem desse ambiente um lugar para que as crianças gostem dos livros, entendendo-os, como aponta Kishimoto (2010) um mundo de ideias interessantes. Além do caráter lúdico presente nos livros infantis nos é apresentada diversas possibilidades de expressão, como o contar, o ler, o dramatizar e o brincar. Dentro desta relação destacamos o estudo acerca do trabalho de mediação do professor de educação infantil, por considerá-lo como um dos profissionais responsáveis por despertar o interesse das crianças pelos livros e práticas de leitura. Faria (2006) no livro “Como usar a literatura na sala de aula”, aponta algumas das dificuldades para encontrar pesquisas sobre a literatura infantil tendo um caráter mais didático, sendo isto, devido ao preconceito dos cursos de letras, exclusão das academia beletristas e cursos de formação dos professores; e a negação dos aspecto literário nos textos para as crianças, além de pouca atenção voltada as ilustrações dos livros para as crianças. 12 Acredito que as afirmações de Faria (2006) estejam de fato presentes no ensino fundamenta, mas na educação infantil vemos que as ilustrações são até mais reforçadas que os textos em si, desta forma, devemos tentar superar as dificuldades entendendo os livros infantis como literários e um importante instrumento no desenvolvimento das crianças. Devemos pensar na literatura infantil como uma grande possibilidade de exploração do diálogo e uma riqueza nos detalhes nos livros infantis, portanto, não podemos reduzir a literatura infantil a um objeto utilitário de uso instrumental. Dessa forma, Faria (2006) atenta ao fato de diversos modos de ler, como os professores os medeia a partir de uma primeira leitura, onde um leitor comum sem pensar em como utilizá-lo em sala, e posteriormente vem a leitura analítica e reflexiva, lembrando que o livro lido pode ser tratado de forma estereotipada ou criativa, daí a importância do professor compreender a obra. É necessário ao professor ter uma formação literária básica para poder analisar os livros infantis no intuito de selecionar o que pode interessar suas crianças naquele dado momento, decidindo sobre os elementos literários que sejam úteis para ampliar o conhecimento espontâneo que a criança já traz consigo. Segundo Faria (2006) os livros infantis possuem um esquema básico de narrativa, apresentam narrativas curtas, podendo ser consideradas contos. Sendo que a literatura infantil tem sua origem nos contos populares e hoje abrange diferentes tipos de contos, entre os tradicionais ( conto de fadas, maravilhosos, etc) que adquirem dimensões imaginárias e simbólicas e os contos modernos ( narrativas originais) cujo os autores são contemporâneos e abordam situações do cotidiano como também temas sociais, éticos, religiosos, etc. Podemos também sintetizar as fases de uma narrativa, independentemente de ser moderna ou tradicional contém situação inicial, desenvolvimento e desenlace, organizando-se em uma lógica temporal. Lembrando que há histórias que não se caracterizam propriamente como narrativa, uma vez que algumas histórias apresentam narrativas mais frouxas ( que não apresenta uma ou outra fase); narrativas de caminhada ( cujas ações desfilam pela obra sem se organizar em torno das fases) e narrativas acumulativas ( segue as fases, mas repete os elementos que vão sendo acrescentado, por exemplo : “E a velha a fiar...”). Também as historietas moralizantes que podemos ver até mesmo em alguns livros para crianças mesmo que estejam disfarçadas, são elas: o equilíbrio( ordem adulta da sociedade, como normas de comportamento), problema ( rompimento destas normas),desenvolvimento ( consequência do rompimento das normas) e desenlace ( equilíbrio restabelecido, aceitação da norma ou castigo). 13 As historietas moralizantes serviam para ilustrar o educar castigando certos comportamentos, entre eles, a gula, curiosidade. Hoje muitos autores de livros são reconhecidos por quebrar este costume e valorizar a independência da criança além de sua iniciativa pessoal. Além de não seguir necessariamente a estrutura tradicional das antigas narrativas. 1.2 – Leitura como atividade humana Segundo Jouve (2002.p.17) “a leitura é uma atividade plural e que se desenvolve em várias direções”. Partindo deste pressuposto, para entendermos o que significa ler, exploramos os cinco processos presente na leitura uniforme Vicent Jouve (2002): neurofisiológico, cognitivo, afetivo,argumentativo e simbólico. Para entendermos o processo neurofisiológico é preciso perceber que a leitura é uma ação concreta e observável, realizada através do aparelho visual e diferentes funções do cérebro, portanto, se efetiva como uma operação de percepção, identificação e memorização dos signos. Lembrando que, o movimento do olhar não é linear e uniforme, o que permite por vezes que o texto “lido” não seja realmente o texto “escrito”, destacamos a subjetividade presente no ato de ler. Desse modo, a leitura consiste em uma atividade de antecipação, estruturação e interpretação considerando seu aspecto físico. Após perceber e decifrar os signos, o leitor tenta entender do que se trata, entrando assim, no processo cognitivo, onde se supõe uma abstração para a significação dos elementos. Porém, duas vias são geralmente utilizadas: a progressão, quando nos preocupamos ao chegar no fim da obra e não nos detemos aos detalhes do texto, o que acontece comumente durante a leitura de romances, e a compreensão, que ocorre quando o texto é mais complexo, e nos detemos sobre trechos, valorizando mais a interpretação. Lembrando que essas vias podem se combinar, porém, em qualquer caso a leitura pressupõe uma competência, um saber mínimo para que possa continuar a leitura. A leitura também provoca a afetividade, uma vez que, proporciona diversas emoções, que são à base da leitura de ficção. Portanto, é a força de persuasão do autor que afetará nossa atração pela obra, caracterizando assim, a vulnerabilidade afetiva do leitor. Desta forma, a identificação e a emoção que demonstramos a uma personagem, ou seja, o processo afetivo, sempre estar é com o leitor, sendo, portanto, um elemento essencial a leitura geral. Ao dizer ser a leitura um processo argumentativo, Jouve (2002) acredita que a obra é resultado de uma vontade criadora, sendo um conjunto organizado de elementos, sempre analisável. Para ele, a intenção 14 de convencer o leitor está sempre presente em toda e qualquer narrativa, seja isto nítido ou não. Por fim o processo simbólico diz respeito ao sentido que se dá a leitura, uma vez que, inserido em um contexto cultural, ela age no imaginário de cada um, mas também e com maior força no imaginário coletivo. Por conseguinte, intuímos a força da leitura como um meio de modificar as mentalidades. Pensando agora nas condições da atividade leitora devemos entender que a maior particularidade desta é a relação que se estabelece entre o emissor e receptor, que no caso da leitura é totalmente assimétrica, uma vez que cabe ao leitor reconstruir o contexto para compreender a obra, sem maiores referências do que a própria estrutura do texto. Sobre o estatuto do texto devemos compreender que ele é recebido de fora de sua origem, e abre espaços para infinitas significações diferentes, uma vez que “cada leitor novo traz consigo sua experiência, sua cultura e os valores da sua época”. (Jouve.2002. p. 24). O texto se difere do discurso oral principalmente por quatro motivos: a fixação que não o deixa desaparecer, resistindo ao tempo; a dissociação. Que o faz escapar da intenção do autor, abrindo para diversas interpretações; abertura que extrapola os limites do diálogo e traz um universo novo e universalidade que possibilita um número de leitores ilimitados. (Ricceur apud Jouve, 2002). Dessa forma, poderíamos pensar toda a leitura é legítima, uma vez que, tirada de seu contexto a obra raramente é compreendida como o autor pensou ao escrever. Contudo, existem critérios de validação da interpretação de um texto, pois ele permite várias leituras, porém não autoriza qualquer leitura. Dentro disto, os princípios de coerência interna e externa devem ser mantidos e respeitados, além da abordagem semiótica da leitura, onde devem identificar o mais preciso possível as coordenadas do autor. Sem seguir esses parâmetros abre- se ao risco de decodificações absurdas. Por isso, nem todas as leituras são legítimas, lembrando que existem diferenças entre “utilizar’ um texto, ou seja, desnaturá-lo e” interpretá-lo”, ou seja, aceitar o tipo de leitura que ele programa (Jouve 2002). Jouve (2002) afirma que para uma leitura crítica do texto, devemos tomar por base o público alvo ou melhor, o primeiro público a quem a obra foi destinada, assim é possível reconhecer o destino da obra, assim como a evolução da literatura e até a história dos gêneros literários. Sendo assim, contrapõe a leitura inocente, ou seja, a primeira leitura, que segue a linearidade da narrativa, daquela leitura experiente, isto é, quando o leitor pode utilizar seu conhecimento para decifrar o desfecho do 15 texto nas primeiras páginas. Jouve (2002) acredita que a leitura inocente continua sendo a mais comum, e a ela devemos a dimensão lúdica do texto. Porém, a releitura é necessária para o entendimento dos “efeitos de sentidos” do texto, uma vez que, só entendemos algumas passagens após lemos outras conseguintes, portanto, certas conexões só são percebidas na segunda leitura. Além disso, Barthes apud Jouve (2002) atenda para a releitura como uma “operação” contraria aos costumes comerciais e ideológicos de nossa sociedade” que após a “primeira” leitura, nos recomenda que “joguemos fora” o livro para que possamos comprar outro, e assim sucessivamente. Quando na verdade, só a releitura salva o texto da repetição, pois o multiplica em sua diversidade e pluralidade, não em busca do texto” verdadeiro”, mas do texto plural que consiste no igual e novo. Reiterando, a leitura é um processo complexo, que abre espaço para várias intepretações, que vão do desejo, as ideologias. Sendo um objeto construído e a construir, entendendo que os leitores trazem a leitura ou as leituras que fazemos ou podemos fazer assim como nos deixa livres ou não nos torna livres, também pode nos reprimir. 1.3 – A contação de história e leitura de livros infantis Faria e Mello org. (2009) acreditam que contar histórias seja uma característica de todo ser humano, sendo que ao ler ou contar história o mais importante é o relacionamento que se cria. Dessa forma, os sons, as palavras, os gestos e os olhares são instrumentos utilizados para que quem lê ou ouve a história se relacionem. De modo a estabelecer a relação entre a capacidade de contar e a capacidade de ouvir. As crianças gostam de ouvir histórias, pois se sentem importantes, sabendo que algo está sendo feito para ela, também satisfazendo muito de seus questionamentos de forma lúdica, saindo das respostas racionais que os adultos geralmente dão. Além de ser um espaço importante para liberar as angústias que a afligem em seu subconsciente. Faria e Mello org. (2009) atentam para o fato da criança na educação infantil ”ler”, afirmando que quando emprestam a voz da professora, estão lendo, lendo com os ouvidos. E reforça que na infância ler com os ouvidos é até mais fundamental que ler com os olhos, uma vez que a criança passa a perceber as modulações da vida que estão no texto escrito. Por meio da prática de ouvir história é estabelecida uma ligação com a leitura e a criança, que começa a sentir a leitura como algo familiar, sendo aos poucos o ritmo, a linguagem que a história é apresentada, os sons, tudo entra no universo da criança como beleza e agradável experiência de sonoridade. 16 Na perspectiva de que os livros devem ser tocados, olhados, lidos, folheados, levados para a casa, trazido para a escola e discutidos, criticados e construídos; a figura do adulto é de extrema importância, pois ele que propõe cenários, escolhe temas, lugares onde a história será contada. Lembrando que a criatividade deve ser desenvolvida juntamente com o prazer de viver aquele momento, acompanhada por um adulto, assim como a compreensão da história e a fantasia, descobrindo segredos e imaginando coisas diferentes.Portanto, a contação de história é um momento de relação entre acriança e o livro mediado pelo professor, que deve estar muito atento para fazer deste, um momento único, estimulando a imaginação e a fantasia da criança, dando subsídios para a criança tirar suas conclusões sobre a história e estimulando a relação estabelecida no momento da contação. Nesta perspectiva do contar histórias, podemos explorar de diversas maneiras a dinâmica e o lúdico presente nesta atividade. Para que ela ocorra é necessário ler muitas vezes a história escolhida e ter em mente que elas sempre provocam reflexão e aprendizado. No momento da contação pode ser utilizados alguns recursos, por exemplo, como aponta Mello org. (2005) que ao se preparar para contar uma história para as crianças colocava um xale e como uma mágica as crianças se organizavam porque já associavam este momento ao da contação de história. Ressaltando que não é necessário a utilização de muitos recursos, mas fazer algo diferente nestes momentos o torna único e significativo a cada criança. Também existe a possibilidade de se trabalhar com as dramatizações, que ocorre quando dividimos a narrativa em sequências e cenas, podendo organizar a dramatização de um livro, que pode ser transformado em pequenas peças montadas pela professora. Sendo que para facilitar a dramatização pode ser introduzida a figura de um narrador. Outra possibilidade de trabalhar a literatura infantil, consiste na roda de contação de história, onde o livro é levado para a casa e lido por alguém próximo a criança como, por exemplo, seus responsáveis. No dia seguinte a professora e as crianças formam uma roda na sala e todos contam um trecho da história lida. Acredito que esta forma de interação entre criança e o livro, mediada geralmente por um adulto da família, ajude na aproximação da criança, do livro e do leitor. Neste contexto é possível observar que foi construído outro tipo de relação entre a criança e o livro, momento no qual a criança escolhe, se apropria da história e a conta aos outros colegas. Penso que na medida em que se trabalha com crianças na educação infantil, que ainda não estão na fase da escrita e leitura sistematizada, as crianças podem fazer a leitura de imagens, baseando-se nas ilustrações trazidas nos livros infantis para 17 construir seu entendimento sobre ela e poder contar aos colegas, estimulando-os a ouvir e contar outras histórias. Assim, a leitura e a contação de história estão inseridas nas práticas cotidianas da educação infantil, de modo que um complementa e completa o outro, buscando sempre ampliar o universo de possibilidades que existem quando tratamos de livros e histórias infantis. 18 Capítulo II – Os livros e as ilustrações Lembrando que existem livros que não possuem textos, somente imagens, sendo assim “o próprio leitor é que se encarrega de criar a história, desta maneira a criança tem a imaginação e criatividade aguçada, além de estimular a apreensão da narrativa via visualização. Sendo assim, é estabelecida uma relação direta com o livro e a criança, que se apropria da história somente pelas suas ilustrações. As ilustrações trazidas nos livros de literatura infantil devem estar articuladas com o texto produzido, de modo que a ilustração também se torne uma narrativa. Para tanto, texto e imagem devem ter uma articulação equilibrada fazendo uso ideal de cada linguagem, que no caso são linguagem visual e linguagem escrita. Também devemos ressaltar as diferenças que se apresentam na forma de um texto, por possuir uma lógica textual e linear, e da imagem, por não ser linear e possibilitar ao ilustrador hierarquizar de modo que somos guiados por essa hierarquia. A relação entre imagem e texto podem ter sentido de repetição ou complementaridade. A imagem pode possuir elementos estáticos (ligados a descrição – características, ambientes, etc) e elementos dinâmicos ( ligados ao desenvolvimento da narrativa – ação, gestos, etc), onde o autor deve dosar os elementos descritivos para não sobrecarregar a imagem com excesso de informação, e ser claro e econômico em relação aos elementos de ação, lembrando que nestes casos a ilustração divide espaço com o texto, por isso, se deve aproveitar bem o espaço destinado a ela. Nos casos dos livros infantis em que a ilustração é maior que a parte escrita, o ilustrador deve estar atento aos detalhes do tempo e espaço, de modo que as crianças acompanhem e dominem a história. 2.1 – A biblioteca Fernandes (2003) nos atenta para a importância de deixar à disposição das crianças, organizando-os em algum móvel formando uma biblioteca, para que estas tenham contato com eles, podendo manuseá-los, virar suas páginas e apreciar suas ilustrações. Ela afirma que desta forma o livro é integrado à vida da criança, tornando-se tão importante quanto seus brinquedos. Além disso, é importante que a biblioteca apresente um espaço para que a criança possa se relacionar fisicamente com os livros, o que possibilita a entrada no universo de maravilhas, onde o canto da leitura é um mundo fascinante. 19 Faria e Mello org. (2009) contam sua experiência em uma creche de Bolonha, onde os livros são classificados como livros de pegar, de escutar e de olhar. Para crianças menores de 6 meses, os livros são de plásticos, tecido, para que todo o corpo da criança possa aproveitar do livro. O espaço para que aconteçam essas experiências também faz a diferença, deve ser um lugar macio, bem aconchegante. Portanto, nesta perspectiva a primeira experiência da criança com o livro é sempre físico. As experiências com crianças mais velhas – 1 a 2 anos – são marcadas pela curiosidade, portanto, são disponibilizados livros de papelão, com perfurações, e o espaço ganha almofadas, poltronas e cadeirinhas. Lembrando que os livros estão sempre à altura das crianças. Para crianças maiores pode haver também mesas baixas para a leitura em grupo ou individual, os livros podem ficar em estantes, não mais nas alturas das mãos, mas pode colocar uma escadinha para criança subir. Enfim todas essas práticas não são fixas, muito menos o modelo correto a se fazer. Essas são experiências que deram certo, naquele contexto, com aquelas crianças, daí a importância da professora conhecer sua turma, seus gostos e preferências, para poder montar o cantinho da leitura, e selecionar os livros, de forma que as crianças se sintam protegidas, mas a vontade para viajar no mundo da imaginação que é proporcionado pelos livros. 2. 2 - Os cantinhos Os cantinhos se apresentam como uma das formas de organização do espaço da sala, utilizado principalmente na educação infantil, por seu caráter, de certa forma, menos escolarizante e mais aberto do que as escolas de ensino fundamental. Quando utilizado, a sala se transforma em pequenos “ateliês”, onde são oferecidas diferentes possibilidades de atividades, jogos, brincadeiras, e as crianças escolhem onde querem ir, e o que querem fazer, devendo em algumas situações, pelo posicionamento da professora a fazer um rodízio entre os cantinhos dispostos pela sala ou por sua própria vontade transitar entre as atividades oferecidas. Este tipo de organização estimula a autonomia da criança, que já pode escolher o que fazer e quando quer trocar de atividade. Neste contexto os livros de literatura infantil fazem parte de um dos cantinho, onde são e/ou ficam expostos de modo que as crianças possam se aproximar e explorá-los livremente, devendo estar sempre à altura das crianças, os livros, selecionados pela professora formam assim uma biblioteca de sala, substituindo a biblioteca da escola ou sendo o único modo das crianças terem contato com os livros, uma vez que muita biblioteca estão desativadas. 20 SegundoFaria e Mello (2009, p. 17),” o importante é que nesse canto da leitura, a criança entra em contato com os livros em lugares que ela se sente à vontade e pode instalar-se com conforto”. Desta forma, é necessário que a professora tenha uma observação atenta e perceba coma as crianças gostam de ficar enquanto estão neste cantinho, para que assim possa proporcionar o máximo de liberdade às crianças. 21 Capítulo III– O trabalho de mediação do professor Após o relato de possíveis formas de relação entre criança e o livro, é preciso entender que o protagonista desta relação não é o texto e sim a relação dos leitores com o texto, que vai interferindo no processo de suas práticas e produções de sentido, dessa maneira a criança pode construir um significado para a história e criar um sentido para ela. Devemos entender que os livros de literatura infantil são objetos de comunicação e demandam um esforço para a construção de sentidos e significados, sendo trabalho do professor a engajar as crianças numa proposta conjunta de compreensão, sendo fundamental a interação da criança com o professor e com as demais crianças. (Brandão; Leal; Nascimento,2013). Desse modo, é importante a forma de conduzir a conversa para estimular a compreensão das crianças sobre o livro, sendo que esse diálogo, bem como as perguntas e propostas feitas pelo professor, conduzirá a forma de pensar das crianças. Por isso, como destacam Brandão; Leal; Nascimento (2013) é importante que o professor reflita sobre o que vai ler, sobre o que vai conversar antes da leitura, como a leitura será conduzida, que perguntas sucederão após a leitura e se for o caso que atividades de extensão da leitura serão propostas, sendo reflexões essenciais para a produção de sentido da leitura nas crianças. Além de estar disponível para a fala das crianças durante a leitura, entendendo as conexões que vão sendo feitas, bem como as crianças vão compreendendo a história. Ainda a respeito da mediação da prática da leitura da literatura infantil, o professor também pode propor perguntas de previsão sobre a história, fazendo as crianças levantarem hipóteses sobre o que ou como vai acontecer a história. É possível afirmar, então, que as crianças estão em constante interação com o mundo letrado, portanto já se relacionam com a leitura fora do âmbito escolar, sendo assim, o professor de educação infantil deve oferecer diferentes gêneros discursivos e diversos suportes de textos, uma vez que o contato inicial com a literatura não exige o domínio do código escrito. Nos primeiros anos de escola, contar e ler histórias são atividade importantes, não apenas para o desenvolvimento do vocabulário das crianças, nesses primeiros anos o contato com a leitura propicia às crianças a descoberta do livro como objeto especial, diferente dos outros brinquedos, mas também fonte de prazer, com afirma Martins (1998; p. 43), motivando-as para a concretização maior do ato de ler o texto escrito, que serve para informar, fazer rir, para criar um jogo, por meio reconstruir um universo mágico, e por fim, serve para estimular, por meio das potencialidades das crianças, o desejo e o gosto pela leitura. 22 O professor deve ter cuidado de permitir que seus alunos se exercitem na descoberta da leitura e possam propor suas obras preferidas aos colegas, mesmo que sua escolha contrarie o gosto próprio do professor. A leitura mesmo na vida cotidiana, nasce de sugestões dos outros e de escolhas próprias. Ao libertar os alunos para que leiam o professor os lança ao verdadeiro mundo da literatura.” Ler é experimentar a complexidade, a multiplicidade: é avistar incontáveis paisagens secretas que se ocultam sob o suave manto da vida cotidiana” (CADERNOS DA TV ESCOLA.1996). O professor como intermediário deve saber como introduzir um texto aos seus alunos, explorá-los de forma enriquecedora e perceber todas as formas de conhecimento a ser proporcionado. O infante é um ser célebre, sociável e instrutivo, que é influenciado pelos motivos que instituem a sua constituição gregária relacionada ao seu meio. (VYGOTSKY,1988). Desta forma o professor de educação infantil consegue facilmente formar um aluno dotado de qualidades entendedores do mundo a sua volta, críticos do ambiente em que vivem e transformadores pois assimilará uma cultura que está lhe sendo imposta. A criança é melhor assimilador, está aberta a toda informação e mostra-se multiplicadora de tudo aquilo que aprendeu. Na educação infantil o brincar e o cuidar são indissociáveis, bem como a compreensão da criança como sujeito de culturas e de direitos; o que engloba o direito de brincar, de crescer, de desenvolver-se e de aprender. Daí a importância da mediação docente, na medida em que ela é responsável por proporcionar boa parte dos direitos das crianças; podendo colaborar para “humanizá-las” ou “desumanizá-la”. Lembrando assim dos avanços e desafios em relação a dimensão do trabalho político- pedagógico do professor, devemos assumir uma postura profissional que exponha nossa condição de sujeito e protagonista da educação e na transformação criativa e prazerosa. Segundo Momma-Bardela (2012), é imprescindível ter a criança como foco do trabalho educativo, uma vez que a educação infantil constitui- se como direito da criança, tendo em vista o desafio de proporcionar a ela uma infância em condições dignas, em um ambiente saudável e acolhedor. Constitui-se importante, nesse contexto entendê-las como sujeitos de saberes, culturas e historicidade, para assim compreender o desafio e as diversas possibilidades de aprendizagem dessas crianças. Lembrando que a escuta é imprescindível para uma educação dialógica, que permite que o processo de mediação ocorra com diferentes e diversas práticas considerando as possibilidades transformadoras e formadoras que permeiam o processo de aprendizagem humana. Nessa perspectiva a criança é vista com um potencial e ressignifica o trabalha feito pelo professor, também o sujeito, professor. Desta forma as interações estabelecidas no cotidiano se modificam, dando espaço para aquilo que fora planejado e possui intencionalidade, mas também para o 23 imprevisível, que acontece por estarmos nos relacionando no presente, no vivido. Desta forma, Momma-Bardela (2012), nos apresenta a concepção de educação triádica, onde o professor mediador deve mediar à interação das crianças/sujeito com as possibilidades lúdicas e imaginárias do mundo/objeto. Assim, na escola, compete ao professor favorecer a socialização e interação das crianças com as diversas formas de conhecer, ler, viver. É importante ter clareza sobre as aprendizagens saberes e vivências que as crianças possuem, bem como refletir sobre o que ensinar, como ensinar. Os professores não devem trilhar este caminho sozinhos, mas sim construir possibilidades, trabalhar coletivamente, propor espaços de formação e redimensionar rumos da educação. Tomando por pressuposto o que Berni [s.d.] caracteriza como mediação na perspectiva de Vygotsky: “o processo que caracteriza a relação do homem com o mundo e com os outros homens” (p.2539). Reforçamos a responsabilidade dos professores neste processo, uma vez que o desenvolvimento se dá pela aprendizagem, que ocorre pela mediação. Voltando a lembrar da importância de observar e investigar os conhecimentos prévios das crianças e assim intervir para reorganizá-lo, elevando-o a outro patamar. Complementando o conceito de mediação em Vygotsky, Martins e Moser (2012), afirmam que a mente forma os conceitos pela mediação de signos, e a linguagem passa a ser o meio ou o modo mais importante que os seres humanos possuem para formar conceitos e para aprender, mas sempre no contexto da interação social. Costas e Ferreira (2011,p. 209) afirmam que para Vygotsky, as crianças se socializam, pois elas não são sociais por natureza, produzem- se no meio social, são seres interativos. A seu ver o desenvolvimento é um processo que deve considerar os aspectos biológicos e estes se transformam em culturais. Portanto, a criança se constitui como um sujeito interativo e neste processo, utiliza a fala como instrumento para organizar o pensamento. A interação é, então, o modo como os seres humanos vão se desenvolvendo mediante aspectos culturais. Pensando no meio, Martins e Moser (2012) acreditam que o acesso do homem ao mundo não se dá de forma direta, pois passa por uma mediação que permite ao homem o acesso indireto. Assim, o significado está na utilização da palavra, que depende do contexto e cultura a qual está inserida. Daí a importância e necessidade de levar em conta a dimensão sociocultural no ensino e da aprendizagem. Lembrando que tal fato ocorre não só na aprendizagem, mas no próprio desenvolvimento humano. (MARTINS E MOSER, 2012. P.15). Portanto, a forma como ocorre à mediação docente influi no modo como as crianças vão se desenvolver, bem como, compreender as 24 possíveis relações que vão sendo estabelecidas com a literatura infantil, com si mesmo e com o mundo. (BRANDÃO; LEAL; NASCIMENTO, 2013). 3.1- O papel do professor da educação infantil no processo de formação de sujeitos leitores A literatura, na educação infantil é capaz de promover o conhecimento de si e do mundo, incentivando a curiosidade, a exploração, o encantamento, o questionamento, a indagação e o conhecimento das crianças em relação ao mundo físico e social, objetivos elencados como eixo do currículo nas práticas pedagógicas da educação infantil. Os leitores constroem significados sobre o que ouvem e leem usando seus conhecimentos prévios, criado imagens que estão ligadas às suas próprias experiências e interações humanas, construindo significados na medida em que interagem com outras crianças e adultos, comentando as histórias. Contudo, se a forma de trabalhar o texto literário no contexto escolar deve sofrer mudanças a seleção desse material, de igual maneira, também deve se atualizar, não se pautando na concepção tradicional da prática leitora centrada na visão do professor, mas variando de acordo com a perspectiva social e cultural e de formação do sujeito. Para que o convívio do leitor com a literatura resulte afetivo nessa aventura espiritual que é a leitura, muitos são os fatores em jogo. Entre os mais importantes está a necessária adequação dos textos as diversas etapas do desenvolvimento infantil (COELHO, 2000 p. 32). O trabalho com texto literário na educação infantil, inclusive não deve ter o ensejo de alfabetizar as crianças, tendo em vista que, de acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. As práticas pedagógicas que compõem a proposta curricular de educação infantil devem garantir experiências que possibilitem às crianças experiências de narrativas, de apreciação e interação com a linguagem oral e escrita, e convívio com diferentes suportes textuais orais e escritos. Ainda de acordo com o documento: “a proposta pedagógica das instituições de educação infantil deve ter como objetivo garantir à criança acesso a processos de apropriação, renovação e articulação de conhecimentos e aprendizagens, de diferentes linguagens, assim como o direito a proteção, à saúde, à liberdade, à confiança, ao respeito, à dignidade, à brincadeira, à convivência e à interação com outras crianças”. (BRASIL,2010. p. 18). Consideramos, como Nunes (1990), que a literatura, mais do que introduzir as crianças no mundo da escrita, ao tratar a linguagem enquanto arte, traz as dimensões éticas e estéticas na língua, exercendo um importante papel na formação do sujeito. Assim, o contato da criança com 25 a literatura é essencial para a sua formação como leitor que ainda não adquiriu autonomia. Os livros devem fazer parte da realidade da criança, precisa ser um objeto tão comum quanto uma peça de roupa, para que o ato de ler – imagens e posteriormente o código escrito – seja um ato tão comum quanto vestir-se. Para isso, pode ser de grande valia trabalhar comum cantinho apropriado para a leitura, ampliando o contato com a literatura infantil nos primeiros anos de vida. De acordo com Vygostsk (2000, p. 110),” aprendizado e desenvolvimento estão inter-relacionados desde o primeiro dia de vida da criança”. O processo de desenvolvimento progride por meio do aprendizado e o autor explica esse processo pelo conceito de zona de desenvolvimento proximal, que é definido como distância entre o nível de desenvolvimento real e o nível de desenvolvimento potencial, quais sejam, a situação independente de problemas e a solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes, respectivamente. No caso dos livros infantis, a criança primeiro ouve a história contada pelo professor, relacionando o enredo com as imagens. Após essa etapa, a criança já se sente capaz de recontar a história, guiando-se pelas ilustrações e imitando a fala do professor, prosseguindo seu desenvolvimento até se apropriar, naturalmente da linguagem escrita, em um exemplo perfeito da zona de desenvolvimento proximal, definido por Vygostsky. O que a criança é capaz de realizar hoje somente coma ajuda, amanhã realizará sozinha, ou seja, “a zona de desenvolvimento hoje, será o nível de desenvolvimento real amanhã”. (VYGOSTSKY, 2000 p. 113). Nesse sentido, a iniciação da leitura infantil, poderá se dar de forma prazerosa e significativa em um ambiente com ações planejadas de acordo com as fases leitoras, num caminho que proporcione à criança desenvolver a imaginação, emoções e sentimentos. A leitura de texto para a criança pré- leitora não se trata de uma leitura convencional, tendo em vista que a criança de um a dois anos não se prendem a uma história, interessando- lhe o movimento, o tom da voz e o colorido da páginas, sendo mais adequado, nesta fase, a leitura frase a frase, de modo solto, curto, promovendo um diálogo entre a criança e o livro. Como esclarece (MARTINS, 1990. P. 33). Em tempo, o pré-leitor faz parte da categoria inicial que envolve a fase da primeira infância que vai dos quinze meses aos dois anos, e a segunda infância, quando a criança completa três anos. Na primeira fase, a criança inicia o conhecimento da realidade que a rodeia, estimulada pelos contatos afetivos, momento em que conquista a própria linguagem e nomeia o que está a sua volta. Já na segunda infância, começa a predominar os valores vitais e sensoriais. É um período egocêntrico e de interesses por jogos e brincadeiras, comum crescente impulso de adaptação ao meio físico e nova formas de comunicação verbal. 26 Assim, os professores e os pais devem estimular a criança, apresentando-a diversas possibilidades de conversação e expressões, contribuindo assim, para aquisição da linguagem oral, instrumentalizando- a para em sequência, ingressar no mundo dos livros, da leitura, da linguagem escrita. 3.2- A escolha do material Em seu primeiro contato com a literatura infantil, a criança revela um prazer singular pela leitura de imagens; manuseio fácil, possibilidades emotivas que o livro pode conter e a escrita de histórias, no qual o encontro da relação descoberta/desconhecido se torna ponto de partida para a capacidade de comunicação com o mundo. Levando em consideração esses aspectos, o livro infantil com apoio de imagens torna-se o elemento principal do processo de aproximação com o gênero literário, sob a forma de experiência, brincadeiras e interações. Segundo Coelho (2000, p. 161), livros que contam histórias através da linguagem visual, sem o suporte de textos narrativos ou com apoio de pequenas falas escritas,são chamados de livros de imagens. Esses livros são ideais para o começo dos trabalhos com a criança pré- leitora, sendo bem-vindos, ainda, os livros de pano, borracha, com texturas diferentes, com gravuras coloridas e atrativas, tendo em vista que a criança nessa fase motiva- se, também pelo tato. Esses modelos de livros sem palavras apresentam muitas estratégias que possibilitem para as crianças o reconhecimento dos seres, das coisas e dos acontecimentos do seu cotidiano, relacionando as histórias com o arcabouço cultural do qual já se apropriam. “Há prazer de folhear um livro colorido ou preto e branco [...] livros feitos para a crianças pequenas, mas que podem encantar aos de qualquer idade, são sobretudo experiências de olhar, de um olhar múltiplo, pois se vê com o olhar do autor e do olhador/leitor, ambos enxergando o mundo e os personagens de modo diferente, conforme percebem o mundo. Saborear e detectar tanta coisa que nos cerca usando este instrumento nosso tão primeiro, tão denotador de tudo”, a visão (ABRAMOVICh,1991. P.33). A autora enfatiza a importância de manipular um livro com perspectiva de lançar um olhar novo, voltado para os significados e representações imagéticas do livro. A criança assim, a atribui significações ao texto e às imagens, segunda o sentido dado pelo autor, estabelecendo diálogo com sua própria vivência. De acordo com Corsino (2010), uma biblioteca ou sala de leitura em creche e pré-escolas pode ter livros de vários gêneros- dos informativos aos literários. Cabe também gibis, revistas, filmes, desenhos animados, música e cantigas, brinquedos, cenas e personagens de histórias, pedaços de pano para se transformarem em roupas, adereços (chapéus, coroas, 27 sapatos, colares, entre outros). Ainda segunda a autora, no espaço da biblioteca, a linguagem escrita pode desempenhar diversas funções, tal como ocorre no nosso cotidiano, suscitando diferentes leituras, como a leitura informativa, para buscar mais conhecimentos sobre determinado assunto: a leitura injuntiva, para seguir uma orientação para a realização de alguma ação; e a leitura, para a fruição e prazer, para estimular a imaginação e reflexão, entre outras, sendo assim, cabe ao professor organizar situações em que as crianças tenham oportunidades de ler para consultar, pesquisar, se divertir, ampliar suas experiências, imaginar. Desta forma os volumes deverão estar expostos de forma atraente e acessível às crianças, evitando caixas fechadas, livros empilhados de forma desorganizada. O material precisa ser arrumado de maneira que possa ser visto, manipulado, consultado e apreciado. O educador, deve assim, estimular as leituras coletivas, a organização das cenas, brincadeiras e dramatizações das histórias, interações diversas entre texto verbal e visual dos livros e as diferentes linguagens. No que diz respeito à aprendizagem da leitura, Coelho (2000), orienta que no período dessa descoberta, o adulto responsável pela educação do pequeno leitor deve utilizar textos breves, combinados com grande quantidade de imagens e com poucas páginas, cujo temas fundamentais a serem abordados devem ser simples, fáceis de decifrar, e que, de um livro para o outro, serão esclarecidas as dificuldades de compreensão e entendimento da leitura para essa fase do pré-leitor, esses livros devem especialmente retratar as coisas e objetos vivenciados no dia a dia da criança, como comer, dormir, brincar, vida familiar, higiene, lazer e, entre outros, o que possibilitará o meio de acesso à realidade das experiências existenciais da criança. Desta forma, observam -se pontos importantes que tratam do valor psicológico, pedagógicos, estéticos e emocional do livro imagem, responsáveis em estimular a atenção visual e o desenvolvimento da capacidade de percepção da criança. Partindo desse princípio, infere-se que essa estratégia facilita a comunicação entre criança e a narrativa, pois estimulam a atenção visual do iniciante da leitura, além de ativar a sua potencialidade criadora e enriquecer a imaginação. Como complementa o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNI), “ter acesso à boa leitura é dispor de uma informação cultural que alimenta a imaginação e desperta o prazer pela leitura”. 28 Capítulo IV- A formação do professor mediador Na escola o professor tem um papel de instruir e levar seus alunos a passear no caminho do conhecimento, levá-los a se autoconstruir através deste caminho e das experiências vivenciadas, levando em conta fatores externos, do meio, que influenciam esse processo. A Lei de Diretrizes e Base da Educação (LDB), Lei nº9.394/96, em seu artigo 62, admite como formação mínima aquela oferecida em nível médio, na modalidade Normal para professores que atuam na educação infantil. “A formação do docente para atuar na Educação Básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura de graduação plena, universidades e institutos superiores de educação, admitida como formação mínima para o exercício do magistério na Educação Infantil e nas quatro primeiras séries do Ensino Fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal.” (BRASIL,1996). Art. 62. A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura plena, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nos cinco primeiros anos do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade normal. (REDAÇÃO DADA PELA LEI nº 13.415, de 2017). Segundo Kramer (1989), “não são apenas as crianças que crescem e apendem. Todos constroem conhecimentos e nesse processo têm dúvidas e dificuldades, fazem progressos e reestruturam suas formas de ação, buscando alcançar seus objetivos traçados”. A formação de professores para a educação infantil é entendida como processo permanente que acontece dentro e fora da escola, articulando conhecimentos formalmente estruturados e saberes adquiridos com a prática. Essa concepção enfatiza o caráter histórico e cultural do conhecimento possibilitando uma formação articulada com as necessidades sociais, promovendo a autorrealização e desenvolvimento dos professores com ela envolvida. Para que haja uma prática docente de qualidade é importante e necessário considerar dois aspectos: o da organização e o de planejamento, pois o cotidiano na sala de atividades que sinaliza aos professores os acertos e erros. “Tratar dos aspectos organizacionais é, afinal, tratar das condições que devemos levar em conta para conseguir desempenhar uma tarefa educativa”. (BASSEDAS; HUGUET; SOLÉ,1999, p. 93). Com essa afirmativa destaca a importância da formação desse professor que atua com as crianças para organizar os espaços infantis, deforma a favorecer interações entre criança e delas com adultos, tornando 29 presente a ludicidade no trabalho desenvolvido. Nesse espaço, espera-se que esses profissionais adquiram conhecimentos científicos enquanto promove uma aprendizagem significativa com os pequenos. Ao considerar o professor como o profissional responsável pela educação e cuidado da criança em creches e pré-escolas, há um desafio de qualificar esse profissional. Dada a complexidade dessa função, não se pode entrega-la a qualquer profissional que segmente e hierarquize sua ação junto à criança, as, antes faz-se necessário formar um profissional capaz de reconhecer sua formação profissional e a diversidade existente nesse campo e, assim como os professores dos demais níveis de ensino, com capacidade para fazer valer sua vez e sua voz e construir a autonomia de seu processo formativo. O professor precisa de reciclar, estar sempre estudando para desenvolver novas competências, o que é definido como formação continuada, isto implica em oportunizar aos professores espaços deavaliação e discussão entre as demais atividades desenvolvidas nas instituições, para que a formação aconteça como um processo contínuo e integrado ao cotidiano, configura não somente como necessidade, mas como direito para a oferta de uma educação infantil de excelência. A formação é necessária não apenas para aprimorar a ação docente ou melhor a prática pedagógica, a formação é direito de todos os professores, conquista e direito da população por uma escola pública de qualidade. Com relação ao trabalho educativo com crianças da educação infantil, o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (Brasil, 1998), apresenta a necessidade da promoção de práticas de educação e de cuidados que possibilitem interação dos aspectos físicos, emocionais, afetivos, cognitivos, linguísticos e sociais da criança. Este processo de reflexão e autoavaliação, o qual acontece em diferentes tempos e espaços, precisa ser contínuo e coerente com a ação educativa que se pretende implementar. A formação se constrói por meio de um trabalho de reflexão crítica sobre as práticas e não por acúmulo de cursos, conhecimentos ou técnicas, a formação deve oportunizar aos professores meios para um pensamento autônomo, dinâmico e de autoformação. A formação continuada desempenha um papel fundamental na elaboração de um repertório de saberes para a atuação do professor na educação infantil, sendo esse, um processo que proporcione ao profissional construir saberes e formas que lhes possibilitem produzir a própria existência e a partir da profissão onde os saberes são componentes da identidade profissional. Portanto, a formação continuada pode ser considerada a porta de entrada para a mediação, transformar o professor em mediador dos saberes, na literatura infantil, fazendo uso dos novos sabres e 30 possibilidades diversas de interação, levar seus alunos ao mundo dos livros, mundo mágico, onde a hora da história/contação é sempre uma surpresa, afinal, o professor usa de novos recursos, como fantoches para dar vida aos personagens da história, ou distribui esses fantoches para que as crianças criem suas próprias histórias; em outra ocasião faz teatro de sombras usando a cortina da sala e colocando os alunos para encenar esse teatro, outro recurso para estimular a ludicidade são as fantasias, o professor a usa para contar a história. Diante dessas situações o professor observa seus alunos como indivíduos únicos, cada qual com suas particularidades, apresenta o mundo encantado dos livros e desperta o interesse pela leitura. 4.1 – Antes de serem mediadores...são professores A formação de professore é uma das temáticas que mais frequentemente tem estado presente nas discussões sobre os a educação brasileira no âmbito das escolas públicas. Além da importância que vem sendo atribuído, em termos nacionais, o motivo desse destaque se prende ao débito do país em relação a uma educação escolar de qualidade para toda a população. Neste contexto, inserir-se a má formação dos professores e a perda da sua identidade, o que dificulta a construção de uma escola democrática, de igualdade e em prol da cidadania. De acordo com Tardif (2002, p.112), a formação docente voltou-se para a prática a partir dos estudos desenvolvimentos nos Estados Unidos na década de oitenta, onde a sala de aula tornou-se importante objeto de investigação. A partir de então a prática docente passou a ser valorizada e investigada. No Brasil esses estudos, iniciaram-se na década de noventa. Tardif (2002, p. 1140), considera que, inicialmente, a reforma educacional preocupava se com a organização curricular. Entretanto, atualmente, prioriza-se os saberes docentes, a formação docente. Entendendo-se que esta é a melhor maneira de formar professores, a partir da análise da prática do outro. Sendo capaz de desenvolver no futuro professor capacidade crítico reflexiva para interagir com o conhecimento, gerar novos saberes, e com isso, reconstruir a identidade do professor. A formação docente preocupa-se cada vez mais, com a formação de uma nova identidade docente baseada em princípios éticos, investigativos, críticos e reflexivos. Segundo Pimenta (1999, p. 28-29), a formação do professor vem se opondo a racionalidade técnica até então vigente. Considera-se cada vez mais o professor como um intelectual em processo contínuo de formação. Esse processo desencadeia uma constante reflexão sobre suas práticas e experiências cotidianas, o que ressignifica os saberes docentes e, consequentemente a identidade do professor. 31 A desvalorização de certas disciplinas teóricas do curso de pedagogia, tais como: Sociologia, Filosofia, História da Educação, Organização da Educação Brasileira, entre tantas outras que os cursos de formação inicialmente possuíam e que contribuíram para que os novos professores desenvolvesse ou fortalecessem sua identidade profissional, relacionando-a ao modo como a profissão é representada e explicada histórica e socialmente, perderam seu espaço para disciplinas voltadas para a prática docente. Essa mudança que ocorreu em alguns cursos, não contribuiu para a formação de um profissional mais seguro e competente, ao contrário, enfraqueceu sua identidade e reduziu seu campo profissional. Antes se formavam pedagogos, e estes podiam se especializar como docentes, orientadores ou administradores. A formação com bacharel, tornou-se uma licenciatura curta. Libâneo, registra sua postura contra a redução do curso de pedagogia a um curso para a formação exclusivamente de docentes em seu livro “Pedagogia e Pedágogos, para quê? Suas argumentações, em momento algum despreciam a docência ou os professores formados como pedagogos com habilitação para as séries iniciais. Ao contrário, defende seu direito a escolha de campo de atuação e formação. Em aquisição a percepção do professor como meio aplicador de técnicas Schön, citado por Pimenta (1999), contempla um triplo momento: da reflexão na ação, da reflexão sobre a ação e da reflexão sobre a reflexão na ação. Por esta razão o professor é considerado um profissional relativamente autônomo e reflexivo. Partindo dessa premissa, Nóvoa citado por Pimenta (1999), que a formação dos professores deve favorecer e estimular o pensamento autônomo numa perspectiva crítica reflexiva (Nóvoa, apud Pimenta, 1999, p. 29). Segundo o autor, a formação docente possibilita o desenvolvimento pessoal, profissional e organizacional. O desenvolvimento pessoal significa produzir a vida do professor. O autor considera que a formação docente deve estimular uma perspectiva crítica reflexiva, que viabilize a auto formação participada e o pensamento autônomo do professor, a formação é considerada um investimento pessoal que visa contribuir uma identidade pessoal e profissional O desenvolvimento profissional, entretanto, significa produzir a profissão docente, estimulando o desenvolvimento autônomo e contextualizado pois profissionais competentes têm capacidade de auto conhecimento reflexivo, o que viabiliza a reconstrução constante e permanente de identidade do professor. O desenvolvimento organizacional, segundo o autor, refere-se a produção da escola, de modo que a formação de professores conceba a escola como em ambiente educativo, associando o trabalho, propriamente dito, a formação do professor, simultaneamente no cotidiano escolar, 32 entendendo que a formação é indissociável tanto dos projetos educacionais, quanto dos organizacionais. (NÓVOA, 1997, p. 25-31). Dando continuidade a formação dos professores temos a formação continuada, que são cursos, nem sempre a participação é espontânea, na maioria das vezes o que leva o professor a participar desses cursos é a necessidade de horas de cursos para pular barreiras e aumentar seu salário. Nesse sentido, uma reflexão sobre a verdadeira contribuiçãoe eficácia destes cursos de formação continuada se faz necessária para a implantação de qualquer proposta que vise a renovação das escolas e das práticas pedagógicas buscando qualidade educacional. Um aspecto especialmente crítico e importante a se observar é a necessidade e as especificidades do público a que esses cursos irão atender. Para Candau (1996, p. 143). “O locus da formação a ser privilegiado é a própria escola: isto é, é preciso deslocar o locus da formação continuada de professores da universidade para a própria escola de primeira e segundo graus. Todo processo de formação continuada tem que ter como referência fundamental o saber docente, o reconhecimento e a valorização do saber docente”. Neste sentido, considerar a escola como locus de formação continuada passa a ser uma afirmação fundamental na busca de superar o modelo clássico de formação dos professores. Portanto, não se alcança esse objetivo de uma maneira espontânea. Não é o simples fato de estar na escola e de desenvolver uma prática concreta que garante a presença das condições mobilizadoras e um processo formativo. Uma prática repetitiva, mecânica, não favorece esse processo. Para que ele se dê é importante que essa prática seja capaz de identificar os problemas, de resolvê-los. As pesquisas são cada vez mais confluentes, que esta seja uma prática coletiva, uma prática construída conjuntamente por grupos de professores ou por todo o corpo docente de uma escola. Entretanto, é urgente que as instituições que formam os professores se deem conta da complexidade da formação e consequentemente da sua influência na atuação desse profissional. Além do conhecimento da disciplina que ensina da compreensão e de certa segurança para lidar com a mediação do ensino aprendizagem, é importante a formação das convicções a serem desenvolvidas em relação ao caráter ético- valorativo da sua atividade docente. “A formação continuada não pode ser concebida como um processo de acumulação (de cursos, palestras, seminários) permanente de uma identidade pessoal e profissional, como interação mútua. E é nessa perspectiva que a renovação da formação continuada vem procurando caminhos novos de desenvolvimentos”. (Candau, p. 150). 33 Torna-se importante que sejam estimuladas as iniciativas dos pesquisadores da área de educação no sentido da aproximação, reconhecimento, valorização e incorporação dos saberes docentes principalmente dos saberes da experiência. A valorização do saber docente extremamente atual provocando uma importante reflexão e pesquisa no âmbito pedagógicos nos últimos anos. Tardf, Lessard e Lahaye (1991), partem da afirmação de que o saber docente é um saber “plural, estratégico e desvalorizado”. Plural porque é constituído dos saberes das disciplinas, dos saberes curriculares, dos saberes profissionais e dos saberes das experiências. Estratégico porque, como grupo social e por suas funções, os professores ocupam uma posição especialmente significativa no interior das relações complexas que unem as sociedades contemporâneas aos saberes que elas produzem e mobilizam com diversos fins. Desvalorização porque, mesmo ocupando uma posição estratégica no interior dos saberes sociais, o corpo docente não é valorizado frente aos saberes que possui e transmite. Muitas explicações que podem ser dadas para essa realidade. Os vários setores da atividade humana passam por significativas mudanças que se concretizam em nova configurações da ordem econômica e política relacionado ao conhecimento, às vinculações pessoais, às comunicações, entre outras, que trazem consequências muito diretas para a educação escolar. Tais mudanças afetam de maneira particular a formação de professores, área que se situa não só no âmbito do conhecimento, mas também da ética, em que estão em jogo entendimentos, convicções e atitudes que compõem o processo de preparação docente. É fundamental que oportunizem aos professores explorar e trabalhar os diferentes momentos de seu desenvolvimento profissional, de acordo com suas necessidades específicas, que a formação continuada seja espontânea e que os levem a buscar atualização de seus conhecimentos, aprimorar suas práticas e consequentemente o fortalecimento de sua identidade profissional. 34 Considerações finais É possível compreender a importância fundamental da mediação docente para o estabelecimento da relação criança/livro, na medida em que, o professor é responsável por trazer as mais diversas experiências relacionadas à literatura infantil, proporcionando as crianças um maior entendimento sobre si e sobre o mundo. A literatura infantil, também é um recurso importante para a apropriação de outras áreas dos conhecimentos, bem como dos valores e dos conflitos que emergem com as crianças no cotidiano. É notável que a forma como são elaboradas as propostas relacionadas a literatura infantil pelo professor deva variar, como descrito, há muitas possiblidades de explorar a literatura infantil, de modo que ela seja uma aliada no desenvolvimento da criança. Assim, a literatura infantil pode ser explorada pelo professor como atividades meio ou fim, de modo que o momento da leitura/contação possa ser tanto a atividade já proposta, como uma forma de abrir o diálogo para construir outra atividade relacionada à história e/ou ao contexto. Quando a literatura infantil está presente diariamente na rotina da sala, ela se torna tão importante que já faz parte do cotidiano das crianças. Assim, é essencial que o professor planeje de forma lúdica os momentos das histórias. A utilização de alguns recursos para atrair a atenção das crianças para a história, usando por exemplo, teatro de sombras, teatro de fantoches, dão subsídios para que o momento da história não se torne apenas uma atividade para ocupação do tempo, mas permite que se transforme em atividade fim e meio, visando o desenvolvimento, bem como a interação das crianças, devendo ser esse momento recheado de surpresas e criatividade. Quando o professor marca o tempo da história também ajuda as crianças em sua autonomia, a organização, de modo que, saibam o que está por vir, e se preparem para o momento. Utilizar recursos como fantasia estimula a ludicidade das crianças, despertando a curiosidade para saber qual será a fantasia usada, bem como utilizar outros recursos; como se transformar em um personagem. Usar diferentes suportes de textos, diversificando os gêneros textuais, para além do livro de história infantis, utilizar também poesia, soneto, fábulas, lendas, o que na prática a criança que existe diferentes tipos de textos. No momento da leitura/contação é importante que ao longo da história, ou ao acabar, o professor reitere o que acontece ou aconteceu, 35 mostre para as crianças que há uma sequência, um começo, meio e fim, auxiliando-a também na compreensão do próprio tempo e espaço. Desta forma, é essencial que o professor faça a seleção das histórias que serão trabalhadas, bem como planeje o modo como será feita a mediação, ficar atento as crianças, escutar o que elas tem a dizer, propiciar momentos intencionalmente livres para a exploração dos livros e também mediados diretamente por ele. Fica evidente a importância da mediação docente na educação infantil no que tange as práticas e planejamento embasados pela literatura infantil, de modo a assegurar e garantir todos seus direitos, o que inclui a brincadeira, lúdico, a cultura, bem como a interação com seus pares, sendo a literatura um dos meios para que criança atinja seu pleno desenvolvimento. A mediação docente é imprescindível para o estabelecimento da relação criança/livro. ‘ 36 Referências bibliográficas ABRAMIVICH, Fanny. Literatura Infantil: Gostosura e bobices.Ed.Scipione 2ªEd. São Paulo,1991. AZEVEDO, Ricardo. Literatura infantil: origens, visões da infância e certos traços populares. Presença Pedagógicas – Belo Horizonte – Editora Dimensão – nº27 -mai – jun 1999. BASSEDAS, Eulália; HUGUET, Tereza; SOLÉ, Isabel – aprender a ensinar na educação infantil. Porto Alegre: Artemed. 2006. BERNI, Regiane Ibanhez Gimenes. Mediação: O conceito vygotskyano e suas implicações na prática pedagógica. 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