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UNIVERSIDADE PAULISTA 
EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA 
Curso Pedagogia 
 
LITERATURA INFANTIL 
 
 
 
Nereide Aparecida de Carvalho 
R.A.: 1767259 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ITAPEVI – SP 
2020
 
2 
 
 
 
 
 
Nereide Aparecida de Carvalho 
 
LITERATURA INFANTIL 
 
 
 
 
 
 
Trabalho Monográfico – Curso de 
Graduação – Licenciatura em Pedagogia, 
apresentada à comissão julgadora da 
UNIP EaD sob a orientação do professor 
Adenízio José Ferreira 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ITAPEVI – SP 
2020 
 
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Dedicatória 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho a Deus 
primeiramente. 
Dedico ao meu marido Arlan Carlos, que 
além de cuidar da manutenção do lar 
enquanto eu permanecia ocupada com 
este projeto, foi capaz de me incentivar 
todos os dias. Grata por ajudar a realizar 
esse sonho. 
Dedico também aos meus filhos Lucas e 
Eduardo, é por vocês que estudo e 
trabalho. 
 
 
 
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Agradecimentos 
 
Agradeço a Deus pelos dons que me deu nesta existência que serviram na 
realização deste trabalho. 
Agradeço ao meu professor orientador Sr. Adenílzio José Ferreira, que 
apesar da distância, sempre sanou minhas dúvidas. As suas valiosas 
orientações fizeram toda a diferença. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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“Professor não é o que ensina, 
mas o que desperta no aluno a 
vontade de aprender”. 
(Jean Piaget) 
 
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Sumário 
 
 
Introdução .................................................................................................9 
 
Capítulo I: Interações entre a criança e o livro.....................................11 
1.1: A criança e a literatura infantil............................................................11 
1.2: Literatura como atividade humana.....................................................13 
1.3: A contação de história e leitura de livros infantis...............................15 
 
Capítulo II: Os livros e as ilustrações....................................................18 
2.1: A biblioteca.........................................................................................18 
2.2: Os cantinhos.......................................................................................19 
 
Capítulo III: O trabalho de mediação do professor..............................21 
3.1: O papel do professor da educação infantil no processo 
 de formação de sujeito leitores................................................................24 
3.2:A escolha do material..........................................................................26 
 
Capítulo IV: A formação do professor mediador..................................28 
4.1: Antes de serem mediadores...são professores................................. 30 
 
Considerações finais ...........................................................................34 
 
Referências bibliográficas: ...................................................................36 
 
 
 
 
 
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Resumo 
 
O presente trabalho parte do princípio de que a ludicidade se constitui do 
princípio inquestionável no âmbito da educação infantil, visão esta que se 
opõe a qualquer prática escolarizante ou adultocêntrica. Nesses termos, 
compreende-se a literatura infantil como uma das práticas de leitura, que 
se encontra presente quando um professor conta ou lê uma história e 
quando os livros de literatura infantil fazem parte do cotidiano das crianças. 
Além do caráter lúdico presente nos livros infantis e nas possibilidades que 
eles trazem (como atividade fim e meio); neles apresentam-se diversa 
possibilidades de expressão, como o contar, o ler, o dramatizar e o brincar. 
Dentro desta reação destaca o estudo acerca do trabalho de mediação do 
professor de educação infantil, por considerá-lo como um dos profissionais 
responsáveis por despertar o interesse das crianças pelos livros e pelas 
práticas de leitura mais amplas. Destaca, também para a importância da 
reflexão da formação de professores, a formação continuada no formato 
atual e suas limitadas contribuições ao processo formativo do professor; 
remete à importância do espaço escolar como local privilegiado de 
formação no sentido de resgatar a verdadeira função da escola e do 
conhecimento. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Palavras-chave: Literatura Infantil. Aprendizagem da Criança. Mediação. 
Trabalho Docente. Formação Docente. 
 
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Abstract 
The present work is based on the principle that playfulness is an 
unquestionable principle in the field of early childhood education, a view that 
is opposed to any schooling or adult-centered practice. In these terms, 
children's literature is understood as one of the reading practices, which is 
present when a teacher tells or reads a story and when children's literature 
books are part of children's daily lives. In addition to the playful character 
present in children's books and the possibilities they bring (as an end and a 
half activity); in them there are different possibilities of expression, such as 
telling, reading, dramatizing and playing. Within this reaction, the study 
about the mediation work of the teacher of early childhood education is 
highlighted, for considering him as one of the professionals responsible for 
arousing children's interest in books and in wider reading practices. 
Emphasizes, also for the importance of reflecting on teacher training, 
continuing education in the current format and its limited contributions to the 
teacher training process; refers to the importance of the school space as a 
privileged place of training in order to rescue the true function of school and 
knowledge 
 
 
 
 
 
 
Keywords: Children's Literature. Child Learning. Mediation. Teaching 
Work. Teacher Training. 
 
 
9 
 
 
 
Literatura Infantil 
Introdução 
 
 A literatura infantil se faz presente no cotidiano escolar, inclusive nas 
instituições de educação infantil. Ela surgiu de forma sistematizada em 
livros de histórias destinados as crianças no fim do século XVII e início de 
século XVIII, sendo que antes disso havia contos tradicionais que eram 
dissipados através da oralidade, mas não discriminavam faixa etária, 
portanto, as narrativas eram compartilhadas por adultos e crianças. 
(ESCARPIT apud AZEVEDO,1999). 
Atualmente, a literatura infantil “se configura não só como instrumento de 
formação conceitual, mas também de emancipação da manutenção da sociedade”. 
(CADEMARTORI,1986, p.23). Para Faria e Mello orgs.(2009, p.11) “(...) o 
livro é um instrumento de conhecimento, mas também é um veículo para fomentar o 
relacionamento”; “(...) é um objeto a ser explorado e ajuda a criança a inventar e construir 
histórias(...)” “(...) também é uma ocasião para a criança viver aventuras emocionantes 
queconstituem a chave de acesso ao mundo da imaginação”. 
A literatura infantil contemporânea tem revelado uma tendência de 
atualizar discursos do passado por meio da criação de enredos que 
revelam conflitos localizados num tempo distante do leitor contemporâneo. 
Além dessa característica da literatura ela tem sido enriquecida pelo 
investimento na visualidade de modo que os livros se constituem como 
objeto híbridos e a leitura destas obras deve considerar, pois aspectos 
postos tanto pela linguagem verbal e pela linguagem visual. 
Contudo, algumas questões surgem: Como se dá a interação das 
crianças com os livros nesta etapa da educação? Que atividades 
correlacionadas ao acesso a literatura infantil são propostas, vivenciadas, 
oportunizadas pelos profissionais da educação infantil? 
Para compreender como a criança se relaciona com o livro na 
educação infantil foi realizado um levantamento bibliográfico sobre o tema, 
descrito no capítulo um. Em seguida trouxe autores que me auxiliaram a 
pensar no professor como mediador, formando uma tríade entre livro, 
professor e criança, descrito no capítulo dois. 
Dando continuidade no levantamento bibliográfico, estudando como 
o professor pode ser mediador da aprendizagem por meio dos livros; como 
despertar o interesse das crianças pela literatura e qual sua função social, 
estão descritas no capítulo três. 
No capítulo quatro são descritas e analisadas a formação dos 
professores, se estão sendo professores mediadores, como se dá essa 
formação e os recursos que têm para a educação continuada. 
10 
 
Nas considerações finais reiterei meu objetivo de obter contribuições 
para o estudo e para o trabalho docente no que tange a mediação do 
professor em relação às práticas sociais e leitura na qual se insere a 
apreciação da literatura infantil: a sua vivência como parte imprescindível 
da/na vivência sócio- educativa. 
Alguns autores que pesquisei foram: FARIA, Ana Lúcia Goulart; 
MELLO, Suely Amaral; MEIRELES, Cecília; JOUVE, Vicent. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
 
 
CAPÍTULO I: Interações entre a criança e o livro 
 
Ao considerarmos como ponto de partida que a interação 
estabelecida entre criança e livro constitui-se essencial para seu processo 
de aprendizagem e desenvolvimento humano, seja no ambiente escolar ou 
fora dele ponderamos que compreensão de como ocorre está relação 
poderá auxiliar os professores a pensarem possíveis práticas que garantam 
o fortalecimento da relação entre a criança(sujeito) e o livro(objeto). 
As crianças aprendem e apreendem o mundo circundante de 
diversos e diferentes formas e em diversos e diferentes ambientes e 
interações, constitui- se importante refletir a respeito do que a respectiva 
criança aprende nas instituições de educação infantil, no tocante as 
práticas de literatura infantil ou contação de histórias. Essas práticas são 
orientadas a partir de que critérios? Que concepção ou concepções de 
aprendizagem – desenvolvimento humano estão presentes nas práticas de 
leitura e incentivo à leitura na educação infantil? 
 
1.1. A criança e a literatura infantil 
 
Entendemos que a literatura infantil se encontra presente quando um 
professor conta ou lê uma história e quando os livros de literatura infantil 
fazem parte do cotidiano das crianças; quando estes estão presentes na 
sala de aula e fazem desse ambiente um lugar para que as crianças gostem 
dos livros, entendendo-os, como aponta Kishimoto (2010) um mundo de 
ideias interessantes. 
Além do caráter lúdico presente nos livros infantis nos é apresentada 
diversas possibilidades de expressão, como o contar, o ler, o dramatizar e 
o brincar. Dentro desta relação destacamos o estudo acerca do trabalho de 
mediação do professor de educação infantil, por considerá-lo como um dos 
profissionais responsáveis por despertar o interesse das crianças pelos 
livros e práticas de leitura. 
Faria (2006) no livro “Como usar a literatura na sala de aula”, aponta 
algumas das dificuldades para encontrar pesquisas sobre a literatura 
infantil tendo um caráter mais didático, sendo isto, devido ao preconceito 
dos cursos de letras, exclusão das academia beletristas e cursos de 
formação dos professores; e a negação dos aspecto literário nos textos 
para as crianças, além de pouca atenção voltada as ilustrações dos livros 
para as crianças. 
12 
 
Acredito que as afirmações de Faria (2006) estejam de fato 
presentes no ensino fundamenta, mas na educação infantil vemos que as 
ilustrações são até mais reforçadas que os textos em si, desta forma, 
devemos tentar superar as dificuldades entendendo os livros infantis como 
literários e um importante instrumento no desenvolvimento das crianças. 
Devemos pensar na literatura infantil como uma grande 
possibilidade de exploração do diálogo e uma riqueza nos detalhes nos 
livros infantis, portanto, não podemos reduzir a literatura infantil a um objeto 
utilitário de uso instrumental. Dessa forma, Faria (2006) atenta ao fato de 
diversos modos de ler, como os professores os medeia a partir de uma 
primeira leitura, onde um leitor comum sem pensar em como utilizá-lo em 
sala, e posteriormente vem a leitura analítica e reflexiva, lembrando que o 
livro lido pode ser tratado de forma estereotipada ou criativa, daí a 
importância do professor compreender a obra. 
É necessário ao professor ter uma formação literária básica para 
poder analisar os livros infantis no intuito de selecionar o que pode 
interessar suas crianças naquele dado momento, decidindo sobre os 
elementos literários que sejam úteis para ampliar o conhecimento 
espontâneo que a criança já traz consigo. 
Segundo Faria (2006) os livros infantis possuem um esquema básico 
de narrativa, apresentam narrativas curtas, podendo ser consideradas 
contos. Sendo que a literatura infantil tem sua origem nos contos populares 
e hoje abrange diferentes tipos de contos, entre os tradicionais ( conto de 
fadas, maravilhosos, etc) que adquirem dimensões imaginárias e 
simbólicas e os contos modernos ( narrativas originais) cujo os autores são 
contemporâneos e abordam situações do cotidiano como também temas 
sociais, éticos, religiosos, etc. 
Podemos também sintetizar as fases de uma narrativa, 
independentemente de ser moderna ou tradicional contém situação inicial, 
desenvolvimento e desenlace, organizando-se em uma lógica temporal. 
Lembrando que há histórias que não se caracterizam propriamente como 
narrativa, uma vez que algumas histórias apresentam narrativas mais 
frouxas ( que não apresenta uma ou outra fase); narrativas de caminhada 
( cujas ações desfilam pela obra sem se organizar em torno das fases) e 
narrativas acumulativas ( segue as fases, mas repete os elementos que 
vão sendo acrescentado, por exemplo : “E a velha a fiar...”). 
Também as historietas moralizantes que podemos ver até mesmo 
em alguns livros para crianças mesmo que estejam disfarçadas, são elas: 
o equilíbrio( ordem adulta da sociedade, como normas de comportamento), 
problema ( rompimento destas normas),desenvolvimento ( consequência 
do rompimento das normas) e desenlace ( equilíbrio restabelecido, 
aceitação da norma ou castigo). 
13 
 
As historietas moralizantes serviam para ilustrar o educar castigando 
certos comportamentos, entre eles, a gula, curiosidade. Hoje muitos 
autores de livros são reconhecidos por quebrar este costume e valorizar a 
independência da criança além de sua iniciativa pessoal. Além de não 
seguir necessariamente a estrutura tradicional das antigas narrativas. 
 
1.2 – Leitura como atividade humana 
Segundo Jouve (2002.p.17) “a leitura é uma atividade plural e que se 
desenvolve em várias direções”. Partindo deste pressuposto, para entendermos 
o que significa ler, exploramos os cinco processos presente na leitura 
uniforme Vicent Jouve (2002): neurofisiológico, cognitivo, afetivo,argumentativo e simbólico. 
Para entendermos o processo neurofisiológico é preciso perceber 
que a leitura é uma ação concreta e observável, realizada através do 
aparelho visual e diferentes funções do cérebro, portanto, se efetiva como 
uma operação de percepção, identificação e memorização dos signos. 
Lembrando que, o movimento do olhar não é linear e uniforme, o que 
permite por vezes que o texto “lido” não seja realmente o texto “escrito”, 
destacamos a subjetividade presente no ato de ler. Desse modo, a leitura 
consiste em uma atividade de antecipação, estruturação e interpretação 
considerando seu aspecto físico. 
Após perceber e decifrar os signos, o leitor tenta entender do que se 
trata, entrando assim, no processo cognitivo, onde se supõe uma abstração 
para a significação dos elementos. Porém, duas vias são geralmente 
utilizadas: a progressão, quando nos preocupamos ao chegar no fim da 
obra e não nos detemos aos detalhes do texto, o que acontece comumente 
durante a leitura de romances, e a compreensão, que ocorre quando o texto 
é mais complexo, e nos detemos sobre trechos, valorizando mais a 
interpretação. Lembrando que essas vias podem se combinar, porém, em 
qualquer caso a leitura pressupõe uma competência, um saber mínimo 
para que possa continuar a leitura. 
A leitura também provoca a afetividade, uma vez que, proporciona 
diversas emoções, que são à base da leitura de ficção. Portanto, é a força 
de persuasão do autor que afetará nossa atração pela obra, caracterizando 
assim, a vulnerabilidade afetiva do leitor. 
Desta forma, a identificação e a emoção que demonstramos a uma 
personagem, ou seja, o processo afetivo, sempre estar é com o leitor, 
sendo, portanto, um elemento essencial a leitura geral. 
Ao dizer ser a leitura um processo argumentativo, Jouve (2002) 
acredita que a obra é resultado de uma vontade criadora, sendo um 
conjunto organizado de elementos, sempre analisável. Para ele, a intenção 
14 
 
de convencer o leitor está sempre presente em toda e qualquer narrativa, 
seja isto nítido ou não. 
Por fim o processo simbólico diz respeito ao sentido que se dá a 
leitura, uma vez que, inserido em um contexto cultural, ela age no 
imaginário de cada um, mas também e com maior força no imaginário 
coletivo. Por conseguinte, intuímos a força da leitura como um meio de 
modificar as mentalidades. 
Pensando agora nas condições da atividade leitora devemos 
entender que a maior particularidade desta é a relação que se estabelece 
entre o emissor e receptor, que no caso da leitura é totalmente assimétrica, 
uma vez que cabe ao leitor reconstruir o contexto para compreender a 
obra, sem maiores referências do que a própria estrutura do texto. 
Sobre o estatuto do texto devemos compreender que ele é recebido 
de fora de sua origem, e abre espaços para infinitas significações 
diferentes, uma vez que “cada leitor novo traz consigo sua experiência, sua cultura e 
os valores da sua época”. (Jouve.2002. p. 24). 
O texto se difere do discurso oral principalmente por quatro motivos: 
a fixação que não o deixa desaparecer, resistindo ao tempo; a dissociação. 
Que o faz escapar da intenção do autor, abrindo para diversas 
interpretações; abertura que extrapola os limites do diálogo e traz um 
universo novo e universalidade que possibilita um número de leitores 
ilimitados. (Ricceur apud Jouve, 2002). 
Dessa forma, poderíamos pensar toda a leitura é legítima, uma vez 
que, tirada de seu contexto a obra raramente é compreendida como o autor 
pensou ao escrever. Contudo, existem critérios de validação da 
interpretação de um texto, pois ele permite várias leituras, porém não 
autoriza qualquer leitura. 
Dentro disto, os princípios de coerência interna e externa devem ser 
mantidos e respeitados, além da abordagem semiótica da leitura, onde 
devem identificar o mais preciso possível as coordenadas do autor. Sem 
seguir esses parâmetros abre- se ao risco de decodificações absurdas. Por 
isso, nem todas as leituras são legítimas, lembrando que existem 
diferenças entre “utilizar’ um texto, ou seja, desnaturá-lo e” interpretá-lo”, 
ou seja, aceitar o tipo de leitura que ele programa (Jouve 2002). 
Jouve (2002) afirma que para uma leitura crítica do texto, devemos 
tomar por base o público alvo ou melhor, o primeiro público a quem a obra 
foi destinada, assim é possível reconhecer o destino da obra, assim como 
a evolução da literatura e até a história dos gêneros literários. 
Sendo assim, contrapõe a leitura inocente, ou seja, a primeira leitura, 
que segue a linearidade da narrativa, daquela leitura experiente, isto é, 
quando o leitor pode utilizar seu conhecimento para decifrar o desfecho do 
15 
 
texto nas primeiras páginas. Jouve (2002) acredita que a leitura inocente 
continua sendo a mais comum, e a ela devemos a dimensão lúdica do texto. 
Porém, a releitura é necessária para o entendimento dos “efeitos de 
sentidos” do texto, uma vez que, só entendemos algumas passagens após 
lemos outras conseguintes, portanto, certas conexões só são percebidas 
na segunda leitura. 
Além disso, Barthes apud Jouve (2002) atenda para a releitura como 
uma “operação” contraria aos costumes comerciais e ideológicos de nossa 
sociedade” que após a “primeira” leitura, nos recomenda que “joguemos 
fora” o livro para que possamos comprar outro, e assim sucessivamente. 
Quando na verdade, só a releitura salva o texto da repetição, pois o 
multiplica em sua diversidade e pluralidade, não em busca do texto” 
verdadeiro”, mas do texto plural que consiste no igual e novo. 
Reiterando, a leitura é um processo complexo, que abre espaço para 
várias intepretações, que vão do desejo, as ideologias. Sendo um objeto 
construído e a construir, entendendo que os leitores trazem a leitura ou as 
leituras que fazemos ou podemos fazer assim como nos deixa livres ou não 
nos torna livres, também pode nos reprimir. 
 
1.3 – A contação de história e leitura de livros infantis 
Faria e Mello org. (2009) acreditam que contar histórias seja uma 
característica de todo ser humano, sendo que ao ler ou contar história o 
mais importante é o relacionamento que se cria. Dessa forma, os sons, as 
palavras, os gestos e os olhares são instrumentos utilizados para que quem 
lê ou ouve a história se relacionem. De modo a estabelecer a relação entre 
a capacidade de contar e a capacidade de ouvir. 
As crianças gostam de ouvir histórias, pois se sentem importantes, 
sabendo que algo está sendo feito para ela, também satisfazendo muito de 
seus questionamentos de forma lúdica, saindo das respostas racionais que 
os adultos geralmente dão. Além de ser um espaço importante para liberar 
as angústias que a afligem em seu subconsciente. 
Faria e Mello org. (2009) atentam para o fato da criança na educação 
infantil ”ler”, afirmando que quando emprestam a voz da professora, estão 
lendo, lendo com os ouvidos. E reforça que na infância ler com os ouvidos 
é até mais fundamental que ler com os olhos, uma vez que a criança passa 
a perceber as modulações da vida que estão no texto escrito. 
Por meio da prática de ouvir história é estabelecida uma ligação com 
a leitura e a criança, que começa a sentir a leitura como algo familiar, sendo 
aos poucos o ritmo, a linguagem que a história é apresentada, os sons, 
tudo entra no universo da criança como beleza e agradável experiência de 
sonoridade. 
16 
 
Na perspectiva de que os livros devem ser tocados, olhados, lidos, 
folheados, levados para a casa, trazido para a escola e discutidos, 
criticados e construídos; a figura do adulto é de extrema importância, pois 
ele que propõe cenários, escolhe temas, lugares onde a história será 
contada. 
Lembrando que a criatividade deve ser desenvolvida juntamente 
com o prazer de viver aquele momento, acompanhada por um adulto, assim 
como a compreensão da história e a fantasia, descobrindo segredos e 
imaginando coisas diferentes.Portanto, a contação de história é um momento de relação entre 
acriança e o livro mediado pelo professor, que deve estar muito atento para 
fazer deste, um momento único, estimulando a imaginação e a fantasia da 
criança, dando subsídios para a criança tirar suas conclusões sobre a 
história e estimulando a relação estabelecida no momento da contação. 
Nesta perspectiva do contar histórias, podemos explorar de diversas 
maneiras a dinâmica e o lúdico presente nesta atividade. Para que ela 
ocorra é necessário ler muitas vezes a história escolhida e ter em mente 
que elas sempre provocam reflexão e aprendizado. 
No momento da contação pode ser utilizados alguns recursos, por 
exemplo, como aponta Mello org. (2005) que ao se preparar para contar 
uma história para as crianças colocava um xale e como uma mágica as 
crianças se organizavam porque já associavam este momento ao da 
contação de história. Ressaltando que não é necessário a utilização de 
muitos recursos, mas fazer algo diferente nestes momentos o torna único 
e significativo a cada criança. 
Também existe a possibilidade de se trabalhar com as 
dramatizações, que ocorre quando dividimos a narrativa em sequências e 
cenas, podendo organizar a dramatização de um livro, que pode ser 
transformado em pequenas peças montadas pela professora. Sendo que 
para facilitar a dramatização pode ser introduzida a figura de um narrador. 
Outra possibilidade de trabalhar a literatura infantil, consiste na roda 
de contação de história, onde o livro é levado para a casa e lido por alguém 
próximo a criança como, por exemplo, seus responsáveis. No dia seguinte 
a professora e as crianças formam uma roda na sala e todos contam um 
trecho da história lida. Acredito que esta forma de interação entre criança e 
o livro, mediada geralmente por um adulto da família, ajude na aproximação 
da criança, do livro e do leitor. 
Neste contexto é possível observar que foi construído outro tipo de 
relação entre a criança e o livro, momento no qual a criança escolhe, se 
apropria da história e a conta aos outros colegas. Penso que na medida em 
que se trabalha com crianças na educação infantil, que ainda não estão na 
fase da escrita e leitura sistematizada, as crianças podem fazer a leitura de 
imagens, baseando-se nas ilustrações trazidas nos livros infantis para 
17 
 
construir seu entendimento sobre ela e poder contar aos colegas, 
estimulando-os a ouvir e contar outras histórias. 
Assim, a leitura e a contação de história estão inseridas nas práticas 
cotidianas da educação infantil, de modo que um complementa e completa 
o outro, buscando sempre ampliar o universo de possibilidades que existem 
quando tratamos de livros e histórias infantis. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
18 
 
 
Capítulo II – Os livros e as ilustrações 
Lembrando que existem livros que não possuem textos, somente 
imagens, sendo assim “o próprio leitor é que se encarrega de criar a 
história, desta maneira a criança tem a imaginação e criatividade aguçada, 
além de estimular a apreensão da narrativa via visualização. Sendo assim, 
é estabelecida uma relação direta com o livro e a criança, que se apropria 
da história somente pelas suas ilustrações. 
As ilustrações trazidas nos livros de literatura infantil devem estar 
articuladas com o texto produzido, de modo que a ilustração também se 
torne uma narrativa. Para tanto, texto e imagem devem ter uma articulação 
equilibrada fazendo uso ideal de cada linguagem, que no caso são 
linguagem visual e linguagem escrita. 
Também devemos ressaltar as diferenças que se apresentam na 
forma de um texto, por possuir uma lógica textual e linear, e da imagem, 
por não ser linear e possibilitar ao ilustrador hierarquizar de modo que 
somos guiados por essa hierarquia. 
A relação entre imagem e texto podem ter sentido de repetição ou 
complementaridade. A imagem pode possuir elementos estáticos (ligados 
a descrição – características, ambientes, etc) e elementos dinâmicos ( 
ligados ao desenvolvimento da narrativa – ação, gestos, etc), onde o autor 
deve dosar os elementos descritivos para não sobrecarregar a imagem com 
excesso de informação, e ser claro e econômico em relação aos elementos 
de ação, lembrando que nestes casos a ilustração divide espaço com o 
texto, por isso, se deve aproveitar bem o espaço destinado a ela. 
Nos casos dos livros infantis em que a ilustração é maior que a parte 
escrita, o ilustrador deve estar atento aos detalhes do tempo e espaço, de 
modo que as crianças acompanhem e dominem a história. 
 
 
2.1 – A biblioteca 
Fernandes (2003) nos atenta para a importância de deixar à 
disposição das crianças, organizando-os em algum móvel formando uma 
biblioteca, para que estas tenham contato com eles, podendo manuseá-los, 
virar suas páginas e apreciar suas ilustrações. Ela afirma que desta forma 
o livro é integrado à vida da criança, tornando-se tão importante quanto 
seus brinquedos. 
Além disso, é importante que a biblioteca apresente um espaço para 
que a criança possa se relacionar fisicamente com os livros, o que 
possibilita a entrada no universo de maravilhas, onde o canto da leitura é 
um mundo fascinante. 
19 
 
Faria e Mello org. (2009) contam sua experiência em uma creche de 
Bolonha, onde os livros são classificados como livros de pegar, de escutar 
e de olhar. Para crianças menores de 6 meses, os livros são de plásticos, 
tecido, para que todo o corpo da criança possa aproveitar do livro. O espaço 
para que aconteçam essas experiências também faz a diferença, deve ser 
um lugar macio, bem aconchegante. Portanto, nesta perspectiva a primeira 
experiência da criança com o livro é sempre físico. 
As experiências com crianças mais velhas – 1 a 2 anos – são 
marcadas pela curiosidade, portanto, são disponibilizados livros de 
papelão, com perfurações, e o espaço ganha almofadas, poltronas e 
cadeirinhas. Lembrando que os livros estão sempre à altura das crianças. 
Para crianças maiores pode haver também mesas baixas para a leitura em 
grupo ou individual, os livros podem ficar em estantes, não mais nas alturas 
das mãos, mas pode colocar uma escadinha para criança subir. 
Enfim todas essas práticas não são fixas, muito menos o modelo 
correto a se fazer. Essas são experiências que deram certo, naquele 
contexto, com aquelas crianças, daí a importância da professora conhecer 
sua turma, seus gostos e preferências, para poder montar o cantinho da 
leitura, e selecionar os livros, de forma que as crianças se sintam 
protegidas, mas a vontade para viajar no mundo da imaginação que é 
proporcionado pelos livros. 
 
2. 2 - Os cantinhos 
Os cantinhos se apresentam como uma das formas de organização 
do espaço da sala, utilizado principalmente na educação infantil, por seu 
caráter, de certa forma, menos escolarizante e mais aberto do que as 
escolas de ensino fundamental. 
Quando utilizado, a sala se transforma em pequenos “ateliês”, onde 
são oferecidas diferentes possibilidades de atividades, jogos, brincadeiras, 
e as crianças escolhem onde querem ir, e o que querem fazer, devendo em 
algumas situações, pelo posicionamento da professora a fazer um rodízio 
entre os cantinhos dispostos pela sala ou por sua própria vontade transitar 
entre as atividades oferecidas. Este tipo de organização estimula a 
autonomia da criança, que já pode escolher o que fazer e quando quer 
trocar de atividade. 
Neste contexto os livros de literatura infantil fazem parte de um dos 
cantinho, onde são e/ou ficam expostos de modo que as crianças possam 
se aproximar e explorá-los livremente, devendo estar sempre à altura das 
crianças, os livros, selecionados pela professora formam assim uma 
biblioteca de sala, substituindo a biblioteca da escola ou sendo o único 
modo das crianças terem contato com os livros, uma vez que muita 
biblioteca estão desativadas. 
20 
 
SegundoFaria e Mello (2009, p. 17),” o importante é que nesse canto da 
leitura, a criança entra em contato com os livros em lugares que ela se sente à vontade e 
pode instalar-se com conforto”. Desta forma, é necessário que a professora 
tenha uma observação atenta e perceba coma as crianças gostam de ficar 
enquanto estão neste cantinho, para que assim possa proporcionar o 
máximo de liberdade às crianças. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
21 
 
Capítulo III– O trabalho de mediação do professor 
Após o relato de possíveis formas de relação entre criança e o livro, 
é preciso entender que o protagonista desta relação não é o texto e sim a 
relação dos leitores com o texto, que vai interferindo no processo de suas 
práticas e produções de sentido, dessa maneira a criança pode construir 
um significado para a história e criar um sentido para ela. 
Devemos entender que os livros de literatura infantil são objetos de 
comunicação e demandam um esforço para a construção de sentidos e 
significados, sendo trabalho do professor a engajar as crianças numa 
proposta conjunta de compreensão, sendo fundamental a interação da 
criança com o professor e com as demais crianças. (Brandão; Leal; 
Nascimento,2013). 
Desse modo, é importante a forma de conduzir a conversa para 
estimular a compreensão das crianças sobre o livro, sendo que esse 
diálogo, bem como as perguntas e propostas feitas pelo professor, 
conduzirá a forma de pensar das crianças. 
Por isso, como destacam Brandão; Leal; Nascimento (2013) é 
importante que o professor reflita sobre o que vai ler, sobre o que vai 
conversar antes da leitura, como a leitura será conduzida, que perguntas 
sucederão após a leitura e se for o caso que atividades de extensão da 
leitura serão propostas, sendo reflexões essenciais para a produção de 
sentido da leitura nas crianças. Além de estar disponível para a fala das 
crianças durante a leitura, entendendo as conexões que vão sendo feitas, 
bem como as crianças vão compreendendo a história. 
Ainda a respeito da mediação da prática da leitura da literatura 
infantil, o professor também pode propor perguntas de previsão sobre a 
história, fazendo as crianças levantarem hipóteses sobre o que ou como 
vai acontecer a história. 
É possível afirmar, então, que as crianças estão em constante 
interação com o mundo letrado, portanto já se relacionam com a leitura fora 
do âmbito escolar, sendo assim, o professor de educação infantil deve 
oferecer diferentes gêneros discursivos e diversos suportes de textos, uma 
vez que o contato inicial com a literatura não exige o domínio do código 
escrito. 
Nos primeiros anos de escola, contar e ler histórias são atividade 
importantes, não apenas para o desenvolvimento do vocabulário das 
crianças, nesses primeiros anos o contato com a leitura propicia às crianças 
a descoberta do livro como objeto especial, diferente dos outros 
brinquedos, mas também fonte de prazer, com afirma Martins (1998; p. 43), 
motivando-as para a concretização maior do ato de ler o texto escrito, que 
serve para informar, fazer rir, para criar um jogo, por meio reconstruir um 
universo mágico, e por fim, serve para estimular, por meio das 
potencialidades das crianças, o desejo e o gosto pela leitura. 
22 
 
O professor deve ter cuidado de permitir que seus alunos se 
exercitem na descoberta da leitura e possam propor suas obras preferidas 
aos colegas, mesmo que sua escolha contrarie o gosto próprio do 
professor. A leitura mesmo na vida cotidiana, nasce de sugestões dos 
outros e de escolhas próprias. Ao libertar os alunos para que leiam o 
professor os lança ao verdadeiro mundo da literatura.” Ler é experimentar a 
complexidade, a multiplicidade: é avistar incontáveis paisagens secretas que se ocultam 
sob o suave manto da vida cotidiana” (CADERNOS DA TV ESCOLA.1996). 
O professor como intermediário deve saber como introduzir um texto 
aos seus alunos, explorá-los de forma enriquecedora e perceber todas as 
formas de conhecimento a ser proporcionado. O infante é um ser célebre, 
sociável e instrutivo, que é influenciado pelos motivos que instituem a sua 
constituição gregária relacionada ao seu meio. (VYGOTSKY,1988). 
Desta forma o professor de educação infantil consegue facilmente 
formar um aluno dotado de qualidades entendedores do mundo a sua volta, 
críticos do ambiente em que vivem e transformadores pois assimilará uma 
cultura que está lhe sendo imposta. A criança é melhor assimilador, está 
aberta a toda informação e mostra-se multiplicadora de tudo aquilo que 
aprendeu. 
Na educação infantil o brincar e o cuidar são indissociáveis, bem 
como a compreensão da criança como sujeito de culturas e de direitos; o 
que engloba o direito de brincar, de crescer, de desenvolver-se e de 
aprender. Daí a importância da mediação docente, na medida em que ela 
é responsável por proporcionar boa parte dos direitos das crianças; 
podendo colaborar para “humanizá-las” ou “desumanizá-la”. Lembrando 
assim dos avanços e desafios em relação a dimensão do trabalho político-
pedagógico do professor, devemos assumir uma postura profissional que 
exponha nossa condição de sujeito e protagonista da educação e na 
transformação criativa e prazerosa. 
Segundo Momma-Bardela (2012), é imprescindível ter a criança 
como foco do trabalho educativo, uma vez que a educação infantil constitui-
se como direito da criança, tendo em vista o desafio de proporcionar a ela 
uma infância em condições dignas, em um ambiente saudável e acolhedor. 
Constitui-se importante, nesse contexto entendê-las como sujeitos de 
saberes, culturas e historicidade, para assim compreender o desafio e as 
diversas possibilidades de aprendizagem dessas crianças. Lembrando que 
a escuta é imprescindível para uma educação dialógica, que permite que o 
processo de mediação ocorra com diferentes e diversas práticas 
considerando as possibilidades transformadoras e formadoras que 
permeiam o processo de aprendizagem humana. 
Nessa perspectiva a criança é vista com um potencial e ressignifica 
o trabalha feito pelo professor, também o sujeito, professor. Desta forma as 
interações estabelecidas no cotidiano se modificam, dando espaço para 
aquilo que fora planejado e possui intencionalidade, mas também para o 
23 
 
imprevisível, que acontece por estarmos nos relacionando no presente, no 
vivido. 
Desta forma, Momma-Bardela (2012), nos apresenta a concepção 
de educação triádica, onde o professor mediador deve mediar à interação 
das crianças/sujeito com as possibilidades lúdicas e imaginárias do 
mundo/objeto. Assim, na escola, compete ao professor favorecer a 
socialização e interação das crianças com as diversas formas de conhecer, 
ler, viver. É importante ter clareza sobre as aprendizagens saberes e 
vivências que as crianças possuem, bem como refletir sobre o que ensinar, 
como ensinar. Os professores não devem trilhar este caminho sozinhos, 
mas sim construir possibilidades, trabalhar coletivamente, propor espaços 
de formação e redimensionar rumos da educação. 
Tomando por pressuposto o que Berni [s.d.] caracteriza como 
mediação na perspectiva de Vygotsky: “o processo que caracteriza a relação do 
homem com o mundo e com os outros homens” (p.2539). Reforçamos a 
responsabilidade dos professores neste processo, uma vez que o 
desenvolvimento se dá pela aprendizagem, que ocorre pela mediação. 
Voltando a lembrar da importância de observar e investigar os 
conhecimentos prévios das crianças e assim intervir para reorganizá-lo, 
elevando-o a outro patamar. 
Complementando o conceito de mediação em Vygotsky, Martins e 
Moser (2012), afirmam que a mente forma os conceitos pela mediação de 
signos, e a linguagem passa a ser o meio ou o modo mais importante que 
os seres humanos possuem para formar conceitos e para aprender, mas 
sempre no contexto da interação social. 
Costas e Ferreira (2011,p. 209) afirmam que para Vygotsky, as 
crianças se socializam, pois elas não são sociais por natureza, produzem-
se no meio social, são seres interativos. A seu ver o desenvolvimento é um 
processo que deve considerar os aspectos biológicos e estes se 
transformam em culturais. Portanto, a criança se constitui como um sujeito 
interativo e neste processo, utiliza a fala como instrumento para organizar 
o pensamento. A interação é, então, o modo como os seres humanos vão 
se desenvolvendo mediante aspectos culturais. 
Pensando no meio, Martins e Moser (2012) acreditam que o acesso 
do homem ao mundo não se dá de forma direta, pois passa por uma 
mediação que permite ao homem o acesso indireto. Assim, o significado 
está na utilização da palavra, que depende do contexto e cultura a qual está 
inserida. Daí a importância e necessidade de levar em conta a dimensão 
sociocultural no ensino e da aprendizagem. Lembrando que tal fato ocorre 
não só na aprendizagem, mas no próprio desenvolvimento humano. 
(MARTINS E MOSER, 2012. P.15). 
Portanto, a forma como ocorre à mediação docente influi no modo 
como as crianças vão se desenvolver, bem como, compreender as 
24 
 
possíveis relações que vão sendo estabelecidas com a literatura infantil, 
com si mesmo e com o mundo. (BRANDÃO; LEAL; NASCIMENTO, 2013). 
 
3.1- O papel do professor da educação infantil no processo de 
formação de sujeitos leitores 
A literatura, na educação infantil é capaz de promover o 
conhecimento de si e do mundo, incentivando a curiosidade, a exploração, 
o encantamento, o questionamento, a indagação e o conhecimento das 
crianças em relação ao mundo físico e social, objetivos elencados como 
eixo do currículo nas práticas pedagógicas da educação infantil. 
Os leitores constroem significados sobre o que ouvem e leem 
usando seus conhecimentos prévios, criado imagens que estão ligadas às 
suas próprias experiências e interações humanas, construindo significados 
na medida em que interagem com outras crianças e adultos, comentando 
as histórias. Contudo, se a forma de trabalhar o texto literário no contexto 
escolar deve sofrer mudanças a seleção desse material, de igual maneira, 
também deve se atualizar, não se pautando na concepção tradicional da 
prática leitora centrada na visão do professor, mas variando de acordo com 
a perspectiva social e cultural e de formação do sujeito. Para que o convívio 
do leitor com a literatura resulte afetivo nessa aventura espiritual que é a 
leitura, muitos são os fatores em jogo. Entre os mais importantes está a 
necessária adequação dos textos as diversas etapas do desenvolvimento 
infantil (COELHO, 2000 p. 32). 
O trabalho com texto literário na educação infantil, inclusive não deve 
ter o ensejo de alfabetizar as crianças, tendo em vista que, de acordo com 
as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. As práticas 
pedagógicas que compõem a proposta curricular de educação infantil 
devem garantir experiências que possibilitem às crianças experiências de 
narrativas, de apreciação e interação com a linguagem oral e escrita, e 
convívio com diferentes suportes textuais orais e escritos. Ainda de acordo 
com o documento: 
 “a proposta pedagógica das instituições de educação 
infantil deve ter como objetivo garantir à criança acesso a 
processos de apropriação, renovação e articulação de 
conhecimentos e aprendizagens, de diferentes linguagens, 
assim como o direito a proteção, à saúde, à liberdade, à 
confiança, ao respeito, à dignidade, à brincadeira, à convivência 
e à interação com outras crianças”. (BRASIL,2010. p. 18). 
 
Consideramos, como Nunes (1990), que a literatura, mais do que 
introduzir as crianças no mundo da escrita, ao tratar a linguagem enquanto 
arte, traz as dimensões éticas e estéticas na língua, exercendo um 
importante papel na formação do sujeito. Assim, o contato da criança com 
25 
 
a literatura é essencial para a sua formação como leitor que ainda não 
adquiriu autonomia. 
Os livros devem fazer parte da realidade da criança, precisa ser um 
objeto tão comum quanto uma peça de roupa, para que o ato de ler – 
imagens e posteriormente o código escrito – seja um ato tão comum quanto 
vestir-se. Para isso, pode ser de grande valia trabalhar comum cantinho 
apropriado para a leitura, ampliando o contato com a literatura infantil nos 
primeiros anos de vida. 
De acordo com Vygostsk (2000, p. 110),” aprendizado e desenvolvimento 
estão inter-relacionados desde o primeiro dia de vida da criança”. O processo de 
desenvolvimento progride por meio do aprendizado e o autor explica esse 
processo pelo conceito de zona de desenvolvimento proximal, que é 
definido como distância entre o nível de desenvolvimento real e o nível de 
desenvolvimento potencial, quais sejam, a situação independente de 
problemas e a solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em 
colaboração com companheiros mais capazes, respectivamente. 
No caso dos livros infantis, a criança primeiro ouve a história contada 
pelo professor, relacionando o enredo com as imagens. Após essa etapa, 
a criança já se sente capaz de recontar a história, guiando-se pelas 
ilustrações e imitando a fala do professor, prosseguindo seu 
desenvolvimento até se apropriar, naturalmente da linguagem escrita, em 
um exemplo perfeito da zona de desenvolvimento proximal, definido por 
Vygostsky. O que a criança é capaz de realizar hoje somente coma ajuda, 
amanhã realizará sozinha, ou seja, “a zona de desenvolvimento hoje, será o nível 
de desenvolvimento real amanhã”. (VYGOSTSKY, 2000 p. 113). Nesse sentido, 
a iniciação da leitura infantil, poderá se dar de forma prazerosa e 
significativa em um ambiente com ações planejadas de acordo com as 
fases leitoras, num caminho que proporcione à criança desenvolver a 
imaginação, emoções e sentimentos. A leitura de texto para a criança pré-
leitora não se trata de uma leitura convencional, tendo em vista que a 
criança de um a dois anos não se prendem a uma história, interessando-
lhe o movimento, o tom da voz e o colorido da páginas, sendo mais 
adequado, nesta fase, a leitura frase a frase, de modo solto, curto, 
promovendo um diálogo entre a criança e o livro. Como esclarece 
(MARTINS, 1990. P. 33). 
Em tempo, o pré-leitor faz parte da categoria inicial que envolve a 
fase da primeira infância que vai dos quinze meses aos dois anos, e a 
segunda infância, quando a criança completa três anos. Na primeira fase, 
a criança inicia o conhecimento da realidade que a rodeia, estimulada pelos 
contatos afetivos, momento em que conquista a própria linguagem e 
nomeia o que está a sua volta. Já na segunda infância, começa a 
predominar os valores vitais e sensoriais. É um período egocêntrico e de 
interesses por jogos e brincadeiras, comum crescente impulso de 
adaptação ao meio físico e nova formas de comunicação verbal. 
26 
 
Assim, os professores e os pais devem estimular a criança, 
apresentando-a diversas possibilidades de conversação e expressões, 
contribuindo assim, para aquisição da linguagem oral, instrumentalizando-
a para em sequência, ingressar no mundo dos livros, da leitura, da 
linguagem escrita. 
3.2- A escolha do material 
Em seu primeiro contato com a literatura infantil, a criança revela um 
prazer singular pela leitura de imagens; manuseio fácil, possibilidades 
emotivas que o livro pode conter e a escrita de histórias, no qual o encontro 
da relação descoberta/desconhecido se torna ponto de partida para a 
capacidade de comunicação com o mundo. 
Levando em consideração esses aspectos, o livro infantil com apoio 
de imagens torna-se o elemento principal do processo de aproximação com 
o gênero literário, sob a forma de experiência, brincadeiras e interações. 
Segundo Coelho (2000, p. 161), livros que contam histórias através da 
linguagem visual, sem o suporte de textos narrativos ou com apoio de 
pequenas falas escritas,são chamados de livros de imagens. Esses livros 
são ideais para o começo dos trabalhos com a criança pré- leitora, sendo 
bem-vindos, ainda, os livros de pano, borracha, com texturas diferentes, 
com gravuras coloridas e atrativas, tendo em vista que a criança nessa fase 
motiva- se, também pelo tato. 
Esses modelos de livros sem palavras apresentam muitas 
estratégias que possibilitem para as crianças o reconhecimento dos seres, 
das coisas e dos acontecimentos do seu cotidiano, relacionando as 
histórias com o arcabouço cultural do qual já se apropriam. 
“Há prazer de folhear um livro colorido ou preto e branco 
[...] livros feitos para a crianças pequenas, mas que podem 
encantar aos de qualquer idade, são sobretudo experiências de 
olhar, de um olhar múltiplo, pois se vê com o olhar do autor e do 
olhador/leitor, ambos enxergando o mundo e os personagens de 
modo diferente, conforme percebem o mundo. Saborear e 
detectar tanta coisa que nos cerca usando este instrumento 
nosso tão primeiro, tão denotador de tudo”, a visão 
(ABRAMOVICh,1991. P.33). 
A autora enfatiza a importância de manipular um livro com 
perspectiva de lançar um olhar novo, voltado para os significados e 
representações imagéticas do livro. A criança assim, a atribui significações 
ao texto e às imagens, segunda o sentido dado pelo autor, estabelecendo 
diálogo com sua própria vivência. 
De acordo com Corsino (2010), uma biblioteca ou sala de leitura em 
creche e pré-escolas pode ter livros de vários gêneros- dos informativos 
aos literários. Cabe também gibis, revistas, filmes, desenhos animados, 
música e cantigas, brinquedos, cenas e personagens de histórias, pedaços 
de pano para se transformarem em roupas, adereços (chapéus, coroas, 
27 
 
sapatos, colares, entre outros). Ainda segunda a autora, no espaço da 
biblioteca, a linguagem escrita pode desempenhar diversas funções, tal 
como ocorre no nosso cotidiano, suscitando diferentes leituras, como a 
leitura informativa, para buscar mais conhecimentos sobre determinado 
assunto: a leitura injuntiva, para seguir uma orientação para a realização 
de alguma ação; e a leitura, para a fruição e prazer, para estimular a 
imaginação e reflexão, entre outras, sendo assim, cabe ao professor 
organizar situações em que as crianças tenham oportunidades de ler para 
consultar, pesquisar, se divertir, ampliar suas experiências, imaginar. 
Desta forma os volumes deverão estar expostos de forma atraente 
e acessível às crianças, evitando caixas fechadas, livros empilhados de 
forma desorganizada. O material precisa ser arrumado de maneira que 
possa ser visto, manipulado, consultado e apreciado. O educador, deve 
assim, estimular as leituras coletivas, a organização das cenas, 
brincadeiras e dramatizações das histórias, interações diversas entre texto 
verbal e visual dos livros e as diferentes linguagens. 
No que diz respeito à aprendizagem da leitura, Coelho (2000), 
orienta que no período dessa descoberta, o adulto responsável pela 
educação do pequeno leitor deve utilizar textos breves, combinados com 
grande quantidade de imagens e com poucas páginas, cujo temas 
fundamentais a serem abordados devem ser simples, fáceis de decifrar, e 
que, de um livro para o outro, serão esclarecidas as dificuldades de 
compreensão e entendimento da leitura para essa fase do pré-leitor, esses 
livros devem especialmente retratar as coisas e objetos vivenciados no dia 
a dia da criança, como comer, dormir, brincar, vida familiar, higiene, lazer 
e, entre outros, o que possibilitará o meio de acesso à realidade das 
experiências existenciais da criança. 
Desta forma, observam -se pontos importantes que tratam do valor 
psicológico, pedagógicos, estéticos e emocional do livro imagem, 
responsáveis em estimular a atenção visual e o desenvolvimento da 
capacidade de percepção da criança. Partindo desse princípio, infere-se 
que essa estratégia facilita a comunicação entre criança e a narrativa, pois 
estimulam a atenção visual do iniciante da leitura, além de ativar a sua 
potencialidade criadora e enriquecer a imaginação. 
Como complementa o Referencial Curricular Nacional para a 
Educação Infantil (RCNI), “ter acesso à boa leitura é dispor de uma informação 
cultural que alimenta a imaginação e desperta o prazer pela leitura”. 
 
 
 
 
 
28 
 
Capítulo IV- A formação do professor mediador 
Na escola o professor tem um papel de instruir e levar seus alunos 
a passear no caminho do conhecimento, levá-los a se autoconstruir através 
deste caminho e das experiências vivenciadas, levando em conta fatores 
externos, do meio, que influenciam esse processo. 
A Lei de Diretrizes e Base da Educação (LDB), Lei nº9.394/96, em 
seu artigo 62, admite como formação mínima aquela oferecida em nível 
médio, na modalidade Normal para professores que atuam na educação 
infantil. 
“A formação do docente para atuar na Educação Básica 
far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura de 
graduação plena, universidades e institutos superiores de 
educação, admitida como formação mínima para o exercício do 
magistério na Educação Infantil e nas quatro primeiras séries do 
Ensino Fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade 
Normal.” (BRASIL,1996). 
Art. 62. A formação de docentes para atuar na educação 
básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura 
plena, admitida, como formação mínima para o exercício do 
magistério na educação infantil e nos cinco primeiros anos 
do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na 
modalidade normal. (REDAÇÃO DADA PELA LEI nº 13.415, de 
2017). 
Segundo Kramer (1989), “não são apenas as crianças que crescem e 
apendem. Todos constroem conhecimentos e nesse processo têm dúvidas e dificuldades, 
fazem progressos e reestruturam suas formas de ação, buscando alcançar seus objetivos 
traçados”. 
A formação de professores para a educação infantil é entendida 
como processo permanente que acontece dentro e fora da escola, 
articulando conhecimentos formalmente estruturados e saberes adquiridos 
com a prática. Essa concepção enfatiza o caráter histórico e cultural do 
conhecimento possibilitando uma formação articulada com as 
necessidades sociais, promovendo a autorrealização e desenvolvimento 
dos professores com ela envolvida. 
Para que haja uma prática docente de qualidade é importante e 
necessário considerar dois aspectos: o da organização e o de 
planejamento, pois o cotidiano na sala de atividades que sinaliza aos 
professores os acertos e erros. 
“Tratar dos aspectos organizacionais é, afinal, tratar das condições que devemos 
levar em conta para conseguir desempenhar uma tarefa educativa”. (BASSEDAS; 
HUGUET; SOLÉ,1999, p. 93). 
Com essa afirmativa destaca a importância da formação desse 
professor que atua com as crianças para organizar os espaços infantis, 
deforma a favorecer interações entre criança e delas com adultos, tornando 
29 
 
presente a ludicidade no trabalho desenvolvido. Nesse espaço, espera-se 
que esses profissionais adquiram conhecimentos científicos enquanto 
promove uma aprendizagem significativa com os pequenos. 
Ao considerar o professor como o profissional responsável pela 
educação e cuidado da criança em creches e pré-escolas, há um desafio 
de qualificar esse profissional. Dada a complexidade dessa função, não se 
pode entrega-la a qualquer profissional que segmente e hierarquize sua 
ação junto à criança, as, antes faz-se necessário formar um profissional 
capaz de reconhecer sua formação profissional e a diversidade existente 
nesse campo e, assim como os professores dos demais níveis de ensino, 
com capacidade para fazer valer sua vez e sua voz e construir a autonomia 
de seu processo formativo. 
O professor precisa de reciclar, estar sempre estudando para 
desenvolver novas competências, o que é definido como formação 
continuada, isto implica em oportunizar aos professores espaços deavaliação e discussão entre as demais atividades desenvolvidas nas 
instituições, para que a formação aconteça como um processo contínuo e 
integrado ao cotidiano, configura não somente como necessidade, mas 
como direito para a oferta de uma educação infantil de excelência. A 
formação é necessária não apenas para aprimorar a ação docente ou 
melhor a prática pedagógica, a formação é direito de todos os professores, 
conquista e direito da população por uma escola pública de qualidade. 
Com relação ao trabalho educativo com crianças da educação 
infantil, o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (Brasil, 
1998), apresenta a necessidade da promoção de práticas de educação e 
de cuidados que possibilitem interação dos aspectos físicos, emocionais, 
afetivos, cognitivos, linguísticos e sociais da criança. Este processo de 
reflexão e autoavaliação, o qual acontece em diferentes tempos e espaços, 
precisa ser contínuo e coerente com a ação educativa que se pretende 
implementar. 
A formação se constrói por meio de um trabalho de reflexão crítica 
sobre as práticas e não por acúmulo de cursos, conhecimentos ou técnicas, 
a formação deve oportunizar aos professores meios para um pensamento 
autônomo, dinâmico e de autoformação. 
A formação continuada desempenha um papel fundamental na 
elaboração de um repertório de saberes para a atuação do professor na 
educação infantil, sendo esse, um processo que proporcione ao profissional 
construir saberes e formas que lhes possibilitem produzir a própria 
existência e a partir da profissão onde os saberes são componentes da 
identidade profissional. 
Portanto, a formação continuada pode ser considerada a porta de 
entrada para a mediação, transformar o professor em mediador dos 
saberes, na literatura infantil, fazendo uso dos novos sabres e 
30 
 
possibilidades diversas de interação, levar seus alunos ao mundo dos 
livros, mundo mágico, onde a hora da história/contação é sempre uma 
surpresa, afinal, o professor usa de novos recursos, como fantoches para 
dar vida aos personagens da história, ou distribui esses fantoches para que 
as crianças criem suas próprias histórias; em outra ocasião faz teatro de 
sombras usando a cortina da sala e colocando os alunos para encenar esse 
teatro, outro recurso para estimular a ludicidade são as fantasias, o 
professor a usa para contar a história. 
Diante dessas situações o professor observa seus alunos como 
indivíduos únicos, cada qual com suas particularidades, apresenta o mundo 
encantado dos livros e desperta o interesse pela leitura. 
 
4.1 – Antes de serem mediadores...são professores 
 A formação de professore é uma das temáticas que mais 
frequentemente tem estado presente nas discussões sobre os a educação 
brasileira no âmbito das escolas públicas. Além da importância que vem 
sendo atribuído, em termos nacionais, o motivo desse destaque se prende 
ao débito do país em relação a uma educação escolar de qualidade para 
toda a população. Neste contexto, inserir-se a má formação dos 
professores e a perda da sua identidade, o que dificulta a construção de 
uma escola democrática, de igualdade e em prol da cidadania. 
De acordo com Tardif (2002, p.112), a formação docente voltou-se 
para a prática a partir dos estudos desenvolvimentos nos Estados Unidos 
na década de oitenta, onde a sala de aula tornou-se importante objeto de 
investigação. A partir de então a prática docente passou a ser valorizada e 
investigada. No Brasil esses estudos, iniciaram-se na década de noventa. 
Tardif (2002, p. 1140), considera que, inicialmente, a reforma 
educacional preocupava se com a organização curricular. Entretanto, 
atualmente, prioriza-se os saberes docentes, a formação docente. 
Entendendo-se que esta é a melhor maneira de formar professores, a partir 
da análise da prática do outro. Sendo capaz de desenvolver no futuro 
professor capacidade crítico reflexiva para interagir com o conhecimento, 
gerar novos saberes, e com isso, reconstruir a identidade do professor. A 
formação docente preocupa-se cada vez mais, com a formação de uma 
nova identidade docente baseada em princípios éticos, investigativos, 
críticos e reflexivos. 
Segundo Pimenta (1999, p. 28-29), a formação do professor vem se 
opondo a racionalidade técnica até então vigente. Considera-se cada vez 
mais o professor como um intelectual em processo contínuo de formação. 
Esse processo desencadeia uma constante reflexão sobre suas práticas e 
experiências cotidianas, o que ressignifica os saberes docentes e, 
consequentemente a identidade do professor. 
31 
 
A desvalorização de certas disciplinas teóricas do curso de 
pedagogia, tais como: Sociologia, Filosofia, História da Educação, 
Organização da Educação Brasileira, entre tantas outras que os cursos de 
formação inicialmente possuíam e que contribuíram para que os novos 
professores desenvolvesse ou fortalecessem sua identidade profissional, 
relacionando-a ao modo como a profissão é representada e explicada 
histórica e socialmente, perderam seu espaço para disciplinas voltadas 
para a prática docente. Essa mudança que ocorreu em alguns cursos, não 
contribuiu para a formação de um profissional mais seguro e competente, 
ao contrário, enfraqueceu sua identidade e reduziu seu campo profissional. 
Antes se formavam pedagogos, e estes podiam se especializar como 
docentes, orientadores ou administradores. A formação com bacharel, 
tornou-se uma licenciatura curta. 
Libâneo, registra sua postura contra a redução do curso de 
pedagogia a um curso para a formação exclusivamente de docentes em 
seu livro “Pedagogia e Pedágogos, para quê? Suas argumentações, em 
momento algum despreciam a docência ou os professores formados como 
pedagogos com habilitação para as séries iniciais. Ao contrário, defende 
seu direito a escolha de campo de atuação e formação. 
Em aquisição a percepção do professor como meio aplicador de 
técnicas Schön, citado por Pimenta (1999), contempla um triplo momento: 
da reflexão na ação, da reflexão sobre a ação e da reflexão sobre a reflexão 
na ação. Por esta razão o professor é considerado um profissional 
relativamente autônomo e reflexivo. 
Partindo dessa premissa, Nóvoa citado por Pimenta (1999), que a 
formação dos professores deve favorecer e estimular o pensamento 
autônomo numa perspectiva crítica reflexiva (Nóvoa, apud Pimenta, 1999, 
p. 29). Segundo o autor, a formação docente possibilita o desenvolvimento 
pessoal, profissional e organizacional. 
O desenvolvimento pessoal significa produzir a vida do professor. O 
autor considera que a formação docente deve estimular uma perspectiva 
crítica reflexiva, que viabilize a auto formação participada e o pensamento 
autônomo do professor, a formação é considerada um investimento pessoal 
que visa contribuir uma identidade pessoal e profissional 
O desenvolvimento profissional, entretanto, significa produzir a 
profissão docente, estimulando o desenvolvimento autônomo e 
contextualizado pois profissionais competentes têm capacidade de auto 
conhecimento reflexivo, o que viabiliza a reconstrução constante e 
permanente de identidade do professor. 
O desenvolvimento organizacional, segundo o autor, refere-se a 
produção da escola, de modo que a formação de professores conceba a 
escola como em ambiente educativo, associando o trabalho, propriamente 
dito, a formação do professor, simultaneamente no cotidiano escolar, 
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entendendo que a formação é indissociável tanto dos projetos 
educacionais, quanto dos organizacionais. (NÓVOA, 1997, p. 25-31). 
Dando continuidade a formação dos professores temos a formação 
continuada, que são cursos, nem sempre a participação é espontânea, na 
maioria das vezes o que leva o professor a participar desses cursos é a 
necessidade de horas de cursos para pular barreiras e aumentar seu 
salário. 
Nesse sentido, uma reflexão sobre a verdadeira contribuiçãoe 
eficácia destes cursos de formação continuada se faz necessária para a 
implantação de qualquer proposta que vise a renovação das escolas e das 
práticas pedagógicas buscando qualidade educacional. 
Um aspecto especialmente crítico e importante a se observar é a 
necessidade e as especificidades do público a que esses cursos irão 
atender. Para Candau (1996, p. 143). 
“O locus da formação a ser privilegiado é a própria 
escola: isto é, é preciso deslocar o locus da formação continuada 
de professores da universidade para a própria escola de primeira 
e segundo graus. Todo processo de formação continuada tem 
que ter como referência fundamental o saber docente, o 
reconhecimento e a valorização do saber docente”. 
Neste sentido, considerar a escola como locus de formação 
continuada passa a ser uma afirmação fundamental na busca de superar o 
modelo clássico de formação dos professores. Portanto, não se alcança 
esse objetivo de uma maneira espontânea. Não é o simples fato de estar 
na escola e de desenvolver uma prática concreta que garante a presença 
das condições mobilizadoras e um processo formativo. 
Uma prática repetitiva, mecânica, não favorece esse processo. Para 
que ele se dê é importante que essa prática seja capaz de identificar os 
problemas, de resolvê-los. As pesquisas são cada vez mais confluentes, 
que esta seja uma prática coletiva, uma prática construída conjuntamente 
por grupos de professores ou por todo o corpo docente de uma escola. 
Entretanto, é urgente que as instituições que formam os professores 
se deem conta da complexidade da formação e consequentemente da sua 
influência na atuação desse profissional. Além do conhecimento da 
disciplina que ensina da compreensão e de certa segurança para lidar com 
a mediação do ensino aprendizagem, é importante a formação das 
convicções a serem desenvolvidas em relação ao caráter ético- valorativo 
da sua atividade docente. 
“A formação continuada não pode ser concebida como 
um processo de acumulação (de cursos, palestras, seminários) 
permanente de uma identidade pessoal e profissional, como 
interação mútua. E é nessa perspectiva que a renovação da 
formação continuada vem procurando caminhos novos de 
desenvolvimentos”. (Candau, p. 150). 
33 
 
Torna-se importante que sejam estimuladas as iniciativas dos 
pesquisadores da área de educação no sentido da aproximação, 
reconhecimento, valorização e incorporação dos saberes docentes 
principalmente dos saberes da experiência. 
A valorização do saber docente extremamente atual provocando 
uma importante reflexão e pesquisa no âmbito pedagógicos nos últimos 
anos. Tardf, Lessard e Lahaye (1991), partem da afirmação de que o saber 
docente é um saber “plural, estratégico e desvalorizado”. Plural porque é 
constituído dos saberes das disciplinas, dos saberes curriculares, dos 
saberes profissionais e dos saberes das experiências. Estratégico porque, 
como grupo social e por suas funções, os professores ocupam uma posição 
especialmente significativa no interior das relações complexas que unem 
as sociedades contemporâneas aos saberes que elas produzem e 
mobilizam com diversos fins. Desvalorização porque, mesmo ocupando 
uma posição estratégica no interior dos saberes sociais, o corpo docente 
não é valorizado frente aos saberes que possui e transmite. 
Muitas explicações que podem ser dadas para essa realidade. Os 
vários setores da atividade humana passam por significativas mudanças 
que se concretizam em nova configurações da ordem econômica e política 
relacionado ao conhecimento, às vinculações pessoais, às comunicações, 
entre outras, que trazem consequências muito diretas para a educação 
escolar. Tais mudanças afetam de maneira particular a formação de 
professores, área que se situa não só no âmbito do conhecimento, mas 
também da ética, em que estão em jogo entendimentos, convicções e 
atitudes que compõem o processo de preparação docente. 
É fundamental que oportunizem aos professores explorar e trabalhar 
os diferentes momentos de seu desenvolvimento profissional, de acordo 
com suas necessidades específicas, que a formação continuada seja 
espontânea e que os levem a buscar atualização de seus conhecimentos, 
aprimorar suas práticas e consequentemente o fortalecimento de sua 
identidade profissional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Considerações finais 
 
É possível compreender a importância fundamental da mediação 
docente para o estabelecimento da relação criança/livro, na medida em 
que, o professor é responsável por trazer as mais diversas experiências 
relacionadas à literatura infantil, proporcionando as crianças um maior 
entendimento sobre si e sobre o mundo. 
A literatura infantil, também é um recurso importante para a 
apropriação de outras áreas dos conhecimentos, bem como dos valores e 
dos conflitos que emergem com as crianças no cotidiano. 
É notável que a forma como são elaboradas as propostas 
relacionadas a literatura infantil pelo professor deva variar, como descrito, 
há muitas possiblidades de explorar a literatura infantil, de modo que ela 
seja uma aliada no desenvolvimento da criança. 
Assim, a literatura infantil pode ser explorada pelo professor como 
atividades meio ou fim, de modo que o momento da leitura/contação possa 
ser tanto a atividade já proposta, como uma forma de abrir o diálogo para 
construir outra atividade relacionada à história e/ou ao contexto. 
Quando a literatura infantil está presente diariamente na rotina da 
sala, ela se torna tão importante que já faz parte do cotidiano das crianças. 
Assim, é essencial que o professor planeje de forma lúdica os momentos 
das histórias. 
A utilização de alguns recursos para atrair a atenção das crianças 
para a história, usando por exemplo, teatro de sombras, teatro de 
fantoches, dão subsídios para que o momento da história não se torne 
apenas uma atividade para ocupação do tempo, mas permite que se 
transforme em atividade fim e meio, visando o desenvolvimento, bem como 
a interação das crianças, devendo ser esse momento recheado de 
surpresas e criatividade. 
Quando o professor marca o tempo da história também ajuda as 
crianças em sua autonomia, a organização, de modo que, saibam o que 
está por vir, e se preparem para o momento. 
Utilizar recursos como fantasia estimula a ludicidade das crianças, 
despertando a curiosidade para saber qual será a fantasia usada, bem 
como utilizar outros recursos; como se transformar em um personagem. 
Usar diferentes suportes de textos, diversificando os gêneros textuais, para 
além do livro de história infantis, utilizar também poesia, soneto, fábulas, 
lendas, o que na prática a criança que existe diferentes tipos de textos. 
No momento da leitura/contação é importante que ao longo da 
história, ou ao acabar, o professor reitere o que acontece ou aconteceu, 
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mostre para as crianças que há uma sequência, um começo, meio e fim, 
auxiliando-a também na compreensão do próprio tempo e espaço. 
Desta forma, é essencial que o professor faça a seleção das histórias 
que serão trabalhadas, bem como planeje o modo como será feita a 
mediação, ficar atento as crianças, escutar o que elas tem a dizer, propiciar 
momentos intencionalmente livres para a exploração dos livros e também 
mediados diretamente por ele. 
Fica evidente a importância da mediação docente na educação 
infantil no que tange as práticas e planejamento embasados pela literatura 
infantil, de modo a assegurar e garantir todos seus direitos, o que inclui a 
brincadeira, lúdico, a cultura, bem como a interação com seus pares, sendo 
a literatura um dos meios para que criança atinja seu pleno 
desenvolvimento. 
A mediação docente é imprescindível para o estabelecimento da 
relação criança/livro. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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