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LARISSA MENEZES – DERMATOLOGIA • Doença infecciosa, não contagiosa, de evolução crônica, que atinge a pele e, às vezes, mucosas • Conhecida como “úlcera de Bauru” ou “ferida brava” • Etiologia: protozoários do gen. Leishmania • Transmissão: picada de flebotomíneo (conhecido como mosquito palha, birigui ou tatuquira) fêmea infectado, o qual regurgita o parasita juntamente com a sua saliva • Aumento alarmante em sua incidência: • Crescente contato entre o homem e ambientes silvestres, ricos em reservatórios do protozoário e vetores • Desmatamento e urbanização descontrolada • O agente da leishmaniose tegumentar americana (forma mais prevalente no Brasil entre as leishmanioses cutâneas) é a Leishmania (braziliensis) braziliensis (espécie braziliensis e subespécie braziliensis), também chamada de Leishmani (Viannia) braziliensis, ou simplesmente Leishmania braziliensis • Possui duas formas evolutivas: ▪ Forma promastigota, com flagelo, núcleo, cinetoplasto e blefaroplasto, que se desenvolve no tubo digestivo do mosquito vetor ▪ Forma amastigota, sem flagelo, com núcleo e cinetoplasto, que se desenvolve no interior dos leucócitos mononucleares (monócitos e macrófagos) • Problema de saúde pública em 88 países, distribuídos em quatro continentes (Américas, Europa, África e Ásia). • Considerada pela OMS uma das seis mais importantes doenças infecciosas, pelo seu alto coeficiente de detecção e capacidade de produzir deformidades. • Ocorre em todos os países latino-americanos, exceto Chile e Uruguai, ocorrendo eventualmente no sul dos Estados Unidos. • Ambos os sexos e todas as faixas etárias: • Predomina os maiores de 10 anos: 90% • Sexo masculino: 74%. • Nas Américas: sul dos EUA até o norte da Argentina. • No Brasil: 35.000 novos casos por ano. Confirmados em todos os estados. • A Leishmania braziliensis predomina em todo o território nacional. Os agentes L. guyanensis (toda região Norte), L. lainsoni (Pará, Rondônia) e L. naiffi (Amazonas, Pará) podem causar LTA, respondendo por um menor número de casos LEISHMANIA o Desenvolvem-se nos intestinos anterior e médio do flebótomo. o L. L. amazonenses: ▪ ~20% dos casos. ▪ Amazônia, Bahia e Paraná ▪ Reservatórios: roedores, marsupiais, raposa. ▪ Grande habilidade imunossupressora: Forma cutânea-difusa anérgica e cutâneas com lesões únicas ou múltiplas o L.L. chagasi (leishmaniose visceral, americana ou calazar): ▪ América latina ▪ Reservatórios: cão e raposa ▪ Leishmaniose visceral americana VIANNIA o Desenvolvem-se nos intestinos anterior, médio e posterior. o L.V. braziliensis: ▪ Agente mais frequente das formas cutâneas e mucocutâneas (~80%) no Brasil e na América Latina. ▪ No Brasil ocorre em todas as regiões. LARISSA MENEZES – DERMATOLOGIA ▪ Reservatórios: homens, roedores selvagens, marsupiais, animais domésticos o L.V. guyanensis: ▪ Forma cutânea com lesões múltiplas. ▪ Norte do país (Pará, Amapá, Amazonas e Roraima) ▪ Reservatórios: homem, preguiça, tamanduá o L.V. shawi o L.V. naifi o L.V. lainsoni o O subgênero Leishmania modula resposta preferencialmente supressora Th2 e o subgênero Viannia o pólo protetor Th1 • Infecção crônica • Não contagiosa • Protozoários do gênero Leishmania • Transmitida do animal para o homem • Doença vetorial • Mosquito-palha, birigui, cangalha, tatuquira. • Gêneros Lutzomyia e Psycodopygus • Reservatórios vertebrados: forma amastigota (sem flagelo) que multiplica-se, por divisão binária, em macrófagos e monócitos. • Flebótomo: adquire a forma amastigota durante a picada, que cresce no tubo digestivo sob a forma de promastigota (flagelada). • Vetor inocula a forma promastigota durante a picada, a qual se transforma em amastigota no hospedeiro. CICLO DO PROTOZOÁRIO o O flebotomíneo adquire a forma amastigota destes seres que, então, se transforma na forma promastigota em seu sistema digestivo, armazenando-se nas glândulas salivares. Quando a fêmea do flebotomíneo (de hábitos vespertinos e crepusculares) se alimenta do sangue humano, inocula as formas promastigotas na pele. Os protozoários flagelados então penetram nos macrófagos e monócitos da derme e hipoderme, perdendo em seguida seu flagelo e convertendo-se na forma amastigota (intracelular). Por divisão binária os amastigotos da Leishmania se proliferam dentro das células que, ao se romperem, liberam um grande número de parasitos para infectar outras células. Os monócitos carreiam a Leishmania pela corrente sanguínea, disseminando a infecção para outros tecidos (como as mucosas). o Forma amastigota: ▪ Forma esférica e aflagelada ▪ Forma típica do hospedeiro vertebrado ▪ Forma patogênica: responsável pelo surgimento da doença. ▪ Interior dos macrófagos o Forma promastigota: ▪ Forma alongada e flagelada ▪ Forma típica do hospedeiro invertebrado ▪ Forma infectante o Reservatórios silvestres: roedores, marsupiais, preguiça e tamanduá o Animais urbanos infectados: o principal é o cão, cavalo, mula o Histologia: LARISSA MENEZES – DERMATOLOGIA • Picada do flebotomíneo => inoculação de promastigotas => algumas escapam da ação litíca do sistema de complemento, eosinófilos e neutrófilos => fagocitadas por macrófagos => forma amastigota => multiplicação por divisão binária. • Formas clínicas dependerão: ▪ Do perfil imunogenético do paciente (resposta imune celular) ▪ Da espécie de leishmania: subgênero Viannia modulam resposta Th1 e Leishmania modulam Th2 PERFIL IMUNOGENÉTICO DO PACIENTE o Indivíduos geneticamente mais resistentes: resposta imune predominantemente Th1 (produção de IL2, IL12, INFgama, INFalfa) que ativa o macrófago infectado, eliminando o parasita intracelular. Não há ativação significativa de linfócitos B, portanto a resposta humoral pouco expressiva. o Indivíduos mais susceptíveis: expansão primordial da resposta imune Th2 (produção de IL4, IL5, IL10, IL13), que inibirão o INF gama (principal ativador de macrófago), levando à proliferação de amastigotas. • O período de incubação é de 1-3 meses. A lesão, inicialmente, aparece apenas no ponto de inoculação, geralmente em áreas expostas da pele (face, membros, mãos, pés). A lesão então passa por fases evolutivas • Lesão inicial: forma-se uma pápula eritematosa que logo vira uma lesão papulocrostosa, papulovesiculosa ou papulopustulosa • Lesão ulcerada: dias ou semanas depois, a lesão adquire aspecto ulceroso. A úlcera da LTA possui bordos elevados e bem definidos (“úlcera em moldura de quadro”), com centro granulado, de cor vermelho-viva e com secreção serosa LARISSA MENEZES – DERMATOLOGIA • Lesão vegetante: as lesões podem evoluir para cicatrização espontânea ou para a formação de placas vegetantes, verrucosas que cronificam e crescem lentamente • Lesões mucosas: as lesões mucosas aparecem precocemente, embora seja mais comum ocorrerem 1-2 anos depois do surgimento da pápula de inoculação. Acometem especialmente o nariz, começando com eritema, edema e discreta infiltração no septo nasal, asas do nariz e mucosa, evoluindo com maior infiltração e lesão ulcerovegetante, que pode se estender para as regiões laterais, lábios superiores e inferiores. A orofaringe pode ser acometida com lesões no palato, gengiva, laringe e faringe. Raramente, o pavilhão auricular também é acometido de forma assimétrica. As lesões mucosas da LTA geralmente são por disseminação hematogênica do parasito. Com o tempo, a doença vai destruindo a cartilagem nasal, provocando o desabamento do nariz (nariz de anta ou nariz de tapir) LEISHMANIOSE CUTÂNEO-MUCOSA o Úlcera de Bauru o Leishmania (V) braziliensis o Incubação 1-4 semanas o Adenopatia regional e linfangitenas fases iniciais o Pápula eritematosa → Área exposta → Pápulo- vesicula, pápulo-pústula, pápulo-crostosa → Úlcera. LARISSA MENEZES – DERMATOLOGIA o Em geral, regride com cicatrização espontânea e mais raramente pode evoluir com placas vegetantes infiltradas. o Lesões mucosas: surgem geralmente um ou dois anos após a lesão inicial. o Disseminação hematogênica. LARISSA MENEZES – DERMATOLOGIA o Mucosa nasal, lábio superior e inferior, palato, gengivas, língua, faringe e laringe. o Eritema e infiltração do septo nasal → Processo ulcerativo → Destruição do septo → Nariz ‘tomba’ o Cruz de Espúndia ou Escomel: intersecção dos septos fibrosos do palato, que estão poupados, e as lesões mamelonadas adjacentes (estomatite em paralelepípedo) LEISHMANIOSE CUTÂNEA o É mais benigna o Restrita a lesões de pele o Leishmania (V) braziliensis o Leishmania (V) guyanensis o Leishmania (L) amazonensis LEISHMANIOSE DISSEMINADA o Múltiplas lesões acneiformes, em pelo menos duas regiões corporais. o Surge após a lesão inicial ulcerada característica. o Sintomas gerais associados. o Comprometimento das mucosas em 30%. o Pápulas, nódulos e ulcerações coexistem. o Descrita em imunodeprimidos. o Leishmania (V) braziliensis: cepa mais virulenta. LARISSA MENEZES – DERMATOLOGIA LEISHMANIOSE CUTÂNEA DIFUSA o Relatada na África, Oriente Médio e Américas. o Américas: Leishmania (L) amazonensis. o Pará, Amazonas e Maranhão. o Defeito imunogenético: incapacidade de produção de INF-γ o Lesões queloidianas múltiplas, com infiltração. o Reação de Montenegro negativa. o Não tem terapia efetiva • LTA pode modificar a progressão do HIV, e a AIDS facilita a progressão da LTA. • Atenção aos casos de disseminação da LTA, com envolvimento de órgãos (visceralização da leishmaniose tegumentar) • O diagnóstico de coinfecção muda a abordagem da LTA em relação ao diagnóstico, à terapêutica e ao monitoramento dos efeitos adversos, resposta terapêutica e ocorrência de recidivas. • Recomenda-se oferecer a sorologia para HIV para todos os pacientes com LTA FORMA MUCOSA o Resposta imune exacerbada o Dano tecidual o Ativação de macrófagos o Raros parasitos FORMA CUTÂNEA DIFUSA o Ausência de imunidade celular o Múltiplas lesões o Inativação de macrófagos o Grande número de parasitos EXAME PARASITOLÓGICO DIRETO o Raspagem por bisturi ou escovas, aspiração por agulha, imprint em lâmina de fragmentos excisados e lavagem da mucosa oral ou nasal o O raspado da lesão é colocado em uma lâmina e corado pelo Giemsa ou Leishman, para que LARISSA MENEZES – DERMATOLOGIA possam ser observadas as formas amastigotas no interior dos mononucleares o Baixo custo e, se positivo: diagnóstico de certeza e tratamento precoce. o Sensibilidade: 15-70%. Mais sensível quanto menor o tempo de lesão. o Especificidade próxima de 100%: o achado de amastigotas praticamente confirma o diagnóstico. o Na forma LCA: riqueza de amastigotas EXAME HISTOPALÓGICO o Varia conforme forma clínica. Formas anérgicas: macrófagos vacuolizados ricos em parasitas o Irá demonstrar um granuloma linfo- histiocitário. Nas lesões recentes, é comum se observar o parasito intracelular. Quanto menos recente, mais difícil se torna observar o agente o Se úlcera típica (~95% dos casos): ▪ Biópsia na borda ativa da lesão ▪ Maior sensibilidade se uso de imunohistoquímica ▪ Visualização de amastigotas é difícil ▪ Achados: reação granulomatosa não específica, com infiltrado inflamatório predominantemente plasmocitário e linfocitário CULTURA o 1-3 semanas o Sensibilidade: 40-75% o Especificidade próxima a 100%, visualização da forma promastigota o Aspiração por agulha no bordo da lesão INOCULAÇÃO EM PATA DE HAMSTER o Aspiração por agulha da borda da lesão o Injeção intradérmica na pata traseira do animal o PI: 1 mês o Após a formação do nódulo, aspiração e envio para cultura o Resultado em 2 a 3 meses: fins de pesquisa INTRADERMORREAÇÃO DE MONTENEGRO “TESTE CUTÂNEO DA LEISHMANIA” o Avalia a resposta de hipersensibilidade celular tardia o Injeção intradérmica de solução (0,1-0,3ml) contendo preparado antigênico de Leishmanias obtidas de cultura (solução de promastigotas mortas no antebraço) ▪ Até 6 semanas para positivar ▪ Positiva em áreas endêmicas, sensibilização prévia, infectado assintomáticos, naturalmente resistentes, pacientes curados. o Positivo: pápula endurada, > ou = 5 mm, após 48-72h da aplicação o Alta sensibilidade (85-97%), baixo custo e pouco invasivo o Especificidade: 75% o Reação cruzada: doença de Chagas, micoses subcutâneas, tuberculose e MHV TESTES SOROLÓGICOS: IMUNOFLUORESCÊNCIA INDIRETA E ELISA o Alta sensibilidade: 85-95%, porém baixa especificidade o Reações cruzadas com Dç. De Chagas, paracococcidioidomicose, pênfigo foliáceo, micoses profundas o Pode ser utilizada para controle de cura: após o tratamento, espera-se que permaneça estável ou diminua. o Aumento de seus títulos: possibilidade de recidiva BIOLOGIA MOLECULAR: PCR o Alta sensibilidade e especificidade o Possibilita a identificação das espécies relacionada à infecção o Contras: ▪ Não disponível na maioria dos centros de referência LARISSA MENEZES – DERMATOLOGIA ▪ O paciente já pode estar curado (detecção de fragmentos do parasito) • Doença negligenciada de regiões pobres • Pouco interesse dos laboratórios farmacêuticos em buscar novas terapêuticas • Tratamento de eleição: antimoniais pentavalentes ▪ Leishmanicidas, interferem na bioenergética das formas amastigotas ▪ No Brasil: Antimoniato de N- metilglucamina (Glucantime) • Deve ser precoce para evitar deformidades e sequelas • Estimula a capacidade de fagocitose dos macrófagos GLUCANTIME o Formas cutâneas: 10-20 mg/Kg/dia, IM ou EV (correr lentamente) por 20 dias o Formas mucosas: 20mg/kg/dia por 30 dias o Dose máxima: 3 frascos por dia (15ml) o Se não houver cicatrização após 12 semanas do término do tratamento, repetir a dose por mais 30 dias. Fazer até 4-5 séries. o EC: artralgia, mialgia, inapetência, plenitude gástrica, fraqueza, tontura e cefaléia. Elevação de ureia, creatinina, tgo, tgp, fosfatase alcalina. Alterações ECG: distúrbios de repolarização, alargamento do Q-T, bradicardia sinusal o Não deve ser administrado em gestantes: pode impregnar o tecido nervoso do feto, levando a síndromes severas de retardo mental o Não usar em cardiopatas, nefropatas, hepatopatas, dça. Chagas, TB pulmonar. o Não é contraindicado em lactantes PENTAMIDINA o Segunda escolha, mais eficaz para L. guyanensis o Falha ou CI ao antimonial: 4mg/kg IM em dias alternados, 5-10 doses. o EC: nefro e hepatoxicidade, hipotensão, hipoglicemia, hiperglicemia, alterações do ECG o Não usar em gestantes, diabéticos, IR, insuficiência hepática, IC, cças < 8Kg ANFOTERICINA B DESOXICOLATO o Bastante eficaz, estando indicado em formas resistentes aos antimoniais. o Leishmanicida o 25-50 mg/dia EV até completar a dose cumulativa de 1200-2000mg o Droga de escolha em gestantes o CI: nefropatas, cardiopatas e hepatopatas o Anfotericina B lipossomal mostrou melhores resultados, porém é de alto custo MILTEFOSINE o Antineoplásico oral o Age provavelmente na biossíntese de fosfolipídios e esteroides. o Poucos ensaios no Brasil. o Teratogênico ALOPURINOL o Ação sinérgica ao antimonial em associação PENTOXIFILINA o Eficaz em associação ao antimonial, inibe o TNF alfa • Clínico, sendo indicado o acompanhamento regular por 12 meses. • Forma cutânea: epitelização das lesões ulceradas, regressão total da infiltração e eritema, até 3 meses após a conclusão do esquema terapêutico.• Forma mucosa: regressão de todos os sinais, comprovado pelo exame otorrinolaringológico, até seis meses após a conclusão do esquema terapêutico. LARISSA MENEZES – DERMATOLOGIA • Não existe vacina • Evitar o contato em áreas de transmissão em horário de maior atividade hematofágica do flebotomíneo (noite), usar roupas adequadas, repelentes, telas em janelas e portas, inseticidas no peridomicílio, mosquiteiros
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