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Pacientes sob terapia antineoplásica: principais complicações bucais e manejo odontológico Terapia antineoplásica: objetivo é eliminar essas células neoplásicas, mas a grande parte dessas terapias não são específicas para células tumorais, acometendo também as células normais. - Cirurgia: o mais antigo tipo de terapia antineoplásica. - Radioterapia: uso de radiação ionizante para promover perda de função das células neoplásicas e morte celular. Diferente da quimioterapia, é um tratamento local (com aparelho MRT). - Quimioterapia convencional: tratamento sistêmico no qual se utiliza substâncias químicas com seletividade para células (quimioterápicos com maior toxicidade para mucosa oral). Existem também as quimioterapias: terapia alvo (nova classe de medicamentos que agem em estruturas específicas de células neoplásicas) e imunoterapia (medicamentos que estimulam o sistema imunológico para que ele tenha ação antitumoral). - Transplante de células-tronco hematopoiéticas (TCTH): tratamento alternativo e/ou complementar à RT ou QT. As complicações que veremos na aula são comuns na RT, QT e TCTH, tendo uma variabilidade de ocorrência nessas 3 modalidades. Nós, dentistas, temos um papel direto no prognóstico desses pacientes, principalmente em neoplasias da cavidade oral, participando de um diagnóstico precoce das lesões, levando a um tratamento mais eficaz e um melhor prognóstico. Aliado a tratamentos modernos e mais eficazes. Se for possível, devemos participar das 3 fases: pré-terapia antineoplásica, durante e após. Fase 1: pré-terapia antineoplásica: Objetivos: identificar, eliminar ou estabilizar condições bucais que possam gerar riscos ao paciente e à terapia durante a internação. Devemos realizar: - Anamnese bem detalhada: conhecer a doença de base, o estadiamento, o tipo de quimioterápico, quantos ciclos de quimioterapia, se vai ter cirurgia associada ou RT. Se o paciente não souber, pedir para trazer a pastinha numa próxima consulta. - Avaliar o risco de complicações bucais (diretamente ligado aos quimioterápicos) e orientar o paciente (é muito importante que o paciente participe desse processo com a gente). - Exame clínico intrabucal: examinar muito bem e anotar tudo. - Exames complementares: panorâmica, tomo, exames hematológicos, na maioria das vezes, o paciente já tem todos esses exames recém feitos. - Orientação da correta higiene bucal. - Remoção dos focos de infecção e adequação do meio bucal: para eliminar riscos de agudizar durante a terapia e, muitas vezes, o paciente está neutropênico. - Confecção de próteses radíferas intrabucais: para preservar estruturas que não precisem ser irradiadas. Plano de tratamento: temos poucos tempo para realizar o tratamento, essa é uma dificuldade. Não podemos interferir no tratamento da doença ou na evolução da doença de base, considerar a condição sistêmica do paciente e estado imune, além da condição financeira e acesso ao serviço odontológico. Temos que sempre INDIVIDUALIZAR esse plano de tratamento. Temos que estar em contato com o médico, para observar sobre a necessidade de uma terapia antimicrobiana, plaquetas, se necessitarmos realizarmos extrações, raspagem subgengival,... É importante que a gente motive o paciente, para que ele mantenha sua higiene bucal. Dificuldade: falta de protocolo para atendimento odontológico. Fase 2: durante a terapia antineoplásica: Objetivo: examinar cuidadosamente a cavidade bucal diariamente, se possível. ● Monitoramento e reforço da manutenção da higienização bucal: orientar não só os pacientes, mas também os familiares, cuidadores, equipe multi; ● Realizar os procedimentos preventivos e curativos para possíveis lesões; ● Se necessário, prescrever medicamentos tópicos ou sistêmicos, ex: antifúngicos, AB, AINES, AIE, antivirais, opióides. ● Procedimentos invasivos devem ser feitos apenas em casos de urgência, mediante prévia consulta médica. Vai haver dificuldade de adesão, porque o paciente está mais nauseado, tem alteração de paladar. Por isso é importante educarmos também o cuidador, os familiares. As orientações podem ser modificadas durante o tratamento, ex: paciente começa apresentar mucosite e não consegue mais realizar a escovação convencional. Principais alterações bucais observadas durante a QT, RT e TCTH: - Mucosite oral - Alterações salivares - Alterações do paladar - Estomatites derivadas dos medicamentos: principalmente terapia alvo. - Osteonecrose derivadas dos medicamentos - Sequelas tardias de RT: cáries de radiação, osteorradionecrose e trismo - Sequela tardia do TCTH: DECH (doença do enxerto contra o hospedeiro) Fase 3: após a terapia antineoplásica Objetivo: avaliar a higienização bucal, avaliar lesões sugestivas da doença primária, avaliar sequelas do tratamento. Mucosite oral: é um efeito adverso comum, extremamente grave, porque tem impacto na terapia e qualidade de vida do paciente. Consiste em uma inflamação da mucosa oral derivada do efeito citotóxico da radioterapia de cabeça e pescoço e da quimioterapia. Esses agentes vão provocar apoptose das células da mucosa oral, provocando uma rápida resposta inflamatória mediada por citocinas e outros mediadores químicos da inflamação. Incidência: a literatura é controversa, porque não há uma padronização dos estudos. 20-46% para QT convencional, 90-97% para radioterapia cabeça e pescoço e 75-100% para TCTH. Fisiopatologia da mucosite: é dividida em 5 estágios, mas na verdade não é dividida, é super complexa e interdependente, é apenas para ser didático. 1. Início do dano primário à mucosa pela RT/QT 2. Resposta ao dano primário: ativa o fator nuclear kappa-beta 3. Amplificação do sinal: uma das etapas mais importantes, porque é quando são produzidas as citocinas pró-inflamatórias, principalmente IL-1 e IL-6. 4. Ulceração da mucosa como resultado da apoptose e necrose epitelial: é a fase que conseguimos observar clinicamente, paciente está com dor. 5. Cicatrização: muitas vezes com resolução espontânea. É importante que cuidemos da higiene bucal na fase de ulceração, porque pode haver entrada de microorganismos, bacteremia, sepse. Manifestações clínicas: sinais e sintomas de inflamação Interfere em atividades diárias: desidratação e desnutrição, habilidade de se comunicar, deglutir, impactando sua qualidade de vida. Porta de entrada para microorganismos: na fase de ulceração, tendo um maior risco de infecções secundárias, bacteremia e consequências econômicas, precisando de uma sonda, medicamento opióides, pode precisar internar ou ficar mais tempo internado. Interrupção da doença: afetando o prognóstico. Classificação: existem várias classificações, mas a que hoje os CD usam mais é a da OMS, porque considera aspectos clínicos associados à capacidade de ingestão alimentar. Outras: NCI (muito usada pela enfermagem) e OMAS e a OMI (consideram a presença de eritema e tamanho/quantidade de úlceras presentes). Não importa qual classificação se utilize, sendo que dentro da mesma equipe se padronize, para melhor comunicação entre os profissionais. Classificação da OMS: varia de 0-4. Fatores de risco: Tratamento antineoplásico: - Radioterapia cabeça e pescoço: é preciso saber a dose de radiação, o tipo de aparelho, número de sessões. Normalmente começa ocorrer a partir da segunda semana de radioterapia de cabeça e pescoço de 1000 cGy (MO grau I: 2000 cGy, MO II ou III: >3000 cGY). A resolução demora um pouco mais tempo que a QT - Agentes quimioterápicos de alta toxicidade, como: MTX, 5-FU, citarabina, bussulfano, melfalano, ciclofosfamida, doxorrubicina, bleomicina e etoposide. A quimioterapia convencional vai causar uma MO de menor gravidade e menor incidência do que os pacientes que vão receber a profilaxia de tratamento de medula (mais grave e maior incidência). Há uma variação na literatura: 5-10 dias após a infusão do QT. - Radiação ionizante corpórea total: normalmente feitos em paciente hematológicos, - RT + QT: aumento da chance de mucosite - Profilaxia para DECH Paciente: - Suscetibilidade individual genética:tem sido estudado sobre a deleção de genes associados ao dano de DNA. - Higiene oral inadequada: um vai alimentar e exacerbar a inflamação do outro. - Tabagismo e etilismo - Sexo feminino e Idade mais jovem: ainda é controverso na literatura. Tipo de mucosa oral: locais de menor queratinização são os locais mais acometidos por MO, ex: assoalho bucal, borda lateral de língua, ventre de língua, mucosa labial. Isso ocorre, porque onde se tem menor grau de queratinização, tem uma maior taxa mitótica, local onde a RT e a QT vão agir mais. Manejo odontológico sob terapia neoplásica para MO: ● Orientar sobre medidas preventivas: escova de dente mais macia possível e com cabeça pequena; dentifrícios contendo flúor, mas sem abrasivos, corantes ou sabores; fio dental (se o paciente já não possuía o hábito de usar, não é a hora de introduzir, porque pode causar um trauma na mucosa) e bochechos antimicrobianos sem álcool (não a clorexidina 0,12%, só se for um paciente neutropênico com foco de infecção). ● Fotobiomodulação: LED e laser de baixa potência têm sido utilizados tanto preventivamente (não antes de começar a terapia antineoplásica, mas nas fases subclínicas da MO, onde já se tem um dano celular), quanto para cura. ● Crioterapia: medida preventiva. Para os paciente que utilizam os quimioterápicos com meia-vida curta (5-fluorouracil e melfalano), pedir para 15/20 minutos antes da infusão e 15 minutos depois da infusão, colocar gelo na mucosa. Isso diminui a ocorrência da MO. Medidas curativas de MO: - Bochechos com opióides: morfina à 0,2% - AINES - Agentes antioxidantes: ainda bem controverso. Glutamina, bochecho com zinco, vitamina E. - Fatores de crescimento KGF-1, GMF-CSF: mais em paciente que serão submetidos a transplante de células-tronco - Fotobiomodulação: laser de baixa potência.
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