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AULA 3 SEXUALIDADE HUMANA Prof.ª Evelyse Iwai dos Reis Teluski 2 TEMA 1 – O INCONSCIENTE A contribuição dos estudos de Sigmund Freud foi decisiva para que hoje fosse reconhecida a existência da sexualidade infantil. Formado em neurologia, Freud dedicou-se a estudar a neurose e organizou uma teoria chamada psicanálise. Até a época de Freud, os tratados de sexologia do século XIX apontavam para os perigos da sexualidade, sendo a causadora de doenças nervosas, fazendo da sexualidade algo a ser combatido e difícil de ser inserida na vida como natural. A edição de 1905 dos Três ensaios sobre a sexualidade afirma com maior ênfase que a sexualidade nasce paralela a uma atividade vital. Souza (1997) retrata que a sexualidade nasce apoiada numa função biológica, e a característica dessa análise traz a noção fundamental de sexualidade para a psicanálise. Freud, que desmonta alguns conceitos e evoluciona o entendimento sobre a concepção biológica separada da subjetividade, distinguiu a normalidade de anormalidade, elucidando que tinha influências de ordem biológica, estatística, moral e social. As superfícies do corpo são encarregadas de uma função vital, das quais surge a sexualidade. Freud criou a teoria do funcionamento mental. Durante muito tempo, os problemas mentais eram tratados como doenças exclusivamente físicas. Alguns médicos, como o francês Jean Martin Charcot, usavam a hipnose para curar suas pacientes. Ocupando-se dos estudos sobre a paralisia surgidas depois dos traumas, Charcot descobriu que essas paralisias eram consequências de representações do psiquismo. Freud, não satisfeito com o método da hipnose, se dedicou ao estudo do inconsciente, por meio do método da livre associação. Fundou a psicanálise e defendeu a ideia de que os desequilíbrios emocionais eram consequência de um complexo aparelho psíquico, dinâmico de forças antagônicas. As reflexões de Freud sobre o inconsciente em 1915 tiveram destaque dentro de sua teoria psicanalítica, juntamente com os temas sexualidade, psicoses, histeria, sonhos etc. Com efeito, possibilitou muitas curas método fundado por Freud. A psicanálise deu início ao entendimento das neuroses e formulou ideias revolucionárias sobre a mente e o inconsciente. Freud, considerado o pai da 3 psicanálise, revolucionou a medicina com seus conceitos sobre o significado dos sintomas. A descoberta predominante de Freud é a de que o sintoma nos possibilita compreender a doença. Criou o termo instâncias psíquicas, cujas funções estão interligadas entre si, representando estruturas na mente e chamou-as de aparelho para mostrar essa organização psíquica dividida em sistemas, cujas funções estão interligadas entre si, representando estruturas na mente. Volpi e Volpi (2003) mostram que a teoria de Freud passou por fases: inicialmente formulou a primeira tópica, conhecida como teoria topográfica, e posteriormente trouxe a segunda tópica, conhecida como teoria estrutural ou dinâmica. Propôs que o aparelho psíquico é constituído por investimentos energéticos em três sistemas: o inconsciente, o pré-consciente e o consciente. Segundo Sigmund Freud (1976), o pré-consciente está localizado entre o inconsciente e o consciente, as informações transitam do inconsciente para o consciente e vice-versa, e tem a possibilidade de tornar-se consciente de forma fácil. Volpi e Volpi (2003) destacam que as características do pré-consciente são: • Elabora sucessão cronológica das representações; • Preenchimento de lacunas entre ideias isoladas. O sistema inconsciente é a parte mais antiga do aparelho psíquico. Volpi e Volpi (2003) afirmam que o inconsciente, conhecido por meio de sua expressão do consciente, é considerado a matéria viva da vida psíquica, onde estariam os elementos instintivos não acessíveis à consciência. O material que foi excluído da consciência pelos processos psíquicos atua por meio do chamado processo primário englobando um conjunto de mecanismos de censura e repressão. Essa energia censurada não permite ser lembrada, mas não se perde, permanecendo no inconsciente. Segundo a teoria freudiana, a maior parte do aparelho psíquico é inconsciente. Volpi e Volpi (2003) retratam as regras de funcionamento do inconsciente: • Ausência de cronologia; • Ausência de contradição; • Predomínio do princípio do prazer; • Igualdade de valores para o mundo interno e externo. 4 O consciente é responsável pela percepção do mundo psíquico, inclui tudo de que estamos cientes e é um amortecedor das sensações, trazendo consciência atualizada e impressões do mundo interno e externo. No desenvolvimento do seu trabalho, a teoria do inconsciente permitiu o entendimento da formação de trauma do indivíduo. Na investigação da origem dos traumas, ele apresentou que o início dos conflitos está na repressão sexual sofrida pelos indivíduos na fase infantil. Característica do inconsciente: • Nunca foram conscientes; • Informações excluídas que não podem ser lembradas; • Lembranças traumáticas. TEMA 2 – CONCEITOS SOBRE A SEXUALIDADE Na teoria sexual de Freud, a organização da sexualidade de forma mais ampla tem a força da estruturação do próprio psiquismo. Com isso, Freud abandona o polo da biologia para aproximar-se de uma percepção cada vez mais psíquica da sexualidade. A obra Três ensaios sobre a sexualidade foi motivada pelas observações clínicas da importância de fatores sexuais na neurose de angústia e na neurastenia (Volpi; Volpi, 2003). Volpi e Volpi (2003) mostram que Sigmund Freud definiu alguns conceitos: • Pulsão: impulso energético interno que direciona o comportamento do indivíduo; • Objeto sexual: ação para qual a pulsão impele; • Zona erógena: partes do corpo que produz sensação prazerosa. 2.1 Pulsão Freud, em 1916, trouxe o conceito de pulsão como energia situada na fronteira entre o mental e o somático, uma representação psíquica dos estímulos que se originam no corpo alcançando a mente, estimulando a busca pela satisfação. 5 2.2 Objeto sexual O objeto real ou imaginário pode servir de alvo de uma pulsão. Ex.: a energia libidinal pode ser dirigida para uma ação, pensamento ou sentimento. 2.3 Zonas erógenas Volpi e Volpi (2003) ressaltam que estimulações de uma parte da pele ou da mucosa podem provocar sensações prazerosas de determinada qualidade. Todo corpo tem a potencialidade de ser erógeno; a zona erógena desloca-se de uma parte para outra do corpo ou espalha-se por todo ele, como no caso da histeria, em que o prazer derivado da região genital propriamente dita está recalcado. O alvo sexual da pulsão infantil consiste em provocar a satisfação mediante a estimulação apropriada da zona erógena: que de algum modo foi escolhida. Ex.: na zona labial, a ação adequada é o sugar, e na sequência do desenvolvimento das outras zonas, as ações musculares serão substituídas 2.4 Libido Libido é um vocábulo latino que significa desejo, inclinação, vontade, apetite ou paixão. Volpi e Volpi (2003) mostram que, no enfoque psicanalítico, a libido equivale à intensidade da energia dinâmica dos instintos sexuais. A libido, nas primeiras fases da vida do indivíduo, apresenta-se como instinto de sobrevivência, como no ato da amamentação. Cada fase do desenvolvimento oral, anal, fálica genital tem uma relação com a intensidade da libido no corpo. Com o tempo, a libido separa-se das funções fisiológicas até chegar à descoberta do objeto. O termo sexual, em psicanálise, é entendido como tudo que tenha o prazer como meta, e não apenas o aspecto genital. Volpi e Volpi (2003) ainda trazem o entendimento de que tudo que é genital é sexual, mas nem tudo que é sexual é genital. A libido é a energia responsável pela energia motriz dos instintos vitais, ou seja, toda conduta ativa e criadora do homem. Essa força movimentao ser humano e está presente no nosso desenvolvimento psíquico desde o primeiro contato com o mundo. 6 Na teoria psicanalítica, Freud retrata a libido como uma energia originada nas pulsões, direcionando o comportamento humano. Sua teoria mostra que a libido se faz presente em todas as experiências sensoriais da infância, refletindo- se nas sensações de prazer e desprazer. • Libido do ego: também chamada libido narcísica, é a libido que é trazida de volta ao interior do ego, após ter sido retirada dos objetos; • Libido do objeto: é a libido psiquicamente empregada para investir os objetos sexuais (Volpi; Volpi, 2003). Características da atividade sexual infantil: • Nasce apoiando-se numa das funções somáticas vitais; • É auto erótica, não conhecendo nenhum objeto sexual; • Seu alvo sexual acha-se sob o domínio de uma zona erógena. A vida sexual infantil é especialmente autoerótica, encontrando-se seu objeto no próprio corpo e sendo suas pulsões parciais e independentes entre si, sendo pré-genital na medida em que a zona genital ainda não assumiu o seu papel TEMA 3 – DINÂMICA MENTAL Na segunda tópica de Freud, foi estabelecida a concepção do aparelho psíquico, conhecido como modelo dinâmico. Dentro das instâncias inconsciente, pré-consciente, inconsciente podem ser localizadas outras três instâncias: o id, o ego e o superego. O id se encontra mergulhado no inconsciente também caracterizado como componente biológico, o ego definido como componente psicológico, e o superego podendo ser definido como componente social (Hall; Lindzey, 1973). 3.1 O Id O id se integra pela totalidade dos impulsos instintivos. Volpi e Volpi (2003) retratam que o id, como a tendência de unificar o somático e o psíquico, tem a conexão com o biológico existente em cada sujeito, é um reservatório, fonte de energia psíquica. Sendo regido pelo princípio de prazer, o id busca constantemente (é uma necessidade ou desejo do id) tornar-se uma fonte de tensão geradora do impulso, e só é aliviada quando essa necessidade encontra satisfação. A função é redução de tensão. 7 3.2 O Ego O ego pode ser modificado pela influência do mundo externo, curso de relação com o meio ambiente, adiamento da satisfação, influência do mundo externo, forçando o id a substituir o princípio de prazer que ali reina pelo princípio de realidade. Volpi e Volpi (2003) apresentam as principais funções do ego: • Coordenação de impulsos internos, garantindo a expressão do mundo interno sem conflitos; • Percepção dos estímulos e adaptação a realidade; • Unificação impulsos contrários do Id em sentimentos e ações aceitáveis. No ego, a percepção desempenha um papel que no id é o instinto, sendo assim o ego representa razão e senso comum. Para Freud (1976), o ego tem origem no inconsciente, sendo a instância psíquica de principal importância. A função do ego é mediar, integrar, harmonizar os desejos do id e as exigências e ameaças do superego e as demandas da realidade. 3.3 O superego O superego representa restrições morais (os impulsos para a perfeição, incorporando no ego as identificações e proibições parentais) e sociais (valores morais, éticos, ideais preconceito, crença da cultura): “O superego é de origem totalmente inconsciente, ditado e composto por objetos internos. O seu efeito: gerador de culpas resultando angústia e medo” (Zimerman, 1999, p. 84). Volpi e Volpi (2003) apresentam suas principais funções: • Auto-observação; • Consciência moral; • Censura dos sonhos; • Repressão; • Exaltação dos ideais. Na vida civilizada, ocorre uma luta inerente entre o princípio do prazer e o princípio de realidade. A criança, quando nasce, é regida pelo princípio do prazer. Toda energia é direcionada para a satisfação do organismo. A energia sai do interior do corpo em direção à periferia em busca do prazer. Mas com o desenvolvimento o organismo, começa a se frustrar na busca de prazer, quando 8 então se instala o princípio de realidade. As experiências vão se configurando como boas ou ruins, prazerosas ou desprazerosas. Se o desenvolvimento ocorrer de forma saudável, as experiências boas e ruins vão se integrando de forma total. As energias de desejos, oriundas do id, devem chegar ao nível do ego para que este possa articular ações das necessidades então impostas. A meta fundamental da psique é manter um nível aceitável de equilíbrio dinâmico que aumenta o prazer e diminui o desprazer. A energia que é utilizada para movimentar todo sistema nasce no id, que é de natureza primitiva, instintiva. O ego, que emerge do id, existe para lidar com a realidade e as pulsões básicas do id e agindo ainda como mediador entre as forças que operam no id e no superego e as exigências da realidade externa. O superego, emergindo do ego, atua como um freio moral ou força contrária aos interesses práticos do ego, estabelecendo uma série de normas e regras que definem e limitam a flexibilidade deste último. Nesses termos, o propósito é o fortalecimento do ego. Nunes (1997) retrata que um indivíduo formado sob uma pressão muito forte do superego no campo sexual faz com que o id, seu reservatório energético, acumule excesso de energia e ocasiona uma tensão enorme. Biologicamente o físico reclama um objetivo, que, embora se descubra em processo primário (sonhos noturnos, conversas no sonhar), anseia por uma real satisfação de si próprio. Entende-se sexualidade por toda abrangência afetiva da palavra. O ego, encarregado pelo processo secundário de dirigir-se à realidade, é afetado por uma pressão muito grande do superego, pois tudo que é sexual lhe é ensinado como mau e reprovável, mesmo o relacionamento afetivo com outra pessoa. O processo secundário não responde ao ID no que ele exige; o ego não satisfaz por uma força muito grande do superego. O social torna-se maior que o biológico (Id) e o psicológico (ego). Assim, todo esse conflito de origem sexual é gerador de muita angústia, novamente vemos as forças da instância biológica e cultural trazendo maiores reflexões. TEMA 4 – MECANISMOS DE DEFESA Para que o ego se mantenha integrado, o indivíduo recorre aos mecanismos de defesas, que, segundo Freud, são universais: todas as pessoas fazem uso dele, em maior ou menor intensidade. 9 Os mecanismos de defesa são meios utilizados pelo ego para dominar, controlar para regular a homeostase psíquica. As qualidades necessárias ao funcionamento resiliente pressupõem a flexibilidade dos modelos de ajustamento e de manejo de tais mecanismos, seguidas da criatividade nas formas de adaptação para vencer a adversidade (Fenichel, 2000) Do conflito entre prazer e desprazer surge a angústia, e para lidar com os conflitos, surgem defesas, que têm como finalidade aliviar a tensão interior. De um modo geral, a defesa incide sobre a excitação interna (pulsão) e, preferencialmente, sobre uma das representações (recordações, fantasias) a que está ligada, sobre uma situação capaz de desencadear essa excitação na medida em que é incompatível com este equilíbrio e, por isso, desagradável para o ego. Os afetos desagradáveis, motivos ou sinais da defesa, podem também ser objeto dela. Mecanismos de defesa são ações psicológicas que têm por objetivo reduzir manifestações que ameacem a integridade do ego. Vejamos alguns mecanismos de defesa de que o aparelho psíquico lança mão para lidar com a sexualidade. 4.1 Repressão Um mecanismo de repelir e manter inconsciente pensamentos, imagens e recordações ligadas à pulsão aversivos em áreas inacessíveis da mente inconsciente. Também denominado recalque, é o mais importante dos mecanismos de defesa, utilizado desde os anos iniciais. Afastamo-nos de acontecimentos e situações com os quais somos incapazes de lidar no momento. Mãe de todos os mecanismos de defesa, ao menor sinal de perigo paraa integridade psíquica, a repressão é utilizada pelo ego. A repressão é conceituada como o bloqueio das energias do id no nível do inconsciente, sendo o mais primitivo de todos os mecanismos de defesa. A repressão pode também produzir distorções da realidade, como quando são bloqueadas as lembranças que poderiam desencadear o escoamento de conflitos básicos para a consciência. Nunes e Silva (2006) afirmam que o instinto sexual, de todos os instintos, é o mais reprimido pela cultura e o que mais amplamente se manifesta, seja por via neurótica ou sadia 10 4.2 Negação O mecanismo de defesa denominado negação tem como origem a repressão. Bloqueia percepções do mundo real para evitar o sofrimento, ou seja, as imagens têm acesso à consciência de modo parcial, contudo são negadas, o que acaba sendo uma recusa da realidade dentro dos limites da consciência e a criação de falsas situações para evitar enfrentar (Volpi; Volpi, 2003). Nunes e Silva (2006) destacam o fenômeno da amnésia infantil que acontece na maioria dos indivíduos, normalmente uma falta de memória sobre os seis ou oito primeiros anos de vida. 4.3 Formação reativa A formação reativa transforma atitudes, sentimentos e impulso em seu oposto. Ex.: desejos sexuais intensos podem ser transformados em comportamentos extremamente pudorosos. O indivíduo perderia seu controle caso cedesse, portanto são sentidos como perigosos; ou seja, tem um sentido de autopreservação em algo aceitável Esse mecanismo fica muito em evidência no comportamento de pais e educadores que lidam com a sexualidade de forma a reprimir, condenar e punir. 4.4 Projeção Projeção é uma operação que o sujeito expulsa de si e localiza no outro. O sujeito nega em si próprio características e qualidades que geram desconforto, atribuindo-as ao outro (Almeida, 1996). De acordo com Freud (1976), o efeito do mecanismo de projeção busca romper a ligação entre os representantes ideativos das moções pulsionais perigosas e o ego, impedindo que seja percebido deslocando para o mundo externo. Percebemos um grande incômodo numa parte da população no que diz respeito à sexualidade alheia. Podemos identificar o surgimento da projeção, como base de comportamentos e expressões de preconceito e julgamentos relacionados a sexualidade. 11 4.5 Racionalização Direciona o organismo para a meta a ser alcançada por meio da necessidade psíquica, recobrando o equilíbrio de maneira inconsciente, selecionando e intelectualizando as situações (Almeida, 1996) Almeida (1996) faz o alerta para não confundir racionalização com pensamento racional. O pensamento racional leva a razões, ao passo que a racionalização quer alcançar boas razões para explicar os comportamentos. Observamos que a racionalização e sexualidade ficou muito presente no período histórico em que a ciência tomou o controle da sexualidade e toda explicação era de ordem científica. Ainda observamos esse mecanismo presente em instituições e educadores quando criam medidas de educação sexual. 4.6 Sublimação Volpi e Volpi (2003) revelam que a sublimação é a modificação de um impulso, de forma a ser expresso em conformidade com as demandas do meio, realizando as atividades humanas. A sublimação é um recalque bem sucedido, integra e resolve a ambivalência de forma socialmente produtiva, entre experiências boas e ruins, canalizando impulsos do id para uma postura socialmente útil e aceitável. O ego se transforma sem bloquear a descarga adequada. A sublimação pode transformar passividade em atividade, invertendo os objetivos no oposto (Fenichel, 2000), e acontece com ênfase na fase da latência, quando as tendências sexuais da criança ficam desviadas totalmente ou parcialmente de seu uso próprio e empregados em outros fins. Na vida adulta, a capacidade de sublimação da libido não expressa, dependendo da intensidade, pode ocasionar um afastamento da realidade. O equilíbrio está na capacidade de satisfação direta da sexualidade e capacidade de sublimação (Albertini, 2003). TEMA 5 – SEXUALIDADE E WILHELM REICH Reich acreditava na afirmação de Freud de que a sexualidade era o ponto central dos conflitos emocionais e colocava a repressão da libido como a causa dos distúrbios físicos e emocionais. Com base no entendimento do funcionamento psíquico das instâncias id, ego e superego, a teoria reichiana traz à compreensão que essa dinâmica ocorre também no somático. A criança muito cedo busca o 12 prazer e a satisfação, que são os impulsos e a força do id e vai adaptando sua musculatura para conter esses impulsos de acordo com as situações de proibições, ameaças com as quais vai entrando em contato no decorrer do seu desenvolvimento emocional. Esse avanço do campo somático surgiu com Wilhelm Reich, médico psicanalista austro-húngaro (1897-1957) que teve sua vida e obra marcadas pelas propostas e engajamento social. Nos anos de 1920, foi discípulo de Freud e participou ativamente do movimento psicanalítico. Albertini (2003) retrata que Reich permaneceu na associação psicanalítica por volta de catorze anos, onde aprendeu e desenvolveu suas ideias, contribuindo com a sistematização da técnica terapêutica e elaborando um conjunto de orientações técnicas que foi intitulado análise do caráter. A psicanálise na década de 20 vai assumindo direções que vão contra as percepções de Reich. Reich foi considerado o autor da revolução sexual, foi muito polêmico e trouxe muitas contribuições para o entendimento da importância da sexualidade no desenvolvimento humano. Os principais pontos da teoria de Reich estão em seu livro, escrito em 1942, A função do orgasmo, no qual ele apresenta os princípios de uma economia sexual. Segundo Reich (1975), a saúde psíquica depende da potência orgástica, isto é, da capacidade de entrega no auge da excitação sexual no ato natural. Reich descobriu que a libido era mais que um conceito psíquico, mas uma energia concreta presente no corpo. Volpi e Volpi (2003) revelam que Reich desenvolveu a teoria da autorregulação do organismo chamada potência orgástica, que, para o senso comum, estava relacionada ao ato sexual, mas, para Reich, se relacionava num âmbito maior, em que o indivíduo teria a capacidade de se entregar, livre de quaisquer inibições, ao fluxo da energia biológica. O sistema nervoso vegetativo é formado por dois sistemas nervosos opostos: parassimpático e simpático. O parassimpático produz a expansão e o simpático responsáveis pela contração do organismo. Esse ritmo pulsatório de expansão e contração permeia todo universo. A doença mental e psíquica é um resultado de uma perturbação na capacidade natural do organismo de equilibrar essas funções. As energias vitais, em condições normais, regulam-se espontaneamente, sem dever compulsivo ou moralidade compulsiva. O comportamento antissocial é 13 causado por impulsos secundários que devem sua existência à supressão da sexualidade natural. O autor ainda traz que a fonte da energia da neurose está na diferença entre o acúmulo e a descarga da tensão. A fórmula seria a seguinte: TENSÃO MECÂNICA→ CARGA BIOELÉTRICA →DESCARGA BIOELÉTRICA →RELAXAMENTO. De acordo com Nunes (1997, p. 44), O indivíduo educado numa atmosfera que nega a vida e o sexo adquire uma ansiedade-de-prazer (medo de excitação que dê prazer) que é representada fisiologicamente em espasmos musculares crônicos. Esta ansiedade-de-prazer é o solo em que o indivíduo recria as ideologias que negam a vida. A atmosfera de repressão sexual cria no indivíduo uma armadura corporal denominada couraça, vista como uma confrontação da atitude social negativa diante da vida e do sexo. Nunes (1997) ressalta que essa armadura do caráter é a base da solidão, do desamparo, da ânsia de autoridade, do medo da responsabilidade, os anseios místicos, a misériasexual, da rebeldia impotente, bem como da resignação de um tipo anormal e patológico. Os seres humanos adotaram uma atitude hostil para o que é vivo dentro deles e, assim, alienaram- se de si próprios. A couraça impede o contato com sentimentos e emoções ameaçadoras, mas da mesma forma vai anestesiando para sensações de alegria, prazer e vivacidade. Acaba sendo um aprisionamento do fluxo da energia de vitalidade, pois esses bloqueios distorcem o organismo como um todo. A doença na visão sistêmica reichiana é um processo de interrupção a vida. Volpi e Volpi (2003) mostra que Reich descobriu ainda que a couraça possuía uma sequência no corpo, que, ao liberar a musculatura, era possível liberar emoções, sensações e lembranças que haviam acumulado ao longo da vida do indivíduo, durante repressões ocorridas nas etapas do desenvolvimento. 14 REFERÊNCIAS ALBERTINI, P. Reich e a possibilidade do bem-estar na cultura. Psicologia USP, v. 14, n. 2, São Paulo, 2003. ALMEIDA, W. C. Defesas do ego: leitura didática de seus mecanismos. São Paulo: Ágora, 1996. FENICHEL, O. Teoria psicanalítica das neuroses. São Paulo: Atheneu, 2000. FREUD S. O ego e o id. Rio de Janeiro: Imago, 1976. GABBARD, G. O. Psicoterapia psicodinâmica de longo prazo: texto básico. Porto Alegre: Artmed, 2005. HALL, C. S. LINDZEY, G. Teorias da personalidade. São Paulo: EPU, 1973. NUNES, C. A. Desvendando a sexualidade. 2. ed. Campinas SP: PAPIRUS, 1997. NUNES, C. et al. A educação sexual da criança: subsídios teóricos e propostas práticas. 2. ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2006. REICH, W. A função do orgasmo: problemas econômico-sexuais da energia biológica. São Paulo: Brasiliense, 1975. VOLPI, J. U. H.; VOLPI, S. Da psicanálise à análise do caráter. Rio de Janeiro: Centro Reichiano, 2003. ZIMERMAN, D. E. Fundamentos psicanalíticos. Porto Alegre: Artmed, 1999.
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