Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ESTRUTURA DO MATERIAL GENÉTICO Cada molécula de DNA consiste em duas cadeias polipeptídicas compostas por quatro tipos de subunidades nucleotídicas. Um nucleotídeo é composto por um grupo fosfato, um açúcar (ribose ou desoxirribose) e uma base nitrogenada. A extremidade 5’ é o grupo fosfato e a extremidade 3’ é a hidroxila. Cada fita de DNA atua como um molde para a produção de uma fita complementar. COMPACTAÇÃO DO DNA O cromossomo consiste em uma única e enorme molécula de DNA linear juntamente com proteínas que enovelam e empacotam a fina fita de DNA em uma estrutura mais compacta. A cromatina é o complexo que engloba o DNA e as proteínas fortemente associadas. Éxons são sequências codificadoras e íntrons são sequências não codificadoras. Os genes são compostos por éxons e íntrons, sendo que a maior parte é formada por íntrons. Cada gene está associado a sequências de DNA regulador, as quais são responsáveis pela ativação e pela desativação do gene no devido tempo, expressão no nível adequado e apenas em determinados tipos celulares adequados. ESTRUTURA DOS CROMOSSOMOS Histonas e proteínas cromossômicas não histonas ligam-se ao DNA e formam os cromossomos eucarióticos. Sequências espaçadoras são longas sequências de DNA não codificador que se situam entre os genes. Uma grande parcela dos genomas eucarióticos complexos consiste em sequências repetitivas de DNA não codificador. Ex.: repetições de sequências simples, DNAs satélites, SINEs (elementos de dispersão curtos) e LINEs (elementos de dispersos longos). O DNA está enrolado em torno das histonas, formando um núcleo central, o qual é selado pela histona H1. As histonas são pequenas proteínas que contêm uma grande proporção de AA básicos, os quais facilitam a ligação à molécula de DNA carregada negativamente. Existem cinco tipos principais de histonas: H1, H2A, H2B, H3 E H4. O nucleossomo é a unidade básica da cromatina. Nucleossomo = partícula central + DNA de ligação. A partícula central do nucleossomo é composta de 146 pares de bases de DNA enrolados em torno do octâmero de histonas composto por duas moléculas de cada histona (H2A, H2B, H3 e H4). O cromatossomo é uma subunidade composta de 166 pares de bases de DNA enrolados em torno do núcleo de histonas e mantidos nessa posição pela histona H1. O empacotamento do DNA em nucleossomos produz uma fibra de cromatina de aproximadamente 10nm de diâmetro. A cromatina é condensada novamente, por enrolamento, em uma fibra de 30nm. Existem dois tipos diferentes de cromatina no núcleo em interfase (sem divisão) da célula: eucromatina e heterocromatina. A eucromatina, que representa 90% da cromatina interfásica, é relativamente descondensada (fibra de 10 e 30nm), os genes são transcritos e o DNA é replicado. A heterocromatina, que representa 10% da cromatina interfásica, está em uma forma altamente condensada, seus genes não são transcritos e contém sequências de DNA altamente repetitivas, tais como as sequências presentes nos centrômeros e telômeros. Durante a interfase os cromossomos estão descondensados e são chamados de cromossomos interfásicos. Quando o ciclo celular atinge a fase M, o DNA se torce, adquirindo uma estrutura mais compacta que é o cromossomo mitótico. SEQUÊNCIAS ESPECIALIZADAS DE DNA Origem de replicação do DNA é o local no qual ocorre a duplicação do DNA é iniciada. Os cromossomos eucarióticos possuem várias origens de replicação. Centrômero é a região pela qual as duas cromátides-irmãs permanecem ligadas na metáfase e é composto por sequências específicas de DNA. Proteínas específicas ligam-se ao DNA do centrômero, formando o cinetócoro que é o sítio de ligação das fibras do fuso mitótico. Telômeros é composto por sequências repetidas de DNA que formam alças nas extremidades dos cromossomos, bem como se ligam a várias proteínas que protegem os segmentos terminais do cromossomo de se degradarem ou de se ligarem.ε REPLICAÇÃO DO DNA AS DNA POLIMERASES DNA polimerases em procariotos: As células procarióticas possuem 3 tipos de DNA polimerases: DNA polimerase I: Preenche pedaços pequenos de DNA durante a replicação e processo de reparo por excisão, possui atividade de exonuclease 3’5’ e 5’3’, tem um papel secundário na replicação do DNA. DNA polimerase II: É responsável por reparar o DNA sujeito a erro. DNA polimerase III: É a principal enzima replicativa. As células eucarióticas contêm cinco DNA polimerases: DNA polimerase α, δ e ε: Estão localizadas no núcleo e apresentam maior atividade em células em divisão, o que sugere sua atuação na replicação do DNA nuclear. DNA polimerase γ: Está localizada na mitocôndria e é responsável pela replicação do DNA mitocondrial. DNA polimerase β: É ativa tanto em células que estão em divisão quanto naquelas que não estão em divisão, o que é consistente com sua função no reparo de danos ao DNA. Todas as polimerases sintetizam DNA somente na direção 5’ para 3’, adicionando um desoxirribonucleotídeo (dNTP) no grupamento 3’ hidroxila da cadeia nascente. A energia liberada na quebra de uma ligação anidridofosfórica no trifosfato de nucleotídeo a ser incorporado é usada na reação de polimerização. Caso a DNA polimerase adicionasse dNTP trifosfatados na direção 3’-5, a própria extremidade 5’ da cadeia, em vez do mononucleotídeo a ser incorporado, teria que fornecer o trifosfato ativado necessário à ligação covalente, assim, os erros na polimerização não poderiam ser simplesmente hidrolisados, pois a extremidade 5’ da cadeia assim formada imediatamente terminaria a síntese de DNA, pois não haveria ligação de alta energia para ser clivada permitindo a adição de um novo dNTP. Dessa forma, apenas a replicação do DNA na direção 5’-3’ permite a correção eficiente de erros. As DNA polimerases somente podem adicionar um novo dNTP a uma fita de DNA (primer) que esteja ligado por pontes de hidrogênio a uma fita-molde complementar. Diferentemente, as RNA polimerases podem iniciar a síntese de uma nova fita de RNA na ausência de um primer. FORQUILHA DE REPLICAÇÃO A forquilha de replicação representa uma região de replicação ativa. Nessa região, um complexo multienzimático, o qual atua na síntese das duas fitas novas de DNA. Como a DNA polimerase só adiciona dNTP na direção 5’ para 3’ e as fitas de DNA são antiparalelas, uma fita é lida de forma contínua (fita líder) e outra de forma descontínua (fita retardada). Assim a forquilha de replicação possui uma estrutura assimétrica. A extensão da fita líder na direção do/ movimento da forquilha de replicação expõe o molde para a síntese dos fragmentos de Okazaki. A fita descontínua é produzida em pequenos segmentos sucessivos, chamados de fragmentos de Okazaki, na qual a DNA polimerase polimeriza para trás em relação ao movimento da forquilha, na direção 5’-3’ em cada novo segmento. Em procariontes os primers de RNA são removidos pela ação combinada da enzima RNase H (degrada o RNA dos híbridos RNA-DNA) e da polimerase I (atividade de exonuclease na extremidade 5’, removendo os ribonucleotídeos). Em eucariontes, outras exonucleases desempenha o papel da polimerase I na remoção dos primers, sendo que a polimerase δ é responsável por preencher os nucleotídeos que faltam entre os fragmentos de Okazaki. Após a remoção e substituição dos primers de RNA por DNA esses fragmentos são unidos pela ação da DNA ligase formando uma nova fita intacta logo após um sistema especial de reparo substituir o primer de RNA por DNA. A DNA-ligase religa uma ligação fosfodiéster “clivada”. Para isso, utiliza uma molécula de ATP para ativar a extremidade 5’ na quebra (etapa 1) antes da formação da nova ligação (etapa 2). Desse modo, a reação de ligação, energeticamente desfavorável, é promovida pelo acoplamento do processo de hidrólise do ATP,energeticamente favorável. Ação da DNA-ligase A síntese dos fragmentos de Okazaki só é possível, porque pequenos fragmentos de RNA servem como primers para a replicação do DNA, uma vez que a DNA polimerase não é capaz de iniciar a síntese de novo (pegar um dNTP livre e iniciar a síntese). Esses primers de RNA são sintetizados pela enzima DNA-primase. A síntese de cada fragmento de Okazaki termina quando a DNA polimerase encontra o primer de RNA ligado à extremidade 5’ do fragmento anterior. A utilização de um primer de RNA é preferível no lugar de um primer de DNA, pois qualquer enzima que inicie a síntese de um fragmento de Okazaki necessariamente produz uma cópia relativamente imprecisa o que ocasionaria um enorme aumento na taxa de mutação. Dessa forma, os ribonucleotídeos do primer automaticamente marcam essas sequências como “cópias suspeitas” para que sejam de maneira eficiente removidas e substituídas. PROTEÍNAS QUE ATUAM NA FORQUILHA DE REPLICAÇÃO Proteínas de carregamento do grampo (RFC): Reconhecem e se ligam especificamente ao DNA na junção entre o primer e a fita-molde. Proteínas de deslizamento do grampo (PCNA): Ligam-se às adjacências das proteínas de carregamento do grampo formando um anel em torno da fita-molde de DNA. As PCNAS, então, posicionam a DNA polimerase na junção do primer com a fita-molde. O anel formado pelas proteínas de deslizamento de grampo mantém a associação da polimerase com seu molde à medida que a replicação procede. Tanto a polimerase III quanto as polimerases δ e ε estão associadas com esses dois tipos de proteínas acessórias. Helicases: São enzimas que catalisam o desenrolamento do DNA parental, ação esta associada à hidrólise de ATP, à frente da forquilha de replicação. Proteínas ligadoras de DNA de fita simples (Proteínas SSB): Estabilizam a fita-molde de DNA desenrolada, mantendo-a como fita simples e permitindo que possa ser copiada pela polimerase. Também cobrem e estendem as regiões de DNA de fita simples, através de ligações cooperativas entre as SSB, evitando a formação de pequenos grampos que poderiam impedir a síntese de DNA catalisada pela polimerase. As hélices em forma de grampo que se formam no DNA de fita simples desprotegido resultam do pareamento ao acaso de pequenas regiões com sequências complementares. Topoisomerases: Para que o DNA seja replicado é preciso que as duas fitas parentais, que estão enroladas uma sobre a outra, sejam desenroladas e separadas. Entretanto, esse desenrolamento causa a supertorção do DNA à frente da forquilha de replicação. Essa supertorção é aliviada continuamente pela ação da topoisomerases. Essas enzimas são divididas em dois tipos: A topoisomerase tipo I produz uma clivagem temporária na ligação fosfodiéster na fita simples de DNA, ligando-se covalentemente ao DNA através de uma ligação fosfotirosina, essa quebra na cadeia permite que as duas porções da hélice de DNA, formadas dos dois lados da quebra, girem livremente uma em relação à outra, usando a ligação fosfodiéster na fita oposta à quebra como ponte de suporte para a rotação. A DNA topoisomerase do tipo II é ativada em sítios nos cromossomos onde duas duplas hélices foram cruzadas uma sobre a outra. Essa proteína forma uma ligação covalente com ambas as fitas da hélice de DNA ao mesmo tempo, formando uma quebra de fita dupla temporária na hélice. Na forquilha de replicação, as proteínas cooperam para formar uma maquinaria de replicação, assim, a maior parte das proteínas é mantida unida em um grande complexo multienzimático que sintetiza o DNA rapidamente. Na frente da forquilha de replicação, a DNA-helicase abre a dupla-hélice de DNA. Duas moléculas de DNA-polimerase trabalham na forquilha uma na fita- líder, e outra na fita retardada. Enquanto a molécula de DNA-polimerase na fita-líder pode operar de modo contínuo, a molécula de DNA-polimerase na fita retardada deve reiniciar em intervalos curtos, utilizando os pequenos iniciadores de RNA produzidos pela DNA-primase. O primer de RNA é removido, e o intervalo resultante é preenchido por enzimas de reparo de DNA que atuam atrás da forquilha de replicação. FIDELIDADE DA REPLICAÇÃO A DNA polimerase realiza a primeira etapa da correção e ocorre imediatamente antes da adição covalente de um novo nucleotídeo à cadeia crescente. O pareamento correto é energeticamente mais favorável em comparação com o pareamento incorreto. Além disso, após a ligação do nucleotídeo, mas antes da sua ligação covalente a cadeia crescente, a DNA polimerase precisa sofrer uma alteração conformacional que promove um ajuste desse “encaixe” em torno do sítio ativo. Essa alteração ocorre mais prontamente com o pareamento correto do que com o incorreto, a polimerase pode verificar novamente a geometria exata do paramento de bases antes de catalisar a adição do novo nucleotídeo. Nucleotídeos pareados de forma incorreta são mais difíceis de serem adicionados e, portanto, difundem-se mais prontamente no meio, antes que a polimerase possa adicioná-los de modo errado. Correção exonucleolítica: A DNA polimerase também atua como uma enzima de “autocorreção”, que remove seus próprios erros de polimerização conforme se desloca pelo DNA. Esse tipo de correção ocorre imediatamente após os raros casos em que um nucleotídeo incorreto é covalentemente adicionado a cadeia crescente. Como a DNA polimerase necessita de uma fita iniciadora (primer), previamente pareado com a fita-molde, um malpareamento de nucleotídeos na extremidade 3’-OH da fita iniciadora não serve como molde eficiente porque a polimerase tem dificuldade em alongar a fita. As moléculas de DNA-polimerase corrigem essas fitas iniciadoras com pareamentos incorretos por um sítio catalítico separado. Essa exonuclease de correção de erro 3’-5’ remove qualquer nucleotídeo não pareado ou mal pareado na extremidade do iniciador, continuando até que um número suficiente de nucleotídeos tenha sido removido, e daí regenerar uma extremidade terminal 3’-OH corretamente pareada capaz de iniciar a síntese de DNA. ORIGEM DE REPLICAÇÃO As posições onde a hélice inicialmente é aberta são chamadas de origens de replicação. Em procariotos segmentos de DNA ricos em pares de bases A-T, por possuírem menos ligações de hidrogênio do que o par G-C são relativa- mente mais fáceis de serem separados e, portanto, estão normalmente presentes na origem de replicação. Os cromossomos bacterianos apre- sentam apenas uma origem de replicação. Na primeira etapa da replica - ção, várias moléculas da proteína iniciadora ligam-se a sequências específicas de DNA na origem de replicação e desestabilizam a dupla-hélice pela formação de uma estrutura compacta na qual o DNA é firmemente enrolado ao redor da proteína. A seguir, duas helicases são trazidas ao local pelas proteínas carregadoras das helicases (as proteínas dnaC) que inibem as helicases até que estas estejam corretamente posicionadas na origem de replicação. As proteínas carregadoras das helicases evitam que as hélices replicativas entrem de forma incorreta em outros segmentos de DNA de fita simples no genoma bacteriano. Auxiliadas pela proteína ligadora de fita simples, as helicases posicionadas abrem o DNA, permitindo a entrada das primases e a síntese dos primeiros iniciadores. Nas etapas subsequentes, duas forquilhas de replicação completas são montadas na origem e se deslocam em direções opostas. As proteínas iniciadoras são removidas conforme a forquilha se move para o lado esquerdo. Após o início da replicação, a proteína iniciadora é inativada pela hidrólise da molécula de ATP ligada. A iniciação não pode ocorrer novamente até que os As estejam metilados e a proteína iniciadora restaurada ao estado com ATP-ligado. Em eucariotos existem múltiplas origens de replicação. A maioria das sequênciasde DNA que pode atuar como uma origem contém (1) um sítio de ligação para uma grande proteína de iniciação com múltiplas subunidades chamada ORC (complexo de reconhecimento da origem; (2) uma sequência de DNA rica em As e Ts e, portanto, fácil de desnaturar; e (3) pelo menos um sítio de ligação para proteínas que facilitam a ligação do ORC, provavelmente pelo ajuste da estrutura da cromatina. . Brevemente, durante a fase G1, as helicases replicativas são colocadas no DNA próximas ao ORC, criando um complexo pré-replicativo. A seguir, na passagem da fase G1 para fase S, as proteínas-cinase especializadas se juntam ao complexo e ativam as helicases. Isso resulta na abertura da dupla-hélice o que permite a montagem das demais proteínas replicativas, incluindo as DNA-polimerases. As proteínas-cinase que promovem a replicação do DNA simultaneamente impedem a formação de novos complexos pré-replicativos até a próxima fase M, quando todo o ciclo é reiniciado. Elas atingem esse objetivo, em parte, pela fosforilação do ORC, produzindo um complexo incapaz de interagir com novas helicases. Durante as fases G1, S e G2, a célula cresce continuamente. Na fase M o crescimento para, ocorre a divisão nuclear e a célula se divide em duas. A replicação do DNA é limitada à parte do ciclo celular conhecida como fase S. G1 é o intervalo entre as fases M e S; G2 é o intervalo entre as fases S e M. OS TELÔMEROS E A TELOMERASE O iniciador de RNA final, sintetizado no molde da fita retardada não pode ser substituído por DNA porque não há uma extremidade 3’-OH disponível para a polimerase de reparo. Na ausência de um mecanismo para contornar esse problema, o DNA das extremidades de todos os cromossomos seria perdido cada vez que uma célula se dividisse. Os eucariotos resolvem esse problema por meio de sequência nucleotídicas especiais nas extremidades dos cromossomos denominadas telômeros. As sequências de DNA talomérico são reconhecidas por proteínas ligadoras de DNA que reconhecem uma sequência de DNA específica e atraem a enzima telomerase. A telomerase, então, repõe a sequência talomérica toda vez que a célula se divide. A telomerase é uma transcriptase reversa, isso significa que ela sintetiza DNA a partir de um molde de RNA que leva consigo. Esse molde de RNA é complementar as sequências repetitivas presentes no telômero. Dessa forma, a telomerase permite que a extremidade 3’ da fita de DNA parental seja alongada pela síntese de DNA a partir de um molde de RNA; isso permite que a fita-filha de DNA incompleta pareada a ela seja alongada na direção 5’. Essa fita retardada incompleta provavelmente é completada pela DNA-polimerase alfa, que carrega uma DNA- primase como uma de suas subunidades. Uma nuclease especializada remove a extremidade 5’ de um telômero formando uma saliência na extremidade de fita simples. Essa extremidade – associada às repetições GGGTTA nos telômeros – atrai um grupo de proteínas que formam um tipo de “tampa” cromossômica protetora conhecida como shelterina. A shelterina “esconde” os telômeros dos detectores de lesões celulares que monitoram o DNA continuamente. Em vários tipos celulares, o nível da telomerase é reduzido de tal modo que a enzima não pode mais acompanhar a duplicação cromossômica. Após várias gerações celulares, as células descendentes herdarão cromossomos que não possuem a função do telômero, e, como resultado desse defeito, ativam a resposta a lesões no DNA, provocando sua retirada permanente do ciclo celular e a célula não mais se divide – um processo chamado senescência celular replicativa. REPARO DO DNA Principais alterações no DNA: Depurinação: reação espontânea de hidrólise da ligação N-glicosil à desoxirribose, que resulta na perda de purinas (adenina e guanina). Desaminação: alterações nas bases do DNA por substituir um grupamento amina (-NH2) por uma hidroxila (-OH). As bases desaminadas comportam-se como bases não usuais e fazem pareamentos errôneos. Exposição a produtos químicos: Lesam as bases de DNA ocasionalmente. Formação de dímeros de timina: a radiação ultravioleta do sol pode produzir uma ligação covalente entre duas pirimidinas adjacentes no DNA levando a formação de dímeros de timina. Reversão direta da lesão do DNA: Esse tipo de reparo é utilizado para reparar dímeros de pirimidina e resíduos de guanina alquilados que foram modificados pela adição de grupos metila ou etila na posição O6 do anel purínico. Reparo dos dímeros de pirimidina: Esse tipo de lesão é induzido pela luz UV. As pirimidinas adjacentes na mesma fita de DNA são unidas pela formação de um anel ciclobutano. A formação de tais dímeros distorce a estrutura da cadeia de DNA e bloqueia a transcrição ou a replicação adiante do local da lesão. O mecanismo de reparo se dá pela reversão direta da dimerização. O processo é chamado de fotorreativação, porque a energia da luz visível é utilizada para quebrar a estrutura do anel ciclobutano. A fotorreativação envolve as seguintes etapas: inicialmente, a enzima fotorreativante reconhece e liga-se ao dímero (mesmo na ausência de luz visível); depois, a absorção de luz fornece energia para restituir as bases pirimídicas ao seu estado normal; por fim, a enzima dissocia-se do DNA. A reação ocorre especificamente em procariotos. Reparo de lesões causadas por agentes alquilantes: Esses agentes são compostos reativos capazes de transferir grupos metila ou etila para uma base do DNA, modificando quimicamente essa base. Um exemplo desse tipo de lesão é a metilação na posição O6 da guanina, uma vez que o produto resultante, O6 – metilguanina, forma pareamento com a timina em vez da citosina. Essa lesão é repara pela enzima O6 – metilguanina metiltransferase (presente em eucariotos e em procariotos), a qual transfere o grupo metila da O6 – metilguanina para um resíduo de cisteína em seu centro ativo, restaurando a guanina original. Reparo por Excisão: No reparo por excisão o DNA lesado é identificado e removidos como bases livres ou como nucleotídeos. A falha resultante é, então, preenchida através da síntese de uma nova fita de DNA, usando a fita complementar intacta como molde. Reparo por excisão de base: Nesse tipo de reparo uma única base lesada é identificada e removida da molécula de DNA. A excisão da base lesada é catalisada por uma DNA glicosilase, uma enzima que cliva a ligação entre a base e a desoxirribose do esqueleto do DNA. Essa reação produz uma base livre e um sítio apirimídico, ou seja, um açúcar sem a base correspondente ligada. O resultado da ação das DNA glicosilases é a formação de um sítio apirimídico ou apuriníco (geralmente chamado de sítio AP) no DNA. Esses sítios são reparados por uma endonuclease AP, a qual cliva regiões adjacentes ao sítio AP. A porção desoxirribose restante é, então, removida, e a falha é preenchida pela ação da DNA polimerase e da ligase. Reparo por excisão de nucleotídeo: As bases lesadas são removidas como parte de um oligonucleotídeo contendo a lesão. Em procariotos esse tipo de reparo é catalisado pelas proteínas UvrA, UvrB e UvrC. A proteína UvrA identifica o DNA lesado e recruta UvrB e UvrC para o local. Essas duas últimas proteínas, então, clivam posições 3’ e 5’ adjacentes ao sítio lesado, respectivamente, excisando um nucleotídeo que consiste em 12 ou 13 bases. A ação de uma helicase é então necessária para remover o oligonucleotídeo contendo a lesão da estrutura da fita dupla do DNA, sendo falha resultante preenchida pela DNA polimerase I e pela ligase. Já em célula de mamíferos o dano do DNA é identificado pelo complexo XPC/hHR23B. O fator de transcrição TFIIH, que contém as helicases XPB XPD, e a proteína XPG são recrutados, então, para o DNA danificado. Após o desenrolamento do DNA pelas proteínas XPB e XPD, o dano é confirmado pela proteína XPAe o complexo XPF/ERCCI é recrutado. O DNA é, então, clivado pelas endonuclease XPF/ERCCI e XPG, removendo o oligonucleotídeo danificado. A falha resultante é preenchida pela polimerase δ ou ε ( em associação com RFC e PCNA) e selada pela ligase. Reparo acoplado à transcrição: É uma forma alternativa de reparo por excisão de nucleotídeo, que é destinada especificamente a reparar o dano no interior de genes ativamente em transcrição. Em procariotos o mecanismo de acoplamento entre transcrição e reparação envolve a identificação da RNA polimerase bloqueada na fita de DNA que está sendo transcrito. A RNA polimerase bloqueada é reconhecida pela proteína chamada de fator acoplamento transcrição-reparo, a qual remove a RNA polimerase e recruta a exinuclease UvrABC para o sítio da lesão. Já em células de mamíferos o reparo acoplado à transcrição envolve a identificação do bloqueio da RNA polimerase pelas proteínas CSA E CSB. CSA E CSB agem analogamente ao complexo XPC/hHr23B no recrutamento de XPB, XPD E XPCG para o sítio danificado. Exceto por esse detalhe, o reparo acoplado à transcrição ocorre de maneira semelhante ao reparo por excisão de nucleotídeo. Reparo de malpareamento: Esse mecanismo realiza uma varredura no DNA recém- replicado e identifica bases malpareadas, que não foram removidas pela atividade de correção da DNA polimerase e foram incorporadas ao DNA. Em bactérias, como a E. coli, mecanismo de diferenciação das fitas usados pelo sistema de reparo de pareamento incorreto depende da metilação de determinados resíduos de A no DNA. Os grupos metil são adicionados a todos resíduos de A na sequência GATC, mas somente um tempo após a incorporação deste A na cadeia de DNA recém-sintetizada. O reconhecimento desses GATCs não metilados permite que as fitas novas sejam temporariamente diferenciadas das sequências originais, possibilitando a remoção seletiva do erro. Já em eucariotos, A fita retardada de DNA recém-sintetizada contém quebras temporárias (antes de serem unidas pela DNA-ligase), e essas quebras (também chamadas quebras de fita-simples) fornecem o sinal que direciona o sistema de correção de malpareamento à fita correta. Essa estratégia requer que as fitas de DNA recém-sintetizadas na fita-líder também sejam transitoriamente clivadas.Duas proteínas atuam nesse sistema, tanto em eucariotos como em procariotos. Assim a proteína MutS se liga especificamente a malpareamento, enquanto MutL verifica o DNA adjacente procurando uma quebra. Uma vez encontrada uma quebra, MutL promove a degradação da fita, juntamente com uma helicase e uma exonuclease, com a quebra até o pareamento incorreto. Como as falhas são quase exclusivamente confinadas às fitas recém- sintetizadas em eucariotos, os erros de replicação são removidos seletivamente. Em bactérias, uma proteína adicional no complexo (MutH) que degrada sequências GATC não metiladas (portanto, recém-sintetizadas), iniciando o processo descrito na imagem. Em eucariotos, a MutL contém uma atividade de quebra de DNA que auxilia na remoção da fita danificada. Reparo por recombinação: Consiste na substituição do DNA danificado por recombinação com uma molécula íntegra. Esse mecanismo depende do fato de uma das fitas do DNA parental estar íntegra e, portanto, ter sido copiada durante a replicação para gerar uma molécula-filha normal, que então pode ser usada para reparar a fita danificada. No reparo por recombinação, uma lesão no DNA da fita parental bloqueia a replicação, mas a DNA polimerase pode saltar a lesão e reiniciar a replicação em um novo lugar adiante da lesão. O resultado é uma fenda oposta à lesão na nova fita de DNA sintetizada. Essa falha é preenchida através de fita parental intacta, por recombinação entre as sequências homólogas do DNA. Embora isto deixe uma fenda na fita parental anteriormente, a fenda pode ser preenchida pela ação da polimerase e ligase, usando a fita-filha intacta como modelo. A lesão agora está em uma região oposta a uma fita normal, podendo ser alvo de mecanismo de reparo por excisão de nucleotídeos. TRANSCRIÇÃO E PROCESSAMENTO DE RNA A transcrição e a tradução são os meios pelos quais as células leem, ou expressam, as instruções genéticas de seus genes. A RNA POLIMERASE E A TRANCRIÇÃO EM PROCARIOTOS A RNA polimerase é a principal enzima responsável pela síntese do RNA. Ela catalisa a polimerização de ribonucleosídeos 5’ trifosfatados (NTPs), direcionada por um molde de DNA. Essa enzima catalisa o crescimento da cadeia de DNA sempre na direção 5’ para 3’ e não requer a presença de um primer pré-formado para iniciar a síntese. Em bactérias a RNA polimerase é formada por 5 subunidades: α, β, β’, ω e σ. A subunidade σ está ligada francamente às outras, podendo ser separada, o que não impede que as outras subunidades atuem na catalisação da polimerização de NTPs. Isso indica que a subunidade σ não é necessária para essa atividade, mas é necessária para a identificação dos sítios corretos de iniciação da transcrição. Promotor é a sequência de DNA, a qual a RNA polimerase se liga para iniciar a transcrição de um gene. As sequências promotoras são assimétricas, assegurando que a RNA polimerase possa se ligar em apenas uma orientação. Visto que a polimerase pode sintetizar RNA apenas na direção de 5’ para 3 ‘, a orientação do promotor determina a fita que será utilizada como molde. A região anterior ao sítio de iniciação da transcrição continha dois grupos de sequência, similares em diversos genes, as quais estavam localizadas a aproximadamente 10 e 35 nucleotídeos antes do local do início da transcrição. Por isso, essas regiões são chamadas de -10 e -35, denotando sua posição relativa ao ponto de iniciação da transcrição, o qual é definido como a posição +1. Inicialmente, na transcrição em procariotos, a polimerase liga-se inespecificamente ao DNA e migra ao longo da molécula até que a subunidade σ se ligue aos elementos promotores -10 e - 35 formando o complexo promotor fechado, uma vez que o DNA não está desenrolado. Então a polimerase desenrola o DNA, para formar o complexo promotor aberto, no qual o DNA de fita simples está disponível como molde para a transcrição. A transcrição é iniciada pela união de dois NTPs livres. Após a subunidade σ se dissocia do núcleo central da polimerase, a qual migra pelo DNA e alonga a cadeia nascente de RNA. Durante o alongamento (incorporação dos ribonucleosídeos), à medida que se move, a RNA polimerase desenrola o DNA-molde à sua frente e o enrola novamente após a sua passagem. Quando a RNA polimerase encontra um sinal de terminação (região repetida e invertida rica em GC, seguida de quatro resíduos de A), ponto no qual a transcrição pára, o RNA é liberado da polimerase e a enzima se dissocia do molde de DNA. A transcrição do sinal de terminação resulta na formação de um segmento de RNA capaz de formar uma estrutura estável semelhante a um grampo, por complementaridade de bases. A formação de tal estrutura autocomplementar rompe a associação do RNA com o molde de DNA e termina com sua transcrição. REGULAÇÃO GÊNICA EM PROCARIOTOS O controle da transcrição é mediado pela interação de proteínas regulatórias com sequências específicas de DNA. Controle negativo da transcrição: Nesse mecanismo a proteína repressora ligada impede a transcrição. Exemplificando: Óperons são agrupamentos de genes transcritos coordenadamente. A enzima β-galactosidase catalisa a clivagem da lactose e outras enzimas envolvidas no metabolismo da lactose – lactose permease e a transacetilase – são expressas somente quando a lactose está disponível para uso pela bactéria. Portanto a lactose induz a síntese de enzimas envolvidas no seu próprio metabolismo. “O” representa uma região do DNA que controla a transcrição de genes adjacentes (sequência reguladora cis-atuante), ao passo que ogene i codifica para um fator regulatório (por exemplo, uma proteína) que pode difundir pela célula e controlar genes de ambos os cromossomos, assim, o gene i é um repressor, que bloqueia a transcrição quando ligado a “o”. O óperon somente é altamente expresso quando duas condições são encontradas: a glicose tem que estar ausente e a lactose tem que estar presente A transcrição do operon lac é controlada por o (o operador), que está adjacente ao sítio de início da transcrição. O gene i codifica para um repressor que, na ausência de lactose, liga-se ao operador e interfere com a ligação da RNA polimerase ao promotor, bloqueando a transcrição dos três genes estruturais (β-galactosidase, – lactose permease e a transacetilase). A lactose induz a expressão do operon por ligação ao repressor, impedido, assim, que o repressor se ligue ao operador. Já a repressão do óperon de triptofano se dá da seguinte forma: Se a concentração de triptofano dentro da bactéria está baixa, a RNA-polimerase liga-se ao promotor e transcreve os cinco genes do óperon do triptofano. Entretanto, se a concentração do triptofano estiver alta, a proteína repressora torna-se ativa e se liga ao operador, onde ela bloqueia a ligação da RNA-polimerase ao promotor. Sempre que a concentração intracelular do triptofano cair, o repressor se dissocia do DNA, permitindo que a RNA-polimerase transcreva novamente o óperon. Controle positivo da transcrição: Nesse mecanismo, a proteína ativadora ligada promove a transcrição. Exemplificando: O óperon Lac em E. coli, por exemplo, é controlado tanto pelo repressor Lac quanto pelo ativador CAP. Na ausência de glicose, a bactéria produz cAMP, que se liga a proteína CAP. A ligação do cAMP estimula a ligação de CAP à sua sequência-alvo no DNA. Então CAP interage com a subunidade α da RNA polimerase, facilitando a ligação da polimerase ao promotor, ativando a transcrição. AS RNA POLIMERASES EUCARIÓTICAS As células eucarióticas contêm múltiplas RNA polimerases diferentes que transcrevem classes distintas de genes. RNA polimerase I: Transcreve as três maiores espécies de RNA ribossomais (28S, 18S e 5,8S) RNA polimerase II: Transcreve genes que codificam para proteínas, gerando mRNA, e alguns dos pequenos RNAs envolvidos com splicing e e transporte de proteínas (snRNAs e scRNAs) RNA polimerase III: Transcreve os genes para os tRNAs, para a menor unidade de RNA ribossomal (5S) e alguns dos pequenos RNAs envolvidos com splicing e e transporte de proteínas (snRNAs e scRNAs). Em vez de se ligar diretamente as sequências promotoras, as RNA polimerases eucarióticas necessitam interagir com diferentes proteínas adicionais, para, de maneira especifica, iniciar a transcrição. FATORES GERAIS DE TRANSCRIÇÃO E A INICIAÇÃO DA TRANCRIÇÃO PELA RNA POLIMERASE II (EUCARIOTOS) Proteínas especificas, chamadas de fatores de transcrição, são exigidas pela RNA polimerase para iniciar a transcrição. Os fatores gerais de transcrição estão envolvidos na transcrição de todos os promotores da RNA polimerase II e, portanto, constituem parte da maquinaria básica de transcrição. Fatores de transcrição gene-específicos adicionais se ligam a sequências de DNA que controlam a expressão de genes individuais e são, portanto, responsáveis pela regulação da expressão gênica. A iniciação da transcrição eucariótica in vivo necessita da presença de um grande complexo proteico conhecido como Mediador, o qual permite que as proteínas ativadoras se comuniquem adequadamente com a polimerase II e com os fatores gerais de transcrição, de tal forma que a transcrição possa começar. Os promotores de muitos dos genes transcritos pela polimerase II contêm uma sequência similar TATAA 25 nucleotídeos antes do sítio de iniciação da transcrição. Essa sequência é chamada de TATA-box. A primeira etapa na formação do complexo de transcrição é a ligação de um fator geral de transcrição chamado TFIID ao TATA box, por meio de uma subunidade (proteína de ligação a TATA – TBP) que se liga especificamente à TATA box. A ligação de TFIID é seguida do recrutamento de um segundo fator geral de transcrição (TFIIB), que se liga à TBP. TFIIB, por sua vez, serve como ponte para a RNA polimerase, a qual se liga ao complexo TBP-TFIIB, em associação com um terceiro fator, TFIIF. Após o recrutamento da RNA polimerase II para o sítio promotor, é necessária a ligação de dois fatores gerais (TFIIE e TFIIH) para a iniciação da transcrição. Então, o TFIIH usa a energia da hidrólise do ATP para separar a dupla fita do DNA no ponto de início da transcrição, expondo localmente a fita-molde. O TFIIH também fosforila a RNA-polimerase II, modificando sua conformação de tal modo que a polimerase se dissocia dos fatores gerais e pode iniciar a fase de extensão da transcrição. OBS: TBP é um fator de transcrição comum necessário a todas as três classes de RNA polimerases eucarióticas. INICIAÇÃO DA TRANCRIÇÃO PELAS RNA POLIMERASES I E III (EUCARIOTOS) A RNA polimerase I transcreve apenas rRNA. A transcrição desses genes gera um grande pré- RNA 45S, o qual é então processado para gerar os rRNAs 28S, 18S e 5,8S. O promotor de genes para rRNA (anterior ao sítio de início da transcrição) é identificado por dois fatores de transcrição, UBF (fator de ligação anterior) e SL1 (fator de seletividade 1), os quais se ligam cooperativamente ao promotor e, após, recrutam a polimerase I para formar o complexo de iniciação. Uma vez que o promotor para os genes que codificam o RNA ribossomal não contém a TATA box, a subunidade TBP do fator de transcrição SL1 liga-se com os genes para RNA ribossomal por meio da ligação de outras proteínas ao complexo SL1 no promotor. Os genes transcritos pela polimerase III são expressos a partir de três tipos de promotores. A primeira etapa para a transcrição do gene para rRNA 5S é a iniciação da montagem do complexo de transcrição pela TFIIIA ao se ligar a sequências específicas de DNA no promotor do gene. Após, ocorrerem, sequencialmente, as ligações de TFIIIC, TFIIIB e da RNA polimerase. Nos promotores de genes para tRNA é o TFIIIC que se liga diretamente ao promotor dos genes, servindo para recrutar TFIIIB polimerase para formar o complexo de iniciação. Os promotores da terceira classe de genes transcritos pela polimerase III, incluindo os genes que codificam alguns pequenos RNAs nucleares envolvidos no splicing, contêm um TATA box, assim como um sítio de ligação para outro fator, denominado SNAP. SNAP e TFIIIG ligam-se cooperativamente a esses promotores, com ligação direta da TFIIIB ao TATA box. TFIIIB, então, recruta a polimerase para o complexo de transcrição. REGULAÇÃO GÊNICA EM EUCARIOTOS A região de controle gênico é um conjunto completo de sequências de DNA envolvidas em regular e iniciar a transcrição de um gene eucariótico. Esse termo inclui o promotor, onde os fatores de transcrição gerais e a RNA-polimerase se associam, e todas as sequências reguladoras cis-atuantes nas quais reguladores transcricionais ligam-se para controlar as taxas dos processos de associação no promotor. Sequência regulatórias com atuação em cis: Promotores e Enhancers: Os genes transcritos pela RNA polimerase II têm elementos promotores centrais, incluindo a TATA box e a sequência Inr, que servem como sítios específicos de ligação para os fatores gerais de transcrição. Algumas sequências regulatórias com atuação em cis estão com frequência localizadas anteriormente (bem distantes) ao TATA box. Por exemplo, as sequências chamadas de Enhancers. Essas sequências estimulam a transcrição gênica quando colocadas tanto anteriormente quando posteriormente ao promotor, em uma orientação direta ou inversa. Enhancers, assim como promotores, funcionam por meio da ligação de fatores de transcrição que, então, regulam a RNA polimerase. Isto épossível pela formação de alças no DNA, as quais permitem que um fator de transcrição ligado a um enhancer distante interaja com proteínas associadas com a RNA polimerase no promotor. Estrutura e função dos ativadores transcricionais: Os ativadores transcricionais ligam-se a sequências regulatórias de DNA e estimulam a transcrição. Em geral, esses fatores consistem em dois domínios: uma região da proteína se liga especificamente ao DNA, enquanto a outra estimula a transcrição por meio de interações proteína-proteína com outros componentes da maquinaria transcricional. Os domínios de ativação estimulam a transcrição por meio de dois mecanismos diferentes. Primeiro, interage com as proteínas do mediador e com os fatores gerais de transcrição, para recrutar a RNA polimerase e facilitar a formação de um complexo de transcrição junto ao promotor. Além disso, os fatores de transcrição eucarióticos interagem com vários coativadores, que estimulam a transcrição mediante a modificação da estrutura da cromatina. Repressores eucarióticos: Os repressores eucarióticos se ligam a sequências específicas do DNA e inibem a transcrição de diferentes maneiras, como: O repressor pode simplesmente interferir com a ligação de outros fatores de transcrição ao DNA; Os repressores podem competir com os ativadores pela ligação com sequências regulatórias especificas. Isso ocorre, porque o repressor possui o mesmo domínio de ligação ao DNA que o ativador, mas não possui seu domínio de ativação. Como resultado, a ligação a um promotor ou a um enhancer bloqueia a ligação do ativador, inibindo a transcrição; Os chamados repressores ativos contêm domínios funcionais específicos que inibem a transcrição através de interações proteína-proteína. Os alvos funcionais dos repressores também são diversos, os repressores podem inibir a transcrição por meio da interação com proteínas ativadoras específicas, proteínas mediadoras ou fatores gerais de transcrição, bem como com co-repressores que modificam a estrutura da cromatina. Relação entre estrutura da cromatina e transcrição: Ativadores transcricionais eucarióticos promovem a transcrição dando início a mudanças na estrutura da cromatina de promotores, fazendo a sequência de DNA associada ficar mais acessível. As maneiras mais importantes de alterar localmente a estrutura da cromatina ocorrem por modificações covalentes nas histonas, por remodelagem de nucleossomos, por remoção de nucleossomos e por substituição de histonas. Os ativadores transcricionais eucarióticos usam todos esses quatro mecanismos: portanto eles atraem coativadores que incluem enzimas modificadoras de histonas, complexos de remodelagem da cromatina dependentes de ATP e chaperonas de histonas, cada um dos quais podendo alterar a estrutura da cromatina dos promotores. Essas alterações locais na estrutura da cromatina fornecem um maior acesso ao DNA, facilitando, desse modo, a montagem dos fatores de transcrição gerais no promotor. Além disso, algumas modificações de histonas atraem especificamente essas proteínas para o promotor. Esses mecanismos com frequência atuam em conjunto durante a iniciação da transcrição. Acetilação de histonas: As histonas localizadas logo à frente da polimerase podem ser acetiladas, por coativadores com atividade de histona acetiltransferese (HAT), removidas por chaperonas de histonas e depositadas atrás da polimerase em movimento. Então, essas histonas são rapidamente desacetiladas, por corepressores com atividade de histona desacetilase (HDAC), e metiladas, também por complexos carregados pela polimerase, deixando atrás nucleossomos especialmente resistentes à transcrição. Esse processo notável parece impedir o suposto reinício da transcrição atrás de uma polimerase em movimento, o que, em essência, deve liberar o caminho através da cromatina conforme ocorre a transcrição. A acetilação reduz a carga líquida positiva das histonas e pode enfraquecer a ligação ao DNA. Além disso, a acetilação das histonas facilita a ligação dos fatores de transcrição ao DNA nucleossomal, indicando o aumento do acesso, à cromatina, de proteínas que se ligam ao DNA. • Além de afetarem a estrutura da cromatina, as modificações específicas das histonas afetam a expressão gênica, ao fornecerem sítios de ligação para outras proteínas reguladoras da transcrição. Fatores de remodelamento de nucleossomos: São complexos proteicos que alteram o arranjo ou a estrutura do nucleossomo, sem remover ou modificar covalentemente as histonas. Um dos mecanismos de ação desse sistema é catalisar o deslizamento dos octâmeros de histonas ao longo da molécula de DNA, desse modo reposicionando os nucleossomos, para modificar a acessibilidade das sequências específicas de DNA com proteínas reguladoras da transcrição. Esses fatores podem se recrutados para o DNA em associação com ativadores ou repressores transcricionais e podem alterar o arranjo dos nucleossomos, estimulando ou inibindo a transcrição. As histonas são modificadas não só pela acetilação, mas também pela fosforilação de resíduos de serina, metilação de resíduos de lisina e argenina e adição de ubiquitina aos resíduos de lisina. Da mesma forma que a acetilação, essas modificações ocorrem em resíduos específicos de aminoácidos de caudas das histonas e estão associadas com mudanças na atividade transcricional. Metilação do DNA: Resíduos de citosina no DNA de vertebrados podem ser modificados pela adição de grupos metila no carbono da posição 5. O DNA é especificamente metilado nos Cs que precedem os Gs na cadeia de DNA (dinucleotídeos CpG). Esta metilação está correlacionada com atividade transcricional reduzida de genes que contêm alta frequência de dinucleotídeos CpG na vizinhança de seus promotores. A metilação inibe a transcrição desses genes pela interferência com a ligação de alguns ativadores transcricionais, assim como o recrutamento de repressores que se ligam especificamente ao DNA metilado. Apenas os genes que já estão reprimidos se tornam metilados. Assim, em vez de ser a causa primária da inativação transcricional, a metilação do DNA serve principalmente para estabilizar e manter a inativação dos genes durante o desenvolvimento. PROCESSAMENTO DO RNA Os RNAs bacterianos são usados de maneira imediata como molde para síntese proteica enquanto ainda estão sendo transcritos, não necessitam serem modificados. Os transcritos primários de rRNA e tRNA deve sofrer uma série de passos de processamento, tanto em células procarióticas quanto em células eucarióticas. Os transcritos primários de mRNA sofrem modificações extensas antes de serem transportados do núcleo para o citoplasma para servirem como molde para a síntese proteica. Processamento do RNA ribossomal (similar em eucariotos e em procariotos): As células procarióticas possuem três rRNAs (16S, 23S e 5S), que são formadas pela clivagem de um pré-rRNA. A clivagem inicial do pré-rRNA bacteriano gera precursores separados para cada um dos três rRNAs. Estes são posteriormente processados por clivagens secundárias para gerar os produtos finais. Células eucarióticas possuem quatro rRNAs. Um desses (5S) é transcrito de um gene separado, os outros (18S, 28S e 5,8S) são derivados de um pré-rRNA comum. O pré-rRNA primeiro é clivado em um sítio adjacente ao rRNA 5,8S em sua extremidade 5’ gerando dois precursores separados (18S e 28S+5,8S). RNAs-guia (pequenos RNAs nucleares, denominados de snoRNA) promovem a clivagem dos rRNAs precursores em rRNAs maduros, provavelmente por causarem modificações conformacionais no rRNA precursor, que expõem esses sítios para as nucleases. O processamento do rRNA envolve a adição de grupos metila nas bases e nos açucares de nucleotídeos específicos, especificada por “RNAs-guia”, que se posicionam no rRNA precursor pelo pareamento de bases e, assim,trazem uma enzima modificadora de RNA para a posição apropriada. Essas modificações provavelmente auxiliam no enovelamento e na união dos rRNAs finais, ou alteram sensivelmente a função dos ribossomos. Processamento do RNA transportador (similar em eucariotos e em procariotos): Tanto em bactérias quanto em eucariotos os RNAs transportadores são derivados de pré- tRNAs. A clivagem na extremidade 5’ do tRNA é catalisada pela ribozima RNase P; a clivagem da extremidade 3’ é catalisada por uma RNase proteica convencional. A terminação CCA é adicionada à extremidade 3’ de muitos tRNAs em uma etapa de processamento pós-transcricional. Essa sequência é os sítios de ligação do aminoácido, sendo, portanto, necessária para a função do tRNA durante a síntese proteica. Alguns pré- tRNAs contêm íntrons que são removidos por splicing. O splicing do tRNA é mediado por enzimas proteicas convencionais. Uma endonuclease cliva o pré-tRNA nos sítios de splicing para excisar o íntron, seguido pela união dos éxons para formar uma molécula de tRNA madura. Processamento do mRNA em eucaritos: Em vez de ocorrerem como eventos independentes depois da síntese de um pré-mRNA, as reações de processamento são acopladas à transcrição, de modo que a síntese e o processamento do mRNA são etapas estritamente coordenadas da expressão gênica. O domínio C terminal (CTD) da RNA polimerase II funciona como um sítio de ligação para os complexos enzimáticos envolvidos no processamento do mRNA. Capeamento da extremidade 5’: Assim que a RNA polimerase II tenha produzido aproximadamente 25 nucleotídeos de RNA, a extremidade 5’ da nova molécula de RNA é modificada pela adição de um “quepe” ou capa que consiste em um nucleotídeo de guanina modificado. A reação de capeamento é realizada por três enzimas que agem sucessivamente: A enzima fosfatase remove um fosfato da extremidade 5’ do RNA nascente, a guaniltransferase adiciona um GMP em uma ligação reversa (5’ para 5’ em vez de 5’ para 3’), e a metiltransferase adiciona um grupo metila à guanosina. Todas as três enzimas ligam- se à cauda fosforilada da RNA-polimerase. O quepe metil 5’ estabiliza o RNA, assim como alinha os mRNAs eucarióticos durante a tradução. Poliadenilação: A extremidade 3’ de muitos dos mRNA eucarióticos não é determinada pelo término da transcrição, mas sim pela clivagem do transcrito primário e adição de uma cauda de poli-A. Os sinais para a poliadenilação incluem um hexanucleotídeo altamente conservado, localizado antes do sítio de poliadenilação, e um elemento de sequência rico em GU de localização próxima a extremidade 5’. Essas sequências são reconhecidas por um complexo de proteínas, incluindo uma endonuclease que cliva a cadeia de RNA e a poli- A polimerase que adiciona a cauda de poli-A, de aproximadamente 200 nucleotídeos, ao transcrito. Essas enzimas do processamento estão associadas como CTD fosforilado de RNA polimerase II. A clivagem e a poliadenilação sinalizam o término da transcrição. A cauda poli-A regula tanto a tradução quanto a estabilidade do mRNA. Splicing: • O splicing do pré-mRNA ocorre em duas etapas. Primeiro, o pré-mRNA é clivado no sítio 5’ de splicing, sendo a extremidade 5’ do íntron unida a um nucleotídeo de adenina dentro do íntron (perto da sua extremidade 3’). Nesta etapa forma-se uma ligação entre a extremidade 5’ do íntron e o grupo 2’-hidroxila do nucleotídeo de adenina. O intermediário resultante tem uma estrutura em laço, com o íntron formando uma alça. Na segunda etapa, ocorrem dois eventos simultâneos: a clivagem do sítio 3’ de splicing e a ligação de dois éxons. A extremidade 3’-OH livre liberada da sequência do éxon reage com o início da sequência do éxon seguinte, unindo os dois éxons e liberando a sequência do íntron na forma de um laço. • A maquinaria de splicing deve reconhecer três regiões na molécula RNA precursora: sequências do sítio 5’ de splicing, sequências do sítio 3’ de splicing e sequências dentro do íntron junto ao ponto de ramificação (o ponto no qual a extremidade 5’ do íntron é ligada para formar a estrutura em laço). Pré-mRNAs contêm sequências-consenso similares nestas posições, permitindo que o aparato de splicing identifique o pré-mRNA e proceda as reações de clivagem e ligação envolvidas no processo. • O splicing ocorre em grandes complexos, chamados de spliceossomos, compostos de proteínas e RNA. Os RNAs componentes dos spliceossomos são cinco tipos de RNAs nucleares pequenos (snRNAs) chamados de U1, U2, U4, U5, U6. Os snRNAs estão complexados com seis a dez moléculas proteicas para formar pequenas partículas nucleares de ribonucleoproteínas (snRNPs). • A primeira etapa na montagem do spliceossomo é a ligação da snRNPs U1 ao sítio 5’ de splicing do pré-mRNA, por meio do pareamento de bases entre a sequência consenso do sítio 5’ de splicing e uma sequência complementar na extremidade 5’ do snRNP U1. Após a snRNP U2 se liga ao ponto de ramificação por complementariedade no pareamento de bases entre snRNP U2 e sequências no ponto de ramificação. Então, um complexo pré-formado consistindo nas snRNPs U4, U5 e U6 é incorporado ao spliceossomo, com U5 se ligando a sequências anteriores ao sítio 5’ de splicing. Assim, a reação de splicing é acompanhada de rearranjos dos snRNPs. Antes da primeira reação (formação do intermediário em forma de laço), U6 se dissocia de U4 e desloca U1 do sítio 5’ de splicing. Após U5 se liga a sequência no sítio 3’ de splicing, seguido pela remoção do íntron e ligaçãos do éxons. • O propósito desses rearranjos é permitir que os sinais de splicing do pré-RNA sejam examinados pelos snRNPs diversas vezes durante o processo de splicing. Além disso, os rearranjos que ocorrem no spliceossomo criam os sítios ativos para as duas reações de transesterificação. Esses dois sítios ativos são criados um após o outro e somente após os sinais de splicing no pré-mRNA terem sido verificados várias vezes. Essa progressão ordenada garante que erros de splicing ocorrerão apenas raramente. • Os snRNAs também catalisam diretamente a reação de splicing. • Os fatores de splicing servem para direcionar os spliceossomos para os sítios de splicing corretos, mediante ligações a sequências específicas de RNA localizadas no interior dos éxons, e depois recrutam as snRNPs U1 e U2 para os sítios adequados, no pré-mRNA, por meio de interações proteína -proteína. Além disso, os fatores de splicing acoplam o splicing à transcrição, mediante associação com o CTD fosforilado da RNa polimerase II, assegurando, dessa forma, que o éxons sejam reunidos na ordem correta conforme o pré-mRNA é sintetizado. Splicing alternativo: transcritos de vários genes eucarióticos (estimam-se 95% dos genes em humanos) sofrem splicing de diferentes maneiras, permitindo que um mesmo gene produza um conjunto correspondente de diferentes proteínas. EDIÇÃO DO RNA A edição de RNA se refere aos eventos de processamento de RNA (que não o splicing) que alteram as sequências codificantes de alguns mRNAs. Em células de mamíferos, as reações de edição do RNA incluem a desaminação da citosina em uridina e da adenosina em inosina. A edição do mRNA para apoliproteína B (transporta lipídeos no sangue) é um exemplo de desaminação da citosina em uridina. Neste caso, a edição tecido específica do RNA resulta em duas formas diferente de apoliproteína B. em humano a Apo-B100 é sintetizada no fígado por tradução de um mRNA que não sofre edição. Contudo, uma proteína mais curta (Apo-B48) é sintetizada no intestino como resultado da tradução de um mRNA editado, no qual um C é trocado por U através de desaminação. A edição do mRNA por desaminação da adenosina em inosina é a forma mais comum de edição do RNA nuclear, nos mamíferos. Esse tipo de edição desempenha um papel importante no sistema nervoso, no qual a edição de adenosina parainosina (A-para-I) resulta em substituições de um único aminoácido nos receptores de algumas moléculas sinalizadoras na superfície dos neurônios. TRADUÇÃO DO RNA Todos os RNAs mensageiros são lidos na direção de 5’ para 3’, e as cadeias polipeptídicas são sintetizadas da extremidade amina para a carboxila terminal. Cada aminoácido é especificado por três bases (um códon) no mRNA. A síntese proteica envolve interação entre o mRNA, tRNA e rRNA. RNAS TRANSPORTADORES Durante a tradução, cada um dos 20 aminoácidos deve ser alinhado com o seu códon correspondente no molde de mRNA. Uma variedade de RNAs transportadores servem como adaptadores para esse processo. Cada tRNA possui uma sequência identificadora única que permite que o aminoácido correto seja ligado e alinhado com o códon apropriado no mRNA. A função de adaptador dos RNAs transportadores envolve duas regiões distintas da molécula. Todos os RNAs transportadores têm a sequência CCA no seu 3’ terminal e os aminoácidos são covalentemente ligados à ribose da adenosina terminal. O molde de mRNA é, então, reconhecido pela alça onde está o anticódon que se une ao códon adequado pela pareamento de bases complementares. A ligação dos aminoácidos a RNAs transportadores específicos é mediada por um grupo de enzimas chamadas de tRNA aminoacil sintetases. Cada uma dessas enzimas reconhece um único aminoácido, bem como o tRNA correto ao qual o aminoácido deve ser ligado. A reação segue em dois passos. Primeiro, o aminoácido é ativado pela reação com ATP para formar um aminoacil AMP sintetase intermediária. O aminoácido ativado é, então, unido ao 3’ terminal do tRNA. Após ser ligado ao tRNA, um aminoácido é alinhado ao molde de mRNA pelo pareamento de bases complementares entre o códon do mRNA e o anticodón do tRNA. A maioria dos aminoácidos é especificada por mais de um códon (61 códons codificam aminoácidos). Essa redundância resulta da ligação de um aminoácido a mais de uma espécie de tRNA. Além disso, alguns RNAs transportadores são capazes de reconhecer mais do que um códon o mRNA, como resultado de um pareamento de bases atípico (chamado de oscilação) entre o anticódon do tRNA e a terceira posição de alguns códons complementares. O pareamento de bases relaxado nesta posição resulta parcialmente da formação de pares de bases G-U e parcialmente da modificação da guanosina para inosina nos anticódons de vários RNAs transportadores durante o processamento. A inosina pode parear tanto com C, U ou a na terceira posição, de modo que a sua inclusão no anticódon permite que um único tRNA reconheça três diferentes códons nos moldes de mRNA. RIBOSSOMO Tanto os ribossomos das células eucarióticas como das células procarióticas são compostos de duas subunidades distintas, cada uma contendo proteínas características e RNAs ribossomais. Os RNAs ribossomais formam estrutura secundárias características pelo pareamento de bases complementares. Em associação com as proteínas ribossomais, os RNAs ribossomais, posteriormente, dobram-se em estruturas tridimensionais distintas. A subunidade ribossomal grande é capaz de catalisar a formação de ligações peptídicas (a reação de peptidil transferase). O rRNA é o responsável pela catálise da formação das ligações peptídicas. INÍCIO DA TRADUÇÃO A tradução não inicia exatamente na extremidade 5’ do mRNA; ela começa em sítios específicos de iniciação. Os RNS mensageiros que codificam múltiplos polipeptídios são chamados de policistrônicos, enquanto os RNA mensageiros monocistrônicos codificam para uma única cadeia polipeptídica. Tanto mRNAs procarióticos quanto eucarióticos contêm regiões não traduzidas (UTR) em suas extremidades 5’ e 3’. Os mRNAs eucarióticos também contêm um cap de 7-metilguanosina e uma cauda poli-A. mRNAs procarióticos frequentemente são policistrônicos, sendo que cada proteína é traduzida a partir de um sítio de iniciação independente. mRNAs eucarióticos geralmente são monocistrônicos. Em ambas as células procariótica e eucarióticas, a tradução sempre inicia com o aminoácido metionina, geralmente codificado por AUG. Os sítios de iniciação em, em RNAs mensageiros procarióticos, são caracterizados por uma sequência de Shine-Delgarno que precede o códon de iniciação AUG. O pareamento de bases entre a sequência de Shine-Delgarno e a sequência complementar próxima a extremidade 3’do rRNA 16S alinha o mRNA no ribossomo. OS RNAs mensageiros eucarióticos são ligados a subunidade ribossomal 40S pelos seus cap 7-metilguanosina na extremidade 5’. O ribossomo, então, percorre o mRNA até encontrar um códon de iniciação AUG. O PROCESSO DE TRADUÇÃO A tradução é geralmente dividida em três estágios: iniciação, alongamento e terminação. Iniciação (procariotos e eucariotos): Ligação de um iniciador específicos de tRNA metionil e do mRNA à subunidade ribossomal pequena. A subunidade ribossomal grande, então, liga o complexo, formando um ribossomo funcional, no qual o alongamento da cadeia peptídica prossegue. Iniciação em procariotos: Inicialmente ocorre a ligação de três fatores de iniciação (IF-1, IF-2 e IF-3) à subunidade ribossomal 30s. Então o mRNA e o tRNA N-formilmetionil iniciador unem-se ao complexo, com IF-2 (que é ligado a GTP) reconhecendo especificamente o tRNA iniciador. O IF-3 é, então, liberado permitindo que uma subunidade ribossomal 50s associe-se ao complexo. Essa associação desencadeia a hidrolise do GTP ligado ao IF-2, que leva a liberação de IF-1 e IF-2. O resultado é a formação de um complexo de iniciação 70S. Iniciação em eucariotos: Os fatores de iniciação eIF-1, eIF-1A, eIF-3 e eIF-5 ligam-se a subunidade ribossomal 40S e ao eIF-2 (em um complexo com GTP) associado com tRNA metionil iniciador. O mRNA é reconhecido e levado ao ribossomo pelo grupo de fatores eIF- 4. O cap na extremidade 5’ do mRNA é reconhecido pelo eIF-4E. Outro fator, eIF-4G, liga- se o eIF-4Ee a uma proteína PABP (proteína de ligação ao poli-A) associada com a cauda poli-a na extremidade 3’ do mRNA. Os fatores de iniciação eIF-4E e eIF-4G, em associação com eIF-4A e eIF-4B, levam o mRNa à subunidade ribossomal 40S, com eIF-4G interagindo com eIF-3. Assim, a subunidade ribossomal 40S, em associação com o tRNA metionil e eIFs ligados, percorre o mRNA até identificar o códon de iniciação AUG. Quando o códon AUG é identificado, o eIF-5 desencadeia a hidrolise o GTP ligado ao eIF-2. Os fatores de iniciação são então liberados e uma subunidade 60S une-se a subunidade 40S para formar o complexo de iniciação 80S da célula eucaritótica. Alongamento (procarioto e eucarioto): O ribossomo tem três sítios para ligação do tRNA, designados sítio P (peptidil), sítio A (aminoacil) e sítio E (saída). O tRNA metionil iniciador é ligado ao sítio P. O primeiro passo no alongamento é a ligação do próximo tRNa aminoacil ao sítio a pelo pareamento com o segundo códon do mRNA. O tRNA aminoacil é acompanhado até o ribossomo por um fator de alongamento (EF-Tu em procariotos, eEF- 1α em eucariotos), que está complexado ao GTP. A inserção correta de um tRNA aminoacil em um sítio a desencadeia uma mudança de conformação que induz a hidrolise do GTP ligado ao EF-Tu e a liberação do fator de alongamento ligado ao GDP. Com a liberação do fator de alongamento, uma ligação peptídica pode ser formada entre o tRNA metionil no sítio P e o segundo tRNA aminoacil no sítio A. Assim, o tRNA iniciador fica descarregado no sítio P. O próximo passo no alongamento é a translocação, que requer outro fator de alongamento (EF-G em procariotos e EF-2 em eucariotos) e é, agora, acoplado a hidrolise de GTP. Durante a translocação, o ribossomo move-se três nucleotídeos sobre o mRNa, posicionando o próximo códon em um sítio A vazio. Esse passo transloca o tRNa peptidil do sítio A para o sítio P e o tRNA descarregado do sítio P parao sítio E. Com o sítio a vazio ocorre a ligação de um novo tRNA aminoacil ao sítio, essa ligação induz a liberação do tRNa descarregado do sítio E. O alongamento da cadeia polipeptídica continua até que um códon de parada (UAA, UAG ou UGA) seja translocado no sítio A do ribossomo. Esses códons de parada, ao invés de tRNAs, têm fatores de liberação que reconhecem os sinais no sítio A e terminam a síntese proteica. • A conversão do fator de alongamento (EF-G em procariotos e EF-2 em eucariotos) à sua forma GTP requer um terceiro fator de alongamento EF-Ts (eEF-1βγ em eucariotos), que se une ao complexo EF-Tu/GDP e promove a troca de um GDP ligado por um GTP, permitindo que o EF-Tu inicie um novo ciclo de alongamento. REGULAÇÃO DA TRADUÇÃO Um mecanismo de regulação da tradução é a ligação de proteínas repressoras, que bloqueiam a tradução, a sequências específicas do mRNA. A tradução do mRNA da ferritina, uma proteína que armazena o ferro dentro da célula, é regulada pelo fornecimento de ferro: mais ferritina é sintetizada se o ferro for abundante. Essa regulação é mediada por uma proteína que (na ausência de ferro) se liga a uma sequência (o elemento de resposta ao ferro ou IRF) na região 5’ não traduzida do mRNa da ferritina, bloqueando sua tradução. Na presença de ferro, o repressor não se liga mais ao IRF e a tradução da ferritina é capaz de prosseguir. Outro mecanismo de regulação da tradução em células eucarióticas envolve a modulação das atividades dos fatores de iniciação, particularmente eIF-2 e eIF-4E. A forma ativa de eIF-2 (complexada com GTP) conduz o tRNA metionil iniciador ao ribossomo. O eIF-2 é depois liberado do ribossomo em uma forma inativa ligada ao GDP. A fim de continuar a tradução, o eIF-2 deve ser reativado por eIF-2B, que estimula a troca de GTP pela ligação com o GDP. A tradução pode ser inibida (por exemplo, se as células se tornarem carentes de fatores de crescimento) por proteoquinases regulatória que fosforilam eIF-2 e eIF-2B. Essas fosforilações bloqueiam a troca de GDP por GTP de maneira que o complexo eIF-2/GDP não possa ser regenerado.
Compartilhar