PCC - Psicologia do Desenvolvimento

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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
CURSO DE GRADUAÇÃO EM LETRAS - ESPANHOL
ANA MARIA COELHO DE SOUSA
PRÁTICA COMO COMPONENTE CURRICULAR DA DISCIPLINA PSICOLOGIA
DO DESENVOLVIMENTO E DA APRENDIZAGEM - PCC 2021.1: O
desenvolvimento infantil e a primeira infância - A influência das funções executivas
IPATINGA
2021
1 – Introdução
A primeira infância compreende os primeiros seis anos de vida da criança. É um
período que corresponde a uma etapa importante e determinante para o
desenvolvimento das habilidades do indivíduo. Para Piaget, o período de
desenvolvimento que ocorre dos 2 aos 7 anos de idade é chamado de Fase
Pré-operatória. Nessa fase, a criança desenvolve a linguagem, assume sua
identidade e reconhece a si mesma, apesar das mudanças constantes pelas quais
seu corpo passa. Ela também desenvolve a função simbólica, sendo capaz de
associar palavras a símbolos, e adquire a capacidade de se colocar no lugar do
outro através da imaginação, imitando pessoas que conhece e encenando situações
que presenciou.
O cérebro infantil possui a mesma forma que o cérebro do adulto, mas o que faz o
desenvolvimento cognitivo não é a forma, e sim as ligações entre os neurônios. A
qualidade dos estímulos resulta na maneira como a criança vai se relacionar com o
mundo à sua volta. As descobertas, experiências e o afeto, quando bem
fortalecidos, serão levados por toda vida. A criança reflete muito o que está a sua
volta.
Em estudos relacionados ao desenvolvimento dessas habilidades, foi verificado que
as funções executivas se desenvolvem rapidamente na infância (maior efeito de
idade em crianças de 5 a 7 anos), com mudanças mais modestas ocorrendo em
crianças mais velhas e mesmo durante a adolescência. Esse mesmo tempo de
desenvolvimento é encontrado no desenvolvimento do córtex pré-frontal, o que nos
leva a crer que o desenvolvimento das funções executivas estão necessariamente
dependentes do desenvolvimento do córtex pré-frontal.
Por outro lado, evidências também têm sugerido importante papel do ambiente no
desenvolvimento das funções executivas. Como se diversas variáveis ambientais
parecem impactar o desenvolvimento dessas habilidades, como nível
socioeconômico, cultura, ambiente familiar e estilo de interação entre a criança e
seus pais.
O estímulo cognitivo, social, físico, e afetivo, podem e devem ser desenvolvidos em
cada fase da criança, e principalmente na primeira infância. São áreas que
precisam ser desenvolvidas na mesma proporção e com o mesmo cuidado. As
crianças são surpreendentes, aprendem com muita facilidade, seja através de
brincadeiras, repetições, relacionamentos significativos e outras interações.
2 – Desenvolvimento
O período da vida compreendido do nascimento até os seis anos de idade,
chamado de primeira infância, constitui um período sensível para o desenvolvimento
de diversas habilidades. Nesta fase da vida, há elevada plasticidade cerebral, o que
significa uma maior capacidade de transformação do cérebro devido aos estímulos
e experiências vivenciados. As habilidades desenvolvidas neste início serão
fundamentais para o desenvolvimento de habilidades mais complexas em fases
posteriores da vida.
Entre as habilidades que encontram na primeira infância seu período sensível de
desenvolvimento, destacam-se as relacionadas com as funções executivas. As
funções executivas são fundamentais para que o indivíduo, progressivamente,
gerencie os diferentes aspectos de sua vida com autonomia. A capacidade de tomar
decisões com autonomia, refletir e gerenciar comportamento não é inata e, sim,
construída pela criança, a partir de interações sociais adequadas. E o
funcionamento executivo é essencial para tais capacidades.
Cabe ressaltar ainda que parte importante do desenvolvimento cerebral ocorre
antes mesmo do nascimento. Aos cinco meses de gestação, o cérebro do feto
possui quase a mesma quantidade de neurônios do que o cérebro de um adulto. Há
evidências de que a exposição do feto ao álcool prejudica o desenvolvimento do
córtex pré-frontal e do funcionamento executivo e está relacionada a maior
impulsividade e desorganização. Além do álcool, outras drogas utilizadas durante a
gestação podem constituir adversidades intrauterinas com efeitos negativos sobre o
desenvolvimento das funções executivas. Adicionalmente, estudos mostram que as
condições de saúde física (nutrição/obesidade) e mental (estresse/depressão) da
gestante influenciam o desenvolvimento cerebral do bebê.
Até os seis anos, é possível elevar substancialmente a proficiência em habilidades
relacionadas às funções executivas e esse desenvolvimento será determinante para
o amadurecimento destas em idades posteriores. Portanto, a evolução do
funcionamento executivo na primeira infância será o embrião da aquisição de
habilidades de funções executivas nas outras etapas da vida.
Encontra-se relação entre o nível de desenvolvimento das funções executivas na
infância e diversos indicadores de qualidade de vida na fase adulta. Por exemplo, há
um estudo que acompanhou 1.000 crianças nascidas no mesmo ano e na mesma
cidade, por 32 anos. Descobriu-se que crianças, de três a onze anos de idade, com
um melhor desenvolvimento do controle inibitório (menos impulsivas, mais
persistentes) tinham maior probabilidade de permanecer na escola e não fumar ou
usar drogas na adolescência.
As funções executivas constituem uma aquisição complexa que é frágil, pois
apresenta-se vulnerável a condições negativas de diversos tipos, desde fatores
genéticos ou adversidades no ambiente vivenciado pela criança. A exposição das
crianças ao estresse afeta a dinâmica dos circuitos cerebrais e prejudica tanto a
aquisição de habilidades de funcionamento executivo, como a utilização de
capacidades já construídas.
Assim, ambientes desfavoráveis podem comprometer o desenvolvimento das
habilidades relativas às funções executivas. Por exemplo, crianças que sofreram
agressões físicas apresentam prejuízos no desenvolvimento da capacidade de
atenção. Crianças que sofreram abusos e negligência ou foram criadas em
orfanatos também apresentam resultados insatisfatórios quanto ao desenvolvimento
de funções executivas. O estresse prolongado, ininterrupto ou repetitivo, que ocorre
nos casos de maus tratos, abusos ou negligências, é chamado de estresse tóxico e
afeta negativamente o desenvolvimento da primeira infância.
A baixa condição socioeconômica pode representar uma condição adversa à
aquisição de habilidades do funcionamento executivo, na medida em que famílias
com maior privação material podem ter dificuldade em construir ou acessar
ambientes favoráveis ao desenvolvimento infantil. De fato, alguns estudos apontam
que crianças de menor nível socioeconômico possuem pior desempenho em testes
de memória de trabalho, controle inibitório e flexibilidade cognitiva.
Independentemente do nível de renda, a vivência em ambientes empobrecidos de
diálogo e incentivo à aquisição de autonomia prejudica o pleno desenvolvimento das
funções executivas.
A influência da família e do meio em que ela vive também é de grande importância
para o seu desenvolvimento. Incentivar a criança a interagir, descobrir, questionar,
pensar e falar sobre todas as suas experiências, ajuda a assimilar cada uma delas
por completo, absorvendo maior conhecimento e desenvolvendo a capacidade de
buscar e assimilar outras descobertas.
Outro fator importante é o convívio social e as atividades desenvolvidas no ambiente
escolar. Conviver com outras culturas familiares e com a diversidade leva a criança
a novos questionamentos e observações acerca da realidade em que está inserida.
E as atividades coletivas,como brincadeiras ao ar livre e idas ao parquinho,
aumentam o conhecimento corporal e o desenvolvimento motor, além de
contribuírem para o aprimoramento de capacidades como imaginação, criatividade,
percepção, memória e linguagem.
3 – Conclusão
Desse modo, concluímos que a primeira infância constitui um momento fundamental
para o desenvolvimento do ser humano, uma vez que nessa etapa da vida são
moldadasdiversas habilidades, principalmente as relacionadas às funções
executivas. Essas funções são importantes para a tomada de decisões e o domínio
sobre o comportamento, devendo ser desenvolvidas desde a primeira infância para
que o indivíduo possa ter o controle da própria vida posteriormente e assumir
responsabilidades.
O corpo humano é integrado, por isso, atividades que atendam às necessidades
físicas, emocionais e sociais das crianças cooperam de forma relevante para o
desenvolvimento do córtex pré-frontal e das funções executivas. A condição sócio
emocional da criança, marcada pela qualidade das relações com pais e cuidadores,
é fundamental para a formação de um bom funcionamento executivo. Portanto, há
que se atentar para os ambientes familiares e escolares que favorecem o
desenvolvimento e a aprendizagem das habilidades relacionadas.
É importante a criação de vínculos e interações sociais positivas entre cuidadores e
crianças. Além de propiciar um ambiente seguro, os adultos podem utilizar diversas
estratégias que promovam diretamente a aquisição gradual das funções executivas.
Diferentes atividades e práticas podem desenvolver memória de trabalho, controle
inibitório e flexibilidade cognitiva nas crianças.
Desse modo, conclui-se que o desenvolvimento físico-motor, afetivo-emocional,
intelectual, moral e social e suas características individuais influenciam diretamente
no desenvolvimento da aprendizagem infantil. Assim como educação,
desenvolvimento biológico e aprendizagem estão integrados e exercendo influência
mútua e recíproca.
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4 – Referências Bibliográficas
Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal: Biblioteca. Disponível em:
//www.fmcsv.org.br/pt-BR/biblioteca/ Acesso em 20/04/2021, às 16:47.
Quando tudo começa - Episódio 1. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=DQ4P43dE2Sg. Acesso em 20/04/2021, às
18:24.
Afetividade e inteligência – Jean Piaget. Disponível em:
https://www.ufrgs.br/psicoeduc/piaget/afetividade-e-inteligencia. Acesso em
20/04/2021, às 13:28.
Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal 0 Funções Executivas e o desenvolvimento na
primeira infância. Disponível em:
https://www.fmcsv.org.br/pt-BR/biblioteca/funcoes-executivas-e-desenvolvimento-na-
primeira-infancia-habilidades-necessarias/ Acesso em 20/04/2021, às 19:05.
Aulas disponibilizadas pela Universidade.