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Bruna Altvater Saturnino XLII – 2021.1 -1 14.04.21 Icterícia Coloração amarelada da pele, escleras e mucosas consequente ao depósito nesses locais, de pigmento biliar (bilirrubina), o qual se encontra em níveis elevados no plasma (hiperbilirrubinemia) BT > 2,5mg/dL METABOLISMO DA BILIRRUBINA Lipossolúvel: precisa se juntar a uma proteína para circular, no caso a albumina. Bilirrubina + albumina Não consegue ser excretado por ser muito grande. Esse complexo se dirige ao fígado/hepatócito. Dentro do hepatócito, a bilirrubina é conjugada. Para entrar no hepatócito precisa da UDP-glucoronil- transferase. Essa enzima traz a bilirrubina indireta de fora do fígado, para dentro do fígado. No hepatócito sofre conjugação e pode ser excretada pelos canalículos biliares (acaba no intestino como bilirrubina conjugada). Como se forma a bilirrubina? A bilirrubina vem do pigmento Heme. Então da degradação da hemoglobina, um dos subprodutos do grupo M vai ser a biliverdina, que vai ser transformar em bilirrubina não conjugada. Essa bilirrubina não conjugada é lipossolúvel, ou seja, ela não é solúvel no sangue. Então para ela se deslocar no organismo, ela precisa estar junto com uma proteína. Então a bilirrubina indireta se une à albumina (proteína de alto peso molecular) para conseguir se deslocar até o fígado. Então esse complexo passa a ser hidrossolúvel. Isso aqui vai ser carreado até o fígado, até o hepatócito. No hepatócito encontra-se uma enzima muito importante chamada UDP glucoronil transferase (?), essa é a enzima que faz a bilirrubina entrar no hepatócito. Ela como bilirrubina indireta no hepatócito, passa por uma conversão, é transformada em bilirrubina direta / conjugada. A bilirrubina indireta é a não conjugada, depois que ela é conjugada vira bilirrubina direta. Depois de conjugada ela é excretada do hepatócito para os ductos biliares e por eles chega no intestino. No intestino uma parte é eliminada através das fezes (estercobilina) e outra parte entra na circulação sanguínea como bilirrubina direta/conjugada porque ela agora é hidrossolúvel. Então agora ela não precisa mais da albumina, ela pode ficar sozinha. E aí como ela está sozinha e é pequena, ela pode ser eliminada pela urina. Lembrar que no rim a albumina não pode ser filtrada. Aqui a gente já começa a pensar clinicamente, é por isso que se eu tenho um paciente com icterícia, pode ser por causa da bilirrubuna indireta ou da direta. Se eu tenho um paciente com icterícia, colúria e acolia fecal, provavelmente ele tem icterícia às custas de bilirrubina direta. Bruna Altvater Saturnino XLII – 2021.1 -2 Não tem como a albumina passar pelo rim se o paciente não tiver síndrome nefrótica. Em uma pessoa sem doença renal não tem como eliminar bilirrubina indireta, porque ela é muito grande. Então eu estou com um paciente com icterícia, com hiperbilirrubinemia, esse paciente pode ter isso porque está produzindo bilirrubina demais, porque não está conseguindo captar, conjugar ou excretar a bilirrubina, ou porque ele está regurgitando bilirrubina dos hepatócitos ou dos ductos biliares. Essas são as causas de icterícia. • Sangue o Não-conjugada e conjugada • Urina: urobilinogenio • Fezes: estercobilina Bilirrubina volta à circulação como bilirrubina conjugada (hidrossolúvel), não precisa se ligar a albumina. A conjugada é excretada pelo rim, formando o urobilinogenio. Se tenho um paciente ictérico, com colúria e acolia fecal, provalvemnte é às custas de bilirrubina direta e não indireta. Se é às custas da bilirrubina indireta, o problema está antes dos hepatócitos, HIPERBILIRRUBINEMIA • Super-produção de bilirrubina → degradação excessiva da bilirrubina • Déficit na captação, conjugação ou excreção de bilirrubina • Regurgitação de bilirrubina (I ou D) por hepatócitos ou ductos biliares danificados DIAGNOTICO DIFERENCIAL ICTERICIA Pode ser ou às custas de BI ou BD. Se é BI pode ser por super-produção de hemoglobina ou deficiência na conjugação. Se for BD, pode ser problema na excreção ou colestase. AUMENTO ISOLADO DE BILIRRUBINA HIPERBILIRRUBINEMIA INDIRETA ISOLADA Eritropoiese inefetiva • Deficiências de ferro, ácido fólico, B12, talassemia. São fatores para produção de hemoglobina, assim, se tiver algumas dessas deficiências o organismo tende a retirar a hemoglobina mais cedo da circulação. Doenças Hemolíticas • Congênitas: esferocitose, eliptocitose, deficiência de G6PD, anemia falciforme • Adquiridas: anemias microangiopáticas adquiridas, hemoglobinúria paroxística noturna Levam a hemólise precoce. Drogas • Rifampicina, Probenecid, Ribavirina Condições congênitas • Crigler-Najar tipo I e tipo II • Doença de Gilbert Tipo I • Deficiência completa UDP-glucoronil-transferase, ou seja, nada entra no fígado, nada entra nos hepatócitos. Bruna Altvater Saturnino XLII – 2021.1 -3 • Neonatos. • BT > 20 mg/dl. Acontece muito cedo, os níveis são muito altos e o quadro é muito grave. • Kernicterus: paralisia óculo-motor, surdez central, convulsões, ataxia, RM, espasticidade. O neonato não está com a barreira hematocefálica muito bem feita ainda e pode ter um quadro de bilirrubina no SNC • Transplante. Se esse paciente não transplantar ele vai morrer. O óbito é muito precoce. • Terapia gênica? Tipo II • Deficiência parcial UDP-glucoronil-transferase (< 10%), existe 10% de enzima que funciona. • Induzida por fenobarbital • BT 6 – 25 mg/dl. Os níveis são mais baixos. • Kernicterus em doenças, cirurgia. Geralmente não tem o Kernicterus. • Transplante * Também tem indicação de transplante, mas aqui temos um tempo maior. Porém, a longo prazo sem transplante esse paciente vai morrer também. • Terapia gênica? Foi descoberto que essa enzima é induzida pelo Fenobarbital (Gardenal). Então foi percebido que o Gardenal melhora a atividade dessa doença. Então eles dão para o neonato para testes, se ocorre melhora nos níveis de icterícia é porque ele tem essa doença tipo II, ou seja, ainda tem um pouco de enzima ali, então consegue manter esse paciente por mais tempo. • Atividade reduzida da UDP-glucoronil-transferase (em torno de 30% normal) • BT < 6 mg/dl • Melhora com fenobarbital • 7% população tem, maior em homens • Aumentada em jejum, stress e infecção Normalmente a história é a seguinte: o paciente tem episódios de icterícia e episódios sem icterícia. Geralmente esses episódios acontecem quando o paciente está em jejum prolongado. É uma doença benigna. Vai aparecer no exame de laboratório e o paciente vem com esse relato de ficar amarelado às vezes. É importante tranquilizar o paciente de que isso é uma coisa normal e que ele vai poder ter uma vida normal. Geralmente eles vêm com os resultados do exame bem assustados. Não tem tendencia a ter um problema hepático. → Acabou sobre icterícia as custas de indireta. Ou é anemia hemolítica ou é uma dessas 3 síndromes (no adulto só se vê Gilbert). → Chegou um adulto para vocês, você pede um hemograma e a bilirrubina total, acabou a investigação. Se o hemograma está normal, se a hemoglobina dele está normal, não vai ser anemia hemolítica. Não é anemia hemolítica sem ter anemia. → Crigler Najar tipo II melhora com Fenobarbital porque tem enzima. Só não melhora quem não tem nada de enzima, Crigler Najar tipo I. Sempre vai sobrar um pouco de bilirrubina indireta porque a enzima não tem a capacidade de trazer tudo aquilo que está esperando, mas uma hora vai. Pedi BT, Bilirrubina fração, AST, ALT, fosfatase alcalina e GGT. Todas as outras são normais, ele só tem alterado BT e BD. Nessas condições existem duas opções: HIPERBILIRRUBINEMIA DIRETA ISOLADA • Condições congênitas • Rotor • Dubin-Johnson A bilirrubina entra, ela é conjugada, mas nãoconsegue sair, então ela fica no hepatócito. Se eu faço uma biópsia, está cheio de pigmento dentro do hepatócito, porque ela não conseguiu sair. A UDP funcionou normal. • Icterícia intermitente • Autossômica recessiva • Alteração gene “multiple drug resistance 2” (MDR2) Tem 20 casos no mundo então ainda não tem muito estudos, não se sabe o que é direito. Não tem pigmento nos hepatócitos. Mas é parecido com o Dubin-Johnson, tem prognostico benigno. É um Gilbert às custas de direta. • Falha captação? Estocagem? • Autossômica • Ausência de pigmentação nos hepatócitos • Prognóstico benigno Bruna Altvater Saturnino XLII – 2021.1 -4 DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL – ICTERÍCIA AUMENTO DE BILIRRUBINA E OUTROS TESTES ALTERADOS Hepatocelular • AST • ALT (40 Ul/ml) Canalicular • Fosfatase alcalina (110 – 300 Ul/ml) • Gama-GT Então eu vou pegar quanto está alterado da ALT e quanto está alterado da fosfatase alcalina, acima do limite superior. E aí eu vou ver se esse paciente tem um padrão hepatocelular ou um padrão canalicular. O padrão hepatocelular é um padrão em que a SST e a ALT estão mais elevadas do que a fosfatase, então eu vou pensar em hepatite B, hepatite C, hemocromatose, hepatite autoimune, doença de Wilson, hepatite alcoólica, drogas, esteato hepatite não alcóolica. São essas as possibilidades no paciente adulto com icterícia as custas de direta com padrão hepatocelular. QUANTAS VEZES ACIMA DO LSN (grandezas diferentes) Diagnóstico diferencial Hepatite B → SOROLOGIAS HBsAg, anti-HBs e anti-HBc Hepatite C → SOROLOGIAS Anti-HCV Hemocromatose → FERRITINA Doença em que ocorre acúmulo de ferro. O paciente pode ter uma alteração na pigmentação da pele por acúmulo de ferro. Ele pode ter acúmulo de ferro no coração e ter insuficiência cardíaca. Ele pode ter acúmulo de ferro no pâncreas e ter diabetes, ele pode ter acúmulo de ferro nas articulações e ter artrose/artrite/artralgia. Hepatite autoimune → ELETROFORESE, PTNAS, FAN, ANTI-LKM1, ANTI músculo liso. É uma doença que dá mais em mulheres jovens que geralmente tem um histórico pessoal ou familiar de autoimunidade. Ex. DM tipo I, vitiligo, hipotireoidismo, tireoidite de Hashimoto. Daí eu vou pedir esses exames. Na eletroforese de proteinas, eu vou ter um pico de gama globulina, eu posso ter um FAN alterado, e os outros dois são anticorpos que estão alterados também, anti-LKM1 e anti-músculo liso. Doença de Wilson → Cobre urinário. Indivíduo jovem com alguma alteração neuropsiquiátrica (tremor, depressão). Anéis de Kayser- Fleisher. Acúmulo de cobre no fígado → pode evoluir para cirrose. Álcool → Anamnese Bruna Altvater Saturnino XLII – 2021.1 -5 Drogas → Anamnese Esteatohepatite não alcoólica → Fatores de risco. Paciente obeso, dislipidêmico, hipertenso. CASO 1 Anamnese Masculino, 32 anos, apresentando astenia e icterícia há 5 dias, com piora progressiva. Sem história de colúria ou acolia fecal. Nega história prévia de hemotransfusão, uso de drogas. Etilista de 1 lata de cerveja/dia por 10 anos. ** provavelmente BI por não ter coluria e acolia fecal. Exame Físico • REG, hipocorado ++/++++, ictérico ++/++++, hidratado • AC: RCR 2T SS BNF • AP: MV+, SRA - Abd: flácido, RHA+. Sem massas ou visceromegalias. • Sem estigmas de hepatopatia crônica. Exames Laboratoriais • Hb: 8,1 g/dl • Ht: 24,3% • Leucócitos: 6000 (dif nl) • Plaquetas: 240000 • BT: 5,1 mg/dl • BD: 0,5 mg/dl • BI: 4,6 mg/dl • AST: 34 Ul/ml • ALT: 32 Ul/ml • Fosfatase alcalina: 108 mg/dl • Gama-gt: 32 Ul/ml Paciente ictérico sem acolia nem colúria. Com aumento da BT às custas de indireta. Hb normal é acima de 12, a dele está baixa. Diagnóstico: anemia hemolítica. Agora daí será investigado qual anemia hemolítica, tentar achar a causa da hemólise nesse paciente. CASO 2 Anamnese Sexo feminino, 17 anos, evoluindo há 7 dias com astenia, vômitos, dor em hipocôndrio direito, icterícia, colúria e acolia fecal. Sem episódios de icterícia prévia, hemotransfusão e uso de drogas EV. Exames Laboratoriais • Hb: 12,5 mg/dl • Ht: 40% • Leucócitos: 7600 (dif nl) • Plaquetas: 234000 • BT: 14 mg/dl • BD: 10,1 mg/dl • BI: 3,9 mg/dl • AST: 1234 Ul/ml • ALT: 1312 Ul/ml • Fosfatase alcalina: 412 Ul/ml • gGT: 87 Ul/ml • TAP: 81% • Albumina: 3,7 mg/dl Paciente tem colúria e acolia fecal. BT alta às custas de direta não isolada. Quadro agudo. Padrão hepatocelular. Função hepática normal (TAP e albumina normais). A Hepatite C não dá quadro agudo assim. Pensar em A e B. Pedidos para B: HBsAg, Anti-HBc e anti-HBs. Pedidos para A: Anti-HAV IgM e anti-HAV IgG. Se o TAP cair, o fígado está perdendo função. → O que além do fígado pode doer em hipocôndrio direito? Vesícula. O que relacionado à vesícula pode dar icterícia? Colangite, coledocolitíase. 4Fs: Forty, Female, Fat, Fertility. → Sorologia de Hepatite B: o primeiro que eu vou analisar é o anti-Hbc. Não existe HbcAg porque o c é uma partícula central, então não está solúvel no sangue, então eu vou ter o anticorpo contra o c mas não ele como antígeno. Lembrar de c como contato. Tem ou teve contato – anti- HBc positivo. Nunca teve contato – anti-HBc negativo. Depois avaliar o HBsAg e o anti-HBs. Antígeno de superfície e anticorpo contra o antígeno de superfície. Um é o oposto do outro, se o antígeno é positivo, o anticorpo é negativo, esse paciente está com Hepatite B. Se o antígeno é negativo, o anticorpo é positivo, esse paciente teve contato e eliminou o vírus. Se ele tem o anti-HBc negativo e o anti-HBs positivo, está vacinado. Pode acontecer de o paciente ter uma leucemia/AIDS e o vírus conseguir se proliferar novamente, mas isso é raro. CASO 3 Anamnese Anti-HAV IgM + Anti-HAV IgG + HbsAg - Anti-HBc IgM - Anti-HBc IgG + Anti-HBs + Anti-HCV - Bruna Altvater Saturnino XLII – 2021.1 -6 FVA, 51 anos, feminina, natural de São Paulo e procedente de Itajaí, escrivã.Há 2 semanas notou escleras amareladas e prurido cutâneo. Relata colúria associada. Nega febre, dor abdominal, vômitos ou outros sintomas. Refere DM, HAS. Uso de Glimepirida e Enalapril. Nega tabagismo ou etilismo. Exame Físico • REG, corada, hidratada, ictérica ++/++++ • Peso: 92 kg • Altura: 1,71 m • AC e AP normais • Abd: globoso. RHA+. Indolor à palpação. Sem massas ou visceromegalias. Exames Laboratoriais • Hb: 13,5 mg/dl • Ht: 41% • Leucócitos: 9000/mm3 • Plaquetas: 392000 • Glicose: 151 mg/dl • AST: 61 U/l • ALT: 58 U/l • Fosfatase alcalina: 623 U/l • ggt: 1211 U/l • BT: 7,2 mg/dl • BD: 5,9 mg/dl • BI: 1,3 mg/dl • TAP: 12s • Albumina: 4,5 mg/dl • USG: dilatação de ducto colédoco → Prurido colestático, acontece pela colestase. →BT alta às custas de direta. Não isolada. Padrão canalicular. A primeira coisa que nós vmos fazer diante desse paciente é um ultrassom. Estará alterado caso seja extra-hepática e não terá alterações caso seja intra- hepática. Para ser extra-hepática eu posso ver um cálculo, um tumor ou os ductos biliares dilatados, o que significa que algo está obstruindo eles. Se eu ver algo, vou investir nos exames de imagem e fazer uma tomografia ou uma colangioressonância. Se eu não tiver nada no US é porque é intra-hepática. →LKM = anticorpo anti-mitocôndria. Serve para cirrose biliar primária. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL - ICTERÍCIA Colangiorressonância Magnética Bruna Altvater Saturnino XLII – 2021.1 -7 O US mostrou uma dilatação no ducto colédoco. Para ser colangite teria queter febre e etc, aquela tríade de Charcot. Coledocolitíase é uma hipótese. Diagnóstico: coledocolitíase. → cálculo distal. Foi retirado com cirurgia.
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