Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
TOSSE ❖ Introdução A tosse representa o principal mecanismo de defesa das vias aéreas inferiores. Trata-se de um dos motivos mais comuns de consulta ao pneumologista e é o sintoma respiratório mais encontrado na prática pneumológica, atingindo cerca de 30 milhões de atendimentos ambulatoriais por ano na população norte americana. ❖ Fisiopatologia A tosse é um mecanismo de defesa do organismo e tem função de eliminar materiais inalados em grande quantidade, retirar o excesso de muco seja por aumento da produção deste ou por deficiência de depuração mucociliar. O reflexo da tosse apresenta fase inspiratória – inalação do gás ou alérgeno –, fase compressiva com fechamento da glote logo após esta inalação e fase expiratória forçada contra a glote fechada, gerando som característico. O fechamento da glote promove contração isométrica dos músculos expiratórios, levando a aumento da pressão intratorácica e intra-abdominal. Quando a glote se abre na fase expiratória, mobiliza-se altos fluxos respiratórios. O reflexo da tosse envolve receptores de tosse, nervos aferentes, centro da tosse, nervos eferentes e músculos efetores. Os receptores de tosse são presentes em toda a via aérea, exceto nos alvéolos e no parênquima pulmonar. Este fato explica um dado clínico que muitas vezes nos parece estranho – a pneumonia sem tosse. Classificação Ainda que possamos diferenciar a tosse produtiva ou seca, diária ou episódica, a principal característica clínica para correlação com hipótese diagnóstica é o seu tempo de duração: 1. Aguda: até 3 semanas; 2. Subaguda: tosse persistente por um período entre 3 e 8 semanas; 3. Crônica: superior a 8 semanas. 1 ❖ Tosse aguda As principais causas de tosse aguda são as Infecções das Vias Aéreas Superiores (IVAS) e inferiores (traqueobronquites agudas), sendo os vírus respiratórios os agentes etiológicos mais frequentes. Outras causas comuns são sinusites bacterianas agudas, exposição a alérgenos e irritantes e exacerbações de doenças crônicas, como asma, Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC)e doenças intersticiais pulmonares (DPI). Nas IVAS, o diagnóstico é altamente sugestivo em pacientes com tosse, rinorreia – mucosa ou hialina –, espirros, obstrução nasal e drenagem pós-nasal de secreções, na presença ou não de odinofagia e febre; caracteristicamente, a ausculta pulmonar deverá ser normal. A principal etiologia é a viral, e o quadro resolve- se espontaneamente na maioria dos casos.As traqueobronquites agudas, em mais de 50% dos casos, são de etiologia viral, sem necessidade de tratamento específico para a tosse. Febre persistente por mais de 3 dias e purulência de escarro sugerem etiologia bacteriana, devendo o uso de antibióticos ser considerado. As exacerbações agudas de doenças pulmonares crônicas serão discutidas em outros capítulos. ❖ Tosse subaguda As orientações para o manejo da tosse subaguda são controversas, até porque a classificação é recente. Antigamente, a tosse com mais de 3 semanas de evolução era categorizada como crônica. Na verdade, as etiologias são similares e a abordagem muito semelhante, com uma exceção relevante, que representa a principal causa de tosse subaguda: a tosse pós-infecciosa. O diagnóstico da tosse pós-infecciosa é de exclusão e baseia-se em 3 critérios: tosse com duração > 3 e < 8 semanas, avaliação clínica detalhada sem identificação de uma causa e história de infecção das vias aéreas nas últimas 3 semanas. Não há tratamento específico, mas devemos identificar se os sintomas decorrem de obstrução/gotejamento pós-nasal persistente, e os principais medicamentos auxiliares são os anti-histamínicos e fármacos inalatórios, sobretudo o brometo de ipratrópio; o uso de corticoide sistêmico deve ser desencorajado, visto que habitualmente não abrevia os sintomas. A abordagem da tosse subaguda exige história clínica cuidadosa que permite o diagnóstico, na maioria das vezes, sem a necessidade de investigação adicional ou de tentativas terapêuticas. Tosse crônica A abordagem do paciente com tosse crônica não é simples. Entretanto, com uma anamnese detalhada, podemos direcionar corretamente a abordagem diagnóstica e terapêutica. Ainda que as possibilidades etiológicas sejam inúmeras, segundo o últimoconsenso para o manejo da tosse do American College of Chest Phisicians de 2006, quando descartamos o tabagismo e o uso de Inibidores da Enzima Conversora de Angiotensina (IECAs) como causas de tosse crônica em paciente com radiografia de tórax normal, cerca de 99% dos casos serão provocados por uma das 3 causas mais frequentes: gotejamento pós-nasal, asma/hiper-reatividade brônquica e refluxo gastroesofágico. Estas causas nem sempre ocorrem isoladamente; é comum a associação entre 2 ou mesmo 3 delas. 3. Doença do refluxo gastroesofágico: a) Mecanismo: estimulação de receptores esofágicos, alterações da motilidade esofágica e micro/macroaspirações; b) Tríade clássica de sintomas (pirose, regurgitação e disfagia de condução); c) Pigarro; d) Disfonia/Rouquidão; e) Tosse – excluir outras causas relevantes. Na avaliação clínica do indivíduo com tosse aguda devemos valorizar história clínica e, quando pertinente, tratar empiricamente. Na maioria das etiologias os exames são normais. Em contexto de tosse crônica devemos avaliar uso de IECA. Se presente, retirar medicação. Todo tabagista deve ser orientado a parar de fumar. Porém, independentemente disto, todos os indivíduos devem realizar radiografia de tórax e espirometria com prova broncodilatadora. Caso espirometria e radiografia de tórax normais, devemos suspeitar de asma, DRGE e síndrome do gotejamento pós-nasal. Em todas estas três podemos realizar teste terapêutico caso pertinente. Radiografia de tórax alterada e/ou espirometria alterada devemos prosseguir investigação. Sempre na presença de radiografia de tórax alterada sem diagnóstico evidente devemos realizar tomografia computadorizada de tórax para melhor investigação. Lembrar sempre: preconiza-se busca ativa-passiva para tuberculose pulmonar para todo indivíduo sintomático respiratório, ou seja, com tosse por 2 semanas ou mais. Principais causas de tosse: 1. Aguda (até 3 semanas): infecção, alergia; 2. Subaguda (entre 3 e 8 semanas): tosse pós-infecciosa; 3. Crônica (além de 8 semanas): IECA, hiper-reatividade brônquica, tosse reativa das vias aéreas superiores, doença do refluxo gastroesofágico. Apesar das diversas causas de tosse, o diagnóstico em sua maioria é clínico, com base na duração da tosse e na avaliação minuciosa da história – fatores desencadeantes, de melhora ou piora, medicamentos em uso etc.
Compartilhar