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K Anamnese Idade: Na criança, o sarampo, a coqueluche e a tuberculose primária não devem ser esquecidos. As pneumonias por gram-negativos não são frequentes em crianças e jovens, enquanto os estafilococos, embora acometam os adultos, têm certa predileção pela infância. As pneumonias, em geral, são mais graves nos idosos, nos quais podem evoluir com sintomatologia atípica, até mesmo sem febre. A bronquite crônica, o enfisema e o carcinoma brônquico incidem mais entre os 40 e os 60 anos. Sexo: Devido à maior exposição ocupacional, os homens têm maior risco para o desenvolvimento de pneumoconioses. Como o tabagismo é mais prevalente no sexo masculino, as doenças relacionadas com o tabaco (doença pulmonar obstrutiva crônica [DPOC] e câncer de pulmão) são mais frequentes nos homens Cor: Estatisticamente, a tuberculose e a sarcoidose predominam entre os negros. As colagenoses são mais comuns entre as pessoas de cor branca Procedência, profissão e ocupação: Cada continente, país, estado ou região tem sua nosologia prevalente. Nos países mais industrializados, as pneumoconioses são mais frequentes, em oposição àqueles agrícolas, onde o leque das doenças é outro. Antecedentes pessoais e familiares: Infecções pulmonares graves e extensas na infância ou juventude podem, no futuro, reduzir as reservas respiratórias em razão da proliferação de tecido cicatricial (fibrose pulmonar). Na infância, uma pneumonia acompanhada de impetigo, otite, sinusite ou de outro foco supurativo faz pensar na possibilidade de a afecção pulmonar ser de natureza estafilocócica. Os diabéticos são muito vulneráveis às infecções, particularmente à tuberculose, cujas formas clínicas fogem aos padrões clássicos de localização, isto é, preferindo as bases, e não os ápices. Doenças preexistentes, medicamentos e imunizações: Deve-se indagar sobre as doenças preexistentes, pois, se tiverem relação com a doença atual, produzem um contexto clínico que torna possível associar uma à outra. Os medicamentos em uso devem ser anotados pela possibilidade de a doença atual do indivíduo ser consequência de efeitos colaterais ou de pneumopatia induzida por fármaco Carga tabágica Se o paciente for tabagista, deve-se coletar uma história detalhada para determinar o grau de dependência e obter informações que possam ajudá-lo a parar de fumar. Sempre indagar quantos cigarros ele fuma por dia, quando iniciou o hábito, se já interrompeu o uso e por quanto tempo parou. Para o cálculo da carga tabágica (anos/maço), multiplique o número de cigarros fumados por dia pelo tempo de tabagismo em anos e divida por 20. Em pacientes que fumam cigarro artesanal, recomenda-se considerar que seis cigarros artesanais correspondem a 20 cigarros industrializados Sinais e sintomas Dor torácica A isquemia do miocárdio manifestada pelo quadro de angina do peito ou de infarto do miocárdio, as pleurites, as alterações musculoesqueléticas, as disfunções do esôfago e as afecções pericárdicas são as causas mais comuns Tosse A tosse é um mecanismo de defesa das vias respiratórias, as quais reagem aos irritantes ou procuram eliminar secreções anormais, sempre com o objetivo de se manterem permeáveis. Resulta de estimulação dos receptores da mucosa das vias respiratórias. Os estímulos podem ser de natureza inflamatória (hiperemia, edema, secreções e ulcerações), mecânica (poeira, corpo estranho, aumento ou diminuição da pressão pleural como ocorre nos derrames e nas atelectasias), química (gases irritantes) e térmica (frio ou calor excessivo). Sua investigação clínica inclui as seguintes características: frequência, intensidade, tonalidade, existência ou não de expectoração, relações com o decúbito, período do dia em que é maior sua intensidade. A tosse pode ser produtiva ou úmida, quando se acompanha de secreção, não devendo nesses casos ser combatida; ou seca, quando é inútil, causando apenas irritação das vias respiratórias Tipo de tosse A tosse quintosa caracteriza-se por surgir em acessos, geralmente pela madrugada, com intervalos curtos de acalmia, acompanhada de vômitos e sensação de asfixia. Embora seja característica da coqueluche, ocorre também em outras afecções broncopulmonares A tosse seca pode ter origem em áreas fora da árvore brônquica, como o canal auditivo externo, a faringe, os seios paranasais, o palato mole, a pleura e o mediastino. Inibidores da enzima conversora da angiotensina (IECA) podem ser causa de tosse Denomina-se tosse-síncope aquela que, após crise intensa, resulta na perda de consciência. A tosse rouca é própria da laringite crônica, comum nos tabagistas Tosse associada a beber ou comer está relacionada com doença do esôfago superior (divertículo, doença neuromuscular). Expectoração Suas características semiológicas compreendem volume, cor, odor, transparência e consistência. As características do escarro dependem de sua composição Seroso contém água, eletrólitos, proteínas e é pobre em células; Mucoide, embora contenha muita água, proteínas, inclusive mucoproteínas, eletrólitos, apresenta celularidade baixa; Purulento é rico em piócitos e tem celularidade alta; Hemoptoico, observam-se “rajas de sangue”. Correlação clínica: A expectoração no edema pulmonar agudo é bem característica, tendo aspecto seroso espumoso. Ocasionalmente apresenta coloração rósea. A presença de Semiologia respiratória expectoração é importante para diferenciar as lesões alveolares (pneumonias bacterianas) das intersticiais (pneumonias virais). No início das pneumonias bacterianas, não existe expectoração ou é discreta. Após algumas horas ou dias, surge uma secreção abundante, amarelo-esverdeada, pegajosa e densa. Nesta fase pode aparecer escarro hemoptoico vermelho-vivo ou cor de tijolo Hemoptise A hemoptise é a eliminação de sangue pela boca, passando através da glote As hemoptises podem ser devidas a hemorragias brônquicas ou alveolares. Nas hemoptises de origem brônquica, o mecanismo é a ruptura de vasos previamente sãos, como ocorre no carcinoma brônquico, ou de vasos anormais, dilatados, neoformados, como sucede nas bronquiectasias e na tuberculose. Nas hemorragias de origem alveolar, a causa é a ruptura de capilares ou transudação de sangue, sem que haja solução de continuidade no endotélio. Vômica A vômica é a eliminação mais ou menos brusca, através da glote, de uma quantidade abundante de pus ou líquido de outra natureza. As causas mais frequentes são o abscesso pulmonar, o empiema, as mediastinites supuradas e o abscesso subfrênico Dispneia A dispneia é a dificuldade para respirar, podendo o paciente ter ou não consciência desse estado. Será subjetiva quando só for percebida pelo paciente, e objetiva quando se fizer acompanhar de manifestações que a evidenciam ao exame físico Relacionando a dispneia com as atividades físicas, podes e classificala em dispneia aos grandes, médios e pequenos esforços. A dispneia pode acompanhar-se de taquipneia (frequência aumentada) ou hiperpneia (amplitude aumentada). Ortopneia é a dispneia que impede o paciente de ficar deitado e o obriga a sentar-se ou a ficar de pé para obter algum alívio. Trepopneia é a dispneia que aparece em determinado decúbito lateral, como acontece nos pacientes com derrame pleural que se deitam sobre o lado. A platipneia (contrário da ortopneia) é a dispneia que aparece quando o paciente passa da posição deitada para sentado ou em pé. As causas mais frequentes são malformação arteriovenosa pulmonar, síndrome hepatopulmonar, forame oval patente ou um defeito no septo atrial (shunt direitaesquerda intracardíaco) Sibilância Chiado ou “chieira“ é como o paciente se refere a um ruído que ele pode perceber, predominantemente na fase expiratória da respiração, quase sempre acompanhado de dispneia.Seu timbre é elevado e o tom é musical, sendo comparado ao miado de um gato A sibilância é frequentemente referida durante o período noturno Rouquidão ou disfonia Rouquidão ou mudança do timbre da voz traduz alteração na dinâmica das cordas vocais. Quando for aguda, de curta duração, não tem maior significado, ocorrendo com frequência nas laringites virais. Em contrapartida, quando se prolonga é necessária investigação detalhada. Cornagem A cornagem é a dificuldade inspiratória por redução do calibre das vias respiratórias superiores, na altura da laringe, e que se manifesta por um ruído (estridor) e tiragem. O paciente, para facilitar a entrada do ar, desloca a cabeça para trás, em extensão forçada. As causas mais comuns são: laringite, difteria, edema da glote e corpos estranhos Exame físico respiratório Linhas e regiões do tórax Linhas e regiões da caixa torácica: face anterior. LE: linha esternal; L3: linha que passa pela terceira articulação condroesternal; L6: linha que passa pela sexta articulação condroesternal; 1 – região esternal; 2 – região supraesternal; 3 – região supraclavicular; 4 – região infraclavicular; 5 – região mamária; 6 – região inframamária. Linhas e regiões da caixa torácica: face posterior. LES: linha escapular superior; LEI: linha escapular inferior; LE: linha escapular; LV: linha vertebral; 7 – região supraescapular; 8 – região escapular; 9 – região interescapulovertebral; 10 – região infraescapular Linhas e regiões da caixa torácica: face lateral. LAA: linha axilar anterior; LAM: linha axilar média; LAP: linha axilar posterior; 11 – região axilar; 12 – região infra-axilar. Inspeção estática Pele Observam-se a coloração e o grau de hidratação, bem como se há lesões elementares sólidas, correlacionando-as com as doenças pulmonares. Quanto às lesões de conteúdo líquido, isto é, vesículas, bolhas, pústulas e abscessos, estabelecer suas correlações: impetigo com pneumonia estafilocócica (principalmente na criança); abscesso frio com tuberculose Deve-se observar a coloração da pele do paciente, destacando-se a cianose e a palidez, lembrando-se de que nem sempre há cianose, mesmo na hipoxemia grave. Para que haja cianose, é preciso que o paciente tenha, pelo menos, 5% de hemoglobina reduzida. Pesquisá la na pele, nas unhas, nos lábios e na mucosa oral. Deve ser observada tambe ́m a presenc ̧a de cicatrizes (principalmente de toracotomia, drenagem de to ́rax e mastectomia) e de fi ́stulas. Tecido celular subcutâneo Avaliar a distribuição, a presenc ̧a de edema e deformidades que possam sugerir a presença de enfisema subcuta ̂neo; verificar e anotar a existe ̂ncia de circulac ̧ão venosa colateral. Musculatura O sistema muscular deve ser examinado de maneira comparativa, a fim de que se possa surpreender alterações tróficas de grupos musculares. A contratura da musculatura paravertebral torácica unilateral constitui o sinal de Ramond, que denuncia o comprometimento pleural inflamatório homolateral. O sinal de Lemos Torres, caracterizado pelo abaulamento dos espaços intercostais durante a expiração, é sinal de derrame pleural. Alterações ósseas Nas partes ósseas, deve-se procurar retrações e abaulamentos difusos ou localizados Forma do tórax O tórax normal é aquele sem qualquer anormalidade; O tórax em tonel ou globoso caracteriza-se pelo aumento exagerado do diâmetro anteroposterior, horizontalização dos arcos costais e abaulamento da coluna dorsal, o que torna o tórax mais curto. A forma globosa, em geral, decorre da hiperinsuflac ̧ão pulmonar que acompanha algumas patologias como a doenc ̧a pulmonar obstrutiva cro ̂nica Tórax em peito de pomba (pectus carinatum): é a deformidade que decorre do deslo- camento do esterno e cartilagens costais para a frente, associado a arcos costais mais horizontalizados; pode ser conge ̂nita ou adquirida Tórax escavado (pectus excavatum): há deslocamento do esterno para trás, de tal maneira que os arcos costais anteriores se projetam mais anteriormente do que o próprio esterno, causando depressa ̃o na parte inferior do esterno e da regia ̃o epiga ́strica. E ́, em geral, deformidade conge ̂nita O tórax chato ou plano é o que perde a convexidade normal da parede anterior, havendo por isso redução do diâmetro anteroposterior. As costelas aumentam sua inclinação, os espaços intercostais se reduzem e o ângulo de Louis torna-se mais nítido. As clavículas são mais oblíquas e salientes, e as fossas supra e infraclaviculares, mais profundas. Tórax cônico ou em sino é aquele que tem sua parte inferior exageradamente alargada, lembrando um tronco de cone ou um sino. É encontrado nas hepatoesplenomegalias e ascites volumosas. O tórax cifótico tem como característica principal a curvatura da coluna dorsal, formando uma gibosidade. Pode ser de origem congênita ou resultar de postura defeituosa. O tórax cifoescoliótico apresenta, além da cifose, um desvio da coluna para o lado (escoliose). As formas leves dessas duas últimas deformidades são comuns e desprovidas de significado patológico Inspeção dinâmica Batimentos das asas do nariz sugerem pneumonia grave, e não processo pulmonar obstrutivo. Quando não houver sincronismo entre os movimentos respiratórios abdominais e torácicos (movimento paradoxal abdominal), suspeitar de fadiga muscular diafragmática As fossas supraclaviculares e os espaços intercostais se retraem, durante a inspiração, em decorrência da contração dos músculos respiratórios acessórios. Movimentos respiratórios torácicos paradoxais (retração do gradil costal), durante a inspiração, são observados nos casos de traumatismo torácico Frequência respiratória A freque ̂ncia respiratória normal do indivi ́duo adulto é de 12 a 20 movimentos respiratórios por minuto. Ritmo respiratório Durante a respirac ̧ão normal, os movimentos respirato ́rios são regulares, não existindo pausa entre eles; inspirac ̧ão e expirac ̧ão têm durac ̧ões iguais Ritmo de Cheyne-Stokes: consiste em peri ́odos em que ocorrem movimentos respirato ́rios, alternando com peri ́odos de apneia, com periodicidade de 15 a 30 segundos . A amplitude dos movimentos respiratórios aumenta e diminui gradualmente em crescendo e decrescendo. É observado na presenc ̧a de insuficie ̂ncia circulatória e principalmente em doenc ̧as vasculares cerebrais Ritmo de Kussmaul: é o ritmo em que os movimentos respiratórios sa ̃o rápidos, profundos e regulares; ocorre na acidose metabólica. Ritmo de Biot: os movimentos respirato ́rios são totalmente irregulares em freque ̂ncia e amplitude, podendo haver peri ́odos de apneia. Ocorre em presenc ̧a de grave sofrimento cerebral. s Respiração suspirosa: Na respiração suspirosa, o paciente executa uma série de movimentos inspiratórios de amplitude crescente seguidos de expiração breve e rápida. Outras vezes, os movimentos respiratórios normais são interrompidos por “suspiros” isolados ou agrupados. Traduz tensão emocional e ansiedade. Palpação A palpação permite examinar lesões superficiais quanto a forma, volume e consistência. A sensibilidade superficial e profunda, a dor provocada e espontânea ou qualquer outra manifestação dolorosa podem ser avaliadas pela palpação. Processos inflamatórios pleuropulmonares determinam uma zona de maior sensibilidade na área torácica correspondente. Com o dorso das mãos, verifica-se a temperatura cutânea, comparando-a com a do lado oposto. Edema e enfisema subcutâneos são mais bem observados nas fossas supraclaviculares e espaços intercostais. O primeiro, como sinal precoce de obstrução da veia cava superior, o segundo, facilmente identificado na palpação por sua crepitação, indicativode pneumotórax. Os grupos de linfonodos regionais devem ser palpados cuidadosamente. Adenomegalias mais ou menos fixas, de consistência média, com tendência a se fundirem para depois fistulizarem, são mais comuns na tuberculose. Expansibilidade torácica Normalmente, a expansibilidade e ́ simétrica e igual nos dois hemitórax. Qualquer patologia que afete a caixa tora ́cica, sua musculatura, o diafragma, a pleura ou o pulma ̃o de um lado pode ser precocemente percebida pela assimetria dos movimentos ventilato ́rios, ao se compararem ambos os hemito ́rax. A assimetria e ́ mais facilmente reconhecida quando o paciente realiza inspirac ̧ão profunda. Seja qual for a estrutura doente, o hemito ́rax comprometido move-se menos. A expansibilidade dos ápices pulmonares é pesquisada com ambas as mãos espalmadas, de modo que as bordas internas toquem a base do pescoço, os polegares apoiem-se na coluna vertebral e os demais dedos nas fossas supraclaviculares. Para avaliar a expansibilidade das bases pulmonares, apoiam-se os polegares nas linhas paravertebrais, enquanto os outros dedos recobrem os últimos arcos costais. Em ambas as manobras, o médico fica atrás do paciente em posição sentada, e este deve respirar profunda e pausadamente. Esta técnica é útil na identificação dos processos localizados nas bases e que reduzem a mobilidade da região Os mu ́sculos acessórios da respirac ̧ão são os esternocleidomasto ́ideos, os trapézios, os peitorais, os serratos e os mu ́sculos abdominais. Quando há aumento do trabalho respiratório, esses mu ́sculos sa ̃o ativados, e essa ativac ̧ão constitui os sinais físicos do esforc ̧o respiratório. Tiragem: é a depressão inspirato ́ria dos espac ̧os intercostais e das regiões supraesternal e supraclaviculares que ocorre durante toda a inspirac ̧ão. A tiragem indica dificuldade na expansa ̃o pulmonar, o que leva a diminuic ̧ão da pressão negativa intrapleural mais acentuada do que o normal. Sinal de Hoover: em pacientes portadores de hiperinsuflac ̧ão pulmonar grave, o dia- fragma se mante ́m retificado e rebaixado. Durante a inspirac ̧ão, a contrac ̧ão de suas fi- bras promove, paradoxalmente, diminuic ̧ão do diâmetro laterolateral do to ́rax inferior. Dessa maneira, o que se observa, a ̀ inspirac ̧ão, é a retrac ̧ão do terc ̧o inferior do tórax e não a expansa ̃o, como ocorreria normalmente. Respirac ̧ão paradoxal: Normalmente, a expansa ̃o do gradeado costal, devida a ̀ ac ̧ão dos mu ́sculos inspiratórios, ocorre concomitantemente a ̀ expansão do abdome, devido a ̀ descida do diafragma.. Frêmito toracovocal O frêmito toracovocal (FTV) corresponde às vibrações das cordas vocais transmitidas à parede torácica. Estas vibrações são mais perceptíveis nos indivíduos cuja voz é de tonalidade grave. Como isto nem sempre ocorre, deve-se fazer com que o paciente pronuncie palavras ricas em consoantes, tendo-se consagrado em nosso meio as palavras “trinta e três”, mas é possível senti-lo sem prejuízo, mesmo que indivíduo seja solicitado a falar uma vogal por alguns segundos. Nos homens, em geral, e nos indivíduos com parede torácica delgada, o FTV é sempre mais nítido. A maneira correta de pesquisa-lo é colocar a mão direita espalmada sobre a superfície do tórax, comparando-se a intensidade das vibrações em regiões homólogas. O FTV é mais acentuado à direita e nas bases, e melhor sensação se obtém quando se coloca apenas a face palmar correspondente ao 2º, 3º e 4º quirodáctilos Para a palpação da face posterior do tórax, o médico deve colocar se à esquerda do paciente usando sua mão direita, que vai sendo deslocada de cima para baixo. Ainda estando atrás do paciente, o examinador pesquisa o FTV nas fossas supraclaviculares. A seguir, passando para diante e à direita do paciente, o médico apoia sua mão, alternadamente, sobre o hemitórax esquerdo e o direito, seguindo a linha medioesternal de cima para baixo OBS: De um modo geral, pode-se dizer que as afecções pleurais são “antipáticas” ao FTV . Isto porque os derrames pleurais líquidos ou gasosos, por afastarem o pulmão da parede, dificultam a transmissão das vibrações até a superfície, com redução ou mesmo abolição do FTV, sempre na dependência do volume de líquido ou de ar da cavidade Percussão Deve-se iniciar a percussão do tórax pela sua face posterior, de cima para baixo, ficando o médico atrás e à esquerda do paciente. Percute-se separadamente cada hemitórax. Em uma segunda etapa, percutir comparativa e simetricamente as várias regiões. A mão esquerda, com os dedos ligeiramente separados, deve apoiar-se suavemente sobre a parede, e o dedo médio, sobre o qual se percute, exerce apenas uma leve pressão sobre o tórax O movimento da mão que percute é de flexão e extensão sobre o punho, nunca envolvendo a articulação do cotovelo, e muito menos a do ombro. Os golpes dados com a extremidade distal do dedo médio (os demais se conservam parcialmente fletidos) serão sempre da mesma intensidade (suaves ou medianamente fortes). Um pequeno intervalo entre cada batida possibilita melhor avaliação do som e das vibrações Quatro tonalidades de som são obtidas: Som claro pulmonar: som obtido nos campos pulmonares normais; Som hipersonoro ou timpânico: som obtido quando há aumento de ar em relac ̧ão aos tecidos. Ocorre na presenc ̧a de hiperinsuflac ̧ão pulmonar ou pneumoto ́rax; (espaço de traube) Som macic ̧o/submacic ̧o: som obtido quando ha ́ menor quantidade de ar em relac ̧ão aos tecidos. Normalmente, está presente sobre a área hepa ́tica (ao ni ́vel do quinto espac ̧o intercostal direito), sobre a área cardi ́aca (ao nível do terceiro espac ̧o intercostal esquerdo) e sobre os ossos. Em condic ̧ões patológicas, ocorre nas condensac ̧ões pulmonares, atelectasias e na presenc ̧a de derrame ou espessamento pleurais. Pode estar presente, nos campos pulmonares, em indivi ́duos obesos ou com edema intenso da parede tora ́cica Ausculta A ausculta é a principal técnica semiolo ́gica pulmonar, pois traz grande nu ́mero de informac ̧ões sobre as patologias pulmonares. Para realizar a ausculta tora ́cica, o paciente deve permanecer na mesma posic ̧ão das etapas anteriores e ser instrui ́do a respirar pela boca mais profundamente que o normal, enquanto o examinador muda o estetosco ́pio de lugar, percorrendo o tórax de cima para baixo, nas faces posterior, anterior e lateral. Sons pulmonares Atualmente é aceito que os sons pulmonares sa ̃o produzidos na traqueia, bro ̂nquios lobares e segmentares. Nesses segmentos, o fluxo de ar é turbulento e, assim, produz som. Nos bronqui ́olos respiratórios e nos alve ́olos, o ar e ́ distribui ́do por difusa ̃o, não havendo, portanto, gerac ̧ão de som. Sons normais Som traqueal No som traqueal, bem como nos outros sons pulmonares, reconhecem-se dois componentes – o inspiratório e o expiratório – , cujas características estetoacústicas são específicas para cada som. O som brônquico corresponde ao som traqueal audível na zona de projeção dos brônquios de maior calibre, na face anterior do tórax, nas proximidades do esterno. O som brônquico assemelha-se ao som traqueal, dele se diferenciando apenas por ter o componente expiratório menos intenso Som brônquico Normalmente audi ́vel sobre as grandes vias respirato ́rias intratora ́cicas, colocando-se o estetosco ́pio sobre a regia ̃o supraesternal. Ausculta-se a inspirac ̧ão intensa, bem audi ́vel e rude; a seguir, uma pausa e, depois, a expirac ̧ão, também bastante audi ́vel e rude. A durac ̧a ̃o da expirac ̧ão é igual ou pouco maior do que a inspirac ̧ão. Lembra o som da passagem do ar por um tubo oco. Acredita-se que o som bro ̂nquico seja proveniente de vias respiratóriasmais centrais que aquelas que da ̃o origem ao murmu ́rio vesicular. Murmúrio vesicular O som audi ́vel em quase todo o tórax. A inspirac ̧ão tem intensidade e durac ̧ão maiores que a expirac ̧ão, geralmente com proporc ̧ão de 3:1. O som é suave, e não ha ́ pausa entre inspirac ̧ão e expirac ̧ão. Acredita-se que o murmu ́rio é gerado provavelmente em vias respiratórias mais periféricas que os bro ̂nquios fontes e mais centrais que os bronqui ́olos respiratórios ou alve ́olos O murmu ́rio vesicular depende da ventilac ̧ão pulmonar regional; assim, podem ocorrer pequenas diferenc ̧as de ausculta entre os ápices e as bases. A alterac ̧ão mais frequente do murmu ́rio vesicular é a diminuic ̧ão da sua intensidade, que ocorre em presenc ̧a de ventilac ̧ão pulmonar diminui ́da e de barreiras a ̀ transmissa ̃o do som, como nos casos de condensac ̧ões, hiperinsuflac ̧ão, derrame pleural, atelectasia e pneumoto ́rax. Som broncovesicular Normalmente, pode ser ouvido, anteriormente, nos primeiros e segundos espac ̧os intercostais e, posteriormente, na regia ̃o interescapular. É muito semelhante ao som bro ̂nquico, mas menos rude e com expirac ̧ão um pouco menos intensa. O som broncovesicular provavelmente corresponde a ̀ combinac ̧ão dos mecanismos de origem dos sons bro ̂nquico e vesicular. Em indivíduos sadios, representa a combinac ̧ão de sons transmitidos até o local de ausculta a partir de diferentes fontes Sons anormais Ruídos adventícios O fluxo de ar pelo trato respirato ́rio pode produzir, em algumas situac ̧ões, sons anormais, também chamados rui ́dos ou sons adventi ́cios. Embora os rui ́dos adventi ́cios possam ser produzidos transitoriamente em pulmo ̃es de indivi ́duos normais, quando presentes em respirac ̧ões sucessivas revelam anormalidade de base. Os rui ́dos adventi ́cios podem ser caracterizados como sons conti ́nuos e sons desconti ́nuos. a) Sons contínuos: O termo conti ́nuo na ̃o significa que o som seja conti ́nuo durante todo o ciclo respiratório, mas, sim, que o som dura 250 milissegundos ou mais dentro desse ciclo. Esses sons apresentam caráter musical. Os sons adventi ́cios conti ́nuos sa ̃o os roncos e os sibilos. Os roncos são sons mais graves, semelhantes ao roncar ou ressonar das pessoas. São fugazes, mutáveis, surgindo e desaparecendo em curto período de tempo Os sibilos são sons mais agudos, semelhantes a assobio ou chiado Os sibilos também se originam de vibrações das paredes bronquiolares e de seu conteúdo gasoso, aparecendo na inspiração e na expiração. Em geral são múltiplos e disseminados por todo o tórax, quando provocados por enfermidades que comprometem a árvore brônquica, como acontece na asma e na bronquite. Quando bem localizados em uma determinada região, indicam semiobstrução por neoplasia ou corpo estranho Esses sons podem ser intensos e obscurecer os sons normais da respirac ̧ão. Podem ocorrer na inspirac ̧ão e/ou na expirac ̧ão, ser localizados ou difusos e em pequena ou grande quantidade; todas essas caracteri ́sticas devem ser registradas. Os roncos e sibilos te ̂m o mesmo mecanismo fisiopatolo ́gico; são produzidos quando as vias respirato ́rias estão estreitadas quase ao ponto de fechamento e suas paredes vibram com a passagem do ar. O aparecimento dos sons conti ́nuos, como roncos ou como sibilos, depende da velocidade do ar. Quanto maior a velocidade aérea, maior o nu ́mero de vibrac ̧ões produzidas e mais agudo o som. b) Sons descontínuos Os sons ou rui ́dos respiratórios desconti ́nuos são explosivos, de curta durac ̧ão, inferiores a 20 milissegundos, e, portanto, na ̃o te ̂m qualidade musical. São conhecidos como crepitac ̧ões, que podem ser grossas ou finas. As crepitac ̧ões finas te ̂m menor durac ̧ão, são agudas e pouco intensas As crepitac ̧ões grossas te ̂m maior durac ̧ão, são graves e mais intensas Os sons desconti ́nuos sa ̃o produzidos, provavelmente, por va ́rios mecanismos. O mecanismo mais aceito e ́ a reabertura, su ́bita e sucessiva, das pequenas vias respirato ́rias, isto é, daquelas com diâmetro menor que 2 mm, durante a inspirac ̧ão, com ra ́pida equalizac ̧ão de pressa ̃o, o que causa uma se ́rie de ondas sonoras explosivas. A rotura de bolhas ou de filmes li ́quidos decorrente do aumento de secrec ̧ão nas vias respiratórias é outro mecanis-mo, porém menos aceito para a ge ̂nese desses sons. São mais audi ́veis nas bases pulmonares, onde a pressão pleural, no indivi ́duo em posic ̧ão ortosta ́tica, e ́ menos negativa, o que se deve, em parte, ao peso do pulma ̃o. Essa situac ̧ão facilita o fechamento das vias respiratórias nessas regiões durante a expirac ̧ão. Quanto mais proximais forem as pequenas vias respiratórias colapsadas, mais precocemente ocorrera ̃o a sua reabertura e o ruído correspondente. As crepitac ̧ões grossas decorrem da reabertura de vias respirato ́rias menos distais do que as que de origem a ̀s crepitac ̧ões finas Ocasionalmente, crepitac ̧ões grossas podem ser auscultadas durante a expirac ̧ão, e sua ge ̂nese na ̃o esta ́ bem definida. Quanto maior for o nu ́mero de pequenas vias respirato ́rias colapsadas durante a expirac ̧ão, maior sera ́ o nu ́mero de crepitac ̧ões produzidas durante a inspirac ̧ão. Em indivi ́duos normais, a expirac ̧ão forc ̧ada, até volume residual, torna a pressa ̃o pleural positiva, podendo ocasionar o fechamento de pequenas vias respirato ́rias. A abertura dessas vias respirato ́rias, na inspirac ̧ão seguinte, pode dar origem a crepitac ̧ões finas. A inspirac ̧ão, a partir da capacidade residual funcional, na ̃o da ́ origem às crepitac ̧ões finas, porque a possibilidade de fechamento das vias respiratórias, nesse volume pulmonar, em indivi ́duos normais, é muito pequena. As condic ̧ões patológicas mais frequentemente associadas a ̀ presenc ̧a de crepitac ̧ões finas sa ̃o aquelas em que a complace ̂ncia pulmonar esta ́ diminuída, o que facilita o fechamento das pequenas vias respirato ́rias na expirac ̧ão. Exemplos: fibrose intersticial, edema e consolidac ̧ão pulmonar. O fechamento de pequenas vias respirato ́rias menos distais (que produzem crepitac ̧ões grossas) ocorre principalmente em patologias com lesa ̃o estrutural da via respirato ́ria, tais como bronquiectasias e bronquite cro ̂nica. Ausculta da voz Consiste em auscultar o tórax do paciente enquanto este repete as palavras “trinta e tre ̂s” em voz alta. Como ja ́ ressaltado para as outras técnicas, é sempre um exerci ́cio comparativo. Os sons de origem central, como a voz, sa ̃o atenuados quando transmitidos perifericamente, atrave ́s do pulma ̃o normal, o que leva à ausculta de sons abafados e palavras indistintas. Nessa situac ̧ão, diz- se que a ausculta da voz é normal. A intensidade do som transmitido à parede tora ́cica tem a mesma distribuic ̧ão que a descrita para o fre ̂mito toracovocal. Quando ocorre consolidac ̧ão pulmonar, com via respirato ́ria pérvia, há melhor transmissa ̃o do som pelo pare ̂nquima consolidado. Isso pode dar origem a som em que cada si ́laba de cada palavra e ́ distinta e facilmente reconhecida ou, enta ̃o, a som anasalado. Ao contra ́rio, quando ha ́ derrame pleural ou pneumoto ́rax, isto é, uma barreira, a voz auscultada torna-se de intensidade diminui ́da ou até mesmo abolida Referência PORTO, CELMO C.; PORTO, ARNALDO L.. Semiologia Médica. 8ª edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021.
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