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Prof. Marcelo Adriano www.focusconcursos.com.br 1 Direito Processual Penal Ação penal I AÇÃO PENAL Introdução Havendo uma infração penal, deve o Estado agir para exercer seu jus puniendi, pois, com o intuito de garantir a paz social, são vedadas a vingança privada (auto- defesa) e a auto-composição, ou seja, não pode o cidadão por seus próprios meios resolver a lide penal, fazendo justiça com as próprias mãos ou aceitando compensações pelo crime, salvo exceções. Cabe então aquele que tem legitimidade, Ministério Público (estado acusador) ou querelante (ofendido ou quem tiver qualidade para representá-lo ou sucedê-lo), levar ao Poder Judiciário (Estado-julgador) a análise do fato com o fim de satisfazer suas pretensões punitivas a partir da prestação jurisdicional por parte do Estado-juiz que, julgando o acusado culpado, aplica a pena. Assim, só encontrará guarida a pretensão punitiva do titular da ação penal se houver provocação ao órgão encarregado de aplicar justiça (judiciário). Conceito de ação penal Ação Penal é o direito público subjetivo, previsto na Constituição Federal, de o Estado-Acusação (Ministério Público) ou particular ofendido exigir do Estado-Julgador (Poder Judiciário) a aplicação da pena ao autor do crime, ou seja, a aplicação da norma penal ao caso concreto (poder jurisdicional). Fique atento: Não se confundem ação, processo e procedimentos. Processo é a ferramenta que vai viabilizar e efetivar o direito de ação, de pedir ao poder judiciário a resolução de uma lide penal, com a aplicação da lei ao caso concreto. Externamente, é uma sucessão de atos direcionados à sentença. Internamente, é uma relação estabelecida entre as partes (acusação e réu) e o juiz. Procedimento é a forma e o ritmo dado a sucessão de atos que buscam a sentença. Pode ser considerado comum ou especial. Fundamentos do Direito de Ação Os fundamentos do direito de ação repousam na proibição da vingança privada (auto defesa), na proibição da auto-composição, em matéria penal, e na garantia da inafastabilidade da jurisdição. Art. 5º, XXXV. A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito. Assegura-se, assim, ao indivíduo que tiver seu direito lesado ou ameaçado de lesão a possibilidade de pleitear ao poder judiciário a prestação jurisdicional devida. Prof. Marcelo Adriano www.focusconcursos.com.br 2 Direito Processual Penal Ação penal I Atenção: existem mecanismos que excepcionam à proibição à autodefesa (legítima defesa e estado de necessidade) e mitigam a proibição à auto-composição (possibilidade de transação penal para infrações de menor potencial ofensivo - lei 9099/95, art. 76). Lei 9099/95 Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal pública incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério Público poderá propor a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas, a ser especificada na proposta. § 1º Nas hipóteses de ser a pena de multa a única aplicável, o Juiz poderá reduzi-la até a metade. § 2º Não se admitirá a proposta se ficar comprovado: I - ter sido o autor da infração condenado, pela prática de crime, à pena privativa de liberdade, por sentença definitiva; II - ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de cinco anos, pela aplicação de pena restritiva ou multa, nos termos deste artigo; III - não indicarem os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, ser necessária e suficiente a adoção da medida. § 3º Aceita a proposta pelo autor da infração e seu defensor, será submetida à apreciação do Juiz. § 4º Acolhendo a proposta do Ministério Público aceita pelo autor da infração, o Juiz aplicará a pena restritiva de direitos ou multa, que não importará em reincidência, sendo registrada apenas para impedir novamente o mesmo benefício no prazo de cinco anos. § 5º Da sentença prevista no parágrafo anterior caberá a apelação referida no art. 82 desta Lei. § 6º A imposição da sanção de que trata o § 4º deste artigo não constará de certidão de antecedentes criminais, salvo para os fins previstos no mesmo dispositivo, e não terá efeitos civis, cabendo aos interessados propor ação cabível no juízo cível Características do direito de ação Como principais características desse direito, é possível citar: Público: A ação penal é de natureza pública, se exerce em face do próprio Estado, que é provocado a aplicar a norma penal no caso concreto, pois detém o monopólio da prestação jurisdicional. Prof. Marcelo Adriano www.focusconcursos.com.br 3 Direito Processual Penal Ação penal I Subjetivo: O titular do direito de ação já está predefinido na legislação processual, sendo o Ministério Público (ação penal pública) ou o querelante (ação penal privada). Abstrato: O direito de ação não depende do resultado da ação penal, que pode ser julgado procedente ou improcedente, de qualquer maneira o direito de ação terá sido exercido. Ainda que o juiz deixe de receber a inicial acusatória, mesmo assim o direito de ação terá sido exercido. Autônomo: a autonomia decorre do fato de que a existência do direito de ação independe da relação jurídica material. Instrumental: o direito de ação serve para concretizar a norma de direito material, não sendo um fim em si mesmo. Classificação das ações/espécies de ação - (titular do direito) A principal classificação das ações penais separa-as, segundo o titular, em duas espécies: pública, cujo titular é o Ministério Público, e privada, cujo titular é o particular ou quem tiver qualidade para representá-lo ou sucedê-lo. Ação penal pública Ação penal, cuja titularidade pertence privativamente ao Ministério Público, pois este é o órgão de acusação oficial do Estado (art. 129, inc. I da CF e art. 257 do CPP). Constituição Federal de 1988 Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei; Segundo art. 100 do CPP, a ação penal pública é a regra entre as ações. A ação penal pública pode ser dividia em duas subespécies: Ação penal pública incondicionada É a regra dentre as ação, pois quando a lei se cala em relação a qualquer condição ao exercício da ação penal, quer dizer que não há condição nenhuma e a ação será exercida pelo ente estatal (Ministério Público), independente da vontade do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo ou substituí-lo. Chama- se incondicionada por não exigir nenhuma condição para que o estado desenvolva a persecutio criminis. Ocorrendo o fato definido como crime, não requer a autorização para que o estado investigue e o MP ofereça a ação. Prof. Marcelo Adriano www.focusconcursos.com.br 4 Direito Processual Penal Ação penal I Ação penal pública condicionada Mesmo o crime sendo de ação penal pública, em algumas situações a lei pode exigir uma manifestação de vontade para que se inicie ou que se dê prosseguimento à persecutio criminis. Essa autorização é denominada condição de procedibilidade e sem ela nem mesmo a prisão em flagrante pode ser formalizada. CPP Art. 24. Nos crimes de ação pública, esta será promovida por denúncia do Ministério Público, mas dependerá, quando a lei o exigir, de requisição do Ministro da Justiça, ou de representação do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo ou sucedê-lo. Existem duas espécies de condição de procedibilidade: Representação do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo ou sucedê-lo. Requisição do Ministro da Justiça Ação Penal Privada Ação penal privada é aquela titularizada pelo próprio ofendido ou quemtiver qualidade para representá-lo ou sucedê-lo, nessa situação na vítima atua em nome próprio pedindo ao Estado que puna o responsável pela conduta delituosa. A ação penal privada possui três subespécies, a saber: 1) Ação penal Exclusivamente privada, é a ação penal privada propriamente dita. 2) Ação penal privada personalíssima, somente a vítima pode entrar com a ação penal, por isso não se admite sucessão processual. 3) Ação penal privada subsidiária da publica. Nesse caso, o ofendido só poderá entrar com essa modalidade de ação quando o MP ficar inerte.