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O QUE É? É uma doença crônica que decorre do refluxo retrógrado de parte do conteúdo do estômago e duodeno para o esôfago ou órgãos adjacentes a ele – como a nasofaringe e rinofaringe, eventualmente pulmões. Aspecto variado de sintomas e sinais esofagianos e/ou extraesofagianos que podem ou não estarem associados a lesões teciduais. Não é causada exclusivamente por um refluxo ácido, pois o refluxo do duodeno possui secreção básica (secreção biliar). Obs.: O paciente portador da DRGE não necessariamente precisa ter achados de lesão tecidual num exame endoscópico. INTRODUÇÃO São normais episódios de refluxo do estômago para o esôfago devido à anatomia do TGI. No entanto, o que não pode acontecer é que esse refluxo tenha uma frequência e intensidade ou características que causem lesões no órgão alvo, que pode ser uma esofagite, pneumonia por broncoaspiração, laringite etc. O esfíncter esofagiano inferior (EEI – estrutura cilíndrica que fica na transição entre o esôfago e o estômago) tem o objetivo de relaxar-se para a entrada do alimento no estômago e fechar-se logo após a passagem do alimento. Logo, ele impede que o conteúdo do estômago volte para o esôfago ou órgãos adjacentes. Quando há uma incompetência desse esfíncter, pode ter refluxo e a consequência mais comum é a esofagite. FISIOPATOLOGIA Quando é observado o refluxo? 1. Quando a pressão intraesofágica é baixa demais, então a pressão intragástrica (que encontra-se maior), faz com que o conteúdo gástrico percorra no sentido contrário. 2. Quando o EEI é incompetente, havendo assim um relaxamento espontâneo não associado a uma onda peristáltica do corpo esofágico. Situações que alteram o funcionamento do esfíncter, causando refluxo: Relaxamentos transitórios de EEI; Baixa pressão de repouso – hipotonia do EEI; Aumentos transitórios na pressão intra- abdominal; (gestação, obesidade, ascite) Há uma forte relação da DRGE com uma alteração anatômica na transição esôfago-gástrica, a Hérnia Hiatal por deslizamento. (80% dos pacientes com refluxo importante possuem) HÉRNIA DO TIPO 1 – HÉRNIA HIATAL POR DESLIZAMENTO É a migração/deslocamento da transição esôfago- gástrica (geralmente: junção cardioesofágica + fundo do estômago) de dentro da cavidade abdominal para dentro do mediastino posterior. Quando isso acontece, o EEI perde o aspecto anatômico clássico em que o diafragma ajuda no mecanismo de patência do esfíncter e migra para dentro do mediastino posterior. Obs.: Existem pacientes com DRGE que não têm hérnia, assim como também há pacientes com hérnia que não possuem DRGE. Aspecto endoscópico: observa-se o pinçamento diafragmático mais abaixo e a transição da mucosa do esôfago para a mucosa do estômago acima do pinçamento. Tudo o que está entre essas duas estruturas é a hérnia tipo 1. Na visão endoscópica, pela manobra de U- turn, de dentro do estômago vê-se o alargamento do hiato, que é característico desse tipo de hérnia. HÉRNIA DO TIPO 2 – HÉRNIA POR ROLAMENTO OU PARAESOFÁGICA Nesse tipo de hérnia, a junção gastroesofágica permanece dentro do abdômen, mas existe um defeito hiatal paralelo à junção. Esse defeito costuma ser grande, fornecendo espaço para as vísceras como o estômago (mais comum), o cólon e o baço migrarem para dentro do mediastino. HÉRNIA DO TIPO 3 É uma combinação da hérnia do tipo I e do tipo II, em que a junção gatroesofpagica e a tuberositária (ou outra víscera – geralmente estômago) estão livres para o mediastino. A hérnia do hiato não é exclusiva e nem necessária para fechar o diagnóstico de DRGE. Assim como a simples presença da hérnia não implica em indicação cirúrgica quando não associadas a sintomas da DRGE para essa indicação. Como principal efeito de uma hérnia de hiato, a cárdia e o esôfago distal têm o potencial de serem expostos à pressão negativa da cavidade torácica, diminuindo a pressão do esfíncter, com isso facilita a ocorrência do refluxo. QUADRO CLÍNICO DA DRGE Pirose: queimação gástrica que apresenta fator de piora após a alimentação ou em decúbito e fator de melhora após a ingesta de água e em posição ortostase (nessa posição reflui menos). Pode simular uma angina. Regurgitação: a volta do resíduo alimentar para a boca indica avanço da doença. Anemia e Vômitos: acontece principalmente em lactentes, em que o EEI ainda pode estar imaturo. Disfagia: pode ocorrer associada a uma fase avançada da doença, quando há um edema (estenose) e uma inflamação no esôfago distal devido ao refluxo, ocasionando dificuldade da passagem do alimento. Sintomas não esofágicos mais comuns: Queimação retroesternal (80%); Regurgitação (54%); Dor abdominal (29%); Sintomas extraesofágicos: Tosse (27%); Disfagia para sólidos (23%); Ronquidão (21%); Eructação (15%); Meteorismo (15%); Broncoaspiração (14%); Sibilância (7%); Bolo na garganta (4%). É pouco comum um paciente com DRGE ter só sintomas respiratórios como tosse e broncoaspiração. Quando ele possui esses sintomas, costuma ser associado aos sintomas extraesofagianos e esofagianos. DIAGNÓSTICO POR IMAGEM É possível a avaliação da existência de refluxo através de uma Seriografia Esofago- gastrodueodenal com a administração de contraste (bário) + radiografia. Avalia com precisão estenose (alteração de fase avançada da doença) e avalia de forma grosseira a motilidade do esôfago. A Endoscopia digestiva alta com biópsia é o exame mais utilizado para investigação de DRGE. Determina presença e o grau de esofagite de forma precisa. Valor para excluir outras doenças que simulam um quadro de refluxo, como doenças gástricas ou neoplasias esofágicas. CLASSIFICAÇÕES Savary-Miller: não é tão usada. Los Angeles: tem relação tanto com o envolvimento no comprimento ao longo da prega quanto com envolvimento circunferencial. Grau A: não envolve prega adjacente e a erosão é menor que 5 mm; Grau B: não envolve prega adjacente e a erosão é maior que 5 mm; Grau C: envolve duas pregas, mas menos que 75% da circunferência do esôfago; Grau D: envolve certamente mais que duas pregas emais que 75% da circunferência. MANOMETRIA ESOFÁGICA (EMN) É a melhor forma de avaliar a patência do EEI. A principal indicação é o pré-operatório da cirurgia anti-refluxo e é realizada através de um tubo flexível com dispositivos sensíveis à pressão (preenchidos por água ou em estado sólido) organizados em intervalos de 5 cm. O que a EMN permite avaliar? 1. Pressão do EEI, em que o ideal é entre 18 e 30mmHg (abaixo desse valor, considera-se o EEI incompetente ou hipotônico); 2. Comprimento do total do esôfago; 3. Comprimento intra-abdominal; 4. Distância do EEI em relação às narinas; 5. Atividade peristáltica – percentual de deglutições iniciadas (valor normal é maior que 80% da peristalse); 6. Amplitude da onda peristáltica – média da pressão geral no esôfago distal durante as ondas peristálticas transmitidas de forma efetiva; 7. Determinar a motilidade não-efetiva do esôfago (MEI) – definida como menos de 60% de peristalse ou amplitudes menos que 30mmHg, geralmente associada a DRGE importante. MONITORIZAÇÃO DO pH 24 HORAS A pHmetria é padrão-ouro para o diagnóstico do DRGE e a quantificação do refluxo ácido. Indicado para pacientes que apresentam sintomas atípicos da doença, dor torácica não cardíaca (DTNC), sintomas respiratórios, manifestações otorrinolaringológica (ORL). Parâmetros de DeMeester: 1. Número total de episódios de refluxo ácido (pH menor que 4); 2. Episódio de refluxo prolongado; 3. Número de episódios com duração maior que 5 minutos; 4. Grau de refluxo na posição ereta e na posição decúbito dorsal; Obs.: por meio desses parâmetros, calcula-se o score de DeMeester (pontuaçãoinferior a 14,7: diagnostica-se um refluxo patológico)! É possível realizar a monitorização do pH através de uma sonda nasal ou por uma cápsula telemérica. Cápsula Telemérica: é posicionada alguns centímetros acima da transição esofagogástrica e registra o pH por 48 horas. Não causa desconforto o desconforto da sonda nasal aos pacientes, mas apresenta alto custo e alguns pacientes relatam desconforto torácico. Impedanciophmetria Prolongada (IMP-pH): baseando-se na medida da resistência elétrica etre pares de eletrodos, avalia o refluxo ácido e o não- ácido durante 24h. Capaz de caracterizar a natureza do refluxo (líquido, gasoso ou misto); Principal indicação é quando há persistência dos sintomas na vigência de medicação. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL 1. Colelitíase: dor ou cólica biliar relacionada com o tipo de alimento mais gorduroso/fritura. 2. Angina do peito: causa cardíaca, desconforto nessa região. 3. Diverticulite: relacionada com constipação crônica, doença hemorroidária. 4. Úlcera: pirose mais intensa, podendo estar associada a episódios anteriores de sangramento do TGI. 5. Acalasia: associada a uma hipertonia do EEI, sendo assim, o oposto da DRGE. COMPLICAÇÕES DA DRGE 1. Esofagite; 2. Esôfago de Barret; 3. Pneumonia; 4. ASMA. ESÔFAGO DE BARRET É uma complicação da evolução da esofagite, podendo acontecer em até 10-15% dos pacientes com essa inflamação, sendo mais comum em homens entre 50-70 anos. Metaplasia que substitui o epitélio escamoso do terço distal do esôfago por epitélio colunar devido à exposição crônica desse epitélio ao refluxo ácido gástrico ou básico. Quando isso acontece, clinicamente, o paciente apresenta uma pirose mais branda. No entanto, isso não é bom, pois se essa metaplasia for associada a uma displasia de alto grau, existe chance de malignização (Adenocarcinoma do Esôfago é encontrado em 10% dos pacientes com epitélio de Barret). Critérios diagnóstico de Barret: Extensão mínima de 3 cm acima da JEG; Pode ser em placas (confinado aos 10 cm distais do esôfago); Histologicamente (intestinal, juncional, fundico-gástrico). TRATAMENTO CLÍNICO Medidas dietéticas e posturais: Evitar deitar-se após as refeições; Elevar cabeceira da cama sobre blocos de 10-15 cm; Refeições de pequeno volume e maior frequência. Medicamentos: Inibidores de bomba de prótons (omeprazol e todas as classe mais modernas como ezomeprazol); Procinéticas (melhoram o esvaziamento gástrico); Bloqueadores de receptores H2. Quando necessita de tratamento cirúrgico? Sintomas persistentes ou recorrentes (15% dos casos de DRGE); Incompetência do EEI; Presença de estenose (é possível até regredir ou aliviar a estenose com uma dilatação endoscópica, mas se não tratar o mecanismo pelo qual o refluxo acontece, essa estenose volta). FUNDOPLICADURA DE NISSEN É o procedimento mais utilizado e mais efetivo, elevando em média 10mmHg na pressão do EEI. Hoje, é feita com muita segurança por meio da videolaparoscopia. Faz-se uma dissecção esofagogástrica dos pilares diafragmáticos, traciona-se distalmente o estômago e realiza-se o deslocamento da grande curvatura gástrica que está aderida ao baço através do ligamento espleno-gástrico. Em seguida, é feito: um deslocamento do saco herniário (geralmente está dentro do mediastino posterior); um reforço dos pilares diafragmático; e a confecção da Válcula Gastro-gástrica em 360º.
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