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Tolerância e autoimunidade O processo de ativação dos linfócitos T e B não pode ocorrer constantemente e para qualquer antígeno, pois também há apresentação de antígenos próprios. Tolerógenos: antígenos que induzem tolerância (antígeno tolerogênico). A tolerância aos autoantígenos, também chamada de autotolerância, é uma propriedade fundamental do sistema imunológico normal. A falha na autotolerância resulta em reações imunológicas contra antígenos próprios, chamado de autoimunidade. Tolerância a antígenos próprios: Há checkpoints durante a maturação dos linfócitos T e B para garantir que eles sejam funcionais. Na proliferação dos linfócitos, antes e depois da formação dos pré-receptores, há um checkpoint para ver se esses pré-receptores estão funcionais e se há ligação de alta intensidade deles com o que é próprio se essa ligação ocorrer, a célula é estimulada através de citocinas (TNF), para ativar as vias de sinalização, que levam a formação e caspases (6 e 8), estimulando a apoptose. Posteriormente há outro checkpoint, quando as células começam a expressar os receptores maduros; o forte reconhecimento desses receptores com antígenos próprios, faz com que essa célula seja estimulada a apoptose. Tolerância central: relacionado com a formação dessas células; processo de seleção que ocorre nos órgãos linfoides centrais – medula óssea (B) e timo (T). Se houver o reconhecimento de autoantígenos pelas células B, elas podem ser estimuladas a trocarem os seus receptores (BCR- imunoglobulinas da classe IgM e IgD não solúveis). O reconhecimento de autoantígenos pelas células T pode levar ao desenvolvimento de linfócitos T regulatórios. Linfócitos T: timócitos apresentam antígenos via MHC de classe II para células T imaturas no timo; caso esse linfócito reaja fortemente ao autoantígeno, ocorre liberação de citocinas que levam essa célula a apoptose. Mas pode ocorrer também o desenvolvimento de células T regulatórias – começam a apresentar marcadores de superfície diferentes das células T CD4, que a caracteriza como Treg ela vai então para a periferia fazer seu papel de regulação da resposta imune. **elas são ativas em processos de autoimunidade e de inflamações mediadas pro células T – elas impedem que haja uma exacerbação da resposta imune celular, mediando por citocinas, como IL- 10, que ajudaram a diminuir a ativação de células T, fazendo com que tenha uma diminuição da resposta imune e consequentemente diminuição da inflamação. Nas células epiteliais do timo AIRE – fator de transcrição que ativa a transcrição genica no núcleo e produzir alguns antígenos – antígenos restritos a tecidos (TRAs) são antígenos próprios celulares. Com isso, as moléculas de MHC vão colocar essas moléculas de TRAs na fenda; elas serão reconhecidas pelas células T, que consequentemente, serão estimuladas a apoptose seleção negativa. Caso haja diminuição desse fator de transcrição (por qualquer motivo, problemas genéticos ou fatores ambientais que alterem a sua expressão) não ocorre a seleção dessas células autorreativas e, consequentemente, a não apoptose, deixando essas células disponíveis para reconhecer antígenos próprios, destruindo as células, levando a autoimunidade/doenças autoimunes. Linfócitos B: quando uma célula B reconhece autoantígeno com alta avidez ela pode ser estimulada a modificar seus receptores de superfície (mudando a cadeia leve das imunoglobulinas) fazendo com que ela não seja mais autorreativa; ou podem ser estimuladas, através de citocinas, a entrar em apoptose, via ativação de caspases. Quando há o reconhecimento de autoantígeno com baixa avidez, a expressão dos receptores será diminuída, levando essa célula a anergia. Tolerância periférica: ocorre quando as células já maduras estão circulando em órgão linfoides secundários, como baço, linfonodos, e se encontram com autoantígenos, podendo levar a um processo de anergia (não reagem contra aquele antígeno), a um processo de apoptose, ou uma supressão mediada pelas células regulatórias. Linfócitos T: as células T autorreativas que escaparam da tolerância central, podem ser coibidas por 3 mecanismos: Anergia: as APCs quando vão apresentar antígenos para as células T, como é próprio, não expressam co-receptores, fazendo com que não haja uma ativação efetiva da célula T, tornando-a anergica, não responsiva. **a APC sabe que é um autoantígeno e não apresenta co-receptores ou apresenta co-receptores inibitórios, fazendo com que haja um bloqueio/inibição da ativação. A célula Treg apresenta CTLA-4 que se liga ao B7 da APC, fazendo com que esse co-receptor B7 seja fagocitado; com a coestimulação reduzida, ocorre inibição da ativação da célula T. Supressão: células Treg, através de citocinas e quimiocinas, vão estimular que essas células T não sejam ativadas – inibição da célula T. *elas também causam inibição de células B e NK. Deleção: citocinas estimulam que essas células entrem em apoptose. Reconhecimento Fas/FasL, que ativa caspases, levando a fragmentação do núcleo e ruptura da célula, destruindo-a; formação do corpo apoptótico que será fagocitado pelos macrófagos. A tolerância para linfócitos T CD8 funciona basicamente da mesma forma, com alguns co- receptores específicos. (1)A célula T CD8 que reconhece o próprio, será estimulada por algumas citocinas, como a IL-7, fazendo com que a balança pró e anti-apoptótica fique desequilibrada, levando essa célula a apoptose. (2)Se houver uma constante estimulação dessa célula pelo antígeno através do TCR, mesmo não conseguindo leva-la a uma apoptose, pode ter uma sinalização pelas ERK-quinases, que leva a uma deleção dessa célula, deixando-a não funcional. (3)Ou pode deixa-la anergica – incapaz de fazer realizar sua função efetora. Linfócitos B: células maduras fora dos órgãos centrais anergia funcional – diminuição dos receptores de membrana; estimuladas a apoptose via citocinas; ou ativação de receptores de superfície que são inibitórios. Tolerância oral: capacidade do organismo de tolerar alimentos. Falta de enzimas que degrada algum alimento, fazendo com que ele se acumule e o organismo o reconheça como algo que induz inflamação/dano – algo antigênico, montando uma resposta contra aquilo. **na alergia de algum alimento ocorre liberação de histaminas. A tolerância se dá por células Treg que estimulam, através de citocinas (principalmente TGF-beta), a que não haja uma resposta imune contra os componentes alimentares e bactérias comensais importantes. As células Treg inibem constantemente a ativação de padrões Th1 e Th2, além disso, esse constante contato leva a um processo de exaustão do sistema imunológico, levando a uma diminuição na capacidade de reação contra esses patógenos, fazendo com que haja um equilíbrio/tolerância desses alimentos e microrganismos no lúmen intestinal. Se todos esses mecanismos de tolerância falharem, ocorre um caso de doença autoimune. Características gerais da autoimunidade Podem ser sistêmicas ou órgão-especificas (dependendo da distribuição dos autoantígenos que são reconhecidos). Possui vários mecanismos efetores que são responsáveis pela lesão do tecido em diferentes doenças autoimunes, podendo ser por: deposição de imunocomplexos, produção de autoanticorpos circulantes, linfócitos T autorreativos, produção de citocinas. Geralmente são doenças crônicas, progressivas e de autoperpetuação. As razões para essas características são: (1) os autoantígenos que disparam essas reações são persistentes mecanismos amplificadores; (2) uma resposta iniciada contra um autoantígeno que lesiona tecidos pode resultar na liberação e alteração de outros antígenos teciduais propagação do epítopo.Mecanismos das autoimunidades: Tríade da autoimunidade: fatores genéticos, fatores ambientais e regulação imune. problemas nessa tríade leva ao desenvolvimento de doenças autoimunes. Suscetibilidade genética: genes suscetíveis farão falha na autotolerância, que levará a produção de células T autorreativas, levando a lesão tecidual das células imunes. Associação de genética do HLA com autoimunidade quadro mostra os tipos de HLA e os respectivos riscos. **HLA no cromossomo 6, classe II – porção DQ e DR relacionada a susceptibilidade/resistência a doenças autoimunes. Outros genes podem estar associados também com o desenvolvimento de doenças autoimunes. Ex.: no lúpus – deficiência de genes que codificam proteínas do complemento (C e lectina ligadora de manose), problema no gene FCGR2A. Problemas no gene FQXP3 – diminuição da função das células Treg. Defeitos na produção de citocinas ou na sinalização podem levar à autoimunidade aumento da expressão de TNF-alfa pode levar a doença intestinal inflamatória, artrite, vasculite; aumento de IFN-gama pode levar ao lúpus eritematoso sistêmico (LES); expressão diminuída de TNF-alfa também pode estar relacionada a LES. Papel das infecções na autoimunidade 1)Ativação de de APCS: lises constantes nos tecidos devido ao microrganismo, pode fazer com que APCs apresentem não só fragmentos dos microrganismos como também fragmentos celulares das próprias células, para células T. Se essa célula for capaz de reconhecer fortemente esses antígenos, ela se tornará uma célula autorreativa que será capaz de reagir contra aquele tecido, levando a autoimunidade. 2)Mimetismo molecular: quando as estruturas peptídicas de microrganismos são semelhantes as nossas. Ativação da célula T para combater o antígeno - esse antígeno é muito semelhante a estruturas do próprio organismo, fazendo com que essa célula T reaja tanto contra o microrganismo, como também contra o tecido que tem aquela proteína similar. A destruição constante do tecido pode levar ao reconhecimento; as células B podem ativar células T, que produzirão citocinas que irão estimular as células B a secretar anticorpos, que irão reconhecer esses resquícios celulares como antígenos. Doenças autoimunes pós infecção: artrite por chicungunha. Algumas doenças autoimunes envolvem todos os aspectos da respos imune - LES, diabetes tipo 1, miastenia grave, esclerose múltipla envolve células T, B e produção de anticorpos. Anemia hemolítica autoimune Produção de anticorpos contra as hemácias, levando a sua lise. Bilirrubina – relacionada ao metabolismo hepático da hemoglobina – aspecto amarelado na pele e nos olhos, urina escura. Doença de graves Produção de anticorpos contra receptores do hormônio estimulante da tireoide. A tireoide secreta o TSH que atua na tireoide para que ela produza T3 e T4; nessa doença, os anticorpos também estimulam a produção do hormônio da tireoide, mas esses hormônios por sua vez cessam a produção de TSH, mas não tem efeito na produção de anticorpos, que continua a causar excessiva produção de hormônios da tireoide. Mães portadoras da doença de grave, podem passar os anticorpos anti-TSHR para o feto pela placenta, assim o recém nascido nasce com a doença – hipertireoidismo. *plasmaférese - transfusão com plasma normal, removendo os anticorpos materno, levando a cura da criança. Miastenia grave Produção de anticorpos contra os receptores de acetilcolina, na junção neuromuscular. Esses receptores quando ligados aos anticorpos são internalizados e degradados. Quando ocorre o impulso neuronal, os anticorpos bloqueiam os receptores, impossibilitando que o estimulo passe para o musculo - não há influxo de Na+, logo não há contração muscular. Diabetes tipo I – autoimune Células T reconhecem peptídeos das células beta do pâncreas. Essas células T CD8 destroem as células beta, produtoras de insulina, levando a não liberação de insulina e aparecimento da diabetes. Esclerose múltipla Fatores desconhecidos iniciam uma inflamação na barreira hematoencefálica, deixando-a mais permeável a leucócitos e proteína do sangue. Células T com especificidade por antígenos do SNC e ativadas nos tecidos linfoides secundários reencontram o antígeno que está sendo apresentado na micróglia ou nas células dendríticas do cérebro. Isso leva a um processo de reação inflamatória no cérebro, com ativação de mastócitos, sistema complemento, de anticorpos e citocinas esses AC e sistema complemento se ligam as barreiras de mielina presentes nos neurônios, levando a sua destruição. Com isso, o impulso nervoso não é levado de forma eficiente. Artrite reumatoide Migração de leucócitos e do sistema complemento para a membrana sinovial; essa migração está relacionada com fatores genéticos, ambientais, infecções por microrganismos (mas ainda não se sabe como esses fatores causam essa migração). As células autorreativas T CD4 ativam macrófagos, resultando na produção de citocinas pró-inflamatórias (TNF, IL-6) e na persistência da inflamação. As citocinas induzem a produção de MMP e do ligante de RANK pelos fibroblastos, isso faz com que haja uma ativação de células destruidoras de tecidos, os osteoclastos, que levará a um processo de destruição da cartilagem da articulação. Doença de Crohn Resulta de uma hiper-resposta anormal de células T CD4 a antígenos da microbiota comensal intestinal normal, ao contrário de autoantígenos verdadeiros. A hiperatividade anormal de células T Hl e T Hl 7 parece ser patogênica nessa doença. Aumento de citocinas pró-inflamatórias levando a aumento da inflamação no lúmen intestinal, o que causa destruição das células presentes no intestino. Febre reumatoide Ocorre mimetismo molecular – pessoa que constantemente tem infecção de garganta pelo Streptococcus pyogenes. Essa bactéria é fagocitada e apresentada para células T que apresentarão para células B, que produzirá anticorpos. Essa produção de anticorpos pode ser direcionada para outros tecidos, principalmente tecidos cardíacos e válvulas cardíacas, levando a um processo de inflamação que pode acarretar em perda de função de uma válvula por exemplo (calcificação). Lúpus eritematoso sistêmico Desequilíbrios ambientais e fatores genéticos que levarão a uma desregulação do sistema imune. Ocorre apoptose de células e os restos não são removidos corretamente; esses restos contem DNA, que podem ser reconhecidos como antígenos. Quando apresentado para células T autorreativas, elas podem ativar padrão Th2, ativar outras células B a produzir mais anticorpos, que se ligarão a esses restos de matérias, podendo se depositar em vasos (vasculopatias), induzir a formação de ateroma, pode levar a problemas nos rins por imunodepositos no glomérulo (ativa sistema complemento e acaba ocorrendo destruição desses glomérulos). Pênfigo Desmogleinas e caderinas mantem a união dos queratinócitos na pele. Nessa doença ocorre produção de anticorpos contra essas proteínas, fazendo com que aja destruição delas e lesão em mucosas e na pele. Diagnóstico laboratorial das doenças reumáticas Os exames mais uteis são aquele que procuram responder a uma pergunta especifica. Resultados devem ser interpretados dentro de um quadro clinico. No laboratório reumatológico tem-se a procura de: provas inflamatórias, autoanticorpos, imunocomplexos e proteínas complementos. Dentro das provas inflamatórias tem-se: VHS, PCR, EFP e mucoproteínas. VHS – velocidade de hemossedimentação mede a extensão da queda das hemácias em uma coluna, num dado intervalo de tempo. Encontra-se alteado em vários processos inflamatórios, até mesmo em neoplasias. Alta sensibilidade e baixa especificidade – pode ter falsos + e falsos -.É utilizado no diagnostico e monitorização da atividade e da resposta terapêutica na artrite reumatoide, lúpus eritematoso sistêmico, espondiloartropatias soronegativas, arterite temporal e polimialgia reumática. **muitos fatores podem influenciar no VHS, podendo dar alterado em casos inespecíficos. PCR – proteína C reativa produzida pelo fígado em processos inflamatórios; é uma proteína de fase ativa. Aumenta em 4-6h pós o processo inflamatório e tende a normalizar até 7 dias após o cessamento da inflamação. Eletroforese de proteínas albuminas, alfa1, alfa2, beta e gama (relacionada a produção de anticorpos). Aumento de alfa1 e 2 – resposta inflamatória aguda (aumentados principalmente na febre reumática). Aumento de gama – resposta inflamatória crônica. Mucoproteínas são proteínas de fase aguda, aumenta ou diminui em resposta ao estimulo inflamatório. Autoanticorpos sua detecção quando associada a achados clínicos auxilia no diagnóstico de várias doenças reumáticas autoimunes. A sua presença sem achado clinico não é autoimunidade (não usar como screening). - Fator reumatoide - Fator antinuclear (FAN): conjunto de anticorpos que reagem contra componentes intracelulares. Anticorpo anti-DNA, anticromatina (importantes no LES), anti-SS-A, anti-SS-B (síndrome de Sjogren). **não tem utilidade para o acompanhamento da doença, já que seus títulos não possuem necessariamente correlação com o grau de atividade. - Anticorpos anti-fosfolipases - Anticorpos anti-citoplasma de neutrófilos (ANCA) - Proteínas do sistema complemento - Crioglobulinas (AC que precipitam a baixas temperaturas) – LES, artrite reumatoide, S. Sjoren - Antiestreptolisina O (ASLO) – febre reumática 80% positivo Ácido úrico – aumentado em 90% dos portadores de gota. Presença de cristais de urato de sódio no liquido sinovial em pacientes com gota. *relacionado ao metabolismo de proteínas.
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