Buscar

Poder Familiar

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO
Ranuelly Veríssimo
DIREITO DE FAMÍLIA
Poder familiar, tutela e curatela
Campo Grande, Mato Grosso do Sul
2019
Poder Familiar
CONCEITO
No direito antigo, a estrutura da família alicerçada no princípio da autoridade, constitui a noção de pátrio poder em termos rígidos. Havia, pois, forte influência religiosa tendo-se em vista que o chefe da família – pater – era, ao mesmo tempo, o sacerdote do culto doméstico. Já no direito moderno declinou-se a expressão pátrio poder e foi extinta a sua atribuição ao marido, surgindo assim a expressão “poder familiar”, sendo confiada a ambos os pais, como expressão da igualdade jurídica dos cônjuges, a responsabilidade sob os direitos e deveres atribuídos a eles, no tocante à pessoa e aos bens dos filhos menores. 
Também para Paulo Lôbo o poder familiar não é a denominação mais apropriada, porque mantém a ênfase no poder, cujo termo se mostra inadequado, por não expressar a verdadeira ligação surgida entre pais e filhos, assim como o termo familiar estaria deslocado do contexto, pois pode levar a acreditar que os avós e irmãos também estariam investidos da função.
Expressões congêneres: pátria potestas (direito romano); pátrio poder (Código Civil de 1916); autoridade parental (direito francês).
NATUREZA JURÍDICA 
A origem do poder familiar está na razão natural de os filhos necessitarem da proteção e dos cuidados de seus pais, com absoluta dependência com o seu nascimento e reduzindo essa intensidade na medida de seu crescimento, desligando-se os filhos da potestade dos pais quando atingem a capacidade cronológica com a maioridade civil, ou através da sua emancipação pelos pais ou pelo juiz no caso de tutela e para tanto ouvido o tutor (CC, art. 5°, parágrafo único).
Estão submetidos ao poder familiar tanto os filhos naturais, oriundos ou não do casamento, ou quando resultantes de outra origem, aqui subentendidos os socioafetivos (CC, art. 1.593); como os adotivos, enquanto menores de dezoito anos (CC, arts. 5º e 1.630), figurando em seu contexto um conjunto de direitos e de deveres recíprocos.
TITULARIDADE DO PODER FAMILIAR 
A igualdade dos cônjuges na direção da sociedade conjugal, cujo primado deve ser estendido aos companheiros da união estável, e a qualquer outra entidade familiar, foi legalmente consagrada com a promulgação do artigo 226, § 5°, da Carta Política de 1988. Depois secundado pelo artigo 21 do ECA, e, na sequência, pelo artigo 1.631 do Código Civil, ao prescrever ser dos pais o poder familiar durante o casamento e a união estável, exercendo um deles, com exclusividade, o poder sobre os filhos somente na falta ou impedimento do outro, e, se entre eles houver divergência, será assegurado a qualquer dos pais recorrer ao juiz para solução do desacordo (CC, art. 1.631, parágrafo único). 
Tampouco a separação dos pais inibe o exercício do poder familiar do genitor destituído da guarda física dos filhos (CC, art. 1.632 e art. 1.636), só não exercendo o poder familiar quem não reconheceu seu filho (CC, art. 1.633), mas porque não consta do registro do menor a ascendência paterna ou materna, pendente do devido reconhecimento espontâneo ou judicial. 
Com o divórcio dos pais, o exercício conjunto do poder familiar se torna mais problemático em relação à lida diária da prole, quando, sabidamente, a coabitação dos genitores conjugais é dever inerente ao casamento, e não se faz diferente na união estável, como forma mais apropriada para bem criar os filhos comuns.
É comum deparar com o exercício unitário da custódia da prole, normalmente destinada à mãe, determinando o juiz, aos pais, um convênio meramente regulador das visitas do ascendente sem a guarda, tornando-se muito difícil a tomada conjunta de decisões pertinentes aos infantes comuns, porquanto esse poder familiar se dilui diante de uma guarda alternada, que tomou o formato de guarda compartilhada (física) pela Lei n. 13.058/2014, sendo consenso que a guarda unilateral afasta o outro genitor das decisões diárias que surgem no desenvolver da vida dos filhos, e bota o progenitor guardião em uma posição de supremacia de fato e de direito, na qual ele reserva para si um privilégio de desenhar a orientação e o cotidiano da vida dos rebentos de pais separados. 
Especialmente faltando aos pais separados condições harmoniosas de entendimento a benefício dos seus filhos comuns, àquele privado da companhia da prole só restariam as visitas de esporádica companhia e o direito de fiscalizar a manutenção e a educação realizada pelo titular da guarda, podendo recorrer ao juiz em caso de desacordo (CC, art. 1.631, parágrafo único).
CONTEÚDO DO PODER FAMILIAR
Como dever prioritário e fundamental, devem os genitores antes de tudo, assistir seus filhos, no mais amplo e integral exercício de proteção, não apenas em sua função alimentar, mas mantê-los sob a sua guarda, segurança e companhia, e zelar por sua integridade moral e psíquica, e lhes conferir todo o suporte necessário para conduzi-los ao completo desenvolvimento e independência, devendo lhes os filhos a necessária obediência.
 Sob o prisma do artigo 1.634 do Código Civil, o dever dos pais de criarem os filhos menores deve ser compreendido como o ato de promover o seu sadio crescimento, e assegurar à prole, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos inerentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária (CF, art. 227; ECA, art. 4º), e diante do compartilhamento da guarda jurídica, do ponto de vista do exercício do poder familiar, conceder-lhes consentimento para mudarem sua residência permanente para outro Município, de forma que a proibição de mudança de domicílio proteja o pai ou a mãe que tem a sua convivência melhor assegurada, pois mudar o domicílio do filho sem justificativa, visando dificultar a relação do infante com o outro genitor, configura alienação parental, tornando-se ato que depende da concordância de ambos os pais.
Também é dever fundamental dos pais o sustento de seus filhos menores, transmudando-se com a maioridade em obrigação alimentar, sendo assente na doutrina que o dever alimentar tem origem distinta da obrigação de sustento, o primeiro vinculado ao poder familiar sobre os filhos menores e incapazes. No dever alimentar há ilimitada solidariedade familiar entre pais e filhos menores de dezoito anos, não emancipados, levando ao extremo de ser exigida a venda de bens pessoais dos progenitores para assegurar por todas as formas o constitucional direito à vida, envidados todos os esforços dos genitores para atender as necessidades dos filhos ainda menores ou incapazes.
O dever de educar importa em preparar o filho para o exercício futuro da sua independência pessoal, qualificando-o para a vida profissional, com conhecimentos teóricos, práticos, formais e informais, todos eles imprescindíveis para a boa formação física, mental, moral e espiritual, referida pelo artigo 3° do Estatuto da Criança e do Adolescente.
Os pais representam os filhos até os dezesseis anos e a partir desta idade os assistem até atingirem a maioridade aos dezoito anos, salvo venham a ser emancipados (CC, art. 1.690).
EXTINÇÃO DO PODER FAMILIAR
Existem três distintas figuras jurídicas reguladas pelo Código Civil com relação à perda do exercício do poder familiar, a saber: a extinção, a suspensão e a perda do poder familiar. De acordo com o artigo 1.635 do Código Civil, são causas de extinção do poder familiar a morte dos pais ou do filho (inc. I), este como fator natural de extinção do poder familiar, apenas em relação ao genitor falecido e subsistindo o poder familiar quanto ao ascendente sobrevivente. Na eventualidade do óbito do filho, o encargo desaparece, agora em consequência do decesso do menor tutelado, pois nas duas hipóteses a morte extingue a titularidade dos direitos e das obrigações das pessoas (CC, art. 6°). Falecendo ambos os genitores, deixando elesum filho menor de idade, impõe-se a nomeação de um tutor.
Também é causa de extinção do poder familiar a emancipação do filho, a ser concedida conforme o artigo 5°, parágrafo único, do Código Civil, a ser realizada por instrumento público pelos pais, ou pelo tutor, mediante requerimento e homologação judicial. A emancipação é irrevogável, e deve ser outorgada por ambos os pais, em decorrência da completa paridade dos sexos, só sendo reduzida à pessoa de um dos genitores quando o outro já é falecido, foi destituído do poder familiar, ou quando inexistente o registro de um dos ascendentes. 
O casamento também emancipa, pois, como dizia Clóvis Beviláqua, não seria razoável que as graves responsabilidades da sociedade doméstica fossem assumidas pela intervenção, ou sob a fiscalização, de um estranho, não retornando à condição de menor sobrevindo sua viuvez, ou o divórcio, enquanto a nulidade e a anulação do casamento importam no retorno à condição de menor, eis que em ambos os institutos o casamento é invalidado. 
A hipótese prevista no inciso V do artigo 1.635 do Código Civil implica a perda do poder familiar por ato judicial do pai ou da mãe (CC, art. 1.638) que castigar imoderadamente o filho (I); deixar o filho em abandono (II); praticar atos contrários à moral e aos bons costumes (III); incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no artigo antecedente (IV), cujo último inciso retrata as hipóteses do abuso de autoridade dos pais, quando faltam aos deveres inerentes à sua função parental ou quando arruínam os bens dos filhos. A perda é o tipo mais grave de destituição do poder familiar, que somente poderá ser determinada por decisão judicial. E, por ser a mais grave, possui mais consequências. Uma vez aplicada a perda do poder familiar, as crianças e adolescentes, em sua maioria, são direcionados aos centros de acolhimentos para possível adoção.
A adoção é causa de extinção do poder familiar em relação aos pais biológicos, mas os pais precisam concordar com a renúncia ao seu poder familiar, salvo tenham deles sido destituídos, criando com a adoção um novo liame de poder familiar entre o adotante e o adotado, se for menor. 
A suspensão do poder familiar tem vez no artigo 1.637 do Código Civil, nas hipóteses de abuso de autoridade do pai, ou da mãe, faltando-os aos deveres inerentes ao seu ofício parental ou arruinando os bens dos filhos. Na sequência do prescrito pelo parágrafo único do artigo 1.637 do Código Civil, também é causa de suspensão do exercício do poder familiar o pai ou a mãe condenados por sentença irrecorrível, em virtude de crime cuja pena exceda a dois anos de prisão. 
Porém, a suspensão não é a medida finalística do dispositivo sob exame, mas tão somente uma das soluções judiciais, porque ao julgador é facultado tomar a decisão que melhor entender pela segurança do menor e de seus bens, nas hipóteses de abuso de autoridade e ruína de seus bens, a tanto acionado por requerimento de algum parente ou por iniciativa do Ministério Público.
Para Carlos Roberto Gonçalves a suspensão do poder familiar pode privar total ou parcialmente o pai ou a mãe dos direitos nele inseridos, assim como pode ser restrita a determinado filho, e não a todos os rebentos do conjunto familiar.
 
 Da Tutela
 CONCEITO
A tutela é instituto de proteção de menores mediante a qual é outorgada a representação, o governo e assistência dos menores de idade que carecem dos pais, seja porque um dos progenitores é incapaz e o outro é ausente; ou ambos são ausentes; ou mesmo ambos sejam incapazes; seja porque tenham sido privados do poder familiar, ou porque o exercício do poder familiar tenha sido judicialmente suspenso; ou porque tenham falecido. Tratando-se, portanto, de uma instituição jurídica substitutiva do poder familiar. 
O Código Civil brasileiro legitima apenas uma pessoa para o munus do exercício da tutela, como pode ser depreendido, dentre outros dispositivos do Código Civil brasileiro, dos artigos 1.729, 1.730, 1.731, 1.732, 1.733, 1.735 e 1.736 mas há doutrinadores em uma corrente minoritária, como sustenta Maria Helena Diniz que definem uma quarta espécie de tutela, chamada de: Tutela Irregular.
Estão sujeitos à tutela os menores de dezoito anos, conquanto não tenham sido emancipados, e aqueles que não estão sob o poder familiar dos pais, sendo de registrar que o Estatuto da Criança e do Adolescente cogita da tutela para fins de adoção e nisso se diferencia da tutela do Código Civil. Já o incapaz maior de idade fica submetido ao instituto da curatela (CC, art. 1.767, inc. I).
MODALIDADES DE TUTELA
A) TUTELA TESTAMENTÁRIA
O direito de nomear tutor compete aos pais, em conjunto, razão pela qual a tutela testamentária vem em primeiro plano, por permitir aos genitores, mediante testamento ou documento autêntico, indicarem o tutor para os seus filhos (CC, art. 1.729, parágrafo único).
O direito de nomear tutor compete aos pais, em conjunto, razão pela qual a tutela testamentária vem em primeiro plano, por permitir aos genitores, mediante testamento ou documento autêntico, indicarem o tutor para os seus filhos (CC, art. 1.729, parágrafo único). A Lei n. 12.010/2009 também empreendeu alteração no artigo 37 do Estatuto da Criança e do Adolescente, ao determinar que o tutor nomeado por testamento ou por qualquer documento autêntico, como previsto no parágrafo único do artigo 1.729 do Código Civil, deverá, no prazo de trinta dias após a abertura da sucessão, entenda-se como sendo esta a data do óbito do testador e detentor do poder familiar, ingressar com pedido destinado ao controle judicial do ato, observado o procedimento previsto nos artigos 165 a 170 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Prescreve ainda o parágrafo único do artigo 37 do Estatuto da Criança e do Adolescente, devam ser observados os requisitos previstos nos artigos 28 e 29 do Estatuto, os quais dispõem sobre as regras pertinentes à colocação em família substituta, somente sendo deferida a tutela testamentária se efetivamente restar comprovada se tratar de medida vantajosa ao tutelado e que não existe outra pessoa em melhores condições de assumir o encargo. Dessa forma, não obstante exista uma manifestação de última vontade, ela não é soberana e será apreciada sob a ótica exclusiva do menor a ser tutelado, com uma inclinação impositiva para a colocação do tutelado em família substituta, devendo, por prudente e quando factível, ser ouvida a criança ou adolescente e confrontados o grau de parentesco, de afinidade e de afetividade da criança com o tutor. A escritura pública deve atender aos requisitos ordenados no artigo 215 do Código Civil, enquanto o instrumento particular está regulamentado pelo artigo 221 do mesmo Código Civil. A indicação da tutela só terá validade jurídica se o genitor estava, ao tempo de sua morte, no exercício do poder familiar, e, evidentemente, o tutor indicado só exercerá a tutoria se o outro ascendente também já houver falecido ou se foi destituído do poder familiar (CC, art. 1.730). A instituição de tutor testamentário é negócio jurídico unilateral, que independe da manifestação do tutor, o qual poderá aceitar ou recusar o encargo, ao alegar alguma das escusas constantes do artigo 1.736 do Código Civil, não obstante a escusa de maior relevância, a exigir todos os cuidados do juiz, realmente decorra da falta de vontade, da ausência de afinidade e de afetividade do tutor indicado para o menor, devendo a autoridade judiciária deixar de observar a indicação se assim entender importante e necessário aos efetivos interesses do incapaz, observando antes de tudo o disposto no artigo 37 e seu parágrafo único do Estatuto da Criança e do Adolescente, alterado pela Lei Nacional da Adoção (Lei n. 12.010/2009) para haver como prioridade do tutelado a sua colocação em família substituta.
B) TUTELA LEGÍTIMA
Na falta da tutela testamentária, por inexistência ou nulidade do testamento ou do documento autêntico, será deferida a tutela legítima, preferindo a legislação (CC, art. 1.731) recaia a nomeaçãosobre os parentes do menor, sendo preferencialmente chamados para o exercício da tutela: a) os ascendentes, preferindo os de grau mais próximo, ou seja, os avós em vez dos bisavós, parentes mais remotos; b) os colaterais até o terceiro grau, preferindo os de grau de parentesco mais próximo, e os mais velhos aos mais moços, devendo o juiz avaliar, no caso em concreto, qual deles se apresenta mais habilitado para o exercício da tutela em benefício do menor.
A interpretação extraída do inciso II do artigo 1.731 do Código Civil, quando ordena escolha o juiz, dentre os parentes, o mais apto para exercer a tutela em benefício do menor, 25 porquanto no critério de aptidão está umbilicalmente subentendida a existência de maior afinidade e afetividade com a criança e adolescente e para tanto o infante deve ser ouvido previamente e sua opinião devidamente considerada, servindo a ordem de nomeação do artigo 1.731 do Código Civil como uma mera referência que deve ser desconsiderada pelo juiz quando a nomeação legal não se mostrar conveniente para o infante. Ou seja, o juiz não está de modo algum adstrito à escolha de um parente consanguíneo do tutelado, tendo a obrigação de nomear pessoa realmente idônea e capacitada ao mister, podendo e até devendo ser um estranho, se dentre os familiares não encontrar ninguém com tais características, às quais devem ser acrescentados outros elementos indispensáveis, relacionados com a afinidade e afetividade para com o menor a ser posto sob tutela. Esse é o propósito único da escolha do tutor pela autoridade judicial, porque nenhuma alternativa será plena e satisfatória se não tiver em mira o melhor e superior interesse do menor tutelado, e tampouco se o tutor carecer de idoneidade, ou a nomeação se apresentar inconveniente para a pessoa do tutelado.
C) TUTELA IRREGULAR
Pela doutrina de Maria Helena Diniz, 2012: “A tutela irregular é aquela na qual não há propriamente uma nomeada, na forma legal, de modo que o suposto tutor zela pelo menor e por seus bens como se estivesse legitimamente investido de ofício tutelar. Todavia, esta tutela não gera efeitos jurídicos, não passando de mera gestão de negócios, e como tal deve ser regida”. 
D) TUTELA AD HOC
Existe, ainda, a tutela ad hoc também chamada de provisória. Esta tutela decorre da necessidade de nomear tutor para preservar os interesses do menor quando da prática de determinados atos processuais, como por exemplo, no inventário em que o filho concorre com a mãe na herança do pai. Não há nesta modalidade de tutela a destituição do poder familiar, pois a tutela é específica e provisória.
 
INCAPAZES DE EXERCER A TUTELA
Em consonância com o artigo 1.735 do Código Civil existem pessoas com restrições ao exercício da tutela, que estão impedidos por não reunirem o conjunto de condições exigidas por lei, para o exercício da tutela, e se porventura forem inadvertidamente nomeadas deverão ser destituídas do encargo. Trata-se de uma escusa proibitória, na lição de Carlos Roberto Gonçalves, para distinguir das escusas voluntárias do artigo 1.736 do Código Civil.
ESCUSA DOS TUTORES
Antes o Código Civil tratou (art. 1.735) das pessoas incapazes de exercerem a tutela, por 18.13.1. inaptidão ou ilegitimidade, e o artigo 1.736 da Lei Civil cuidou de indicar as pessoas habilitadas a se escusarem do exercício da tutoria e o artigo 760 do Código de Processo Civil confere o prazo de cinco dias para o tutor ou curador eximir-se do encargo apresentando escusa ao juiz, contado: (inciso I – antes de aceitar o encargo, da intimação para prestar compromisso; inciso II – depois de entrar em exercício, do dia em que sobrevier o motivo da escusa). A incapacidade para o exercício do munus público da tutela retira de determinadas pessoas a aptidão e legitimidade para a função tutelar, enquanto a escusa cuida tão somente da faculdade de algumas pessoas que seriam obrigadas a servirem como tutores, as quais poderão, no entanto, ficar desobrigadas desse mister, invocando alguma das causas indicadas no artigo 1.736 do Código Civil. Esse é um elenco meramente exemplificativo de causas justificativas para a escusa do encargo do tutor, existindo outras a serem livremente apreciadas pelo magistrado, não havendo nenhum exagero na afirmação de o exercício da tutoria depender, fundamentalmente, da empatia, afetividade, afinidade e disposição para a assunção do cargo de tutor, pois não seria crível pudesse a autoridade judicial ordenar uma tutoria contra a vontade e indisposição da pessoa indicada para exercer a tutela, independentemente de essa pessoa estar enquadrada entre aquelas obrigadas ao encargo e dela não se dispensa. Na desculpa a pessoa indicada seria obrigada a aceitar o encargo; contudo, poderá se afastar por decisão judicial declaratória, por estar presente uma causa de escusa, que afasta esse dever.
A escusa deve ser apresentada nos dez dias subsequentes à designação da tutoria, contando como dia ad quem aquele imediatamente posterior à certificação judicial da escolha do tutor. Enquanto o juiz não admitir a justificação, o tutor ou curador devem exercer o encargo, dele só sendo dispensados quando o magistrado admitir a recusa, mas se não a admitir, prescreve o artigo 1.739 do Código Civil, exercerá o nomeado a tutela, enquanto o recurso interposto não tiver provimento, e responderá desde logo pelas perdas e danos que o menor venha a sofrer. Evidentemente essa obrigação de ressarcir os eventuais prejuízos sofridos pelo pupilo pressupõe a desídia do nomeado, esquivando-se do encargo no curso da apelação por ele interposta.
CESSAÇÃO DA TUTELA 		
A tutela intenta dar o necessário amparo àqueles que perderam seus pais, e foi projetada no interesse e no benefício do menor, cessando o encargo quando cessar a condição de pupilo, isto é, com a maioridade, com a emancipação do menor (CC, art. 1.763, inc. I) ou decaindo ele sob o poder familiar, no caso de reconhecimento paterno ou materno de filiação, ou adoção (CC, art. 1.763, inc. II). A rigor, não são causas exaurientes de cessação da tutela, porque também enseja cessação da tutela a morte do tutelado, sua ausência com presunção de falecimento, assim como cessa a tutela se o menor contrair matrimônio (art. 5º, inc. II, do CC), evidentemente que com a vênia judicial e ouvido o tutor. Recuperando os pais o poder familiar, do qual haviam sido suspensos ou destituídos (CC, arts. 1.637 e 1.638), também nesse caso cessa a relação de tutela.
 Da Curatela
CONCEITO
A curatela protege os adultos portadores de deficiência mental, quando destituídos de discernimento para o exercício dos atos de administração da vida civil, e, bem ainda, os ébrios habituais e os viciados em tóxicos, os pródigos e o nascituro, se o pai falecer estando grávida a mulher e não detendo o poder familiar (CC, art. 1.779). 
O critério adotado pelo Código Civil para que alguém possa ser declarado incapaz de reger seus bens por deficiência mental é de caráter biológico, porquanto a deficiência mental deve ser de tal gravidade, que seja possível afirmar que o enfermo não governa sua própria conduta, constituindo-se em um estado ordinário de saúde, e não um estado acidental. A doença mental não precisa ser contínua, mas tem de ser habitual, ainda que o curatelado detenha intervalos de lucidez, a enfermidade manifesta-se sempre presente. Em suma, o pressuposto da interdição do deficiente mental é de que seu estado de alienação seja habitual ou permanente e que a enfermidade incida de forma a privar o sujeito de poder governar seus bens.
Assim, a curatela não atinge os direitos pessoais, ou seja, não impede o casamento nem o exercício do poder familiar, e assegura à pessoa com deficiência o direito de trabalhar, de votar, de ser testemunha e de obter documentos oficiais que sejam do seu interesse.
A curatela é um munus público equiparado à tutela, é uma prestação imposta por lei, indivisível e gratuita, como o serviço do júri, a prestação do serviço militar e eleitoral, por cujo exercício o cidadão presta um benefício coletivo, ouno interesse da pátria, da ordem social e jurídica, sendo a curatela uma função resultante da solidariedade humana.
AÇÃO DE INTERDIÇÃO
A incapacidade precisa ser judicialmente declarada, por meio de um processo de interdição, disciplinado entre os procedimentos pelo artigo 747 e seguintes do Código de Processo Civil, bem como nas disposições da Lei dos Registros Públicos (Lei n. 6.015/1973) e pela Lei n. 13.146, de 6 de julho de 2015 (EPD). A ação de interdição deve ser proposta por alguma das pessoas indicadas no artigo 747 do Código de Processo Civil: pelo cônjuge ou companheiro; pelos parentes ou tutores; pelo representante da entidade em que se encontra abrigado o interditando; pelo Ministério Público e, embora o EPD tivesse criado uma quarta hipótese autorizando o próprio deficiente a requerer sua curatela, o artigo 747 do Código de Processo Civil (Lei n. 13.105/2016) terminou revogando o artigo 1.768 do Código Civil, no qual estava inserida a legitimidade do curatelado, devendo, de qualquer sorte, a legitimidade ser comprovada por documentação que acompanhe a petição inicial (parágrafo único do art. 747 do CPC). De acordo com o inciso II, do artigo 747 do CPC, a ação de interdição pode ser promovida pelos parentes ou tutores, que podem ser os pais, tanto um como o outro (ou o pai ou a mãe), ou até mesmo em requerimento para uma administração compartilhada, que não obriga tenham ambos os pais de promover a interdição. 
O Ministério Público, em princípio, só irá requerer a interdição em caso de doença mental grave (CPC, art. 748); se não existir ou não a promover alguma das pessoas designadas nos incisos I e II do artigo 747 do CPC; ou se, existindo, estas pessoas forem incapazes (CPC, art. 748, inc. II). Não sendo o órgão do Ministério Público o requerente da interdição, o parquet funcionaria no feito como representante do incapaz, ou um curador à lide, quando fosse o requerente da interdição (CPC, art. 752, § 1º). 
Antes de pronunciar-se acerca da interdição, o juiz poderá ser assistido por especialistas, quando então tratará de entrevistar minuciosamente o interditando acerca de sua vida, negócios, bens, vontades, preferências e laços familiares e afetivos e sobre o que mais lhe parecer necessário para convencimento quanto à sua capacidade para praticar atos da vida civil, devendo ser reduzidas a termo as perguntas e respostas (CPC, art. 751), tendo em linha de consideração a defesa dos interesses do interdito e não daqueles que buscam a sua interdição, muitas vezes embalados pelo propósito da inibir a livre-disposição de vontade do curatelando, cujo patrimônio pessoal já vai sendo monitorado para assegurar potencial herança, que querem proteger pelo temor de uma dilapidação por haver o interditando dados sinais de disposição de seus bens, ou por estar exercendo atos de generosidade e de doação das suas riquezas, especialmente ao travar novas relações afetivas.
De qualquer modo, o magistrado deve buscar o auxílio de especialistas como médicos, psiquiatras e psicólogos, para assessorá-lo profissionalmente, no sentido de apurar a efetiva existência da causa de interdição, considerando, ademais de tudo, indispensável o contato pessoal do juiz com o suposto incapaz, como ordena o artigo 751 do Código de Processo Civil, deva o interditando comparecer perante o julgador para ser minuciosamente interrogado acerca de sua vida, negócios, bens e do mais que parecer ao decisor necessário para avaliar o estado mental do curatelado.
Uma vez pronunciada a sentença de interdição, seus efeitos operam desde logo (ex nunc), independentemente de ter sido interposto recurso de apelação, o qual será recebido unicamente no seu efeito devolutivo, em conformidade com o artigo 1.012, inciso VI do Código de Processo Civil.
A sentença judicial de decreto da interdição tem natureza declaratória, porque não cria o estado de incapacidade já preexistente e motivador do processo de interdição. Como resultado da sentença, os atos jurídicos do interditado e celebrados depois do decreto judicial ficam vedados e são nulos, independentemente do seu trânsito em julgado, porque a sentença de interdição produz efeitos desde logo, embora sujeita à apelação (CPC, arts. 755, § 3º e 1.012, inc. VI).
CESSAÇÃO DA CURATELA
Cessando a incapacidade cessa a curatela, o que também acontece sobrevindo o falecimento do curatelado. Mas não cessa a curatela com o óbito do curador, porque persiste a incapacidade do curatelado, que deixa de exercer as suas funções, devendo ser substituído por outro curador, a ser judicialmente nomeado para dar continuidade ao encargo de zelar, em regra, pelos bens do interditado. Também encerra a função do curador quando: a) termina o prazo em que está obrigado a servir, anotando, por seu turno, o artigo 763 do Código de Processo Civil, uma vez cessado o prazo, é lícito ao curador requerer a sua exoneração do encargo; mas, se não o fizer dentro dos dez dias seguintes à expiração do termo, entender-se-á reconduzido, salvo dispensa judicial; b) quando ocorre alguma das escusas legais; c) quando for judicialmente removido; d) com o falecimento do curador e por igual se ocorrer a morte do curatelado, ao tempo em que se dá a cessação da curatela e das funções do curador.
TUTELA x CURATELA
Tanto a tutela como a curatela identificam-se por serem institutos voltados à defesa da pessoa e na proteção e administração de seus bens, exigindo a intervenção estatal em razão da incapacidade dos indivíduos, por causa da idade ou da incapacidade proveniente de transtornos mentais e de comportamento. Em conformidade com o artigo 1.781 do Código Civil, aplicam-se à curatela as disposições legais concernentes à tutela, com as modificações apontadas nos artigos 1.775 a 1.778 da Lei Civil. Significa considerar que o curador passará a ter os mesmos direitos, garantias, obrigações e proibições do tutor.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Direito de família por Rolf Madaleno, 2018.
Direito de família por Paulo Lobo, 2019.
Direito de família por Maria Helena Diniz, 2010. 
Direito de família por Carlos Roberto Gonçalves, 2019.

Continue navegando