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1Antecedentes Filosóficos e Históricos da Administração Antecedentes Filosóficos e Históricos da Administração Vania Martins 2Antecedentes Filosóficos e Históricos da Administração Sumário Introdução .................................................................................................... 03 Objetivos ...................................................................................................... 04 Estrutura do Conteúdo ............................................................................... 04 Antecedentes Filosóficos e Históricos da Administração Tópico 1: Influência dos Filósofos, das Civilizações e da Ciência ................ 05 Tópico 2: As Consequências da Revolução Industrial .................................. 09 Tópico 3: A Evolução dos Sistemas Produtivos e o Surgimento da Administração ......................................................................................................... 17 Resumo ...................................................................................................... 24 25Referências Bibliográficas ....................................................................... 3Antecedentes Filosóficos e Históricos da Administração Embora desde os tempos mais remotos diversos líderes, estadistas e empreendedores tenham demonstrado habilidades administrativas para conduzir seus negócios, somente no século XX a administração se torna uma ciência. Neste material buscaremos compreender o contexto histórico e filosófico que permitiu que a administração, antes limitada ao método da “tentativa e erro” – ao que se podia aprender com a própria experiência – se transformasse em um conhecimento sistematizado em princípios científicos. Ao longo do século XX, a administração se difundiu pelos mais diversos tipos de organização, transformando-se em um instrumento decisivo para a obtenção de seus resultados. Estudar as teorias de administração significa acessar um rico conjunto de conhecimentos acumulados a respeito do funcionamento das organizações, sendo uma importante ferramenta de apoio à reflexão e à prática do administrador nos dias de hoje. 4 Estrutura do Conteúdo Objetivo s Antecedentes Filosóficos e Históricos da Administração Ao estudar este conteúdo, você se tornará capaz de: 1. Reconhecer as contribuições de al- guns filósofos para o desenvolvimento das ideias administrativas; 2. Compreender as principais transfor- mações trazidas pela Revolução Indus- trial na economia e na sociedade; 3. Articular as consequências da Re- volução Industrial com o surgimento da administração. Para melhor orientar seus estudos, este conteúdo está dividido de acordo com os seguintes tópicos: 1. Influência dos Filósofos, das Civiliza- ções e da Ciência 2. As Consequências da Revolução In- dustrial 3. A Evolução do Sistema Produtivo e o Surgimento da administração 5Antecedentes Filosóficos e Históricos da Administração 1. Influência dos Filósofos, das Civilizações e da Ciência Vários foram os filósofos cujas ideias influenciaram o pensamento administrativo. Segundo Drosdek (2009), os pensadores que desenvolveram as teorias de administração “estavam enraizados na história do pensamento ocidental, conheciam a doutrina dos filósofos mais importantes e desenvolveram, como primeiro passo, juízos de valor filosófico antes de esboçarem suas teorias sobre administração”. Desse modo, teremos um breve contato com as ideias de alguns filósofos destacados por Chiavenato (2003) como influências importantes sobre o pensamento administrativo. Acesse o Recurso Multimídia e conheça alguns dos filósofos que influenciaram o pensamento administrativo. Conteúdo On-line Sócrates (469 a 399 a.C.) Platão (429 a 346 a.C.) Aristóteles (384 a.C. 322 a.C.) Francis Bacon (1561-1626) Rene Descartes (1596-1650) Thomas Hobbes (1588-1679) Nicolau Maquiavel (1469-1527) Robert Owen (1771-1857) (Socialista Utópico) Saint-Simon (1760-1825) (Socialista Utópico) Charles Fourier (1772-1837) (Socialista Utópico) Morelly (século XVIII) (Socialista Utópico) 6Antecedentes Filosóficos e Históricos da Administração A Experiência de Grandes Líderes Além da influência dos filósofos, cabe destacar, ainda, outros fatores que, segundo Maximiano (2004), são também importantes para compreender o desenvolvimento da administração. Segundo esse autor, a experiência prática é uma das mais importantes fontes de conhecimento administrativo, de modo que é possível contar também com um acervo de ideias sobre gestão, que é parte de um patrimônio coletivo desenvolvido desde as primeiras experiências humanas com as organizações. Muitas contribuições teóricas foram construídas a partir do registro da própria experiência, como é o caso de Frederick Taylor e Henri Fayol, que não só desenvolveram estudos sobre as organizações como também participaram de sua gestão. Até os dias atuais, diversos líderes empresariais, empreendedores e outros executivos também compartilham suas experiências administrativas com leitores de todo o mundo. No livro “Sonho Grande”, de Cristiane Correa, você pode encontrar um bom material a respeito de três líderes empresariais brasileiros bem-sucedidos em seus ramos de negócio. Disponível na seção Leitura Complementar página 25. Os métodos científicos representam os modos sistemáticos de aquisição e tratamento de informações a fim de desenvolver o conhecimento sobre determinado assunto. O uso de experimentos, questionários, entrevistas e observações diretas ocorreu em diversos momentos do desenvolvimento teórico administrativo. A Teoria das Relações Humanas, por exemplo, foi desenvolvida a partir da aplicação de vários desses métodos em um experimento realizado na fábrica da Western Eletric Company, na década de 1920. 7Antecedentes Filosóficos e Históricos da Administração O Intercâmbio com Outras Ciências Junto à aplicação de métodos científicos, a administração utilizou também conhecimentos provenientes de diversas ciências – como a sociologia, a psicologia, a antropologia, a física, a matemática e a cibernética, dentre outras – aplicando-os à realidade das organizações para tentar resolver os problemas administrativos. O Patrimônio Cultural Segundo Maximiano (2004) e Chiavenato (2003), as mais antigas civilizações humanas também deixaram diversos ensinamentos sobre a administração de negócios públicos e privados. Os sumérios (3.000 a.C.) desenvolveram a administração pública, organizando uma complexa estrutura de funcionários por meio de mecanismos burocráticos, como anotações em arquivos (na época, em placas de argila), que registravam recebimento, armazenagem e desembolso de todos os produtos comerciados. As pirâmides do Egito e a Grande Muralha da China são exemplos de empreendimentos de grande magnitude, que demandaram uma série de soluções administrativas para organizar a mão de obra e a distribuição de recursos. Questões de planejamento, organização e controle foram fundamentais para o funcionamento desses sistemas que, até os dias de hoje, nos parecem tão complexos. 8Antecedentes Filosóficos e Históricos da Administração No Egito, por volta de 3.100 (a. C.), as frequentes inundações do Nilo foram enfrentadas com estratégias engenhosas baseadas em um planejamento de longo prazo. O império romano, existente entre 27 a.C. e 476 d.C., demonstrou grande capacidade de coordenação, com base em uma estrutura militar e governamental bastante organizada. A organização do trabalho agrícola, por exemplo, contava com inspeção, registros e relatórios sobre as tarefas e os produtos comercializados. De forma semelhante, o êxodo dos Hebreus, liderado por Moisés entre 1270 a 1220 a.C., também se baseou em uma grande capacidade de seleção, controle e organização de pessoas. Da civilização chinesa, diversos ensinamentos úteis puderam ser extraídos. O general Sun-Tzu (século IV a.C.) escreveu A Arte da Guerra, considerado um dos mais importantestratados da história sobre estratégia militar. Alguns de seus ensinamentos a respeito de planejamento e comando foram adaptados para a administração das empresas. Confúcio (século VI a.C.), outro filósofo chinês, destacou que a importância das pessoas deveria basear-se no mérito. A excelência moral, segundo o filósofo, deveria ser o critério de escolha dos líderes e não o berço. Outras contribuições importantes, segundo Chiavenato (2003), vieram de modelos milenares de organização, construídos nas instituições militares e religiosas. Desse modo, algumas características do sistema hierárquico utilizado na Igreja Católica foram incorporadas pelas demais organizações, assim como princípios relativos à unidade de comando (cada subordinado só pode ter um superior) e à clareza de direção (cada um sabe exatamente qual é sua missão e como executá-la) foram extraídos das organizações militares, que também representaram uma rica fonte para os estudos sobre estratégia. 9Antecedentes Filosóficos e Históricos da Administração 2. As Consequências da Revolução Industrial Segundo Motta e Vasconcelos (2006), o surgimento da administração como ciência esteve ligado ao processo de modernização da sociedade, com a consolidação do sistema econômico capitalista e a gradativa substituição das formas tradicionais de autoridade pelas formas racionais-legais. A partir da Revolução Industrial, as organizações formais se consolidam como principais responsáveis pelas atividades econômicas e sociais, tornando-se fundamentais para a produção dos bens e serviços necessários à vida humana em sociedade. Os estados modernos, por sua vez, passam a se sustentar em uma estrutura legal que se mostra bem mais adequada às atividades econômicas capitalistas. Essas atividades são principalmente baseadas em uma racionalidade calculada, que auxilia os indivíduos a medir os riscos ao investir seu capital em determinado negócio. Por isso, a continuidade e a estabilidade das regras, bem como a delimitação dos poderes, inclusive dos governantes, pelas normas, garantem um ambiente favorável para as atividades econômicas que exigem investimentos de longo prazo. Portanto, para compreendermos melhor o processo de modernização da sociedade, iremos começar pelas transformações históricas que levaram ao fim da sociedade tradicional feudal e deram origem à moderna sociedade industrial capitalista, com destaque para a Revolução Industrial. 10Antecedentes Filosóficos e Históricos da Administração Como se Organizava a Sociedade Feudal? A tradicional sociedade feudal, de acordo com Huberman (1976), era organizada em torno da agricultura e do controle da terra. A estrutura do feudalismo dividia a sociedade em estamentos — camadas sociais rígidas, onde não existia praticamente nenhuma mobilidade social. A riqueza produzida nas atividades agrícolas era bastante improdutiva. O clero e a nobreza, estamentos superiores da sociedade, acumulavam grandes fortunas, porém tinham poucas oportunidades de negócio para investi-la. Os feudos eram autossuficientes e as atividades comerciais estavam limitadas pela ausência de um sistema monetário unificado e de uma infraestrutura de transportes e distribuição. Porém, uma série de mudanças históricas gradativamente dissolvem esse sistema, dando lugar a uma nova ordem econômica e social. Dentre as principais transformações, podemos destacar as seguintes: 11Antecedentes Filosóficos e Históricos da Administração O crescimento das atividades comerciais, a partir do desenvolvimento das feiras de produtos e das evoluções tecnológicas no transporte. As cidades começaram a se organizar em torno desses pequenos centros comerciais, dando origem aos grandes centros urbanos e favorecendo o surgimento de uma nova camada social, composta de mercadores que mais tarde seriam chamados de burgueses. A evolução do pensamento intelectual e científico, especialmente a partir do Iluminismo (século XVIII), que passa a questionar tanto o poder ilimitado dos reis quanto o domínio da Igreja sobre a política e o pensamento. A defesa da visão racional do mundo, feita pelo Iluminismo, foi muito importante para a criação de condições para uma abordagem científica da realidade social. As transformações políticas — como a Revolução Francesa de 1789 — que derrubaram as monarquias absolutistas e colocaram no poder a classe detentora do capital aplicado no desenvolvimento das indústrias. Cidade Medieval Voltaire. Se empenhou na defesa da liberdade civil, religiosa e livre comércio. Revolução Francesa 12Antecedentes Filosóficos e Históricos da Administração Mas foi a Revolução Industrial, a partir do século XVIII, o grande fator que alterou profundamente o panorama econômico, social e cultural da Europa, inaugurando a produção fabril em larga escala, com base na utilização crescente de máquinas. Segundo Henderson (1979), a Revolução Industrial teve basicamente duas fases, marcadas principalmente a partir da evolução das tecnologias: Primeira Revolução Industrial (1780 a 1860) – representou a fase de transição das oficinas para as fábricas e da empresa individual para a companhia por ações. Com a utilização da energia a vapor, do carvão e do ferro, bem como a invenção do telégrafo, houve um grande desenvolvimento nos transportes e nas comunicações, além de um grande salto de produtividade para a indústria, com destaque para o setor têxtil. Segunda Revolução Industrial (1860 a 1914) — entram em cena o aço, o petróleo, a eletricidade e o motor de combustão, marcando a ascensão da indústria automobilística. Uma nova fase no desenvolvimento das comunicações tem início, com o advento do telefone, do rádio e da televisão. Houve a difusão definitiva do sistema fabril por toda a Europa e também nos Estados Unidos. É, nesse momento, que aparecem as grandes firmas monopolistas e a administração ganha um grande impulso para se estabelecer como a ciência das organizações. 13Antecedentes Filosóficos e Históricos da Administração Os Inovadores Têxteis “As máquinas britânicas que mais impressionaram os contemporâneos foram as que estimularam a expansão da indústria algodoeira. Em 1840, uma fábrica de algodão, empregando 750 operários e usando uma máquina a vapor de 100 h.p. podia produzir tanto fio quanto duzentos mil operários que usassem fiadeiras manuais. Uma máquina de estampar tecido de algodão dirigida por um único homem podia produzir tantos metros de estampado por hora quanto duzentos homens produziam imprimindo à mão. Tais máquinas não só aumentavam a produção em relação ao número de operários empregados como também proporcionavam reduções substanciais de preços: o fio do algodão custava apenas dois xelins por libra em 1832, contra os 38 xelins por libra em 1786 (...). Invenções como essas proclamaram o fim do sistema doméstico tradicional da manufatura e introdução do sistema fabril.” HENDERSON, William. A Revolução Industrial. São Paulo: Verbo, 1979. Contudo, os avanços da sociedade industrial não ocorreram sem problemas. Aliás, é importante saber que os problemas sociais se agravaram muito nas primeiras fases da Revolução Industrial. As condições de trabalho nas fábricas eram péssimas. O parcelamento das tarefas no novo sistema fabril distanciava totalmente o operário do produto final de seu trabalho. As leis de proteção ao trabalhador eram precárias e, em muitos casos, inexistentes, permitindo altos níveis de exploração. A rotina básica do operário consistia em longas jornadas de trabalho em troca de salários baixíssimos, não sendo rara a utilização de crianças sob as mesmas condições. Por outro lado, por causa dos problemas sociais, as cidades cresciam de modo desordenado, sem estrutura adequada para atender às grandes levas de imigrantes vindos do campo. Em resumo: a grande massa da população não desfrutava de nenhuma qualidade de vida, nem de trabalho, a despeito de toda a riqueza gerada a partir de seu própriotrabalho. Você pode imaginar como os trabalhadores reagiram a essa situação? As revoltas operárias começam a ocorrer, primeiramente direcionadas contra as máquinas, depois, organizadas em associações e, posteriormente, em sindicatos. 14Antecedentes Filosóficos e Históricos da Administração A evolução da organização dos trabalhadores foi um fator bastante importante na melhoria de suas condições de vida. Por meio dos sindicatos, os trabalhadores se organizaram como um grupo consciente na defesa de seus interesses e adquiriram importância política, estimulando avanços na legislação trabalhista e social. Porém, o movimento não se limitou a lutar pela melhoria imediata da condição de vida operária e, inspirado pela ideologia socialista, começou a visualizar mudanças mais profundas na sociedade. O principal nome da corrente socialista foi o filósofo e sociólogo alemão Karl Marx (1818-1883), criador do socialismo científico, assim chamado para marcar a diferença com os socialistas utópicos, que não apresentaram propostas concretas para superar o capitalismo. “Proletários do mundo todo, uni-vos!” Essa é uma das citações mais famosas de Marx em seu livro “Manifesto Comunista”, de 1848, conclamando os operários para a revolução contra o capitalismo. Karl Marx Para os socialistas, o capitalismo era considerado um sistema injusto, no qual os trabalhadores, principais geradores da riqueza social, ficavam com a menor parte dessas riquezas, enquanto aqueles que se apropriavam da maior parte dela, acumulando a chamada mais-valia, nada faziam pelo bem-estar da sociedade. 15Antecedentes Filosóficos e Históricos da Administração O principal alvo da crítica socialista foi a propriedade privada dos meios de produção — máquinas, equipamentos, terras, minas etc. — considerada a fonte da dominação dos capitalistas sobre os trabalhadores. Desse modo, os socialistas pregavam a revolução da sociedade pela classe trabalhadora, abolindo a propriedade privada e derrubando os governos que representavam a classe capitalista. Segundo a ideologia socialista, após a revolução, o Estado proletário (isto é, o governo dos operários) seria o principal meio de administrar a sociedade e as organizações até a chegada da fase mais evoluída em termos de igualdade social, na qual o próprio Estado não seria mais necessário. O Estado, para Marx, é uma forma de uma classe dominar as outras. Logo, se não existissem diferenças sociais, não deveria mais existir o Estado e a sociedade se organizaria de modo livre. A essa fase de desenvolvimento Marx chamou de comunismo. Por outro lado, a classe burguesa industrial encontrou na ideologia do liberalismo uma visão de mundo que muito lhe agradou. Os liberais, em primeiro lugar, eram radicalmente contra as políticas de assistência aos pobres, pois as consideravam “um modo de alimentar vadios que preferiam viver às custas dos vizinhos industriosos.” (HUNT; SHERMAN, 1997). Como você pode perceber, o liberalismo seguia a filosofia individualista, segundo a qual o indivíduo e suas liberdades deveriam ter prioridade sobre a coletividade. O mercado deveria ser um espaço de livre competição entre os indivíduos que, mesmo buscando interesses egoístas, acabariam promovendo o bem comum. Segundo essa lógica, os empresários, motivados pelo interesse egoísta de obter mais lucros, concorreriam entre si para atrair mais consumidores e acabariam melhorando a qualidade de seus produtos, buscando formas de reduzir os custos de produção. Como resultado, surgiriam produtos melhores e mais baratos para os consumidores. Por outro lado, quanto mais acessíveis os preços dos produtos, maior seria o volume de compras e os lucros dos empresários, desencadeando, assim, um círculo de relações benéficas que promoveria o progresso econômico contínuo. Esse é o mecanismo que os liberais chamavam de “mão invisível do mercado”, que traria o equilíbrio entre os diferentes interesses econômicos. Importante 16Antecedentes Filosóficos e Históricos da Administração A ideia de que os interesses das diferentes classes sociais podem ser perfeitamente harmonizados aparece diversas vezes nas teorias da administração, como veremos. Mas para que esse mecanismo funcionasse perfeitamente, seria necessário que o mercado estivesse livre das restrições impostas pelos governos, devendo contar apenas com o “jogo da oferta e da procura”, que por si só harmoniza as ações econômicas. Nenhuma autoridade ou lei, portanto, deveria determinar as regras de mercado além do mínimo necessário para ordenar as relações econômicas e proteger o direito natural do indivíduo à propriedade. Adam Smith (1723-1790) foi o principal representante do liberalismo. Criticou duramente o Estado, a quem considerava corrupto, autoritário e incompetente para conduzir os negócios na sociedade. Defendia, assim, o predomínio do livre mercado sobre o controle estatal da economia. Adam Smith também contribuiu para o desenvolvimento da divisão e da racionalização do trabalho. Para esse autor, a riqueza das nações originava-se de uma eficiente divisão do trabalho, com a especialização do trabalhador em uma única tarefa. Ideias básicas do liberalismo Contra políticas públicas assistencialistas. A favor da livre competição no mercado. Ideias básicas do socialismo Critica à exploração do trabalho. Defende a revolução operária e o fim do capitalismo 17Antecedentes Filosóficos e Históricos da Administração Como você pode ver, os campos de oposição estavam fortemente marcados na sociedade industrial do século XIX: a burguesia industrial capitalista lucrava muito com o aumento da produção, enquanto os operários eram explorados, trabalhando e vivendo em condições degradantes. Cada uma dessas classes se aproximou de uma ideologia que defendia seus interesses. Desse modo, o liberalismo e o socialismo se tornaram as principais ideologias em conflito nesse cenário. Como você vai perceber ao longo deste material, a Revolução Industrial também provocou grandes transformações nos sistemas produtivos, gerando a demanda por conhecimentos administrativos que pudessem manter sob controle esses novos sistemas. Vamos entender melhor como aconteceu essa evolução? 3. A Evolução dos Sistemas Produtivos e o Surgimento da Administração Segundo Huberman (1976), uma das formas mais antigas de organização da produção é representada pelas oficinas artesanais independentes. Nesse sistema, que começa a declinar no século XVII, a produção é realizada pelo mestre, ajudado por aprendizes, geralmente de seu núcleo familiar. A produção é doméstica, feita na casa do mestre artesão e está voltada para suprir as necessidades de sua comunidade próxima. Todos os bens e todo o conhecimento técnico pertencem aos artesãos, que organizavam o sistema produtivo. É dentro desse sistema que padeiros, ourives, carpinteiros e tecelões, dentre outros profissionais, viviam, produziam e abasteciam o comércio local, sempre com base em sua reputação profissional. Todos os artesãos que trabalhavam em um mesmo ofício na cidade estavam reunidos em uma mesma corporação, que protegia o bem-estar de seus membros e garantia o controle comercial da região, procurando impedir qualquer ameaça de concorrência externa. 18Antecedentes Filosóficos e Históricos da Administração Segundo Motta e Vasconcelos (2006), o termo “espírito corporativista”, usado atualmente para se referir à solidariedade e ao excesso de protecionismo entre os membros de uma mesma organização, origina-se dessas corporações de ofício. Importante Com o desenvolvimento das cidades e o aumento do consumo, esse tipo de produção tornou-se incapaz de atender às demandas, obrigando os artesãos a vincular suas atividades a um emergente grupo de comerciantes, com grande poder financeiro, que fornecia a matéria-prima e vendia os produtos acabados em outros mercados. Segundo Motta e Vasconcelos (2006), essa burguesia mercantil contou com um importanteapoio político central, representado pelos reis absolutistas, cujo poder centralizado permitiu combater as forças regionais (inclusive as corporações de ofício) e facilitou a criação de sistemas legais e financeiros de nível nacional — mecanismos indispensáveis para o desenvolvimento do capitalismo. Assim, no século XVII, tem origem o sistema de produção domiciliar, no qual os produtores ainda possuíam as ferramentas e o conhecimento necessários à produção, decidindo sobre a forma de realizar o trabalho, porém os mercadores determinavam as metas de produção (PARK, 1997). Como você pode imaginar, isso criava uma série de problemas para os mercadores garantirem a produção desejada, e eles logo perceberam que precisavam ter o sistema de produção sob seu controle. Para isso, era necessário retirar a produção do ambiente doméstico e colocá-la em um ambiente onde fosse possível a imposição de regras e de vigilância. Assim, as fábricas vão se tornando o ambiente produtivo dominante no sistema capitalista. 19Antecedentes Filosóficos e Históricos da Administração Segundo Park (1997), a introdução de máquinas cada vez mais complexas na atividade produtiva também torna necessária a transferência do ambiente de produção, que deixa, então, de ser domiciliar para se concentrar nas fábricas. Os artesãos vão gradativamente deixando as atividades em suas oficinas para se transformarem em operários, dentro de um sistema onde todos os meios de produzir e todas as decisões sobre a produção estão sob o controle dos capitalistas. Com seu poder econômico fortalecido, a classe capitalista irá se opor à centralização do poder político e ao excesso de intervenção dos reis absolutos na vida econômica. É nesse momento que a ideologia liberal ganha força até se tornar a forma dominante de pensamento no sistema capitalista. Acesse o Recurso Multimídia e veja o infográfico com um resumo da evolução dos sistemas produtivos, da época artesanal à industrial. Conteúdo On-line E o que Acontecia no Campo? Não podemos esquecer também das mudanças que ocorrem no campo ao longo da Revolução Industrial. As atividades agrícolas gradativamente foram sendo reorganizadas por meio dos cercamentos, que obrigavam a substituição de grande parte da produção de alimentos pela produção de lã para abastecer as fábricas nascentes. A evolução da tecnologia, levando à mecanização das atividades no campo, também contribui para esse processo. Diversos inventos passaram a auxiliar e, em muitos casos, substituir o trabalho humano. Desse modo, segundo Huberman (1976), camponeses expulsos das plantações vão engrossar as fileiras operárias nas cidades, junto com trabalhadores artesanais que perdiam a concorrência com a produção baseada em máquinas. Veja, a seguir, um infográfico representando quais foram essas mudanças. 20Antecedentes Filosóficos e Históricos da Administração 21Antecedentes Filosóficos e Históricos da Administração Agora é Hora de Entender como Surge a Gestão Profissional nas Fábricas De volta ao sistema fabril de produção, podemos perceber que ele combina dois fatores muito importantes para garantir o melhor desempenho dos trabalhadores: a utilização das máquinas e a possibilidade de supervisão das tarefas que, aliás, se dava de modo rígido e autoritário, na tentativa de impor à força uma nova disciplina de trabalho (PARK, 1997). Você pode imaginar que tipo de problema existiu na adaptação dos operários ao ambiente de trabalho fabril? O ritmo de trabalho passou a ser determinado pelas máquinas, a disciplina de horários era muito rígida, fixando o início, os intervalos e o término da jornada de trabalho. A consciência quanto à necessidade de treinamento dos operários era ainda muito fraca, sendo frequentes os acidentes de trabalho, sobretudo no manuseio das máquinas. Vários problemas se manifestaram nesse cenário, como o absenteísmo, a rotatividade, a embriaguez no ambiente de trabalho e as atitudes de revolta por parte dos operários. As máquinas não ajudaram em nada a superar esses problemas. Estavam faltando princípios básicos de gestão, não é mesmo? A verdade é que, durante dois séculos de industrialização, a preocupação com a eficiência da gestão permaneceu muito rudimentar. Os capitalistas pareciam apostar muito mais na tecnologia como a grande ferramenta para aumentar a produtividade e ampliar seus lucros. De fato, a evolução tecnológica melhorou muito a capacidade humana de produzir. Porém, passado esse impacto inicial, foi possível perceber que o trabalho ainda não estava organizado para acompanhar essa evolução. Então, os empresários passaram a se interessar por técnicas mais eficientes de gestão, de modo a enfrentar melhor os conflitos que surgiam no ambiente da fábrica, garantindo, assim, a lucratividade de seu negócio. Ainda no final do século XIX, surgem os pioneiros da racionalização do trabalho. James Montgomery (1771- 1854) apresentou os primeiros estudos sobre redução de custos de produção e prevenção de acidentes de trabalho. Douglas McCallum (1815-1878) foi um dos primeiros a projetar organogramas para as empresas. 22Antecedentes Filosóficos e Históricos da Administração Charles Babbage (1791-1871), inventor inglês, estudou o tempo de produção de grampos metálicos, destacando a importância de se conhecer com exatidão os custos implicados em cada processo de trabalho. Charles Babbage também desenvolveu máquinas capazes de fazer cálculos aritméticos complexos e de armazenar números, sendo reconhecido hoje como um cientista pioneiro da computação. A partir de então, os conhecimentos sobre como administrar começam a ser sistematizados na forma de teorias, como ocorreu na Administração Científica de Frederick Taylor e na Teoria Clássica de Henri Fayol, responsáveis por apresentar ao mundo industrial os métodos fundamentais de administração. Esse conjunto de conhecimentos passa a ser cada vez mais requerido daqueles que assumem posições de comando nas organizações. A era dos grandes “capitães de indústria”, que construíram impérios com grandes doses de ousadia e empreendedorismo, dá lugar às grandes companhias, cada vez mais racionalizadas pelos métodos aplicados pelos “gestores profissionais”. Charles Babbage Segundo Chiavenato (2003), até 1850 as empresas não tinham um porte que exigisse técnicas sofisticadas de administração. Em geral, eram negócios de família, nos quais os próprios parentes cuidavam das principais necessidades administrativas. Importante Na segunda metade do século XIX, quando tem início a Segunda Revolução Industrial, o panorama das empresas se modifica com o surgimento de grandes empreendimentos, liderados por figuras como John Rockfeller (1839-1937), fundador da Standard Oil, Andrew Carnegie (1835-1919), que dominou o mercado do aço (desbancando os britânicos), Cornelius Vanderbilt (1794-1877), magnata das ferrovias e Philip Armour (1832-1901) e Gustavus Swift (1839-1903), que lançaram os produtos em conserva. 23Antecedentes Filosóficos e Históricos da Administração Favorecidas pela fraca regulação econômica por parte do governo americano, muitas dessas empresas adquiriram fornecedores e distribuidores, praticando a chamada integração vertical e passando a dominar toda a cadeia produtiva por meio de conglomerados de empresas que controlavam desde o fornecimento da matéria- prima até a venda dos produtos aos varejistas ou ao consumidor final. Empresas como Westinghouse, General Eletric, Cargill e American Bell Telephone e J.P. Morgan & Co. surgiram nesse período. Com verdadeiros impérios sendo criados, a estrutura familiar de comando tornou-se insuficiente para controlar todos os negócios, gerando a necessidade do administrador profissional, com suas técnicas de engenharia, produção, vendas e finanças, reduzir custos e aumentar a eficiência desses grandes negócios. Afinal, o volume de capital, agora envolvido nesses grandes conglomerados de empresas, não poderia maisficar sob o risco de uma gestão primitiva e inadequada. Uma boa administração, mais do que nunca, começava a fazer diferença. Acesse o Recurso Multimídia e assista ao documentário Gigantes da Indústria, que narra o surgimento desses grandes empreendimentos do século XIX. Conteúdo On-line A seguir, você poderá localizar em cada década as teorias de administração que serão estudas em nosso material: Teoria dos Sistemas Teoria Neoclássica Teoria Comportamental Teoria Estruturalista Teoria das Relações Humanas Teoria Clássica Teoria Científica Teoria da Burocracia 1900 1910 1930 1940 1950 24Antecedentes Filosóficos e Históricos da Administração Acompanhamos as principais contribuições dos filósofos para o desenvolvimento das teorias de administração. Dos filósofos gregos aos modernos, destacamos aqueles cujos ensinamentos são discutidos até os dias de hoje no ambiente das empresas. Procuramos entender, também, como a experiência acumulada pelas mais antigas civilizações do mundo, bem como por instituições milenares, deixou à humanidade uma série de princípios que, mais tarde, foram adaptados e desenvolvidos por aqueles que se dedicaram a solucionar os principais problemas das organizações. O suporte dado pelos conhecimentos científicos desenvolvidos em diversas áreas também foi um importante tópico deste conteúdo, em que procuramos mostrar que os métodos desenvolvidos pela ciência foram indispensáveis para a coleta e o tratamento das informações que fundamentam as teorias. Por fim, investigamos as principais consequências da Revolução Industrial, buscando entender como as mudanças provocadas na sociedade e, especialmente nos sistemas produtivos, impulsionaram o surgimento da administração como um campo particular de conhecimentos aplicados por gestores profissionais. 25Antecedentes Filosóficos e Históricos da Administração CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria geral da administração. 7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003. DROSDEK, Andreas. Sócrates: O poder do não-saber. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. HENDERSON, William. A Revolução Industrial. São Paulo: Verbo, 1979. HUBERMAN, Leo. História da riqueza do homem. Rio de Janeiro: Zahar, 1976. MAXIMIANO, Antonio Cesar Amaru. Teoria Geral da Administração: da escola cientifica à competitividade em economia globalizada. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004. MOTTA, Fernando Prestes; VASCONCELOS, Eduardo. Teoria Geral da Administração. Rio de Janeiro: Thomson, 2006. PARK, Kil Hyang (coord.). Introdução ao estudo da administração. São Paulo: Pioneira, 1997.
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