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Julia Paris Malaco – ambulatório cirurgia Ambulatório – Doença diverticular Diverticulose A doença diverticular do cólon é uma afecção onde ocorre herniação ou protusão da mucosa do intestino grosso, em forma de saculações, através das fibras musculares da parede intestinal, em geral onde penetram os vasos sanguíneos. Apenas um pequeno número de pacientes terá sintomas e a minoria necessitará de cirurgia. Os divertículos são pequenas saculações que se desenvolvem na parede do cólon, variando de alguns milímetros até vários centímetros, qualificados em pseudo-divertículos e divertículos verdadeiros (formados por todas as camadas da parede intestinal). Acometem usualmente o cólon sigmóide ou a metade esquerda do intestino grosso, mas podem também envolver todo o órgão. A Diverticulose é caracterizada pela presença destas saculações. A diverticulite é a inflamação destes pequenos “sacos”. Classificação Forma hipertônica. Em geral ocorre em indivíduos mais jovens, abaixo dos 50 anos de idade, constipados e com baixa ingestão de líquidos e fibras na dieta, o que acarreta a formação de bolos fecais pouco volumosos, exigindo do cólon contrações hipertônicas para o deslocamento de fezes para o reto. O sigmoide é o segmento do intestino grosso mais comumente afetado. Estes divertículos complicam na maioria das vezes com inflamação – diverticulite. Forma hipotônica. Acomete em geral pessoas acima dos 60 anos de idade, sendo decorrente da fraqueza (hipotonicidade) da parede intestinal. É uma patologia natural decorrente da degeneração e hipotonicidade que se instala nos tecidos musculares corporais. São estruturas que possuem base larga, oscilando de 0,5 a 2,0 cm de diâmetro. A complicação mais frequente é a hemorragia digestiva baixa. Forma mista. Quando as duas formas acima descritas estão presentes. Ocorre geralmente em indivíduos acima dos 60 anos de idade. Fisiopatologia Existem dois tipos de divertículos no intestino: verdadeiros e falsos (ou pseudodivertículos). O divertículo verdadeiro é uma herniação sacular de toda a parede intestinal, ao passo que um pseudodivertículo consiste apenas em uma protrusão da mucosa e submucosa através da muscular própria do cólon. O tipo de divertículo mais encontrado no cólon é o pseudodivertículo. Os divertículos geralmente acometem o cólon esquerdo e o sigmoide; o reto sempre é preservado. Diverticulite é a inflamação de um divertículo. Os divertículos ocorrem no ponto em que as artérias nutrientes, ou vasos retos, penetram na muscular própria, resultando em uma falha na integridade da parede do cólon. Essa falha anatômica pode resultar da zona de pressão relativamente alta dentro da camada muscular do cólon sigmoide. Assim, as contrações de maior amplitude, combinadas com as fezes endurecidas e ricas em gorduras dentro do lúmen sigmoide em uma área de fraqueza da parede colônica, resultam na formação desses divertículos. Como consequência, os vasos retos são comprimidos ou sofrem erosão, resultando em perfuração ou sangramento. A inflamação leve crônica parece ser importante para a degeneração neuronal, que acarreta distúrbios da motilidade e elevação da pressão intraluminal. Consequentemente, bolsas ou dilatações formam-se na parede colônica onde ela é mais fraca. Além disso, a compreensão mais clara da microbiota intestinal sugere que a disbiose seja um aspecto importante da doença. A DDC pode estar relacionada com três principais causas básicas: Idade Local de penetração dos vasos e Pressão intraluminal. A segmentação do cólon pode produzir zona de pressão que ultrapassa 90 mm Hg e isso se dá por causa de contrações sincrônicas, muito próximas umas das outras, com formação de pequenas bolsas com alta pressão interna. A dieta não refinada, rica em fibras, em situações como essas, poderia prevenir a formação dos divertículos por dois mecanismos: Julia Paris Malaco – ambulatório cirurgia O cólon que trabalha com maior volume de fezes tem um diâmetro maior, segmenta menos e é menos propenso a criar as bolsas de alta pressão. Quando o bolo fecal é rico em fibras, o trânsito no cólon é mais curto, o tempo de absorção de líquido é, portanto, menor, o conteúdo fecal fica mais úmido, menos pegajoso e mais fácil de evoluir. Estudos realizados conforme a pratica clinica classificaram com os conceitos vigentes, a DDC em dois diferentes tipos: No primeiro, a DDC se apresenta como uma anormalidade muscular, envolvendo principalmente o cólon esquerdo e é caracterizada por contrações espásticas e que está envolvida em complicações freqüentes do tipo inflamatório-infeccioso, que é a diverticulite. A perfuração é outra complicação comum. A dor é o sintoma mais freqüente dessa forma. A parede do cólon é extremamente espessada (hipertrofia) e a luz de diâmetro reduzido; o segmento envolvido é encurtado. No segundo, a doença coincide com a hipotonicidade do cólon. Não há anormalidade da musculatura. Os divertículos são maiores e de colo largo; provavelmente está associada às alterações do tecido conjuntivo decorrente da idade avançada, o que permite a formação de divertículos, na ausência das bolsas de pressão. A mais freqüente complicação que caracteriza este tipo é a hemorragia. Outros estudos mostram, entretanto, que a doença diverticular resulta de dois fatores: Pressão Textura da parede do cólon. Se há pressão elevada e a textura é forte, não haverá divertículos. Se há pressão elevada e a parede é fraca de textura, aparecem os divertículos. Se a parede é fraca, mas não há pressão, dá-se a diverticulose. Quadro clinico A diverticulose é assintomática em até 80% dos casos e, em geral, é detectada incidentalmente em exame de enema baritado, TC ou colonoscopia. Com frequência, há história de constipação. O exame do abdome pode revelar sensibilidade dolorosa leve no quadrante inferior esquerdo, e o colo esquerdo algumas vezes é palpável como uma estrutura tubular de consistência firme. Forma hipertônica: Os pacientes podem referir cólicas, desconforto abdominal e certa dificuldade para exonerações normais. Sua complicação é de ordem infecciosa, decorrente da perfuração de um divertículo, definindo a denominada diverticulite aguda. Quando o processo infeccioso se restringe basicamente à região da perfuração, ocorre a chamada diverticulite aguda não complicada; nesses casos o paciente costuma apresentar dor mais comumente em flanco esquerdo e às vezes também em hipogástrio, com nítida reação peritoneal; nem sempre ocorre febre associada. Porém, a perfuração pode levar à formação de um abscesso importante na região afetada ou, então, à peritonite generalizada, com pus ou fezes na cavidade abdominal, configurando a diverticulite aguda complicada; eventualmente esses pacientes podem obstruir ou formar fístulas para órgãos internos, como a bexiga, ou para a pele. Nos casos típicos, a diverticulite aguda não complicada (também conhecida como doença diverticular sintomática sem complicações [DDSSC]) causa febre, anorexia, dor no quadrante inferior esquerdo do abdome e constipação. Em < 25% dos casos, os pacientes podem apresentar peritonite generalizada, que é indicativa da presença de perfuração diverticular. Se o paciente tiver formado um abscesso pericolônico, ele pode apresentar distensão abdominal e sinais de peritonite localizada. A investigação laboratorial demonstra leucocitose. Raramente, o paciente pode apresentar nível hidroaéreo no quadrante inferior esquerdo à radiografia simples do abdome. Nesse caso, trata- se de um divertículo gigante do cólon sigmoide, que deve ser tratado com ressecção a fim de evitar perfuraçãoiminente. Forma hipotônica: Sua manifestação clínica é a hemorragia, que pode ser de pequena, média ou grande intensidade, neste caso podendo causar instabilidade hemodinâmica e necessitando transfusões sanguíneas. Em cerca de 70 a 75% das vezes o sangramento cessa espontaneamente. Julia Paris Malaco – ambulatório cirurgia Alguns pacientes podem apresentar queixas abdominais vagas, às vezes representadas por desconforto abdominal ou dor no quadrante inferior esquerdo do abdômen ou na região do hipogástrio; cólicas, constipação intestinal e evacuação de fezes em cíbalos; a flatulência, a distensão abdominal e a alteração freqüente do hábito intestinal, em que se intercala a constipação com a diarréia, podem estar associadas e são referências comuns entre os pacientes sintomáticos. Esses fatores associados aos divertículos complementam o conjunto que se esperaria sempre quando se pensa em DDC. O exame físico dos pacientes com doença diverticular é pouco revelador, exceto nas circunstâncias em que o cólon sigmóide é espessado e rígido e, palpado na fossa ilíaca esquerda, faz com que o paciente queixe-se de dor. Diagnóstico O diagnóstico de diverticulite deve ser confirmado preferencialmente por tomografia computadorizada (TC) com os seguintes achados: Divertículos no sigmoide, parede colônica espessada > 4 mm Inflamação da gordura pericólica, com maior ou menor quantidade de acúmulo de contraste ou líquido. Em até 20% dos casos, pode haver um abscesso abdominal. Sinais e sintomas da síndrome do intestino irritável podem simular o quadro clínico de diverticulite aguda. Portanto, uma suspeita de diverticulite que não atenda aos critérios tomográficos ou que não esteja associada a leucocitose ou febre não corresponde, de fato, à doença diverticular. Outras condições que podem simular doença diverticular incluem cisto ovariano, endometriose, apendicite aguda e doença inflamatória pélvica. Embora o benefício da colonoscopia na avaliação de pacientes com doença diverticular tenha sido questionado, seu uso ainda é considerado importante na exclusão de câncer colorretal. Por conseguinte, deve-se realizar colonoscopia cerca de 6 semanas depois do episódio de doença diverticular. A doença diverticular complicada é definida como doença diverticular associada a um abscesso ou perfuração e, menos comumente, a uma fístula. A doença diverticular perfurada é estadiada com base no sistema de classificação de Hinchey. Esse sistema de estadiamento foi desenvolvido para prever os resultados depois do tratamento cirúrgico da doença diverticular complicada. Desse modo, o abscesso pericólico é classificado como estágio 1b de Hinchey. Na doença diverticular complicada com formação de fístula, as localizações comuns são fístulas cutâneas, vaginais ou vesicais. Essas complicações manifestam-se por eliminação de fezes através da pele ou da vagina, ou presença de ar no jato urinário (pneumatúria). As fístulas colovaginais são mais comuns nas mulheres que já foram submetidas à histerectomia. Diagnóstico diferencial O exame coloscópico do intestino grosso com doença diverticular é meio eficaz para o diagnóstico diferencial e confirmação da presença ou não de doença associada, já que a expectativa de diferenciar DDC de outras moléstias, tomando como base apenas o quadro clínico e o conjunto dos sintomas pode ser problemático e, além disso, muitas vezes não pode ser resolvido com o enema opaco. A doença de Crohn, de localização segmentar e formação de massa inflamatória pericólica, pode causar sintomas e cursar com sinais semelhantes aos da diverticulite. Ambas podem estar associadas com diarréia, sangramento e perda de muco com as fezes, principalmente quando há a colite diverticular, associada à DDC. Outros sintomas e sinais tais como perda do apetite, emagrecimento e lesões perianais seriam os elementos para o diagnóstico da doença inflamatória. A coexistência das duas doenças tem sido descrita, embora na faixa etária da DDC seja incomum a doença de Crohn. A colite isquêmica é de ocorrência mais comum na faixa etária em que é frequente a DDC. Dor abdominal localizada, febre, leucocitose e diarreia com muco e sangue e a idade devem ser os sinais e sintomas para o diagnóstico clínico de colite isquêmica, antes de se pensar em Julia Paris Malaco – ambulatório cirurgia enterocolite infecciosa ou em doença intestinal inflamatória inespecífica, principalmente as que são mais comuns nos jovens. O exame endoscópico, que pode ser imprudente na vigência da diverticulite, é arma poderosa para o diagnóstico da colite isquêmica que pode ser vista, também, no clister feito com contraste hidrossolúvel. Tratamento A doença diverticular assintomática detectada nos exames de imagem ou por ocasião da colonoscopia é tratada mais adequadamente por alterações do estilo de vida. A DDSSC com confirmação de inflamação e infecção do cólon deve ser tratada inicialmente por repouso intestinal. O uso rotineiro de antibióticos para tratar doença diverticular não complicada não se mostrou benéfico para reduzir o tempo necessário à resolução dos sintomas ou das complicações, ou para reduzir o risco de recidiva. A internação hospitalar é recomendada quando o paciente não consegue fazer tratamento oral, tem várias comorbidades, não melhora com o tratamento ambulatorial e apresenta um quadro de diverticulite complicada. A cobertura antimicrobiana recomendada atualmente é uma cefalosporina de terceira geração ou ciprofloxacino e metronidazol para erradicar bastonetes Gram-negativos e bactérias anaeróbias. Infelizmente, esses fármacos não oferecem cobertura para enterococos; recomenda-se, então, o acréscimo de ampicilina a esse esquema para os indivíduos que não melhoram. Como alternativa, o tratamento com um único antibiótico (p. ex., uma penicilina de terceira geração, como a piperacilina IV, ou a combinação de penicilina/ácido clavulânico oral) pode ser eficaz. A duração habitual do tratamento com antibióticos é de 7 a 10 dias, embora existam estudos em andamento para avaliar essa questão. Os pacientes devem continuar a ingerir uma dieta de restrição até a resolução da dor. A rifaximina (um antibiótico de espectro amplo pouco absorvido), quando comparada com o uso apenas de uma dieta rica em fibras para tratar DDSSC, associada a 30% menos sintomas recidivantes frequentes atribuíveis à doença diverticular não complicada. O tratamento conservador, ou seja, o não- cirúrgico, dá-se nas seguintes condições (conforme a Classificação de Hinchey, que correlaciona as características tomográficas numa crise de diverticulite com a gravidade): Hinchey I (abscesso pericólico ou flegmão), cujo o tratamento seria o uso de antibióticos com cobertura de bactérias gram-negativas e anaeróbias, por via oral ou endovenosa a depender da situação do paciente. A modificação na dieta é sempre indicada. Hinchey II (abscesso intra-abdominal ou retro- peritoneal). O tratamento consiste em drenagem dos abscessos guiada por exames de imagem, em que: abscessos menores que dois centímetros o tratamento é clínico e ambulatorial (ou seja, o paciente não precisa ser internado). Nos abscessos de dois a cinco centímetros, o tratamento é clínico, porém é preconizada internação hospitalar. Por fim, nos abscessos maiores que 5cm, deve-se ser realizada uma drenagem percutânea guiada. A cirurgia é reservada para os casos de falha do tratamento clínico e nos casos de abscesso não passível de drenagem guiada pela tomografia ou ultrassom. Em relação a cirurgia eletiva da diverticulite, a suaindicação deve ser individualizada, na impossibilidade de excluir carcinoma e conforme a gravidade das crises. No entanto, independe do número de crises (ao contrário do que era preconizado há alguns anos). Hinchey III e IV (peritonite por pus ou fezes, respectivamente): deve ser realizada cirurgia de emergência para resolução do problema. Entretanto as técnicas dependem do paciente, do achado intra-operatório e da preferência do cirurgião. Podendo estas ser um Hartmann (colostomia terminal e fechamento do coto retal), anastomose primária (emenda do intestino) com ileostomia de proteção, ou simplismente anastamose primária após ressecção do segmento acometido. A colonoscopia deve ser realizada com 6 a 8 semanas após o tratamento da diverticulite a fim de excluir diagnósticos diferenciais. Há uma outra modalidade de tratamento que seria a cirurgia laparoscópica, em que se realiza uma lavagem laparoscópica na peritonite Julia Paris Malaco – ambulatório cirurgia purulenta, a fim de tornar um Hinchey III em um Hinchey I, e posteriormente, numa cirurgia eletiva, realizar a remoção do cólon doente. A laparoscopia é o método de escolha para o tratamento da diverticulite não complicada, com vantagens comprovadas sobre a cirurgia convencional. Seu uso também nas formas complicada tem crescido, com resultados animadores. Diverticulite aguda não complicada: O tratamento de eleição para a maioria dos casos é clínico e consiste no emprego de antimicrobianos (embora alguns considerem não utilizá-los em casos específicos), antiespasmódicos e dieta rica em fibras. Diverticulite aguda complicada: O tratamento depende da complicação. Abscesso volumoso ao redor do cólon, bloqueado: A tendência é puncioná-lo orientado por tomografia, para se tentar controlar a infecção local. Eventualmente o paciente terá que ser operado posteriormente, para ressecção do segmento afetado Obstrução intestinal. Esta pode ocorrer por compressão do cólon decorrente de abscesso, e aí tenta-se drenar o abscesso por punção; mais frequentemente, a obstrução é consequência fechamento da luz do intestino (estenose) pelo processo inflamatório que pode ser causado pela diverticulite. Peritonite generalizada por pus. Nessa situação, impõe-se a cirurgia de urgência, existindo algumas possibilidades técnicas: ressecção do segmento do intestino perfurado com anastomose das duas bocas de intestino no mesmo ato, com ou sem derivação do trânsito intestinal por meio de ileostomia (exteriorizar o intestino delgado no seu segmento final) ou colostomia (exteriorizar um segmento do cólon do lado direito) com o intuito de minimizar as complicações no caso de algum ponto da anastomose abrir; ressecção do segmento comprometido, com colostomia, que requer uma outra cirurgia para juntar as bocas do intestino; sutura da perfuração, lavagem do abdome para retirar o pus e drenagem da área suturada. As condutas variam de acordo com as condições do paciente e da experiência do cirurgião. Peritonite generalizada por fezes. Nestes casos a conduta é de sempre se ressecar o segmento afetado, fazendo-se a cirurgia com colostomia ou, então, com anastomose e colostomia ou ileostomia de proteção. As condutas variam de acordo com as condições do paciente e da experiência do cirurgião. As cirurgias podem ser feitas por laparotomia (abrindo o abdome com um corte longo) ou por laparoscopia (através de pequenos furos), sendo esta a opção preferida, em função das condições do paciente, do hospital onde ele é operado (ter os equipamentos disponíveis) e da experiência do cirurgião. Hemorragia: Em 70 a 75% dos casos, o sangramento cessa espontaneamente, sendo necessário nos dias de observação preocupar- se com a manutenção do estado geral do paciente e, caso necessário, fazer transfusões sanguíneas. Quando a hemorragia é muito importante, a ponto de por em risco a vida do paciente, indica-se a cirurgia, que consiste na ressecção do segmento sangrante; quando esse não é identificado, o que não é raro, pode-se indicar a ressecção de todo o cólon. Conforme o caso e a experiência do cirurgião, a cirurgia pode ser realizada por laparotomia ou laparoscopia. Tratamento cirúrgico Os fatores de risco pré-operatórios que influenciam as taxas de mortalidade pós- operatórias incluem classes mais altas de estado físico da American Society of Anesthesiologists (ASA) e insuficiência de órgãos preexistente. Nos pacientes de risco baixo (ASA P1 e P2), o tratamento cirúrgico pode estar indicado para os pacientes que não melhoram rapidamente com tratamento clínico. No caso da doença diverticular não complicada, o tratamento clínico pode ser continuado por mais dois episódios, sem aumento do risco de perfuração com necessidade de realizar colostomia. Entretanto, os pacientes em tratamento imunossupressor portadores de insuficiência renal crônica ou doença vascular do colágeno têm riscos cinco vezes maiores de perfuração durante episódios recorrentes. O tratamento cirúrgico está indicado para todos os pacientes que apresentam risco cirúrgico baixo com doença diverticular complicada. Julia Paris Malaco – ambulatório cirurgia As metas do tratamento cirúrgico da doença diverticular incluem controle da sepse, eliminação de complicações, como fístula ou obstrução, remoção do segmento colônico enfermo e restauração da continuidade intestinal. Essas metas devem ser alcançadas ao mesmo tempo que se minimiza a taxa de morbidade, a duração da hospitalização e o custo, além de maximizar a sobrevida e melhorar a qualidade de vida. As opções atuais para doença diverticular não complicada são ressecção aberta ou laparoscópica do segmento afetado com reanastomose ao retossigmoide. A preservação de segmentos do cólon sigmoide pode resultar em recidiva precoce da doença. Os benefícios da ressecção laparoscópica em comparação com as técnicas cirúrgicas abertas são alta mais precoce (em pelo menos 1 dia), menor utilização de narcóticos, menos complicações pós- operatórias e retorno mais rápido ao trabalho Operações indicadas com base na classificação de Hinchey Estagio de Hinchey Procedimento cirúrgico Ia (fleimão pericólico) Ressecção aberta ou laparoscópica do cólon Ib (abscesso pericólico) Drenagem percutânea seguida de ressecção aberta ou laparoscópica do cólon II Drenagem percutânea seguida de ressecção aberta ou laparoscópica do cólon, com ou sem derivação proximal e ostomia III Lavagem e drenagem laparoscópicas ou Ressecção aberta ou laparoscópica com derivação proximal (ostomia) ou Operação de Hartmann IV Operação de Hartmann ou Lavagem com derivação proximal Os pacientes com doença no estágio Ia de Hinchey são tratados apenas com antibióticos, seguidos de ressecção e anastomose dentro de 6 semanas. Os pacientes com doença nos estágios I e II de Hinchey devem ser tratados com drenagem percutânea, seguida de ressecção e anastomose cerca de 6 semanas depois. As diretrizes atuais da American Society of Colon and Rectal Surgeons sugerem, além do tratamento antibiótico, a drenagem percutânea guiada por TC de abscessos diverticulares com > 3 cm e com paredes bem definidas. Os abscessos que medem < 5 cm podem regredir apenas com tratamento antibiótico. Em um estudo não randomizado, o tratamento conservador de abscessos paracólicos isolados (estágio I de Hinchey) foi associado ao índice de recidiva de apenas 20% depois de 2 anos. Mais de 80% dos pacientes com abscessos distantes (estágio II de Hinchey) necessitaram de ressecção cirúrgica para controlar sintomas recorrentes. Existem controvérsias quanto ao tratamentodos pacientes com doença no estágio III de Hinchey. Nesse grupo de pacientes, não há peritonite focal e presume-se que a perfuração esteja “selada”. No passado, os pacientes com doença no estágio III de Hinchey eram tratados por operação de Hartmann ou anastomose primária com derivação proximal. Vários estudos avaliaram os resultados de curto e longo prazos da lavagem peritoneal laparoscópica para remover contaminação peritoneal e colocar cateteres de drenagem, se ainda houvesse uma comunicação com o intestino. Contudo, esse procedimento foi associado ao aumento do risco de reoperação para tratar peritonite persistente. Em termos globais, os índices de ostomia são menores com a realização da lavagem peritoneal laparoscópica. Nenhum tipo de anastomose deve ser tentado nos pacientes com doença no estágio IV de Hinchey ou presença de peritonite fecal. Uma abordagem limitada a esses pacientes está associada a uma taxa de mortalidade reduzida. Diverticulite A diverticulite aguda decorre de perfuração micro ou macroscópica de um divertículo, resultando em reação inflamatória. O sigmoide é a localização mais comum dos divertículos e, portanto, também é o local mais comum de Julia Paris Malaco – ambulatório cirurgia diverticulite. A gravidade da doença varia desde inflamação leve restrita a um segmento da parede intestinal (microperfuração) até peritonite fecal (macroperfuração). A maioria (75%) dos pacientes se apresenta com diverticulite não complicada. Isso ocorre quando a microperfuração é imediatamente bloqueada, resultando em inflamação localizada. A diverticulite complicada ocorre em 25% dos pacientes e corresponde à perfuração macroscópica com evolução para abscesso, peritonite, estenose ou fístula. Quadro clinico Sinais e sintomas Os pacientes com diverticulite aguda classicamente se apresentam com dor e plenitude localizadas no quadrante inferior esquerdo. A média de idade à apresentação é 62 anos. A intensidade da dor abdominal varia de leve a grave, frequentemente descrita como dor constante ou cólica. Com frequência, o quadro lembra o da apendicite aguda, exceto por estar situado no quadrante inferior esquerdo. Ocasionalmente, a dor pode ser suprapúbica, no quadrante inferior direito ou em todo o abdome inferior, dependendo da localização do sigmoide e da distribuição da doença. Mudanças no hábito intestinal, incluindo constipação, diarreia ou ambas, são comuns. A disúria indica inflamação adjacente à bexiga. Náuseas e vômitos podem ocorrer dependendo da localização e intensidade da inflamação. Alguns dos sinais físicos característicos são febre baixa, distensão abdominal leve e sensibilidade dolorosa à palpação do quadrante inferior esquerdo. É possível haver massa palpável. Leucocitose é comum. O paciente com diverticulite aguda também pode se apresentar com outros sintomas atípicos. É possível haver obstrução de intestino delgado se uma alça intestinal ficar presa no processo inflamatório. A perfuração livre de um divertículo pode resultar em peritonite generalizada. Episódios recorrentes de diverticulite podem produzir sintomas leves até que ocorra uma complicação, como estenose ou fístula, que obrigue o paciente a procurar atenção médica. A evolução da diverticulite pode ser insidiosa, particularmente em idosos. Os pacientes podem se apresentar com dor abdominal vaga associada a abscesso, ou com infecções urinárias recorrentes em razão de fístula colovesical. Em alguns casos, a dor e os sinais inflamatórios não são evidentes, mas, se houver massa palpável e sinais de obstrução do intestino grosso, o diagnóstico diferencial com carcinoma do colo esquerdo deve ser lembrado. Entretanto, o diagnóstico de câncer pode ser difícil no Exames Em geral, as radiografias simples do abdome não são úteis, a não ser que revelem a presença de gás livre no abdome em razão de divertículo perfurado. Outros achados inespecíficos seriam íleo adinâmico, obstrução do colo ou massa no quadrante inferior esquerdo. O exame de TC de abdome e pelve com contraste intravenoso é a modalidade inicial preferencial. Na maioria dos trabalhos publicados, a TC demonstrou sensibilidade, especificidade e acurácia acima de 90%, embora 5% dos pacientes terão diagnosticado um câncer como causa subjacente. Também é útil afastar outras doenças intra-abdominais que podem se apresentar de forma semelhante. Os achados incluem espessamento da parede, gordura peritoneal espessada e divertículos. Complicações como abscesso ou fístula podem ser evidentes. Os sinais da TC também podem ser preditivos da necessidade de intervenção cirúrgica ou do sucesso da conduta expectante conservadora. A classificação de Hinchey foi desenvolvida em 1978 como auxiliar na tomada de decisões clínicas para pacientes com doença complicada e para padronização de laudos radiológicos. A classificação foi atualizada para refletir o aprimoramento na resolução dos exames de TC e hoje inclui os seguintes estágios: (0) diverticulite clínica leve; (Ia) inflamação pericólica ou flegmão; (Ib) abscesso pericólico ou mesocólico; (II) abscesso pélvico, intra-abdominal ou retroperitoneal resultante da extensão de abscesso pericólico; (III) peritonite purulenta; e (IV) peritonite fecal. Não há indicação de colonoscopia para avaliação de paciente que se apresente com sinais e sintomas e imagens sugestivas. Entretanto, a diferenciação entre diverticulite aguda e outras doenças, como intestino irritável, carcinoma e colite isquêmica, pode ser difícil. Se for decidido que a endoscopia se faz necessária para a condução adequada do caso, deve-se dar preferência a exame tardio, após a atenuação do processo inflamatório. Se houver urgência, recomenda-se sigmoidoscopia com baixa insuflação em detrimento da colonoscopia para reduzir o risco de perfuração. Diagnóstico As apresentações da diverticulite aguda são tão variadas que o diagnóstico diferencial é amplo. O Julia Paris Malaco – ambulatório cirurgia quadro pode simular apendicite, carcinoma colônico perfurado, obstrução com estrangulamento, isquemia do colo, doença de Crohn (DC), cistite, colite infecciosa e doenças ginecológicas, como doença inflamatória pélvica, gravidez tubária e abscesso tubo- ovariano. O diagnóstico diferencial com apendicite é especialmente difícil quando um sigmoide redundante jaz no quadrante inferior direito. A perfuração livre com peritonite generalizada é difícil de distinguir das outras causas de perfuração. Uma anamnese minuciosa com exame físico completo e exames de imagem ajudam a diferenciar esses quadros. A colonoscopia geralmente não está indicada quando da apresentação inicial de paciente com suspeita de diverticulite, mas pode ser útil nos casos com alto grau de suspeição de carcinoma, insuficiência vascular ou doença inflamatória do colo. Em alguns casos, pode ser difícil afastar o carcinoma do colo, particularmente nas formas mais silenciosas de diverticulite que se apresentem com massa ou fístula. Ocasionalmente, o diagnóstico pode se manter indefinido até que a peça cirúrgica seja examinada por patologista. Complicações No espectro clínico da diverticulite estão complicações como perfuração livre, abscesso, fístula e obstrução. A peritonite fecal requer cirurgia imediata. Os abscessos frequentemente podem ser drenados por via percutânea. As fístulas com maior frequência envolvem bexiga ou colo, mas também podem se estender comprometendo ureter, uretra, vagina, útero, intestino delgado, ovário, tubas uterinas, períneo e parede abdominal. A obstrução do colo geralmente é parcial e com instalação insidiosa. É possível haver obstrução de intestino delgado em razão do seu envolvimento no processoinflamatório. Tratamento Clinico Aproximadamente 80% dos pacientes com diverticulite aguda não complicada (Hinchey 0 e Ia) podem ser tratados em regime ambulatorial. Entretanto, deve-se considerar a possibilidade de hospitalização nos pacientes idosos, imunossuprimidos ou com comorbidades importantes, como diabetes melito ou insuficiência renal. Qualquer paciente necessitará de tratamento hospitalar se houver dor significativa, impossibilidade de alimentação por via oral ou evidência de doença sistêmica grave. Os pacientes sem indicação de internação hospitalar geralmente são tratados com dieta líquida clara, antimicrobianos de amplo espectro (ciprofloxacino e metronidazol ou amoxicilina- ácido clavulânico) e acompanhamento meticuloso, embora essa estratégia de condução tenha caráter histórico e esteja sendo questionada. Há evidências de que os pacientes com diverticulite não complicada não requeiram terapia antimicrobiana. Em um ensaio recente, concluiu-se não ter havido diferenças em permanência hospitalar, evolução com complicações ou recorrência em 1 ano. Pacientes gestantes, imunossuprimidos ou em sepse foram excluídos. Para os pacientes com indicação de internação, o tratamento dependerá da gravidade do quadro de apresentação. Em geral, os pacientes são conduzidos com repouso intestinal, líquidos intravenosos e terapia antimicrobiana sistêmica de amplo espectro. Os esquemas comuns cobrem a flora colônica e são escolhidos considerando-se alergias do paciente e exposição prévia aos antimicrobianos. Os regimes mais comuns incluem um betalactâmico/inibidor da betalactamase, carbapenêmico, ou a combinação de fluoroquinolona e metronidazol. À medida que as manifestações clínicas cedem, a dieta oral é reiniciada de modo gradual, inicialmente com dieta pobre em resíduos. Após a recuperação, prescreve-se dieta rica em fibras desde que não haja estenose, embora não se tenha comprovado definitivamente que essa intervenção reduza recorrências. O tratamento conservador é bem- sucedido em até 85% dos pacientes. Há indicação de repetir a TC ou de intervir quando os pacientes não melhoram ou apresentam deterioração do quadro clínico após 48 horas do início do tratamento clínico. Essa evolução frequentemente indica progressão para doença complicada e possibilidade de indicação cirúrgica. Na última década, mais pacientes vêm sendo conduzidos de forma conservadora, o que determinou a realização de pesquisas sobre estratégias para prevenção de episódios subsequentes. Pequenos ensaios randomizados foram conduzidos em pacientes que desenvolveram diverticulite duas vezes em 1 ano. A administração de mesalazina e rifaximina com intervalos de uma semana todos os meses reduziu os sintomas e a recorrência, em comparação com a rifamixina como medicamento único. Dois pequenos ensaios clínicos com probióticos não demonstraram melhora significativa. Entretanto, foi demonstrado que evitar nozes, pipoca e sementes não reduz o risco de diverticulite e, Julia Paris Malaco – ambulatório cirurgia portanto, não há necessidade de orientar os pacientes nesse sentido. Conduta intervencionista: Os pacientes com diverticulite complicada por flegmão ou pequenos abscessos sem peritonite (Hinchey Ib) são candidatos a tratamento conservador. Contudo, abscessos maiores (> 3 cm) têm menor probabilidade de responderem ao tratamento conservador e devem ser drenados, se possível por via percutânea. Com isso, obtém-se controle da fonte de infecção, e geralmente o resultado é melhora clínica em alguns dias. O tratamento percutâneo de abscesso intra-abdominal permite realizar intervenção cirúrgica definitiva de forma eletiva, o que significa redução no risco de complicações e aumento na chance de procedimento em estágio único sem necessidade de estoma. Cirurgia Cirurgia eletiva: Em trabalhos recentes, nos quais foi examinada a história natural da diverticulite, demonstrou-se que é possível esperar recidiva da diverticulite ao longo de um período de 10 anos em 10 a 30% dos pacientes tratados sem cirurgia. Entre os pacientes com recidiva, uma proporção semelhante terá um terceiro episódio. As recidivas tendem a ocorrer com gravidade semelhante à do episódio anterior, e os pacientes com necessidade de cirurgia urgente geralmente já apresentam essa indicação no primeiro episódio. Em outras palavras, é raro que um paciente com recidiva requeira cirurgia urgente. Isso indica uma evolução geralmente benigna para os casos de diverticulite não complicada e coloca em questão os possíveis benefícios da cirurgia eletiva profilática em pacientes com história de diverticulite aguda. Ademais, a colectomia eletiva não é isenta de riscos. Em uma revisão retrospectiva verificou-se que 20% dos pacientes apresentam incontinência fecal, urgência ou evacuação incompleta após ressecção do sigmoide por diverticulite. As indicações cirúrgicas formais estão por ser definidas, mas, em geral, houve redução nas ressecções eletivas de colo por diverticulite nos últimos 10 anos. As diretrizes da American Society of Colon and Rectal Surgeons (ASCRS) recomendam que as indicações de cirurgia sejam determinadas individualmente. Devem ser considerados episódios prévios, debilidade, confiabilidade e acesso a recursos médicos de cada paciente. A cirurgia geralmente é reservada aos pacientes com doença complicada, com abscesso, perfuração, estenose ou fístula, ou para aqueles imunossuprimidos. Também deve ser considerada nos pacientes em que a possibilidade de câncer subjacente não tenha sido excluída. Quando for indicada, a colectomia deve ser retardada, se possível, em 6 a 8 semanas, para permitir a resolução da inflamação aguda, que agregaria dificuldade à cirurgia. Há evidências de que o retardo na cirurgia aumenta a taxa de sucesso da ressecção laparoscópica com anastomose primária, possível em mais de 90% dos casos. Contudo, o retardo na cirurgia implica risco pequeno, mas não desprezível (2%), de diverticulite recorrente grave nesse intervalo, com a possibilidade de requerer cirurgia de emergência com alta morbidade. Estudos complementares são necessários para determinar o momento ideal do procedimento cirúrgico. A ressecção definitiva em caso de diverticulite do sigmoide deve incluir o colo sigmoide distalmente até o reto não envolvido. A extensão proximal da ressecção deve ser até o ponto em que o intestino estiver macio e com aspecto saudável, o que geralmente inclui todo o sigmoide. Não há necessidade de remoção adicional de intestino no sentido proximal, mesmo se estiver envolvido com divertículos, uma vez que é improvável que se tornem sintomáticos. Em ensaios randomizados, foi demonstrado que a abordagem laparoscópica reduz a permanência hospitalar e a dor pós-operatória sem aumentar a taxa de complicações. Contudo, trata-se de cirurgia tecnicamente difícil que só deve ser realizada por cirurgiões que dominem a técnica. Em alguns casos, a laparoscopia pode não ser possível, mesmo em centros com larga experiência, em razão da persistência e da intensidade do processo inflamatório. Um subgrupo de pacientes se apresenta com estenose colônica decorrente de inflamação crônica e fibrose. Esse quadro geralmente causa sintomas de obstrução parcial. Se for confirmado diagnóstico radiográfico e endoscópico de estenose inflamatória, recomenda-se ressecção eletiva. A extensão distal da ressecção deve sempre incluir a junção retossigmoide e a anastomose do colo com o segmento proximal saudável do reto. Cirurgia de urgência Menos de 10% dos pacientes se apresentarão com complicações que requeiram cirurgia urgente. As indicações incluem sepse não controlada e ausência de melhora com tratamento clínicoou drenagem percutânea. Nos pacientes imunocomprometidos, a indicação cirúrgica costuma ser mais premente, dado seu maior risco de morbidade e mortalidade com o tratamento clínico. Essas são características geralmente Julia Paris Malaco – ambulatório cirurgia encontradas nos pacientes classificados como Hinchey III ou IV. Na laparotomia para diverticulite aguda grave, a exploração da cavidade abdominal pode revelar uma massa inflamatória envolvendo intestino grosso, mesocolo, mesentério, omento e, algumas vezes, intestino delgado. Exceto nos casos de perfuração livre com peritonite fecal, o divertículo enfermo raramente é visível. O tipo de cirurgia realizada depende dos seguintes fatores: extensão do processo inflamatório colônico, grau de peritonite, estado geral e nutricional do paciente, comorbidades, extensão da perda sanguínea, e experiência e preferência do cirurgião. Idealmente, a ressecção com anastomose primária é realizada em um único tempo cirúrgico. Talvez não seja possível realizar uma anastomose primária se houver contaminação ou infecção evidentes do campo cirúrgico, em razão do grande risco de deiscência da anastomose. Nos pacientes que possam ser eleitos aptos à anastomose, mas que ainda sejam considerados de alto risco, a melhor opção é a realização da anastomose com derivação protetora por meio de ileostomia ou colostomia em alça. Mas, se o risco da anastomose for considerado alto demais, há duas opções disponíveis. O padrão é a cirurgia de Hartmann, realizada em dois tempos. Na cirurgia inicial, o intestino comprometido é removido, a extremidade proximal do colo é exteriorizada na forma de colostomia terminal temporária, e o coto colônico distal é fechado. O trânsito itestinal é restaurado em um segundo tempo cirúrgico, após a resolução da inflamação. Houve relatos na literatura de pacientes Hinchey III sendo tratados com lavagem com solução fisiológica por via laparoscópica e drenagem sem ressecção como alternativa à colectomia. Essa abordagem não foi amplamente adotada, e hoje está em curso um ensaio randomizado comparando-a com a cirurgia de Hartmann. Cada vez mais, a drenagem percutânea de abscessos tem evitado a necessidade de procedimentos em múltiplos estágios e permitido a ressecção primária com anastomose uma vez resolvida a inflamação. Entretanto, se a drenagem percutânea não for bem-sucedida, há indicação de drenagem cirúrgica. Não se aconselha realizar o procedimento em três estágios, que consiste em derivação e lavagem com drenagem intestinal seguidas, em um segundo tempo cirúrgico, por ressecção do intestino comprometido e, finalmente, restauração do trânsito intestinal, em razão da inflamação em curso no intestino comprometido e da morbidade associada. Entretanto, se o paciente não for capaz de tolerar uma ressecção, ou se as condições hospitalares locais não forem seguras, esta pode ser uma opção.