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DOR ABDOMINAL 1. Reconhecer as principais causas de dor abdominal aguda e crônica; O esquema abaixo apresenta as principais causas de dor suas respectivas características quanto a esse sintoma. 2. Estudar a doença diverticular e compreender quando o tratamento pode ser ambulatorial e quando é necessário internamento hospitalar. Epidemiologia: Segundo Quilici (2019) é mais comum nos países industrializados. Tem maior prevalência no sexo feminino e representa a quinta mais importante doença gastrointestinal nos países ociedentais. A taxa de mortalidade para doença diverticular dos cólons (DCC) é de 6 a 17%. Etiopatogenia: Segundo Quilici (2019) uma dieta pobre em fibras faz com que ocorra uma maior atividade muscular do cólon que promove uma hipertrofia da camada muscular, encurtamento das tênias e estreitamento do lúmen. Esse fator associado a uma a perda de da elasticidade parietal com a idade aumentam a tensão na parede colônica. No local em que as arteríolas penetram na parede muscular dirigindo-se para a mucosa e submucosa formam-se zonas de menor resistência. Ocorre, então, herniação da mucosa dando origens a divertículos de pulsão. O sigmóide é o mais acometido. Alguns estudos também demonstram a participação da microbiota intestinal que, se alterada por conta de uma alimentação inadequada, pode causar um estado de inflamação crônica de baixa intensidade que favorece a formação desses divertículos. Principais complicações: ∙ Diverticulite aguda: Segundo Quilici (2019) é a doença diverticular com presença de sinais e sintomas que refletem a inflamação como febre, taquicardia, palidez cutaneomucosa, distenção abdominal, dor à palpação, com ou sem sinal à descompressão brusca, podendo ter presença de plastrão, tumoração ou massa palpável, principalmente na fossa ilíaca esquerda. Ocorre em 10 a 25% dos pacientes com DDC. Os sintomas clássicos são febre, dor no quadrante inferior esquerdo, febre, náuseas e vômito. A colonoscopia não é indicada na fase aguda por conta dos riscos de perfuração intestinal e a TC é o método de escolha para diverticulite aguda. ∙ Perfuração: Segundo Marinho (2016) os divertículos com tendência à perfuração são os maiores, por irrigação deficiente. Apresenta esádios diferentes como abcesso pericólico ou pélvico e peritonite generalizada ou fecal. ∙ Hemorragia: Segundo Quilici 2019 ocorre em 5 a 15% dos pacientes com DDC. Segundo Marinho (2016) em caráter agudo pode resultar em choque hipovolêmico. Divertículos que tendem ao sangramento são aqueles de origem arterial localizados no cólon direito. A maioria dos sangramentos por doença diverticular é autolimitada (com reicidiva de 30% após o primeiro episódio) e deve ser suspeitada em pacientes com hemorragia digestiva baixa volumosa e indolor. Nesses casos a colonoscopia é indicada para determinar o local do sangramento, estabelecer o diagnóstico diferencial (45% dos casos de sangramento profuso não tem origem diverticular) e efetuar o tratamento (injeção de adrenalina, endoclips, selante de fibrina, eletrocauterização, etc). Diagnóstico clínico: Segundo Quilici (2019) diverticulose colônica se diferencia da doença diverticular por ser uma forma assintomática e sem complicações da existência de divertículos. A doença diverticular sintomática não complicada se apresenta com episódios inespecíficos de dor abdominal, geralmente em fossa ilíaca esquerda ou região suprapúbica, tipo cólica ou constante que é aliviada com eliminação de flatos e/ou evacuação. A alteração do hábito intestinal é caracterizada com períodos de diarréia. Podem ocorrer episódios de flatulência e tenesmo. Paciente geralmente refere sensação de desconforto, peso ou dor no quadrante inferior esquerdo. Conforme a obstrução aumenta os casos de obstipação se tornam mais prolongados e freqüentes. No grupo das formas não complicadas existe a recorrente que é um tipo intermitente da doença, com aparecimento e remissão episódicas dos sintomas supracitados. Exames complementares: A resposta inflamatória é a principal responsável pelo surgimento dos sintomas e complicações da DDC. A PCR esta aumentada na fase aguda. Os valores médios são de 2,5 mg/dL na DDC não complicada e de 20,5 mg/dL na diverticulite aguda. Outros marcadores sorológicos úteis são contagem de leucócitos (leucocitose pode ser marcador de gravidade) e VHS. A calprotectina fecal é capaz de diferenciar DDC da síndrome do intestino irritável, além de indicar gravidade de DDC e monitorar sua resposta terapêutica. Porém, esse biomarcador pode estar aumentado em infecções intestinais, neoplasias e sangramentos. Segundo Marinho (2016) a tomografia computadorizada (TC) é o método de escolha para diagnóstico da diverticuite aguda e suas complicações. Os achados mais comuns encontrados na TC são processo inflamatório na gordura pericólica (98% dos casos), presença de divertículos (84% dos casos), espessamento da parede cólica > 4 mm (70% dos casos0, flegmão ou fluido pericólico (35% dos casos). O Quadro 1 apresenta os exames complementares recomendados de acordo com a graduação da DDC. Diagnósticos diferenciais: Quadro 1 (MARINHO, 2016) ∙ Neoplasia do cólon: A DCC pode simular ou se associar à neoplasia do cólon. Além disso, incidem na mesma faixa etária e tendem a se localizar no mesmo segmento do cólon. Para diferenciação o diagnóstico só pode ser estabelecido após o estudo da peça cirúrgica. ∙ Colite isquêmica: Incide na mesma faiza etária, com preferência pelo cólon esquerdo. O diagnóstico diferencial se da por meio de exame radiológico ou endoscópico. ∙ Apendicite aguda: Atinge, em geral, grupos etários mais jovens. Também diferenciado por exames radiológicos ou endoscópicos. Tratamento clínico: Segundo Quilici (2019) a intervenção terapêutica não é geralmente necessária em pacientes com diverticulose uma vez que são assintomáticos. Algumas mudanças de hábitos de vida como aumento da ingestão de fibras 25 g/dia, dieta pobre em gordura, manutenção do índice de massa corpórea em torno de 25kg/m2, aumentar sua atividade física, cessar o tabagismo e evitar o uso de anti-inflamatórios não esteroidais podem ser benéficos nesse grupo. No caso de doença diverticular não complicada é recomendado a ingesta de fibras com suplementação acima de 25 g ao dia. Além do uso de mesalazina e rifaximina que melhoram os sintomas da DDC não complicada além de prevenirem sua recorrência. Na diverticulite aguda não complicada nos pacientes com formas leves (sem febre alta, peritonite importante ou vômitos), formas não recorrentes, sem complicações em estágio Hinchey I (estados abordados no objetivo 3), o tratamento pode ser ambulatorial. Pacientes imunocomprometidos podem ter a necessidade de atendimento hospitalar e antibioticoterapia conforme o quadro. Já na diverticulite aguda complicada, pacientes Hinchey Ib ou II com abcessos menores que 5 cm, o uso de antibioticoterapia EV pode resolver em 70 a 80% dos casos. Àqueles com abscessos maiores é recomendada a drenagem percutânea por TC juntamente com antibioticoterapia endovenosa. Para pacientes Hinchey III ou IV está indicado tratamento cirúrgico. Tratamento cirúrgico: Segundo Marinho (2016) diante de um episódio de diverticulite, os pacientes com sinais de hipotensão, taquicardia, febre alta, hemograma com leucocitose, e aqueles em que o exame laboratorial revele sinais de irritação peritoneal, devem ser hospitalizados . A conduta nesses casos é permanecer em jejum e receber hidratação endovenosa e antibioticoterapia de amplo espectro. Caso haja piora clínica ou não ocorra melhora no período de 24 horas, e nos casos em que houver presença de perfuração colônica ou sepse de origem abdominal, os pacientes devem ser encaminhados para o tratamento cirúrgico. Para a diverticulite aguda a técnica pode ser do tipo conservadora (com drenagem, sutura de perfuração, derivação proximal com drenagem ou sutura e exteriorização da perfuração) ou com ressecção (ressecção com anastomose, ressecção e colostomia, ressecção com anastomose e colostomia protetora,ressecção com colostomia com duas bocas e colectomia subtotal). Pacientes com abcessos intra-abdominais podem ser tratados clinicamente e com drenagem percutânea por orientação de TC. Sem melhora do quadro se indica laparotomia. Uma outra indicação para o tratamento cirúrgico é a obstrução intestinal que não melhora com tratamento conservador. O procedimento mais utilizado é ressecção e anastomose imediata. Todo cólon sigmóide deve ser removido. 3. Estudar a classificação tomográfica de Hinchey; Segundo Naves (2017), Hincheyet al. descreveram, em 1978, uma classificação em quatro estágios para diverticulite aguda, sendo o estágio I presença de abcesso apenas paracolônico, no estágio II esse abcesso se estende à pelve, no estágio III ocorre uma peritonite purulenta e no estágio IV ocorre uma peritonite fecal, devido a uma perfuração de alça.O Quadro 2 tem a classificação atualizada com as subcategorias detalhadas. Trata-se de uma caracterização a partir das características da peritonite para traçar conduta prognóstica e terapêutica. 4. Discutir sobre a realização da colonoscopia no diagnóstico da doença diverticular dos cólons. Segundo Quilici (2019), a colonoscopia será solicitada em casos de DDC sintomática não complicada e sintomática recorrente não complicada. Nos casos mais graves a colonoscopia não se faz mais necessária. Em casos de fístulas e hemorragias a colonoscopia é contraindicada, pois pode causas perfurações e infecções. Correlação com o caso: A baixa ingesta de fibras apresentado por sra Antônia tem correlação com a etiopatogenia da formação de divertículo pelo aumento da pressão intralumial. Sua dificuldade de eliminação de flatus e constipação pode indicar um quadro obstrutivo que é sinal de gravidade dentro de seu diagnóstico, assim como febre e hiporexia que indicam inflamação. Juntamente com achados de irritação peritonial e presença de plastrão palpável configuram uma diverticulite aguda. Hinchey I tem um bom prognóstico e resposta terapêutica. Segundo Qulici (2019) nessa classificação é desnecessário a conduta cirúrgica, porém Marinho (2016) diz que pode ser realizada em ressecção e anastomose em um estágio. A colonoscopia é contraindicada no caso de sra Antônia por conta de seu diagnóstico e o risco de perfuração. REFERÊNCIAS MARINHO, James Ramalho et al (ed.). Tratado de Gastroenterologia: da graduação à pós-graduação. 2. ed. São Paulo: Atheneu, 2016. NAVES, Aline de Araújo; D'IPPOLITO, Giuseppe; SOUZA, Luis Ronan Marquez Ferreira; BORGES, Sílvia Portela; FERNANDES, Glênio Moraes. What radiologists should know about tomographic evaluation of acute diverticulitis of the colon. Radiologia Brasileira, [s.l.], v. 50, n. 2, p. 126-131, abr. 2017. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/0100- 3984.2015.0227. QUILICI, Flávio Antônio. A Gastroenterologia do Século XXI: Manual do Residente da Federação Brasileira de Gastroenterologia. 1° Edição. Barueri-SP: Editora Manole, 2019.
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