Buscar

Memória Social e Patrimônio Cultural - Museu do Ingá I

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 12 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 12 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 12 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
GRADUAÇÃO EM ANTROPOLOGIA
NITERÓI - RJ
Museu de História e Artes do Estado do Rio de Janeiro 
Museu do Ingá
PROFª SIMONE P. VASSALLO
HUGO VIRGILIO DE OLIVEIRA
Introdução
	Há cerca de três anos que frequento semanalmente a região central de Niterói e seus principais bairros. Entre minhas chegadas e partidas na cidade, eventualmente cruzava pela frente do Museu do Ingá e seu palacete imponente. Sempre nutri uma curiosidade por conhecer o interior do espaço e toda a história que ele abrigava em seus cômodos, materiais e imateriais. Felizmente, com esse trabalho tive maior incentivo para satisfazer essa curiosidade.
	Quando fiz a primeira visita, ainda não tinha decidido que faria minha pesquisa ali. No entanto, ao chegar ao espaço, no primeiro ambiente do museu, fiquei encantado com a estrutura extremamente bem conservada e todo o conteúdo riquíssimo de pinturas e paisagens antigas da região metropolitana e interior do Rio. No segundo ambiente, já nota-se a disposição formal digna de uma sede do governo do estado do Rio de Janeiro, como foi sede no período de 1904 à 1975; a presença de algum pouco mobiliário da época e algumas retratações dos governadores do período em que Niterói foi capital do estado. Aquele prédio que eu não fazia ideia do que mantinha, começou a se desabrochar como uma flor.
	Saí de lá encantado com a proposta de conhecimento da história do estado fluminense que esse centro cultural apresenta e decidido a pesquisar ali. Meu próximo passo, foi a partir dos estudos de memória coletiva, começar a conversar com pessoas que moravam nas redondezas do museu; afinal, segundo Halbwachs:
Outras pessoas tiveram essas lembranças em comum comigo. Mais do que isso, elas me ajudam a recordá-las e para melhor me recordar, eu me volto para elas, por um instante adoro seu ponto de vista, entro e seu grupo [...] e encontro em mim muitas das ideias e maneiras de pensar a que não me teria elevado sozinho. (HALBWACHS, Maurice. In: A Memória Coletiva. P. 31)
Todavia, para a minha surpresa, apesar da flor que se desabrochava, eu parecia o primeiro a vê-la no jardim. O primeiro conflito que me chamou atenção foi a falta de conhecimento dos próprios vizinhos e moradores locais sobre o museu. Numa tentativa de contabilizar nas minhas entrevistas o número de pessoas que já tinham visitado e conheciam o Museu do Ingá, descobri que havia uma naturalização em não o conhecer; todos sabiam que era um museu e o que todos sabiam é que ninguém o conhecia. E isso me chamou mais atenção ainda na continuidade da minha pesquisa sobre o museu, que um dos seus principais objetivos e a manutenção e promoção de uma memória e história sobre o estado do Rio de Janeiro.
	Em seguida, outros conflito que se apresentou muito forte foi a dificuldade de construção e legitimação do centro cultural como tal. A partir das minhas visitas, pude concluir que essa dificuldade se dá por três pontos que se relacionam entre si formando um ciclo: a falta de investimentos; o museu se mantém funcionando com uma receita básica para o seu funcionamento, manutenção de pequenos reparos e,, segundo a museóloga que me recebeu, a terceirização dos funcionários da limpeza e segurança. A conflituosa falta de um acervo rico e próprio do museu. E novamente a fraca interação e participação da população com o espaço.
	De modo geral, entre outros pontos, esses foram algumas temáticas que se destacaram ao longo da pesquisa que foi realizada nas últimas duas semanas do mês de Setembro de 2018. Ao longo do trabalho, procuro discorrer mais aprofundadamente esses assuntos à luz dos autores trabalhados na disciplina de Memória Social e Patrimônio Cultural do curso de graduação em Antropologia da Universidade Federal Fluminense. Como métodos para a realização do trabalho, foram realizadas: cinco visitas ao Museu do Ingá, uma entrevista com a museóloga responsável, pesquisa com moradores locais, pesquisa online sobre o espaço e também tive acesso ao plano museológico elaborado em 2013.
	O trabalho está dividido em três partes: a primeira é uma breve apresentação e contextualização da história do prédio antes de se tornar um museu. A segunda é direcionada para a história do espaço enquanto museu, seus objetivos e sua missão como promotor de história e memória. Por fim, a terceira parte é direcionada para uma discussão um pouco mais aprofundada sobre o conflito principal que paira sobre o Museu de História e Arte do Estado do Rio de Janeiro.
	
1. Uma breve apresentação
Segundo alguns relatórios institucionais do governo estadual do final da década de 70, época em que o museu foi oficialmente criado, que constam no plano museológico do museu, narram que: 
O Museu Histórico do Estado do Rio de Janeiro “veio preencher uma necessidade pela qual se debatiam, tanto o governo fluminense como a opinião pública desde 1909”, pois acreditavam “faltar ao antigo estado [...] um centro de preservação de suas tradições e de sua história” (In: Plano Museológico do Museu do Ingá, 2013).
Além disso, numa entrevista com a museóloga Angela Moliterno, coordenadora de museologia que me recebeu, fui informado que o principal alvo de curiosidade e objetivo das pessoas que visitam o espaço é conhecer e descobrir mais sobre o período em que o prédio serviu de moradia a nobres e enquanto sede do governo e residência do governador. A busca por esses temas específicos dialoga com o que apresenta Michel Pollak ao discutir alguns elementos constitutivos da memória individual e coletiva e identidade social: os acontecimentos e os personagens (POLLAK, Michael. 1992).
Sendo assim, apresento aqui um resumo da história do espaço buscando reproduzir parte do que se busca apresentar aos visitantes do Museu do Ingá;
1.1. Período Residencial
Antes de se tornar um palacete, o prédio que abriga o Museu do Ingá era originalmente um chalé e serviu de residência por algum tempo. Ele foi construído em meados do século XIX, a mando do médico e político José Martins Rocha, um dos fundadores do Hospital Antônio Pedro, que leva o mesmo nome de um dos outros também fundadores do centro médico.
 Após a morte de Martins Pena, o chalé foi vendido para o Visconde de Sande, posteriormente Conde de Agrolongo, que era filantropo e fotógrafo amador. Ele era dono de uma marca de fumo bem sucedida e fez uma grande reforma tornando o chalé em um grandioso casarão. Por fim, encerrando a época residencial do prédio, com a incorporação da empresa de fumos do Conde de Agrolongo à Companhia Souza Cruz e com o divórcio da esposa, ele pôs a casa a venda. 
1.2. Período Governamental
O então Palacete Sande, foi adquirido no início do século XX, por Nilo Peçanha, com intuito de sediar o governo do Estado do Rio de Janeiro com a capital recém transferida para Niterói. Parte do valor da compra foi pago por apólices pelos cidadãos locais e rendeu ao prédio o título de “casa do povo”. O então governador reformou o prédio e ele foi o primeiro a ter luz elétrica na cidade. 
Enquanto sede do governo, foi palco de conflitos entre governadores e teve minas instaladas nos jardins casa houvesse alguma invasão para despejar Backer, governador que sucedeu Nilo Peçanha, com quem nutria uma richa considerável. Já na Era Vargas, no contexto de Segunda Guerra Mundial, o Palácio do Governo recebeu Walt Disney buscando uma política de boa vizinhança com os EUA. 
Por fim, após várias reformas durante o período em que foi sede do governo, com a fusão dos estados da Guanabara e do Rio de Janeiro, o agora Palácio do Ingá é designado à recém-criada Fundação Estadual dos Museus do Rio de Janeiro e se torna um museu de história do estado.
* * * 
São os pequenos detalhes cotidianos da história do palácio que chamam atenção das poucas pessoas que o visitam. Saber que ele foi o primeiro prédio com luz elétrica da cidade, que o primeiro morador foi um dos fundadores do atual HUAP e até mesmo, indiretamente, que homenageado com o nome do hospital também foi um dos outros fundadores; ou até que minasexplosivas e Walt Disney já estiveram naquele terreno fascinam os visitantes. É essa identificação que abre espaço para outros conhecimentos e aproxima as pessoas dali. Novamente, Michael Pollak confirma:
É perfeitamente possível que, por meio da socialização política, ou da socialização histórica, ocorra um fenômeno de projeção ou de identificação com determinado passado, tão forte que podemos falar numa memória quase que herdada. (POLLAK, Michael. In: Memória e Identidade Social. 1992. P. 2)
2. Período Museológico
	Em 1976 passou a sediar o Museu de Artes e Tradições Populares com um acervo rico em trabalhos de artistas locais e de outras partes do país.. 
Já em 1983 o palácio é tombado como “Patrimônio Inestimável da Cultura Fluminense” pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural à pedido da Associação dos Moradores e Amigos do Ingá. Posteriormente, o museu de artes populares e o histórico se fundiram em 1991 criando-se o Museu de História e Arte do Estado do Rio de Janeiro, Museu do Ingá, que resiste até os dias de hoje.
É interessante notar como essa época é um dos momentos mais relevantes na história dos processos de patrimonialização. Na década de 1980 começa uma movimentação para a valorização das culturas tradicionais e populares que posteriormente resultou em uma recomendação oficial da UNESCO. Esse documento é um dos marcos que legitimam o incentivo à políticas de proteção ao patrimônio e identificação, difusão e circulação de signos patrimoniais. (ABREU, Regina. 2015)
2.1. O Plano Museológico
Segundo a museóloga Angela Moliterno, devido às recentes crises e que os campos da cultura e educação tem passado com a falta de investimentos e para evitar o mau uso do espaço cultural em questão, a administração do Museu do Ingá muniu-se de um plano museológico como meio de impedir uma grande interferência de autoridades externas na organização e dinâmica do museu. A ideia é ter planos claros e objetivos do uso do espaço, uma espécie de bússola para guiar futuras gestões, criando e fortalecendo uma identidade e legitimação do espaço cultural.
Desse modo, a partir da definição de museu do Comitê Internacional de Museus; do Instituto Brasileiro de Museus e do Estatuto dos Museus de 2013, o Museu de História e Arte do Estado do Rio de Janeiro é pensado então como “um lugar de articulação com os indivíduos que precisam nele se reconhecer para legitimar a sua existência como espaço cultural” (In: Plano Museológico do Museu do Ingá. 2013) e também como:
Instituição sem fins lucrativos, de natureza cultural, que conserva, investiga, comunica, interpreta e expõe, para fins de preservação, estudo, pesquisa, educação, contemplação e turismo, conjuntos e coleções de valor histórico, artístico, científico, técnico ou de outra natureza cultural, abertos ao público, a serviço da sociedade e de seu desenvolvimento” (In: Estatuto dos Museus. 2013).
2.2. Acervo
	O acervo do Museu do Ingá é o que talvez, do ponto de vista dos estudos da memória social e patrimônio cultural, seja o que há de mais conflituoso no espaço e na sua busca por legitimação e identidade. Conforme apresentado no primeiro tópico do trabalho e cabe aqui ser retomado; uma das, senão a principal função do Museu de História e Arte do Estado do Rio de Janeiro é promover uma identificação e valorização da memória e história fluminense. 
A partir disso, a principal peça do museu e pilar do pouco reconhecimento que ele tem é o próprio palacete não apenas pelo o que ele simboliza em si, mas devido a instabilidade das outras obras que se abrigam no espaço.
Além dos acontecimentos e dos personagens, podemos finalmente arrolar os lugares. Existem lugares da memória, lugares particularmente ligados a uma lembrança, que pode ser uma lembrança pessoal, mas também pode não ter apoio no tempo cronológico. (POLLAK, Michael. In: Memória e Identidade Social. 1992. P. 2)
Já o acervo material do museu é composto pelas seguintes coleções atualmente: A Coleção Banerj, que é formada por obras de arte, entre gravuras, desenhos, pinturas e esculturas dos séculos XIX e XX, destacando-se litografias de Emil Bauch, Victor Frond, Lebreton, pinturas de Anita Malfatti, Cícero Dias, Di Cavalcanti, Cândido Portinari, Guignard, Alfredo Volpi, e um número expressivo de gravuras de Oswaldo Goeldi. O museu está como guardião dessas obras de artes enquanto não se resolvem as questões judiciais que envolvem a falência do Banerj e os protocolos a serem tomados.
A Coleção Original do Palácio do Ingá, que se constitui de obras que pertenceram ao antigo palácio do governo, como mobiliário, porcelana, cristais, objetos decorativos, documentos, fotografias, pinturas e retratos a óleo dos chefes do executivo fluminense. Essas são poucas peças que restaram do tempo em que o palácio foi sede do governo e se encontram expostas. 
Nessa coleção própria do Museu do Ingá, cabe mais uma vez os elementos constitutivos da memória trabalhados por Pollak. Quem vive ou está ambientalizado na região central de Niterói, está acostumado com os nomes das ruas Presidente Backer; Roberto Silveira; Nilo Peçanha; Amaral Peixoto, Ari Parreiras e outros endereços cotidianos niteroienses. Todos esses que eu citei, e provavelmente muitos outros, são nomes de governadores do Rio de Janeiro enquanto a capital foi Niterói e a maior parte deles tem suas pinturas oficiais expostas no Museu do Ingá. É muito comum que as pessoas queiram saber a história dos personagens que nomeiam as ruas em que elas vivem; nesse caso específico de Niterói, é uma resposta simples e de fácil acesso caso o museu fosse melhor aproveitado. Dessa vez notamos a importância da retomada dos personagens e da socialização histórica para identificação com o passado (POLLAK, 1992) e agora presente.
As Coleções Nilo Peçanha e Amaral Peixoto, que fundamentam o Centro de Estudos de Referência da História Fluminense, composta por fotografias, diplomas, condecorações, documentos pessoais e relacionados a cargos públicos, placas e objetos comemorativos. O acervo arquivístico consiste de documentos privados, como fotografias, cartas, ofícios e recibos de pagamentos pertencentes a ex-governadores do estado. A coleção bibliográfica incluiu livros e periódicos especializados em história do Brasil, história fluminense, artes plásticas, arte popular, artes decorativas e cultura popular. Tanto o Centro de Estudos quanto a biblioteca se encontram parados devido a falta de verba para suas manutenção e continuidade dos respectivos projetos.
A Coleção de Arte Popular, oriunda do Museu de Artes e Tradições Populares, é formada por peças representativas dos diversos estados do país, sobretudo do Rio de Janeiro, agrupadas por temas como instrumentos de trabalho doméstico e rural, objetos rituais de cultos afro-brasileiros, adornos e utensílios domésticos, brinquedos, ex-votos, literatura de cordel e arte indígena. 
3. A Memória em Conflito
A partir da ótica de memória social e patrimônio cultural, apesar da falta de investimento, nota-se que o Museu do Ingá já surgiu com sérios conflitos na construção de legitimação do seu acervo enquanto espaço de memória fluminense, seu principal objetivo ao ser criado. Após a junção dos estados da Guanabara e do Rio de Janeiro, e a capital retornar para a cidade do Rio de Janeiro, a maior parte do mobiliário, documentos e outros objetos foram transferidos e redistribuídos para as novas sedes e repartições públicas como, por exemplo, o Palácio Guanabara.
Acontece que, como as posses que envolviam questões governamentais e a continuidade do estado em outra capital a partir da fusão, se esperava naturalmente que fossem transferidas para outras sedes. Afinal, de um ponto de vista mais cético foi apenas um prédio do governo que fechou. Porém, elas também representam a memória e identidade do espaço enquanto sede do governo estadual do Rio e isso não foi levado em consideração.
Enquanto lugar de memória, sua composição deve se dar de aparatos materiais, simbólicos e funcionais (NORA, Pierre. 1993). No entanto, a maior parteda sua identidade e constituição material foi levada embora e o principal objetivo de manter e incentivar uma memória e identificação política, estadual ou regional foi ignorado. É extremamente irônico pensar que tirou-se tudo o que construiu a relevância histórica do local e o deixou apenas com a missão de mantê-la, sem matéria de forma consistente. 
Além disso, é interessante pensar como paralelamente a proposta da criação de um museu que busca a construção de uma memória estadual e histórica do Rio, existe também a manutenção da memória do estado da Guanabara. E mais ainda, pensar como as dificuldades de legitimação centro cultural interferem e podem acabar levando ao apagamento do estado da Guanabara. Cria-se um museu histórico e artístico da história para manutenção da memória do estado do Rio de Janeiro - obstáculo que segundo os registros do governo naquela época o estado da Guanabara enfrentou e contribuiu para o seu fim; retira-se boa parte do que contribui para a construção dessa memória e consequentemente contribui-se para reforçar o problema do estado findado e se repete o que foi criticado.
Outra problemática muito forte do espaço é a falta de visitantes e ela está ligada diretamente com a questão do acervo. Como a maior parte do que consolidava o museu como ex residência e ex palácio do governo foi espalhada para outras sedes na nova capital, as atenções da população foram concentradas para outros espaços culturais e, gradativamente, a sede do governo da ex capital foi sendo deixada de lado devido a falta de conteúdo que construía essa história. Enfim, atualmente, ninguém sabe nada além de que ali é um museu e isso apenas contribui para reforçar e dificultar a autenticação da identidade do museu.
Halbwachs questiona e responde essa situação: 
Será que por isso a memória individual, diante da memória coletiva, é uma condição necessária e suficiente da recordação e do reconhecimento das lembranças? De modo algum [...]. Para que a nossa memória se aproveite da memória dos outros, não basta que estes nos apresentem seus testemunhos: também é preciso que ela não tenha deixado de concordar com as memórias deles e que existam muitos pontos de contato entre uma e outras para que a lembrança que nos fazem recordar venha a ser reconstruída sobre uma base comum. (HALBWACHS, Maurice. In: A Memória Coletiva. P. 39)
O que Maurice nos faz refletir é o quanto a nossa memória individual pode resistir ao tempo, se não tem redes que a mantenha viva. No caso do Museu do Ingá, o que é possível concluir a partir dessa breve espaço de pesquisa, é que ele sofre com a falta dos pontos de contato entre as lembranças que o autor fala. A começar pelo acervo, que foi dispersado, e da população com o espaço que existe. Além disso, não podemos deixar de levar em consideração que o museu é muito recente e antes era sede do governo; é fato que existe uma espécie de distanciamento entre a população e as sedes governamentais e não é um ponto de contato que seja facilmente desfeito.
Conclusão
Nesse curto espaço de tempo em que estive pesquisando no Museu do Ingá, dois pontos me chamaram muita atenção. O primeiro deles foi a seriedade dos conflitos que envolvem esse centro cultural. Eu imaginava que a falta de visitantes fosse um problema e me causava estranhamento as pessoas não saberem do que se trata o museu, mas estudar as possíveis raízes desse obstáculo, ainda mais considerando o ótimo estado de conservação do espaço, me surpreenderam muito.
E o segundo foi como o museu tem se adaptado a esses conflitos. É interessante pensar que todos os conflitos e questões presentes no espaço são a partir de uma ideia de missão original do espaço na manutenção e construção da memória fluminense que tem sofrido com algumas dificuldades e ironias. No entanto, paralelamente a isso, em meio a todos os obstáculos e crises, tem-se criado uma missão de memória municipal. 
É notório como a maioria das lembranças históricas que o Museu do Ingá abriga, andam juntas com o cotidiano niteroiense desde quando foi residência para um dos fundadores do maior hospital público da região, às famosas e cotidianas ruas com nomes de vários governadores enquanto a cidade foi capital e atualmente com a constante missão da valorização dos artistas da cidade e de atividades culturais e de lazer para os moradores. O mais curioso é que esse papel como promotor cultural local sempre esteve presente no histórico do museu:
Em 1984, um amplo diagnóstico 11 foi realizado e um novo plano museológico foi desenvolvido. Para Darcy Ribeiro, uma política para os museus do estado deveria ser “pluricultural, descolonizadora e terceiro-mundista” a fim de romper com os ideais civilizatórios e colonizadores que tentaram circunscrever as manifestações culturais brasileiras. (In: Plano Museológico do Museu do Ingá. 2013)
	A partir do gradativo possível apagamento da ideia de construção de uma memória fluminense, tem se crescido o papel da instituição na manutenção e promoção da memória da cidade de Niterói. Não que a memória do estado deva ou vá ser esquecida, mas é fato a generosa quantidade e diversidade de centros culturais, museus e memoriais na atual capital que contribuem fazendo esse papel. 
Da mesma forma, o Museu do Ingá tem contribuído de maneira mais localizada na vizinhança em que está localizado e tudo isso indiretamente. Ao promover eventos musicais nos jardins do palácio; feiras de artesanato; visitas escolares; e outras atividades buscando atrair o público para o museu de história fluminense, o estadual acaba por atrair niteroienses e suas famílias para construir relações e novas descobertas a respeito do espaço e sua relação com o município.
A relação museu/comunidade deveria ser traçada no sentido da comunidade entendida como agente e não como objeto do discurso. A comunidade deveria participar da produção do sentido do museu. Para Ribeiro, isso significava a criação do “museu reflexo, o museu espelho”. (In: Plano Museológico do Museu do Ingá, 2013)
	Por fim, apesar de não ter sido muito aprofundado devido a implicações de âmbito administrativo, fica implícito que além dos obstáculos trabalhados, a questão da falta de investimentos. Na entrevista com a coordenadora de museologia foi abordado superficialmente algumas dificuldades financeiras do museu para a realização de eventos, manutenção e promoção do espaço. Ainda assim, tem sido possível contornar essas adversidades. Ademais, foi uma pesquisa muito enriquecedora que espero servir como meio de promoção e valorização do Museu do Ingá. Deixo registrado meus agradecimentos à toda a equipe que me acolheu.