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Análise reflexiva do documentário Pro Dia Nascer Feliz - Indira Abreu Garcia

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ - UFC
FACULDADE DE EDUCAÇÃO – FACED
DISCIPLINAS DE ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DA EDUCAÇÃO
E ESTRUTURA, POLÍTICA E GESTÃO EDUCACIONAL
PROFA. ROSE MACHADO
ANÁLISE REFLEXIVA DO DOCUMENTÁRIO “PRO DIA NASCER FELIZ” 
INDIRA ABREU GARCIA
Gostaria de iniciar essa análise, dizendo que quando terminei de assistir o documentário pela primeira vez, eu comecei a chorar. E chorei muito, pois me deu uma tristeza, uma revolta tão grande, uma sensação de impotência enorme diante de toda aquela realidade, que eu simplesmente não conseguia parar de chorar. A indignante situação em que se encontrava o Brasil nos anos 2000, era simplesmente trágica e aproximadamente duas décadas depois o cenário ainda é exatamente o mesmo, sem mudar uma vírgula, isso é realmente desanimador.
O documentário já começa de uma maneira forte e eu gostaria de destacar uma frase que dizia mais ou menos assim “a culpa será da juventude dita ‘transviada’? ou somos nós que não lhes oferecemos um caminho?” Essa frase me tocou muito por que às vezes as pessoas têm seus talentos, suas potencialidades, mas elas não têm oportunidades, então elas acabam se perdendo pelos caminhos que a vida lhe oferece, pois essa, às vezes, é a única que há… e é exatamente o que encontramos no documentário, em alguns dos estudantes retratados.
A primeira escola retratada no filme é a Escola Estadual Coronel Souza Neto que fica em Manari, Pernambuco, uma das cidades mais pobres do país. A princípio vemos a estrutura do colégio, toda destruída, as cadeiras quebradas e o estado lamentável dos banheiros, e somado a isso a pobreza daquela população, em seguida vem aquela menininha, Clécia, dizendo que não falta a escola mesmo que esteja doente. E nos vemos diante de uma contradição, pois mesmo diante de todas as dificuldades dentro e fora da escola ainda tem quem consiga sobreviver e se sentir feliz por ir à escola, uma pequena esperança que ressurge ali. 
Mas aquela escola precária era apenas uma escola de ensino fundamental, a escola de ensino médio fica na cidade vizinha e para ir até lá os alunos tem que pegar um ônibus, caindo aos pedaços, para chegar na escola. A estrutura dessa outra escola já é bem melhor, comparada a anterior, porém tem outro problema, os professores faltam muito, então muitas vezes depois de enfrentar toda essa dificuldade, de ônibus ruim e estrada longa eles ainda podem chegar lá e simplesmente não ter professores para dar a aula.
Nessa escola estuda a Valéria de 16 anos, ela é uma menina diferente das demais, ela gosta de ler e escrever poesias, por ser tão diferente e ter bastante leitura, ela acaba por ter bastante vocabulário, o que faz dela uma excelente escritora e por isso deveria tirar as melhores notas em redação, contudo quando escreve suas redações, pensam que não foi ela quem escreveu, que ela copiou de algum lugar, ou algo parecido, de tão baixo que é o nível dos outros alunos.
Outro ponto que encontramos é a falta de perspectivas de vida, as possibilidades são extremamente limitadas, tornando qualquer um que sonhe mais alto um utópico, vemos por exemplo a Valéria, uma menina extremamente inteligente e a melhor opção pra ela é fazer o pedagógico, para ser uma professora, contudo se ela estudasse na capital, por exemplo, ela poderia ter uma vasta possibilidade de opções e de realmente ir para uma faculdade. E essa falta de perspectiva de futuro leva a conclusão do ensino médio, algo totalmente sem sentido, e a falta de sentido desencadeia a maioria dos problemas da escola.
A próxima escola retratada é a Escola Estadual Guadalajara em Duque De Caxias, Rio de Janeiro, essa também é uma escola de periferia, com o acréscimo de ser bem próxima a uma boca de fumo o que torna o ensino ainda mais complexo e dificultoso. Um dos alunos foco nessa escola é o Douglas um aluno que tem um certo talento, mas que é muito tentado pela malandragem e pela criminalidade, e acaba não dando o valor merecido a escola. 
Contudo, podemos perceber a importância da cultura e da arte na escola, pois apesar das tentações do mundo fora da escola, Douglas se mantém ligado a escola, principalmente por fazer parte da banda da escola, onde eles apreendem sobre a música e a cultura negra, trazendo também um pouco da representatividade (muito assente nas escolas, que geralmente só estudam a cultura europeia e americana), e fazem diversas apresentações na escola e fora dela, levando ao garoto um pouco de capital cultural e o mantendo, por hora, longe da criminalidade. A importância do Núcleo cultural é proporcionar um momento para extravasar e assim evitar que o ócio leve ao crime. 
Outro fator importante de se ressaltar nessa escola é o momento do conselho de classe, um momento extremamente complicado para os professores, pois eles entendem que reprovar é ruim, pois o aluno se desmotiva ao ser afastado dos seus pares podendo levar a evasão, aprovar também é ruim, pois o aluno estará atrasado em relação aos demais e não conseguirá acompanhar o ritmo da turma, e a dependência é ruim também pois não prática ela não existe, e fica nessa encruzilhada de decisões entre o que é melhor para o aluno e o que é melhor para a escola.
Já na escola Escola Estadual Parque Piratininga II em Itaquaquecetuba, São Paulo temos uma realidade onde, ao mesmo tempo em que a estrutura da escola é boa (tanto que a diretora comenta que alguns pais levam as crianças pra olhar como se fosse uma “atração”), alguns problemas ainda se repetem, como as faltas dos professores, a pobreza dos alunos e a criminalidade nas proximidades. Diferentemente de outras escolas, nessa os alunos têm um pouco mais de interesse pela a escola, isso vem em decorrência da representatividade e da possibilidade de fato ter um futuro, alcançar uma faculdade, pois nos anos anteriores mitos alunos passaram no ENEM ou no PROUNI, e isso dá esperança, e dá sentido ao estudo.
Nesse escola vemos um grande salto de qualidade e é até possível pensar que ela é uma ótima escola, mas a verdade é que as anteriores eram muito piores, o que nos dá a falsa ilusão de qualidade. Isso pode ser contatado com o depoimento do aluno Ronaldo onde ele diz “não só o governo, mas a escola em si, passam uma imagem que o ensino tá melhorando, tá melhorando, tá melhorando, mas não está. Se tivesse melhorando a gente não precisava desse programa do pró universitário, você não precisava de cotas em universidade públicas, se tivesse melhorado não precisava fazer isso”. E esses programas, que existem até hoje, servem exatamente para tentar minimizar esses danos, e uma coisa é certa, só podemos ter certeza que o ensino publico tem de fato qualidade, quando não for mais necessário esse tipo de programa para dar o acesso das populações mais pobres ao ensino superior.
Mais a frente encontramos um outro problema nessa escola, que também se repete nas anteriores, a falta dos professores. Os professores faltam o tempo todo, e é até compreensível que se falte tanto, devido a precariedade e a insalubridade que é trabalhar nessas condições, não é todo professor que está preparado para isso, se é que existe professores preparados para isso, e nem deveríamos estar nos preparando para isso, mas é a realidade brasileira. Vemos também o depoimento da professora Celsa que precisa ir ao terapeuta regularmente para conseguir trabalhar, pois o professor acaba sendo visto como o inimigo criando um ambiente hostil. O que pode facilitar também essas faltas é a legislação que não pune essas faltas tornando-a conivente a ausência dos professores na escola. 
Uma das frases que mais me chamou atenção foi o depoimento dessa professora onde ela diz “O papel do professor na sociedade é muito importante, só que ninguém dá essa importância” e é exatamente isso, sem o professor não se tem nenhuma outra profissão, e mesmo assim não se dá o devido valor a esses profissionais, é um clichê, mas é a realidade. Falta apoio aos professores, falta estrutura, falta dignidade. Uma outra frase dela que me chamou a atenção foi essa “Tá todo mundo cansado de ouvir osproblemas da educação, mas ninguém faz nada...”, que resume exatamente o documentário, tudo que é apresentado ali, a gente já sabe, já ouviu falar, mas o que foi feito a respeito? O que mudou desde que foi feito o documentário até os dias de hoje?
Em seguida temos o depoimento da professora Suzana onde ela fala que a escola como ela é não cumpre mais a sua função, o mundo exterior está muito mais interessante e é exatamente isso, o modelo tradicional de ensino existe desde a idade média e ainda continua o mesmo, com pequenas e minúsculas alterações, mais ainda é o mesmo e irreal pensar que a criança de hoje em dia pode ser tratada como era em 1500... mas repetindo o que foi dito no parágrafo anterior, isso todo mundo sabe, mas ninguém faz nada a respeito.
Outro problema encontrado ao longo do documentário, que acredito que seja um reflexo de todos os citados anteriormente, seja a desmotivação, onde os problemas sociais que o aluno enfrenta o desmotiva a assistir aula, o que leva esse aluno a inadimplência, a desrespeitar os professores e a sua própria educação, isso por sua vez desmotiva os professores a serem bons profissionais, fazendo com que eles faltem exageradamente, e deem aula apenas para cumprir as horas, essa atitude do professor leva também a desmotivar os alunos que vem o professor como negligente, e se perguntam por que deveriam valorizar a sua educação se nem os professores a valorizam, e fica nesse eterno ciclo sem fim de desmotivação coletiva. E isso se repete em praticamente todas as escolas retratadas no documentário, com exceção do colégio Santa Cruz.
O Colégio Santa Cruz é um colégio da elite paulista localizado no bairro Alto de Pinheiros, São Paulo. E a realidade é extremamente oposta das escolas anteriores, esse colégio não sofre problemas com a infraestrutura, falta de professor ou de material, muito menos dos alunos, pois os pais pagam pela a educação dos mesmos. Contudo, como em qualquer colégio, também tem as suas problemáticas, nesses colégios a pressão psicológica, para passar de ano, estudar, tirar boas notas e ser aprovado no vestibular é extrema e, na verdade, é a única preocupação dos envolvidos com esse ensino. 
Assim temos o caso da Ciça, que por estar no ultimo ano do colégio, resolve se dedicar ainda mais aos estudos e com isso acaba se sentindo um pouco excluída e segundo a mesma, menos atraente, e uma frase dela que podemos destacar é quando ela fala que sente que não está sendo muito mulher, e isso traz um pouco do machismo, naquela clássica e antiquada ideia de que a mulher para ser atraente não pode ser muito inteligente, pois isso assusta os homens, felizmente ela não se deixa abalar, e consegue ser aprovada em engenharia, como ela desejava.
Além disso é possível observar que, apesar de todo o dinheiro investido na educação desses alunos, eles ainda vivem em suas bolhas sociais e pouco pensam nas realidades onde vivem os alunos mostrados anteriormente no documentário, uma falta de consciência coletiva, bastante comum em colégios de elite.
Outro fator que aparece no documentário é a depressão nos alunos, que só apareceu em duas escolas o primeiro caso foi com a aluna de Itaquaquecetuba, São Paulo, a Keila, que aparentemente é homossexual e consegue aliviar suas dores através da poesia de fanzine, onde ela demostra muito talento, contudo, apesar do talento e de aparentemente gostar de estudar, ela acaba, ao terminar a escola, trabalhando em uma fábrica dobrando jeans e para completamente de escrever pois, segundo ela, perdeu sua inspiração, o que pode ser interpretado pela a falta de incentivo ao sair da escola. O segundo caso é da Thais do bairro Alto de Pinheiros, São Paulo se vê em um impasse filosófico, medo da morte, o que vem depois da morte, como tudo começou... que a deixam refletindo e acaba por deixa-la depressiva, em consequência disso ela perde o interesse e a concentração nos estudos o que a leva a se sentir extremamente pressionada pela a escola e pela a família a ter um bom desempenho. É possível perceber a falta de apoio psicológico da escola nos dois casos, e as vezes é na escola onde se pode encontrar qualquer amparo para as dificuldades da adolescência, seja ela qual for, precisaria talvez um programa que auxilia-se os jovens nesse sentido, pois tem crescido cada vez mais os casos de doenças mentais principalmente na adolescência, na verdade é nessa fase da vida, onde, se não forem trabalhados, a maioria dos traumas desencadeadores dessas doenças se iniciam, e perduram pro resto da vida.
A penúltima escola abordada é uma escola da periferia de São Paulo, Escola Estadual Levi Carneiro, que além dos clássicos problemas pontuados nas outras escolas de periferia, podemos encontrar uma grande ausência dos pais, por que trabalham, porque morreram, ou porque nunca assumiram, além do fator da criminalidade onde muitos pais foram assassinados. Nessa escola, temos a Rita que acaba criando uma desavença com a Angélica, a Ivaneide e com a Viviane, elas já se agrediram, e a briga chegou a tal ponto da Rita sair da escola, engravidou e só voltou 2 anos depois ao 2º ano, com 20 anos. “A escola é um reflexo da sociedade”, e assim vemos a violência invadindo a escola cada vez mais, algo que vem piorando cada vez mais.
A última escola é de são Paulo, mas não é revelado o nome pois, nessa escola ocorreu um crime, uma garota foi de penetra para uma festa e a outra garota a expulsou, a garota expulsa atacou a outra com facadas ate a morte. O pior de tudo é quando ela fala “Da em nada matar sendo de menor, 3 anos passa rápido”, sem dar valor nenhum a vida. isso mostra a falta de perspectiva de futuro, que pode ser notada em outros alunos, impedindo de dar sentido ao estudo, o que torna praticamente impossível de incentivar o interesse. Essa escola, aparentemente é mais próxima da violência pois essa aluna não é a única a ter um relato de violências e crimes, os alunos falam de roubo, e violência sem dar a devida importância a esses atos. Mas algo que me chama atenção é quando eles falam “os próprios caras grandes lá roubam da sociedade, aí nós que somos a minoria não vamos roubar por que? [...] a criminalidade existe por causa deles”. É tudo uma questão de representatividade. A impunidade é vista todos os dias nos jornais, por que me esforçar para estudar se é muito mais fácil roubar? Então fica o questionamento, eles estão errados de pensarem assim?
Percebem-se as diferenças entre as escolas, no cultural e social, mas também se notam as semelhanças. Apesar da desigualdade social, todas possuem seus problemas, e a maioria possuem os mesmos (com exceção, é claro, da escola particular de elite). A negligencia é percebida, até hoje, nas escolas de todo o Brasil, seja pelos políticos, pelos alunos e até mesmo, infelizmente pelos profissionais de educação. O processo para elevar a qualidade de ensino no Brasil, tendo como base os problemas apresentados no documentário, deve ser baseado em dois pilares principais: estrutura e formação de professores. Deve-se investir na conservação das escolas, materiais didáticos e de apoio ao professor, assim como uma melhor formação de professores, que tenham capacidade de trabalhar nas mais diversas realidades do país, em suma o que realmente falta na educação brasileira é investimento, que busque acima de tudo diminuir e, se possível, extinguir as desigualdades brasileiras, sociais e econômicas proporcionado qualidade e satisfação em todos os âmbitos. Todos merecem uma educação de qualidade, independentemente de onde vivam, e é exatamente isso que podemos ver nesse documentário.

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