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capitalismo dependente resumo cap 3 Livro O capital

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Florestan inicia apresentando que a crise apresenta duas faces: a primeira que é a destruição das formas de se organizar a vida social e a construção de novas formas, faces que se entrecruzam e não se sucedem programaticamente, constroem portanto relações dialéticas dependentes do momento e do solo histórico em que se inserem. No reflexo da realidade e suas dimensões, os indivíduos que são atingidos de forma mais direta pela crise vão sentir o sofrimento em escala individual e coletiva, e aqueles que se inserem no marco de participar do processo de mudança ou ainda na disputa pela permanência da realidade como está (na concepção de conservar) vão sofrer de forma mais consciente o abalo em sua estrutura subjetiva e objetiva, tendo a moralidade, a saúde física e mental atingidos de forma mais ou menos intensa dependendo do que ocorre na realidade desse individuo. 
Os sociólogos enquanto indivíduos, que não são suspensos da realidade ao estuda-la, não fogem desse processo, nem são isentos das mudanças e abalos da realidade na vida objetiva das pessoas. No entanto existe um perigo histórico que Florestan apresenta que é a neutralidade como objetivo no processo de estudo cientifico, apresenta a necessidade portanto do sociólogo saber para que serve a ciência que cumpre. A ideia presente no inicio das ciências sociais e dos pensadores desde o iluminismo é de que a ciência pode através de si mesma e para si fazer uma revolução. No entanto quando analisamos a realidade encontramos equívocos nesse pensamento diante das condições materiais: a primeira é o fato da ciência estar sob controle da classe dominante e ter sido incorporada dentro da dominação e divisão de classes na sociedade capitalista e o segundo é que a partir das inovações cientificas a libertação do homem, a transformação sobre a realidade foi “parcial e incompleta”. Florestan aponta ainda que a participação da ciência no processo de libertação do homem cabe somente em um processo revolucionário socialista e democrático, espaço onde poderia ser utilizado para basear mudanças reais. 
Aponta que não analisa como atraso historicamente a américa latina, sendo os processos históricos sociais de violência, cultura generalizada de violência e repressão a direitos democráticas são sinais de resposta do capital, sinais de mudança. No entanto, o foco da sociologia no que tange o marco da américa latina se debruçou sobre a diferenciação entre os territórios no capital, preocupados em entender os efeitos e consequências, como um gado do colonialismo e em seguida consolidado como capitalismo dependente. Caracterizar a automização do modo de produção e das relações sociais como negativo é perder a potencialidade da autonomia revolucionária frente a processos abertos. Essa potencia tende tanto a favorecer as classes oprimidas quanto a complicar mais sua existência, sendo uma frente aberta a possibilidade da burguesia fazer um processo revolucionário nacional e construir um Estado capitalista novo ou ainda a organização proletária se organizar e fazer uma revolução contra ordem existente. 
A sociologia portanto tem um desafio necessário para enfrentar, o de compreender a realidade como ela se apresenta sobre a ótima de pensar estratégias de transforma-la e participar no processo de superação dela. Portanto algumas questões devem ser pensadas: 
A primeira é ponderar sobre oque ocorre quando a sociologia se alinha de forma critica a concepções que visam a ruptura com a ordem em detrimento da sua continuidade, a segunda é a relação que a sociologia firma com a modernização controlada e por ultimo a sociologia enquanto uma matriz com potencia revolucionária. 
“ O sistema de produção prende-se ao mesmo circuito de afirmação e de negação das fases historicamente objetivadas daquela civilização. As qualificações necessárias que marcam o que é típico e oque é variável no contexto histórico-cultural da América Latina, emergem diretamente, por sua vez, do modo pela qual o capitalismo se configurou em “nosso mundo” como realidade histórica.” (pg:128)
 A América Latina surge portanto como fruto de esforços internos e externos dos Estados Unidos e Europa para chegar sua maturidade, tendo o mesmo modo de produção, mas como histórias distintas, que não carregam revoluções burguesas, economia autodesenvolvida na logica de produção do capital e com estruturas históricas colonialistas. Desenvolve portanto “ um capitalismo organizado para absorver e preservar a dominação externa” nas palavras de Floresta, tendo na história um composição de classes baseada em interesses extranacionais, externos na construção da sua “evolução”. Portanto houve duas possibilidades: de uma “revolução dentro da ordem”, onde América Latina conquistaria através de seu desenvolvimento autonomia politica, econômica e social participando com as demais potencias do capital. A outra possibilidade seria a “revolução contra a ordem existente”, oque demandaria uma ruptura com o capital e a construção de uma nova ordem social. O movimento paradoxal seria ao mesmo tempo que ocorre um avanço histórico de autonomia e autossuficiência econômica através da criação de estados nacionais, concomitantemente seria possível um salto histórico em que saindo do controle econômico externo seria possível negar o imperialismo e construir uma nova ordem inspirada nas concepções socialistas/comunistas. 
Florestam apresenta preocupação com o dogmatismo de repulsar os conceitos construídos historicamente externos aos fatos da américa latina, mas também repulsar o movimento de não utiliza-los por simples digressão. Apresenta portanto que há uma tensão entre a estruturas construídas pelo seu histórico (neocolonialismo, colonialismo e capitalismo dependentes) que associados a uma civilidade importada e imposta e a forma como se expressa a Questão Social especificamente nesse terreno, constroem aspectos que devem ser dialeticamente interpretados. Portanto a importação de conceitos, teorias deve levar em conta especificidades em suas analises, sem excluir as variedades. Esse esforço existe para que seja possível entender por exemplo como o capitalismo dependente tem debilidades em se fundamentar na apropriação dos meios de produção (formula comum do capitalismo) com a centralidade da dominação tendo base externa ao local explorado, criando um flanco ao mesmo tempo vulnerável para uma contestação da ordem, também enquanto nação passível de exploração. 
Em face a mudança da organização capitalista mais recentes marcando a transformação do capital em monopolista, essa mudança pode apresentar possibilidades de aumento da dependência e da precarização da vida através da intensificação da exploração, ou ainda propiciar uma revolução dentro da norma sob tutela externa do capital internacional, podendo construir margem para a burguesia nacional entrar em processo de revolução quanto devido a intensificação dos fenômenos da questão social surgam dentre os conflitos a organização popular em resposta, dando oportunidade. 
Florestam ressalta que é falho esperar da produção teórica/cientifica construa conhecimento considerando especificidades das nações “subdesenvolvidas” e que portanto o papel de construção desse conhecimento fica a cargo de nós mesmos (setores críticos em produção sobre a realidade), e que é preciso que o mesmo seja apresentado a não especialistas. Diante da necessidade de apreender um conhecimento que possa ser apreendido e aplicados na pratica em fins políticos, portanto, retornamos a sociologia que se debruça sobre a transformação e não apenas ao entendimento. De que valeria a construção de um conhecimento aprofundado sobre a realidade se o mesmo não tivesse potencia para ser inserido na realidade e utilizado para ampliação de consciência de classes. 
“ Se o conhecimento é preciso e útil, é imperioso que esse converta em fonte de transformação da sociedade subdesenvolvida e dependente.”(pg:133)
CIENCIA E MODERNIZAÇÃO AUTONOMA 
A América Latina não conhecem outra modernização que não seja controlada, tutelada e induzida,na fase colonial através dos governos metropolitanos e suas instituições, no período neocolonial o fator externo se tornou mais explicito, o capital nascente já exigia uma qualificação na produção e técnica diante da necessidade do mercado. Elenca dois períodos de dominação do tipo imperialista: o primeiro europeu através da necessidade de inserir o trabalho livre em condição de venda e integrado a outros mercados, trouxe mudança no modo de produção e reprodução social. Uma nova estrutura estava sendo construída em nome da evolução nacional se inserindo para a acumulação do capital e a divisão social e de desenvolvimento, a concepção de que a importação de ideias, cultura e necessidades construíram uma ilusão sobre o processo. 
Destaca que os países europeus exploraram mais do que os espanhóis e portugueses na fase dourada do colonialismo na América Latina, se inserindo nesse circuito, o território se projeta para se inserir nos conflitos, se via envolvida em decisões que diziam respeito a crise da civilização ocidental moderna, capitalista, modernizada, sem sequer estar nesse patamar. Florestam destaca que o meio necessário para a transição em nome da liberdade para um mundo livre demandou um controle social centralizado no Estado, que já não podia mais ser apenas autoritários de governo presidencialista para governos totalitários, ainda que no marco democrático e constitucional. 
Diante da relação dialética de dominação interna e externa, quais seriam as condições portanto de se adquirir um grau de desenvolvimento nas ciências de modo a propiciar uma modernização não dependente, dependendo de um nível mínimo de desenvolvimento em todos os âmbitos da tecnologia, ciência e conhecimento noo geral. No entanto como pais dependente e subdesenvolvido, com mão de obra não qualificada, com desenvolvimento cientifico desestruturado, uma autonomia na modernização se torna inviável, torna-se portanto a condição de dependência em condição permanente, visto que as inovação quando a são não chegam ao poder da nações subdesenvolvidas e quando chegam já não são mais inovações. Portanto a quem serve a modernização se ela não se finaliza em uma autonomia? Aos países hegemônicos, que administram a dependência ao bel prazer de seu próprio desenvolvimento, o desenvolvimento cientifico portanto presta a dominação e subalternização dos países subdesenvolvidos.

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