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Acidente vascular cerebral hemorrágico (AVCh) – prof. Elisson Antônio 1 Acidente Vascular Cerebral Hemorrágico (AVCh) O acidente vascular cerebral hemorrágico se caracteriza como um sangramento espontâneo causado pela ruptura de artérias no interior da substância cerebral, geralmente por hipertensão arterial crônica, trauma ou malformação vascular rota. Corresponde a cerca de 15 a 20% dos casos de AVCs, sendo um evento que afeta cerca de 4 milhões de pessoas por ano, em que 40 a 60% dos pacientes morrem em 30 dias. Além disso, apenas 20% apresentam independência funcional em 6 meses, acarretando em custos e cuidados aumentados. Etiologia: hipertensão arterial sistêmica (50 a 70% dos casos), tendo outros fatores de risco como idade, abuso de álcool, uso de drogas ilícitas como metanfetamina ou cocaína (pacientes jovens < 45 anos), uso de anticoagulantes, fatores genéticos, entre outros. Os AVCh primários são de origem hipertensivas ou por angiopatia amiloide (deposição de proteína beta-amiloide nos vasos e fragilidade vascular – hemorragias lobares mais comum em idosos), enquanto que os secundários ocorrem em decorrência de coagulopatias, malformações vasculares, trombose venosa cerebral (congestão dos seios durais que facilitam sangramentos), neoplasias, endocardite (aneurisma micótico), discrasias sanguíneas, entre outros. Fisiopatologia: geralmente a hemorragia intraparenquimatosa ocorre por ruptura de uma pequena artéria perfurante profunda, devido ao aumento da pressão e aumento da fragilidade do vaso. Geralmente se desenvolve ao longo de 30 a 90 minutos, atingindo regiões profundas cerebrais, como núcleos da base, cápsula interna, cápsula externa, cerebelo e ponte – artérias cerebral média, cerebral posterior, basilar, cerebelares. Não Tem Pressão Controlada – Núcleos da base Tálamo Ponte Cerebelo Quadro clínico: cefaleia súbita, déficit focal relacionado à sua localização, náuseas, vômitos, rebaixamento do nível de consciência (sinais de hipertensão intracraniana), crises convulsivas, rigidez de nuca (sangue é irritativo), fraqueza muscular súbita, ataxia, afasia, disartria, alterações pupilares (compressão do NC III), incoordenação motora, hemiparesia, hipertensão arterial, coma, entre outros. Diagnóstico: pela clínica é impossível diferenciar um AVC isquêmico de um hemorrágico, de modo que a tomografia computadorizada de crânio é o método de eleição para diagnóstico de AVCh pela velocidade da realização, facilidade de interpretação e elevada sensibilidade. Na tomografia pode-se ter hiperatenuação no parênquima cerebral característica de hemorragia intraparenquimatosa, compressão ventricular, desvio de linha média, entre outros. A angiotomografia arterial é uma opção para investigação de causas vasculares secundárias da hemorragia e também serve como preditor da expansão do hematoma – spot sign, com vazamento do contraste dentro do parênquima cerebral, um sinal preditivo de aumento do hematoma nas próximas horas. Prognóstico: existem algumas escalas que indicam prognóstico, como a Intracerebral hemorrhage score (ICH) que prediz mortalidade em 30 dias. A escala varia de 0 a 6 pontos, em que quanto maior a pontuação, maior a chance de mortalidade. O volume do sangramento é calculado pela multiplicação de A (maior diâmetro do hematoma) x B (maior hematoma perpendicular ao A) x C (números de imagens nos em que os hematomas aparecem, pontuando 1 para imagens com sangramento > 75% e 0,5 para sangramentos de 25-75%). Dividindo essa conta por 2 totaliza-se o volume estimado do hematoma em ml. Além disso, pode- se utilizar a escala Glasgow outcome score, essa que estima recuperação funcional, em que quanto maior a pontuação, maior a chance de perda de funcionalidade. Acidente vascular cerebral hemorrágico (AVCh) – prof. Elisson Antônio 2 Intracerebral Hemorrhage Score (ICH) Dado clínico Achado Pontos Glasgow da admissão 3-4 2 5-12 1 13-15 0 Idade > 80 anos 1 < 80 anos 0 Local do hematoma Infratentorial 1 Supratentorial 0 Volume do hematoma > 30 mL 1 < 30 mL 0 Hemoventrículo Sim 1 Não 0 Escore ICH 0 = 0% 1 = 13% 2 = 26% 3 = 72% 4 = 97% 5 = 100% 6 = 100% Volume Idade Glasgow Inundação ventricular Localização - VIGIL Glasgow Outcome Score Escore Gradação Explicação 1 Boa recuperação Retorna para o nível de independência original e ao emprego sem déficits 2 Comprometimento moderado Mínimo déficit neurológico que não interfere no cotidiano ou impede o retorno ao trabalho 3 Comprometimento grave Déficit neurológico importante que interfere no cotidiano ou impede o retorno ao trabalho 4 Estado vegetativo Coma ou déficit neurológico grave que torna o paciente completamente dependente 5 Morte Morte Abordagem inicial do paciente: estabilização e controle de vias aéreas, garantir ventilação e estabilizar hemodinamicamente. Coletar exames laboratoriais incluindo coagulograma, hemograma, eletrólitos, função hepática, ureia, creatinina, exame toxicológico (quando necessário), entre outros. Realiza-se exame físico geral e neurológico, encaminhando paciente para tomografia de crânio para definir localização da hemorragia, volume e presença de acometimento ventricular. Com base na história clínica pode-se definir pontos de intervenção precoce, como: → Controle da pressão arterial: o alvo pressórico é de PAS < 140mmHg → Correção de discrasias sanguíneas: deve-se corrigir as discrasias sanguíneas promovendo reversão da coagulação. Varfarina com INR>1,4 Usar vitamina K associada a plasma fresco congelado ou complexo protrombínico Dabigatrana (Praxada) Idarucizumabe Rivaroxabana (Xarelto) Apixabana (Eliquis) Sem antídotos disponíveis Realizar lavagem gástrica com carvão ativado e complexo protrombínico Alteplase (trombolítico) Crioprecipitado Plaquetopenia < 100.000mm3 Transfusão de plaquetas Heparina Protamina Acidente vascular cerebral hemorrágico (AVCh) – prof. Elisson Antônio 3 → Necessidade de intervenção cirúrgica: como indicações neurocirúrgicas tem-se 1) hematomas cerebelares de mais de 3 cm, com rebaixamento do nível de consciência, sinais de compressão do tronco cerebral e hidrocefalia, 2) inundação ventricular prejudicando a reabsorção do LCR (fazer derivação ventricular), 3) hematomas lobares volumosos, 4) desvio de linha média maior que 5 mm, 5) volume do hematoma maior que 30 mL e 6) hematomas extensos em pacientes jovens e com deterioração neurológica. Além disso, deve-se definir riscos de expansão do hematoma ou deterioração precoce, além de definir necessidade de monitorar a pressão intracraniana (PIC). Deve-se manter temperatura em níveis abaixo de 37,5ºC, já que a hipertermia é deletéria para o SNC. O alvo de glicemia deve ser entre 120 a 180 mg/dL – glicose hipertônica em casos de hipoglicemia. Geralmente em 48h depois da estabilidade clínica e sem evidência da expansão do hematoma por neuroimagem – repetida entre 12 e 24h da primeira tomografia – deve-se realizar profilaxia de trombose venosa e tromboembolismo – AAS 100 – 300mg/dia ou clopidogrel 75mg/dia. Nesse meio tempo utiliza-se meia elástica, mudança de decúbito a cada 2h, entre outros. A profilaxia de crises convulsivas não deve ser feita, então os anticonvulsivantes só podem ser utilizados em quadros de crise convulsiva documentada. O uso profilático de corticoides também não deve ser feito no AVC hemorrágico. Desse modo, entende-se que a hemorragia intraparenquimatosa é uma doença grave que se beneficia de um protocolo estruturado de atendimento que pode reduzir a mortalidade e a incapacidade funcional. Caso clínico Homem de 58 anos dá entrada no pronto-socorro, hipertenso não controlado, pardo, trazido por familiares. O relato é de uma cefaleia súbita, associada a vômitos em jato não precedido por náuseas (sinais de hipertensão intracraniana), que evoluiuminutos depois com alteração da linguagem (disartria), desvio de rima labial para a direita e hemiplegia fasciobraquiocrural à esquerda. Ao exame está em estado confusional agudo, PA 220x130mmHg, disartria, hemiplégico à esquerda com flacidez e arreflexia. Após algumas horas estava torporoso e os olhos estavam tonicamente desviados para a direita (desvio contra a hemiplegia e para o lado da lesão cerebral). Diagnóstico mais provável: acidente vascular cerebral hemorrágico com etiologia por hipertensão arterial não controlada. Exames diagnósticos complementares: tomografia de crânio para visualização da hemorragia, observação de acometimento ventricular definição de localização e volume. Além disso, coletar coagulograma, hemograma, eletrólitos, função renal e hepática. Realizar anamnese e exame físico e calcular score ICH para análise de prognóstico e mortalidade. Terapêutica: estabilização de vias aéreas (IOT se Glasgow < 8), garantia de ventilação e estabilização hemodinâmica, monitorização e acesso venoso. Controle pressórico com Esmolol, Metoprolol ou Enalapril EV tendo como alvo PAS 140 mmHg. Corrigir discrasias sanguíneas se necessário. Avaliar necessidade e indicação de neurocirurgia. Estabilizar em UTI. Repetir tomografia entre 12 e 24h após a primeira TC de crânio. Manter glicemia entre 120 e 180 mg/dL e temperatura abaixo de 37,5°C. Promover uso de meia compressiva e troca de decúbito a cada 2h. Utilizar fenitoína se crise convulsiva documentada. Monitorizar o paciente e acompanhar sinais vitais ou indícios de piora/complicações. Seguimento: iniciar profilaxia contra trombose após 48h de estabilidade clínica (AAS 100 – 300mg/dia ou clopidogrel 75mg/dia), promover rigoroso controle pressórico, correção de hábitos de vida, redução ou cessação do consumo de álcool. Se sequelas, o paciente deve ser submetido à reabilitação com equipe de fonoaudiologia, fisioterapia, enfermagem e terapia ocupacional, que deverá traçar um plano terapêutico individualizado.
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