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Bruna Altvater Saturnino XLII – 2021.1 - 1 28.04.21 Ética e segurança em cirurgia ÉTICA • Quero (nem tudo se pode) /posso (nem tudo se devo)/devo (nem tudo se quer) • Medicina: responder às necessidades das pessoas • Juramento de hipócrates, colégio americano de cirurgiões, colégio americano de ginecologia e obstetrícia… • American Medical Association (1847) – Declaração de princípios éticos: baseada no conceito de “responsabilidade” - participação do paciente nas decisões médicas e no seu tratamento. • Participação do paciente x cirurgia • Todo diagnóstico é acompanhado de uma recomendação de tratamento pelo médico (possíveis alternativas, motivos, riscos, benefícios (confiança na relação médico-paciente)) American College of Surgeons: “a prática ética da medicina estabelece e assegura um ambiente no qual todos os indivíduos são tratados com respeito e tolerância; a discriminação ou o assédio com base na idade, preferência sexual, sexo, etnia, deficiências ou religião são proscritos como sendo inconsistentes com os ideais e princípios da American College of Surgeons”. • Início do século XX: com o aumento da tecnologia, há uma explosão do conhecimento biomédico (“médico é quem sabe”), com isso a relação médico-paciente diminuiu. • 1960: bioéticos adotem o conceito de “autonomia” do paciente (respeitar o direito de o paciente decidir voluntariamente sobre como procederá seu tratamento, após receber as informações sobre, solicitando seu consentimento para o tratamento) • Consentimento: permissão concedida pelo paciente ao cirurgião • Voluntário: condição pode ser coercitiva • Consentimento informado: linha de base da melhor prática ética na moderna assistência médica • Acordo contratual? Paciente assina antes da realização de qualquer ato cirúrgico, de forma não contratural nem coercitiva, mas sim após o paciente entender o procedimento que será submetido e todas suas implicações conforme conversa em consulta • Respeitar os valores culturais e familiares do paciente • Pacientes terminais ou no fim da vida: paciente assine tudo que lhe é apresentado pela ideia da finitude, sendo necessário então o consentimento da família Encontra-se definido no código de ética médica nos artigos 22 e 34. CÓDIGO DE ÉTICA É vedado ao médico: • Art. 1º Causar dano ao paciente, por ação ou omissão, caracterizável como imperícia, imprudência ou negligência. Parágrafo único. A responsabilidade médica é sempre pessoal e não pode ser presumida. • Art. 3º Deixar de assumir responsabilidade sobre procedimento médico que indicou ou do qual participou, mesmo quando vários médicos tenham assistido o paciente. • Art. 5º Assumir responsabilidade por ato médico que não praticou ou do qual não participou. É vedado ao médico: • Art. 22 Deixar de obter consentimento do paciente ou de seu representante legal após esclarecê-lo sobre o procedimento a ser realizado, salvo em caso de risco iminente de morte. É vedado ao médico: • Art. 31 Desrespeitar o direito do paciente ou de seu representante legal de decidir livremente sobre a execução de práticas diagnósticas ou terapêuticas, salvo em caso de iminente risco de morte. • Art. 34 Deixar de informar ao paciente o diagnóstico, o prognóstico, os riscos e os objetivos do tratamento, salvo quando a comunicação direta possa lhe provocar dano, devendo, nesse caso, fazer a comunicação ao seu representante legal. • Art. 35 Exagerar a gravidade do diagnóstico ou do prognóstico, complicar a terapêutica ou exceder-se no número de visitas, consultas ou quaisquer outros procedimentos médicos. É vedado ao médico: • Art. 50 Acobertar erro ou conduta antiética de médico. • Art. 52 Praticar concorrência desleal com outro médico. • Art. 57 Deixar de denunciar atos que contrariem os postulados éticos à comissão de ética da instituição em que exerce seu Bruna Altvater Saturnino XLII – 2021.1 - 2 trabalho profissional, e se necessário, ao Conselho Regional de Medicina. É vedado ao médico: • Art. 60 Permitir a inclusão de nomes de profissionais que não participam do ato médico para efeito de cobrança de honorários. É vedado ao médico: • Art. 80 Expedir documento médico sem ter praticado ato profissional que o justifique, que seja tendencioso ou que não corresponda à verdade. CÓDIGO DE CONDUTA PROFISSIONAL Servimos como advogados eficientes das necessidades dos nossos pacientes Apresentamos opções terapêuticas, inclusive os seus riscos e benefícios Apresentamos e solucionamos quaisquer conflitos de interesses que possam influenciar nas decisões relacionadas com os cuidados Sermos sensíveis e respeitosos em relação aos pacientes, compreendendo a sua vulnerabilidade durante o período perioperatório Apresentarmos abertamente os eventos e os erros médicos Reconhecemos as necessidades psicológicas, sociais, culturais e espirituais dos pacientes Envolvermos dentro dos nossos cuidados cirúrgicos as necessidades especiais dos pacientes termalmente enfermos Reconhecermos e apoiarmos as necessidades das famílias dos pacientes Respeitarmos o conhecimento, a dignidade e a perspectiva de outros profissionais de saúde CUIDADOS NO FINAL DA VIDA Responsabilidade de fornecer cuidados paliativos e hospitalares apropriados e de respeitar o direito de um paciente em recusar tratamento e a responsabilidade dos cirurgiões de evitarem intervenções fúteis. O cuidado paliativo proporciona ao cirurgião uma nova oportunidade para reequilibrar a capacidade de se tomar decisões com a introspecção, o distanciamento com empatia. RESSUSCITAÇÃO NA SALA DE CIRURGIA Requer que o paciente tenha conhecimento preciso do seu diagnóstico, prognóstico, possibilidade de sucesso da RCP na situação e dos riscos envolvidos. SEGURANÇA EM CIRURGIA Brennan e colaboradores, 1991 • Evento adverso: lesão causada pelo tratamento médico que prolongou hospitalização e/ou incapacitação até a alta. • Negligência: prestar atendimento abaixo do padrão esperado pelos médicos de sua comunidade. Análise de 30.121 prontuários em 51 hospitais • Eventos adversos em 3,7% → 27,6% por negligencia • 70% causaram incapacidade por até 6 meses • 2,6% incapacidade permanente • 13% morte • 48% complicação cirúrgica Locais envolvidos com os erros médicos: sala de cirurgia, UTI, enfermaria, locais de atendimento ambulatorial, consultório. • 2 tipos de falhas: o Falha de execução (ação não acontece como pretendida) o Planejamento (ação inadequada) ou em ambos. • Nem todos os erros médicos causam dano ao paciente. A menor parte causa danos. • Grandes sistemas falham pela ocorrência de múltiplas falhas sequenciais - soma de erros latentes gera o dano. • Cirurgia segura - trabalho em conjunto de uma equipe, mesmo o cirurgião sendo o responsável (o sucesso depende de uma boa conduta desde a função da recepcionista até a função do cirurgião no procedimento). • A análise do erro ocorre de maneira retrospectiva, responsabilidade recaindo apenas sob uma pessoa da cascata - demissão do funcionário - não melhora o sistema - falha está na instituição e não em um único funcionário. Sistemas cirúrgicos seguros: medidas para melhorar a segurança nas cirurgias • Desenvolvimento da equipe: competência, proeficiência, aprendizagem contínua e desenvolvimento de habilidade, selecionando-a conforme essas características • Liderança: presença física, volume cirúrgico e experiencia • Comunicação da equipe. Bruna Altvater Saturnino XLII – 2021.1 - 3 Proteção contra lacunas: • Lacunas (trocas de plantão, transferências, interrupção no atendimento, entro outros) ocorrem perdas de informações, que raramente causam falhas, pois alguém as identifica e corrige • Diretrizes, fluxogramas •Time-out cirúrgico (quadro cirúrgico – lista de verificação de segurança cirúrgica – ou falado em voz alta → realizar antes da indução anestésica, antes da incisão cirurgia e antes do paciente sair da sala de operação) são formas de evitar essas lacunas • 5 certos: paciente certo, lado certo, procedimento certo, posição certa e material certo. Aperfeiçoamento na tecnologia da informação: • Desenvolvimento de sistemas cada vez mais seguros e de qualidade, • Informatização (reduz os erros médicos) Estudos observacionais de sistemas perioperatórios: • Enfermeira deixa sala de operação 33 vezes durante cirurgia. Isso aumenta a chance de infecção. • Instrumentos adicionados 14,6x ao campo operatório para cada caso • Rotina de contar compressa ocupa 14,5% do tempo cirúrgico ou 35 minutos Engenheiros de sistemas: • Competências e proficiência para realizar a análise do desempenho dos sistemas Comitê de segurança em sala de operações: • Controle do fluxo, equipamento, recursos Programas de treinamento em segurança cirúrgica: • Subfinanciamento critico da pesquisa nas disciplinas cirúrgicas • Aprendizado contínuo Bruna Altvater Saturnino XLII – 2021.1 - 4 QUESTÕES 1. É considerada uma atitude ética, quando um determinado médico que não sabe operar, indica uma cirurgia para um determinado paciente que atendeu, e traz outro profissional para realizar o procedimento, sem que haja ciência e/ou consentimento do paciente? Resposta: Não. 2. É considerada uma atitude ética, quando um médico que não sabe operar, indica cirurgia para um dado paciente, e diz que opera em equipe com outro profissional? Não obstante isso, ainda dá a entender que será o cirurgião e outro profissional seu auxiliar? Resposta: Não. 3. É considerada uma atitude ética, se fazer passar por auxiliar de quem não sabe operar? Resposta: Não. 4. É considerada uma atitude ética, um médico que não sabe operar, obrigar funcionários da clínica onde trabalha a informar pacientes que ele é um cirurgião? Resposta: Não. 6. É considerada uma atitude ética, quando um médico que não sabe operar acompanha um determinado paciente em seu pós operatório? Resposta: Sim (quando em conjunto com o cirurgião). Considero que não sabendo executar os procedimentos não sabendo executar os procedimentos não conseguirá reconhecer complicações e na existência delas não saberá resolvê-las. Isso é considerado risco à saúde do paciente? Não 7. É considerada uma atitude ética, operar um determinado paciente e deixar a cargo de outro o pós-operatório? Resposta: Sim. 8. É considerada uma atitude ética, ter como auxiliar de uma cirurgia um médico que não sabe operar? Resposta: Sim. Concluímos que a responsabilidade do ato operatório é do cirurgião titular, cabendo a este a escolha de seus auxiliares, baseando-se nas suas necessidades e expectativas da cirurgia proposta. Este tem o direito de decidir livre e soberanamente sobre a questão e, em contrapartida, assume toda a responsabilidade das consequências.
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