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Prezados (as) alunos (as), Este material é composto de quatro unidades. Necessitando de qualquer auxílio para os estudos, permaneço à disposição. Atenciosamente, Professora Indira Chelini RECURSOS UNIDADE 1 INTRODUÇÃO Sob a luz do art. 5º, incisos XXXV, LV e LIV da Constituição Federal, na situação em que o réu ou o autor de uma ação não estejam satisfeitos com o pronunciamento jurisdicional, no todo ou em parte, podem tentar provocar um reexame da decisão. A esse mecanismo processual dá-se o nome de RECURSO. Em direito processual, recurso pode ser definido como meio processual voluntário, que tem por finalidade provocar, dentro do mesmo processo, o reexame de uma decisão, antes de seu trânsito em julgado. Isto deve ser feito pela mesma autoridade judiciária, ou por outra hierarquicamente superior, visando reformar a decisão, modificá-la, invalidá- la, esclarecê-la ou integrá-la. Reforma ou modificação: na maior parte das vezes o recurso tem por finalidade a substituição de uma decisão por outra mais favorável ao recorrente. Invalidade: na situação em que a decisão contenha alguma espécie de vício processual interpõe-se um recurso solicitando a anulação desta decisão, substituindo-a por outra. Esclarecimento ou integração: o recurso neste caso é interposto para que seja esclarecida alguma obscuridade ou omissão contida na decisão. O doutrinador Barbosa Moreira define recurso como "o remédio voluntário e idôneo a ensejar, dentro do mesmo processo, a reforma, a invalidação, o esclarecimento ou a integração de decisão judicial que se impugna". remédio voluntário: não é obrigatório, o juízo precisa ser provocado. idôneo: o recurso deve estar previsto no ordenamento processual e ser adequado quanto ao aspecto formal e quanto à decisão a ser impugnada. dentro do mesmo processo: quando a parte recorre não propõe uma nova ação. A única exceção é o agravo de instrumento, em que a cópia dos autos sobe ao tribunal em procedimento apartado enquanto segue o procedimento principal. PRINCÍPIOS Do duplo grau de jurisdição1: é a possibilidade de submeter-se a lide a exames sucessivos, pelo mesmo ou outro órgão de jurisdição, não possui previsão expressa na Constituição, mas tem status constitucional, pois deriva do artigo 5º, LV (contraditório e ampla defesa). Da taxatividade: somente os meios de impugnação criados por lei federal e enumerados no Código de Processo Civil, (vide art. 994, CPC), e outras leis processuais é que são considerados recursos; Da unirrecorribilidade2: um só recurso para cada decisão recorrível, sendo vedada a interposição simultânea ou cumulativa de recursos. Da fungibilidade3: o tribunal poderá conhecer do recurso interposto erroneamente, desde que seja tempestivo, não haja erro grosseiro ou má-fé. Da reformatio in pejus4: não poderá o tribunal, sem que haja recurso da parte contrária, agravar a situação do recorrente. 1 Mais informações em: http://www.agu.gov.br/page/download/index/id/640100 Exemplos de julgados disponíveis em: https://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/busca?q=duplo+grau+de+jurisdi%C3%A7%C3%A3 o. 2 Decisão do STF a respeito do Princípio da Unirrecorribilidade, disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoPeca.asp?id=310654380&tipoApp=.pdf. 3 Mais informações em: https://www.conjur.com.br/2015-set-01/dierle-nunes-cpc-viabiliza- hipoteses-fungibilidade-recursal. 4 Exemplos de julgados disponíveis em: https://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/busca?q=reformatio+in+pejus+recurso+civil Requisitos de admissibilidade O recurso, em regra, é interposto perante o juízo ou tribunal que proferiu a decisão, ou seja, o juízo a quo, mas dirigido ao juízo ou tribunal hierarquicamente superior, o juízo ad quem. Exceção para os embargos de declaração, que é julgado pelo próprio juiz prolator da decisão e agravo de instrumento, que será interposto diretamente no juízo ad quem. Para que o recurso seja recebido é necessário que preencha os requisitos dos pressupostos de admissibilidade. Esses requisitos são necessários para que o juízo ad quem conheça o mérito do recurso e dividem- se em objetivos e subjetivos: Objetivos: relativos ao processo cabimento e adequação do recurso; tempestividade; regularidade procedimental, incluídos nesta o pagamento das custas e a motivação; inexistência de fato impeditivo ou extintivo. Subjetivos: relacionados aos sujeitos da relação processual legitimidade; interesse, que decorre da sucumbência. Observações Cabimento: o recurso deve ter sua previsão no sistema processual, art. 994 do CPC. Adequação: consiste na interposição do recurso correto para cada decisão que se pretenda impugnar. Tempestividade: o recurso deve ser interposto no prazo legal. Fora desse prazo será precluso e não será conhecido. O prazo para interposição dos recursos e para a resposta é de 15 dias, excetuando-se os embargos de declaração, cujo prazo é de 5 dias (art.1.003, parágrafo 5º do CPC). Regularidade Procedimental: o recurso deve seguir o procedimento e a forma legal. Exemplos: Petição escrita e regularmente protocolada, que o recurso seja adequado, que tenha motivação (dar os motivos), fundamentação jurídica e legal, recolhimento das custas (preparo)5. Se as custas não forem recolhidas o recurso não será conhecido e receberá o nome de deserto, art. 1.007, CPC. Exemplo de julgado: APELAÇÃO. DESERÇÃO. Apelantes intimado a recolher o preparo recursal em 05 dias, após o indeferimento do pedido de gratuidade de justiça, quedando-se inerte em relação ao pagamento. Inteligência do art. 1.007, § 2º do CPC/15. RECURSO DESERTO. (TJSP; Apelação Cível 1001382-44.2014.8.26.0576; Relator (a): Rosangela Telles; Órgão Julgador: 2ª Câmara de Direito Privado; Foro de São José do Rio Preto - 3ª Vara Cível; Data do Julgamento: 28/05/2012; Data de Registro: 22/03/2019). Inexistência de fatos impeditivos ou extintivos do conhecimento do recurso. São três os fatos: Falta de preparo; Haver desistência do recurso (o recurso já existe); Haver renúncia ao direito de recorrer (o recurso ainda não existe). Interesse recursal: somente a parte sucumbente tem interesse recursal (arts. 996 e 997, CPC). Se não for sucumbente, o recurso não será conhecido. Sucumbência: expectativa legítima que é frustrada no processo. Exemplo: pleitear prova pericial e o juiz indeferir. 5 Mais informações em: http://www.tjsp.jus.br/IndicesTaxasJudiciarias/DespesasProcessuais/TaxaJudiciaria Legitimidade para recorrer: As partes O Ministério Público como parte ou como fiscal da lei O terceiro prejudicado que é aquele que poderia ter participado do processo como interveniente e não o fez. Juízo de admissibilidade e juízo de mérito Para que o juízo ou tribunal ad quem julgue o mérito do recurso há a necessidade de estarem presentes todos os pressupostos de admissibilidade. Ao examinar se estão presentes estes requisitos, o recurso será conhecido ou não. A esse procedimento dá-se o nome de juízo de admissibilidade, que é feito, via de regra, pelo juízo ad quem. Ressalte-se que, antes de considerar inadmissível o recurso, o relator concederá o prazo de 5 dias ao recorrente para que seja sanado o vício ou complementada a documentação exigível. Uma vez conhecido o recurso, o juízo ou tribunal ad quem verificará se o recorrente tem ou não razão. Se tiver o Tribunal "daráprovimento" ao recurso, caso contrário "negará provimento" ao recurso. A esse procedimento dá-se o nome de juízo de mérito. Exemplo de julgado de recurso não conhecido: APELAÇÃO CÍVEL. OFERTA DE ALIMENTOS À CONJUGE. LITIGANTES CASADOS ENTRE SI. DEVER DE MÚTUA ASSISTENCIA PREVISTO NO ARTIGO 1.566 DO CÓDIGO CIVIL. AUSÊNCIA DE INTERESSE PROCESSUAL EVIDENCIADA. PETIÇÃO INICIAL INDEFERIDA. PROCESSO EXTINTO. Caso concreto em que não há necessidade e utilidade da via jurisdicional para a obtenção do bem jurídico pretendido, qual seja, fixação de alimentos para a cônjuge, tendo em vista que as partes estão casadas e a mútua assistência é um dos deveres decorrentes do casamento, conforme artigo 1.566 do CC. Ausente, portanto, o interesse processual. Sentença confirmada. APELO DESPROVIDO. (APELAÇÃO CÍVEL SÉTIMA CÂMARA CÍVEL Nº 70076260892 (Nº CNJ: 0390204-17.2017.8.21.7000) COMARCA DE PORTO ALEGRE). Requisitos Intrínsecos Requisitos Extrínsecos Cabimento ou recorribilidade Preparo $ Legitimidade para recorrer Tempestividade Interesse para recorrer Regularidade Inexistência de fato impeditivo ou extintivo do direito de recorrer QUESTÕES DE FIXAÇÃO 1. Conceitue recurso. 2. Diferencie juízo de admissibilidade de juízo de mérito. 3. Explique o princípio da taxatividade. 4. Quais são os pressupostos objetivos dos recursos? Explique dois deles. 5. Quais são os pressupostos subjetivos dos recursos? Explique dois deles. 6. EFEITO DOS RECURSOS6 A consequência, ou seja, o efeito mais importante que acontece com a interposição do recurso, é impedir que a sentença transite em julgado e ocorra preclusão. Esta, porém, não acontece quando envolve matéria de ordem pública, a exemplo da falta da citação, que poderá ser reexaminada a qualquer tempo, enquanto a decisão não transitar em julgado. 6 Mais informações em: http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=7366 e também em: http://www.ibdfam.org.br/noticias/6038/Entenda+mais+sobre+os+efeitos+devolutivo+e+suspens ivo+do+recurso+no+CPC+2015 Trânsito em julgado: quando não é mais possível recorrer de uma decisão jurisdicional, ou seja, quando a sentença se torna imutável e indiscutível e contra ela não cabe mais recurso. A coisa julgada é uma qualidade da sentença. A única exceção para que uma sentença seja reexaminada após o trânsito em julgado é através da ação rescisória. Preclusão: todo ato processual deve seguir uma sequência de procedimentos que são praticados nos momentos adequados, sob pena de preclusão. Preclusão é a perda do direito de praticar tais atos. Esta perda pode ocorrer pelo seu não exercício no prazo determinado em lei, ou pelo seu efetivo exercício ou pela prática de atos incompatíveis com o procedimento processual. A preclusão pode ser: Temporal: é a perda do prazo recursal, gerando a intempestividade do recurso. Consumativa: quando o exercício do ato processual já foi realizado, não podendo dessa forma repeti- lo, por exemplo, o réu tem quinze dias para contestar, se fizer no segundo dia, não poderá fazer nova contestação no dia seguinte. Lógica: é a prática de um ato incompatível com o direito processual, por exemplo, a desistência e a renúncia do recurso. Como decorrência desse efeito surge outro de caráter puramente processual que é a liberação de competência do tribunal ad quem, uma vez que este somente poderá reexaminar as decisões prolatadas pelo órgão inferior quando provocado. O Código de Processo Civil menciona apenas os efeitos devolutivo e suspensivo. Em regra, todo recurso tem efeito devolutivo, enquanto o efeito suspensivo somente será verificado se estiver expresso em lei. O efeito devolutivo consiste na apreciação do recurso pelo órgão hierarquicamente superior àquele que prolatou a sentença recorrida. Não é a devolução dos autos, ao órgão a quo, para que este reexamine a sua própria decisão e, sim, para o órgão ad quem. Vale ressaltar que, alguns recursos não são devolvidos ao juízo ad quem, uma vez que a matéria impugnada pode ser reexaminada pelo próprio órgão a quo que poderá reformar a sentença, como ocorre com os embargos de declaração. O efeito suspensivo trata daqueles recursos que impedem a imediata produção de efeitos da decisão recorrida, ficando o comando nela contido suspenso até seu julgamento. Exemplo: art. 1.012, CPC. Para os recursos recebidos apenas com efeito devolutivo a decisão poderá ser executada provisoriamente, pois é uma decisão passível de ser modificada. Para aqueles recebidos com efeito devolutivo e suspensivo, a execução da sentença deverá aguardar até que a nova decisão seja prolatada pelo juízo ou tribunal ad quem. Se a lei for omissa em relação ao efeito em que o recurso será recebido, este será recebido no efeito suspensivo. É bom observar que mesmo o recurso não sendo recebido com efeito suspensivo, a regra é a suspensividade, pois ele não permite que a decisão transite em julgado. Uma vez interposto o recurso e seguidos todos os procedimentos exigidos, sua extinção ocorrerá naturalmente pelo seu julgamento pelo tribunal ad quem. Contudo, poderá o recurso ser extinto antes que seja examinado pelo tribunal. Esse fato ocorre com a desistência ou a renúncia do recurso pelo recorrente. Na desistência o recurso já foi interposto. Pode ser expressa, retratando-se por escrito ao juiz, ou tácita, decorrente de algum ato processual incompatível com o prosseguimento do recurso: por exemplo, a transação sobre o objeto causador do litígio. É a chamada preclusão lógica. A renúncia ocorre antes da interposição do recurso. Pode ser expressa por escrito, ou tácita, que consiste na aceitação do ato judicial, com a prática de algum ato que deixe claro a vontade de não recorrer da decisão. A desistência ou a renúncia do recurso, ao contrário do que acontece na desistência da ação antes da sentença, independe da concordância do litisconsorte ou da parte contrária. No caso da desistência da ação antes da sentença, a parte contrária tem direito a uma sentença de mérito e, neste caso, há a necessidade de sua concordância. Tanto no caso da renúncia como no da desistência, depois de prolatada a sentença favorável à parte contrária, esta será transitada em julgado. QUESTÕES DE FIXAÇÃO 1. O que é trânsito em julgado? 2. Discorra sobre o fenômeno processual denominado preclusão, explicando suas espécies. 3. Em que consiste o efeito devolutivo dos recursos? 4. Em que consiste o efeito suspensivo dos recursos? 5. Quanto aos recursos, diferencie desistência de renúncia.
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