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Maria Paula M. Mattei | Tutorial 2 UC 14 - Gastro 1 Estenose Hipertrófica de Piloro Epidemiologia As atresias gástricas constituem menos de 1% de todas as atresias intestinais e são pouco mais frequentes no antro do que no piloro. Frequência maior em meninos e em filhos de mães que tiveram a mesma condição. Mais frequente em meninos Ocorrência familiar está presente em 15% dos casos: ela ocorre em irmãos de uma criança afetada (frequência 20 vezes maior) e gemelares possuem 50% de chance de serem coincidentes para estenose hipertrófica de pilara. Não existe correlação com prematuridade. Etiologia e Fisiopatologia A etiologia é desconhecida, mas a predisposição genética autossômica recessiva é provável. A estenose hipertrófica de piloro resulta de hipertrofia da musculatura pilórica e da porção distal do antro gástrico. Provoca dificuldade no esvaziamento gástrico por estreitamento progressivo do canal pilórico. Quadro Clínico Forma clássica: RN a termo que na 2ª a 4ª semana inicia vômitos não biliosos em jato, com conteúdo alimentar (leite) em grumos. É excepcional a ocorrência de estenose na 1ª semana ou após o 5º mês de vida. Inicialmente há somente 1 ou 2 vômitos por dia, mas tornam- se mais volumosos e em jato com o tempo. O vômito inicia imediatamente após a mamada. Apetite preservado no início dos sintomas, mas com o passar do tempo, torna-se desidratado, em alcalose metabólica hipoclorêmica e posteriormente desnutrido com perda de peso. As fontanelas apresentam-se deprimidas, a boca seca e a pele inelástica. Icterícia ocorre em cerca de 10% dos casos devido à hiperbilirrubinemia indireta. É comum serem visualizadas ondas peristálticas gástricas que vão do rebordo costal esquerdo para a localização do pilara. Oliva pilórica (visualização e/ou palpação) → patognomônica de hipertrofia de piloro. Tumor de consistência firme, móvel, do tamanho de uma oliva, na metade da distância entre o umbigo e o xifoide, no bordo direito do músculo reto abdominal. *é necessário esvaziar o estômago através de sondagem oronasogástrica para relaxar a parede abdominal e facilitar a palpação. Dispensa investigação diagnóstica complementar, caracteriza diagnóstico definitivo e suficiente para indicação cirúrgica. Diagnóstico Palpação de oliva pilórica Polidrâmnio e radiografia simples de abdome mostrando bolha gasosa única, com o resto do abdome sem gás, são diagnósticos. Rx contrastado é necessário para diferenciar com membrana antral pré-pilórica congênita, estenose congênita de esôfago, DRGE e associação de estenose hipertrófica de piloro com hérnia de hiato esofagiano. Na estenose de piloro encontra-se o "sinal do cordão" no canal pilórico, "sinal do bico do seio" no antro gástrico, e o "sinal do cogumelo ou do guarda-chuva", que aparece devido à súbita dilatação do bulbo duodenal. Maria Paula M. Mattei | Tutorial 2 UC 14 - Gastro 2 Tratamento Indiscutivelmente cirúrgico, mas não é emergência. Só deve ser realizado após a estabilização hidroeletrolítica e correção da alcalose metabólica hipoclorêmica e hipopotassemia. Reposição de fluidos e eletrólitos + sondagem gástrica para esvaziamento do estômago. A severidade da desnutrição pode ser avaliada pela perda de peso e pelo conteúdo de bicarbonato na gasometria. Para a maioria, 24 h serão suficientes para a correção dos déficits de água e eletrólitos. Como regra geral, para cada meio quilo de perda de peso é necessário 1 dia de terapia pré- operatória, a qual ocasionalmente pode necessitar até 3 a S dias. A operação de escolha é a piloromiotomia extramucosa, com sucesso de aproximadamente 100% Atresia de Duodeno Epidemiologia Mais de 40% das atresias intestinais e 75% das estenoses intestinais ocorrem no duodeno 60% dos RN afetados são prematuros 20% dos que possuem atresia duodenal possuem outras malformações intestinais em associação. Atresia duodenal + atresia esofágica + atresia anorretal = síndrome da linha média 1:4 possuem trissomia do cromossomo 21 (síndrome de Down) Fisiopatologia Atresia duodenal, estenose duodenal e membrana mucosa são devidas a persistência de proliferações epiteliais que ocorrem entre a 4ª e 5ª semana de gestação, ou recanalização incompleta do trato gastrointestinal entre a 8ª e 10ª semana de gestação, e que mais frequentemente ocorrem na região da papila de Vater (pós-papilar). Quadro Clínico Abdome fica distendido na região epigástrica e o restante do abdome está deprimido. Vômitos biliosos (verde-escuros) nas primeiras horas de vida → estenose de piloro é branco Mas em 30 a 40% dos casos, os vômitos podem ser inicialmente claros e mais tarde se tornarem progressivamente biliosos. Icterícia neonatal prolongada Eliminam mecônio normalmente ou com pequeno atraso. Diagnóstico Em 50% dos casos existe polidrâmnio, porque a atresia impede a absorção fisiológica do fluido amniótico deglutido pelo feto Na radiografia simples de abdome, o sinal da dupla bolha - distensão do estômago e do duodeno - e a ausência de ar no restante do abdome são patognomônicos de atresia duodenal O pâncreas é frequentemente malformado, interposto ou em forma de cunha e ocasionalmente os ductos biliar e pancreático podem bifurcar para abrir acima e abaixo da atresia. A estenose duodenal tem quadro muito menos aparente, com icterícia neonatal prolongado (diagnóstico demora mais que a atresia duodenal). A radiografia do abdome e mesmo o estudo contrastado do esôfago, estômago e duodeno são usualmente inconclusivos e a endoscopia digestiva alta é necessária para confirmar o diagnóstico. Sinal da dupla bolha – bolha 1 é o estômago (S) cheio de ar e a bolha 2 é o duodeno ocluído (D). Tratamento Maria Paula M. Mattei | Tutorial 2 UC 14 - Gastro 3 Atresia duodenal em RN sem outras anomalias associadas = cirurgia [duodenostemia] imediata (não é emergência cx, exceto em má rotação e volvo intestinal). Antes passar sonda oro ou nasogástrica para descomprimir o estômago. Gastrite Gastrite é uma condição histopatológica inflamatória sem quadro clínico específico e, em muitas pessoas, é assintomática. Gastropatia é um termo usado para afecções gástricas de evolução aguda ou crônica sem componente inflamatório, ocasionado por fenômenos degenerativos e regenerativos do epitélio, secundárias a agressões químicas (AINEs, álcool, bile e estresse). Progressão da gastrite. N = necrose; I = inflamação; G = tecido de granulação; C = cicatrizes fibrosas (ocorrem apenas em lesões crônicas) Gastrite Aguda: Predominância de neutrófilos e autolimitada. Raramente observadas em biópsias gástricas de rotina. Além de edema e degeneração do epitélio, encontram-se intenso infiltrado inflamatório predominantemente de neutrófilos na lâmina própria, muitas vezes com infiltração no epitélio glandular e foveolar, formando os chamados microabscessos de cripta. Acomete todo o estômago, inicialmente, e posteriormente é predominante no antro e duodeno. Gastrite Crônica: Forma mais comum de inflamação gástrica Em atividade = quando recruta neutrófilos para causar maior dano ao tecido Reação inflamatória na mucosa com infiltrado de leucócitos mono e polimorfonucleares. São classificadas segundo a topografia, características morfológicas e a etiologia. As principais são as provocadas por H. pylori e a autoimune. Gastrite por Helicobacter pylori Epidemiologia Causa mais comum de gastrite crônica (GC). Presente em quase todos os pacientes com úlceras duodenais e gástricas ou gastrite crônica. Está associada à pobreza, à superpopulação doméstica, à educação limitada e à residência em áreas rurais. Prevalência diminui nos países desenvolvidos por causa de melhoras nas condições socioeconômicas. No Brasil, o H. pylori é responsável por cerca de 80% dos casos de GC. A grande maioria das pessoas infectadas por H. pylori não têm qualquer sintoma e nunca irão desenvolver qualquer problema de saúde. Mas sua presença pode estar associada com o surgimento de alguns problemas gastrintestinais como úlceras e, menos comumente, câncer. Antro é a primeira região acometida, mas pode evoluir para o corpo ou, até mesmo, todo o órgão (pangastrite). A maioria dos pacientes não vão desenvolver câncer! E nem toda as cepas causam câncer. Etiologia e Fisiopatologia São bacilos flagelados (dessa forma que se espalha pelo estômago) em forma de espiral ou curva Transmitida por via oral (via fecal-oral, consumo de água e alimentos contaminados), tipicamente adquirida na infância e persiste por toda a vida, caso não haja tratamento. Produz urease que é convertido em amônia, que aumenta o pH e permite que ele se instale no muco. Produz protease e fosfolipase, lesando a membrana basal das células da mucosa. Produz citotoxinas dependendo da cepa Processo agudo: A bactéria penetra na camada de muco e multiplica-se em contato com as células epiteliais do estômago. O epitélio diminui a produção de mucina, faz uma esfoliação celular e inicia alterações regenerativas. A palavra gastrite possui diferentes significados para o leigo, o clínico, o endoscopista e para o patologista: Leigo → sinônimo de sintomas mal caracterizados de queimação ou dor epigástrica (devem ser chamados de dispepsia funcional ou não ulcerosa) Endoscopista → anormalidades macroscópicas, como hiperemia de mucosa, que pode ser secundária a outras doenças; Patologista → inflamação aguda ou crônica da mucosa gástrica. Maria Paula M. Mattei | Tutorial 2 UC 14 - Gastro 4 As bactérias liberam agentes quimiotáticos que penetram no epitélio lesado e induzem a migração de polimorfonucleares para a lâmina própria / epitélio e ativam os mastócitos, os quais liberam outros ativadores inflamatórios. Processo crônico: Após 3 a 4 semanas, ocorre um gradual aumentos de células inflamatórias crônicas. Gastrite neutrofílica aguda dá lugar à gastrite ativa crônica. As lesões caracterizam-se por graus variáveis de inflamação, aumento da proliferação celular, alterações degenerativas, edema, hiperemia e erosões. Após décadas de infecção, a mucosa gástrica apresenta hipotrofia e surgem focos de metaplasia intestinal. Sequência de acontecimentos: Infecção → gastrite crônica → atrofia glandular → metaplasia intestinal (reposição progressiva do epitélio gástrico pelo epitélio tipo intestinal) → adenocarcinoma tipo intestinal Quadro Clínico Na maioria dos casos, não produz sintomas suficientes para que haja um alerta para cuidados médicos. A gastrite crônica que leva o paciente ao médico. Os sintomas, na maioria dos casos, só ocorrem quando há a presença de úlceras, sejam elas gástricas ou duodenais ou quando há o desenvolvimento de câncer de estômago. Alguns indivíduos, depois de 3 a 7 dias da infecção, desenvolvem um quadro clínico caracterizado por dor ou mal- estar epigástrico, pirose, náuseas, vômitos, flatulência, sialorreia, halitose, cefaleia e astenia. Permanecem por 1 a 2 semanas e é autolimitado. Crônica: dor abdominal em associação à dispepsia funcional. Podem apresentar complicações da úlcera péptica ou complicações gastroduodenais de infecção crônica, incluindo atrofia gástrica, metaplasia intestinal, câncer gástrico e linfoma do tecido linfóide associado à mucosa (MALT). O local da infecção é importante porque é um indicador do padrão de evolução da gastrite: 1ª fase: Gastrite Crônica Antral: paciente com hipercloridria e risco aumentado para úlcera péptica. Comumente assintomática. Aumento de gastrina por inibição da secreção de somatostatina (H. pylori inibe as células D secretora de somatostatina o que estimula as células G secretoras de gastrina) – corpo e fundo com suas células parietais podem secretar HCl. Gastrite do corpo: secreção ácida reduzida por destruição da mucosa. Histologicamente, possuem uma mistura de gastrite crônica superficial e alterações que podem progredir ao longo do tempo para metaplasia intestinal. Associada a atrofia acentuada, eleva em 3 a 4x o risco de carcinoma gástrico do tipo intestinal. Última fase da evolução: Pangastrite: afeta graus semelhantes tanto o corpo quanto antro. Costuma evoluir com atrofia glandular e metaplasia do estômago e são os casos em que a displasia e câncer gástrico se desenvolve com mais frequência. Causa hipocloridria pela destruição progressiva da mucosa oxíntica. Diagnóstico Não há necessidade de testar todas as pessoas para averiguar a presença de H. pylori. Comumente só necessitam de teste aquelas com presença de úlcera (gástrica ou duodenal) em atividade. Feito com endoscopia + biópsia → comprova gastrite e H. pyloriI pela presença de erosões de mucosa, edemaciada, avermelhada Teste rápido da urease → geralmente realizado pelo endoscopista, e consiste em uma solução de ureia com um marcador de pH. Na presença de um fragmento de mucosa com H. pylori, o marcador de pH modifica a cor da solução, devido a sua alcalinização pela urease bacteriana. Teste de antígeno fecal Tratamento / Esquema de Erradicação Esquema tríplice que combina dois antibacterianos e um inibidor da bomba de prótons, embora haja variações bacteriológicas e geográficas. Obrigatório na presença de úlcera e linfoma MALT → tratamento feito apenas em sintomáticos. Primeira linha: amoxicilina 1g + claritromicina 500 mg + omeprazol 20 mg (ou outro IBP – por exemplo: pantoprazol 40 mg, lansoprazol 30 mg, esomeprazol 20 mg, dexlansoprazol 60 mg), todos os medicamentos a cada 12 horas, por 14 dias. Segunda linha (retratamento): substituição da claritromicina por levofloxacino. Este esquema pode ser feito por 10 a 14 dias. Outros esquemas de tratamento (que também podem ser usados como primeira em alérgicos à penicilina) podem ser feitos substituindo-se a amoxicilina por furazolidona ou metronidazol. Em pacientes com úlcera péptica, recomenda-se a extensão do uso de IBP por 4 a 8 semanas após o término do esquema de erradicação. A erradicação do H. pylori promove a remissão da gastrite ativa e reduz, dramaticamente, a incidência e/ ou recorrência da doença ulcerosa. Gastrite Autoimune | Tipo A Epidemiologia Mais frequente em mulheres acima de 60 anos. Prevalência e incidência diferem muito entre países provavelmente pelos métodos diagnósticos mal definidos ou imprecisos No Brasil, representam aproximadamente 7 a 8% dos casos de GC. Maria Paula M. Mattei | Tutorial 2 UC 14 - Gastro 5 Instala-se mais no corpo e fundo do estômago. Etiologia e Fisiopatologia Caracteriza-se por uma atrofia das glândulas gástricas no corpo e no fundo do estômago, ocorrendo uma substituição, parcial ou completa, das células parietais normais por mucosa tipo intestinal (metaplasia intestinal). Células parietais são responsáveis pela secreção de ácido gástrico e fator intrínseco Atrofia das glândulas gástricas levam à hipocloridria e, em casos avançados, acloridria. Atrofia → metaplasia → displasia → adecarcinoma Autoanticorpos direcionados ao fator intrínseco e células parietais Em conjunto, ocorre diminuição na secreção de fator intrínseco, podendo ocasionar redução da absorção de vitamina B12 e o aparecimento de anemia perniciosa em 30% dos pacientes. Os níveis séricos de pepsinogênio I, produzidos na mucosa oxíntica, diminuem também, assim como a secreção gástrica de pepsinogênio. A preservação funcional da mucosa antral resulta em estimulação constante das células G com hipergastrinemia. Apesar de a infecção por H. pylori poder causar atrofia gástrica e hipocloridria, ela não está associada à acloridria ou anemia perniciosa. Células T CDA tornam-se direcionadas contra as células parietais. Se a destruição autoimune for controlada pela imunossupressão, as glândulas podem repovoar-se. Pode ocorrer metaplasia intestinal, logo esses pacientes também podem desenvolver adenocarcinoa gástrico. Há evidências de que H. pylori pode servir como desencadeador. Quadro Clínico Os pacientes apresentam longo período pré-clínico, assintomático, em que podem ser detectados somente marcadores imunitários (autoanticorpos), sendo incomum o seu diagnóstico precoce. Podem apresentar dispepsia com sofrimento pós-prandial Em estágio avançado, a doença associa-se a anemia perniciosa → processo muito lento da atrofia gástrica faz com que a anemia aparece após os 60 anos. Neuropatias podem estar presentes pela deficiência de vitamina B12 A gastrite em si é assintomática gastrointestinalmente, mas seus sintomas aparecem pela anemia. Diagnóstico Mesmo com um certo grau de atrofia da mucosa, ao exame endoscópico não se identifica lesão, por isso deve-se fazer biópsia. A mucosa do corpo e do fundo encontra-se atrófica: as pregas desaparecem ou são menos proeminentes, principalmente se insuflado ar. A mucosa tem aspecto liso, brilhante e delgada com os vasos da submucosa facilmente visualizados. Ao microscópio, há infiltrado inflamatório de mononucleares na mucosa oxíntica, às vezes formando folículos linfoides. Anticorpos anticélula parietal e antifator intrínseco, embora presentes em até 90% dos portadores de anemia perniciosa, com frequência estão ausentes em portadores de gastrite atrófica apenas, sem alterações hematológicas. Gastrina sérica elevada em jejum Diminuição da proporção sérica de pepsinogênio I / II ( I) Anemia por deficiência de ferro Tratamento Se assintomática, não requer tratamento. Se houver anemia perniciosa, repor vitamina B12 por via parenteral (200 mg/mês) durante a vida toda. Se houver deficiência de ferro, investigar neoplasias de estômago. Acompanhamento endoscópico não é preciso se na 1ª endoscopia a mucosa veio sem alterações como displasia, sobretudo se o paciente possui história familiar negativa. Se houver displasia, faz-se endoscopia anual. Gastrite por Uso de AINEs Epidemiologia Risco maior com inibidores não-seletivos de COX (aspirina, ibuprofeno e naproxeno) Etiologia e Fisiopatologia AINEs inibem a síntese de prostaglandinas E2 por inibirem as COX, as quais estimulam quase todos os mecanismos de defesa do estômago. A COX-1 tem um papel mais importante que a COX-2, mas ambas contribuem para a proteção da mucosa. A ação tópica dos AINEs causa hemorragia aguda e erosão 15 a 30 minutos após a ingestão, primeiramente no antro. A presença sistêmica dos AINEs compromete a integridade da mucosa e pode ocasionar ulceração grave da mucosa. Quadro Clínico Lesões precoces geralmente são assintomáticas e não possuem significância clínica. Azia, perda de apetite, dor epigástrica e melena Gastrite aguda erosiva Maria Paula M. Mattei | Tutorial 2 UC 14 - Gastro 6 Diagnóstico Endoscopia e biópsia Tratamento Suspender ou trocar o AINE Relação entre Estresse Emocional e Gastrite Não causa gastrite, mas sim dispepsia funcional. A dispepsia provocar sintomas semelhantes aos da gastrite, sem que haja o menor sinal de alteração patológica na mucosa estomacal. É desencadeada por algum estresse emocional afetando a movimentação da região do estômago Doença Ulcerosa Péptica (DUP) Gástrica e Duodenal Úlcera péptica = solução de continuidade que ultrapassa os limites da muscular da mucosa, localizada nos segmentos do tubo digestivo, em cuja luz estão presentes o ácido clorídrico e a pepsina. Na grande maioria das vezes a lesão é única e, mais raramente, dupla ou múltipla. DUP = ocorre quando os mecanismos protetores da mucosa gastrointestinal, como a secreção de bicarbonato e muco, são sobrepujados pelos efeitos agressores do ácido gástrico e da pepsina. Erosão = defeito parcial da mucosa, não chega na muscular da mucosa. Epidemiologia H. pylori, uso indiscriminado de AINEs e ácido acetilsalicílico são os principais causadores de UG. 70% UG e 100% das UD são relacionadas ao H. pylori Pessoas com DUP têm risco de desenvolver hemorragia gastroduodenal, perfuração e obstrução. Já foi relacionada a grande morbidade e mortalidade, mas com o desenvolvimento de inibidores da secreção ácida e a identificação do H. pylori, não tem mais grande incidência e morbidade. Mais frequentes em homens. A úlcera gástrica (UG) tende a incidir em indivíduos com mais de 40 anos, enquanto a úlcera duodenal (UD) ocorre com maior frequência entre os 20 e 40 anos. Local mais frequente de úlcera péptica é a primeira parte do duodeno, depois estômago (antro), depois junção gastroesofagiana Etiologia e Fisiopatologia Ocorre quando os fatores agressores (HCl, pepsina e H. pylori) conseguem vencer os fatores defensivos da mucosa (barreira muco-bicarbonato, camada lipoproteica da membrana celular, fluxo sanguíneo {fornece O2 e glicose para as células e elimina substâncias nocivas} e capacidade de regeneração do epitélio) Há evidências de que fatores hereditários forneçam os elementos predisponentes para a úlcera. Os tabagistas cicatrizam menos ou mais lentamente suas úlceras, têm maior tendência de recidivas e complicações. Têm poucas prostaglandinas no tecido e a produção de bicarbonato no duodeno é menor. Alguns alimentos são mais agressivos como os refrigerantes, café, álcool, condimentos e leite. Os anti-inflamatórios estão relacionados à alta incidência de úlceras pépticas, pois diminuem as PG (prostaglandinas), muco e bicarbonato. O H. pylori produz toxinas na mucosa, produz mucinase que interfere na síntese, estrutura e produção de muco gástrico, acarretando perda da integridade da barreira muco- bicarbonato, alterando sua viscosidade. Quadro Clínico O sintoma classicamente referido pelos pacientes ulcerosos é a dor epigástrica, em geral mencionada como sensação de vazio (dor tipo fome) ou queimação. Dor pré-prandial aliviada pela refeição → dor rítmica em 3 tempo (dói-come-passa), mas em alguns pacientes a dor pode piorar ao comer. Nas fases iniciais da úlcera péptica, a dor localiza-se apenas na área epigástrica; quando a doença progride (uma lesão mais profunda, levando progressivamente a periviscerite), a dor tende a se projetar para o dorso, com caráter transfixante. Além da dor: sialorreia, despertar noturno com dor (clocking), sensação de peso epigástrico pós-prandial, náuseas e vômitos e alteração da cor das fezes. Clocking é um sintoma muito importante na úlcera péptica. Úlceras crônicas podem ser assintomáticas. Hemorragia é a complicação mais comum – hematêmese, melena (sangue nas fezes que são escuras como piche, amolecidas com odor fétido) ou hematoquezia (sangramento retal). Pode evoluir para choque hipovolêmico Perfuração é a complicação mais séria – são perfuradas quando se estendem através das paredes muscular e serosa, causando uma comunicação do lúmen da víscera com a cavidade abdominal. Úlceras de parede anterior e curvaturas perfuram em peritônio, causando quadro de peritonite com manifestações do abdome agudo. Úlceras de parede posterior penetram, em geral, no pâncreas (úlcera terebrante), originando quadro de pancreatite. Nesses casos, a dor irradia-se para o dorso com caráter transfixante ou para os flancos. Maria Paula M. Mattei | Tutorial 2 UC 14 - Gastro 7 Dx clínico: dor característica, aguda, inicialmente em epigástrio e de forte intensidade. Raio-x com pneumoperitônio. Obstrução é a complicação mais rara – mais comum é a parcial duodenal e a mais rara é a pilórica, mas a mais evidente. Diagnóstico Endoscopia + biópsia e pesquisar H. pylori Há quebrade mucosa de diâmetro maior ou igual a 5 mm, recoberta por fibrina. Na anamnese procurar uso de AAS/AINEs, história familiar de úlcera, clocking. Sinais de alarme (anemia, sangramento, vômitos, perda ponderal, refratariedade) + sintomas dispépticos + >50 anos = endoscopia obrigatória. Quando a lesão tem fundo branco e limpo, margens bem delimitadas e as pregas convergem uniformemente para a borda, sugere-se que seja benigna. A presença de fundo sujo e com restos necróticos, dificuldade para se delimitar a borda da ulceração e a interrupção das pregas à distância da úlcera, sendo suas extremidades grosseiras e irregulares, sugerem o caráter neoplásico da lesão. Tratamento Tem por objetivo abolir os sintomas, cicatrizar a lesão e evitar a sua recidiva. É possível na grande maioria das vezes curar o paciente. Curado = lesão está cicatrizada e não recidiva por no mínimo 5 anos. Medicamentos: Bloqueadores H2 – cimetidina (800 mg/dia), ranitidina (300 mg/dia), famotidina (40 mg/dia) e nizatidina Inibidores da bomba de prótons – omeprazol (20 mg), lanzoprazol (30 mg), pantoprazol (40 mg), rabeprazol (20 mg) e esomeprazol (40 mg) todos 30 min antes do café da manhã. Drogas que aumentam a resistência da mucosa – bismuto coloidal, sucralfato, prostaglandinas e antiácidos Não abusar de café, refrigerante e leite. Não fumar. Evitar ao máximo anti-inflamatórios Erradicar H. pylori → úlcera regride Se perfurada → cx Se hemorrágica → cx ou endoscopia com hemostasia Adenocarcinoma Gástrico Epidemiologia Malignidade mais comum do estômago, compreendendo mais de 90% de todos os cânceres gástricos. É um dos tumores malignos mais comuns no Brasil Metástases são frequentemente detectadas no momento do diagnóstico → linfonodo sentinela supraclavicular (nódulo de Virchow), acúmulo de células tumorais periumbilicais (nódulo da Irmã Maria José), linfonodo axilar esquerdo (nódulo de Irish), o ovário (tumor de Krukenberg) ou o saco de Douglas (massa de Blumer). Nódulo da Irmã Maria José Tumor de Krukenberg Prateleira de Blumer Nódulo de Virchow É mais comum em grupos socioeconômicos baixos e em indivíduos com atrofia mucosa multifocal e metaplasia intestinal. Displasia e adenoma gástricos são lesões precursoras reconhecíveis associadas ao adenocarcinoma gástrico. A DUP não apresenta alto risco de câncer gástrico A causa da redução geral do câncer gástrico é mais proximamente relacionada às quedas de prevalência de H. pylori e consumo decrescente de carcinógenos na dieta, tais como compostos nitrosos graças ao uso reduzido de sal e fumaça para a preservação de alimentos Maria Paula M. Mattei | Tutorial 2 UC 14 - Gastro 8 Em geral, o AG não tem bom prognóstico, porque na maioria das vezes é diagnosticado em fase avançada. Etiologia e Fisiopatologia Se originam das células mucosas Classificação histológica de Lauren em 2 formas de AG: Tipo Intestinal Tipo Difuso Idade Média de 55 anos, com pico aos 60-69 Média de 48 anos, com pico aos 50-59 Gênero Homens Homens = Mulheres Mucosa gástrica Origina-se das células que sofreram metaplasia intestinal. Associado à gastrite crônica atrófica em 90% dos casos e displasia intestinal. Origina-se diretamente das células mucosas sem metaplasia. Não tem relação com gastrite crônica atrófica, nem com metaplasia intestinal. Origina-se em epitélio gástrico normal. Epidemiologia Mais comum em populações de alto risco. Queda na incidência nos países desenvolvidos Mais comum em populações de baixo risco (50% dos casos). Estrutura geral Glândulas mais ou menos diferenciadas com essa secreção de muco. Massas sólidas Células isoladas (em sinete) produtoras e acumuladoras de muco intracelular. Estrutura celular Pleomorfismo, polarização e coesão celular. Bem diferenciado Padrão uniforme, despolarização e pouca coesão celular. Pouco diferenciado. Secreção abundante de muco intracelular Crescimento e prognóstico Expansivo (Borrmann I e II) Mais favorável Infiltrativo (Borrmann III e IV) Menos favorável Os AG avançados (que invadem além da submucosa) são classificados em 4 tipos segundo Borrmann: I. Circunscrito, isolado, polipoide e não ulcerado – menos maligno II. Ulcerado, com bordas ulceradas bem definidas III. Parcialmente ulcerado, com margens elevadas e disseminação parcialmente difusa IV. Difuso – mais maligno Doença multifatorial que resulta da interação de fatores ambientais (mais importantes) e do indivíduo. H. pylori Aumenta o risco para ambos os tipos de AG Cepas mais virulentas (que expressam a proteína CagA) são mais comumente associadas por essa proteína interfere no ciclo celular. Na gastrite associada a infecção, há aumento do índice de apoptose, o que pode contribuir para atrofia da mucosa e redução da secreção cloridropéptica. Como a infecção pelo H. pylori associa-se aos dois tipos de AG, o aparecimento de uma forma ou outra da neoplasia depende da evolução da gastrite (com ou sem atrofia e metaplasia intestinal) quando outros fatores, individuais e do ambiente, atuam na mucosa. Acredita-se que a bactéria se associa ao AG por meio de: Maria Paula M. Mattei | Tutorial 2 UC 14 - Gastro 9 ▪ Capacidade de promover proliferação celular → quanto mais alta a taxa de multiplicação celular, maior a probabilidade de ocorrerem erros de replicação do DNA. O H. pylori induz proliferação celular na mucosa gástrica, seja diretamente, por ação de CagA ou produção de amônia, seja indiretamente, pelo dano celular. ▪ Atividade inflamatória ▪ Indução de gastrite crônica atrófica Lesões pré-cancerosas (risco de transformação maligna é maior): ▪ Gastrite crônica atrófica multifocal (H. pylori, gastrite autoimune – controverso) ▪ Úlcera péptica gástrica ▪ Adenomas ▪ Gastrectomia parcial Hipótese etiopatogenética do AG associado à gastrite atrófica Hipótese etiopatogenética do AG em mucosa gástrica sem gastrite atrófica Quadro Clínico Geralmente assintomático ou com manifestações inespecíficas. Por isso é diagnosticado quase sempre em fase avançada → perda de peso, anorexia, intolerância a carne, dor epigástrica, desconforto gástrico, anemia ferropriva, hemorragia digestiva e vômitos. Exame físico é normal nos estágios iniciais e mesmo na forma avançada, os achados podem ser negativos ou não significativos. Massa abdominal palpável, anemia e emagrecimento desenvolvem-se tardiamente no curso da doença. Nas duas formas, o AG se infiltra na parede gástrica e aumenta a probabilidade de metástases. No AG precoce intramucoso, a sobrevida de 5 anos é de 99%; para os tumores que atingem a submucosa, cai para 95%. A sobrevida de 5 anos para o câncer avançado com infiltração da camada muscular é de 50 a 70%, enquanto para os que alcançam a serosa é de 8 a 20%. Invade as estruturas vizinhas por continuidade, estendendo- se ao peritônio, duodeno, esôfago, omentos, pâncreas e cólon transverso. Por via linfática, o tumor chega aos linfonodos regionais e distantes; através do ducto torácico, atinge os linfonodos supraclaviculares esquerdos (sinal de Troisier). Disseminação hematogênica é comum e ocorre principalmente no fígado, nos pulmões e nos ossos (medula óssea). Por via peritoneal, pode dar metástases ovarianas, denominadas tumor de Krukemberg. Metabólitos reativos do nitrogênio podem ter ação carcinogênica por meio de inflamação crônica. Tais metabólitos derivam da síntese do óxido nítrico (NO) pela enzima iNOS (sintase indutível do óxido nítrico) em vários tipos de células, inclusive neutrófilos e macrófagos. Como a infecção pelo H. pylori resulta em gastrite ativa (com infiltrado de neutrófilos), pode haver expressão aumentada de iNOS e produçãopersistente de NO. Na presença de radicais livres de O2, também associados a inflamação, o NO forma compostos nitrosos potencialmente genotóxicos. Maria Paula M. Mattei | Tutorial 2 UC 14 - Gastro 10 Diagnóstico e Estadiamento Endoscopia + biópsia Pelo menos 6-8 biópsias devem ser obtidas das lesões suspeitas nas áreas centrais e periféricas. Anemia ferropriva por causa do sangramento oculto. Sangue oculto nas fezes. O sistema TNM para estadiamento é o utilizado (T = extensão pela parede do estômago; N = envolvimento de linfonodos; M = metástase à distância.) Com base em sua extensão, ele é classificado em 4 estágios: Para estadiar usar: - Radiografia de tórax - Tomografia de tórax e abdome - USG de abdome - Laparoscopia na doença avançada Tratamento Ressecção cirúrgica é o único tratamento com potencial de cura → gastrectomia (ressecção do estômago), linfadenectomia (dissecção e ressecção dos linfonodos regionais), omentobursectomia (ressecção do pequeno e grande omento). Quimioterapia neoadjuvante Linfoma MALT Linfoma que se origina no tecido linfoide B associado a mucosas. No estômago, representa 2 a 5% dos tumores malignos; no trato digestivo, é o linfoma mais comum (70%). No estômago, a lesão manifesta-se predominantemente em indivíduos acima de 50 anos de idade, com pico na sétima década. Homens são mais acometidos As manifestações clínicas são inespecíficas; as mais frequentes são dor epigástrica, perda de peso, náuseas, vômitos e anorexia. Em 20% dos casos, o tumor ulcera e causa hemorragia. Na maioria dos pacientes, linfoma MALT no estômago associa-se a infecção por cepas virulentas do H. pylori. Com a resposta imunitária induzida pela bactéria, surge expansão clonal das células dos folículos linfoides. Na fase inicial, a proliferação linfoide é antígeno-dependente e, portanto, o tratamento com antibióticos para erradicação do microrganismo pode resultar no desaparecimento do tumor. Tratamento – erradicação do H. pylori Referências: COELHO, Júlio Cezar Uili. Aparelho Digestivo: clínica e cirurgia. 4. ed. São Paulo: Atheneu, 2012. KUMAR, Vinay; ABBAS, Abul K.; ASTER, Jon C.. Robins & Cotran Patologia: bases patológicas das doenças. 9. ed. Elsevier, 2016. BRASILEIRO FILHO, Geraldo. Bogliolo Patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. Núcleo de Telessaúde Rio Grande do Sul. O que é Helicobacter pylori? 2010. Disponível em: https://aps.bvs.br/aps/o-que-e-helicobacter-pylori/. Acesso em: 25 abr. 2021. Maria Paula M. Mattei | Tutorial 2 UC 14 - Gastro 11 Núcleo de Telessaúde Rio Grande do Sul. Quais são as opções de tratamento para erradicação de Helicobacter Pylori? 2019. Disponível em: https://aps.bvs.br/aps/quais-sao- as-opcoes-de-tratamento-para-erradicacao-de-helicobacter- pylori/. Acesso em: 25 abr. 2021. TODERKE, Edimar Leandro. Gastrite atrófica metaplásica (crônica). 2020. Disponível em: https://www.clinicaegide.com.br/gastrite-atrofica-metaplasica- cronica/. Acesso em: 25 abr. 2021. MACITELLI, Milena R.; FAGUNDES NETO, Ulysses. Gastrites. 2016. Disponível em: https://www.igastroped.com.br/gastrites/. Acesso em: 25 abr. 2021.
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