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URGÊNCIA E EMERGÊNCIA DO TRAUMA MUSCULOESQUELÉTICO HEMORRAGIAS/TRATAMEN TO/AMPUTAÇÃO 1. HEMORRAGIAS Independentemente da aparência da ferida, o que determina se o paciente será capaz de compensar a perda de volume circulante ou se entrará em choque é a quantidade de sangue perdido e a velocidade com que ocorreu. Uma boa regra de prática para lembrar é “nenhum sangramento é menor”; cada eritrócito conta. Mes mo um pouco de sangue pode ser adicionado a uma perda substancial de sangue se ignorado por um tempo suficientemente longo. TRAUMA MUSCULOESQUELÉTICO 19 Hemorragia externa A hemorragia arterial externa deve ser identificada durante a avalia ção primária, pois pode ser fatal. Em geral, esse tipo de sangramento é facilmente detectado, mas sua ava liação pode ser difícil quando há san gue escondido sob um paciente ou ele usa uma roupa grossa ou escura. Uma hemorragia perceptível requer atenção imediata e deve ser avaliada e parada, enquanto as vias aéreas e ventilação do paciente são tratadas, ou até mesmo mais cedo. O cálculo da perda de sangue ex terna pode ser extremamente difícil. Embora indivíduos menos experien tes tendam a superestimar a quan tidade de sangramento externo, e é possível subestimá-lo, pois os sinais manifestos de perda de sangue ex terno nem sempre são aparentes. As razões para tais cálculos imprecisos são muitas, e incluem que o paciente pode ter mudado do local da lesão ou que a perda de sangue foi absorvida pelo solo por roupas, removida por água, ou pela presença de chuva. Hemorragia interna A hemorragia interna é comum em trauma musculoesquelético e mui tas vezes passa despercebida. Pode resultar de danos nos principais vasos sanguíneos (muitos deles localizados próximos aos ossos longos do corpo), ruptura muscular e fraturas. Edema contínuo de um membro ou diminuição da temperatura, palidez ou ausência de pulso, pode indicar hemorragia interna de vasos impor tantes. A perda interna significativa de sangue pode estar ligada a fratu ras. A coxa e a pélvis podem acumu lar volume suficiente para perda de sangue com risco de vida. Tratamento das hemorragias O tratamento inicial de uma hemor ragia externa envolve compressão direta da ferida. A elevação do mem bro não tem sido demonstrada para retardar o sangramento, e o trauma musculoesquelético pode agravar as lesões presentes. Se o sangramento não parar imedia tamente e completamente com com pressão direta ou um curativo, um torniquete deve ser aplicado. Um se gundo torniquete deve ser aplicado após o primeiro se o sangramento não puder ser parado com ele. O uso de um agente hemostático tópico pode ser considerado para sangramento que não é suscetível a um torniquete, como virilha ou axila. Esses agentes também podem ser considerados em situações de transporte prolongado. O uso de torniquetes é o padrão ideal de cuidado em tratamento TRAUMA MUSCULOESQUELÉTICO 20 pré-hospitalar ou lesões de mem bros exsanguinantes. Depois de parar o sangramento em pacientes com sangramento de uma doença de risco de vida, os prestado res de cuidados pré-hospitalares po dem escolher avaliação primária, foco nas vias aéreas, ventilação e circula ção, para ressuscitação e transporte rápido para a instalação onde a con dição do paciente pode ser melhor resguardada. Durante o transporte, a administra ção de oxigênio e a ressuscitação podem ser iniciadas com soluções intravenosas (IV) de pacientes em choque, tendo em mente que quando há suspeita de hemorragia interna a pressão arterial sistólica alvo é de 80 a 90 mm Hg (a pressão arterial média é de 60 a 65 mm Hg) e de 90 a 100 mm Hg para aqueles com sus peita de lesão cerebral traumática. Para aqueles que têm um pequeno sangramento sem sinais de choque ou outros problemas de risco de vida, ele pode ser parado por compressão direta e realizar avaliação secundária. SAIBA MAIS! O choque é um estado fisiológico caracterizado por perfusão inadequada dos tecidos para atender às necessidades metabólicas e a oxigenação tecidual. A perda aguda do volume sanguíneo por sangramento (perda de plasma e eritrócitos) resulta em um desequilíbrio na re lação de volume do líquido com o tamanho do recipiente. O recipiente mantém seu tamanho normal, mas o volume de líquido diminui. O choque hipovolêmico é a causa mais comum de choque encontrada no ambiente pré-hospitalar e a perda de sangue é a causa mais comum de choque em pacientes com trauma e a mais perigosa para o paciente. Os sinais sugestivos são: taquicardia, pulsos periféricos fracos, tempo de enchimento capilar aumentado, pele fria e pálida, oligúria e alteração do nível de consciência. 21 TRAUMA MUSCULOESQUELÉTICO MAPA MENTAL: HEMORRAGIAS Identificada durante avaliação primária Fácil identificação Externa Pode ser difícil, quando o sangue está sob o paciente ou no uso de roupas grossa ou escura Paciente mudado do local inicial da lesão Cálculo de perda sanguínea imprecisa Sangue absorvido pelo solo, roupas; removido por água ou chuva Comum em trauma musculoesquelético Resulta de dano nos principais vaso sanguíneos, ruptura muscular ou fraturas HEMORRAGIAS Interna Tratamento Edema contínuo de um membro ou diminuição da temperatura, palidez ou ausência de pulso Coxa e pélvis são locais que a perda de sangue com risco de vida Compressão direta ou curativo Aplicação de torniquete, se não conter realizar um segundo Agente hemostático em local que não é possível realizar torniquete, ex. axila e virilha Em hemorragia internas, estabiliza o paciente e encaminha para o hospital 2. TRATAMENTO DAS INSTABILIDADES Lacerações das estruturas que dão suporte a uma articulação (ligamen tos), fraturas ósseas e grandes lesões musculares ou tendíneas afetam a capacidade de uma extremidade se sustentar. As duas lesões que cau sam instabilidade nos ossos e articu lações são fraturas e luxações. Os objetivos gerais do tratamento das instabilidades estão relacionados com diminuição da dor, redução do potencial para novas lesões, contro le de hemorragias e movimentação mínima de extremidade fraturada. Os quais podem ser adquiridos com a re alização da imobilização do membro acometido. Redução A redução de uma fratura e/ou luxa ção, nem sempre é necessária. Existe a possibilidade de fazer para reduzir a dor do paciente, mas nem sempre é importante em todos os casos. As contraindicações incluem, resis tência por uma interposição óssea ou outra causa, e a dor acentuada no individuo na tentativa do méto do. A tentativa de redução deve ser no máximo duas vezes, não se deve perder tempo no ato quando não consegue, continua-se o processo de atendimento e encaminha o paciente para o hospital, onde tem estrutura para a resolução do problema. Se na tentativa de realizar a redução for bem sucedida, tem que relatar que foi realizado para equipe que vai receber o doente, visto que isso vai influenciar no tipo de tratamento. Imobilização A menos que estejam associadas a lesões que ponham em risco a vida do doente, as lesões de extremida des podem ser imobilizadas duran te a avaliação secundária. Devem ser sempre imobilizadas, entretanto, antes que o doente seja transporta do. É obrigatório que se avalie o esta do neurovascular do membro após a utilização de talas ou o realinhamento de fraturas. Tipos específicos de dispositivos de imobilização podem ser utilizados para atender as necessidades espe cíficas de cada fratura. Sempre que houver lesões instáveis de coluna, suspeitas ou confirmadas, uma prancha longa costuma permitir a imobilização total do corpo da víti ma. Entretanto, sua superfície, dura e não acolchoada, pode causar lesões por pressão na região da protuberân cia occipital e no nível das escápulas, do sacro e dos calcanhares do do ente. Portanto, tão logo seja possí vel, o doente deve ser removido cui dadosamente da prancha para uma TRAUMA MUSCULOESQUELÉTICO 23 superfície acolchoada que ofereça suporte semelhante. Para facilitar a transferência, pode-se usar uma pa diola articuladaou a manobra de ro lamento lateral do doente, em bloco. Durante essa transferência, a ser re alizada por profissionais devidamen te treinados e em número suficien te, o doente deve estar totalmente imobilizado. Tipos de talas Existem no mercado vários tipos de talas. Dê preferência não improvi sar talas com jornais, madeira, me tal, entre outros, pois além de ferir a vítima, pode não proporcionar uma imobilização correta. O ideal é adqui rir talas aramadas moldáveis, sendo de fácil aplicação. São confecciona das em arame galvanizado ou alu mínio e recobertas externamente em ambas as faces por espuma flexível antialérgica. Existem vários tamanhos para uso em membros superiores e inferiores. As talas infláveis confeccionadas em PVC com bomba de enchimen to acompanhada podem ser outra opção. Sua aplicação é simples, po rém não podem ser utilizadas em fra turas desalinhadas, fraturas abertas e lesões em articulações. Devem ser usadas somente para transportar a vítima do local do acidente ao hospi tal. Não devem permanecer por mais de três horas no membro afetado de vido a riscos de complicações como queimaduras, garroteamento. Passo a passo • Tranquilizar a vítima; • Retirar vestimentas, sempre com auxílio de tesoura ponta romba; • Não tentar alinhar a área lesada (dependendo o caso); • Checar pulso distal e perfusão periférica; • Nunca moldar a tala sobre o mem bro fraturado da vítima; • Imobilizar a articulação aci ma e abaixo da fratura (duas articulações); • Imobilizar com talas, dependendo do alinhamento do osso; TRAUMA MUSCULOESQUELÉTICO 24 Figura 9. Imobilização de fraturas com talas. Fonte: Atendimento Pré-Hospitalar. Treinamento da Brigada de Emer gência do Suporte Básico ao Avançado. 1ª ed. Márcia Vilma G. de Moraes, 2010 • Enfaixar iniciando sempre do distal para o proximal, ou seja, no sentido do retorno venoso; • Não comprimir ossos expostos ou tentar recolocá-los no lugar (de pendendo do caso); • Verificar perfusão capilar antes e depois da estabilização; • Prevenir choque, aquecendo a víti ma com manta aluminizada; • Nas fraturas abertas estancar he morragias, prevenir contaminação, e usar solução salina para umidifi car o osso. • As luxações e fraturas na altura do ombro, clavícula e escápula devem ser imobilizá-las com bandagem triangular ou tipoia; TRAUMA MUSCULOESQUELÉTICO 25 Figura 10. Imobilização com bandagem triangular. Fonte: Atendimento Pré-Hospitalar. Treinamento da Brigada de Emergência do Suporte Básico ao Avançado. 1ª ed. Márcia Vilma G. de Moraes, 2010 • Trabalhar sempre em equipe no mínimo com dois socorristas. • Transportar para hospital. 3. AMPUTAÇÃO Quando o tecido se separa comple tamente de um membro, ele não tem nutrição e oxigenação, um tipo de lesão chamada amputação, que é a perda de parte ou um membro inteiro. Todos as amputações podem ser acompanhadas de sangramento significativo, mas isso é mais comum naqueles que são parciais. Quando os vasos sanguíneos são comple tamente cortados transversalmen te, retraídos e contraídos, coágulos sanguíneos podem se formar, o que diz parar o sangramento; no entan to, quando um vaso é cortado ape nas parcialmente transversalmente, as duas extremidades não podem se retrair e continuam a perder sangue através da mesma abertura. As amputações são frequentemente evidentes na cena, um tipo de le são que recebe grande atenção das pessoas em volta, e o paciente pode ou não saber que está faltando um membro. Psicologicamente o presta dor de cuidados precisa ser cauteloso com a lesão. O membro ausente deve ser loca lizado para possível reimplantação, o que é especialmente válido para as TRAUMA MUSCULOESQUELÉTICO 26 extremidades superiores e polegar. Amputações de membros inferiores geralmente não são reimplantadas no contexto traumático, porque as próteses são eficazes e o sucesso do procedimento cirúrgico é ruim. Você deve fazer uma avaliação pri mária antes de procurar um membro desaparecido, a menos que a equi pe de resposta de emergência esteja presente em um número apropriado para ajudar. Amputações podem ser muito dolo rosas. A analgesia deve ser usada, conforme necessário. Figura 11. Amputação total da perna direita depois de ter ficado aprisionada em uma máquina. PHTLS Atendimento Pré-hospitalizado ao Traumatizado. 9ª ed. Jones & Bartlett Learning, 2019. O passo a passo do manejo em caso de amputações consiste em: • Limpar o segmento amputado, en xágue delicado com soro fisiológi co ou Ringer Lactato; • Envolver o segmento amputado com gaze estéril umedecida com soro fisiológico ou Ringer Lactato e coloque-o em um saco plástico ou recipiente; • Depois de rotular o saco ou reci piente, deve-se colocá-lo em um recipiente externo cheio de gelo triturado. • Não congelar a parte amputada colocando-a diretamente no gelo ou adicionando outro meio de res friamento, como gelo seco; TRAUMA MUSCULOESQUELÉTICO 27 • Transportar a parte amputada jun to com o paciente até o hospital apropriado mais próximo. Quanto mais tempo a porção ampu tada permanecer sem oxigênio, me nor a probabilidade de ser reimplan tada com sucesso. O resfriamento da parte do corpo amputado, sem con gelá-la, diminuirá a taxa metabólica e prolongará esse período crítico. No entanto, o reimplante não é garantia de sucesso de sua conexão ou ope ração final. O transporte de um paciente não deve ser atrasado para localizar uma peça amputada desaparecida. Se não for encontrado rapidamente, outros socorristas de emergência de vem permanecer no palco para pro curá-lo. Ao transportar o amputado em um veículo diferente do paciente, o prestador de cuidados pré-hospi talares deve garantir que eles manu seiem a parte amputada claramente entendendo onde o paciente é trans portado e como tratá-los uma vez localizados. As instalações de recep ção devem ser notificadas assim que a parte do corpo estiver localizada e o transporte começará o mais rápido possível. Entre as principais causas de com plicações no coto estão deiscência de suturas, edemas, dor fantasma, ulceração do coto, inflamações, in fecções, retração da cicatriz, neu romas e espículas ósseas. Um hematoma pode ocorrer devido a um procedimento cirúrgico incor reto ou não, este pode retardar a ci catrização da ferida, servindo ainda como meio de cultura para infecção bacteriana. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICA PHTLS Atendimento Pré-hospitalizado ao Traumatizado. 9ª ed. Jones & Bartlett Learning, 2019. Atendimento Pré-Hospitalar. Treinamento da Brigada de Emergência do Suporte Básico ao Avançado. 1ª ed. Márcia Vilma G. de Moraes, 2010. Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia. SBOT. Disponível em: < https://sbot.org. br/lesoes-musculares/>. Acesso em: 18 de junho de 2020. Braga Júnior MB, Chagas Neto FA, Porto MA, Barroso TA, Lima ACM, Silva S, et al. Epide miologia e grau de satisfação da vítima de trauma músculo-esquelético atendida em hospital de emergência da rede pública brasileira. Acta Ortop Bras. 2005;13(3):137-40. COMITÊ DE TRAUMA DO COLÉGIO AMERICANO DE CIRURGIÕES; Advanced Trauma Life Suport (ATLS), 9ª Ed 2014. JÚNIOR, José; PEREIRA Marcela; AMARO, Sued. Relação da incidência de amputados e protetizados de membros inferiores em 2005, na URE dr. Demétrio Medrado. Belém. 2006. 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