Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Maria Lídia Nascimento de Resende UFLA - Universidade Federal de Lavras ● As micotoxinas são toxinas produzidas por fungos, que diferem-se das toxinas bacterianas por não terem natureza proteica e nem serem imunogênicas. ● Essas toxinas levam a doenças chamadas de micotoxicoses. ● Elas são altamente nocivas à saúde animal além de causar degradação de cereais e plantas. ● O elevado nível de micotoxinas na dieta animal provoca prejuízos e danos irreversíveis à saúde dos animais, comprometendo a integridade dos consumidores da carne, leite e produtos derivados destes animais. ● As várias etapas da produção de grãos (colheita, estocagem, transporte, processamento e armazenagem) são predispostas a contaminação por micotoxinas A ausência de fungo não implica na ausência da micotoxina! ● Os fatores extrínsecos (estação do ano, condição de cultivo, armazenagem, região e clima) e os intrínsecos (produto vegetal, microbiota natural e contaminante, umidade relativa, temperatura, porcentagem da integridade dos grãos) afetam diretamente na ocorrência e contaminação de fungos e produção de micotoxinas. ● Fungos toxígenos: Aspergillus sp, Fusarium e Penicillium sp. ● Principais micotoxinas: aflatoxina, fumonisinas e zearalenonas. ● A faixa de crescimento do fungo é ampla, variando de 6° a 45°C. AFLATOXINA ● É termoestável, podendo ser estável em temperaturas acima de 100°C e na ausência de luz UV. ● Aspergillus flavus e paeasiticius são as duas espécies que produzem essa toxina. ● Classificação: B1, B2, G1, G2, M1 e M2. ⚵ Os mais importantes são o tipo B (de blue) e G (de Green). ⚵ B1: substância mutagênica e hepatocarcinogênica ⚵ M1: encontrada no leite e produtos derivados ⇢ os animais ingerem a B1, que se converte em um derivado hidroxilado e é secretada nesses produtos. ● Toxicocinética: o animal ingere a micotoxina. Parte é excretada e outra vai para o sistema porta hepático, podendo ir para a excreção biliar ou para o sistema circulatório (músculos, leite e ovos), passa pelo rim e vai para a urina. Uma substância chamada 8-9 epóxido se junta à guanina do DNA e forma um produto denominado adulto. Há a substituição da ligação de guanina-citosina por timina-adenosina, levando à mutação do DNA e aumentando a chance de desenvolvimento de neoplasias ● As micotoxinas estão em concentrações muito baixas, fazendo com que passem despercebidas para quem ingere. ● Um terço das neoplasias induzidas pela dieta é causado por essas toxinas. ● Para que isso seja minimizado, foi criada a Resolução RDC nº 7 de 18 de fevereiro de 2011, que limita a quantidade máxima aceitável de aflatoxinas nos alimentos. ● Intoxicações agudas: alterações hepáticas, edema de membros inferiores, dores abdominais, vômitos, hepatomegalia, esteatose, hiperamonemia e convulsões, sendo o fígado o órgão alvo. ⚵ aves: inibição do crescimento, inibição imunológica, diminui a produção de ovos. 1 Maria Lídia Nascimento de Resende UFLA - Universidade Federal de Lavras ⚵ bovinos: alterações reprodutivas, redução de peso e produção, além da contaminação do leite pela Afla M1. ⚵ suínos: infertilidade, abortos e redução do crescimento. ERGOTISMO ● Claviceps purpurea: infecta gramíneas de diferentes espécies ⚵ Sua toxicidade varia de acordo com o tipo, concentração e ação biológica do alcalóide. ⚵ Síndromes ⇢ Gangrenosa: maior ocorrência no inverno, gera lesões na parte distal do membro, com grande vasoconstrição e levando a perda tecidual e tecidos adjacentes. ⇢ Distérmica: ocorre mais no verão e o animal fica ofegante, com salivação excessiva, procurando sempre água e sombra para se refrescar devido a incapacidade de troca de temperatura. ⇢ Reprodutiva: alteração na glândula mamária e na produção de leite; ocorre porque esses ergo alcalóides são antagonistas da serotonina (+ prolactina) e da dopamina (- prolactina), afetando a produção; a toxina que ultrapassa a barreira placentária, interferindo na gestação (lesão hepática no feto). ● Claviceps paspali: relacionado ao capim da espécie Paspalum ⚵ Maior ocorrência no período de pouca chuva (outono), que faz com que haja aumento da população do fungo concomitante com o aumento de sementes e do consumo delas. ⚵ Sinais clínicos: aparecem após 48h de ingestão aguda ou se prolongam por mais dias quando a ingestão é em doses baixas. Há quedas, tremores e espasticidades. ● Aspergillus clavatus: relacionado à síndrome tremorgênica em ruminantes ⚵ Utilizado em empresas de cerveja e alimentos mofados. ⚵ Essa neurotoxicose apresenta fraqueza de membro pélvico, com flexão parcial deles. ⚵ Os animais acometidos apresentam evolução de 2 a 15 dias, com morbidade de 30% e letalidade variando de 50 a 100%. ⚵ Necropsia: áreas pálidas na musculatura dos membros. ⚵ Tratamento: a partir da retirada da fonte de contaminação. É preciso diferenciar sempre de botulismo, raiva, acidente ofídico e outras síndromes termogênicas ESLAFRAMINA ● Rhizoctonia leguminicola: micotoxina de fungos encontrados em leguminosas em geral, nas épocas mais chuvosas. ● São vistos pontos enegrecidos nas folhas das plantas e ela pode persistir no feno seco e enfardado. ● Essa toxina faz estimulação colinérgica das glândulas exócrinas, provocando a síndrome identificada de “slobbers” (babões). ● Os equinos são os mais afetados e apresentam salivação excessiva com formação de espuma, pode ter diarréia, cólica e anorexia com pico de sinais após 5-6h da ingestão. ● Diagnóstico: dosar a quantidade de eslaframina na dieta do animal ⇢ não há descrição de lesões na necropsia. ⚵ diferencial: irritação química/mecânica da cavidade oral, corpo estranho, traumas orais, lesões dentárias, glossite e uso de imidocarb (carbamato). ● Tratamento: a partir da retirada do alimento contaminado. OCRATOXINA ● É produzida pelo Penicillium verrucosum, Aspergillus ochraceus e Aspergillus carbonarius ● Tem relação com frutas secas, café e vinhos. ● Sua estrutura é bem parecida com a fenilalanina, podendo interferir na síntese proteica. ● Os órgãos com maior importância de intoxicação são os rins, que é onde a toxina mais se distribui por nefrotóxica e nefrocarcinogênica. 2 Maria Lídia Nascimento de Resende UFLA - Universidade Federal de Lavras FUMONISINAS ● Associada ao Fusarium verticillioides e Fusarium proliferatum, com principal crescimento no milho. ● Maior importância nos suínos e bovinos. O consumo da fumonisina por parte dos suínos faz com que ocorra a inibição da ceramina sintetase, que inibe a esfingosina nos tecidos, inibe os canais de cálcio levando a menor contratilidade, falha do ventrículo esquerdo e edema pulmonar (dificuldade respiratória e cianose) Leucoencefalomalácia ● Doença do milho mofado, gerada pela ingestão da fumonisina (FB1) pelo Fusarium verticillioides. ● Animais mais velhos são mais suscetíveis, com sintomatologia abrupta evidenciada após 3-4 semanas da ingestão do alimento contaminado. Há morte por volta de 7 dias após o aparecimento dos sinais neurológicos. ● A intoxicação por FB1 resulta em duas síndromes, neurológica e hepática. ● Afeta o metabolismo de esfingolipídeos, afetando o equilíbrio dos neurônios. ● Sinais clínicos: anorexia, depressão, cegueira, andar compulsivo, “head pressing”, alterações do estado mental, decúbito e convulsões clônicas-tônicas. ● Neutrofilia e eosinofilia, hemoconcentração (desidratação), aumento sérico da amônia, glicose, FA, AST e GGT, hiperproteinorraquia e pleocitose que varia de mononuclear a mista. ● Necropsia: cavitações nos hemisférios cerebrais, necrose de liquefação da substância branca, tumefação hepática com coloração amarelada e focos irregulares dos nódulos disseminados por todo parênquima. ● Diagnóstico: achados clínicos e a fumonisina maior que 10 ppm no alimento. ⚵ diferencial: outras doenças neurológicas. ● Tratamento: feito como suporte, com sedação do animal, alimentação parenteral ou enteral, manitol ou DMSO para resolução do edema cerebral, vitamina B1 2 g/dia IV por 3 dias. ● A prevenção é o melhor remédio! Adotar medidas comocolheita e armazenamento que minimizem o crescimento fúngico, evitar sobras de ração e que permaneçam no cocho. TRICOTECENOS ● São produzidos pelos fungos do gênero Fusarium ● Tem ação biológica importante, causando potente ação irritativa local inibindo a síntese proteica e produção de energia afetando o funcionamento das membranas celulares. ● Sinais clínicos: irritações de pele e mucosa, aplasia de medula, imunossupressão e alterações neurológicas. PATULINA ● Produzida por diversas espécies de Aspergillus, Penicillium e Byssochlamys, sendo a principal o Penicillium expansum, que é contaminante de maçã e outras frutas. ● Os fungos que produzem essa toxina são dificilmente destruídos pelo aumento de temperatura, pois produzem ascósporos, assim as células sobreviventes podem produzir a micotoxina no produto final. ● Para prevenção deve-se utilizar frutos de boa qualidade, aplicação de anidrido sulfuroso que inativa a patulina, pasteurização, despectinização e concentração principalmente do suco. ● As intoxicações agudas causam edema pulmonar, processos hemorrágicos, danos nos capilares hepáticos, baço e rins, edema pulmonar e há provável atividade carcinogênica. ZEARALENONA ● É produzida pelo Fusarium graminearum. ● Encontrada em milho, cevada, trigo e ração. ● Possui ação sob receptores estrogênicos, causando síndrome de hiperestrongenismo com estro prolongado, infertilidade, lactação anormal, aborto, mastite, prolapso retal e vaginal. 3 Maria Lídia Nascimento de Resende UFLA - Universidade Federal de Lavras ● Sinais clínicos: inchaço e avermelhamento da vulva, secreção das glândulas endometriais, síntese das proteínas uterinas, aumento do peso do trato reprodutivo, pseudogestação por conta do CL (infertilidade), repetição de cio, leitões fracos e natimortos. Pode causar crescimento das glândulas mamárias nos machos. 4
Compartilhar