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Diabetes Mellitus Fisiologia Normal da Insulina e Homeostase da Glicose: o A homeostase normal da glicose é rigidamente regulada por três processos inter-relacionados: 1. Produção de glicose pelo fígado; 2. Captação e utilização de glicose pelos tecidos periféricos, principalmente o músculo esquelético; 3. Ações da insulina e hormônios contra regulatórios (p. ex., glucagon). Concentração de glicose na corrente sanguínea Secreção de Insulina pelas células β o 3 proteínas são importantes para a entrada de glicose na célula; o A ENPP-1: Tem como função permitir a passagem de insulina para dentro da célula; o A IRS recebe essa insulina dentro da célula, e fosforila; o Então ela é usada para ativar a GLUT 4, que é a PTN que permite a entrada da glicose na célula. o A principal função metabólica da insulina é o aumento da taxa de transporte da glicose para o interior de determinados tipos celulares corporais; o Nas células musculares, a glicose é, então, armazenada como glicogênio ou oxidada para gerar trifosfato de adenosina (ATP); o No tecido adiposo, a glicose é armazenada primariamente como lipídios. Além de promover a síntese lipídica (lipogênese), a insulina também inibe a degradação dos lipídios (lipólise) nos adipócitos; o Os efeitos metabólicos da insulina podem ser resumidos como anabólicos, com aumento da síntese e redução da degradação do glicogênio, lipídios e proteínas. Definição Ananda Cabral Fisiopatologia aplicada à nutrição @nandassilva_ o Diabetes mellitus (DM) consiste em um distúrbio metabólico caracterizado por hiperglicemia persistente, decorrente de deficiência na produção de insulina ou na sua ação (resistência insulínica), ou em ambos os mecanismos; o A hiperglicemia persistente está associada a complicações crônicas micro e macrovasculares, aumento de morbidade, redução da qualidade de vida e elevação da taxa de mortalidade; o A classificação do DM baseia-se em sua etiologia. Classificação o Diabetes mellitus tipo 1: o O diabetes mellitus tipo 1 (DM1) é uma doença autoimune, poligênica, decorrente de destruição das células β pancreáticas, ocasionando deficiência completa na produção de insulínica. (Anticorpos atacam as células β pancreáticas que produzem insulina); o É mais frequentemente diagnosticado em crianças, adolescentes e, em alguns casos, em adultos jovens, afetando igualmente homens e mulheres. Subdivide-se em DM tipo 1A e DM tipo 1B, a depender da presença ou da ausência laboratorial de autoanticorpos circulantes, respectivamente. o Diabetes mellitus tipo 1A: o Forma mais frequente de DM1, confirmada pela positividade de um ou mais autoanticorpos. Em diferentes populações, descreve-se forte associação com antígeno leucocitário humano (human leukocyte antigen, HLA) DR3 e DR4.; o Embora sua fisiopatologia não seja totalmente conhecida, envolve, além da predisposição genética, fatores ambientais que desencadeiam a resposta autoimune; o Entre as principais exposições ambientais associadas ao DM1 estão infecções virais, componentes dietéticos e certas composições da microbiota intestinal; o Os marcadores conhecidos de autoimunidade são: anticorpo anti-ilhota (islet cell antibody, ICA), autoanticorpo anti-insulina (insulin autoantibody, IAA), anticorpo antidescarboxilase do ácido glutâmico (anti-GAD65), anticorpo antitirosina-fosfatase IA-2 e IA-2B e anticorpo antitransportador de zinco (Znt8); o Geralmente, esses autoanticorpos precedem a hiperglicemia por meses a anos, durante um estágio pré- diabético; o Na fase clinicamente manifesta do DM1, o início é, em geral, abrupto, podendo ser a cetoacidose diabética a primeira manifestação da doença em um terço dos casos; @nandassilva_ o Diabetes mellitus tipo 1B: o A denominação 1B, ou idiopático, é atribuída aos casos de DM1 nos quais os autoanticorpos não são detectáveis na circulação; o O diagnóstico apresenta limitações e pode ser confundido com outras formas de DM diante da negatividade dos autoanticorpos circulantes, de modo concomitante com a necessidade precoce de insulinoterapia plena; o As recomendações terapêuticas são as mesmas do DM tipo 1A e não há evidências de riscos distintos para as complicações crônicas entre os subtipos; o Diabetes mellitus tipo 2: o O diabetes mellitus tipo 2 (DM2) corresponde a 90 a 95% de todos os casos de DM. Possui etiologia complexa e multifatorial, envolvendo componentes genético e ambiental; o Dentre eles, hábitos dietéticos e inatividade física, que contribuem para a obesidade, destacam-se como os principais fatores de risco; o Geralmente, o DM2 acomete indivíduos a partir da quarta década de vida; o O desenvolvimento e a perpetuação da hiperglicemia ocorrem concomitantemente com hiperglucagonemia, resistência dos tecidos periféricos à ação da insulina, aumento de lipólise e consequente aumento de ácidos graxos livres circulantes, aumento da reabsorção renal de glicose e graus variados de deficiência na síntese e na secreção de insulina pela célula β pancreática; o A resistência insulínica é definida como o insucesso dos tecidos-alvo em responder normalmente à insulina. Isso leva a uma redução da captação de glicose pelo músculo; o Obesidade e Resistência Insulínica: O risco de diabetes aumenta à medida que o índice de massa corporal (uma medida do conteúdo adiposo do corpo) aumenta, sugerindo uma relação dose-resposta entre a gordura corporal e a resistência insulínica. o Vias que levam à resistência insulínica: o Papel do excesso de ácidos graxos livres (Dislipidemias): Os triglicerídeos intracelulares e os produtos do metabolismo dos ácidos graxos são potentes inibidores da sinalização insulínica e resultam em um estado de resistência insulínica adquirida. Esses efeitos lipotóxicos dos AGL são mediados através de uma redução da atividade de proteínas fundamentais da sinalização insulínica. o Papel da inflamação: Um ambiente inflamatório permissivo (mediado não por um processo autoimune, como no diabetes do tipo 1, mas por citocinas pró-inflamatórias que são secretadas em resposta ao excesso de nutrientes como os AGL) resulta tanto em resistência insulínica periférica quanto em disfunção das células beta. O excesso de AGL no interior dos macrófagos e das células beta pode mobilizar o inflamassomo, um complexo citoplasmático multiproteico que acarreta a secreção da citocina interleucina IL-1b. A IL-1b, medeia a secreção de citocinas pró inflamatórias adicionais pelos macrófagos, ilhotas e outras células que são liberadas na circulação e que agem sobre os principais pontos de ação insulínica, promovendo a resistência insulínica. Assim, o excesso de AGL pode impedir a sinalização insulínica diretamente no interior dos tecidos periféricos, assim como indiretamente através da liberação de citocinas pró-inflamatórias o Papel das adipocinas: O tecido adiposo não é simplesmente um depósito de armazenamento de gordura. Ele opera como um órgão endócrino funcional, liberando as chamadas adipocinas em resposta a estímulos extracelulares ou a alterações na condição metabólica. Os adipócitos também liberam IL-1b e outras citocinas pró-inflamatórias na circulação em resposta ao excesso de AGL o que promove a resistência insulínica periférica. Em contraposição, a adiponectina é uma adipocina com ação sensibilizante à insulina, que provavelmente atua moderando a resposta inflamatória. o Com menor frequência, indivíduos com DM2 apresentam sintomas clássicos de hiperglicemia (poliúria, polidipsia, polifagia e emagrecimento inexplicado). Raramente a cetoacidose diabética consiste na manifestação inicial do DM2. o Fatores de risco: o História familiar da doença; o Avançar da idade, obesidade, sedentarismo, diagnóstico prévio de pré-diabetes ou diabetes mellitus gestacional (DMG); o Presença de componentes da síndromemetabólica, tais como hipertensão arterial e dislipidemia. o Diabetes mellitus gestacional: o A gestação consiste em condição diabetogênica, uma vez que a placenta produz hormônios hiperglicemiantes e enzimas placentárias que degradam a insulina, com consequente aumento compensatório na produção de insulina e na resistência à insulina, podendo evoluir com disfunção das células β; o O principal hormônio relacionado com a resistência à insulina durante a gravidez é o hormônio lactogênico placentário, contudo, sabe-se que outros hormônios hiperglicemiantes como cortisol, estrógeno, progesterona e prolactina também estão envolvidos; (FFAs — free fatty acids): Ácidos graxos livres o O DMG trata-se de uma intolerância a carboidratos de gravidade variável, que se inicia durante a gestação atual, sem ter previamente preenchido os critérios diagnósticos de DM; o O DMG traz riscos tanto para a mãe quanto para o feto e o neonato, sendo geralmente diagnosticado no segundo ou terceiro trimestres da gestação.; o Pode ser transitório ou persistir após o parto, caracterizando-se como importante fator de risco independente para desenvolvimento futuro de DM2 o Diagnóstico o Na maioria dos casos de pré-diabetes ou diabetes, a condição é assintomática e o diagnóstico é feito com base em exames laboratoriais: o Glicemia em jejum: coletada em sangue periférico após jejum calórico de no mínimo 8 horas; o TOTG: previamente à ingestão de 75 g de glicose dissolvida em água, coleta-se uma amostra de sangue em jejum para determinação da glicemia; coleta-se outra, então, após 2 horas da sobrecarga oral. Importante reforçar que a dieta deve ser a habitual e sem restrição de carboidratos pelo menos nos 3 dias anteriores à realização do teste. Permite avaliação da glicemia após sobrecarga, que pode ser a única alteração detectável no início do DM, refletindo a perda de primeira fase da secreção de insulina; o Hemoglobina glicada (HbA1c): oferece vantagens ao refletir níveis glicêmicos dos últimos 3 a 4 meses e ao sofrer menor variabilidade dia a dia e independer do estado de jejum para sua determinação. Vale reforçar que se trata de medida indireta da glicemia, que sofre interferência de algumas situações, como anemias, hemoglobinopatias e uremia, nas quais é preferível diagnosticar o estado de tolerância à glicose com base na dosagem glicêmica direta. Outros fatores, como idade e etnia, também podem interferir no resultado da HbA1c. Manifestações clínicas o O DM tipo 1 possui clínica clássica e o diagnóstico mais precoce devido às suas manifestações agudas; o Os sintomas que esses pacientes apresentam são: o Poliúria (aumento na produção de urina) o Polidipsia (sede excessiva) o Polifagia (fome excessiva) o Emagrecimento o Uma manifestação que já pode diagnosticar DM tipo 1, é a cetoacidose diabética , devido à ausência de insulina. o Os pacientes com DM tipo 2, em sua maioria, são obesos, sedentários e com outros fatores de risco para doenças cardiovasculares. o Alguns pacientes com DM tipo 2 podem apresentar sintomas típicos de diabetes, mas a maioria passa meses a anos assintomáticos, só apresentando sintomas quando já possuem lesão em órgão- alvo. Como ocorre? o A deficiência de insulina resulta em um estado catabólico que afeta não apenas o metabolismo da glicose, mas também o metabolismo dos lipídios e das proteínas. o A assimilação da glicose ao músculo e ao tecido adiposo é acentuadamente diminuída ou abolida. O armazenamento de glicogênio no fígado e músculo cessa e as reservas são esgotadas pela glicogenólise. o Ocorre então a gliconeogênese, a partir do catabolismo das proteínas e gorduras, induzindo um equilíbrio energético negativo, o que, por sua vez, leva a aumento do apetite (polifagia) o A hiperglicemia resultante excede o limiar renal para a reabsorção, e a ocorre a glicosúria. A glicosúria induz diurese osmótica e, consequentemente, poliúria, provocando profunda perda de água e eletrólitos. o A perda renal de água combinada com a hiperosmolaridade resultante dos níveis aumentados de glicose no sangue tende a esgotar a água intracelular, deflagrando os osmorreceptores dos centros da sede no cérebro. Essa sequência de eventos gera sede intensa (polidipsia). Metas glicêmicas https://acesso.sanarflix.com.br/courses/take/endocrinologia/lessons/3742223-aula-diabetes-mellitus-parte-iv-cad-e-ehh Complicações o Há dois tipos de complicações o As complicações mais significativas do diabetes são as anomalias vasculares, a lesão renal e as lesões que afetam os nervos periféricos e os olhos; o Doença Macrovascular Diabética: O diabetes cobra um pesado tributo sobre o sistema vascular. O traço característico da doença cardiovascular diabética é a aterosclerose acelerada afetando a aorta e as artérias de grande e médio calibre; o O infarto do miocárdio, provocado pela aterosclerose das artérias coronárias, é a causa mais comum de óbito nos diabéticos; o Microangiopatia Diabética. Uma das características morfológicas mais uniformes do diabetes é o espessamento difuso das membranas basais. O espessamento é mais evidente nos capilares da pele, músculos esqueléticos, retina, glomérulos renais e medula renal. Todavia, também é observado em estruturas não vasculares, como os túbulos renais, e a cápsula da Bowman. o Nefropatia Diabética: Os rins constituem o primeiro alvo do diabetes. o As lesões glomerulares mais importantes são o espessamento da membrana basal capilar; o Quando a glomeruloesclerose se torna acentuada, os pacientes manifestam a síndrome nefrótica, caracterizada por proteinúria, albuminúria e edema. o Retinopatia: inclui hemorragias microaneurismas, dilatações venosas, edema e, mais importante, o espessamento dos capilares retinianos (microangiopatia). Agudas: Hipoglicemia, cetoacidose Crônicas: micro e macrovascularess Cetoacidose diabética (CAD): ACETOACIDOSE DIABÉTICA (CAD) é uma complicação aguda do Diabetes Mellitus (DM) caracterizada por hiperglicemia, acidose metabólica, desidratação e cetose; o A glicose plasmática geralmente se encontra em uma faixa de 500-700 mg/dL; o A CAD resulta da deficiência profunda de insulina, e do excesso de hormônios contra-reguladores, como glucagon, cortisol e catecolaminas; o Como a insulina é um hormônio anabólico, sua deficiência favorece processos catabólicos, como lipólise, proteólise e glicogenólise; o A lipólise resulta em liberação de ácidos graxos livres (AGL) que são oxidados no sistema microssomal hepático; o Através da oxidação, os ácidos graxos são convertidos em acetil-CoA; o Quando a produção de acetilCoA ultrapassa a capacidade de utilização hepática, a substância passa a ser convertida em corpos cetônicos (CC): acetoacetato, beta-hidroxibutirato (BHB, que corresponde ao acetoacetato reduzido e é o principal CC da CAD) e acetona; o A hiperglicemia presente na CAD é causada por diminuição da utilização periférica de insulina, aumento da secreção hepática de glicose e diminuição de sua excreção; o A secreção hepática exacerbada de glicose ocorre tanto por aumento da gliconeogênese (utilizando como principal substrato aminoácidos liberados na circulação sistêmica em decorrência da proteólise excessiva) quanto da glicogenólise; o A consequência é o aumento da osmolaridade plasmática, o que leva a um deslocamento de fluidos do espaço intra para o extracelular, com desenvolvimento de desidratação celular; o Além disso, ultrapassando o limiar renal, surgem a glicosúria e a diurese osmótica, induzindo também perda de volume extracelular. Essa diurese osmótica é a principal causa de perda de fluidos na CAD; o Quadro clínico: No período antecedendo a CAD, há manifestações referentes à descompensação metabólica, como poliúria, polifagia, polidipsia e cansaço. Com a instalação da CAD, são observados anorexia,náuseas e vômitos, que podem agravar a desidratação. Cefaléia, mal-estar, dor abdominal também são comuns. Sequência de desajustes metabólicos que levam ao coma diabético no diabetes melito do tipo 1. Deficiência insulínica absoluta acarreta estado catabólico, resultando em cetoacidose e grave depleção volumétrica. Esses desajustes acarretam um comprometimento do sistema nervoso central suficiente para provocar o coma e, eventualmente, a morte, se deixado sem tratamento. Ananda Cabral
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