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UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO - CAMPUS MATA NORTE DEPARTAMENTO DE MATEMÁTICA ANÁLISE REAL I PROFESSORA: JOELMA AZEVEDO DE MOURA SEQUÊNCIA DE NÚMEROS REAIS - AULA 4 1. Definição de uma sequência Uma sequência de números reais é uma função que associa a cada número natural n um número real xn, chamado o n-ésimo termo da sequência. x : N→ R n 7→ x(n) = xn Utilizamos as seguintes notações para indicar a sequência cujo o n-ésimo termo é xn: � (x1, x2, x3, · · · , xn, · · · ); � (xn)n∈N; � (xn). Exemplo 1: Seja x : N→ R dada por x(n) = √ n. Então, x1 = x(1) = √ 1 = 1 x2 = x(2) = √ 2 x3 = x(3) = √ 3 ... ... xn = x(n) = √ n ... ... e temos a sequência (xn) = (1, √ 2, √ 3, · · · , √ n, · · · ). Observação: Não se deve confundir a sequência (xn) = (x1, x2, x3, · · · , xn, · · · ) com o con- junto {x1, x2, x3, · · · , xn, · · · } dos seus termos. Por exemplo, a sequência (1, 1, · · · , 1, · · · ) não é o mesmo que o conjunto {1}. Ou então as sequências (0, 1, 0, 1, · · · ) e (0, 0, 1, 0, 0, 1, · · · ), que são distintas, mas o conjunto de seus termos é o mesmo, igual a {0, 1}. 2. Sequência limitada Uma sequência (xn) é dita limitada superiormente quando existe c ∈ R tal que xn ≤ c, para todo n ∈ N. Exemplo 2: A sequência ( 1 2n ) = (1 2 , 1 4 , 1 8 , 1 16 , . . . , 1 2n , . . . ) é limitada superiormente, pois, para todo n ∈ N, xn = 1 2n ≤ 1 2 . Uma sequência (xn) é dita limitada inferiormente quando existe c ∈ R tal que xn ≥ c, para todo n ∈ N. Exemplo 3: A sequência (2n) = (2, 4, 8, 16, . . . , 2n, . . . ) é limitada inferiormente, pois, para todo n ∈ N, xn = 2 n ≥ 2. Dizemos que uma sequência é limitada quando é limitada superior e inferiormente. Exemplo 4: A sequência (xn) dada por xn = (−1)n tem seus termos ı́mpares iguais a −1 e seus termos pares iguais a 1, ou seja, (xn) = (−1, 1,−1, 1, . . . ). Logo, para todo n ∈ N temos −1 ≤ xn ≤ 1, e conclúımos que se trata de uma sequência limitada. Dizer que uma sequência (xn) é limitada equivale a dizer que existe k > 0 tal que |xn| ≤ k, para todo n ∈ N. 2 3. Subsequência Dada uma sequência x = (xn)n∈N, uma subsequência de x é a restrição da função x a um subconjunto infinito N′ = {n1 < n2 < · · · < nk < · · · } ⊂ N. Utilizamos as notações abaixo para indicar a subsequência x′ = x|N′: � (xn1 , xn2 , xn3 , · · · , xnk , · · · ); � (xn)n∈N′ ; � (xnk)k∈N. Exemplo 5: Se olharmos novamente para a sequência (xn), dada por xn = (−1)n, e res- tringirmos essa sequência ao subconjunto N′ = {n ∈ N | n é par}, obtemos a subsequência (xn)n∈N′ = (1, 1, 1, . . . ) Observação 1: N′ ⊂ N é um subconjunto infinito se, e somente se, é ilimitado, isto é, para todo n0 ∈ N existe nk ∈ N′ com nk > n0. Exemplo 6: Dado o número real a < −1, formemos a sequência (an)n∈N. Admitindo que N′ é o conjunto dos números pares e que N′′ dos números ı́mpares, pergunta-se: a) As subsequências (an)n∈N′ e (a n)n∈N′′ estão bem definidas? b) Se a resposta do item a) for afirmativa, podemos dizer que ambas as subsequências são limitadas? 4. Limite de um sequência Dizemos que o número real a é limite da sequência (xn) quando, para todo número real ε > 0, dado arbitrariamente, pode-se obter n0 ∈ N tal que todos os termos xn com ı́ndice n > n0 cumprem a condição |xn − a| < ε. Existindo então a ∈ R nas condições acima, escrevemos a = limxn = lim n→∞ xn. 3 Simbolicamente, escreve-se: a = limxn . ≡ . ∀ε > 0 ∃ n0 ∈ N; n > n0 =⇒ |xn − a| < ε. Observação: Notemos que |xn − a| < ε ⇐⇒ xn ∈ (a − ε, a + ε). Sendo assim, dizer que a = limxn significa afirmar que qualquer intervalo aberto de centro a contém todos os termos xn da sequência, salvo para um número finito de ı́ndices n (a saber, os ı́ndices n ≤ n0, onde n0 é escolhido em função do raio ε do intervalo dado). Observação: Quando uma sequência possui limite, dizemos que esta é convergente. Caso contrário, dizemos que a mesma é divergente. Exemplo 7: Considere a sequência (xn)n∈N, com xn = 1/n. Mostre que limxn = 0. Teorema 1 (Unicidade do limite): Uma sequência não pode convergir para dois limites distintos. (A demonstração pode ser vista em Análise Real, Volume 1, 2009; página 24). Teorema 2: Se lim xn = a, então toda subsequência de (xn) converge para o limite a. (A demonstração pode ser vista em Análise Real, Volume 1, 2009; página 24). Exemplo 8: Considere a sequência (xn)n∈N, cujo n-ésimo termo é xn = 1 + (−1)n+1. Podemos afirmar que (xn) é uma sequência convergente? Teorema 3: Toda sequência convergente é limitada. (A demonstração pode ser vista em Análise Real, Volume 1, 2009; página 24). Exemplo 9: Considere a sequência (xn), com xn = n. Podemos afirmar que (xn) é uma sequência convergente? 5. Sequência monótona Uma sequência (xn) é dita monótona quando, para todo n ∈ N, um dos casos abaixo se verifica: 4 1) xn ≤ xn+1, 2) xn+1 ≤ xn. No primeiro caso, dizemos que (xn) é uma sequência monótona não-decrescente. Já no segundo, dizemos que (xn) é monótona não-crescente. Se, para todo n ∈ N, tivermos a desigualdade estrita xn < xn+1, então diremos que a sequência (xn) é crescente. E, se xn+1 < xn, para todo n ∈ N, então (xn) será dita decrescente. Exemplo 10: Quanto a monotonicidade, o que se pode dizer das sequências (xn), cujo n-ésimo termo é dado a seguir: a) xn = n. b) xn = 1/n. c) xn = 0, se n é ı́mpar, e xn = 1, se n é par. Observação: Notemos que toda sequência monótona não-decrescente é limitada inferior- mente, enquanto que toda sequência monótona não-crescente é limitada superiormente. Teorema 4: Toda sequência monótona limitada é convergente. (A demonstração pode ser vista em Análise Real, Volume 1, 2009; página 25). Corolário (Teorema de Bolzano-Weierstrass): Toda sequência limitada de números reais possui uma subsequência convergente. (A demonstração pode ser vista em Análise Real, Volume 1, 2009; página 25). Exemplo 11: Segue direto do Teorema 4 que a sequência cujo n-ésimo termo é xn = 1/n é convergente, pois a mesma é monótona decrescente e limitada. 5 6. Limites e desigualdades Iniciamos essa seção fazendo o seguinte comentário: Dizer que os termos xn de uma sequência satisfazem uma propriedade P “para todo n suficientemente grande” equivale a afirmar que “existe n0 ∈ N tal que n > n0 =⇒ xn satisfaz P. Exemplo 1: Considere a sequência cujo n-ésimo termo é xn = 1/n. Podemos afirmar que “para todo n suficientemente grande” os termos xn são menores que 0, 01? Teorema 5: Seja a = lim xn. Se b < a, então tem-se b < xn, para todo n suficientemente grande. Analogamente, se a < b, então xn < b para todo n suficientemente grande. (A demonstração pode ser vista em Análise Real, Volume 1, 2009; página 26). Corolário 1: Seja a = limxn. Se a > 0, então, para todo n suficientemente grande, tem-se xn > 0 Analogamente, se a < 0, então xn < 0 para todo n suficientemente grande. Corolário 2: Sejam a = limxn e b = lim yn. Se xn ≤ yn para todo n suficientemente grande, então a ≤ b. Em particular, se xn ≤ b para todo n suficientemente grande, então a = limxn ≤ b. (A demonstração pode ser vista em Análise Real, Volume 1, 2009; página 26). Observação: Se tivéssemos a desigualdade estrita xn < yn no Corolário 2, podeŕıamos concluir que a < b? (Dica: Tome como exemplos as sequências xn = 0 e yn = 1/n). Teorema 6 (Teorema do sandúıche): Se lim xn = lim yn = a e xn ≤ zn ≤ yn para todo n suficientemente grande, então lim zn = a. (A demonstração pode ser vista em Análise Real, Volume 1, 2009; página 27). Exemplo 2: Considere a sequência cujo o n-ésimo termo é xn = 2cos(π/n) n . Mostre que limxn = 0. 6 7. Operações com limites Teorema 7: Se lim xn = 0 e (yn) é uma sequência limitada (convergente ou não) então lim(xn · yn) = 0. (A demonstração pode ser vista em Análise Real, Volume 1, 2009; página 27). Exemplo 3:Considere a sequência cujo o n-ésimo termo é xn = sen(n) n . Mostre que limxn = 0. Observação: Estejamos atentos às hipótese do Teorema 7, pois se limxn = 0, mas (yn) não é limitada, o produto xn · yn pode divergir (Tome como exemplo xn = 1/n e yn = n2). Ou pode ainda o produto xn · yn convergir para um valor qualquer (Tome xn = 1/n e yn = c · n). Teorema 8: Se lim xn = a e lim yn = b, então: 1. lim(xn ± yn) = a± b. 2. lim(xn · yn) = a · b. 3. lim xn yn = a b , se b 6= 0. (A demonstração pode ser vista em Análise Real, Volume 1, 2009; página 27). Teorema 9: Suponha que xn > 0 para todo n ∈ N e que lim(xn+1/xn) = a < 1. Então limxn = 0. (A demonstração pode ser vista em Análise Real, Volume 1, 2009; página 28). Exemplo 4: Utilize o Teorema anterior para concluir que lim n→∞ nk an = 0, se a > 1 e k ∈ N. 7 8. Limites infinitos Dada uma sequência (xn), dizemos que “o limite de xn é mais infinito”, e escrevemos limxn = +∞, para significar que, dado arbitrariamente A > 0, existe n0 ∈ N tal que n > n0 implica xn > A. Analogamente, dizemos que “o limite de xn é menos infinito”, e denotamos por limxn = −∞, quando, para cada A > 0 dado, podemos achar n0 ∈ N tal que n > n0 =⇒ xn < −A. Observação 1. Queremos enfatizar os seguintes pontos: I) Os śımbolos +∞ e −∞ não são números. II) Se limxn = +∞ e lim yn = −∞, as sequências (xn) e (yn) não são convergentes. Observação 2. Como consequência da definição acima, temos que limxn = +∞ se, e somente se, lim(−xn) = −∞. Sendo assim, limitaremos nossos comentários ao primeiro caso. Exemplo 1. Consideremos a sequência (xn), cujo termo geral é dado por xn = n 2. Mostre que limxn = +∞. Observação 3. Se limxn = +∞, então a sequência (xn) não é limitada superiormente. No entanto, a rećıproca dessa afirmação é falsa, ou seja, (xn) ilimitada superiormente não implica, necessariamente, em limxn = +∞. O exemplo abaixo mostra o que acabamos de afirmar na Observação 3. Exemplo 2. A sequência dada por xn = n + (−1)nn é, como podemos ver, ilimitada superiormente, porém, não se tem limxn = +∞, pois x2n−1 = 0 para todo n ∈ N. 8 Observação 4. A rećıproca da afirmação feita na Observação 3 é verdadeira se a sequência ilimitada superiormente é também não-decrescente. Em outras palavras, se (xn) é uma sequência não-decrescente, então (xn) ilimitada implica limxn = +∞. Exemplo 3. Dado a > 1, a sequência (a, a2, a3, . . . , an, . . . ) é não-decrescente e ilimitada superiormente. Logo, lim an = +∞. Teorema 1. (1) Se limxn = +∞ e (yn) é ilimitada inferiormente, então lim(xn+yn) = +∞. (2) Se limxn = +∞ e existe c > 0 tal que yn > c para todo n ∈ N, então lim(xnyn) = +∞. (3) Se xn > c > 0, yn > 0 para todo n ∈ N e lim yn = 0, então lim xn yn = +∞. (4) Se (xn) é limitada e lim yn = +∞, então lim xn yn = 0. Demonstração. A demonstração do teorema acima pode ser vista no livro (Análise Real, Volume 1, Elon Lages Lima), Caṕıtulo 3, página 31. Observação 5. As hipóteses feitas nas diversas partes do Teorema 1 têm por objetivo evitar algumas das chamadas “expressões indeterminadas”. I) No item (1) procura-se evitar a expressão +∞ − ∞. De fato, se limxn = +∞ e lim yn = −∞ nenhuma afirmação geral pode ser feita sobre lim(xn + yn), pois, a) Este limite pode não existir como no caso em que xn = n + (−1)n e yn = −n. b) Pode ser igual a +∞ se xn = 2n e yn = −n. c) Pode assumir um valor arbitrário c ∈ R se, por exemplo, xn = n+ c e yn = −n. Por causa desse comportamento errático, dizemos que +∞−∞ é uma expressão indeterminada. II) Nos itens (2), (3) e (4), as hipóteses feitas excluem os limites do tipo 0 ×∞, 0 0 e ∞ ∞ , respectivamente, os quais constituem expressões indeterminadas no sentido que acabamos de explicar. III) Outras expressões indeterminadas frequentemente encontradas são ∞0, 1∞ e 00. 9 Os limites mais importantes da Análise quase sempre se apresentam sob a forma de uma expressão indeterminada. Por exemplo, o número e = lim n→∞ ( 1 + 1 n )n é da forma 1∞. E como veremos mais adiante, a derivada é um limite do tipo 0 0 . Observação 6. Se k ∈ N e a > 1 é um número real, então lim n→∞ nk = lim n→∞ an = lim n→∞ n! = lim n→∞ nn = +∞. No entanto, como lim n→∞ nk an = lim n→∞ an n! = lim n→∞ n! nn = 0, segue-se que para valores muito grandes de n temos nk � an � n!� nn, onde o śımbolo � quer dizer “é uma fração muito pequena de” ou “é insignificante diante de”. Devido a Observação 6 dizemos que o crescimento exponencial supera o polinomial, o crescimento fatorial supera o exponencial com base constante, mas é superado pelo crescimento exponencial com base ilimitadamente crescente. Por outro lado, o crescimento de nk (mesmo quando k = 1) supera o crescimento logaŕıtmico, como mostraremos no exerćıcio abaixo. Exerćıcio 1. Mostre que lim n→∞ log n n = 0. 10
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