Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
gota Ívena Botelho Fiuza Produção de Ácido úrico: O ácido úrico não é um componente normal dos alimentos e costuma ser produzido no organismo a partir das purinas, bases nitrogenadas liberadas pelo catabolismo dos nucleotídeos (elementos que compõem o ácido nucleico). Existem dois tipos de base nitrogenada, as purinas e as pirimidinas; Purinas são em número de três: adenina, guanina e hipoxantina. A enzima xantina oxidase metaboliza a hipoxantina em xantina e, em seguida, em ácido úrico, sendo uma peça fundamental para a síntese deste metabólito. O alopurinol, por exemplo, age inibindo essa enzima. O ácido úrico então, sob a forma de urato, circula no sangue até ser eliminado do organismo. A maior parte das purinas é sintetizada pelo próprio organismo, a partir de açúcares e aminoácidos. Uma pequena parte é derivada das nucleoproteínas dos alimentos. Vias Metabólicas Eliminação do ácido úrico: cerca de 2/3 do ácido úrico produzido são eliminados pelos rins; e o 1/3 restante, pelo tubo digestivo. Nos rins, existem quatro etapas de manipulação do urato: (1) filtração: quase todo o urato é filtrado pelo glomérulo; (2) reabsorção pré-secretória: quase todo urato filtrado é reabsorvido na porção inicial do túbulo contorcido proximal pela proteína de membrana URAT1 (inibida pelo estrogênio – daí o efeito uricosúrico desse hormônio); (3) secreção tubular: após ser reabsorvido, 50% do total é secretado pelo carreador de ânions orgânicos do túbulo proximal; (4) reabsorção pós-secretória: boa parte do urato secretado é mais uma vez reabsorvido. O resultado do balanço das 4 etapas é a eliminação de 10% do urato filtrado no glomérulo. Isso equivale à quantidade de urato produzida diariamente pelo metabolismo. Excreção de Ác úrico: o organismo não é capaz de metabolizar o urato. Para a da homeostase de seu metabolismo, o urato deve ser eliminado pelos rins ou intestino. A excreção diária média através da urina é aprox de 450 mg, e a intestinal de 200 mg. Filtração Glomerular: apenas uma pequena % do Ac úrico circulante está ligado à proteína. Conclui-se, desta forma, que uma grande quantidade deste será filtrada pelos glomérulos diariamente. Apesar disto, o clearance do ácido úrico em adultos normais encontra-se em torno de 7-12% de toda a carga filtrada, justificado pelo fato de que cerca de 90% do urato filtrado sofre reabsorção tubular. A secreção de uratos no segmento S2 do túbulo proximal envolve mecanismos de troca de ânions. Essa secreção depende de transporte ativo secundário (envolve o co-trasporte de Na), que permite a excreção renal do ácido úrico e também de fármacos (aspirina, ATB e diuréticos). Desta forma, identificam-se situações de hiperuricemia por redução da secreção habitual de uratos por ação de alguns destes ácidos. Tenta-se explicar este mecanismo com a teoria de carreadores de ânions na membrana basolateral e, talvez, na membrana luminal. A concentração urinaria do ácido úrico é reflexo direto daquilo que acontece principalmente nos seguimentos S2 e S3 do túbulo proximal. Apenas 12% do ácido úrico filtrado aparecerão na urina. Transporte renal do ácido úrico gota Ívena Botelho Fiuza Causas de Hiperuricemia Primária e Secundária gota Ívena Botelho Fiuza Fisiopatologia Crise de Gota Ocorre o aumento dos níveis sanguíneos de ácido úrico (hiperuricemia.) Esta pode ser causada por deficiência da enzima uricase ou pela reabsorção renal aumentada do ácido úrico filtrado. O ácido úrico, então em excesso na corrente sanguínea, vai depositar- se em tecidos articulares, causando o processo inflamatório. O quadro clínico mais comum da gota é a artrite aguda, geralmente de uma só articulação e de preferência nos membros inferiores. 70% dos pacientes inicia com a inflamação do primeiro dedo do pé (hálux), quadro chamado podagra. Os episódios de artrite duram de 5 a 7 dias e podem ter resolução espontânea. Os períodos entre as crises são assintomáticos e podem durar de 6 meses a 1 ano. Se o paciente não tiver um tratamento adequado, as crises se tornam mais duradouras e frequentes, atingindo mais articulações e podendo levar a um quadro de poliartrite crônica. Organismos infectados se multiplicam em líquido e revestimento sinoviais. Algumas bactérias (p. ex., S. aureus) produzem fatores de virulência (adesinas), que permitem que as bactérias penetrem, permaneçam e infectem os tecidos articulares. Outros produtos bacterianos (p. ex., endotoxina de organismos Gram-negativos, fragmentos das paredes das células, exotoxinas de organismos Gram- positivos, complexos imunes formados por antígenos bacterianos e anticorpos hospedeiros) aumentam a reação inflamatória. Leucócitos polimorfonucleares (PMN) migram para a articulação e fazem a fagocitose dos organismos infectados. A fagocitose da bactéria também resulta em autólise PMN com liberação de enzimas lisossomais na articulação, o que prejudica sinóvia, ligamentos e cartilagem. Sendo assim, PMN é o maior sistema de defesa do hospedeiro e também a causa da lesão na articulação. A cartilagem articular pode ser destruída dentro de horas ou dias. Sinovite inflamatória pode, ocasionalmente, persistir até depois de a infecção ter sido erradicada por antibióticos. Particularmente nos casos gonocócicos, restos persistentes de antígenos de bactérias ou infecções podem alterar a cartilagem, tornando-a antigênica e, em conjunto com os efeitos adjuvantes de componentes bacterianos e complexos imunitários, pode desenvolver-se sinovite inflamatória crônica "estéril". Tof São aglomerados de cristais de ácido úrico depositados nos tecidos como, nódulos decorrentes do acúmulo de ácido úrico em tecidos extra-articulares : pavilhão da orelha; ponta do nariz; superfícies extensoras das articulações (cotovelos/pés/joelhos/mãos). A presença de tofos ocorre em quadros de longa duração, em torno de 5 a 10 anos, e, geralmente, aparecem em casos não tratados adequadamente. A hiperuricemia não tratada por longo prazo, pode causar formação e depósito de cristais de urato monossódico nas cartilagens, articulações, tendões e partes moles. A sede clássica (mas não a mais frequente) dos tofos é a hélice do pavilhão auricular externo. Os tofos são acúmulos de cristais de urato monossódico cercados por tecido granulomatoso. Muitas vezes os tofos se ulceram, eliminando uma substância de aspecto calcário ou pastoso, rica em cristais de urato monossódico. A identificação do sal monossódico na análise da secreção classifica o nódulo como tofo gotoso. Nos pacientes que apresentam grande número de tofos, as manifestações articulares parecem ser mais benignas e menos frequentes. Em casos raros, a gota tofosa crônica se manifesta antes da crise gotosa aguda. Eventualmente, os tofos se desenvolvem em órgãos; o principal exemplo é o interstício renal (esse é o mecanismo da nefropatia crônica por urato). Os tofos, assim como as manifestações articulares, tendem a regredir completamente com o tratamento adequado contra a hiperuricemia Artrite Tofácea Crônica Os cristais de urato monossódico podem causar nefropatia pela deposição no parênquima renal sob a forma de tofos, provocando distorção, destruição e fibrose. O resultado é a insuficiência renal crônica de lenta progressão. Provavelmente, trata-se de uma causa rara de nefropatia crônica, e, na verdade, a maioria dos pacientes com gota tem história de hipertensão e síndrome metabólica, já possuindo risco de nefropatia hipertensiva e/ou diabética. - Dano renal agudo: precipitação de cristais de ácido úrico nos túbulos distais ou ductos coletores; Causas comuns: superprodução e superexcreção (síndrome de lise tumoral, neoplasias hematológicas); Grande elevação do ácido úrico (>15 mg/dL). - Dano renal crônico: depósito de cristais de urato no insterstício medular do rim; Resposta inflamatória crônica -> fibrose intersticial -> DRC. - Nefrolitíase: formação de cálculos de ácidoúrico no sistema urinário. Fatores predisponentes: gota, aumento de fração excretada, aumento da produção, diarréia crônica (urina ácida pela perda intestinal de bicarbonato), DM tipo 2 (síndrome metabólica). Cálculo de ácido úrico: radiolucente (mais visível na TC) Nefropatia Gota Exame do líquido sinovial: o derrame articular da OA é do tipo não inflamatório, com menos de 2.000 leucócitos/mm3, predominando as células mononucleares, com glicose normal. Análise do líquido sinovial: pacientes com suspeita de artrite gotosa aguda devem ser submetidos a análise da artrocentese e do líquido sinovial na apresentação inicial. Uma recidiva típica em paciente sabidamente com gota não obriga à artrocentese, mas ela deve ser realizada caso haja alguma dúvida diagnóstica ou se os fatores de risco do paciente ou qualquer característica clínica sugerir artrite infecciosa. Líquido Sinovial em um ataque de gota gota Características do líquido: - Translucente e opaco - Amarelo - Baixa Viscosidade - Presença de leucócitos (10.000 a 100.000 células/mm3, com predomínio neutrofílico - Cultura e gram negativos - Presença de cristais de monourato de Na A análise do líquido sinovial pode confirmar o diagnóstico pela identificação de cristais de urato negativamente birrefringentes e em forma de agulha que estejam livres no líquido ou envolvidos pelos fagócitos. Durante as crises, o líquido sinovial tem características inflamatórias, geralmente 2.000 a 100.000 leucócitos/μL, com > 80% polimorfonucleares. Tais achados se sobrepõem consideravelmente à artrite infecciosa, a qual pode ser excluída pela coloração de Gram (que não é sensível) e cultura. Os achados do líquido sinovial de derrames crônicos costumam ser diagnósticos. Pseudogota e Condrocalcine Cristais de pirofosfato de cálcio (pseudogota); artropatia por pirofosfato de cálcio (pseudogota, condrocalcinose etc.). O depósito intra-articular de pirofosfato de cálcio ocorre mais frequentemente em mulheres (3:1) e indivíduos de mais idade (> 60 anos), e se caracteriza clinicamente pelo desenvolvimento de artropatia inflamatória aguda ou crônica. A forma aguda dessa artrite é conhecida como Pseudogota. A deposição de cálcio nos meniscos e na cartilagem articular adquire padrão linear ou pontilhado, sendo denominado condrocalcinose. Estudos radiológicos mostram que esses achados são mais comuns do que se pensava: 15% dos pacientes entre 65-75 anos e > 50% daqueles acima de 85 anos e, portanto, na maioria das vezes são assintomáticos. Os cristais de pirofosfato de cálcio são morfologicamente diferentes dos de urato monosódico, visto que não são digeridos pela uricase e se apresentam com uma birrefringência positiva fraca à luz de microscopia polarizada compensada, portanto, diferente dos cristais de urato que exibem uma birrefringência negativa forte. Diferenças entre criais Forma Aguda: Pseudogota Ocorre em 25% dos pacientes. O início é súbito, atingindo seu pico geralmente em 24 horas, e se caracterizando pelo desenvolvimento de sinais francos de inflamação nas articulações envolvidas. De modo geral, a crise aguda compromete apenas uma articulação, mas em alguns pacientes pode evoluir rapidamente para um processo poliarticular. O joelho é o local mais frequentemente acometido, embora as outras articulações principais (punho, tornozelo, cotovelo, quadril, coluna etc.) também possam estar envolvidas. A pseudogota também pode se relacionar a fatores precipitantes (como traumatismos, pós- operatório e doenças clínicas agudas), lembrando bastante a crise gotosa aguda. Em geral, os episódios de artrite são intermitentes, sendo a mesma articulação afetada em crises subsequentes. Febre e leucocitose podem estar presentes. A artrocentese revela um líquido hemorrágico e inflamatório (semelhante ao da gota). A crise tende a permanecer por uma a duas semanas. A maioria dos pacientes com pseudogota apresenta evidências radiológicas de condrocalcinose. O termo condrocalcinose é utilizado para denominar o depósito daqueles cristais (calcinose) na cartilagem articular (condro), e que pode ser visível em radiografias da articulação. Desta forma, a condrocalcinose é vista comumente nas radiografias de pacientes com pseudogota.
Compartilhar