Prévia do material em texto
FACULDADE ITAQUÁ – FOCCUS EDUCACIONAL em parceria com a FUNDAÇÃO RANCHO GG Centro de Treinamento, Pesquisa e Ensino da Equoterapia EQUOTERAPIA NA DEPENDÊNCIA QUÍMICA Myrthes Maria Matos Dantas POÇOS DE CALDAS/MG 2018 FACULDADE ITAQUÁ – FOCCUS EDUCACIONAL em parceria com a FUNDAÇÃO RANCHO GG Centro de Treinamento, Pesquisa e Ensino da Equoterapia EQUOTERAPIA NA DEPENDÊNCIA QUÍMICA Myrthes Maria Matos Dantas Monografia apresentada ao Curso de PÓS GRADUAÇÃO em Equoterapia, requisito obrigatório para obtenção do título de Especialista. Aluna: Myrthes Maria Matos Dantas Orientadora: Gabriele Brigite Walter Dedico este trabalho ao Cássio Alexandre Dantas, que me apresentou e me ensinou a amar os cavalos e a Equoterapia. À Cláudio Henrique Matos Moraes (in memorian) AGRADECIMENTOS A Deus. À minha família, pelo apoio incondicional. A Edgard Feresin, pela acolhida e generosidade durante o estágio. À Gabriele, pela compreensão e ensinamentos valiosos. Não há mal da alma que montar não acalme. Antônio Azevedo RESUMO O presente estudo, de caráter bibliográfico, permitiu identificar a dependência química como fenômeno complexo que envolve vários aspectos que extrapolam o uso da substância em si. Pode-se constatar que as drogas atuam de forma diferenciada no sistema de prazer ou de recompensa dos indivíduos, sendo muitos os neurotransmissores e moduladores que influenciam esse sistema. Entendeu-se a equoterapia como uma possibilidade de tratamento, visto que os movimentos realizados pelo cavalo têm reflexos no corpo do praticante, e as intervenções estimulam o Sistema Nervoso Central, tendo por consequência a ativação do mecanismo da neuroplasticidade. Considerando-se os múltiplos recursos oferecidos pelo cavalo, bem como a variedade de atividades que a equipe de equoterapia pode selecionar para aplicação no tratamento, foi possível concluir pela aplicabilidade do método no tratamento da dependência química, pelas alterações na produção dos neurotransmissores do praticante. Palavras-chave: Equoterapia; Dependência Química; Neuroplasticidade. ABSTRACT The present study, of a bibliographic character, allowed to identify the chemical dependency as a complex phenomenon that involves several aspects that extrapolate the use of the substance itself. It can be observed that drugs act differently in the pleasure or reward system of individuals, with many neurotransmitters and modulators influencing this system. The equine therapy was understood as a possibility of treatment, since the movements performed by the horse have reflexes in the body of the practitioner, and the interventions stimulate the Central Nervous System, having as consequence the activation of the neuroplasticity mechanism. Considering the multiple resources offered by the horse, as well as the variety of activities that the team of equine therapy can select for application in the treatment, it was possible to conclude by the applicability of the method in the treatment of chemical dependence, by the changes in the production of the neurotransmitters of the practitioner. Keywords: Equine therapy; Chemical Dependency; Neuroplasticity. SUMÁRIO INTRODUÇÃO 07 1 A DEPENDÊNCIA QUÍMICA 09 2 SOBRE OS NEUROTRANSMISSORES 14 3 CONSIDERAÇÕES SOBRE EQUOTERAPIA 20 4 A EQUOTERAPIA NO TRATAMENTO DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA 23 5 CONCLUSÃO 30 REFERÊNCIAS 31 LISTA DE FIGURAS Figura 1: Fatores que influenciam no desenvolvimento da dependência química ....09 Figura 2: Vias Dopaminérgicas .................................................................................10 Figura 3: Tripé da equoterapia ..................................................................................20 Figura 4: representação gráfica do “bem estar” ........................................................21 Figura 5: representação gráfica do engajamento.......................................................25 7 INTRODUÇÃO A OMS – Organização Mundial de Saúde define droga como qualquer substância que altera o funcionamento do organismo e que não seja produzida por ele. As drogas psicotrópicas são o objeto do presente estudo, ou seja, aquelas capazes de alterar o funcionamento mental ou psíquico, especificamente as que podem causar dependência, por isso chamadas drogas de abuso (BRASIL, SENAD, 2012). Fenômeno complexo, a dependência química apresenta vários fatores que vão além do uso da substância em si, envolvendo questões internas e externas ao indivíduo, além de fatores sociais, culturais e políticos, tendo se tornado tal fenômeno um problema social e de saúde pública, devido ao crescente número de usuários, que inclui jovens, crianças e adultos, independente de raça, religião, cultura ou posição social. O uso e o abuso das drogas, pelos transtornos que causam, tornaram a questão do tratamento do usuário um problema de difícil solução, daí a importância de estudos que possam contribuir para o tratamento. Muitos fatores podem levar uma pessoa a recorrer ao uso de drogas, dentre eles problemas emocionais, o prazer proporcionado pela substância, a minimização de sofrimentos e angústias, entre outros. As consequências negativas do uso de drogas para o usuário, quer sejam físicas, psíquicas, sociais ou familiares, exigem a identificação de fatores de risco que, conhecidos, devem ser considerados no planejamento de estratégias de prevenção e tratamento. Entre os fatores de risco para o uso de drogas estão os ambientais, pela grande disponibilidade de substâncias; familiares, que relacionam-se ao uso de drogas pelos pais, conflitos, precariedade da estrutura familiar e situações estressantes, entre outros; e os fatores individuais, que podem incluir a “filosofia de vida”, características de personalidade, como agressividade, baixa autoestima, impulsividade, etc., ou transtornos psiquiátricos. Entende-se que a dependência química afeta tanto a função cerebral quanto o comportamento do indivíduo, o que torna a equoterapia uma opção adequada de tratamento porque, ao se alterar os neurotransmissores produzidos pelo indivíduo, por intermédio da utilização dos recursos que o cavalo oferece, podem-se alterar atitudes e comportamentos, conforme é objetivo desse estudo demonstrar. 8 A constatação, na prática profissional como psicóloga, de que o tratamento da dependência química é permeado por recaídas, e que, muito além da abstinência, em geral exige do indivíduo a retomada de funcionamento produtivo no âmbito familiar, profissional e social, justifica o presente estudo, que, espera-se, possa ser útil para a prática na clínica psicológica com dependentes. A metodologia utilizada é a revisão bibliográfica, que, como descreve Gil (2010, p. 29) é “[...] elaborada com base em materiais já publicados” e inclui a análise de materiais impressos como livros, revistas, teses e demais materiais de origem científica disponíveis nos diversos meios de divulgação, conforme indica Severino (2007), para quem este tipo de pesquisa utiliza registros de pesquisas anteriores em seus diversos formatos. O primeiro capítulo aborda a dependência química, do ponto de vista neurocomportamental, destacando a atuação das substâncias psicoativas no sistema nervoso central do indivíduo. O segundo capítulo descreve os neurotransmissorese sua ação no organismo humano, seguindo-se o terceiro capítulo, no qual são tecidas considerações sobre a equoterapia como técnica complementar no tratamento da dependência química. O quarto e último capítulo apresenta os recursos do cavalo que podem ser utilizados no tratamento da dependência química, descrevendo como o uso de tais resultarão em reações ou alterações na produção dos neurotransmissores. Conclui-se que a ação dos neurotransmissores, potencializada pela equoterapia, vai se refletir no estado emocional, no aprendizado, no comportamento e na memória do indivíduo, contribuindo para a recuperação, reabilitação e inserção social do dependente químico. 9 CAPÍTULO 1 A DEPENDÊNCIA QUÍMICA A dependência de drogas pode ser vista como uma alteração neurobiológica com origem na ação direta de uma substância psicoativa no encéfalo, que envolve aspectos ambientais, comportamentais e genéticos, e, embora sejam muitas as teorias sobre o tema, é possível identificar entre os fatores que influenciam a dependência química o componente genético, o meio ambiente, as condições de desenvolvimento e maturação do sistema nervoso central, bem como a personalidade e o comportamento (KESSLER; VON DIEMEN; PECHANSKY, 2003). Figura 1: Fatores que influenciam no desenvolvimento da dependência química. Fonte: NUTE- UFSC (2016). Várias são as hipóteses neurocomportamentais para explicar a dependência química, entre elas o reforço positivo (Wise, 1988); o reforço negativo (Wise, 1988; Koob, 2009); o aprendizado associativo (Dia Chiara et al, 1999); o aprendizado habitual (Everitt & Robbins, 2005); a perda do controle inibitório sobre o uso da droga (Goldstein & Volkow, 2002); e a saliência de incentivo, proposta por Robinson & Berridge em 1993, hipóteses essas todas válidas e que muito contribuíram para o desenvolvimento da compreensão sobre a dependência química. Nesse sentido é importante destacar as explicações dadas por Oliveira Lima (2011, p. 23): 10 Segundo a hipótese do reforço positivo, todas as drogas de abuso possuem propriedades reforçadoras positivas intrínsecas, capazes de promover estados afetivos positivos, como euforia e prazer. Esses efeitos promovidos pelas drogas de abuso, por sua vez, seriam responsáveis pelo uso e busca pela droga (Wise, 1988). Conforme revisado por Koob (2000), tanto a iniciação do abuso de drogas como a vulnerabilidade para as recaídas estão claramente relacionadas às propriedades reforçadoras positivas das drogas. As drogas de abuso estimulam, cada uma à sua maneira, uma mesma região cerebral que é o sistema de recompensa cerebral, assim compreendido o sistema mesolímbico-mesocortical que é formado pela área tegmental ventral (ATV), a amígdala, o núcleo accumbens, o córtex pré-frontal, o hipocampo, o giro cíngulo e o córtex orbitofrontal, como se vê: Figura 2. Vias Dopaminérgicas - Fonte: http://i.imgur.com/fu8gx78.jpg Esse sistema, quando conhecido e compreendido, pode contribuir para o desenvolvimento de alternativas eficazes de tratamento da dependência química, pois tal conhecimento permite entender os mecanismos fisiopatológicos envolvidos na síndrome de abstinência. Assim, é importante saber que a dopamina é liberada por meio de um estímulo que produz bem estar, iniciando-se assim, a ativação do sistema, que, a partir daí passa ao núcleo accumbens, onde as projeções dopaminérgicas da ATV são ativadas, tornando-se responsável pela identificação de estímulos ambientais de reforço positivo. A partir daí a amígdala associa o evento motivacional e os estímulos ambientais, sendo o córtex pré-frontal e o giro do cíngulo ativados por eventos motivacionais importantes, definindo o momento em que a resposta motivacional ocorrerá e qual será a sua intensidade (SCHWIDERSKI, 2014). http://i.imgur.com/fu8gx78.jpg 11 Schwiderski (2014) afirma que a amígdala, massa esferoide de substância cinzenta tem, aproximadamente, 2 cm de diâmetro, situa-se no polo temporal do hemisfério cerebral, compondo o sistema límbico e é responsável pela resposta emocional diante de um determinado evento. O mesmo autor descreve o hipocampo como uma elevação curva e muito pronunciada que se localiza acima do giro para-hipocampal e se constitui de um tipo de córtex muito antigo, exercendo funções psíquicas relacionadas ao comportamento e à memória (SCHWIDERSKI, 2014). O córtex pré-frontal responsabiliza-se pelas funções psíquicas superiores, tais como controle e planejamento, enquanto o giro do cíngulo faz conexões com variadas estruturas do sistema límbico, regulando a atividade cognitiva e emocional. Por fim, tem-se a região do córtex orbitofrontal que participa do controle do impulso e tomada de decisão (SCHWIDERSKI, 2014). Quando ocorre a liberação da dopamina a partir da ATV por meio de um estímulo capaz de provocar a sensação de bem estar, inicia-se a ativação do sistema por meio do núcleo accumbens que recebe as projeções dopaminérgicas da ATV. Tal área, ativada, responsabiliza-se pela detecção dos estímulos de reforço positivo emanados do ambiente. Sequencialmente a amígdala associa o evento motivacional aos estímulos ambientais, o que ativa o córtex-pré-frontal e o giro do cíngulo, definindo o momento em que a resposta motivacional vai ser emitida e qual será a sua intensidade (SCHWIDERSKI, 2014). Os mecanismos fisiopatológicos envolvidos na síndrome da dependência, quando compreendidos por meio da análise das estruturas e do funcionamento do sistema de recompensa, contribuem para o desenvolvimento de alternativas mais eficazes para o tratamento da dependência química. A dopamina é o principal neurotransmissor do sistema límbico, onde está localizado o sistema de recompensa, entretanto, além dos estímulos prazerosos como o alimento e o sexo, por exemplo, ela sinaliza também os estímulos aversivos, como a percepção do perigo e o medo, assim a dopamina é a principal sinalizadora do ambiente para o indivíduo, chamando-lhe a atenção para as ocorrências mais significativas (YOUNG; YOUNG, 1997). Estudos têm responsabilizado a dopamina pela regulação de atividades frontais como a motivação e algumas funções executivas, além das atividades não pré-frontais como as de recompensa ou de previsão de recompensa, memória de 12 longo prazo e aprendizado. Entretanto, a memória de curto prazo, também chamada de memória operacional, é estabelecida pelo córtex pré-frontal e tem suas variadas modalidades comprometidas pelos efeitos crônicos da dependência química, tanto agudos quanto crônicos, o que prejudica, principalmente, o comportamento do dependente no que se relaciona às suas funções executivas, diminuindo sua capacidade de engajamento em comportamentos orientados a objetivos e precarizando sua capacidade de agir de forma auto-organizada e voluntariamente (YOUNG;YOUNG, 1997). Os níveis de dopamina, elevados pela ação da droga, tendem a prejudicar ou destruir as seguintes áreas cerebrais: o giro anterior cingulado que comanda a atenção e controla a impulsividade; o córtex pré-frontal orbital que media a tarefa de avaliar o estímulo ambiental e o córtex pré-frontal lateral dorsal que administra as funções executivas e decisórias. Assim, pode-se observar que os sintomas clínicos da dependência correspondem ao comprometimento progressivo dessas regiões cerebrais, cada uma delas complementando a outra, de forma que no início da dependência, quando os danos provocados pela dopamina ainda não atingiram grande extensão, o indivíduo possui algum controle sobre suas ações, o que vai se modificando à medida que o uso tem continuidade, devido à progressiva destruição desse sistema, de forma que em estágios mais avançados da dependência o indivíduo apresenta maior dificuldade para dominar o seu poder deescolha. (DIAS; PINTO, 2006). Embora se possa classificar as drogas em três tipos, conforme sejam estimulantes, depressoras ou perturbadoras do Sistema Nervoso Central, é importante destacar que tal classificação é meramente pedagógica, visto que seus efeitos podem se mesclar entre as classes, alterando o humor e as funções cerebrais ao estimularem o núcleo accumbens, e, como já descrito, aumentando a produção de dopamina na região (DIAS; PINTO; 2006). Entre as características comuns das várias drogas de abuso, assim chamadas por apresentarem propriedades comuns, embora tenham alguns efeitos distintos, temos: a capacidade de gerar reforço, sendo capazes de manter, sustentar ou aumentar a possibilidade de ocorrência de comportamentos comuns quando do uso; a neuroadaptação, que é a capacidade de induzir alterações no Sistema Nervoso Central com o uso crônico, o que leva o organismo a agir como se a droga fizesse 13 parte da sua condição natural, acostumando-se com sua presença (LONGENCKER, 2002). Isso posto, e compreendida a importância da ação dos neurotransmissores no estabelecimento da dependência química, segue-se breve explanação sobre os principais neurotransmissores em ação no organismo humano. 14 CAPÍTULO 2 SOBRE OS NEUROTRANSMISSORES Algumas características específicas devem estar presentes em uma droga, para que a dependência se instale, quais sejam o alívio da dor ou a produção de um estado de espírito agradável, além de terem um efeito rápido, porque, caso não o seja, o indivíduo não o associará à droga consumida. As drogas capazes de produzir a euforia ou aliviar a dor atuarão de forma diferenciada no sistema de prazer ou de recompensa, liberando dopamina. Muitos outros neurotransmissores e moduladores influenciarão esse circuito, assim: O circuito de recompensa cerebral tem a função biológica de manter a sobrevivência da espécie, ou seja, a lembrança de onde há alimentos e parcerias sexuais. Cada vez que é estimulado, esse circuito manda mensagens para a amígdala, que classifica o estímulo como “bom” e, por sua vez, manda estímulos para áreas relacionadas à memória. Fica então memorizado onde há alimento e possibilidade de reprodução, com todo s os detalhes do ambiente que cerca o estímulo. (DIEHL; CORDEIRO; LARANJEIRA, p. 26) Conhecer esse fenômeno se torna essencial porque a droga subverte a função do circuito, o ambiente onde é consumida é fixado na memória do indivíduo e é provável que tal memória se torne permanente, exigindo, para tratamento, a substituição dessa memória por outras. São muitos os neurotransmissores que influenciam o sistema de recompensa, entre eles os que se lista a seguir. Adrenalina A adrenalina, que também é conhecida como epinefrina, é um hormônio secretado pelas glândulas suprarrenais cuja função principal é preparar o corpo para um esforço físico, a exemplo do que ocorre quando se faz movimentos que exigem reflexos rápidos, como correr, pular, etc. Estimula o coração, a vaso constrição, eleva a pressão arterial, liberando a glicose armazenada no fígado e relaxa alguns músculos ao mesmo tempo em que contrai alguns outros (DA POIAN; CARVALHO-ALVES, 2006) 15 A adrenalina tem efeito sobre o sistema nervoso simpático e, ao ser jogada no sangue, dilata as artérias aumentando o fluxo sanguíneo nos músculos; para uma melhor oxigenação do sangue os pulmões aumentam o seu trabalho, o que pode tornar a respiração curta e rápida, ocorrendo também o aumento do suor para dissipar o calor acumulado no corpo. Entre os seus principais efeitos estão o aumento dos batimentos cardíacos, a dilatação dos brônquios e pupilas, a vaso constrição. O principal desempenho da adrenalina é a resposta ao estresse, tal como a ameaça física, a luz intensa, o barulho ou ameaça física, por exemplo. (DA POIAN; CARVALHO-ALVES, 2006). Beta-endorfina e Endorfina Beta-endorfina é um neurotransmissor endógeno que pode ser encontrado no sistema nervoso central, tanto quanto no sistema nervoso periférico e tem como efeitos principais, ao cair na corrente sanguínea, a diminuição da sensação de dor, o relaxamento e sensação de bem-estar. Tem efeitos anestésicos viciantes, análogos à codeína e morfina, apresentando potente atividade opióide (CUNHA; RIBEIRO; OLIVEIRA, 2008) Entre outras funções, a beta-endorfina atua como protetor cardíaco - o músculo cardíaco não suporta uma descarga repentina de adrenalina, assim, quando vai liberar adrenalina o organismo libera, segundos antes, a beta-endorfina, para preparar o músculo cardíaco para a descarga a seguir (WALTER, 2016). Produzida pela glândula hipófise, a endorfina tem potente ação analgésica e quando liberada estimula a sensação de bem estar, conforto, melhora do humor e alegria. Também responsável pela resposta do corpo à tensão, regula algumas funções do sistema nervoso autônomo, como por exemplo, as contrações da parede intestinal (YOUNG; YOUNG, 1997). Considerada um analgésico natural a endorfina reduz o estresse e a ansiedade, alivia tensões e regula tanto a emoção quanto a percepção da dor. É composta por 31 aminoácidos, sendo produzida durante a atividade física e o orgasmo, com o objetivo de relaxar e dar prazer (CUNHA; RIBEIRO; OLIVEIRA, 2006). Estudos recentes afirmam que a endorfina pode atuar tanto sobre áreas cerebrais responsáveis pela modulação da dor, depressão ou humor, quanto na 16 inibição do sistema nervoso simpático que modula órgãos como o coração e o intestino (CUNHA; OLIVEIRA, 2006). Dopamina A dopamina tem participação essencial na busca dos estímulos que causam o prazer tais como a alimentação, o relaxamento, o sexo, entre outros. Atua diretamente no sistema de recompensa – ao receber o reforço positivo da recompensa, obtido por meio das experiências, o organismo tende a buscá-las repetidas vezes, criando-se uma memória específica para tal, o que torna o sistema de recompensa um importante mecanismo de autopreservação. A dopamina sinaliza também, além dos estímulos prazerosos, estímulos aversivos como o medo, e a percepção do perigo, o que a torna sinalizadora do ambiente para a pessoa. (LONGENCKER, 2002). Segundo Silva (2010), níveis elevados de dopamina, promovidos pela ação das drogas, provocam prejuízos nas áreas cerebrais: Giro Anterior Cingulado, responsável pela atenção e regulação da impulsividade; Córtex Pré-frontal Orbital, que media a tarefa de avaliar os estímulos recebidos do ambiente e Córtex Pré-frontal Lateral Dorsal, que comanda as funções executivas e decisórias. Tais regiões cerebrais, quando pouco comprometidas, ainda nos estágios iniciais da dependência, permitem algum controle do indivíduo sobre suas ações. Entretanto, o uso contínuo pode levar à destruição progressiva desses sistemas, de forma que o indivíduo venha a perder seu poder de escolha. A dopamina também regula os hormônios sexuais – quando abaixa, os hormônios sexuais também entram em desequilíbrio. Quando a dopamina está baixa a pessoa fica com baixa autoestima, o que acontece com muita frequência na mulher e no idoso (de ambos os sexos). A dopamina alta pode levar a pessoa à prepotência e também funciona para reposição hormonal, o que torna a equoterapia muito útil na menopausa e na andropausa (WALTER, 2016). Oxitocina Se a dopamina é o neurotransmissor do bem estar pessoal, a oxitocina é o neurotransmissor do bem estar social. Todo animal que vive em grupo precisa da oxitocina para se relacionar de forma adequada. É tão importante no organismo que 17 todos os órgãos dos sentidos se juntam para produzir a oxitocina. Exemplo: escutar a voz de um ente querido libera oxitocina no organismo e dá sensação de bem estar. O caminhoneiro coloca fotoda família no painel porque olhar a família dá sensação de bem estar (WALTER, 2016). Segundo Walter (2016), o olfato ajuda a liberar oxitocina - a casa, os eventos familiares, as situações, têm cheiros. Alguns evocam situações desagradáveis, mas esses, geralmente, o cérebro apaga. Walter (2016) afirma, ainda, que o que mais libera oxitocina é o abraço. No caso do autista, por exemplo, o abraço, ao contrário, em alguns casos, produz cortisol pela aversão tão grande que sente. A oxitocina é essencial para a sobrevivência, visto que o homem é animal social. A oxitocina é tão agradável que a maioria dos dependentes químicos busca é por ela. A ocitocina é produzida no hipotálamo e sua ação relaciona-se à diminuição da agressividade; à melhora da interação social; à diminuição da ansiedade e ao aumento da ligação entre parceiros, conforme afirmam Campos e Graveto (2010, p. 126): À parte dos efeitos no comportamento social, a oxitocina tem um papel significativo no sistema límbico, incluindo a amígdala e redução da ansiedade e da resposta neuroendócrina ao stress em interações sociais. Assim, a hormona neuropeptídea é importante no stress social e interações sociais e, por sua vez, uma atividade desregulada pode ser associada a patologias mentais (HEINRICHS; DAWANS; DOMES, 2009). Os autores relacionam como evidências científicas da influência da ocitocina no comportamento humano, entre outros, os estudos de Turner et al (1999) que comparou os níveis de ocitocina em mulheres submetidas a três intervenções distintas (aplicação de massagem relaxante; indução de uma emoção positiva e indução de uma emoção negativa), constatando que tanto a massagem relaxante quanto a indução de emoção positiva ocasionaram aumento nos níveis de ocitocina, tendo, no caso da indução de emoção negativa ocorrido o inverso, com a inibição da liberação de ocitocina (CAMPOS; GRAVETO, 2010). Segundo Campos e Graveto (2010), a ocitocina atua como neurotransmissor modulador de comportamentos essenciais para o estabelecimento e manutenção de vínculos sociais e amorosos. 18 Mescalina É o neurotransmissor da imaginação, da fantasia, da criação. Só se consegue imaginar um problema e fazer uma pergunta sobre ele porque está presente a mescalina. Achar uma piada engraçada, por exemplo, exige a ação da mescalina. Um autista, por exemplo, não tem mescalina de forma adequada, e, portanto, não entende uma piada. A mescalina é necessária o tempo todo, sob pena de não se conseguir pensar em nada, pois o pensamento começa pela mescalina. É fortemente liberada em situação de tédio (WALTER, 2016). Segundo Nascimbem, Barreto e Correia (2006) a mescalina atua sobre os receptores da dopamina do tipo 5-HT2 que mediam “[...] muitos processos fisiológicos importantes, como contração vascular e não vascular do músculo liso, humor, ansiedade e comportamento alimentar”. Entre os efeitos positivos da mescalina no organismo encontram-se, segundo Da Fonseca Gil, Venâncio Gimenez e Borda de Sauez (2014, p.5): [...] sentimento de introspecção, risadas, euforia, sensações mais felizes e de estar sonhando, sensações de esperança e rejuvenescimento, alucinações visuais de olhos abertos e fechados, aumento da energia corporal (estimulante), brilho mais intenso das cores, sinestesia (consiste na mistura entre os sentidos sensoriais), tato mais intenso, aumento da percepção espiritual e experiências esotéricas profundas. Melatonina Ligada ao ciclo cicardiano, que se refere à forma como o organismo organiza suas funções quando se está acordado e quando se dorme, a melatonina começa a ser produzida na glândula pineal ao escurecer do dia, para preparar o organismo para o sono. Ao romper do dia, com a volta da claridade, a produção, que atinge seu nível máximo durante o sono, é reduzida, de forma a sinalizar o momento de acordar. Como regula as funções do sono em todo o organismo, os demais órgãos do corpo, em sua maioria, possuem receptores para ela (SOUSA NETO, CASTRO, 2008). A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia emitiu posicionamento a respeito da melatonina, no qual esclarece que: [...] por ser um importante agente regulador do ciclo vigília-sono (mas não só, também como um agente antioxidante, antiamiloidogênico, neurotrófico e 19 neuroplástico) é usado como um coadjuvante terapêutico em doenças neurológicas e degenerativas (como doenças do espectro do autismo, síndrome de déficit de atenção e hiperatividade, Smith- Magenis, etc) que resultam em distúrbios do sono e dos ritmos biológicos circadianos. Particularmente, em relação a esses últimos, a melatonina é vista como um poderoso cronobiótico, isto é, um agente capaz de sincronizar circadianamente muitas funções do organismo. Por isso tem, também, sido usada na correção dos distúrbios causados pelo "jet-lag". (SBEM-AMB, 2017, p. 2) Como se vê a ação dos neurotransmissores reflete-se, de maneira geral, no estado emocional, comportamental e no aprendizado e memória dos indivíduos, o que os torna componentes importantes para o funcionamento organismo como um todo. Como são os responsáveis pela transmissão dos impulsos nervosos de uma célula à outra, distúrbios de produção (excesso ou deficiência) ou deficiências na recaptação, destruição ou escassez de receptores podem provocar diferentes sintomas, variáveis conforme seja o neurotransmissor, a região do encéfalo envolvida ou o mecanismo afetado (YUDOFSKY; HALES, 2006). A vulnerabilidade dos indivíduos em dependência química pode ser atenuada por meio de diversas técnicas e recursos variados, sendo indicado que o tratamento vá além da simples desintoxicação, passando, entre outros, pelos serviços de psicoterapia, terapia ocupacional e assistência social. Nesse sentido, e considerando que o tratamento do dependente químico passa por diversas fases, passa-se a seguir, a discorrer sobre uma técnica que pode contribuir para o tratamento da dependência química, que é a Equoterapia. 20 CAPÍTULO 3 CONSIDERAÇÕES SOBRE EQUOTERAPIA Também conhecida internacionalmente como terapia assistida por equinos, a equoterapia é um método terapêutico, portanto, tem regras; é um método terapêutico holístico, portanto, aborda o todo, e não a patologia – atende um ser humano que tem uma patologia; tem como vantagem trabalhar com o movimento, pois o movimento libera sentimento; é importante que se observe que o movimento provoca uma “vinda à tona” dos sentimentos que se encontram “decantados na alma”. Assim, holístico indica que se trabalha o ser humano como um todo – corpo físico, emocional, intelectual e social (WALTER, 2016, anotações de aula). A equipe que trabalha com equoterapia deve ter conhecimento aprofundado sobre o cavalo, incluindo alimentação, condução, entre outras informações. O praticante é o sujeito ativo da equoterapia, só se tornando praticante em sua relação com o cavalo. O tripé da equoterapia pode ser assim representado, segundo Walter (2016, anotações de aula): Cavalo (treinado para equoterapia)/praticante Família Equipe (bem treinada) Figura 3: Tripé da equoterapia (Walter, 2016, anotações de aula). A equoterapia utiliza os recursos do cavalo, ser vivo que faz parte da equipe e cujo conhecimento a seu respeito exige saber os recursos que oferece, além do conhecimento sobre seus movimentos (WALTER, 2016). A utilização dos recursos do cavalo na equoterapia se dá em uma abordagem interdisciplinar, com montaria ou não, sendo imprescindível olhar o praticante como um todo; e, para isso, a equipe precisa ter alguém que compreenda o físico (capacidade motora), o psicológico (emoção), o intelectual (aprendizagem), social (família) etc. O intelecto trabalha-se com o pedagogo, que não vai ensinar a ler e 21 escrever,mas preparar para que a escola o faça. A equipe deve trabalhar com coesão e não se devem fazer sessões com apenas um dos profissionais. Busca-se o desenvolvimento biopsicossocial do sujeito (WALTER, 2016). Incontestável que cada ser humano tem suas próprias características, entretanto, todas as pessoas têm características comuns, que as tornam membros da espécie humana. O que difere o ser humano de todas as outras espécies de animais é a sua capacidade de filosofar. Nenhum outro animal se preocupa com questões filosóficas (por exemplo: será que existe vida em outros planetas?) (WALTER, 2016). As pessoas também sentem, e o que é sentimento? Sensação desencadeada pela liberação de neurotransmissores, motivada por estímulos internos ou externos. Por exemplo, quando se sente medo, apresentam-se reações como taquicardia, sudorese, dormências etc., que são a liberação da adrenalina, por um estímulo externo ou interno. Ao se pensar em representar o bem estar poder-se-ia desenhar uma linha reta, estável, assim mantida pelo equilíbrio entre a ação do cortisol (excitante) e da serotonina (calmante). A alternância entre a ação do cortisol e da serotonina ao longo do dia vai provocar “picos”. Esses auges de cortisol e serotonina vão, se a alternação for equilibrada, dar a sensação de bem estar. É preciso identificar no praticante o que está em desequilíbrio para ajudá-lo a se equilibrar. Assim a representação gráfica do “bem estar” pode-se assim apresentar, conforme Walter (2016): Cortisol ________________________________________________________________ “bem estar” Serotonina Figura 4: representação gráfica do “bem estar (Walter, 2016, anotações de aula). A ação dos neurotransmissores vai interferir diretamente na sensação de bem estar do praticante. Conforme Walter (2016), na equoterapia devem ser propostas tarefas desafiadoras (com a avaliação prévia do fisioterapeuta e do psicólogo que informam sobre a capacidade do praticante para desempenhar a tarefa). Inicia-se com tarefas 22 mais simples, aumentando-se a complexidade paulatinamente. Quando se dá a tarefa difícil ocorre a liberação do cortisol. Ao conseguir realizá-la, a serotonina é liberada. Precisa-se do estresse para iniciar e atingir o objetivo, mas não exagerado. É preciso lidar com os neurotransmissores de forma adequada para provocar o resultado que se deseja. 23 CAPÍTULO 4 A EQUOTERAPIA NO TRATAMENTO DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA Para que se compreenda como a Equoterapia pode ser útil no tratamento da dependência química é importante considerar que os movimentos realizados pelo cavalo terão reflexos no corpo do praticante, visto que as intervenções estimulam o Sistema Nervoso Central, tendo por consequência a ativação do mecanismo da neuroplasticidade, assim compreendida a capacidade de mudança e transformação do cérebro, que pode se expressar por meio de modificações funcionais de estruturas já existentes até a formação por crescimento e proliferação de novos neurônios e novas estruturas (HAASE; LACERDA, 2004). Assim, é importante considerar que o cavalo, ao se deslocar, apresenta três tipos de andadura, quais sejam o passo, o trote e o galope. Via de regra trabalha-se com o passo, sendo raras as vezes em que será indicado o trote ou o galope. Na equoterapia não existe movimento passivo, utilizando-se movimento ativo induzido, ou seja, cada vez que o cavalo se movimenta, o praticante se movimenta também; não se pede verbalmente para ser feito o movimento, apenas induz-se ao movimento (WALTER, 2016). Conforme Homem (2016, p.43): O cavalo nunca se apresenta totalmente parado, pois ao trocar o apoio das patas, quando no deslocamento do pescoço, as flexões de coluna proporcionam ao praticante uma adequação muscular, um ajuste tônico, para que se possa corrigir o desequilíbrio provocado por seus movimentos. A autora explica que o movimento do cavalo impõe ao praticante três forças distintas, a saber: no plano transversal, no plano sagital e a terceira no plano coronal. Assim, é importante mensurar a frequência do passo do cavalo, visto haver cavalos com frequências mais altas e outros com frequências mais baixas, o que vai interferir nas respostas do praticante. É importante destacar que tais frequências são de três tipos diferentes, sendo o transpistar a andadura de baixa frequência, o sobrepistar de média frequência e o antepistar a andadura de alta frequência, nas quais a pegada ultrapassa a pegada anterior, coincide com o mesmo lugar da pegada anterior ou fica aquém da pegada anterior, respectivamente (HOMEM, 2016) 24 Segundo Borella (2009), a plasticidade neural permite que o Sistema Nervoso Central modifique, em função das respostas a alterações do ambiente, as suas propriedades morfológicas e funcionais; assim, a capacidade de o sistema nervoso modificar sua configuração sináptica ou funcional, relaciona-se aos padrões de experiência. O processo de reabilitação neuropsicológica baseia-se na convicção de que o cérebro humano possui uma capacidade adaptativa e uma dinamicidade que lhe permite se reconstruir e se reestruturar em função de novas exigências ambientais porque a unidade funcional do Sistema Nervoso Central é concebida como uma grande rede de conexões neurais que tem suas unidades suscetíveis a modificações em função de sua estimulação. (BORELLA, 2009) Galvão et al (2010, p.356) afirmam, em relação à neuroplasticidade, que: [...] também é uma resposta às experiências a adaptações a condições mutáveis e a estímulos repetidos, podendo levar a alterações estruturais do cérebro, de modo que, o mapa cortical de um adulto está sujeito a constantes modificações. Segundo Walter (2016), para fixar informações no cérebro do praticante não se pode apresentar inúmeros estímulos e atividades simultâneas. É preciso apresentar informações de forma “concentrada”, organizada, direcionada. É preciso começar de dentro para fora sempre, de proximal para distal. O movimento do qual se pode lançar é o grande “instrumento” da equoterapia – é preciso saber como usar o movimento a favor do que se quer alcançar. Pelo movimento alcança-se o autoconhecimento, o tratamento dos traumas, etc. Toda a equipe tem que conhecer a biomecânica para extrair dos movimentos o que se precisa para o tratamento - o que se quer alcançar é uma modificação de neurônios para ganhar eficácia. Em média o cavalo dá 82 meio-passos por minuto (movimento de um pé e uma mão), que geram ondulações tridimensionais por minuto. Isso exige 738 correções posturais do praticante por minuto, o que vai ativar 1476 grupos musculares por minuto. Cada vez que o corpo é movimentado, os músculos se movimentam conforme as ondulações se sucedem. Não se deve impedir que o corpo do praticante responda a este estímulo. No final de 30 minutos o corpo do praticante terá 354.240 contrações musculares. Uma vez por semana, se fizer o corpo responder adequadamente, por 10 minutos, o praticante terá movimentado os grupos 25 musculares 100.000 vezes. A sobrecarga pontual vai fazer a neuroplasticidade, estimulando outras comunicações do neurônio. (WALTER, 2016) Segundo Walter (2016), os neurônios “novos” surgem de neurônios pré- existentes, não utilizados, ou seja, novos neurônios vão assumir funções ainda não exercidas, para o que é preciso estimulá-los, desafiando a capacidade neuronal instalada. Para que a nova informação torne-se consistente é preciso reproduzi-la muitas vezes, o que exige que o cavalo seja sempre o mesmo; que o condutor conduza de forma que a programação feita seja cumprida à risca. De acordo com os resultados que se quer obter, pode-se regular aspectos do movimento do cavalo, como se descreve a seguir (WALTER, 2016). Velocidade do passo:sem modificar o tamanho do passo, o cavalo pode andar mais depressa ou mais devagar. Velocidade é o número de passos por segundo. O passo pode ser de baixa frequência e devagar ou depressa. Pode andar mais depressa ou devagar sem aumentar ou diminuir o tamanho do passo (RPM). É um passo “x” dado mais vezes. O condutor tem que saber fazer isso – diferenciar o tamanho de passo. Quando se pede para andar mais depressa o condutor acelera o movimento das pernas, sem aumentar o tamanho do passo. A velocidade se usa para endireitar a coluna, porque provoca a necessidade do corpo se ajeitar. Toda vez que se coloca velocidade, endireita-se o corpo. Engajamento - é a capacidade do cavalo de colocar o posterior por baixo da massa corporal. Ele se movimenta impulsionando pelo posterior – o primeiro movimento é feito pelo posterior e não pela mão. Ou seja, coloca o posterior por baixo do corpo dele para que dê o passo. O primeiro passo ele vai colocar o pé lá na frente para movimentar o corpo todo. Isso vai dar também uma mobilidade de anca. Quanto mais longe ele colocar o posterior por baixo, maior vai ser o passo. Isso faz com que haja movimento em várias direções. É possível ampliar o conjunto dos movimentos por meio do engajamento. Figura 5: representação gráfica do engajamento (Walter, 2016, anotações de aula). 26 O engajamento é “regulável”. Quando o cavalo coloca o pé antes da pegada da mão está antepistando. Quanto mais longe ficar da mão, menor o movimento no dorso, portanto, menos o movimento que se coloca no praticante – neste caso está sobrepistando. Quando ultrapassar a marca da mão está transpistando e maior é o movimento do dorso. Isso é treinável. Deve-se treinar o cavalo para que tenha qualidade de passo, ou seja, tenha engajamento adequado. Para isso é preciso identificar que músculo faz o cavalo ir para frente. É preciso trabalhar o baixo abdômen do cavalo. O cavalo no galope faz exatamente isso. Ou seja, o cavalo de equoterapia tem que galopar, lembrando que o galope é um passo assimétrico e por isso tem que se trabalhar os dois lados. Deve-se por o cavalo a galope 10 minutos de um lado e 10 minutos do outro. Direção, observando-se que, na natureza, qualquer desenho é composto de retas e curvas, não existindo possibilidade de usar outra coisa. Quando anda em linha reta o cavalo segue um fluxo “normal”, dando um passo após o outro. Quando anda em círculo sempre está atuando a força centrípeda, que puxa para o centro. Quanto maior o círculo, menor é a força centrípeda; quanto menor o círculo, maior a força centrípeta. O cavalo, para seguir um círculo, tem que ser treinado em flexibilidade de coluna. A direção, corretamente definida, pode ser associada à velocidade e ao engajamento, por exemplo, para aumentar a ação no corpo do praticante. Inércia, a terceira lei de Newton, da qual se tem que o objeto em cima de uma superfície vai desenvolver movimento igual e na mesma velocidade e na mesma força, mas em sentido contrário. Por exemplo, se ocorre uma freada brusca, o corpo se movimenta bruscamente para frente. Toda vez que o cavalo está andando e é apressado, o corpo é jogado para trás; se diminui a velocidade, vai o corpo para frente. Posição do praticante, donde se tem que, independente da posição que se coloque o praticante, os recursos aplicáveis por meio do cavalo continuam valendo, mas é preciso determinar em que posição será praticado. Para que a equoterapia seja compreendida como uma técnica aplicável ao tratamento da dependência química, torna-se importante destacar como os movimentos e os demais recursos oferecidos pelo cavalo podem provocar alterações na produção dos neurotransmissores, visto que, como se expôs anteriormente, a ação dos neurotransmissores vai se refletir no estado emocional, no aprendizado e no comportamento do indivíduo, sendo componentes essenciais ao funcionamento organismo. 27 A região lombar do praticante, em contato com a parte de cima do cavalo e sendo movimentada, produz dopamina ao liberar a noradrenalina - com o movimento dos rins e glândulas suprarrenais, ocorrendo a liberação da noradrenalina, ocorrerá a estimulação da produção da dopamina. (WALTER, 2016). Segundo Rosa (2010, p. 103): A liberação da dopamina estimulada nas atividades equoterápicas possibilita o desenvolvimento da orientação corporal e, consequentemente, o autoconhecimento. A liberação da noradrenalina ocorre devido ao estímulo à glândula suprarrenal por meio do andar rítmico do animal (ROSA, 2010). Ainda, com relação à noradrenalina, Mazolini e Loreti (2015, p. 18) explicam que: Está associada à atenção e excitação; estimula a liberação de dopamina, sendo liberada na suprarrenal. A suprarrenal é estimulada por movimentação lombar; portanto o tamanho do passo do animal irá influenciar no nível de dopamina liberada. A equoterapia permite ativar a liberação da mescalina, pois o cavalo libera mescalina muito facilmente. Não é fácil de ser feito; tem que se trabalhar todos os aspectos juntos para obter o nível adequado de mescalina. (WALTER, 2016). Walter (2000) citada por Mazolini e Loreti (2015, p. 18) informa, sobre a melatonina, que: Este neurotransmissor não é liberado pela equoterapia. Porém, é produzido indiretamente quando os demais neurotransmissores estão adequados, de modo a permitir uma melhora substancial da qualidade do sono. Responsável por armazenar informações e pela memória adequada. Liberada durante sono profundo. A autora explica que equoterapia pode contribuir para melhoria da qualidade do sono, o que se refletirá no melhor aproveitamento dos efeitos positivos da melatonina no organismo, pois para tornar úteis as informações recebidas é preciso dormir bem para liberar melatonina e se ter boa memória (WALTER, 2016). De acordo com Rosa (2013), o aumento da liberação da ocitocina, que o toque e a carícia no cavalo podem proporcionar ao praticante, proporciona efeito calmante e promove o relaxamento. Tal afirmação é corroborada por Mazolini e Loreti (2015) que citam Walter (2000) para afirmar que a liberação do ocitocina pode se dar, além 28 de pela estimulação tátil, visual ou aditiva, também pelo feronômio do cavalo, que, quando liberado, normaliza os níveis de cortisol e de serotonina. As funções cerebrais superiores podem ter, como benefícios da equoterapia, a melhora da concentração, do controle da agressividade, da expressão emocional, da extroversão, visto que as informações sensoriais que chegam dos centros neurais superiores são permanentemente apropriadas pelo indivíduo (Leitão, 2008). Além do movimento, outros aspectos relacionados ao cavalo contribuem para o tratamento por meio da equoterapia, conforme descreve Walter (2016): O feromônio do cavalo, substância química que tem a função de atrair sexualmente, é muito parecido com o feromônio do ser humano, o que remete a sentimentos bons e facilita a liberação da ocitocina, que, como se viu, é o neurotransmissor da do bem estar social e coletivo. A escovação, assim como o simples toque no animal pode estimular a liberação do feromônio do cavalo. A temperatura do cavalo, próxima à do corpo humano, dá sensação de aconchego. O cavalo tem uma respiração correta (diafragmática), enquanto o ser humano, geralmente, não respira de forma correta (estresse, angústia, problemas, etc.). Quando se abraça um cavalo, em dois minutos começa-se a respirar de forma diafragmática, estabelecendo-se uma simbiose respiratória – o ser humano respira corretamente pelo contato com a respiração do cavalo. No cavalo, em dois minutos respira-se adequadamente e, consequentemente, relaxa-se. O som do cavalo andando (pessoa montada ou observando o cavalo em movimento) equivale ao som da mãe carregando o bebê no útero, ao andar. Os movimentos do cavalo e da mãe grávida andando,são idênticos. Quando se coloca o praticante em cima do cavalo e ele está agitado, é preciso não deixar o cavalo parado. Ao colocá-lo para andar, rapidamente a pessoa se acalmará. O compasso do passo do cavalo associa-se à batida do coração, que remete à lembrança do útero materno. Quando se sofre emoções ocorre uma certa desorganização que uma pequena volta ao útero materno (simbolicamente) reorganiza. O compasso do passo do cavalo gera 82 compassos por minuto, que remete à sistólise cardíaca. O fato de estar em cima do cavalo – quando se está num patamar mais baixo que o dos outros, a tendência é de se sentir subjugado- e ficar mais alto que os outros, dá ao praticante a sensação de poder. 29 Tanto o movimento quanto os demais recursos que o cavalo oferece ao praticante vão resultar em reações ou alterações na produção dos neurotransmissores, que como se viu inicialmente, são afetados pelo consumo de substâncias psicoativas. 30 5 CONCLUSÃO O presente estudo permitiu identificar que a dependência química é um fenômeno complexo, que envolve vários aspectos que extrapolam o uso da substância em si, envolvendo questões internas e externas ao indivíduo, além de fatores sociais, culturais e políticos, que tem entre os usuários jovens, crianças e adultos, independente de raça, religião, cultura ou posição social, tendo se tornado um problema social e de saúde pública, devido ao crescente número de usuários. Pode-se constatar que as drogas atuam de forma diferenciada no sistema de prazer ou de recompensa dos indivíduos, sendo muitos os neurotransmissores e moduladores que influenciarão esse sistema, o uso refletindo-se, de maneira geral, no estado emocional, comportamental, no aprendizado e memória dos indivíduos, o que torna importante o conhecimento dessa atuação. Tendo-se a equoterapia como uma das possibilidades de tratamento, é importante considerar que os movimentos realizados pelo cavalo terão reflexos no corpo do praticante, visto que as intervenções estimulam o Sistema Nervoso Central, e terão por consequência a ativação do mecanismo da neuroplasticidade, contribuindo para a produção dos neurotransmissores cujo uso abusivo de substâncias pode prejudicar. Assim, considerando-se os múltiplos recursos oferecidos pelo cavalo, bem como a variedade de atividades que a equipe de Equoterapia pode selecionar para aplicação no tratamento, é possível concluir pela aplicabilidade do método como recurso terapêutico na dependência química, visto que os movimentos e os demais recursos oferecidos pelo cavalo podem provocar alterações na produção dos neurotransmissores. Conclui-se, assim, que a ação dos neurotransmissores, potencializada pela equoterapia, vai se refletir no estado emocional, no aprendizado, no comportamento e na memória do indivíduo, contribuindo para a recuperação, reabilitação e inserção social do dependente químico. 31 REFERÊNCIAS BORELLA, M. P; SACHELLI, T. Os efeitos da prática de atividades motoras sobre a neuroplasticidade. Revista Neurociência. v.17, n.2, pg. 161-169, 2009. BRASIL. Ministério da Justiça. Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas. Tratamento da dependência de crack, álcool e outras drogas: aperfeiçoamento para profissionais de saúde e assistência social / Supervisão Técnica e Científica Paulina do Carmo Arruda Vieira Duarte – SENAD. Responsáveis Técnicos Lísia VonDiemen, Silvia Chwartzmann Halpern e Flavio Pechansky - UFRGS. – Brasília: SENAD; 2012. CAMPOS, D. C. F.; GRAVETO, João M. G. N. Oxitocina e comportamento humano. Rev. Enf. Ref., Coimbra , v. serIII, n. 1, p. 125-130, jul. 2010 . Disponível em <http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0874- 02832010000300013&lng=pt&nrm=iso> acesso em 13 maio 2017. CUNHA, G. S.; RIBEIRO, J. L. OLIVEIRA, A. R. Níveis de beta-endorfina em resposta ao exercício e no sobretreinamento. Arq Bras Endocrinol Metab. 2008, v.52, n.4, p. 589-598. __________. Sobretreinamento: teorias, diagnóstico e marcadores. Rev Bras Med Esporte. 2006 v. 12, n.5, p. 297-302. DA FONSECA GIL, G.; VENÂNCIO GIMENEZ, J.; BORDA DE SAUEZ, C. C. Drogas alucinógenas e sua detecção laboratorial. Atas de Ciências da Saúde (ISSN 2448- 3753), São Paulo, v. 2, n. 3, set. 2014. ISSN 2448-3753. Disponível em: <http://www.revistaseletronicas.fmu.br/index.php/ACIS/article/view/581/703>. Acesso em: 22 jun. 2017. DA POIAN, A. T; CARVALHO-ALVES, P. C. Hormônios e Metabolismo: integração e correlações clínicas. São Paulo: Editora Atheneu, 2006). DIAS, J.C.; PINTO, I. M. Substâncias Psicoativas: Classificações, Mecanismos de Ação e Efeitos Sobre O Organismo. In: SILVEIRA, D. X. & MOREIRA, F. G. (editores). Panorama Atual De Drogas E Dependências. 1a Ed., São Paulo: Atheneu, 2006. DIEHL, A. CORDEIRO, D.C; LARANJEIRA, R. Dependência química: prevenção, tratamento e políticas públicas. Porto Alegre: Artmed; 2011. GALVÃO, A.; SUTANI, J.; PIRES, M. A.; PRADA, S. H. F.; CORDEIRO, T.L. Estudo de Caso: A Equoterapia no tratamento de um paciente adulto portador de ataxia cerebelar. In: Rev Neuricienc. v. 18; n. 3; p.353-358, 2010. GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisas. 5 ed. São Paulo. Atlas, 2010. HAASE, V. G.; LACERDA, S. S. Neuroplasticidade, variação interindividual e recuperação funcional em neuropsicologia. Temas psicol., Ribeirão Preto , v. 12, n. 1, p. 28-42, jun. 2004 . Disponível em http://www.revistaseletronicas.fmu.br/index.php/ACIS/article/view/581/703 32 http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413- 389X2004000100004&lng=pt&nrm=ison acesso em 29 maio 2018. HOMEM, R. C. P. P. Efeitos da equoterapia no desempenho funcional e na qualidade de vida de pessoas com doença de Parkinson. Tese (Doutorado) – Ciências da Saúde – Universidade Federal de Brasília - Brasília, 2016. 125 p. KESSLER, F.; VON DIEMEN, L.; PECHANSKY, F. Bases neurobiológicas da dependência química. In: KAPZINSKI, F.; QUEVEDO, J.; IZQUIERDO, I. (Org.). Bases biológicas dos transtornospsiquiátricos. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2003. LEITÃO L. G. Sobre a equitação terapêutica: Uma abordagem crítica. In: Análise Psicológica. 2008; v.1; n. 26. p.81-100. Disponível em http://repositorio.ispa.pt/bitstream/10400.12/6095/1/2008_26%281%29_81.pdf acesso em 23 mar 2018 LONGENCKER, G. L. Drogas: Ações e Reações. São Paulo: Market Books, 2002. LUNDY-EKMAN, L. Neurociência. Fundamentos para a reabilitação. v.3. Rio de Janeiro: Editora Elsevier, 2007. MAZOLINI, E.; LORETI, E. H. Visão fisiológica da Terapia Assistida por Equinos na regulação do tônus espástico em praticantes encefalopatias: revisão bibliográfica. In: Rev Bras Terap e Saúde, v.5; n. 2. p. 15-20, 2015. NASCIMBEM, L. B. L. R.; BARRETO, L. R.; CORREIA, C. R. D. Síntese dos novos análogos da mescalina. In: XIV Congresso Interno de Iniciação Científica Unicamp 2006. Instituto de Química – IQ. 27 a 28 de setembro 2006. Campinas, SP. Disponível em https://www.prp.unicamp.br/pibic/congressos/xivcongresso/cdrom/pdfN/437.pdf acesso em 22 jun 2017. Neurobiologia: mecanismos de reforço e recompensa e efeitos biológicos comuns às drogas de abuso. Disponível em http://sgmd.nute.ufsc.br/content/portal- aberta-sgmd/e01_m03/pagina-01.html Acesso em 24 fev 18. OLIVEIRA-LIMA, A.J. Efeitos de uma estratégia de contra-condicionamento ambiental com neuroléptico de segunda e terceira geração, sobre a sensibilização comportamental induzida pela cocaína e o etanol. Tese (Doutorado) – Departamento de Farmacologia – Setor de Neurotransmissores – Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina. São Paulo, 2011. 164 p. RIBEIRO, M.; LIMA, L.; FONSECA, V. Neurobiologia da dependência de crack. In: ______; LARANJEIRA, R. O tratamento do usuário de crack.2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2012. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-389X2004000100004&lng=pt&nrm=ison http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-389X2004000100004&lng=pt&nrm=ison http://repositorio.ispa.pt/bitstream/10400.12/6095/1/2008_26%281%29_81.pdf https://www.prp.unicamp.br/pibic/congressos/xivcongresso/cdrom/pdfN/437.pdf http://sgmd.nute.ufsc.br/content/portal-aberta-sgmd/e01_m03/pagina-01.html http://sgmd.nute.ufsc.br/content/portal-aberta-sgmd/e01_m03/pagina-01.html 33 SANTOS, F. F. M.; ZAMO, R. S. Reabilitação Neuropsicológica dos Transtornos do Neurodesenvolvimento na Equoterapia: Revisão Sistemática. Revista de Psicologia da IMED, Passo Fundo, v. 9, n. 1, p. 104-118, nov. 2017. ISSN 2175-5027. Disponível em: <https://seer.imed.edu.br/index.php/revistapsico/article/view/1699>. Acesso em: 28 maio 2018. doi:https://doi.org/10.18256/2175-5027.2017.v9i1.1699. SBEM-AMB. Posicionamento sobre a melatonina. Disponível em https://www.endocrino.org.br/media/uploads/PDFs/posicionamento_sobre_melatonin a_sbem.pdf acesso em 22 jun 2017. SCHWIDERSKI, A.C. Neuroanatomia do sistema de recompensa cerebral e dependência química. In: https://museudinamicointerdisciplinar.files.wordpress.com/2014/09/ed973- brain_thumb25255b225255d.png. Acesso em 18 fev 2018. SEVERINO, A. C. Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Cortez, 2007. SILVA, P. Farmacologia. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010. SOUSA NETO, J. A.; CASTRO, B. F. Melatonina, ritmos biológicos e sono – uma revisão da literatura. Revista Brasileira de Neurologia. v.44. n. 1. jan- fev - mar, 2008. YOUNG, P. A.; YOUNG, P. H. Bases da neuroanatomia clínica. Ed. Guanabara, 1997. YUDOFSKY, S. C.; HALES, R. E. Neuropsiquiatria e neurociências na prática clínica. Porto Alegre: Artmed, 2006. https://seer.imed.edu.br/index.php/revistapsico/article/view/1699 https://doi.org/10.18256/2175-5027.2017.v9i1.1699 https://www.endocrino.org.br/media/uploads/PDFs/posicionamento_sobre_melatonina_sbem.pdf https://www.endocrino.org.br/media/uploads/PDFs/posicionamento_sobre_melatonina_sbem.pdf https://museudinamicointerdisciplinar.files.wordpress.com/2014/09/ed973-brain_thumb25255b225255d.png https://museudinamicointerdisciplinar.files.wordpress.com/2014/09/ed973-brain_thumb25255b225255d.png