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09 Hermen 2021 Cap V Sincronia e Diacronia 01

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Capítulo V 
——————————————————— Sincronia e Diacronia ——————————————————— 
7.1 
A primeira observação a ser feita quanto a essa busca e empresa é, 
como já dissemos, tomar conhecimento dos livros santos. 
Se, a princípio, não se conseguir apreender o sentido todo, 
pelo menos fazer a leitura e confiar à memória as santas palavras. 
De toda forma, nunca ignorar por completo os Livros Sagrados. 
 
Santo Agostinho. A doutrina cristã. Manual de exegese e formação cristã. Livro II, cap. 9, nº. 14 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Capítulo V 
SINCRONIA E DIACRONIA 
 
 Dois modos de aproximar-se do texto bíblico são as bases para o estudo da 
Escritura e constituem-se no fundamento da análise dos textos, sejam simples ou mais 
complexos. Trata-se dos modos sincrônico e diacrônico. 
 Como o nome sugere, sincronia ou modo sincrônico é o que vai seguindo o 
texto com ele está agora, em um movimento de sequência, em que as imagens vão se 
sucedendo sem rupturas na compreensão. A leitura sincrônica é fundamental e normal-
mente é aquela feita em assembleia litúrgica. É a que os ouvintes têm contato e com as 
quais são catequizados. Portanto é necessário conhecer este caminho com segurança. 
 A diacronia ou modo diacrônico é o que vai considerando a evolução do texto 
através de sua história, de seu “processo evolutivo” e considera outros textos de origem 
cronológica igual ou que compõem um quadro com muitos elementos. Ela é um dos 
modos de estudar o texto e fazer a exegese. Todos que se aproximam do texto com 
interesse de compreende-lo na sua inteireza irão seguramente deparar-se com a neces-
sidade de compreender e aplicar o método diacrônico. Mas os dois métodos, a sincronia 
e a diacronia, são fundamentais para a compreensão dos estudos bíblicos. 
 
 
5.1. Sincronia 
 Para uma correta hermenêutica de um texto, isto é, para compreender o que ele 
tem a dizer e como pode ser apresentado é preciso conhecê-lo, perceber seu movi-
mento, entender sua extensão e compreender sua mensagem a partir dos seus códigos 
linguísticos. Em geral já se trabalha o texto de modo claro, quase que imediato, em uma 
leitura feita com o respeito de pontuação e sentido verbal, sem atropelos. Mas é sempre 
melhor conhecer os detalhes de uma análise sincrônica para compreender melhor o con-
junto do texto. Para tanto são necessários alguns passos que elencaremos a seguir. 
Capítulo V 
——————————————————— Sincronia e Diacronia ——————————————————— 
7.2 
A. Elementos fundamentais 
 
 5.1.1. HEBRAICO OU GREGO — Tradução do texto: do hebraico ou grego para 
o vernáculo. Geralmente este passo não é possível ou viável em uma hermenêutica mais 
simples. Todavia há traduções de diversas índoles. É fundamental que seja escolhida 
uma tradução adequada para o trabalho hermenêutico, de modo especial uma tradução 
literal. No caso do uso de um texto já traduzido ao vernáculo deve-se considerar o passo 
seguinte. 
 
 5.1.2. TRADUÇÃO — Selecionar uma tradução literal. Se o primeiro contato 
com o texto foi em uma tradução simples, catequética por exemplo, buscar agora uma 
tradução literal. Usamos uma perícope e encontramos as diferenças relativas à índole 
das traduções. Quando não for possível, apresentamos outra perícope. 
 A. Tradução Literal — Uma tradução feita respeitando as palavras originais e 
buscando seus equivalentes no vernáculo. Nem sempre isto é fácil e frequentemente é 
necessário uma construção literal perifrástica ou alguma opção em um conjunto de pos-
sibilidades. 
 B. Tradução Pastoral — É uma tentativa de facilitar a leitura do texto para o 
uso imediato, na pastoral. São muitos os exemplos de tradução pastoral. Uma derivação 
deste tipo de tradução seria o tipo catequético. 
 C. Tradução Catequética — Esta tradução é feita em função do uso na Cate-
quese, evidenciando os textos mais relevantes para a formação cristã. Não se trata de 
leitura selecionada ou seletiva, mas de um modo pedagógico de indicar os textos e suas 
referências. Em português não me consta que exista uma tradução de índole eminente-
mente catequética. 
 D. Tradução “Popular” — Colocamos entre aspas este tipo de tradução pois o 
que se identifica como popular em muitas vezes é apenas uma espécie de resumo do 
texto bíblico. Desta forma não é mais Bíblia, mas um resumo da Bíblia. Então não é uma 
tradução popular! Uma tradução desta índole não seria apenas com palavras mais faci-
litadas e sim com períodos simplificados, menores, como verbos preferentemente ao 
indicativo, sem apostos ou outros recursos literários frequentes em traduções literais. 
 E. Tradução Litúrgica — A tradução litúrgica serve-se do texto da Vulgata e 
tem a facilidade de apresentar o texto em forma já segmentada, com uma linguagem 
bem equilibrada. É a tradução usada na liturgia tem as dificuldades textuais já elimina-
das. 
 
 5.1.3. DELIMITAÇÃO — É necessário delimitar o texto. Um texto tem início, 
meio e fim. Em geral ele já vem delimitado na própria edição da Bíblia. Mas nem sempre 
tal delimitação é correspondente com a índole do texto. E mesmo que exista esta deli-
mitação é necessário deixá-la de lado e buscar os motivos para sua escolha. A delimita-
ção do texto forma o que se chama de uma perícope. 
 A. Relacionamento anterior e posterior — É preciso compreender o que a 
perícope em questão tem em relação com a perícope anterior e com a posterior. Se há 
continuidade, se ela se liga a outro texto ou forma um conjunto mais amplo. Isto é pos-
sível quando se olha atentamente os verbos, os tempos verbais e, antes mesmo disto, 
quando são evidenciados os personagens, os lugares, situações e trama central do texto 
ou seu argumento. 
Capítulo V 
——————————————————— Sincronia e Diacronia ——————————————————— 
7.3 
 B. Contextualização literal — Pontuar o sentido que a perícope tem em relação 
ao Livro que a contém. Concretamente: em que parte do Livro? Qual o sentido que o 
texto vai tomando com esta perícope? Há uma mudança de rumo na história ou um 
acréscimo de algum elemento poético, narrativo, etc.? 
 
 C. Divisões internas — Analisar mais a fundo o texto da perícope e fazer divi-
sões internas que parecerem oportunas. Não é possível ficar dividindo por impulso, e 
sim com critérios. Tempos verbais, vozes de quem fala, personagens, ações, lugares em 
que a narração se dá: tudo isto pode ajudar na divisão interna de um texto. 
 
 D. Coesão — Mesmo que a perícope possa ser dividida, ela apresenta alguns 
poucos elementos que são o “fio condutor” do texto. Um personagem, um local, uma 
ação, etc. Tudo isto pode ser a coesão, o “fio narrativo” ou o tema poético, etc. 
 
 
 5.1.4. GÊNERO LITERÁRIO — O gênero literário é um tema de grande impor-
tância para a análise de um texto bíblico. A perícope pode ser: narração, poesia, exorta-
ção, kerigma (ou querigma), parábola, carta, oráculo, etc. A identificação do gênero lite-
rário da perícope, em geral em coerência com o resto do texto, é importante pois deter-
mina muito da análise sincrônica. Um texto poético tem uma índole muito especial, bem 
diversa de um texto narrativo que tem uma diferença enorme de um texto de genealogia, 
etc. 
 
 
 
B. Segmentação 
 Depois de “encontrar-se” com o texto e conhece-lo na sua extensão, é oportuno 
fazer uma análise mais aprofundada, isto a partir de seus elementos internos, olhando 
cada vez de forma mais detalhada. Um passo importante é a segmentação. 
 Este é um elemento fundamental para a compreensão de qualquer texto bíblico. 
Não falamos aqui da divisão de capítulos e versículos; esta já existe. Falamos aqui de 
unidades menores, compreensíveis em si e que se relacionam. É possível que em algu-
mas edições de Bíblias exista algum tipo de segmentação. Mas em geral uma edição da 
Bíblia de índole não científica não contém um texto desta forma disposto. 
Há contudo os textos litúrgicos dos livros litúrgicos, especialmente os que estão 
nos chamados lecionários: eles são segmentados com um certo critério, o da compre-
ensão de leitura einteligibilidade e é comum encontrar um bom resultado de segmenta-
ção. Mas em uma análise sincrônica o necessário é a segmentação que individua todos 
os elementos singulares, sejam pessoas, ditos, fatos, ações, etc. 
O critério fundamental para uma adequada segmentação pode ser o do verbo, 
embora ele não seja o único nem o exclusivo em um texto. No caso que seja um verbo, 
cada segmento pode ser formado por um. A segmentação pode ser feita usando-se 
como base cada um dos versículos que podem ser divididos em unidades menores (a 
partir do verbo de cada uma, conforma a observação acima) e cada segmento pode ser 
numerado com o número do versículo e uma letra latina. Cada segmento deve ser colo-
cado abaixo do outro, formando assim uma coluna vertical. 
 
Capítulo V 
——————————————————— Sincronia e Diacronia ——————————————————— 
7.4 
C. Evidência de estruturas fundamentais 
A segmentação deve evidenciar estruturas textuais, algo como “cenas” ou “pas-
sos” que vão se sobrepondo, alternando, concentrando. São “blocos” na perícope que 
podem ser identificados através de um tempo verbal, uma pessoa, uma atitude, um de-
terminado movimento dos personagens. Enfim, é possível perceber e assinalar seções 
dentro da perícope. São elas as estruturas textuais que podem ser individuadas e rela-
cionadas umas às outras. 
Depois de identificar tais estruturas é importante perceber o movimento que eles 
dão ao texto – este “movimento” é o que faz o mesmo texto ser inteligível, compreensível 
e portados de uma mensagem a ser conhecida e aceita. 
Às vezes um texto, sendo uma perícope pequena, pode ter apenas um bloco, 
uma estrutura textual com um movimento apenas. Pode também ser uma longa perícope 
com diversos blocos de segmentos, cada um com um foco narrativo e uma implicação 
específica no todo do texto. A sensibilidade de cada leitor do texto é que deixará à mostra 
estas estruturas e suas inter-relações. 
 
D. Tensões, encontros e desencontros no texto 
São diversos elementos que devem ser notados e analisados na leitura sincrô-
nica. O texto é um tecido complexo que precisa ser desmontado para poder ser conhe-
cido em sua riqueza e abundância. Os elementos que formam as tensões do texto, os 
encontros e desencontros, são os que o fazem interessante, inteligível. Não deve existir 
um texto “plano”, sem elementos de tensão, de variação, de ações e oposições. Se exis-
tir, não será um texto, mas apenas um amontoado de palavras provavelmente iguais ou 
de mesmo campo semântico, mas não um texto que dá a conhecer uma mensagem., 
Anotamos aqui alguns elementos que devem ser evidenciados pela análise sin-
crônica e que fazem a compreensão do texto. São eles: o sujeito, as ações do sujeito, 
os verbos, os opostos, as relações, os focos de atenção. 
A. Sujeito – É quem realiza a ação, o ator ou personagem principal. Pode tam-
bém não ser um “realizador” de ações, mas tem a atenção ou divide a atenção com outro 
ou outros personagens que são o sujeito. 
B. Verbos – Determinam a qualidade da ação: se passado, futuro, presente ou 
então se em andamento, concluído, etc. Eles são elementos muito importantes na aná-
lise sincrônica. 
C. Ações do sujeito – São determinadas pelos verbos ligados ao sujeito ou aos 
seus vários atributos. A ação dá o movimento da cena ou todo o texto. 
D. Opostos – São contradições ou diferenças que, em grande parte Dops casos, 
aparecem em pares. Estes opostos são muito comuns na Bíblia como expressão do 
pensamento hebraico. 
E. Reações – O que é provocado pelas ações ou pelos verbos. Compõem, com 
as ações do sujeito, o elemento que chamamos acima de opostos. Podem ser também 
de complemento, de consequência, de desdobramento. 
F. Foco da atenção – São os pontos onde a narração se concentra: uma pes-
soa, uma ação, um verbo, uma imagem, etc. 
 
Capítulo V 
——————————————————— Sincronia e Diacronia ——————————————————— 
7.5 
E. Língua e vocabulário 
O elemento fundamental de um texto é a sua língua. Sem a língua escrita não 
há texto literário e conhecer a língua em que se lê é a tarefa fundamental para uma boa 
sincronia. Dicionário, concordâncias, gramáticas, vocabulários e outras publicações se-
rão sempre necessárias para o trabalho. O ideal é que o texto seja trabalhado em sua 
língua de origem, seja grego para hebraico. É sobre estas línguas que o trabalho acon-
tece e as traduções a partir delas devem ser o mais possível em roupagem literal. 
É conveniente elencar palavras, grupos semânticos, verbos de movimento ou 
de estado, substantivos em escolhidos grupos como plantas, objetos materiais, animais, 
sentimentos, etc. Esses elencos podem formar um quadro semiótico possível de ser 
compreendido como a estrutura da mensagem ou o modo de expressão. Além disso e 
sobretudo tais elencos individualizam as palavras dando-lhes o seu devido peso e signi-
ficado. 
 
 
5.2. Diacronia 
A leitura sincrônica é a busca da compreensão de um texto em sua fase atual, 
sem se perguntar qual é a sua história redacional. Na leitura sincrônica o leitor se apro-
xima do texto e tira dele o que ele oferece não apenas de imediato mas especialmente 
depois de atenta observação e compreensão das partes em suas relações internas e 
delas com o todo. Desta forma a sincronia é de fundamental importância para uma ade-
quada compreensão dos textos bíblicos. 
Mas é necessário também compreender o texto em seu contexto maior e no 
tempo em que ele foi composto o que se dá pela diacronia que pode ser interpretada 
como a leitura de um texto através do tempo em que ele evoluiu até chegar como está. 
Na leitura diacrônica busca-se ver o texto em sua história redacional, destacando as 
intervenções que ele sofreu, os cortes, ampliações, melhorias, enfim, os diversos mo-
mentos pelos quais ele passou o que configura o processo histórico. 
Para compreender a diacronia e a leitura diacrônica, muito feita na Teologia bí-
blica, é necessário evidenciar alguns elementos fundamentais 1. Primeiro é preciso es-
tabelecer a estrutura formal do texto, depois evidenciar o gênero seu literário. O 
primeiro passo, a estrutura formal do texto, já foi abordado na exposição da leitura sin-
crônica. Para começar a compreender os gêneros literários é oportuno ver o que se 
segue. 
 
 
 
 
 
 
 
1 Vou seguir basicamente o texto de Cássio Murilo DIAS DA SILVA, Metodologia de exegese bíblica, pág. 174ss. 
Capítulo V 
——————————————————— Sincronia e Diacronia ——————————————————— 
7.6 
A. Gêneros literários bíblicos 
 
5.2.1. Antigo Testamento 
5.2.1.1. TEXTOS HISTÓRICOS — Por texto histórico se entende o texto que 
expõe um conjunto de fatos, personagens e o desenrolar de uma trama narrativa. O 
adjetivo histórico aqui não identifica o elemento historiográfico mas a expressão do que 
está sendo apresentado, contado, exposto. Os relatos desejam dar a conhecer a ação 
de Deus em Israel, na sua história. Desta forma é uma história teológica, não uma 
história como nos apresentam os manuais ditos históricos. 
A. Novela — Uma série de acontecimentos interligados formam uma novela. 
Geralmente é um personagem que é apresentado em uma novela. O esquema funda-
mental de uma novela pode ser resumido em: 1 — Início ou motivo: com uma situação 
de tensão, de conflito, de desencontro, de aflição, etc.; 2 — Meio ou desenrolar: toda a 
situação se complica; 3 — Conclusão: a tensão, conflito, desencontro, etc. são solucio-
nados. Como exemplo de novelas encontram-se: a história de José, filho de Jacó, em 
Gênesis 37;39—48; o livro de Rute. 
B. Narrativa — Na narrativa um personagem ou fato é apresentado e sobre ele 
é apresentada uma história. Mas é uma história teológica, não é uma crônica histórica 
ou historiográfica. Assim, pode-se dizer que há uma “narrativa da criação”, embora Gê-
nesis 1—2 não tenha a intenção de fazer uma descrição científica e muito menos histo-
riográfica. 
C. Saga — Um fato extraordinário realizado por um personagem ou um grupo 
de personagens e que justifica umasituação ou um local. Esta é a saga. Enquanto outros 
povos do oriente médio têm seus deuses e heróis que a eles se assemelham, Israel tem 
nas sagas as expressões de seus modelos e a explicação de suas origens. Podem-se 
identificar sagas de três tipos: 
a. Saga de tribo ou de povo — Um ancestral, seja ele real ou fictício ou então 
de contornos míticos. A adoção de Efraim e Manassés por Jacó em Gênesis 48 e, antes 
mesmo a justificação da origem dos amonitas e moabitas em Gênesis 19,30—38. 
b. Saga de herói — Um personagem, seja ele bom ou não, é o centro da saga 
de um herói que tem uma importância decisiva. Ele realiza ações surpreendentes e 
marca sua presença de modo decisivo. Exemplo disto são as gestas de Davi. 
c. Saga de lugar — Para explicar o porquê de um local e dar-lhe um horizonte 
no conjunto da história. Por exemplo a saga de Babel em Gênesis 11,1—19 ou do mar 
morto em 19,1—19. 
D. Lenda — A lenda é uma variante da saga. Caracteriza-se pela ideia de san-
tidade e imitação e apresenta oposição de personagens, com uma linguagem edificante. 
O fato milagroso e a ação vitoriosa de Deus são valorizados. 
a. Lenda pessoal — É um personagem que faz a história, podendo ser um pro-
feta, sacerdote, mártir. Ele é apresentado como um modelo a ser seguido. As lendas 
pessoais podem ser classificadas ainda em: lendas de profetas, quando o personagem 
é um profeta que é capaz de transformar a realidade e as expectativas de seus contem-
porâneos, como Elias e Eliseu; lendas sacerdotais, quando um sacerdote é o herói ou 
centro da atenção. Estas lendas sacerdotais são poucas: os textos ligados ao ciclo de 
Capítulo V 
——————————————————— Sincronia e Diacronia ——————————————————— 
7.7 
Samuel são deste tipo: lendas de mártires, quando são evidenciados os gestos heroi-
cos de figuras exemplares que deram a vida. Em 2 Macabeus encontram-se algumas 
delas. 
Em uma lenda pessoal parece que existe um esquema fundamental: 1 — Situa-
ção de crise; 2 — Súplica pela intervenção do profeta; 3 — Dúvida sobre a capacidade 
de superação; 4 — Passos para a realização; 5 — Afirmações durante o sinal; 6 — Efeito 
e consequências. 
b. Lenda de santuário — Um determinado lugar produz um relato ou, o que 
deve ser mais comum, aparecem relatos sobre o motivo de existir um santuário naquele 
local. Em geral Deus se manifesta naquele local e por isso passa a existir lá um santuá-
rio, como em Gênesis 16,7—14. 
c. Lenda cultural — Um rito ou um costume ou mesmo um elemento presente 
em algum rito existente é justificado por uma lenda que apresenta a sua origem. Exemplo 
é a serpente no Templo de Jerusalém, justificada por Números 21,4—9. 
 
5.2.1.2. TRADIÇÃO JURÍDICA — As tradições jurídicas são um encontro entre 
a adesão à fé já vista e os costumes do povo ou mesmo os impasses que a convivência 
causa. Podem-se dividir este tipo de tradição em apodítica e casuística. 
A. Direito apodítico –– São preceitos e mandamentos formulados de modo ca-
tegórico com apenas uma possibilidade de ação: ou sim ou não – “faça isto”, “não faça 
isto”. Podem apresentar-se sem referência a uma punição, como Êxodo 22,17. 28–30 e 
com uma ameaça de punição ou sanção, como em Êxodo 21,12.15–17. 
B. Direito casuístico –– É um modo de legislar a convivência e os desafios que 
ela impõem a uma sociedade que encontra na experiência religiosa sua identidade. O 
direito casuístico apresenta a situação e uma solução e punição. Além disso apresenta 
também algumas condições que podem modificar a punição. 
 
5.2.1.3. TRADIÇÃO PROFÉTICA –– O profetismo não é um elemento exclusivo 
de Israel pois outros povos do oriente tinham também suas tradições que podem ser 
chamadas de proféticas. No entanto, o profetismo como o tem Israel único, com contor-
nos, argumentos, desenvolvimento e desfechos sem precedentes ou sequência. A ex-
periência da Palavra de Deus que um Profeta singular vivenciava era algo pessoal e ele 
devia expressar através de uma linguagem que seus contemporâneos pudessem com-
preender. Os autores dos livros ditos proféticos por vezes exageram nas expressões 
para dar a conhecer a índole da mensagem, o que pode tornar difícil a compreensão 
para um leitor moderno de uma profecia do século VIII a.C., por exemplo. Além disso 
não há único estilo de escrita nestes textos, mas vários que compõem um interessante 
mosaico de referências. É necessário notar que palavras proféticas ou relacionadas aos 
profetas não estão contidas apenas nos chamados livros proféticos (ou “dos profetas!”), 
mas sim relacionadas às figuras proféticas e suas tradições. Desta forma as palavras 
dos profetas não estão apenas nos livros que levam os seus nomes, mas também em 
outros textos. 
A. Palavra de desgraça –– Juízo e castigo são anunciados, em geral em uma 
breve mas lapidar formulação que deve ter impressionado muito seus leitores originais 
ou antigos. São muitos os exemplos, belos e até impressionantes. Veja-se por exemplo 
Amós 4,1–3; 1 Reis 21,17–19; Jeremias 28,13–14. 
Capítulo V 
——————————————————— Sincronia e Diacronia ——————————————————— 
7.8 
B. Palavra de salvação –– A promessa é de salvação para Israel. Encontram-
se exemplos de palavras de salvação nos livros de Oséias, Jeremias, Ezequiel e Deu-
tero-Isaías, por exemplo em Isaías 41,8–12 e 44,1–5. 
C. Relato de ação simbólica –– São textos muito interessantes e acentuada-
mente presentes nos textos proféticos. Para expressar uma realidade ou situação, seja 
ela presente ou futura, o texto apresenta uma ação simbólica em que o importante não 
é o que é narrado mas o que a narração deseja transmitir. Há um marcante tom poético 
e didático e didático nestes textos, quando não dramático. Exemplo é o casamento de 
Oséias com uma prostituta. 
 
5.2.1.4. TRADIÇÃO SAPIENCIAL –– Está ligada ao ensinamento e tem um 
acento didático sempre presente. Há de ser considerar que a sabedoria em Israel não é 
como a sabedoria na Grécia ou entre os outros povos do Levante. Não se trata de en-
contrar a razão da vida, da existência, do porquê das coisas e sim do Senhor – compre-
ender sua ação sua atuação e de como o fiel pode agir em comunhão com Ele. 
A. Mašal (ou mashal) –– É um provérbio forte e marcante composto de poucos 
versos que força expressiva. Em geral este tipo de provérbio é apresentado em forma 
de paralelismo: com dois ou três linhas ou argumentos que se completam, contradizem 
ou repetem. Note-se que isto é muito semelhante a uma poesia das que costumeira-
mente se lê; contudo, há uma diferença fundamental: enquanto em grande parte da po-
esia moderna o que é importante são as rimas ou o número de sílabas ou então ambos 
combinados, na poesia hebraica expressa pelo mashal o que importa são o que as ideias 
expressam. 
a. Paralelismo sinonímico –– A segunda frase repete a primeira com termos 
iguais ou equivalentes, desejando assim reforçar a ideia expressa antes. Por exemplo: 
Provérbios 1,8; Eclesiástico 13,1. 
b. Paralelismo antitético –– As duas ou três frases se contradizem ou se 
opõem, evidenciando as diferenças e contrastes. Por exemplo: Provérbios 10,1–2. 
c. Paralelismo sintético –– Também chamado de progressivo pois uma fase 
completa a outra em uma progressão ou complementação de ideias. Exemplos: Provér-
bios 14,27; Salmo 1,6. 
d. Formas de valores –– São provérbios que expressam valores, estima ou 
reprovação de uma pessoa, uma coisa, um fato. Tem conotação ética e é muitas vezes 
em tom exortativo. Por exemplo: Provérbios 14,211; 16,8; 25,24. 
e. Questões retóricas –– É uma pergunta que tem embutida a resposta e é feita 
para avaliar uma ação da ação proposta ou da verdade enunciada. Exprime também 
uma convicção generalizada. Exemplos: Provérbios 6,27–29; Eclesiástico 22,14. 
B. Formas compostas –– Um mashal é uma forma mais simples, diga-se “bá-
sica” de expressão poética. As formas compostas reúnem mais elementos, formando 
uma espécie de sequência lógica de pensamento. 
a. Poema didático –– São os textos que expressam algum princípio quedeve 
ser observado pelo leitor. Pode ser em forma de discurso, como em Provérbios 4, 1–27; 
9, 13–18; Jó 18,5–21. Pode ser também em forma de descrição de caráter ou compor-
tamento, para o que se usa a palavra “etopéia”, como em Provérbios 6,6–11; 7,6–27; 
23,29–35. 
Capítulo V 
——————————————————— Sincronia e Diacronia ——————————————————— 
7.9 
b. Lista enciclopédica –– Aparece uma catalogação de fenômenos naturais ou 
atividades humanas. Por exemplo: Jó 28; Eclesiástico 41,17–42,8. 
c. Provérbio numérico –– São usados números ou quantia para desenvolver o 
poema. Por exemplo: Provérbios 30, 15ss; Eclesiástico 25,1.2. 
 
5.2.1.5. CANTOS –– São poemas destinados ao canto. Envolvem os momentos 
comuns como do dia-a-dia e suas surpresas e os decisivos, como a vida, a morte, a 
desgraça, a invasão, a solidão, a chegada, etc. Podem ser divididos em cantos do quo-
tidiano e os cantos de culto, também conhecidos como salmos. 
A. Cantos do quotidiano –– Fatos da vida marcam a expressão destes cantos 
e são realçados. 
a. Cantos de guerra –– São gritos de ordem, de exaltação, que elevam o moral 
de quem deve batalhar ou lutar para uma conquista. Por exemplo: 2 Reis 13, 17; Núme-
ros 22–24. 
b. Cantos de amor –– Exaltam o amor humano e a relação de amor humano. 
Exemplo mais evidente desse tipo de poema é o livro do Cântico dos Cânticos. 
B. Cantos de culto: Salmos –– São poemas de diversas autorias e origens, em 
geral atribuídos a seus autores. Eram usados em momentos litúrgicos em Israel, espe-
cialmente no culto do Templo mas também em outras ocasiões importantes da vida reli-
giosa hebraica. 
1. Hinos –– Um hino é uma expressão interior da experiência de Fé, como é 
também de toda experiência humana. De um lado tem-se o fascínio pela vida ou pelo 
Deus que se cultua e de outro lado tem-se a realidade de quem vive. E é aqui que este 
Deus se revela. O hino é como uma profissão de Fé na salvação que o Senhor faz acon-
tecer na história. Temos exemplos de hinos nos Salmos 8;29;104. O Hallel é um conjunto 
de hinos. Os Salmos 146–150, chamados Salmos aleluiáticos, são exemplos de hinos. 
2. Súplica –– A súplica é um estilo literário interessante. Trata-se de uma espé-
cie de drama representado por três pessoas ou lugares, sujeitos: Deus, o orante e o 
inimigo ou o perigo. Isto se dá em três dimensões de tempo: o passado perdido, o pre-
sente trágico e o futuro esperado. São exemplos de Salmos de súplica os Salmos 12; 
44; 60; 74; 79; 80; 83; 106; 123; 129; 137. 
3. Confiança e ação de graças –– Praticamente todo o Saltério tem um forte 
conteúdo de súplica e oração confiante. Junto à súplica há uma aproximação do fiel para 
com seu Deus, um agradecimento ou louvor. Exemplos de Salmos de súplica e agrade-
cimento encontramos nos Salmos 16; 23; 27; 131. Os Salmos de confiança e agradeci-
mento sugerem o “macarismo” ou bem-aventuranças – paz, alegria, esperança estão 
muito marcantes nestes Salmos. 
4. Litúrgicos –– Os Salmos têm sempre uma conotação litúrgica. Alguém, do 
Povo Eleito de Deus, o Deus de Abraão, Isaac e Jacó, “dialoga” com este Deus em um 
ambiente litúrgico ou em função da liturgia ou de um elemento a ela relacionado. Exem-
plos: 15; 24; 120 –– 134, bem como os Salmos 84 e 95. 
5. Sapienciais –– São Salmos que buscam os porquês, que refletem sobre fatos 
ou feitos, ditos ou não ditos. Estão muito próximos dos provérbios. São deste tipo os 
Salmos 1; 90; 112; 119; 128; 139. 
Capítulo V 
——————————————————— Sincronia e Diacronia ——————————————————— 
7.10 
6. Históricos –– São como catequeses sobre a ação de Deus. Declaram a ação 
do Deus dos Patriarcas na História, na vida do Povo Eleito. São de ambiente cultual, 
mas podem ser como hinos de confiança e identidade nacional. Falam da criação, dos 
Patriarcas, do êxodo, do deserto, de Canaã e de sua conquista. O Salmo 105(104) é 
caracterizado pela segurança que expressa. Deus não deixa o homem sozinho. Já o 
Salmo 106(105) denota muito pessimismo quanto ao ser humano em sua relação com 
Deus. O Salmo 136(135), parte do Grande Hallel, é uma reelaboração poética de Deu-
teronômio 26,5–9 e Juízes 24,1–3. 
7. Reais –– Aqui aparece a instituição da realeza ou a ideia de um rei ideal. É 
fundamental recordar que a Aliança davídica tem uma importância decisiva na visão po-
lítica e religiosa de Israel. Assim os Salmos reais destacam esta característica. São Sal-
mos reais os Salmos 2; 20; 21; 72; 89; 110. 
8. Imprecatórios –– São Salmos de maldição e castigo. Eles expressam um 
desejo interior de vingança ou pelo menos de inconformismo perante uma situação ou 
um fato recorrente. Como exemplo temos Salmos 79; 83; 129; 137. 
 
 
B. Novo Testamento 
O Novo Testamento é também todo ele composto de gêneros literários. Alguns 
destes gêneros têm relação ou ligação com os do Antigo Testamento, mas boa parte é 
própria apenas dele. Ainda seguindo as indicações2 de Dias da Silva podemos classifi-
car3 os gêneros do Novo Testamento com base nos critérios estabelecidos por R. Bult-
mann. 
 
5.2.1.6. EVANGELHOS — São textos onde o elemento narrativo está em evi-
dência. Mas não podem ser classificados simplesmente como narração, pois apresen-
tam diversos gêneros compondo sua trama. Aliás, os Evangelhos são os primeiros re-
presentantes do grande gênero literário chamado, propriamente, evangélico. Antes não 
havia um texto com esta identidade: os textos canônicos assim chamados do Novo Tes-
tamento são os primeiros. Seguindo a divisão de R. Bultmann os gêneros presentes nos 
Evangelhos são agrupados em tradição da história e tradição da palavra. São chamados 
assim a partir do resultado final do que apresentam: a história ou o conjunto dos fatos 
ou a palavra ou o conjunto de ensinamentos. 
 
A. Tradição histórica –– Encontram-se aqui os feitos de Jesus. Para narra-los 
existem os gêneros de milagre, vocação e controvérsia. 
a. Milagre –– Revelam a divindade, o messianismo ou a natureza de Jesus. Os 
relatos de milagres podem ser: de cura, como em Marcos 1,29–31; 1,40–45; 3,1–6, etc.; 
sobre ou com a natureza, como em Marcos 6,30–44; 4,37–41; Lucas 5,1–11, etc.; 
exorcismos ou sobre os demônios, como em Marcos 1,23–27, etc.; ressurreição, 
como em Marcos 5,21–24; Lucas 7,11–17; João 11,1–46. 
 
2 Cássio Murilo DIAS DA SILVA, Metodologia de exegese bíblica. Pág. 206ss. 
3 Poderia propor a divisão mais simplificada de tradição narrativa: Evangelhos e Atos; tradição epistolar; e tradição apocalíptica. 
É uma outra possibilidade de divisão do texto neotestementário. 
Capítulo V 
——————————————————— Sincronia e Diacronia ——————————————————— 
7.11 
b. Vocação –– Em uma breve narração é apresentado um comportamento a ser 
seguido. Por exemplo: Marcos 1,16–18.19–20. 
c. Controvérsia –– Em confronto com o Judaísmo representado em suas auto-
ridades os relatos de controvérsia destacam as consequências e realidades que uma 
opção conforme à proposta de Jesus pode gerar. Por exemplo: Marcos 11,27–33; 12,13–
17. 
 
B. Tradição da palavra –– Está baseada na comunicação da palavra de Jesus. 
É o material discursivo dos Evangelhos. 
a. Comparações, parábolas, alegorias, fábulas –– São recursos usados para 
expressar uma verdade ou propor uma ideia. 
b. Ditos proféticos –– Jesus fala do Reino de Deus e da necessidade de estar 
aberto para ele e seus valores e exigências. Por exemplo: Marcos 1,13; 12,38–40, etc. 
c. Ditos “eu” –– Compõem-se de frases que fazem afirmações a respeito da 
identidade de Jesus e sua missão. Por exemplo: Marcos 2, 17; Mateus 5,17; 20,34. 
 
5.2.1.7. EPÍSTOLAS — Uma epistola é um gênero literário específico mas pode 
ser formada de outros tantos elementos que não usados na sua redação. 
 
A. Liturgia –– Os textos de origem litúrgica inseridos nas epístolas são celebra-
tivos, voltados para a exaltação do mistério de Cristo na vida da Igreja. 
a. Hinos –– São cristológicos, exaltando a ação de Jesus. Por exemplo: Filipen-
ses 2,6–11; Colossenses 1,15–20; 1 Timóteo 3,16; 1 Pedro 2,21–24. O hino deRomanos 
11,33–36 é o único dirigido a Deus no conjunto das epístolas. 
b. Confissões de Fé –– A fé devia ser declarada e confirmada. As confissões 
de fé expressam o que a comunidade crê, como em Romanos 1,3–4. 
 
B. Parenese –– Refere-se aos comportamentos necessários para a vida cristã. 
a. Vícios e virtudes –– São elencados os vícios e virtudes a ser seguidos ou 
rejeitados. É bem ao estilo sapiencial. Vícios: Romanos 1,29–31; 1 Coríntios 5,10–11; 
Gálatas 5,19–21; virtudes: Gálatas 5,22–23; Filipenses 4,8–9; Colossenses 3,12–14. 
b. Moral familiar –– Abordam a vida doméstica e suas exigências do ponto de 
vista cristão. São apresentadas motivações e exortações para uma vida correta. Por 
exemplo: Efésios 5,22–6,6; Colossenses 3,18–4,1; 1 Pedro 2,18–3,12. 
c. Deveres –– Presentes apenas nas epístolas chamadas pastorais; ligados 
também à moral doméstica. Exemplos: 1 Timóteo 3,1–7; Tito 1,7–9. 
 
 5.2.1.8. APOCALÍPTICO — O nome do gênero é “apocalíptico”. O mais famoso 
representante deste gênero é o livro que leva este nome e está no final do cânon do 
Novo Testamento. Atente-se para o fato de que os Evangelhos também apresentam 
partes apocalípticas que são conhecidas, em seu conjunto, como “apocalipse sinótico” 
e cada um dos sinóticos, como o nome sugere, possui. 
Capítulo V 
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7.12 
Algumas das características do gênero apocalíptico são: acentuado uso de sim-
bolismos, linguagem teleológica, contínuo recurso ao Antigo Testamento e a outras 
fontes místicas ou lendárias, valorização de imagens cósmicas e históricas. 
 
 
C. Sitz in Leben ––– contexto ou situação vital 
Outro elemento necessário para uma análise diacrônica é a situação vital ou 
as circunstâncias típicas do texto. É o que se chama de Sitz in Leben 4. Eles são 
múltiplos e variáveis, não é possível determinar aqui um padrão absoluto, mas há cami-
nhos que podem ser seguidos. Na análise diacrônica, parte do método histórico–crítico, 
a identificação do Sitz in Leben é parte fundamental, pois identifica o “ambiente” em que 
o texto foi produzido e mesmo o por quê foi escrito, junto a um para quê. São as situações 
da vida, as exigências que surgem e determinam o que deve ser feito e existir. 
 
5.2.1.9. LITURGIA E CULTO — Os textos ligados a uma situação de fé e reli-
gião, culto ou expressão cultual. Este tipo de Sitz in Leben é muito presente pois grande 
parte do texto bíblico está relacionada ao culto, não expressamente mas implicitamente. 
Este tipo de SItz in Leben pode ser dividido em: 
A. Práticas cultuais –– Uma prática cultual existe e um texto dá a ela uma ori-
gem, explica sua motivação ou até o motivo de não se fazer de um certo modo. por 
exemplo os Salmos de peregrinação, como os Salmos 84; 95; 120; 134 nasceram ou 
foram escritos em um contexto litúrgico que deveria ser revivido em muitas circunstân-
cias. O texto de Gênesis 22 com o sacrifício de Isaac impedido no último momento pa-
rece ter sido também escrito também para repelir os sacrifícios humanos, bastante co-
muns na antiguidade. 
B. Santuários –– Um santuário que existe é um local de manifestação de Deus. 
O ambiente do santuário ou a sua negação são o Sitz in Leben do texto, como o julga-
mento do Santuário de Dã em Juízes 17–18. 
 
5.2.1.10. TRIBUNAL DE JUSTIÇA — A acusação ou defesa de pessoas ou 
pensamentos ou mesmo de atitudes compõem um especial Sitz in Leben. Em geral o 
que sobressai é um elemento da Torah ou algum aspecto da Aliança, como a renovação 
da Aliança em Siquém em Juízes 24. 
 
5.2.1.11. CATEQUESE E INSTRUÇÃO — Os textos que sugerem deste Sitz in 
Leben são para esclarecer a fé e dar os motivos da pertença à comunidade primitiva dos 
discípulos de Jesus, no caso do Novo Testamento, ou de alguma parte de Israel, no caso 
do Antigo Testamento. por exemplo, a longa expressão catequética do sermão da mon-
tanha em Mateus 5–7, os catálogos de vícios e virtudes em Gálatas 5,19–23; também, 
no Antigo Testamento, os Salmos 1;112, etc. 
 
 
4 Para esta análise continuamos seguindo o trabalho de Cássio Murilo DIAS DA SILVA, Metodologia de exegese bíblica. 
Pág. 229–35. 
Capítulo V 
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7.13 
5.2.1.12. PREGAÇÃO MISSIONÁRIA — A atividade da Igreja nascente foi in-
tensa enquanto pregação, com muitos recursos e argumentos fundamentais, com a res-
surreição no centro, no caso de um texto querigmático como em 1 Coríntios 15; um 
texto de milagres Jesus, por exemplo em Marcos 1,21–28 ou Lucas 7,18–23; um texto 
de controvérsias como em Marcos 11,27–33. 
 
5.2.1.13. POLÊMICA E APOLOGIA — O nascimento do Cristianismo foi em 
ambientes dominados ou pelo Judaísmo de fins do primeiro século ou de um helenismo 
muito forte, existente em todo Império Romano, especialmente na área da Ásia Menor e 
Grécia. Assim, muitos textos nascem neste ambiente e apresentam este específico Sitz 
in Leben. No caso de textos marcados pelo Judaísmo têm-se Mateus 2,15; Marcos 8,32; 
Lucas 24,26–27; no caso de marcados pelo paganismo: Atos dos Apóstolos 17, 16–34; 
1 Coríntios 1,18–2,16; Apocalipse 9,20; o Império Romano parece ser o ambiente do 
surgimento de Lucas 23,13–25; Romanos 13, 1–7; a existência de outros tipos ou ex-
pressões de Cristianismo estão na origem de Gálatas 2,15–21; 1 Timóteo 1,6–7. 
 
 
D. Tópos, Tópoi ––– “lugares” material tradicional 
Uma tradição cultural ou litúrgica pode gerar vários episódios e reflexões que 
são organizados de modo a formar uma história ou um conjunto de costumes que são 
expostos com critério de comportamento; podem também reflexões ou considerações. 
Algo deste tipo é chamado de tópos, que em grego quer dizer “lugar”, sendo seu plural 
tópoi. Não são esquemas de pensamento apenas, mas articulações literárias em que os 
argumentos são expostos e valorizados em uma roupagem narrativa, poética ou exorta-
tiva. Alguns autores podem chamar Os tipos de tópoi são: 
 
5.2.1.14. MOTIVO — Um motivo é o tópos de uma situação modelo que impul-
siona diversos e semelhantes episódios, mesmo que cada um tenha um modo ou um 
desfecho próprio. Por exemplo os irmãos inimigos: em Gênesis 4,1–16 são Caim e Abel, 
em 27, 1–28,5 são Esaú e Jacó; o tópos do justo sofredor: em Jó, onde o personagem 
central é ele próprio o justo que sofre, em Jeremias 26–28 e 36–45, onde é o profeta o 
justo que sofre; a mulher estéril que sofre e depois dá à luz, tópos que está imagem de 
Sara em Gênesis 21,1–7, na mãe de Sansão em Juízes 13,2–4, na figura de Isabel em 
Lucas 1,5–25. 39–45.57–66 e na figura de Maria que, embora não sendo estéril, é virgem 
e dá à luz um filho. 
 
5.2.1.15. IMAGEM — As imagens evocam sentimentos, realidades nem sempre 
palpáveis mas muito fortes na vida humana. Os topós de imagens podem ser bélicas, 
do mundo da guerra, como escudo no Salmo 18,3; 144,2; guerreiro no Salmo 35,2–3; 
imagens hilemorficas, relativas ao mundo natural, como rocha no Salmo 1,3; 31,3; 
92,13–15; 133,2; 58,11; zoomórficas, usando imagens de animais, como nos Salmo 73, 
22. Podem também ser imagens sociais ou do universo cultural, como por exemplo nos 
Evangelhos Jesus é apresentado como noivo em Marcos 2,19 e sua boa-nova é apre-
sentada como vinho em Marcos 2,22. 
 
Capítulo V 
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7.14 
5.2.1.16. TEMA E TESE — São conceitos abstratos, isto é, pensamentos, idéias, 
doutrinas, e por isso nem sempre fáceis de ser identificados ou compreendidos. Estão 
presentes em todos os tipos de texto e fazem a unificação de outros tantos temas ou 
imagens que poderiam, do contrário, estar descontínuos. Um tópos de tema não dá res-
postas, mas levanta questões, leva o leitor a pensar; já a tese sugere respostas sem 
problematizá-las e desta forma pede uma aceitação do leitor. Eles aparecem juntos 
como em Eclesiástico-Sirac em que o tema é o temor ao Senhor, ao passo que a tese é 
que o temos ao Senhor, enquanto sabedoria, é superior à filosofiagrega; em jó e Ecle-
siástico o tema é a doutrina da retribuição, enquanto a tese é a rejeição de tal doutrina; 
em Hebreus o tema é o sacerdócio de Cristo e a tese é que ele é superior ao sacerdócio 
da antiga Aliança. 
 
5.2.1.17. CONCEPÇÃO — Um significado já aceito e bem estabelecido é o tó-
pos de concepção. A concepção utiliza imagens como o dia do Senhor em Amós 5,18–
20; Jeremia 30,7s; Joel; o Templo como casa de Deus em Jeremias 7,1–15; Isaías 56; 
Marcos 11,17. 
 
5.2.1.18. ESQUEMA TRADICIONAL — É uma estrutura abstrata que demons-
tra convicções do autor e é usada como pano de fundo para o autor do texto. Como por 
exemplo: os dois caminhos em Deuteronômio 30,15–20; Salmo 1; Mateus 7,13–14; o 
princípio da retribuição em Provérbios 10,24–25; João 9,1–2.

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