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Seminário de Classe 2 - Alessandra Borges


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MÓDULO: TRIBUTO E SEGURANÇA JURÍDICA
SEMINÁRIO DE CLASSE II - ESPÉCIES TRIBUTÁRIAS
Turma: 202101-TSJ-BHZ-T2
Aluna: Alessandra Cristina Nunes da Cunha Borges
QUESTÕES DE PLENÁRIO
1- Quais são as espécies tributárias? Quais os critérios informam esta classificação? A destinação do produto da arrecadação tributária é relevante para a classificação jurídica dos tributos e consequente definição das espécies tributárias? Considerar, na análise da pergunta, o art. 167, inciso IV, da CF/88, e o art. 4º do CTN?
É possível observar que dentro da doutrina tributária, há quatro correntes para quantificar as espécies de tributos. A primeira é a corrente Bipartida, tendo como principal doutrinador Alfredo Augusto Becker, autor de uma teoria objetiva e minimalista, na qual considera que tributo somente poderia ser tributo ou taxa. 
A segunda corrente é chamada de Tripartida ou Tricotômica, que entende existirem três diferentes espécies de tributos. O CTN se filiou à essa corrente, pois em seu artigo 5º diz que “Os tributos são impostos, taxas e contribuições de melhoria”. Contudo, tal corrente começou a perder prestígio a partir da década de 60. 
Já a terceira corrente é chamada de Tetrapartida ou Quadripartite, que entende existirem quatro diferentes espécies de tributos. Há duas correntes Tetrapartidas: a primeira corrente diz que tributos são impostos, taxas, contribuições de melhoria e empréstimos compulsórios. Já a segunda corrente Tetrapartite entende que tributos são impostos, taxas, contribuições de melhoria e contribuições especiais.
Todavia, acorrente doutrinária majoritária é conhecida como teoria Pentapartite ou Quinquipartite, que entende que existem cinco diferentes espécies de tributos, sendo elas os impostos, as taxas, as contribuições de melhorias, os empréstimos compulsórios e as contribuições especiais. Esta corrente é adotada pelo STF, haja vista haver o entendimento de que apesar do artigo 145 da CR/88 mencionar como espécies de tributos: os impostos, as taxas e as contribuições de melhoria, não há menção na Carta Magma de que os tributos são APENAS impostos, taxas e contribuições de melhoria. Sendo assim, haveria mais duas espécies, a saber: os empréstimos compulsórios e as contribuições especiais.
De acordo com o julgamento do STF, proferido no Recurso Extraordinário n.º 138.284, sob relatoria do Ministro Carlos Velloso, existem cinco espécies tributárias no atual sistema tributário brasileiro, conforme trecho do voto a seguir: 
“As diversas espécies tributárias, determinadas pela hipótese de incidência ou pelo fato gerador da respectiva obrigação (CTN, art. 4º), são as seguintes: a) os impostos (CF, arts. 145, I, 153, 154, 155 e 156); b) as taxas (CF, art. 145, II); c) as contribuições, que podem ser assim classificadas: c.1. de melhoria (CF, art. 145, III); c.2. parafiscais (CF, art. 149), que são: c.2.1. sociais, c.2.1.1. de seguridade social (CF, art. 195, I, II, III), c.2.1.2. outras de seguridade social (CF, art. 195, §4º), c.2.1.3. sociais gerais (o FGTS, o salário-educação, CF, art. 212, §5º, contribuições para o SESI, SENAI, SENAC, CF, art. 240); c.3. especiais: c.3.1. de intervenção no domínio econômico (CF, art. 149) e c.3.2. corporativas (CF, art. 149). Constituem, ainda, espécie tributária: d) os empréstimos compulsórios (CF, art.148).”
Na década de sessenta, época em que o CTN foi editado, prevalecia uma corrente de “glorificação do fato gerador” (art. 4º, do CTN). Hoje, o fato gerador continua sendo um critério válido, mas deixou de ser um critério exclusivo para a distinção das espécies tributárias. Isso porquê, o STF entendeu que a destinação do produto arrecadado também seria um critério relevante e, após a edição da CR/88, houve um sensível aumento da complexidade do tema como um todo e do próprio Direito Tributo como ramo autônomo da ciência do Direito. Além disso, também existem alguns critérios que são inválidos para essa distinção como, por exemplo, a denominação e demais características adotadas pela lei. Ou seja, não é relevante o nome que o tributo possui, sendo afastado o nominalismo como critério. 
A par disso, tem-se também no inciso II, do artigo 4º, do CTN, a previsão de que a natureza jurídica específica do tributo é determinada pelo fato gerador da respectiva obrigação, sendo irrelevante para qualificá-la a destinação do produto da sua arrecadação. Ocorre que, esse inciso não foi recepcionado pela jurisprudência constitucional brasileira. Isso porquê, o STF entendeu que a destinação do produto arrecado é, sim, um critério relevante para a identificação/distinção de espécies tributárias.
Em síntese, tem-se dois critérios importantes para a classificação dos tributos, sendo eles: o fato gerador e a destinação do produto arrecado. Segundo a classificação do fato gerador, os tributos podem ser separados em tributos vinculados e não vinculados. Já conforme a classificação da destinação do produto arrecadado é possível distinguir os tributos entre finalísticos e não finalísticos (ou afinalísticos). 
Com o passar do tempo e com o aumento da complexidade dos temas afetos ao tributo houve uma reaproximação entre o Direito Tributário e o Direito financeiro e há hoje alguns entrelaçamentos bastante nítidos em tema Direito Tributário com despesas públicas. Dessa forma, é um exemplo deles a destinação do produto arrecadado, que passou a ser relevante para a identificação de uma espécie tributária, sendo o critério adotado pelo STF para separar os impostos das contribuições especiais do art. 149 da CR/88. As contribuições especiais também são tributos, nos quais seus fatos geradores não se vinculam a nenhuma atividade estatal, sendo fatos geradores realizados pelos particulares, mas a destinação do produto arrecadado à título de contribuições é predefinida seja na própria CR/88 seja na lei de instituição da contribuição
2- Diferençar taxa de preço público. Os serviços públicos de energia elétrica, telefone, água e esgoto, quando prestados diretamente pelas pessoas jurídicas de direito público, são remuneráveis por taxa? E no caso de concessão desses serviços? E os serviços que embora prestados pelo Poder Público, são susceptíveis de prestação pela iniciativa privada em regime concorrencial?
Segundo a Súmula 545 do STF: “preços de serviços públicos e taxas não se confundem, porque estas, diferentemente daquelas, são compulsórias e têm sua cobrança condicionada à prévia autorização orçamentária em relação à lei que as instituiu.”
Conforme as lições de Eduardo Domingos Bottallo e José Eduardo Soares de Melo[footnoteRef:1]: [1: Eduardo Domingos Bottallo; José Eduardo Soares de Melo. Comentários às súmulas do STF e STJ, p 85.] 
 A doutrina tradicional aponta dois elementos identificadores do preço público e da taxa, quando postos em confronto. Um desses elementos tem natureza político-jurídica: as taxas são “coativas” e os preços, não; o outro é de índole econômica: as taxas são receitas derivadas (provém do patrimônio dos particulares) e os preços, receitas originárias (sua fonte é o próprio setor público).
Além disso, nos termos do voto do Min. Carlos Velloso na ADI 447: “taxa e preço público diferem quanto à compulsoriedade de seu pagamento. A taxa é cobrada em razão de uma obrigação legal enquanto o preço público é de pagamento facultativo por quem pretende se beneficiar de um serviço prestado”.
O serviço de energia iluminação pública foi entendido pelo Supremo Tribunal Federal, no RE 573.675-0/SC com Repercussão Geral, como uma espécie sui generis, a seguir:
EMENTA: CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. RE INTERPOSTO CONTRA DECISÃO PROFERIDA EM AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE ESTADUAL. CONTRIBUIÇÃO PARA O CUSTEIO DO SERVIÇO DE ILUMINAÇÃO PÚBLICA - COSIP. ART. 149-A DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. LEI COMPLEMENTAR 7/2002, DO MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ, SANTA CATARINA. COBRANÇA REALIZADA NA FATURA DE ENERGIA ELÉTRICA. UNIVERSO DE CONTRIBUINTES QUE NÃO COINCIDE COM O DE BENEFICIÁRIOS DO SERVIÇO. BASE DE CÁLCULO QUE LEVA EM CONSIDERAÇÃO O CUSTO DA ILUMINAÇÃO PÚBLICA E O CONSUMODE ENERGIA. PROGRESSIVIDADE DA ALÍQUOTA QUE EXPRESSA O RATEIO DAS DESPESAS INCORRIDAS PELO MUNICÍPIO. OFENSA AOS PRINCÍPIOS DA ISONOMIA E DA CAPACIDADE CONTRIBUTIVA. INOCORRÊNCIA. EXAÇÃO QUE RESPEITA OS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE. RECURSO EXTRAORDINÁRIO IMPROVIDO. I - Lei que restringe os contribuintes da COSIP aos consumidores de energia elétrica do município não ofende o princípio da isonomia, ante a impossibilidade de se identificar e tributar todos os beneficiários do serviço de iluminação pública. II - A progressividade da alíquota, que resulta do rateio do custo da iluminação pública entre os consumidores de energia elétrica, não afronta o princípio da capacidade contributiva. III - Tributo de caráter sui generis, que não se confunde com um imposto, porque sua receita se destina a finalidade especifica, nem com uma taxa, por não exigir a contraprestação individualizada de um serviço ao contribuinte. IV - Exação que, ademais, se amolda aos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. V - Recurso extraordinário conhecido e improvido. (RE 573675/SC – Tribunal Pleno – rel. Min. Ricardo Lewandwski, j. 25.03.2009).
A Contribuição de Iluminação Pública, se entendida como constitucional, se assemelharia às taxas, no sentido de só ser devida uma vez que houve contraprestação. Contudo, seria impossível quantificar a montante que cada contribuinte utilizou, diferenciando-se da taxa por não ser divisível. 
No que concerne à água e ao esgoto, para o doutrinador Hugo de Brito Machado[footnoteRef:2], o fornecimento de água e de esgoto é cobrado por taxa quando tal atividade for realizada sem haver outro meio que não seja o serviço público, como pode-se observar: [2: MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 32ª Edição. São Paulo: Editora Malheiros, 2011. p. 443.] 
O mesmo pode ser dito do serviço de água e esgoto. Se há norma proibindo o atendimento da necessidade de água e de esgoto por outro meio que não seja o serviço público, a remuneração correspondente é taxa. Se a ordem jurídica não proíbe o fornecimento de água em pipas, nem o uso de fossas, nem o transporte de dejetos em veículos de empresas especializadas, nem o depósito destes em locais para esse fim destinados pelo Poder Público, ou adequadamente construídos pela iniciativa privada, então a remuneração cobrada pelo serviço público de fornecimento de água e esgoto é preço público. Se pelo contrário, existem tais proibições, de sorte a tornar o serviço público o único meio de que se dispõe para o atendimento da necessidade de água e esgoto, então a remuneração respectiva será taxa.
Assim, se a norma obriga a utilização do serviço público, não permitindo outro meio para efetuar o serviço, então há que se falar na compulsoriedade da taxa. E, caso não haja obrigatoriedade na utilização do serviço público, pois o atendimento pode ser feito por outro meio, então a cobrança não ficará atrelada aos parâmetros tributários.
Há também outro entendimento de que em casos em que o serviço público for realizado por ente público esse será cobrado por taxa e em casos de serviço realizado por ente particular esse será preço público/tarifa.
Contudo, no recente julgado RESP n. 167.489/SP, a natureza jurídica da remuneração decorre da essência da atividade realizadora, não sendo afetada pela existência da concessão. O concessionário recebe remuneração da mesma natureza daquela que o Poder Concedente receberia, se prestasse diretamente o serviço.
Conforme o art. 11, da Lei n. 2.312 determina: “É obrigatória a ligação de toda construção considerada habitável à rede de canalização de esgoto, cujo afluente terá destino fixado pela autoridade competente”. Assim, a remuneração dos serviços de água e esgoto normalmente seria feita por taxa, em face da obrigatoriedade da ligação domiciliar à rede pública.
Por fim, a jurisprudência do STJ firmou-se no sentido de que no caso de serviços prestados pelo Poder Público em regime concorrencial com a iniciativa privada o entendimento é de que a remuneração o corre por meio de preço público, pois sendo igualmente prestado pela iniciativa privada, não se sujeita aos princípios da legalidade e anterioridade.
3 - Agência reguladora nacional, pela cobrança anual da Taxa de emissão e renovação de certificado de licença, arrecada dez vezes mais do que o custo total da fiscalização. Ao receber o quantum arrecadado, a União destina o recurso “a maior” para outros fins. O contribuinte tem direito a repetição da taxa, vez que o valor arrecadado é superior ao custo da prestação estatal tomada como hipótese de incidência? E se, ao invés de taxa, fosse uma contribuição social?
O contribuinte tem direito a repetição da taxa, uma vez que o valor arrecadado deve corresponder ao efetivo custo estatal com aquela prestação estada tomada como hipótese de incidência, se não violaria o princípio da referibilidade, de acordo com o qual o valor arrecadado deve ser suficiente ao custeio do serviço prestado/posto à disposição do contribuinte ou à fiscalização do poder de polícia. Além disso, ao destinar o recurso a maior para outros fins, atua o ente público em desvio de finalidade, gerando enriquecimento ilícito do Estado, o que viola, também, o princípio de vedação ao confisco, já que o estado não pode auferir lucro. Mesmo havendo destinação diversa do montante a maior recolhido, o indivíduo não pode ter o ônus. Por isso, a taxa deve ser declarada inconstitucional. Após a declaração de inconstitucionalidade da referida exação, o contribuinte adquire a repetição da taxa em seu valor integral.
Já no que concerne à contribuição social não cabe a restituição, pois as contribuições sociais são tributos não vinculados à uma atividade estatal, bem como haveria dificuldade para mensuração dos custos estatais, já que são utilizados em prol da sociedade. 
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