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O ensino das Classes de Palavras sob uma nova perspectiva

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1. Introdução
É comum no âmbito da educação debates que envolvem o ensino de gramática nas escolas, mostrando a ineficácia dos métodos arcaicos, baseados em um ensino teórico sem aplicabilidade na vida prática dos alunos. De fato, observa-se que grande parte dos alunos têm se formado sem a capacidade de ler, compreender e produzir textos. Dentro desse contexto, o presente trabalho tem por objetivo apresentar o ensino das Classes de palavras na perspectiva da gramática tradicional, além de propor novas formas de ensino pautadas em contextos reais de usos. A partir disso, será possível romper com os atuais parâmetros de ensino, norteando o caminho dos professores de Língua Portuguesa e contribuindo para o desenvolvimento da competência linguística dos alunos do ensino básico. 		Devido à dimensão do léxico da língua portuguesa, a fim compreender melhor sua estrutura e uso, as palavras foram divididas em dez classes, classificadas, segundo a gramática tradicional, como: Substantivo, verbo, adjetivo, pronome, artigo, numeral, preposição, conjunção, interjeição e advérbio. Essa divisão foi feita a partir da observação de critérios morfológicos, sintáticos e semânticos. Através do ponto de vista morfológico se observa a constituição interna das palavras, ou seja, sua forma material, como se alteram de acordo com a concordância necessária. Em relação ao ponto de vista sintático ou funcional é possível identificar a relação que as palavras estabelecem inseridas na estrutura da frase. E, por fim, do ponto de vista semântico se observa a produção dos significados da língua. A utilização dos três critérios é essencial para verificar as diferenças e semelhanças de comportamento que existem entre os grupos de palavras. Ainda, dentro das dez classes, existe uma subdivisão entre dois grupos, que são classificados como: Palavras variáveis e invariáveis. Sendo consideradas invariáveis as classes que não apresentam mudanças morfológicas, que são: advérbio, 	preposição, conjunção e interjeição. Já as variáveis apresentam mudanças morfológicas, com a adição de desinências verbais de modo, tempo, número e pessoa, que são: O substantivo, artigo, adjetivo, pronome e numeral. 	
2. As Classes de palavras na perspectiva da Gramática Tradicional
 Nas escolas, geralmente, os livros didáticos e as gramáticas apresentam definições descontextualizadas, as quais, os alunos têm, fundamentalmente, a função de decorar. Nesse contexto, serão descritas e analisadas as definições de cada classe presente na gramática de Bechara (2015), a fim de propor uma reflexão sobre os critérios utilizados. 									O substantivo é classificado por Bechara (2015) como: 
É a classe de lexema que se caracteriza por significar o que convencionalmente chamamos de objetos substantivos, isto é, em primeiro lugar, substâncias (homem, casa, livro) e, em segundo lugar, quaisquer outros objetos mentalmente apreendidos como substâncias, quais sejam qualidades (bondade, brancura), estado (saúde, doença), processos chegada, entrega, anunciação. (BECHARA 2015, p.118)
	Na definição feita por Bechara (2015), percebe-se que, como na maioria das gramáticas e livros didáticos, é considerado apenas o critério semântico, levando em conta somente a propriedade de “nomear seres”. 				. 		Já a Classe dos adjetivos, ele classifica como: 
A classe de lexema que se caracteriza por constituir a delimitação, isto é, por caracterizar as possibilidades designativas do substantivo, orientado delimitativamente a referência a uma parte ou a um aspecto do denotado. (BECHARA 2015, p. 149)
	Nessa definição o gramático utilizou tanto o critério semântico, como o sintático, ao apresentar a função que a palavra estabelece inserida no sintagma. 	A classe dos artigos é definida por Bechara (2015) como: 
Chamam-se artigo definido ou simplesmente artigo o, a, os, as que se antepõem a substantivos, com reduzido valor semântico, demonstrativo e com função precípua de adjunto desses substantivos. A tradição gramatical tem aproximado este verdadeiro artigo de um, uns, uma, umas, chamados artigos indefinidos, que se assemelham a o, a, os, as pela mera circunstância de também funcionarem como adjunto de substantivo, mas que do autêntico artigo diferem pela origem, tonicidade, comportamento, no discurso, valor semântico e papéis gramaticais. (BECHARA 2015, p. 160)
Nessa definição o gramático evidencia o baixo valor semântico dessa classe e ressalta o critério sintático, considerando a sua relação com o substantivo.		Os pronomes para Bechara (2015) são definidos como: 
É a classe de palavras categoremáticas que reúne unidades em um núcleo limitado e que se refere a um significado léxico pela significação ou por outras palavras do contexto. De modo geral, esta referência é feita a um objeto considerando-o apenas como pessoa localizada no discurso. Do ponto de vista semântico, os pronomes estão caracterizados porque indicam dêixis (―o apontar para‖), isto é, estão habilitados, como verdadeiros gestos verbais, como indicadores, determinados ou indeterminados, ou de uma dêixis contextual a um elemento inserido no contexto, como é o caso, por exemplo, dos pronomes relativos, ou de uma dêixis ad oculus, que aponta ou indica um elemento presente ao falante. A dêixis será anafórica se aponta para um elemento já anunciado ou concebido, ou catafórica, se o elemento ainda não foi enunciado ou não está presente no discurso. Os pronomes podem apresentar-se como absolutos – capazes de funcionar como núcleo de um sintagma nominal, à maneira dos substantivos – ou como adjuntos do núcleo, à maneira dos adjetivos, dos artigos e dos numerais. (BECHARA, 2015, p.169)
	Nessa definição, o gramático também privilegia o critério semântico, apesar de apresentar também uma abordagem sob o ponto de vista sintático, ao destacar sua funcionalidade no sintagma nominal. 							O advérbio é definido por Bechara (2015) como: 
A expressão modificadora que por si só denota uma circunstância (de lugar, de tempo, modo, intensidade, condições, etc.) e desempenha na oração a função de adjunto adverbial. O advérbio é constituído de uma palavra de natureza nominal ou pronominal e se refere geralmente ao verbo, ou ainda, dentro de um grupo nominal unitário, pode se referir a um adjetivo e a um advérbio (BECHARA, 2015, p.232).
	O gramático privilegiou também o critério semântico, mas apresenta também o critério funcional, ao destacar a função como núcleo de um sintagma nominal ou adjunto de um núcleo. 										A definição de verbo é apresentada como: 
Entende-se por verbo a unidade de significado categorial que se caracteriza por ser um molde pelo qual organiza no falar seu significado lexical. (BECHARA, 2015, p. 252)
	Privilegia-se, nesse caso, o critério funcional. Como a palavra se organiza dentro da frase. 											E por último, a definição de preposição
Chama-se preposição a unidade linguística desprovida de independência – isto é, não aparece sozinha no discurso, salvo por hipertaxe – e, em geral, átona, que se junta a substantivos, adjetivos, verbos e advérbios para marcar as relações gramaticais que elas desempenham no discurso quer nos grupos unitários nominais, quer nas orações. Não exerce nenhum outro papel que não seja ser índice da função gramatical do termo que ela introduz (BECHARA, 2009, p.311).
	Nessa definição o gramático utiliza, também, do critério funcional. 			As demais classes não serão explicitadas, pois, com o que já foi discorrido é possível perceber que, em todas as definições feitas, não há a utilização dos três critérios necessários, sendo privilegiado apenas o critério semântico e funcional. Isso é problemático, pois, apresenta uma visão limitada da língua, não permitindo que o aluno analise de forma fundamentada a função de cada classe e perceba a diferença de usos entre elas, causando dificuldades nas aulas de português. Além disso, outras gramáticas e livros didáticos apresentam definições que contemplam diferentes critérios, fazendo com que os alunos fiquem confusos. 
3. Sob uma nova perspectiva
	Sabe-seque, na área do ensino de língua portuguesa, o estudo de Classes de palavras se inicia desde o ensino fundamental e continua até os últimos anos do ensino básico, mas, como foi visto, esse ensino é basicamente voltado para nomenclaturas e definições rasas, que não abrangem os parâmetros necessários. Levando em consideração que a assimilação do funcionamento da língua é essencial para a compreensão e produção de textos, cabe à nós, professores, buscar formas de ensino que contemplem efetivamente os contextos de uso e ajudem os alunos a desenvolver a competência linguística.					O linguista Mattoso Câmara (1970) afirma que o critério semântico não deve ser observado sozinho, como acontece na maioria das gramáticas, pois, ele está ligado à forma de maneira tão estreita que não seria possível distinguir nomes de verbos utilizando apenas esse critério. Dentro desse contexto, podem-se enquadrar diversas definições em que há uma diferença muito sutil entre elas, quando é utilizado somente um critério, tornando o conteúdo confuso para os alunos. 		Com isso, para que haja um aprimoramento do ensino de Língua Portuguesa os professores devem repensar a escolha dos materiais didáticos utilizados. Nos livros e nas gramáticas, devem observar se há a utilização dos três critérios para as definições e se os exercícios levam os alunos a refletir sobre o funcionamento da língua, ou somente cobram o conhecimento de nomenclaturas. Além disso, os exercícios devem estar inseridos em um contexto de uso, assim, os alunos saberão associar o que está sendo estudado a algo efetivo. Ademais, o professor deve considerar os conhecimentos prévios do aluno, levando em conta que os alunos possuem uma competência linguística inata, além da capacidade de assimilar conteúdos e que desenvolverem conhecimentos línguisticos por estarem inseridos em um meio de fala e uso da língua, como afirma a teoria Gerativista de Chomsky (1968),												Ao ensinar gramática, o professor também deve vincular esse ensino às outras áreas de conhecimento, pois, geralmente, o ensino de gramática é feito de forma isolada e os alunos não conseguem associar ao uso prático, como na produção textual. À vista disso, entender onde e porque usar determinado conhecimento. O lingüista Mário Perini (1977) afirma que:
Uma coisa que nos poderiam ter dito na escola (mas, em geral, não disseram) é para quê a gente precisa separar as palavras em classes. Ora, a razão é semelhante à que nos obriga a separar os animais em classes, ordens, espécies etc.: classificamos as palavras para podermos tratar delas com um mínimo de economia. (PERINI, 1997,p. 41	)
É importante ressaltar que o papel do professor de Língua Portuguesa é fazer com que o aluno compreenda o funcionamento da língua, dessa forma, é necessário que os alunos desenvolvam um conhecimento profundo dos fenômenos estudados. Assim, o professor deve propor atividades em que os alunos possam identificar padrões na língua, no caso do ensino de classes de palavras sugerir que encontrem semelhanças entre os papéis designados para cada vocábulo. E por fim, deve haver uma organização dos conteúdos estudados e das idéias e padrões encontrados, para que os alunos possam assimilar as informações a algo prático e não apenas decorá-las para reproduzi-las em exames. 
4. Conclusão
Portanto, conclui-se que ainda são necessárias diversas mudanças em como as Classes de palavras são ensinadas nas escolas, mas, também é importante ressaltar que é um conteúdo indispensável para que o aluno possa aprimorar suas habilidades linguísticas. Assim, cabe ao professor preparar os alunos para as diversas situações línguisticas, propondo um ensino contextualizado, em que eles possam assimilar os conhecimentos ao uso prático. 						Ainda, em relação às Classes de palavras, é significativo lembrar que a escolha do material didático utilizado durante as aulas é essencial para que haja uma compreensão efetiva de como cada classe se comporta, pois, nas definições devem constar os três critérios necessários para classificação e não só o semântico ou sintático, como foi analisado na gramática de Bechara (2015). 				Por fim, destaco que se todos os métodos pontuados no discorrer do trabalho forem levados em conta no ensino de Língua Portuguesa em sala de aula, futuramente teríamos alunos formados com a competência linguística desenvolvida de forma legítima, capazes de ler, interpretar e produzir bons textos. 
5. REFERÊNCIAS:
BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 38 ed. rev. ampl. e atual. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015.
CÂMARA Jr., J.M. Estrutura da língua portuguesa. Petrópolis: Vozes, 1970.
CONCEIÇÃO, Illa M. Pinheiro. Ensino de Classes de Palavras sob uma perspectiva da aprendizagem ativa. Universidade de Brasília: Departamento de linguística, línguas clássicas e português – LIP, Brasília, 2017.
CHOMSKY,N. Language and Mind. New York: Harcourt, Brace & World, 1968.
Universidade Federal de Minas Gerais
Literatura Brasileira
Luiza Reis Ferraz 
O ensino das Classes de Palavras sob uma nova perspectiva
Belo Horizonte/ MG
2019
Universidade Federal de Minas Gerais
Literatura Brasileira
Luiza Reis Ferraz 
O ensino das Classes de Palavras sob uma nova perspectiva
Trabalho realizado para a disciplina de FUND. MET. DO ENS. DE PORT: PRÁTICA DO ENS. DE ANÁLISE LING., turma TMS10, ministrada pela professora Adriane Sartori. 
Belo Horizonte/ MG
2019

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