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26 Memoriais de Alegações Finais de Destituicao do Poder Familiar

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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA VARA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE DA COMARCA DE XXXXXXXXXX/XX. 
Destituição do Poder Familiar
J A (“requerida” ou “genitora”), devidamente qualificada nos autos em epígrafe, pela D P S, presentados nos autos pelo “ADVOGADO” subscritor, dispensada da apresentação de instrumento de mandato por força do disposto no artigo 128, inciso XI, da Lei Complementar nº 80/94, e se valendo das prerrogativas de intimação pessoal, a teor do artigo 128, inciso I, deste mesmo normativo legal, com endereço para intimações pessoais na XXXXXXXXXXXXXXXX, vem à presença de Vossa Excelência apresentar MEMORIAIS nos autos em epígrafe da AÇÃO DE DESTITUIÇÃO DO PODER FAMILIAR que move em seu desfavor o M P, com relação as crianças M R F, A S F e M S F. 
1. DOS FATOS
O M P ingressou com a presente ação de destituição do poder familiar em face das partes requeridas sob o argumento de não reunirem condições suficientes para cuidar de seus filhos. 
Contudo, refutam-se todos os fatos apontados na petição inicial para justificar a destituição do poder familiar (artigo 341, inciso III e parágrafo único do Código de Processo Civil), pois é plenamente possível o convívio das partes na família natural, bastando apenas a aplicação de medidas protetivas e acompanhamento familiar pela rede técnica de assistência social.
Nesse sentido, não há comprovação de nenhuma das situações legais capazes de justificar o afastamento do convívio familiar, e muito menos da destituição do poder familiar.
Ademais, são absolutamente genéricas todas as acusações feitas. A realidade é que nunca foram poupados esforços para oferecer as melhores condições às crianças, sempre havendo no núcleo familiar demonstração de afeto e cuidados mútuos. Desta forma, não há justificativa para suspenção do poder familiar e nem mesmo motivos para a continuidade da presente ação de destituição do poder familiar, sendo possível a manutenção da convivência familiar. 
Tão excepcional é esta hipótese que o legislador trouxe um rol taxativo com as causas ensejadoras da destituição do poder familiar, conforme artigo 1.638 do Código Civil. Porém, conforme pode se verificar, nenhuma das hipóteses previstas ao caso está devidamente comprovada na petição inicial.
No tocante aos apontamentos constantes na petição inicial, nunca houve abuso da autoridade parental ou falta aos deveres inerentes aos genitores. Também jamais ocorreu castigo imoderado, abandono, prática de atos contrários à moral e aos bons costumes, ou entrega de forma irregular dos filhos a terceiros para fins de adoção.
Cabe salientar ainda a necessidade de aplicação das medidas protetivas previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente previamente ao pedido de destituição do poder familiar, tal qual a ação de acolhimento institucional, pois não restou comprovada a impossibilidade de reintegração familiar.
Saliente-se, por oportuno, que a pobreza e a miserabilidade não podem servir de fundamento para a destituição familiar. Nesse sentido cabe destacar a previsão do artigo 23, caput, do Estatuto da Criança e do Adolescente: “A falta ou a carência de recursos materiais não constitui motivo suficiente para a perda ou suspensão do poder familiar”.
Ademais, o direito da criança e do adolescente é de permanecerem preferencialmente no seio da família de origem, ainda que a situação familiar aponte vulnerabilidade social e econômica. 
Assim, diferentemente do pretendido pelo órgão ministerial, a destituição do poder familiar não se afigura como o melhor desfecho, razão pela qual se espera a total improcedência do pedido vertente.
Em resumo são os fatos, sendo de rigor que a ação seja julgada improcedente, sendo aplicadas as medidas protetivas previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente, a fim de possibilitar a manutenção das crianças às suas famílias naturais.
2. PRELIMINARMENTE 
A) DA INÉPCIA DA PETIÇÃO INICIAL 
É requisito da petição inicial, previsto no artigo 319 do Código de Processo Civil, o fato e fundamento jurídico do pedido.
Inicialmente adverte-se que a inicial não atende aos requisitos da lei processual. 
Na exordial o pedido de destituição do poder familiar foi feito sem apontar qualquer fundamento fático ou jurídico para tanto, ou seja, com total ausência de causa de pedir. 
De acordo com o artigo 330, inciso I, do Código de Processo Civil, a petição inicial deve ser indeferida quando for inepta. Por sua vez, o parágrafo primeiro do referido dispositivo legal elenca como hipótese de inépcia a falta de causa de pedir.
Sendo assim, a petição inicial deve ser indeferida com base no artigo 330, inciso I, do Código de Processo Civil, por ser inepta em razão da ausência de causa de pedir. 
B) DA NECESSIDADE DA APLICAÇÃO DE MEDIDAS DE PROTEÇÃO PREVIAMENTE À AÇÃO DE DESTITUIÇÃO DO PODER FAMILIAR
O Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu artigo 101, elenca uma série de medidas de proteção, dentre as quais está o acolhimento institucional.
O mesmo dispositivo ainda traz algumas especificações quanto à essa medida, dentre as quais vale a pena destacar:
“Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade competente poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas:
(...)
§1º O acolhimento institucional e o acolhimento familiar são medidas provisórias e excepcionais, utilizáveis como forma de transição para reintegração familiar ou, não sendo esta possível, para colocação em família substituta, não implicando privação de liberdade.  (...)
§ 4o  Imediatamente após o acolhimento da criança ou do adolescente, a entidade responsável pelo programa de acolhimento institucional ou familiar elaborará um plano individual de atendimento, visando à reintegração familiar, ressalvada a existência de ordem escrita e fundamentada em contrário de autoridade judiciária competente, caso em que também deverá contemplar sua colocação em família substituta, observadas as regras e princípios desta Lei. 
(...)
§ 7o  O acolhimento familiar ou institucional ocorrerá no local mais próximo à residência dos pais ou do responsável e, como parte do processo de reintegração familiar, sempre que identificada a necessidade, a família de origem será incluída em programas oficiais de orientação, de apoio e de promoção social, sendo facilitado e estimulado o contato com a criança ou com o adolescente acolhido. (...)
§ 9o  Em sendo constatada a impossibilidade de reintegração da criança ou do adolescente à família de origem, após seu encaminhamento a programas oficiais ou comunitários de orientação, apoio e promoção social, será enviado relatório fundamentado ao Ministério Público, no qual conste a descrição pormenorizada das providências tomadas e a expressa recomendação, subscrita pelos técnicos da entidade ou responsáveis pela execução da política municipal de garantia do direito à convivência familiar, para a destituição do poder familiar, ou destituição de tutela ou guarda” (g.n.).
Ainda, o artigo 100 do Estatuto deixa claro que se deve dar preferência às medidas que visem ao fortalecimento dos vínculos familiares, prevendo em seu parágrafo único os princípios norteadores das medidas de proteção.
A simples leitura desses dispositivos nos permite perceber que o objetivo do Estatuto é que haja a reintegração familiar da criança ou adolescente acolhido, devendo ser tomadas todas as medidas cabíveis necessárias para se atingir tal objetivo. Se, após a adoção de todas essas medidas, ficar constatada a impossibilidade de reintegração familiar, aí sim a criança ou adolescente deverá ser colocada em família substituta com a consequente destituição do poder familiar dos genitores. 
Contudo, no presente caso ao invés de se adotar medida protetiva visando a reintegração familiar, o Ministério Público ingressou diretamente com a presente ação pleiteando a destituição do poder familiar com pedido liminar de suspensão do poder familiar e acolhimento institucional.
Ora, mais quais medidas foram adotadas buscando a reintegração familiar que possibilitou aconclusão de que tal reintegração não é possível previamente à instauração da presente ação de destituição?????
A finalidade do Conselho Tutelar é zelar pela aplicação dos direitos da criança assegurados no Estatuto da Criança e do Adolescente, e um dos direitos fundamentais do Estatuto é o da convivência familiar. O Direito Fundamental da Convivência Familiar está assegurado pelo artigo 227 da Constituição Federal de 1988.
O afastamento do convívio familiar é cabível somente em casos excepcionais e por determinação judicial. O encaminhamento para instituição de acolhimento é a última medida de proteção que o Conselho Tutelar deve recorrer. Antes de tal medida todos os esforços devem ser empreendidos para manter a criança e o adolescente no seio de sua família.
Na medida em que o Estatuto da Criança e do Adolescente protege os direitos das crianças e adolescentes, protege fundamentalmente a família, prevendo uma séria de medidas aplicáveis para a manutenção dos vínculos familiares naturais.
Aliás, cabe mencionar aqui um dos graves equívocos dos procedimentos verificatórios que, usurpando função administrativa dos Conselhos Tutelares, não aplicam as medidas previstas na lei para o fortalecimento e manutenção dos vínculos, partindo diretamente para a medida restritiva de direitos, em afronta direta aos princípios do Estatuto e da Constituição Federal, que preveem como princípio dos direitos da criança e adolescente o direito à convivência familiar e comunitária, priorizando a manutenção dos vínculos familiares de origem. 
Quando um dos genitores encontra-se em dificuldades, o Estatuto prevê que o Conselho Tutelar aplicará as medidas de proteção aos pais, com a finalidade de preservar o vínculo. 
O acolhimento Institucional é medida válida, porém, excepcional. A lei determina que as famílias sejam incluídas em programas oficiais de auxílio para manutenção dos vínculos. Nenhuma das medidas previstas no artigo 129 do ECA foram tomadas, partindo-se, diretamente, para a medida de acolhimento, e pior para a propositura da presente ação de destituição do poder familiar. 
Portanto, de rigor a aplicação das medidas protetivas previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente previamente ao pedido de destituição do poder familiar, tal qual a ação de acolhimento institucional, pois não restou comprovada a impossibilidade de reintegração familiar. 
3. DO DIREITO
A) DO NÃO CABIMENTO DA SUSPENSÃO DO PODER FAMILIAR
Além da destituição do poder familiar, foi pleiteada liminarmente a suspensão do poder familiar, a qual foi deferida. 
Contudo, não se encontram presentes os requisitos para o deferimento da suspensão do poder familiar. Com efeito, não foi devidamente fundamentada a decisão que determinou a suspensão do poder familiar.
As partes requeridas não tiveram sequer tempo de demonstrarem ter capacidade de cuidar adequadamente das crianças, e agora sequer podem visitá-las em razão da suspensão do seu poder familiar, o que sem dúvida alguma apenas gera malefícios às crianças e impossibilita a reintegração familiar.
Prescreve a Constituição Federal em seu artigo 93 que todas as decisão dos órgãos do Judiciário serão públicos e fundamentados, sob pena de nulidade.
Entretanto, no caso em tela não foram explicitadas as circunstâncias que teriam motivado a suspensão do poder familiar, nem a postura das partes requeridas que ensejou esta drástica medida judicial.
Em razão disso, de rigor a declaração de nulidade da decisão interlocutória que determinou a suspensão do poder familiar, sem o amparo de qualquer elemento concreto que o justifique.
De outra parte, importa salientar que não há nos autos qualquer elemento concreto que justifique a gravosa e drástica medida aplicada. Pela simples leitura dos autos pode-se verificar que não há laudo que comprove castigos às crianças ou qualquer outra forma de abandono material ou afetivo.
Diante disso, os elementos carreados aos autos são demasiadamente frágeis para infirmar as acusações de abandono, maus-tratos e negligência, que justificaram o deferimento da suspensão do poder familiar das partes requeridas.
Portanto, não merece prevalecer a decisão responsável em suspender o poder familiar das partes requeridas, devendo ser reformada em juízo de retratação. 
B) DA MANUTENÇÃO DA CRIANÇA JUNTO À SUA FAMÍLIA NATURAL OU EXTENSA
As medidas de acolhimento são uma exceção à regra e ao direito subjetivo da criança e do adolescente de serem criados no seio da família natural, como previsto no artigo 9º da Convenção sobre os direitos da criança, e no artigo 19, § 3º do Estatuto da Criança e do Adolescente. 
Nesse sentido, de acordo com a previsão do artigo 101, § 1o, do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), as medidas de acolhimento são provisórias e excepcionais. 
A excepcionalidade significa que referida medida é o último recurso que deve ser utilizado, devendo, por isso, ser devidamente fundamentada sua aplicação. 
Sendo medida excepcional, só pode ser aplicada em último caso, quando não couber outra solução para a proteção das crianças. Antes de tal medida todos os esforços devem ser empreendidos para manter a criança e o adolescente no seio de sua família.
A finalidade do Conselho Tutelar é zelar pela aplicação dos direitos da criança assegurados no Estatuto da Criança e do Adolescente, e um dos direitos fundamentais do Estatuto é o da convivência familiar. O Direito Fundamental da Convivência Familiar está assegurado pelo artigo 227 da Constituição Federal de 1988.
Aliás, cabe mencionar aqui um dos graves equívocos dos procedimentos verificatórios que, usurpando função administrativa dos Conselhos Tutelares, não aplicam as medidas previstas na lei para o fortalecimento e manutenção dos vínculos, partindo diretamente para a medida restritiva de direitos, em afronta direta aos princípios do Estatuto e da Constituição Federal, que preveem como princípio dos direitos da criança e adolescente o direito à convivência familiar e comunitária, priorizando a manutenção dos vínculos familiares de origem. 
Destarte, estabeleceu a lei 12.010/2010, como princípio basilar da aplicação das medidas específicas de proteção, o princípio da prevalência da família, significando que na promoção de direitos e na proteção da criança e do adolescente deve ser dada a prevalência às medidas que os mantenham ou reintegram na sua família. 
O Estatuto da Criança e do Adolescente, no que tange à proteção da família, tem foco direcionado para a convivência familiar natural. O primeiro parágrafo do artigo 1º, da Lei 12.010/2009, estabelece que a intervenção estatal seja prioritariamente voltada á orientação, apoio e promoção social da família natural, junto a qual a criança e o adolescente devem permanecer.
Ainda segundo o artigo 100 do ECA, na aplicação das medidas deverá a autoridade preferir aquelas que visem ao fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários, em uma nítida preferência pela manutenção da família de origem, deixando a colocação em família substituta ou acolhimento como medida excepcional, a ser aplicada quando esgotadas as tentativas de manutenção do vínculo e aplicada somente pelo juiz.
Fica claro que no presente caso aplicou-se, de forma ilegal, a medida mais fácil, sem se preocupar com os preceitos constitucionais e previstos no Estatuto, visto que nenhuma medida foi tomada no sentido de reestruturar a família natural e zelar pela manutenção do vínculo familiar. É preceito básico do Estatuto da Criança e Adolescente que o afastamento da criança ou adolescente do seio familiar só é possível nos casos em que não é possível a reintegração familiar. Observa-se que o motivo que embasou a peça inaugural, não mais prospera. 
Admitir que a criança fosse afastada do convívio familiar, ou pior, romper o poder familiar entre a genitora e a criança seria um retrocesso, abandonando todos os preceitos do Estatuto da Criança e da Juventude (Lei 8.069/1990), e retroagindo ao Código de Menores (Lei 6.697/1.979), o qual tinha a criança e o adolescente não como cidadãos de direito, mas sebaseava na doutrina da situação irregular. Desta forma, a destituição do poder familiar não garantirá os direitos fundamentais das crianças, que serão privadas do convívio com sua família, fato que violará o princípio do melhor interesse da criança e do adolescente.
C) DA FALTA DE FUNDAMENTO LEGAL PARA DESTITUIÇÃO DO PODER FAMILIAR
Como se sabe, a ação de destituição de poder familiar é uma exceção em nosso ordenamento jurídico, já que a regra é a que toda criança e adolescente deva permanecer no seio de sua família natural e somente de maneira excepcional em família substituta, conforme o artigo 19 do Estatuto da Criança e Adolescente, e ainda de acordo com o parágrafo 3º do referido artigo, a reintegração de criança ou adolescente à sua família terá preferência em relação a qualquer outra providência.
De tão excepcional é esta hipótese, que o legislador trouxe num rol taxativo as causas ensejadoras da destituição do poder familiar, conforme artigo 1.638 do Código Civil. Porém, conforme pode se verificar, nenhuma das hipóteses previstas ao caso está devidamente comprovada na inicial. 
O inciso primeiro se refere à aplicação de castigo à criança. Pela simples leitura dos autos pode-se verificar que em nenhum momento há laudo que comprove castigos. Sendo assim, o castigo imoderado de que trata o inciso I do artigo 1638 não se enquadra ao caso em tela.
O inciso segundo diz respeito ao abandono. Primeiramente é necessário deixar consignado que o nosso ordenamento não trouxe a definição do conceito de abandono. Entende-se que para a sua caracterização, é necessário que a criança fique exposta a algum perigo, o que não restou comprovado nos autos. 
No caso em tela, o abandono não pode nem mesmo ser considerado, pois as crianças em nenhum momento ficaram à sua própria sorte, estando sempre assistidas e devidamente amparadas. Assim, o abandono não restou caracterizado.
Em relação ao inciso terceiro, inexistem nos autos provas suficientemente capazes de demonstrar a prática de atos contrários à moral e aos bons costumes, não bastando meras presunções e alegações vazias. Desta forma, afastada a hipótese de incidência do inciso III.
O inciso quarto diz respeito à prática reiterada nas faltas previstas no artigo anterior, sendo assim, devemos apreciar o que diz o artigo 1.637. Neste artigo o legislador trata de forma genérica causas que possibilitam a suspensão do poder familiar, e havendo comprovada reiteração determina, conforme determina o inciso IV do artigo 1.638 possibilita a perda em definitivo do poder familiar. 
Refutadas todas as condutas tipificadas no artigo 1.637, não havendo prática de qualquer conduta mencionada, não há que se falar da aplicação do inciso IV.
Em suma, como já salientado, a conduta das partes requeridas não se amolda a nenhuma das hipóteses acima mencionadas, razão pela qual o pedido inicial deve ser julgado improcedente. 
D) DA AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DO EXAURIMENTO DAS TENTATIVAS DE REINTEGRAÇÃO FAMILIAR
O encaminhamento para instituição de acolhimento é a última medida de proteção que se deve recorrer. Antes de tal medida todos os esforços devem ser empreendidos para manter a criança e o adolescente no seio de sua família.
Segundo o artigo 100 do Estatuto da Criança e do Adolescente, na aplicação das medidas deverá a autoridade preferir aquelas que visem ao fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários, em uma nítida preferência pela manutenção da família de origem, deixando a colocação em família substituta ou acolhimento como medida excepcional, a ser aplicada quando esgotadas as tentativas de manutenção do vínculo e aplicada somente pelo juiz.
Ainda neste sentido prescreve o artigo 9º da Convenção sobre os Direitos da Criança que os Estados-partes deverão zelar para que a criança não seja separada dos pais.
Fica claro nos autos que não houve qualquer tentativa de manutenção das crianças junta à família, muito menos qualquer tentativa de reintegração familiar após os seus acolhimentos. 
Ora, não deveria o “parquet”, fiscal da lei, e protetor dos interesses da criança permitir e colaborar com a aplicação das medidas protetivas impostas pelo ECA visando à reintegração familiar? Pois em movimento contrário, propôs a presente demanda. 
A destituição do poder familiar é medida válida, porém, excepcional. A lei determina que as famílias sejam incluídas em programas oficiais de auxílio para manutenção dos vínculos. 
Contudo, nenhuma das medidas previstas no artigo 129 do ECA foram tomadas, partindo-se, diretamente, para a medida de acolhimento e promoção da destituição do poder familiar. 
Destarte, estabeleceu a lei 12.010/2010, como princípio que rege a aplicação das medidas específicas de proteção, o princípio da prevalência da família, significando que na promoção de direitos e na proteção da criança e do adolescente deve ser dada a prevalência às medidas que os mantenham ou os reintegrem na sua família. 
O Estatuto da Criança e do Adolescente, no que tange à proteção da família, tem foco direcionado para a convivência familiar natural. O primeiro parágrafo do artigo 1º, da Lei 12.010/2009, estabelece que a intervenção estatal seja prioritariamente voltada á orientação, apoio e promoção social da família natural, junto a qual a criança e o adolescente devem permanecer.
No presente caso está comprovada a possibilidade de reestabelecimento familiar, mesmo que não aplicadas as medidas protetivas. As partes requeridas reúnem condições de zelar pelos direitos fundamentais das crianças.
Destaca-se, por oportuno, que as partes requeridas não podem ser responsáveis e nem sofrer as consequências de um erro do Poder Público que não cumpriu com suas obrigações no que diz respeito à criança e ao adolescente, negligenciando no que concerne a proteção integral preconizada na legislação em especial na Constituição Federal e no Estatuto da Criança e do Adolescente.
PELA NARRATIVA DOS FATOS ADUZIDOS NA VESTIBULAR, NÃO RESTOU PROVADO O ESGOTAMENTO DE TODOS OS MEIOS DESTINADOS À REINTEGRAÇÃO FAMILIAR DAS CRIANÇAS, O QUE, VALE FRISAR, É DE RIGOR.
Assim, diferentemente do que pretende o pleito ministerial, a destituição do poder familiar com o consequente afastamento das crianças das partes requeridas não se afigura como o melhor desfecho, razão pela qual se espera a total improcedência do pedido vertente.
E) DA IMPOSSIBILIDADE DE DESTITUIÇÃO DO PODER FAMILIAR EM RAZÃO DA POBREZA
Saliente-se, por oportuno, que a pobreza e a miserabilidade não podem servir de fundamento para a destituição familiar. Nesse sentido cabe destacar a previsão do art. 23, caput, do Estatuto da Criança e do Adolescente: “A falta ou a carência de recursos materiais não constitui motivo suficiente para a perda ou suspensão do poder familiar”.
	Assim, o direito da criança e do adolescente é de permanecerem preferencialmente no seio da família de origem, ainda que a situação familiar aponte vulnerabilidade social e econômica. 
	Verifica-se que, um dos elementos elencados na inicial como fundamentos para a destituição do poder familiar ser advindo da situação de vulnerabilidade social e financeira da família. E pior, nenhuma medida protetiva foi aplicada visando à reestruturação familiar! Ainda, nas palavras de Antônio Cezar Lima da Fonseca[footnoteRef:1]: “a pobreza é campo fértil para a falta de educação, a ignorância propicia a pobreza e todos podem dar aparência à existência de motivo para a perda ou suspensão do poder familiar”. [1: Idem, p. 77] 
Desta forma, a miserabilidade da família deve ser alvo de medidas protetivas, não sendo fundamento suficiente para a destituição do poder familiar, especialmente porque nenhuma medida protetiva foi aplicada anteriormente à propositura da presente ação.
F) DO DIREITO DE VISITAS
No curso do processo, sobreveio decisão suspendendo o poder familiar das partes requeridas e, consequentemente, estas se encontram impedidas de visitar as crianças. Ocorre que não há qualquer fundamento para a proibição de visitas.
O direito da criança e do adolescente a ser visitadocaracteriza-se como um “direito da personalidade”, que é um direito subjetivo com fundamento constitucional. Referido direito é expressamente previsto no §4º do artigo 33 do Estatuto da Criança e do Adolescente, após sua alteração pela Lei 12.010/2009. Na lei civil o direito de visitas é considerado irrenunciável e impostergável. O status constitucional ao direito de visitas das crianças e adolescentes é amplamente consagrado na doutrina moderna.
Portanto, não há razão para que as partes requeridas sejam impedidas de visitar as crianças.
DO PEDIDO
Do exposto, pede e requer-se:
a) seja a presente ação julgada totalmente improcedente pelos motivos acima expostos; e
b) a aplicação das medidas protetivas previstas no artigo 129 do Estatuto da Criança e do Adolescente, a fim de possibilitar a recolocação das crianças na família de origem.
Nesses termos, pede deferimento.
“Município”, 03 de abril de 2021.
“ADVOGADO”
OAB/XX – XXX.XXX
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