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Doença hepática alcoólica Considerando que alguns indivíduos são mais suscetíveis aos efeitos tóxicos do etanol, a quantidade dessa molécula capaz de ocasionar dano hepático é bastante variável. No entanto, quanto maior a quantidade e o tempo de consumo, maior o risco para desenvolver lesão hepatocelular. Estima-se que o consumo de 60 a 80g/dia de etanol para homens e 40 a 60g/dia de etanol para mulheres durante 10 anos aumente o risco para o desenvolvimento da doença alcoólica do fígado (DAF). A ingestão excessiva de etanol provoca efeito tóxico direto sobre o sistema cardiorrespiratório, o sistema nervoso central (SNC), o sistema gastrintestinal (SGI), os rins e o fígado. O etanol fornece calorias vazias, aumenta a produção de citocinas, reduz a absorção do zinco e do magnésio, provocando ageusia com redução do apetite e da ingestão alimentar. Geralmente a DAF pode apresentar-se de três formas diferentes: esteatose hepática, hepatite alcoólica aguda ou crônica e cirrose alcoólica. 1. A esteatose hepática ocorre em aproximadamente 80% dos casos que apresentam ingestão excessiva de álcool. Caracteriza-se pelo acúmulo de triglicerídeos no citoplasma celular, geralmente com manutenção da função hepática e reversão total do quadro após abstinência alcoólica. 2. A hepatite alcoólica aguda acorre quando o consumo excessivo de álcool persiste por 15 a 20 anos, podendo estar associada com a colestase importante, e a piora do estado geral tende a ocorrer durante a fase inicial da hospitalização (aproximadamente 10 dias), pela ausência das calorias alcoólicas e pela administração de dietas pouco palatáveis provocadas pela restrição excessiva de sódio com consequente redução da ingestão alimentar. 3. A cirrose é forma mais grave do dano hepático por ingestão excessiva de bebidas alcoólicas e ocorre por causa de inflamação persistente, necrose tecidual. Metabolismo do álcool Ocorre por suas principais vias: inicialmente o etanol é oxidado pela enzima álcool desidrogenase (ADH) com liberação de acetaldeído, que é convertido em acetil-CoA pela acetaldeído desidrogenase nas mitocôndrias. Essa via de metabolização ocorre nos hepatócitos, sendo ativada quando o álcool é ingerido em baixas concentrações e resulta no aumento da nicotinamida adenina dinucleotídeo oxidada (NAD+), com consequente redução da betaoxidação e esteatose hepática. A segunda via é ativada em situações de elevada concentração plasmática de moléculas de etanol. Ocorre por meio da ativação da CYP2E1 e observa-se alta produção de espécies reativas de oxigênio, que resulta em peroxidação lipídica, depleção mitocondrial de glutationa e S-adenosilmetionina (SAMe). Portanto, a ativação continuada dessas duas vias resulta em estresse oxidativo e lesão hepatocelular. Efeito tóxico do etanol no organismo humano Mecanismos fisiopatológicos e aspectos relacionados com a doença alcoólica do fígado Aspectos nutricionais da doença alcoólica do fígado A ingestão dietética insuficiente decorrente da anorexia pode ocorrer em razão da saciedade precoce por níveis elevados de TNF-alfa, ou resultante da náusea e vômito. Além disso, é frequente a substituição do alimento por álcool, com aumento na contribuição do etanol nas calorias diárias totais. Caso haja complicações associadas à doença avançada, como hemorragia gastrintestinal, pancreatite ou hipertensão portal, a ingestão oral também pode estar comprometida. Nessas condições pode ser necessária a restrição da ingestão de sódio e fluidos, fatores que geralmente contribuem para a redução da ingestão alimentar em virtude da baixa palatabilidade desse padrão dietético. Recomendações e estratégias nutricionais para controle da esteatose hepática alcoólica e não alcoólica Recomendações Estratégias Energia Ofertar alimentos energéticos em quantidade para manter ou alcançar o peso ideal Fracionar a dieta de forma a evitar o jejum prolongado Carboidratos 45 a 65% do VET Ofertar refeições de baixa a média carga glicêmica Carboidratos simples (mono e dissacarídeos) Oferta máxima de 5% do VET Evitar açúcar de adição, doces e alimentos processados contendo xarope de milho rico em frutose Fibras 20 a 30g/dia ou 14g/1000kcal Estimular o consumo de cereais integrais, raízes e tubérculos Incluir alimentos fontes de fibras com propriedade prebiótica com alho, cebola, farelo de aveia, chicória, alcachofra e cogumelos Gordura 20 a 30% do VET SFA <10% do VET Evitar o consumo de carne bovina e suína, especialmente carne processada, maionese, margarina, molhos prontos, banha, óleo de coco e excesso de manteiga MUFA <20% do VET Incluir azeite de oliva extravirgem, oleaginosas e abacate PUFA <10% do VET Preferir consumo de peixes de carne branco, óleo de linhaça, gergelim e girassol Evitar frituras e uso excessivo de óleo de soja, preferindo alimentos grelhados, assados, cozidos ou ensopados Suplementação sugerida com 1,2 a 2 de ácidos graxos ômega 3/dia Proteína 15 a 20% do VET ou 0,8 a 1g/kg/dia Incentivar o consumo de peixes, aves e fontes de proteína vegetal, como grãos de soja, alimentos a base de soja fermentada, ervilha, lentilha, grão de bico, feijões e outras leguminosas Vitaminas e minerais Atender a ingestão dietética recomendada (DRI) Consumir aproximadamente 4 a 5 porções diárias de frutas e hortaliças, sendo uma porção de folhosos verde-escuros e uma porção de oleaginosas Compostos bioativos Ofertar diferentes compostos bioativos como polifenóis, sulforafanos e resveratrol Além do consumo de frutas e hortaliças, alimentos crucíferos como brócolis, couve-flor, couve de Bruxelas, rúcula, repolho, couve, agrião devem ser estimulados. Deve-se estimular ainda o consumo de café e especiarias como cravo, cúrcuma, gengibre e canela.
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