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PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL Imagens da Organização Unidades I e II Prof. Paulo César Duarte de Oliveira APRESENTAÇÃO DO PROFESSOR-AUTOR Mestre em administração de empresas, especialista em docência do ensino superior, graduado em Administração de Empresas e Direito. Atua como professor nos cursos de Gestão, bacharelado em Direito e pós- graduação na Universidade Paulista – UNIP desde 2011. Atua também como professor e coordenador dos cursos de gestão na Faculdade Instituto Paulista de Ensino (Fipen) desde 2015, onde é membro da Comissão Própria de Avaliação (CPA) e do Conselho de Ética. Tem mais de trinta anos de experiência profissional, adquirida nas áreas de administração, compras internacionais e logística em diversas empresas, como: General Motors, Multibrás e Petróleo Ipiranga. SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 4 UNIDADE I .................................................................................................................. 5 1. METÁFORAS ORGANIZACIONAIS ............................................................. 5 2. ORGANIZAÇÕES MECANICISTAS ............................................................. 8 2.1 Adam Smith e a teoria da divisão do trabalho .............................................. 9 2.2 A teoria clássica da Administração ............................................................. 10 2.3 A administração científica ........................................................................... 11 2.3.1 Inovações do taylorismo ............................................................................. 12 2.4 A Teoria Burocrática da Administração ...................................................... 12 2.5 Vantagens e limitações da metáfora da máquina ....................................... 13 3. ORGANIZAÇÕES ORGANICISTAS ........................................................... 15 3.1 Teoria motivacional .................................................................................... 15 3.2 A importância do ambiente ......................................................................... 17 3.3 Teoria contingencial ................................................................................... 17 3.4 Seleção natural: as organizações e a ecologia da população .................... 19 3.5 A administração e o ciclo de vida das empresas ........................................ 21 3.5.1 Fases do ciclo de vida das empresas ......................................................... 21 4. AS ORGANIZAÇÕES VISTAS COMO CÉREBROS .................................. 23 4.1 Organizações como cérebros processadores de informações ................... 23 4.2 Cibernética, aprendizagem e aprender a aprender .................................... 24 4.3 Cérebros e organizações vistas como sistemas holográficos .................... 25 4.4 Forças e limitações da metáfora do cérebro ............................................... 26 UNIDADE II ............................................................................................................... 27 5. AS ORGANIZAÇÕES COMO CULTURAS................................................. 27 5.1 Cultura organizacional ................................................................................ 30 5.2 Forças e limitações da metáfora da cultura ................................................ 31 6. ORGANIZAÇÕES COMO SISTEMAS POLÍTICOS ................................... 32 7. ORGANIZAÇÕES COMO INSTRUMENTOS DE DOMINAÇÃO ................ 35 8. TEORIA DOS STAKEHOLDERS ............................................................... 39 8.1 Modelos e classificação dos stakeholders .................................................. 40 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 44 4 INTRODUÇÃO Nessa disciplina, analisaremos diferentes abordagens teóricas da administração e como tais abordagens, ainda que de forma limitada, permitem formar uma imagem da organização. Para analisarmos nossas percepções, ou seja, as imagens que temos das organizações, utilizaremos oito metáforas que são representadas por paradigmas imprescindíveis, com uma visão de mundo e de ações pertencentes ao sistema social. Ao explicar o ambiente organizacional a partir de metáforas, buscamos proporcionar ao aluno familiaridade e clareza no entendimento das questões discutidas e aguçar o pensamento crítico. Visualizar a organização por meio de metáforas possibilita o entendimento das organizações. O conjunto de metáforas que veremos a seguir ajuda a descobrir que existem situações importantes que até o momento não são reconhecidas e integralizadas as organizações. As principais metáforas veem as organizações como: máquinas; organismos; cérebros; culturas; sistemas políticos; prisões psíquicas; fluxo e transformação; instrumentos de dominação. As ideias geradas a partir dessas metáforas são persuasivas, mas apresentam limitações fortes. Contudo, extrapolar seus limites (o universo das metáforas) e utilizá-las a favor de uma compreensão mais ampla dos fenômenos é o que buscamos ao longo da disciplina, o que propomos fazer por meio da leitura de textos, de exercícios, de exemplos (cases e vídeos). 5 UNIDADE I 1. METÁFORAS ORGANIZACIONAIS Administrar tem sido uma tarefa árdua desde sempre, no entanto, administrar uma empresa passou a ser um grande desafio no ambiente de constantes mudanças dos dias de hoje. Os principais desafios têm a ver como lidar com as incertezas geradas pelas mudanças que o mundo passa. Antigamente, ainda que não imediatas, as respostas aos problemas eram duradouras, o que levava com mais certeza quais caminhos seguir e as decisões a serem tomadas, fazendo com que os modelos se perpetuassem por muito tempo. Agora, somos demandados por respostas mais complexas e, mesmo ao encontrá-las, elas não serão duradouras. Neste cenário, as organizações precisam, cada vez mais, de profissionais talentosos, portanto você precisa desenvolver aptidões que lhe permitam ver, entender e mudar situações de novas maneiras, bem como saber utilizar suas competências a favor do alcance dos objetivos organizacionais. Seria muito ambicioso de minha parte tentar oferecer uma receita simples para o enfrentamento dos problemas complexos das organizações, pois como todos sabem não há soluções fáceis. O objetivo aqui é despertar em você o desejo de buscar soluções práticas, inovadoras, simples e criativas, o que vai demandar de uma transformação no seu modo de pensar sobre a organização e a administração. Nossa disciplina tem como base a obra Imagens da Organização, de Gareth Morgan (2006). Nela abordaremos as complexas e muitas facetas das organizações, mostrando que elas são muitas coisas ao mesmo tempo e são paradoxais, o que faz com que os desafios enfrentados pelos administradores e profissionais, muitas vezes, sejam tão difíceis. Administração é uma atividade dinâmica, que consiste em tomar decisões sobre como alocar recursos humanos e materiais limitados de modo eficiente para se atingir os objetivos organizacionais. Portanto, o processo de administrar é inerente a qualquer situação em que haja pessoas utilizando recursos para atingir algum tipo de objetivo. A origem da administração remonta aos Filósofos gregos, passando por Sócrates, Rousseau, Adam Smith a Karl Marx, entre outros. Assim, cabe ressaltar que os conceitos, pensamentos e as teorias da administração são produtos do ambiente, forças sociais, econômicas, políticas, tecnológicas e culturais vigentes na época de sua concepção. Portanto, é a partir dessa premissa que apresentaremos as diferentes abordagens teóricas da administração, ora tratadas na obra referência para a presentedisciplina. O século XXI tem sido um período de mudanças sem precedentes, com grandes implicações para todo o campo da organização e da administração. Com isto, teorias consideradas solidamente fundamentadas estão se tornando obsoletas e novas teorias surgem em um ritmo virtuoso, fazendo com que os administradores busquem entender as novas teorias e suas aplicabilidades para melhor atuar sobre os problemas organizacionais. Portanto, os administradores precisam desenvolver a habilidade de identificar e usar diferentes abordagens à administração e organização. 6 A todo o momento novos tipos de organizações estão surgindo, empresas virtuais, conglomerados, organizações enxutas, dentre tantas outras. Com isto, o mundo dominado pelos princípios burocrático-mecanicistas está mudando para um universo eletrônico em que novas lógicas organizacionais são necessárias. Assim, ao visualizarmos as organizações sob a ótica das metáforas, ou seja, das imagens que temos a partir das teorias administrativas, a abordagem desses problemas cria novas perspectivas, onde as teorias transformam-se em blocos de construção, não apenas respostas fixas. Isto possibilita ao administrador desenvolver suas teorias e a criar estratégias relevantes sem correr o risco de embarcar de forma cega em modismo em matéria de administração. Apenas para entendermos um pouco mais sobre metáfora e imagem dentro do contexto que abordaremos aqui, o próprio conceito de organização é uma metáfora, pois a palavra organização tem sua origem na palavra grega organon, que significa ferramenta ou instrumento. O que deixa evidente a natureza instrumental das organizações, bem como sua função como ferramenta de ajuda para realizar atividades voltadas para alguma meta. Podemos dizer metaforicamente que fulano é um touro, ou seja, ele é forte e valente como um touro, mas ele não é coberto de pelos e não tem quatro patas. A metáfora faz uso de imagens evocativas para criar o que pode ser descrito como falsidades construtivas, levando até mesmo a absurdos. Ao abordamos uma metáfora do modo como fizemos, podemos facilmente perceber que a simples premissa de que toda teoria administrativa é uma metáfora tem consequências muito extensas. Dessa forma, temos que aceitar que qualquer teoria ou perspectiva que adotarmos no estudo da organização e da administração, embora capaz de criar ideias valiosas, é incompleta, parcial e potencialmente enganosa. Tome a ideia popular de que a organização é uma máquina. Aqui temos uma metáfora capaz de criar ideias valiosas sobre como uma organização é estruturada para atingir resultados predeterminados. No entanto, é fácil notarmos que essa metáfora forma uma imagem incompleta da organização, pois ela ignora os aspectos humanos. Além disso, ela é parcial: eleva a importância da dimensão racional e da dimensão estrutural. A metáfora também é enganosa, pois a organização não é uma máquina e jamais pode ser realmente planejada, estruturada e controlada como um conjunto de partes inanimadas. A metáfora é uma figura de linguagem que usamos para situações do dia a dia e ela também confere um toque criativo a nossa maneira de falar. No entanto, a metáfora representa um paradoxo, uma vez que a maneira de ver criada por ela se torna uma maneira de não ver. Tendo isto revelado, descobrimos o verdadeiro poder da metáfora e seu papel na administração e isto nos leva a compreender que nenhuma teoria isolada jamais nos dará um ponto de vista perfeito e que sirva a todos os propósitos. O grande desafio consiste na arte de aprender a usar a metáfora, interpretar problemas, entender e modificar situações que queremos administrar na organização. Também apresentaremos como pontos de vista de diferentes metáforas podem contribuir para o enriquecimento de nossa compreensão dos modos como diferentes aspectos da organização se entrelaçam, sugerindo métodos múltiplos para se lidar com os problemas em questão. Por exemplo, um simples aspecto da 7 estrutura organizacional pode abranger muitas dimensões. Ele pode representar: uma tentativa de “mecanizar” determinado conjunto de atividades; a defesa de determinado gerente contra a ansiedade; um aspecto chave da cultura corporativa; um modo de aprendizagem de circuito único; uma parte crucial da base de poder de um departamento; um anacronismo que impede a organização de lidar com as demandas do ambiente em geral. Todos esses aspectos podem estar presentes simultaneamente. A complexidade do fenômeno organizacional frequentemente nos leva a usar metáforas na tentativa de defini-lo e compreendê-lo melhor. Uma das metáforas organizacionais mais comuns é aquela que compara as organizações a uma máquina. A abordagem administrativa que melhor expressa essa metáfora é a escola clássica da administração. 8 2. ORGANIZAÇÕES MECANICISTAS Iniciamos este capítulo abordando as organizações como sendo máquinas, ou seja, fazendo uso de uma metáfora para melhor ilustrar as ideias e perspectivas abraçadas por Morgan (2006). Aqui tomamos com partida o paralelo entre o trabalho artesanal de um velho chinês e outro que era mecanizado. O velho trabalhador era tão avesso às máquinas que quando recebe a sugestão de utilizar uma simples bomba d’água, responde enraivecido: Eu ouvi meu professor dizer que todo aquele que usa uma máquina faz todo seu trabalho como uma máquina. Aquele que faz seu trabalho como uma máquina desenvolve um coração que é como uma máquina e aquele que carrega em seu peito um coração de máquina, perde a simplicidade. Aquele que perdeu sua simplicidade torna-se inseguro nas lutas da sua alma. Incerteza nas lutas da alma é algo que não combina com o sentido de honestidade. Não é que eu não conheça essas máquinas; eu tenho é vergonha de usá-las. (Morgan, 2006). A mecanização e mesmo a automação estão entranhadas nas organizações modernas de tal modo que seria impossível conceber outra forma de se produzir sem o uso de máquinas e robôs. O uso das máquinas e robôs faz parte de uma realidade não só nas organizações, mas também no cotidiano das pessoas, o que fez com que máquinas e robôs passassem ser replicados em todos os sentidos, e espera-se que as pessoas se comportem como mecanismos de uma engrenagem e assim possam produzir com precisão. O processo produtivo sofreu profundas transformações com o uso de máquinas, o que permite afirmar que houve uma mudança radical na natureza da atividade produtiva. A vida organizacional passou a ser rotinizada e precisa, o trabalho a ser mecânico e repetitivo, todos passaram a ter hora de entrar e de sair, passaram a trabalhar como se fossem parte das máquinas. As organizações que funcionam como máquinas são chamadas de burocracia, elas operam como máquinas, de maneira rotinizada, eficiente, confiável e previsível. Portanto, a organização vista como máquina é uma metáfora promissora para se compreender a complexidade das organizações porque pode ser projetada para funcionar de um modo previsível. O conceito de organização mecanizada cria mais força com a Revolução Industrial, devido ao uso de máquinas nas indústrias. A Primeira Revolução Industrial teve início na Inglaterra no século XVIII e durou de 1750 a 1850.Essa fase foi caracterizada por diversas descobertas as quais favoreceram a expansão das indústrias, o progresso técnico e científico e a introdução das máquinas. O sistema fabril foi impulsionado pelas invenções da máquina de fiar, o tear mecânico e a máquina a vapor que resultou na mecanização dos processos. Tudo isto contribuiu para a expansão das indústrias têxteis, metalúrgica, siderúrgica e dos transportes. O uso do carvão para alimentar as máquinas foi essencial nesse momento. O uso de máquinas no processo produtivo resultou no aumento da produção, na substituição do trabalho manual pelo industrial (da manufatura para a 9 maquinofatura), bem como propiciou o desenvolvimento do comércio internacionale o aumento do mercado consumidor. Com o surgimento das indústrias no século XVIII, muitas famílias abandonaram o campo ou deixaram seus trabalhos autônomos como artesãos nas vilas e foram para as grandes cidades em busca de trabalho nas fábricas e melhores salários. Com a mecanização e a produção em massa surgiu a divisão do trabalho proposta por Adam Smith. Foram introduzidas nas fábricas novas técnicas para ajudar na absorção da rigorosa rotina de produção. 2.1 Adam Smith e a teoria da divisão do trabalho Adam Smith em sua obra “A riqueza das nações”, publicada em 1776, defendia o liberalismo econômico, com a famosa teoria da oferta e da procura, onde sugeria a existência de uma “mão invisível” do mercado, que seria responsável por uma autorregulação das atividades produtivas. Com isto, existindo um produto em abundância a tendência é que o seu preço caia, por outro lado, caso um produto seja raro, escasso ou difícil de encontrar os indivíduos concordarão em pagar um preço maior. Assim a “mão do mercado” faria o papel de redirecionar as forças produtivas de acordo com as necessidades dos consumidores, e a concorrência entre os produtores seria benéfica para toda a sociedade. Nos três primeiros capítulos de sua obra, Smith relata a tendência natural dos seres humanos ao comércio e a troca de produtos e serviços. De acordo com ele, os seres humanos sempre procuram se especializar em uma determinada ocupação ou atividade para daí poder negociar seus excedentes produtivos. Todas essas transformações levam à divisão do trabalho e consigo o aprimoramento da produção e consequentes vantagens como: o aumento da destreza do operário, a economia de tempo e condições mais favoráveis para que os trabalhadores inventem ou aperfeiçoem máquinas e instrumentos que lhes poupem esforços. Smith coloca o trabalho como essencial para a produção de bens. Com sua teoria sobre a divisão do trabalho, ele ainda cria o conceito de especialização, cujo resultado é o aumento de produtividade. Ele ilustra sua tese dando como exemplo a fabricação de alfinetes. Smith exemplifica a divisão do trabalho a partir das visitas que fez às fábricas de alfinetes, onde constatou que um trabalhador sozinho talvez não fosse capaz de produzir mais que 20 alfinetes por dia, ou talvez até mesmo um só se tivesse que fazer o processo de produção do começo ao fim. Enquanto que numa pequena fábrica de alfinetes com 10 pessoas, graças ao processo integrado de produção e a divisão do trabalho, um trabalhador era capaz de produzir em média 4.800 alfinetes. Uma produtividade individual monumentalmente maior do que no caso de produção sem divisão do trabalho. Um homem puxa o arame, outro o endireita, um terceiro corta-o, um quarto aguça-o, um quinto afia-lhe o topo para receber a cabeça; o fabrico da cabeça requer duas ou três operações distintas; a sua colocação é um trabalho especializado como o é também o polimento do alfinete; até mesmo a disposição dos alfinetes no papel é uma arte independente; e a importante atividade de produzir um alfinete é, deste modo, dividida em 10 cerca de dezoito operações distintas, as quais, em algumas fábricas, são todas executadas por operários diferentes, embora noutras um mesmo homem realize, por vezes duas ou três dentre elas(SMITH, 1982). A invenção e proliferação das máquinas, em especial durante a Revolução Industrial na Europa e América do Norte, contribuíram para construção do conceito de organizações mecanicistas. O uso das máquinas nas indústrias fez com que as organizações se adaptassem às exigências de um novo modelo de produção e de sua relação como os operários, o processo mecanizado. As mudanças pelas quais passaram as organizações na Revolução Industrial, descobre-se crescente tendência no sentido da burocratização da vida em geral. As organizações militares antigas serviram de protótipo para o modelo mecanicista. Muitas ideias de Frederico II, o Grande, que reinou a Prússia no século XVIII, foram utilizadas para resolver problemas de processos produtivos a partir do século XIX. A visão de Frederico II de um exército “mecanizado”, um instrumento confiável e eficiente com soldados reduzidos a autômatos(máquinas), gradualmente foi implementada, tanto em fábricas como em escritórios. A seguir, abordaremos a visão mecanicista da administração e as três contribuições importantes dadas a essa teoria por Henri Fayol (Teoria da Clássica Administração), Frederick Taylor (Teoria da Administração Científica) e Max Weber (Teoria da Burocracia) como crítico ao modelo mecanicista. 2.2 A teoria clássica da Administração A Teoria Clássica da Administração foi idealizada por Henri Fayol em 1916 e sua principal característica é o mecanicismo, pois colocava ênfase na estrutura organizacional. As organizações eram vistas como arranjos rígidos, em buscada máxima eficiência através da avaliação pormenorizada de seu funcionamento. O lado humano, as emoções e os relacionamentos eram ignorados, as pessoas eram consideradas como parte das máquinas. Era a visão do “homem econômico”, centrada na máxima eficiência, na criação de um método racional e padronizado de produção em detrimento das práticas tradicionais. Do ponto de vista mecanicista, as pessoas, consideradas preguiçosas e ineficientes, precisavam ser controladas e estimuladas financeiramente para que cumprissem suas obrigações e as organizações alcançassem seus objetivos. Os estudos de Fayol tiveram como foco a unidade do comando, a autoridade e a responsabilidade. Em decorrência disso, Fayol é visto como obcecado pelo comando. Para ele, a organização era um sistema fechado, completamente isolado do ambiente no qual estava inserido. De acordo como Taylor, a organização teria que ser planejada tal qual uma máquina e sua administração envolveria quatorze princípios: 1. Divisão do trabalho – O trabalho deveria ser realizado por quem tivesse maior especialização. Isso favoreceria a eficiência da produção, aumentando a produtividade. Esse princípio é muito claro na linha de montagem moderna. 2. Autoridade e responsabilidade – Os gestores teriam que dar ordens para que as tarefas fossem cumpridas. 11 3. Unidade de comando – Cada funcionário deve ser instruído sobre uma determinada operação por apenas um chefe, evitando contra ordens. 4. Unidade de gestão – Operações com o mesmo objetivo devem ser abordadas por um único gestor. 5. Disciplina – Necessidade de estabelecer regras de conduta e de trabalho válidas para todos os funcionários. A ausência de disciplina gera o caos na organização. 6. Prevalência dos interesses gerais – Os interesses gerais da organização devem prevalecer sobre os interesses individuais. 7. Remuneração – Deve ser suficiente para garantir a satisfação dos funcionários e justa para empregados e empregadores. 8. Centralização – As atividades vitais da organização e sua autoridade devem ser centralizadas. 9. Hierarquia – Defesa incondicional da estrutura hierárquica, respeitando-se à risca uma linha de autoridade fixa. Classificação da gestão do topo para os níveis inferiores da empresa. 10. Ordem – Deve ser mantida em toda organização. Os materiais e as pessoas devem estar no lugar certo na hora certa. 11. Equidade – A justiça deve prevalecer em toda organização, justificando a lealdade e a devoção de cada funcionário à empresa. 12. Estabilidade dos funcionários – Uma rotatividade alta não contribui para o funcionamento adequado de uma empresa. Ao contrário, além das consequências negativas no desempenho da empresa, ela também afeta o moral dos funcionários. 13. Iniciativa – Os empregados teriam liberdade para planejar e executar seus planos, ainda que cometessem erros. 14. Espírito de equipe – O trabalho deve ser conjunto, facilitado pela comunicação dentro da equipe. O espírito de equipe confere à organização um senso de unidade. Henry Fayol ainda destacou quais devem seras responsabilidades do gestor, ou melhor, quais as funções do administrador: planejamento, organização, comando, coordenação e controle, base para a moderna administração. 2.3 A administração científica A Administração Científica é um modelo de administração proposta por Frederick Taylor no fim do século XIX e início do século XX, tem como abordagem uma visão racional das organizações, buscando aumentar a eficiência pela divisão do trabalho em suas menores partes garantindo com isto o melhor custo/benefício aos sistemas produtivos. Taylor propôs os seguintes princípios: transferir toda a responsabilidade do trabalho para o gerente, usar métodos científicos, escolher e treinar a melhor pessoa para realizar a tarefa e monitorar seu desempenho. A administração científica tem como foco o estudo de tempos e movimentos através da observação e medição rigorosa. Podemos dizer que Taylor viveu antes de seu tempo, pois seus preceitos são perfeitamente adequados para uma produção na qual os trabalhadores são vistos como meros robôs. A administração científica confere atenção à divisão de tarefas, eliminação de desperdícios e aumento da produtividade para com isto aumentar a lucratividade das organizações. Ela é até hoje amplamente difundida explorada por lanchonetes, 12 franquias, linhas de montagem e ainda em organizações de serviços, tanto que é frequentemente descrita como a tendência à “McDonaldização”. Esse termo dá ideia de como os princípios administração científica são aplicados na referida rede de lanchonetes, especialmente no que diz respeito à ênfase na eficiência, quantificação, previsibilidade, controle e tarefas simplificadas (frequentemente descritos como “tarefas Mc”) constituem um símbolo de organização em toda a sociedade. Pode se observar pontos em comuns entre as duas teorias, de modo geral, essas teorias enfatizam na sua maior parte a evolução dos processos de produção, ênfase na divisão de tarefas, organização e controle interno. Quase nenhuma atenção foi dada ao desenvolvimento pessoal dos empregados, levando com isso a desumanização do trabalhador por subjugá-lo a servidor ou acessório da máquina. A visão mecanicista funciona muito bem sob a ótica da produtividade e do lucro, porém a história demonstra que os trabalhadores, reduzidos a peças intercambiáveis, realizando tarefas extremamente simplificadas e repetitivas, sentem-se entediados, alienados e divididos entre suas mãos e cérebros, por serem instruídos a fazer e não a pensar. Por fim, a motivação do operário, segundo Taylor, eram as recompensas materiais obtidas pelo aumento da produtividade. A partir do conceito de homo economicus, a Administração Científica estabelece que o pagamento do trabalhador deve estar relacionado à sua produtividade para que ele desenvolva o máximo de produção de que é fisicamente capaz. O operário era visto como um indivíduo “limitado e mesquinho, preguiçoso e culpado pela vadiagem e desperdício das empresas”. 2.3.1 Inovações do taylorismo O Taylorismo emprega basicamente cinco princípios, a saber: substituição de métodos baseados na experiência por metodologias cientificamente testadas; seleção e treinamento rigoroso dos trabalhadores, de modo a descobrir suas melhores competências, as quais devem ser continuamente aperfeiçoadas; supervisão contínua do trabalho; execução disciplinada das tarefas, de modo a evitar desperdícios; fracionamento do trabalho na linha de montagem para singularizar as funções produtivas de cada trabalhador, diminuindo assim sua autonomia. 2.4 A Teoria Burocrática da Administração Max Weber (1982) foi o precursor da Teoria Burocrática, teoria que surgiu por volta de 1940, estabelecendo oposição aos principais princípios estabelecidos pela Teoria Clássica da Administração, Teoria da Administração Científica e Teoria das relações humanas. As duas primeiras foram criticadas pelo seu excesso de mecanicismos e a segunda pelo seu romantismo ingênuo. 13 Aqui não estamos falando do conceito popular de burocracia, que se refere à uma estrutura emperrada, geralmente encontrada em repartições e instituições públicas. Weber define burocracia como sendo a estruturação formal da organização, o que permite organizar as atividades humanas para a realização de objetivos comuns no longo prazo. Weber observou a relação entre mecanização da indústria e formas burocráticas de organização, chegando à conclusão de que o conceito de burocracia é uma organização que enfatiza a precisão, rapidez, clareza, regularidade, confiabilidade e eficiência através de uma divisão de tarefas. Assim identificou que a forma burocrática cria uma rotina no processo administrativo exatamente como a máquina cria na produção. Além disso, em sua teoria, Weber preocupa-se com o espírito humano e sua espontaneidade. Enquanto as teorias da administração clássica e científica exaltavam a mecanização, Weber pontuou que esta teria graves consequências políticas, por não permitir uma organização mais democrática. De acordo com Weber, a burocracia está diretamente ligada ao conceito de autoridade. Para ele, existem três formas de autoridade: Autoridade tradicional: tem como base as tradições, costumes e práticas passadas de uma cultura. É vista nas figuras dos patriarcas e anciões, principalmente das sociedades antigas, apesar de ainda hoje existirem. Nesse caso, a legitimidade da autoridade é assegurada pelas tradições religiosas, crenças e costumes sociais. Acredita-se que autoridade é sagrada. Autoridade carismática: tem como base características físicas e/ou de personalidade do líder em questão. A autoridade é reverenciada por seus seguidores pelos seus feitos, sua história e qualidades pessoais. A dominação carismática é especificamente irracional do ponto de vista de sua estranheza a toda regra. No entanto, ela tem como desvantagens o fato de poder ser passageira, uma vez que se segura no reconhecimento por parte do grupo e por não deixar sucessores certos. Autoridade racional-legal: é garantida por regras e normas estabelecidas por um regulamento que é, por sua vez, reconhecido e aceito pelo grupo. Neste caso, deve-se seguir os comandos daquele que ocupa o cargo, independente de quem seja. A autoridade está no cargo e não na pessoa que o exerce. Para Weber, a autoridade racional-legal era a mais adequada para o ambiente corporativo, uma vez que a autoridade está no cargo, ou seja, não é personalista como as outras duas formas. Tanto a teoria clássica da administração como a administração científica foram concebidas e apresentadas para os administradores como sendo a melhor maneira de organizar. Os primeiros teóricos acreditavam que tinham descoberto os princípios da administração que, se fossem seguidos, trariam soluções para os problemas administrativos. No entanto, basta olharmos para a cena organizacional contemporânea para constarmos que estavam completamente enganados. De fato, muitas vezes o que se pode ver é que seus princípios de administração muitas vezes são a base dos problemas organizacionais modernos. 14 2.5 Vantagens e limitações da metáfora da máquina Vantagens Abordagens mecanicistas funcionam bem sob as condições em que as máquinas funcionam bem. quando existe uma tarefa clara a ser desempenhada. quando se quer produzir sempre exatamente o mesmo produto. quando a precisão e a eficiência são muito valorizadas. Limitações Uma vez que as metáforas só criam maneiras parciais de se ver, elas nos levam a deixar de vê-lo de outras maneiras. Isso foi exatamente o que aconteceu no decorrer do desenvolvimento da abordagem mecanicista da organização. A visão de que a organização é apenas um processo racional e técnico, a imagem mecânica tende a subestimar os aspectos humanos da organização e a negligenciar o fato de que as tarefas das organizações são muito mais complexas, incertas e difíceis do queaquelas desempenhadas pelas máquinas. Abordagens mecanicistas criam formas organizacionais que têm dificuldades de adaptar à mudança. Como as máquinas, as organizações mecanicistas são planejadas para atingir determinadas metas. Elas não são planejadas para fazer inovações. Abordagens mecanicistas podem resultar em um tipo de burocracia insensível e desprovida de bom-senso. 15 ORGANIZAÇÕES ORGANICISTAS Neste capítulo abordaremos a organização a partir do ponto de vista de que elas são como organismos na natureza. A ideia de organização baseada em organismos vivos surgiu a partir dos problemas levantados na teoria mecanicista da administração. Essa metáfora popular concentra a atenção no entendimento e gestão das necessidades organizacionais e das relações ambientais. Ela nos mostra os diferentes tipos de organização como pertencentes a diferentes espécies, sendo a organização burocrática apenas uma delas. A metáfora sugere que diferentes ambientes favorecem diferentes espécies de organizações baseadas em diferentes métodos de organização, ou seja, adaptar-se ao ambiente é fator chave para o sucesso. A organização vista pela perspectiva da metáfora organicista se mostra promissora pare se compreender a complexidade das organizações pela sua capacidade de sobreviver e evoluir, ou seja, pela sua eficácia. A metáfora de que as organizações são como organismos vivos nos leva a entender como as organizações nascem, crescem, se desenvolvem, declinam e morrem e como podem adaptar-se a novas circunstâncias e ao ambiente. Ela também nos leva a considerar as relações entre espécies e os padrões evolutivos encontrados no ambiente mais amplo. Assim como a metáfora da máquina, a imagem aqui nos leva a ver e a entender as organizações de uma perspectiva única, mas que já contribuiu muito para a teoria da moderna administração. Existem diferentes tipos de organizações em diferentes tipos de ambientes, com isto, as organizações são obrigadas a adaptarem-se ao seu ambiente, o que as levam a conviverem com interferências externas na forma de se auto-organizem, numa interação constante entre suas partes e o todo, influenciando e sendo influenciado. Dessa forma, cabe ao administrador ter uma visão sistêmica e holística do meio em que está inserido para a sobrevivência da organização. Isso é mais visível em empresas cujos ambientes são extremamente mutantes. Grande parte da teoria organizacional, desde o final da década de 1920, limitava-se à máquina, o operário era visto apenas como parte do processo produtivo, ou seja, uma mera extensão da máquina, portanto o fator humano era irrelevante nos estudos desenvolvidos até então. A história passa a ter um novo rumo a partir da experiência de Hawthorne, desenvolvida por Elton Mayo, junto com seus colaboradores, colocou em xeque a teoria clássica da administração, mecanicista e rígida. Elton é fundador da escola da teoria das relações humanas na administração, que surgiu da necessidade de humanizar a Administração. No começo, os estudos de Mayo visavam basicamente investigar a relação entre condições de trabalho e a incidência de fadiga e tédio entre os empregados. No entanto, a questão da motivação do trabalho tornou-se tão importante quanto as relações entre indivíduos e grupos. Assim começou a surgir uma nova teoria da organização, centrada na ideia de que os indivíduos e os grupos, como os organismos biológicos, só operam eficazmente quando suas necessidades são atendidas. about:blank 16 2.6 Teoria motivacional Dos estudos de Mayo foram desenvolvidos muitos outros relacionados à motivação do ser humano no trabalho. Dentre os nomes que mais se destacaram estão Maslow e Herzberg. Na teoria da motivacional de Abraham Maslow (1943), o ser humano é apresentado como um tipo de organismo psicológico lutando para satisfazer suas necessidades numa busca de pleno crescimento e desenvolvimento. Essa teoria, que sugere que os seres humanos são motivados por uma hierarquia de necessidades escalonada em níveis, na forma de uma pirâmide em cuja base estão as de sobrevivência, denominadas fisiológicas, passando pelas sociais até as psicológicas, teve implicações muito importantes, influenciados por essas ideias surgiram novas opções para as organizações burocráticas, que logo perceberam que existiam maneiras mais eficazes de motivar os trabalhadores, de acordo com suas necessidades pessoais, sem precisar pagar por isso ou simplesmente oferecendo um trabalho garantido, confinavam o desenvolvimento humano aos níveis mais baixos da hierarquia das necessidades. Sabe-se que a motivação é o processo de estimular um indivíduo a empreender ação que realize um objetivo desejado. Fisiológicas: salário e benefícios; segurança e condições agradáveis de trabalho. Segurança: seguro doença e planos de aposentadoria; segurança no emprego; divulgação do desencadeamento do plano de carreira dentro da organização. Sociais: interação com os colegas; possibilidade de atividades sociais e esportivas e reuniões sociais fora da organização. Autoestima: trabalho que valorize a identidade pessoal; reconhecimento pelo bom desempenho e criação de cargos que permitam realização, autonomia, responsabilidade e controle pessoal. Autorrealização: encorajamento ao completo comprometimento do empregado; trabalho que se torne uma das principais dimensões de expressão de vida do empregado. Sendo que as necessidades mais elevadas e que levam o indivíduo a desenvolver-se continuamente como criatura humana ao longo de toda a vida são as de autorrealização. Logo, teóricos da administração perceberam que os cargos e as relações interpessoais poderiam ser planejados para criar condições de crescimento pessoal que ao mesmo tempo ajudassem as organizações a atingir seus objetivos. Foi dada especial atenção à ideia de fazer os empregados sentirem-se mais úteis e importantes, dando-lhes trabalhos mais significativos e tanta autonomia, responsabilidade e reconhecimento quanto possível como meio de torná-los interessados em seu trabalho. Tomemos como exemplo mais próximo da realidade, um jovem estudante que busca por uma vaga de estagiário geralmente faz isto pelo ganho de experiência e um salário que atenda suas necessidades básicas. Por outro lado, um profissional com mais experiência de mercado e estabilidade econômica, pode estar em busca de desenvolvimento e mesmo de autorrealização. Como também podemos ter um 17 profissional pós-graduado que se encontra no topo da pirâmide, buscando constantemente por novos desafios. 2.7 A importância do ambiente Ao reconhecemos que os indivíduos, os grupos e as organizações têm necessidades que precisam ser atendidas, nosso foco volta-se inevitavelmente para o fato de que elas dependem de um ambiente mais amplo para vários tipos de sustentação. Esse é o pensamento que serve de base para a abordagem dos sistemas abertos, alicerçado no princípio de que as organizações, tal qual os organismos, são “abertas” para seu ambiente e precisam atingir uma relação apropriada com esse ambiente para garantir sua sobrevivência. A teoria dos sistemas abertos atribui grande importância ao ambiente no qual as organizações estão inseridas. Já os teóricos da administração clássica davam pouca atenção ao ambiente, ou seja, não viam além dos muros da organização. Eles trataram a organização como um sistema mecânico fechado e se preocuparam com os princípios do planejamento interno. A perspectiva dos sistemas abertos sugere que devemos sempre organizar tendo o ambiente em mente. Ela dedica atenção especial ao entendimento da tarefa ou função do ambiente, definido pelas interações diretas da organização com os clientes, os concorrentes, os fornecedores, agências reguladoras, sindicatos, órgãos do governo e o ambiente contextual mais amplo ou geral. De fato, acontece como em um sistema vivo. O corpo humano depende tanto do que acontece dentrodele como do que acontece ao seu redor. A visão das organizações como conjuntos de subsistemas inter-relacionados, sendo os sistemas como caixinhas chinesas pelo fato de que sempre contêm um todo dentro de outro todo. Da mesma maneira, as organizações contêm indivíduos (que são sistemas em si mesmos) que pertencem a grupos ou departamentos que pertencem a divisões organizacionais maiores. Ao definirmos a organização toda como um sistema, temos então que os outros níveis podem ser entendidos como subsistemas, tais quais moléculas, células e órgãos podem ser vistos como subsistemas de um organismo vivo, embora cada um seja, por si só, um sistema aberto complexo. Em conjunto, essas ideias indicam o caminho, para as teorias organizacionais e administrativas, de libertação do pensamento mecanicista-burocrático e de realizar o processo de organização de maneira a atender os requisitos do ambiente, sendo hoje rotuladas dentro da perspectiva conhecida como “teoria da contingência”. 2.8 Teoria contingencial A teoria da contingência surgiu por meio de vários estudos realizados na década de 1960 para identificar qual o modelo de estrutura organizacional adequado para determinados tipos de empresas. Esses estudos mostraram que as organizações agem diante de diferentes condições de acordo com o ambiente ou contexto em que estas empresas operam. 18 O trabalho realizado por Paul R. Lawrence e Jay W. Lorsch sobre organização e ambiente deu origem à teoria da contingência, nele foram pesquisadas dez empresas em três diferentes meios industriais (plásticos, alimentos empacotados e recipientes / containers). Os autores concluíram que a questão fundamental da adaptação das empresas ao seu ambiente refere-se a dois aspectos básicos: a diferenciação e a integração. Diferenciação: as empresas se dividem em subsistemas ou departamentos, cada um desempenhando uma função específica relacionada a um contexto ambiental também específico (marketing, produção, finanças etc.). Integração: a pressão exercida pelo ambiente leva a organização a buscar a integração e coordenação interna de seus departamentos para responder adequadamente às pressões e demandas ambientais. A diferenciação e integração requeridas referem-se à predição do ambiente da empresa. Quanto mais a atuação da empresa se aproximar das características requeridas pelo ambiente, maiores serão suas chances de sucesso. A teoria da contingência baseia-se na premissa da inexistência de um modelo que se adapte a todas as empresas em todas as circunstâncias, pois as mudanças ocorrem nos sistemas em função do impacto de determinados tipos de ocorrências. Ela enfatiza que não há nada de absoluto nas organizações ou na teoria administrativa, tudo é relativo, A abordagem contingencial explica que existe uma relação funcional entre as condições do ambiente e as técnicas administrativas apropriadas para o alcance eficaz dos objetivos da organização. As condições ambientais são variáveis independentes, enquanto as técnicas administrativas são variáveis dependentes dentro de uma relação funcional. De fato, não existe uma causalidade direta entre essas variáveis independentes e dependentes, pois o ambiente não causa a ocorrência de técnicas administrativas. Procura-se ajustar essas variáveis que se tornam funcionais, do ponto de vista em que se poderá retirar proveito para a melhoria tanto da eficácia como da prática da gestão. A pesquisadora Joan Woodward fez um estudo envolvendo 100 empresas com tamanhos entre 100 e 8000 colaboradores. Investigou se os princípios de administração propostos pelas teorias administrativas se correlacionavam com o êxito dos negócios quando postos em prática. Classificou as empresas em três grupos, de acordo com a tecnologia de produção utilizada: Produção Unitária ou Oficina; Produção em Massa ou Mecanizada; Produção em Processo Contínuo ou Automatizada. Ao final da pesquisa, Woodward chegou a seguinte conclusão: o desenho organizacional é profundamente afetado pelo tipo de tecnologia adotada, assim como a previsibilidade da produção também depende do tipo de tecnologia utilizada. Quanto mais automatizada, mais previsível. Organizações com operações estáveis requerem estruturas mais burocráticas ou mecanicista, ao contrário das que utilizam tecnologias inovativas e dinâmicas. Cada tipo de tecnologia apresenta a predominância de uma função específica: Produção unitária = pessoal de P & D; Produção em massa = pessoal de produção; Produção contínua = pessoal de marketing/vendas. 19 Alfred Chandler (1987) desenvolveu estudos a partir de quatro grandes empresas americanas: Du Pont, General Motors, Standard Oil Co. e a Sears Roebuck & Co. Ele estudou a adaptação contínua da estrutura dessas empresas às suas estratégias. A pesquisa, Chandler o levou a constatar que a estrutura organizacional foi sendo determinada gradativamente pela estratégia mercadológica. As grandes organizações passaram por processos de desenvolvimento envolvendo três fases distintas: acumulação de recursos, racionalização do uso dos recursos, continuação do crescimento pela diversificação. Chandler concluiu que diferentes ambientes levam as empresas a adotar novas estratégias e as novas estratégias exigem diferentes estruturas organizacionais. Burns e Stalker (1961) concluíram que a forma mecanicista de organização é apropriada para condições ambientais estáveis, enquanto que a forma orgânica é apropriada para condições ambientais de mudanças e inovação. Em resumo, há um imperativo ambiental, isto é, é o ambiente que determina a estrutura e o funcionamento das organizações. Características que evidenciam uma organização mecanicista: Especialização do trabalho Papéis determinados com tarefas específicas Hierarquia reforçada Centralização Padronização de tarefas Símbolos de status e poder Controles burocráticos Características que evidenciam uma organização orgânica: Coordenação e equipes multifuncionais Mecanismos de integração complexos Papéis complexos e fluidos Descentralização e autonomia Organização baseada em competência entre pares Estruturas organizacionais flexíveis e com pouca divisão do trabalho Controles “frouxos” Trabalhos mais recentes acerca da teoria da contingência foram desenvolvidos por Drazin e Van de Ven (1985), incorporando o conceito de alinhamento ou fit (ajuste), o que passou a ser uma questão chave na teoria da contingência. Os autores apresentam três conceitos de ajuste: Seleção: ajuste tomado como premissa que haja coerência entre o contexto e a estrutura. Interação: define a interação de pares organizacionais, contexto – fatores de estrutura de interação (bivariada), afeta o desempenho organizacional. Sistemas: o ajuste é a consistência interna de contingências múltiplas e várias características estruturais, isso afeta as características de desempenho. Com base na teoria da contingência, a estrutura e o processo de uma organização precisam de ajuste/adequação ao contexto para serem efetivas e sobreviverem. Foco: fit entre tecnologia e estrutura organizacional. 20 2.9 Seleção natural: as organizações e a ecologia da população Até aqui vimos que a metáfora mecanicista focou as organizações como unidades-chave da análise. Vimos também como as organizações e seus membros podem ser vistos como tendo diferentes conjuntos de necessidades e analisamos como as organizações podem desenvolver padrões de relações que permitem que se adaptem ao ambiente. A sobrevivência das organizações foi apresentada como um problema de adaptação e, a teoria contingencial foi vista como um meio de identificar padrões de bom ajustamento e mostrar como esses padrões podem ser atingidos. A partir daqui analisaremos a administração sob a visão da “ecologia da população”, na qual a teoria da evolução de Charles Darwin assume o foco da análise organizacional.Ela parte do pressuposto de que, para sobreviver, as organizações, assim como organismos existentes na natureza, dependem de sua capacidade de adquirir um suprimento adequado de recursos necessários para sustentar sua existência. Além disso, elas têm que enfrentar a concorrência de outras organizações, visto que os recursos em geral são escassos, somente os mais aptos sobrevivem. Portanto, a natureza, a quantidade e a distribuição das organizações em dado momento dependem dos recursos disponíveis e da concorrência dentro e entre diferentes espécies de organizações, tornando o ambiente o fator crítico na determinação de quais organizações têm sucesso e quais fracassam, “selecionando” os concorrentes mais fortes através da eliminação dos mais fracos. Segundo a visão dos ecologistas populacionais, assim como na natureza, populações inteiras de organizações podem surgir e desaparecer juntamente com as transformações dos nichos e dos fluxos de recursos dos quais elas dependem. No entanto, as organizações assim como os organismos, não são entidades separadas, embora pareça ser conveniente pensar nelas como tais. As organizações não vivem em isolamento e nem são autossuficientes. Ao contrário, elas existem como elementos de um ecossistema complexo. Embora a visão dos ecologistas populacionais tenha sido acolhida e se mostrado convincente em muitos círculos, ela também atraiu olhares céticos, dado o fato de que nela as organizações podem ser atingidas pelas forças do ambiente geral sobre as quais têm pouco controle. Opiniões contrárias viam a teoria como sendo muito determinista. Ao aceitar integral a teoria de que os ambientes selecionam as organizações que vão sobreviver, significa que, a longo prazo, não importa o que os administradores e tomadores de decisão façam. Até mesmo as organizações eficientes e bem-sucedidas, que se adaptam a seus ambientes, podem fracassar em consequência de mudanças ambientais que influenciam a estrutura de seu nicho de recursos. Como vimos, a metáfora é um modo de ver e um modo de não ver. Agora que já temos a imagem orgânica da organização firmemente em nossa mente, fica difícil entender como os teóricos clássicos puderam dar tão pouca atenção à influência do ambiente. Também não dá para entender como eles puderam acreditar na existência de princípios de administração uniformes que poderiam ser aplicados universalmente. Por outro lado, não podemos esquecer que o mundo organizacional de então era muito mais simples. A relevância alcançada pela metáfora organicista 21 é, sob muitos aspectos, um produto dos novos tempos que diluíram com a eficiência das organizações burocráticas. Não é que os teóricos da organização tenham simplesmente descoberto a metáfora organicista; a necessidade os conduziu a explorar suas ideias em diferentes direções para acompanhar o desenvolvimento. 2.10 A administração e o ciclo de vida das empresas Segundo Adizes (2004), empresas são como seres vivos, pois são sistemas em que, à medida que transcorre o tempo, vão sofrendo mudanças em sua estrutura. O ciclo de vida – nascimento, crescimento, envelhecimento e morte – acontece tanto nos seres vivos quanto nas organizações. Assim como acontece com as formas naturais de vida, as empresas também têm ciclos de vida. Esse fenômeno é inevitável, mas tem uma diferença fundamental em relação ao ciclo de vida natural: as empresas não necessariamente precisam morrer. Como uma empresa pode se perpetuar “para sempre”? A administração de empresas tem uma resposta simples: uma empresa grande e decadente pode renascer e se tornar jovem novamente pela força da renovação. Quando o mercado de uma empresa está saturado de concorrentes ou então quando os serviços que uma companhia oferece já estão obsoletos (uma empresa que nos dias de hoje fabrique aparelhos de videogames portáteis e Tocador de MP3,por exemplo) a empresa com certeza está à beira da morte, e se nada for feito, vai morrer mesmo. Todas as empresas que não se renovam estão destinadas a morrer um dia, não importa o tamanho e nem o poder que tenham nos dias de hoje. Quando essa morte corporativa acontece ou a empresa entra em falência/concordata ou então acaba sendo comprada por outra empresa mais jovem e vigorosa. O valor da renovação para a administração de empresas Quando falamos de renovação, falamos de renovação profunda, segundo a teoria da administração de empresas, quanto mais perto da morte corporativa uma empresa estiver, mais profunda e radical deve ser esta renovação. Esse processo de renovação deve acontecer em todos os sentidos: renovação da visão de mercado da empresa, renovação das relações internas e principalmente renovação dos produtos e serviços oferecidos. Para a teoria da administração, não há nada pior para uma empresa que insistir em oferecer um produto ou serviço que ninguém mais quer, é uma sentença de morte. 22 2.10.1 Fases do ciclo de vida das empresas Nascimento da empresa Nessa fase da empresa, em geral a fase de maior entusiasmo (e menores lucros) o líder da futura empresa ou empreendedor cria o novo conceito ou produto que vai ser a base da empresa e começa a trabalhar em cima dele. Por enquanto ainda não existe um produto ou serviço propriamente dito, eles estão apenas na imaginação do empreendedor. É nessa fase que o empreendedor assume o compromisso com o negócio, pesquisa teorias de administração de empresas e faz planos de negócio. Idade adulta da empresa Ao atingir a idade adulta, as funções dentro da companhia já estão bem definidas: o administrador só administra, o engenheiro cuida dos projetos e o vendedor cuida das vendas. As vendas também já aumentaram significativamente e começam a surgir as primeiras crises. Já não é mais possível administrar tudo de maneira centralizada e o fundador da empresa tem que delegar algumas responsabilidades para outros membros da companhia. Para administrar o nível de complexidade atual, os conceitos fundamentais da administração de empresas e gestão estratégica começam a ser adotados, o controle patrimonial passa a ser necessário e a burocracia passa a ser mais forte. Velhice da empresa Pode-se dizer que quando a empresa atravessa a idade adulta e chega à chamada “velhice” ela já está com um tamanho considerável e sua marca é bem forte. Nessa fase, a empresa já pode ser chamada de tradicional e em grande parte das vezes a companhia é a líder de mercado. O dinheiro ganho permitiu que a empresa acumulasse uma enorme quantidade de patrimônio e o total do valor dos seus bens já não pode mais ser determinado com facilidade. A liderança que a empresa conquistou no mercado, o seu tamanho, quantidade de empregados e tradição dos produtos são a sua grande força, mas ao mesmo tempo são sua fraqueza: uma empresa com esse nível de solidez passa a confiar demais em si mesma e nos seus produtos, muitas vezes isso impede que ela veja que empresas mais jovens estão lançando produtos e serviços mais sofisticados. Se a partir desse momento, se a empresa não pensar em renovação, não houver um movimento interno nesse sentido, a enorme burocracia e a prepotência vão acabar sepultando a companhia. A partir dessa fase da empresa só existem dois caminhos: renovar para se manter viva e atuante ou então morrer. 23 A crítica que se faz à teoria da evolução organizacional está no fato de que essa atribui pouca influência sobre a luta pela sobrevivência às organizações individuais. Essa visão subestima o poder das organizações e de seus membros de ajudar a construir seus próprios futuros. Também podemos entender que, como na natureza, a evolução do mundo corporativo reflete a “sobrevivência da adaptação”, não apenas a sobrevivência do mais adaptado. 24 3. AS ORGANIZAÇÕES VISTAS COMO CÉREBROS Apesar do cérebro não parecer um dos órgãos mais fascinantes do nosso corpo, ele é considerado o órgãomais importante do corpo humano. O cérebro é um sistema complexo capaz de articular ações para alcançar seus objetivos. O cérebro tem uma grande capacidade de se organizar e se reorganizar de modo que quanto mais uma determinada atividade é praticada, mais o cérebro procura se adaptar para desenvolver com melhor desenvoltura essa atividade. Diferente de uma máquina que pára quando uma de suas engrenagens apresenta uma falha, o cérebro busca caminhos alternativos para atingir resultados. Outra vantagem do cérebro é analisar a situação de maneira racional e propor ações com base nesta racionalidade. Pensando em tudo isto, teóricos da administração abordaram a organização sob o ponto de vista do funcionamento do cérebro, ou seja, a organização como sendo capaz de processar informação, aprender e ser inteligente. A palavra-chave é a inteligência organizacional que propiciaria a auto-organização para lidar com aspectos de evolução. O psicólogo americano Karl Lashley (1951) realizou experiências nas quais foram removidas partes de cérebros de ratos que tinham sido treinados para correr num labirinto. Lashley descobriu que se não removesse o córtex visual, ou seja, não deixasse os ratos cegos, eles eram capazes de encontrar o caminho através do labirinto. Lashley chegou a conclusão de que o cérebro repousa sobre padrões de crescente refinamento e não (como fazem as máquinas feitas pelo homem) sobre cadeias de causa e efeito. 3.1 Organizações como cérebros processadores de informações É indiscutível que as organizações dependam do processamento de informações, pois elas são sistemas de informações. São sistemas de comunicação, sendo também sistemas de tomadas de decisão. Nas organizações mecanicistas esses sistemas são rotinizados, já nas orgânicas esses sistemas são mais temporários e fluem livremente. Organizações podem ser racionais? De acordo com Hebert Simonas organizações nunca podem ser completamente racionais, pois seus membros possuem habilidades limitadas de processamento de informações, visto que agem com base em informações incompletas e não são capazes de explorar todas as alternativas, com isto elas podem chegar a limitadas formas de racionalidade. Ainda, segundo Simon, as organizações vistas como cérebros em funcionamento, não valorizam as pessoas pela sua habilidade de se encaixar e contribuir para a operação eficiente de uma estrutura predeterminada, mas por suas competências e habilidades, com isto as organizações nunca podem ser perfeitamente racionais, devido, a: As pessoas frequentemente têm de agir sobre bases de informações incompletas a respeito de possíveis cursos de ação e suas consequências; 25 As pessoas são capazes de explorar somente um limitado número de alternativas relativas a qualquer dada decisão; e As pessoas são incapazes de dar acurados valores aos resultados. Simon também propôs que a organização é o resultado ou reflexo de sua capacidade de processamento de informação. Ele também apontou que novas capacidades levam a novas formas organizacionais. 3.2 Cibernética, aprendizagem e aprender a aprender A cibernética é uma ciência que tem como foco o estudo da informação, comunicação e controle. A cibernética nos revelou que existem sistemas que assim como o cérebro humano ou os computadores modernos conseguem detectar e corrigir o método do seu funcionamento de uma forma flexível e adaptativa. Para a cibernética uma ação humana ocorre através de um processo de eliminação de erro no qual desvios são reduzidos a cada estágio e a todo estágio do processo de tal forma que ao final não resta nenhum erro. Dessa forma consegue-se pegar um objeto ao evitar-se não o pegar. De acordo com a cibernética, para se autor regular, os sistemas que aprendem precisam ser capazes de: Os sistemas devem ter a capacidade de sentir, monitorar e detectar aspectos significativos do ambiente; Os sistemas devem ser capazes de relacionar informações com normas operacionais que guiam o comportamento do sistema; Os sistemas devem ser capazes de detectar desvios significativos em relação às normas; Os sistemas também devem ser capazes iniciar ações corretivas quando discrepâncias forem detectadas. Logo, quando essas quatro condições são satisfeitas, cria-se um processo de troca de informações entre o sistema e seu ambiente, que permite o monitoramento das mudanças com o início de respostas apropriadas por parte do sistema. Operando de maneira inteligente e auto controladora. O processo de aprendizagem é distinto do processo de aprender a aprender. Os sistemas cibernéticos simples (aprendizagem) são capazes de detectar e corrigir desvios a partir de normas pré-determinadas, porém são incapazes de questionar a propriedade daquilo que estão fazendo. Por outro lado, o processo de aprender a aprender possui essa capacidade de questionamento e pode influenciar os padrões que guiam as suas operações. Podem as organizações aprender e aprender a aprender? Esta pergunta pode ser respondida a partir de algumas conclusões delineadas em quatro princípios: Incentivar e valorizar uma abertura e flexibilidade que aceite erros e incertezas como um aspecto inevitável da vida em ambientes complexos e mutáveis. Esse princípio é fundamental para permitir aos membros de uma organização lidar com incertezas de maneira construtiva. Reconhecer a importância de exploração de diferentes pontos de vista, encorajando um enfoque de análise e solução de problemas complexos. Esse 26 princípio ajuda a definir meios de enquadrar e reenquadrar assuntos e problemas de tal forma que eles possam ser focalizados de maneira aberta. Evitar imposição de estruturas de ação em ambientes organizados onde o importante é vislumbrar meios em que a inteligência e a direção possam emergir do processo organizacional corrente. Esse princípio se relaciona com a importância da ação dirigida para a investigação. Criar estruturas e processos organizacionais que permitam implementar os princípios anteriores. 3.3 Cérebros e organizações vistas como sistemas holográficos A holografia registra informações de tal modo que guarda o todo em cada uma das partes, ou seja, cada parte representa o todo. Se a placa holográfica quebrar, cada pedaço irá mostrar toda a imagem e não só a parte que lhe caberia mostrar. Pesquisas mostram que os hemisférios direito e esquerdo do cérebro estão envolvidos sempre em qualquer atividade e exigem alto grau de especialização. Um hemisfério parece ser mais dominante em determinadas ações e vice-versa, isso faz com que seja possível mostrar que embora cada pessoa mostre uma predominância em um lado do cérebro para determinadas atividades, os dois lados são importantes para a boa execução da atividade ou solução de algum problema. Para criarmos uma organização do tipo holográfico precisamos: Garantir o todo em cada parte; Criar conexão e redundância; Criar especialização e generalização simultaneamente; Criar capacidade de auto-organização. Para implementar a concepção holográfica nas organizações devemos aplicar quatro princípios básicos: Princípio das funções redundantes: compreende assegurar que as capacidades relevantes para o funcionamento do todo estão presentes nas partes. Princípio da variedade de requisitos: compreende assegurar que todos os elementos de uma organização devem corporificar dimensões críticas do ambiente, de modo a se auto-organizar para enfrentar suas demandas. Princípio da mínima especialização criativa: compreende especificar nada mais do que o absolutamente necessário para que uma atividade particular ocorra, preservando assim a flexibilidade do sistema. Princípio de aprender a aprender: compreende a habilidade de permanecer aberto às mudanças que estão ocorrendo no ambiente e a habilidade de desafiar hipóteses operacionais de maneira mais fundamental. Teóricos da administração e gestoresreconhecem a importância de se desenvolverem bons sistemas de comunicação para a transmissão de informações relevantes para onde isto se faz necessário, mas a ideia de utilizar o cérebro como metáfora para a organização cria novas e desafiadoras possibilidades. Comparado com a complexidade e o mistério da moderna pesquisa a respeito do cérebro, o 27 emprego da metáfora do cérebro na teoria organizacional encontra-se em um estágio humilde de desenvolvimento. A metáfora do cérebro colabora na compreensão de que uma organização pode ser vista como um sistema cognitivo, corporificando tanto uma estrutura de pensamento, como um padrão de ações, enquanto que nas teorias tradicionais de organização a atenção tem sido devotada ao modo pelo qual os elos de comunicação são estabelecidos entre os diferentes componentes organizacionais. 3.4 Forças e limitações da metáfora do cérebro Essa metáfora apresenta muitas forças, dentre elas podemos citar: a) a compreensão da aprendizagem organizacional e às suas capacidades de auto- organização; b) a compreensão de como a administração estratégica pode ser planejada para facilitar o aprender a aprender; c) criar meios através dos quais se pode ir além da limitada racionalidade que caracteriza muitas organizações no presente; e d) propiciar meios valiosos de pensar sobre como desenvolvimentos na computação e outras tecnologias em micro processamento podem ser usados para facilitar novos estilos de organização. O processo de auto aprendizagem exige por parte de todos a autocrítica, algo que culturalmente temos dificuldade de lidar. Também ocorre que com a metáfora do cérebro gerentes e diretores perdem poder, afinal todos devem estar envolvidos e não somente o nível de direção da organização. Organizações para trabalharem sobre a metáfora do cérebro precisam quebrar muitos paradigmas e quebrar paradigmas não é algo fácil, o que demanda um processo que pode levar anos. 28 UNIDADE II 4. AS ORGANIZAÇÕES COMO CULTURAS Nesse capítulo analisaremos a metáfora da cultura como uma nova maneira de pensar a organização. Como visto até aqui, a metáfora nos permite repensar quase todos os aspectos do funcionamento corporativo, inclusive a estratégia, a estrutura e a natureza da liderança e da administração. Ao compreendermos o poder que a cultura exerce sobre os comportamentos no local de trabalho, percebemos que mudança organizacional significa mudança cultural e que todos os aspectos da transformação corporativa podem ser abordados a parir dessa perspectiva. As organizações quando vistas como Cultura são organizações com valores, rituais, normas, ideologias e crenças próprias que sustentam as organizações como realidades socialmente construídas, sendo que essa cultura organizacional causa reflexo no nosso dia a dia uma vez que vivemos numa sociedade organizacional inevitavelmente nos influencia a maior parte do tempo em que estamos acordados. Essa influência é determinada, inclusive pelo tipo de sociedade em que as organizações estão inseridas, percebemos isso ao comparar culturas de sociedades industriais com culturas de sociedades mais tradicionais, nas quais a produção está mais centrada nas famílias do que em organizações formais. A cultura nacional também pode determinar o caráter das organizações, o que o autor explica ao confrontar as características de países como Estados Unidos, Grã-Bretanha e Japão, sendo que no primeiro fundamenta-se na competição com fator preponderante, já que a cultura norte-americana privilegia o individualismo, a competitividade, a utilização de recompensas como reforço positivo na busca pela excelência e resultados; o segundo fundamenta-se num profundo contexto de divisão de poder no qual o grupo elitizado dita as regras para os trabalhadores e o ambiente organizacional é pautado na discórdia da luta de classe; o terceiro fundamenta-se na cooperação, lealdade, compromisso, bem-estar e a capacidade de suportar pressão. A princípio podemos até dizer que todas as pessoas que trabalham em fábricas e escritórios em Chicago, Johanesburgo, Moscou, Paris, Shanghai, São Paulo e Tóquio pertencem à mesma “cultura industrial”, pois todos são membros de sociedades organizacionais. O trabalho e a experiência de vida dessas pessoas parecem qualitativamente diferentes dos de quem vive em sociedades mais tradicionais, dominadas por sistemas domésticos de produção. Notório que, no mínimo, trabalhadores de escritórios e fábricas modernas compartilham expectativas e habilidades básicas que permitem que as organizações funcionem. A despeito das semelhanças, é evidente que seria um erro descartar as diferenças culturais entre nacionalidades como se elas não tivessem muita importância. Ao longo da história foram criadas muitas variações nas características sociais nacionais, nas diferentes visões do significado da vida, e nos estilos e filosofias de organização e administração. O recente sucesso do Japão, o declínio da Grã-Bretanha industrial, a fama das empresas americanas, a confiabilidade na indústria alemã e as características exclusivas de muitas outras sociedades organizacionais estão diretamente relacionadas com os contextos culturais em que nasceram. 29 Para melhor entendermos as diferenças culturais entre nacionalidades e seus reflexos na cultura organizacional a partir de dois relatos que mostram pontos de vista distintos entre britânicos e japoneses, o que a seguir destacamos de forma resumida. Murray Sayle, renomado especialista em assuntos do Japão, nos dá uma interessante teoria dos fatores históricos que explicam o forte espírito de solidariedade ente os japoneses. Ele acredita que as organizações japonesas combinam valores culturais dos campos de arroz com o espírito de serviço do samurai. Sendo que o primeiro é crucial para a compreensão da solidariedade na fábrica, o segundo explica muitas das características da administração e o padrão de relações interorganizacionais que tem desempenhado um papel tão crucial no sucesso econômico do Japão. Cultivar arroz no Japão tem sido uma atividade difícil e que requer trabalho duro e coletivo, dada à escassez de terras cultiváveis e da curta duração da estação de cultivo. Como dito, o cultivo tradicional de arroz é uma atividade cooperativa, logo não se vê um agricultor solitário, independente e pioneiro. Todo o processo de cultivo do arroz exige trabalho de equipe intenso em fases exaustivas de plantio, transplante e colheita. Todos têm que dar o máximo de si para garantir que o resultado coletivo seja o melhor possível. Caso um dos canais de irrigação não seja mantido em bom estado por parte de uma das famílias, o sistema como um todo sofre as consequências. O fracasso da colheita devido a condições de tempo desastrosas causa prejuízo a todo o grupo. Não existem ganhadores e perdedores individuais. É como uma rede na qual a colaboração, a confiança e a solidariedade têm precedência sobre o oportunismo e a individualidade. A tradição, o respeito e a dependência mútuos são vitais nesse modo de vida. A cultura do cultivo do arroz foi originalmente transferida para a fábrica japonesa. Aqueles que cultivavam campos de arroz no Japão sempre estiveram dispostos a dividir suas colheitas com aqueles que eram capazes de protegê-los, ou seja, com os samurais (homens de serviço), que por sua vez dependiam diretamente dos agricultores para ter seu arroz e manter sua existência física. Os samurais desempenharam um importante papel na história militar e burocrática do Japão e agora têm seu paralelo nos “clãs” administrativos e elites que lideram a sociedade japonesa. A obrigação de proteger seus empregados, o serviço recíproco e a aceitação do próprio lugar, o respeito e obediência à hierarquia. Diferentemente da cultura japonesa, a cultura britânica é marcada por profunda divisão, divisão causada por gerações e gerações de mudança social e conflitode classes que levaram a divisões antagônicas no ambiente de trabalho, o que até aqui nenhuma técnica de conciliação e de administração parece ser capaz de superar. Em oposição aos japoneses, os operários britânicos sempre se definiram contra um sistema opressor e que os explora desde seus ancestrais até hoje. As elites administrativas agem como detentoras do direito básico de ditar as regras para os “trabalhadores”, a quem eles veem como tendo uma “obrigação de obedecer”. Portanto, o antagonismo e a discórdia, em vez da solidariedade na fábrica, tornaram-se a regra. O antagonismo percebido nas fábricas inglesas é muito bem retratado pelo escritor de administração Charles Handy, em seu livro Godsof management. 30 Handy relata o caso de jovem que morava com sua tia, uma senhora cujo pai nunca havia trabalhado, nem o pai dele e, naturalmente, ela também nunca havia ganhado um único tostão na vida trabalhando. O capital que possuíam trabalhava no lugar deles e eles apenas o administravam. O trabalho não era apropriado para eles, pois trabalhar era coisa para trabalhadores. Para essa senhora, hoje, todos os governos são contra o capital, todos os trabalhadores são inerentemente ávidos e preguiçosos e a maior parte dos administradores é incompetente. Para ela, não é de se admirar que o fato de que o mundo seja uma confusão e que a cada dia ela vem tornando-se um pouco mais pobre. Certo dia, o sobrinho convida seu amigo Tony para almoçar em casa. Seu pai era carteiro. Tony havia começado a trabalhar cedo como desenhista numa grande empresa de engenharia. Aprendeu com o pai que a herança era algo socialmente errado, pois você tinha que construir seu patrimônio. Ele nunca havia conhecido alguém que não tivesse trabalhado para ganhar a vida. Durante o almoço a senhora se vira para Tony e o indaga sobre o que ele fazia na vida. A senhora ficou estarrecida quando Tony lhe contou que recentemente havia se tornado um membro do sindicato na firma onde trabalhava. Aquela senhora jamais havia se deparado com um membro do sindicato. Indignada ela o questionou por que fazia aquilo, o que Tony respondeu prontamente, explicando que achava razoável defender seus direitos. No entanto, a senhora disse a Tony que aquilo tudo era uma tolice e que se as pessoas como ele gastassem mais tempo com seu trabalho e menos tempo correndo atrás de seus próprios interesses, o país não estaria naquela confusão toda. Resignado a defender seu ponto de vista, Tony questiona a senhora o fato dela usar seu tempo cuidando do seu dinheiro. A senhora deixa claro para Tony que assim o faz porque ela tem direitos, afinal de contas é o seu dinheiro que torna possível às pessoas como ele viverem. Tony rebate dizendo que ele fornece seu trabalho para manter vivo o dinheiro daquela senhora e de tantas outras pessoas ricas como ela, bem como ele não vê qualquer lógica no dever de proteger o capital daquelas pessoas que ele jamais viu na vida. Com isso o diálogo encaminha para o fim com a senhora comparando Tony a um comunista e dizendo o quanto ela está preocupada com o país. Aquele almoço indigesto termina com as últimas palavras de Tony, “Não é necessário ser um comunista para duvidar da legitimidade da riqueza herdada”. Se voltarmos aos Estados Unidos à procura de ilustração de como a cultura determina a administração, a ética do individualismo competitivo é provavelmente o que sobressai. Muitas empresas americanas e seus empregados estão preocupados em serem vencedores e com a necessidade de recompensar o comportamento bem- sucedido e punir o malsucedido. A partir da perspectiva americana, o desempenho industrial e econômico é visto como uma espécie de jogo e a orientação geral em muitas organizações é jogar o jogo para valer: estabelecer objetivos, esclarecer responsabilidades e “chutar o traseiro” ou recompensar o sucesso. Em um ensaio realizado Gregory Bateson sobre a relação entre moral e caráter nacional, ele chamou a atenção para as diferenças entre as relações entre pais e filhos nos Estados Unidos, na Inglaterra e em outros lugares. Para Bateson, a prática americana encoraja certas formas de comportamento exibicionista por parte das crianças que ainda estão numa condição de subordinação e dependência, enquanto na Inglaterra as crianças são encorajadas a serem espectadores submissos na companhia de adultos e recompensadas por serem “vistas, mas não 31 ouvidas”. Bateson sugere que estas práticas de criação têm implicações consideráveis na vida futura das crianças, no caso americano, criando um grande espaço para autovalorização como base de independência e força – bem como sito também é encontrado no contexto organizacional. Morgan cita alguns exemplos de competitividade e recompensa relatados no livro de Tom Peters e Robert Waterman, In search of excellence, uma resposta americana para o crescimento do Japão. A ideia de recompensar e motivar os empregados para que se considerem vencedores é um tema dominante. O livro relata o caso de Thomas Watson, da IBM, que tinha por hábito preencher um cheque no local para recompensar realizações que ele observava enquanto circulava pela organização. Outro caso é o da Tupperware, onde o processo de reforço positivo é ritualizado cada segunda-feira à noite, quando todas as vendedoras vão a uma reunião de sua unidade de distribuição. Todas sobem no palco na ordem inversa das vendas da última semana. Quase todas as que tiverem vendido alguma coisa recebem um broche ou distintivo. A cerimônia combina competição aberta com um tom positivo que sugere que todo mundo ganha. O evento é repleto de aplausos e ovações. Os exemplos acima ilustram o argumento de Bateson sobre como a cultura dos Estados Unidos recria padrões encontrados nas relações pais-filhos. Embora tenha se dado ênfase na cultura japonesa, isso se deu apenas de forma simplesmente ilustrativa. A questão é que a cultura seja ela japonesa, árabe, britânica, canadense, chinesa, francesa ou americana determina o caráter da organização. Focalizar os laços entre o estilo de liderança e a cultura organizacional fez com que se fossem feitas descobertas-chaves sobre as razões pelas quais as empresas trabalham da maneira que o fazem. A cultura não é algo imposto sobre uma situação social, ao contrário, ela se desenvolve durante o curso da interação social. Nas organizações existem sistemas de valores diferentes que competem entrem si e criam um mosaico de realidades organizacionais em lugar de uma cultura corporativa uniforme. Outras divisões subculturais dentro de uma organização podem também ser forjadas, seguindo diferentes linhas. Grupos sociais ou étnicos, por exemplo, podem dar origem a diferentes normas e padrões de comportamento com um impacto crucial no funcionamento do dia a dia da empresa. 4.1 Cultura organizacional A cultura organizacional ou cultura corporativa é o conjunto de hábitos e crenças estabelecidos através de normas, valores, atitudes e expectativas compartilhadas por todos os membros da organização. De fato, a cultura organizacional refere-se ao sistema de significados compartilhados por todos os membros e que distingue uma organização das demais. Constitui o modo institucionalizado de pensar e agir que existe em uma organização. 32 De acordo com Edgar Schein, a cultura organizacional pode ser tratada como uma variável, sendo que a organização integra elementos formais e informais. Por elemento formal entende-se a cultura oficial da organização. Podemos afirmar que a essência da cultura de uma empresa é expressa pela maneira como ela faz seus negócios, a maneira como ela trata seus clientes e funcionários, o grau de autonomia ou liberdade que existe em suas unidades ou escritórios e o grau de lealdade expresso por seus funcionários com relação à empresa. A cultura organizacional representa as percepções dos dirigentes e funcionários da organização e reflete a mentalidade que predomina
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